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Direito Civil I

❖ Posse
Art. 1196 a 1224 do CC.

Conceito
● Teoria Objetiva (Rudolf von Ihering): a posse se configura com a mera
conduta de dono, pouco importa a apreensão física da coisa e a vontade de
ser dono da mesma. Basta ter a coisa consigo ( Art. 1196.)
● Teoria Subjetiva ( Friedrich Carl von Savigny): a posse seria o poder direto
que alguém tem para dispor fisicamente de uma coisa com a intenção de tê-
la como sua para defendê-la da intervenção ou agressão de outrem.
CORPUS ( contato físico ou à disposição) + ANIMUS (elemento subjetivo
de exercer como se fosse, caso contrário é mera detenção).
● Teoria Sociológica: visa a função social da posse e seu caráter econômico,
podendo em alguns casos prevalecer até mesmo sob a propriedade.
Assim considera-se possuidor todo aquele que tem o exercício, pleno ou não,
de um dos poderes inerentes à propriedade( uso, gozo, disposição e
reivindicação). Por isso se afirma que a posse se dá quando há
exteriorização de uma das faculdades da propriedade, ou de algum outro
direito real. Art. 1196.

A posse é a situação de aparência, um poder de fato, em que uma pessoa,


independentemente de ser ou não proprietária, exerce sobre uma coisa
poderes ostensivos, com interesse econômico, dando utilidade à coisa,
conservando-a e defendendo-a.

Jus possessionis Jus possidendi

Se alguém, assim instala-se em um imóvel e nele Já o direito à posse, conferido ao portador de título
se mantém, mansa e pacificamente, por mais de devidamente transcrito, bem como o titular de
ano e dia, cria uma situação possessória, que lhe outros direitos reais, é denominado jus possidendi
proporciona direito a proteção. tal direito é ou posse causal. Nesses exemplos, a posse não
chamado de jus possessionis ou posse formal, tem qualquer autonomia, constituindo-se em
derivado de uma posse autônoma, conteúdo do direito real.
independentemente de qualquer título. É tão OBS: Carlos Roberto Gonçalves ainda diz que “ O
somente o direito fundado no fato da posse jus possessionis persevera até que o jus
(possideo quod possideo) que é o protegido contra possidendi o extinga”.
terceiros e até mesmo o proprietário.
O possuidor só perderá o imóvel para este,
futuramente, mas vias ordinárias. Enquanto isso,
aquela situação será mantida.
E será sempre mantida contra terceiros que não
possuem nenhum título nem melhor posse.

Posse, diferente de detenção.


- Detentor: O dententor não exerce poderes sobre o bem da vida, mas os atos
que pratica assim o faz em nome de outrm, isto é, do possuidor, que pode ser
o proprietário ou não.
DETENÇÃO DEPENDENTE
Art. 1198. Considera-se dententor aquele que, achando-se em relação de
dependência para com outro, conserva a posse em nome deste em em
cumprimento de ordens ou instruções suas.
Parágrafo único: Aquele que começou a comporta-se do modo como prescreve este
artigo, em relação ao bem e à outra presume-se detentor que promove o contrário.
- EX: caseiro, motorista, alguém que AGE EM NOME do possuidos, etc.
- Hipóteses de mera permissão ou tolerância do possuidor.
DETENÇÃO INDEPENDENTE
Art. 1208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como
não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de
cessar a violência ou a clandestinidade.
- EX: banco da praça, pratos e talheres de restaurante, objetos do quarto de
um hotel.

Modalidades da posse:
● Quanto aos direitos na posse:
- Posse direta: ) de perto como o locatário que recebe o direito de usar)
e;
- Indireta ( de longe como o locador, usufruto, comodato, penhor e
enfiteuse)
Art. 1197 A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder,
temporariamente, em virtude de um direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de
quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o
indireto.
Ambos têm o direito de tutela possessória, podendo propor ações para manter ou
reintegrar a posse.
● Quanto à divisão da posse:
- Posse exclusiva;
- Paralela ( sobreposição de posses- como no caso de posse direta e
indireta) e;
- Compose (duas ou mais pessoas exercem a posse ao mesmo tempo)
Art. 1199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma
exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros
compositores.
- Pro diviso ( dividido entre os possuidores)
- Pro indiviso ( não dá pra dividir ou é compartilhado entre possuidores).
● Quanto aos vícios da posse:
- Posse justa
Art. 1200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.
- Posse injusta ( violenta, clandestina - às escondidas como mudas a
marcação a noite ou precária - abuso de confiança. Convalescimento
do vício- transforma a mera detenção em posse injusta.
● Quanto aos aspectos éticos da posse:
- Boa-fé - desconhece vícios que impedem a posse. Se tem justo título
presume de boa-fé.
Art. 1201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que
impede a aquisição da coisa.
Parágrafo único: O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé,
salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta
presunção.
- Má-fé- Importante para os casos de benfeitorias e usucapião.
● Quanto aos seus efeitos na posse.
- “ad interdicta” (ações possessórias) ou;
- “ad usucapionem” (ânimo de ser dono).
● Quanto à idade
- posse nova ( menos de 1 ano e dia, é possível liminar) ou;
- posse velha ( mais de 1 ano e dia) (art. 558 CPC)
● Quanto à constituição
- posse natural ou de fato ou;
- posso civil/jurídica que a lei conferiu.

❖ Modos de Aquisição da Posse


Art. 1204 ao 1209 do CC
Art. 1204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o
exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade.

Art. 1205. A posse pode ser adquirida


I. a própria pessoa ou seu representante legal ou convencional por meio de
mandato;
II. o terceiro sem mandato, dependendo de ratificação, no caso, por exemplo,
do gestor de negócios.

● Originárias.
São meios de aquisição originária da posse:
A) a apreensão da coisa: consiste a apropriação unilateral da coisa sem dono,
porque
- Foi abandonada (res derelictae)- sofá deixado em terreno vazio
- ou porque não é de ninguém ( res nullius)- peixe na pesca.
- ocorre também na retirada da coisa à força do seu possuidor.
B) Pelo exercício do direito: ocorre por exemplo, no exercício da servidão na
qual, constituída a passagem de um aqueduto por terreno alheio, adquire o
agente a sua posse se o dono do prédio serviente permanecer inerte.

● Derivada
A) Sucessão a título singular (ato inter vivos)- tradição: por exemplo, a entrega
da coisa em virtude de um acordo de vontades entre as partes, por exemplo,
na locação ou na doação do bem.
Nessa aquisição, para fins de usucapião, o novo possuidor tem a opção de somar
ou não à posse o tempo exercido pelo antecessor ( aplicação facultativa do princípio
da continuidade do caráter possessório). Se optar pela soma e continuidade, haverá
a aceitação das características e vícios que eventualmente possam estar a ela
vinculados, o que é transmitido à sua posse.
➔ Tipos de tradição
- real: Quando envolve a entrega material da coisa.
- simbólica: representada por ato que é a transmissão ( como a entrega
das chaves do veículo alugado).
- ficta: não houve a transferência de posse, mas sim a alteração da
intenção na forma de exercício da posse:
1) Brevi manu: quem possuía em nome alheio passa a possuir em nome
próprio, ou seja, o locatário que compra a coisa que era locada, transforma a
posse direta em posse plena de proprietário;
2) Constituto possessório: o possuidor passa a possuir em nome de outrem, em
virtude da mudança na forma de exercício da posse, na hipótese do
proprietário que vende a coisa e continua em sua posse como locatário.
B) Sucessão de título universal (causa mortis): a aquisição imediata da posse
pelos herdeiros diante do falecimento do possuidor anterior,
independentemente de tradição (princípio de saisine). A posse é transmitida
com os mesmo vícios que eventualmente a contaminaram antes da sucessão
( aplicação do princípio da continuidade do caráter da posse de forma
imperativa), sem opção aos sucessores.
Além disso, no momento em que os herdeiros adquirem a posse, não se trata de
uma nova, da continuidade da mesma. Por isso, somam-se ao tempo das posses
para o cômputo de prazo para usucapião.
Art. 1207. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os
mesmos caracteres.
Perde a posse a) pelo
quando deixa de Poder ser abandono
exercer direitos da voluntária da coisa;
Perda da posse propriedade sobre a (corpus e
posse, ainda que animus)
contra sua vontade.
(Art. 1223)

b) pela tradição c) pela destruição Pode ser a) morte;


real, simbólica ou da coisa. também
ficta da coisa. involuntária:

b) apreensão por c) perecimento; d) perda e) desapropriação


outrem- esbulho; ou confisco
Enquanto se luta pela coisa não se perde a posse (art. 1224)

❖ Ações possessórias.

● Reintegração de posse: Perda total da posse do bem que outrora já havia


possuído ( Esbulho possessório)
Ex: morar em casa e quando volta de viagem a casa está tomada.

● Manutenção da posse: Turbação da posse, ou seja, o possuidor é


atrapalhado constantemente mas ainda tem acesso ao bem.
Ex: vizinho que passa todo dia dentro do terreno do outro vizinho para ir pela via
mais fácil.

● Interdito Proibitório: Ameaça de esbulho ou turbação da posse, neste caso


não há impedimentos ou turbação da posse mas ameaça iminente.
Ex: Grupo parado em frente ao bem ameaçando de invadi-lo

- Princípio da Fungibilidade: arti. 554 do CPC


Imissão na posse
(NÃO É AÇÃO POSSESSÓRIA)
Nesse caso o autor teve acesso ao bem, será dada a posse pela primeira vez! É
baseada no direito de propriedade ou contratual.

● Desforço Imediato
“ A legítima defesa não se confunde com o desforço imediato. Este ocorre quando o
possuidor, já tendo perdido a posse (esbulho), consegue reagir, em seguida, e
retomar a coisa. A primeira somente tem o lugar enquanto a turbação perdurar,
estando o possuidor na posse da coisa. O possuidor tem de agir com suas próprias
forças, embora possa ser auxiliado por amigos e empregados, permitindo-lhe ainda,
se necessário, o emprego de armas. Pode o guardião da coisa exercer a
autodefesa, em benefício do possuidor ou representado. Embora não tenha o direito
de invocar, em seu nome, a proteção possessória, não se lhe recusa, contudo, o
direito de exercer a autoproteção do possuidor, consequência natural de seu dever
de vigilância.”
Carlos Roberto Gonçalves, Direito Civil-V, Direitos Reais, Pg. 478.

Art. 1210. O possuidor tem o direito a ser mantido na posse em caso de turbação,
restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de
ser molestado.
§1° O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua
própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não
podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.

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