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Direito Civil – Direito das Coisas 1

Prof. Valdemir Moreira dos Reis Junior


• DIREITO DAS COISAS / DIREITOS REAIS

•Conceito: CONJUNTO DE NORMAS QUE REGULAM AS RELAÇÕES


JURÍDICAS REFERENTE AS COISAS SUSCETÍVEIS DE APROPRIAÇÃO PELO
HOMEM.

• Bens e Coisas.

• Coisa = Gênero

• Bem = Espécie

• Coisa é tudo aquilo passível de apropriação. Bem é toda coisa


apropriada popr alguém, que é útil e tem valor. Todo bem é coisa, mas
nem toda coisa é bem

• Coisa pode ser bem corpóreo e incorpóreo


• APROPRIAÇÃO. A apropriação gera DOMÍNIO e é isso que dá
importância ao direito das coisas.

• Sendo assim, podemos afirmar que o direito das coisas regula as


relações jurídicas de poder do homem sobre a coisa.

• Relembrar Direitos Pessoais X Direitos Reais

• Características dos Direitos Reais (normas cogentes):

• Exercido diretamente sobre coisa. É absoluto e oponível contra todos.

• Permite o gozo e fruição sobre a coisa.

• É permanente. Possui direito de sequela

•Suas espécies estão previstas em lei (art. 1.225)


• Características dos Direitos Pessoais (direitos disponíveis):

• Relação entre pessoas. Não é absoluta e nem oponível contra todos. É


oponível apenas em face do devedor.

• Pressupõe um sujeito ativo e um sujeito passivo.

• Concede ao credor o direito à uma prestação a ser realizada pelo


devedor.

• É transitório.

• Não possui direito de sequela, gera perdas e danos

• Possui formas variadas.


• PRINCÍPIOS

• 1) DA ADERÊNCIA = Cria um vinculo de senhorio (poder) entre o


sujeito e a coisa. Note-se que até aqui a relação limita-se entre o sujeito e
a coisa e não há polo passivo o que somente existirá se houver violação
na referida relação que, diga-se, é sempre direta.

• 2) DO ABSOLUTISMO = Erga Omnes. Todos devem se abster de


ferir/molestar os direitos reais de alguém. Deste princípio surge o
chamado direito de sequela, ou seja, a possibilidade de o titular do
direito perseguir a coisa e reclama-la de quem quer que seja.

• 3) DA PUBLICIDADE (VISIBILIDADE) = Os direitos reais sobre bens


imóveis só se adquirem com o registro. Bens móveis com a tradição.
Como são direitos erga omnes é necessário que todos conheçam os
titulares do direito para que procedam com a abstenção necessária.
• 4) DA TAXATIVADEA = Os direitos reais são criados por lei e,
portanto, devem estar previstos em lei. O CC 02 elenca os direitos reais
no artigo 1.225. Há quem defenda que não é um rol taxativo, ou seja, que
existem direitos reais espalhados pelo ordenamento jurídico, tais como o
direito de retenção, a retrovenda, entre outros.

• 5) DA PERPETUIDADE = Não se perde pelo uso, mas sim por formas


legais previstas em lei (usucapião, por exemplo).

• 6) DA EXCLUSIVIDADE = Não pode haver mais de um direito real de


igual conteúdo sobre a mesma coisa. Não se pode confundir com o
condomínio, no qual cada consorte tem direito a porções distintas e
exclusivas.
• POSSE

• O conceito de posse está previsto no artigo 1.196 do CC.


• Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o
exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.

• Poderes inerente a propriedade:


• Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da
coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a
possua ou detenha.

• Em resumo: a posse nada mais é do que agir como se fosse


dono/proprietário da coisa (zelar, cuidar, proteger, usar, etc)

• IMPORTANTE: Poder fático = a posse não necessariamente se exerce, ela


simplesmente existe. Ou seja, não é necessário estar na coisa para
possuí-la. O interesse em conservá-la e protegê-la é potencial. Os atos de
exercício da posse são facultativos.
• Fundamento

• A posse é uma situação de fato protegida pelo direito. A posse legal


(existe a posse viciada) gera o direito denominado de JUS POSSESSIONIS
(posse formal). Ocorre quando alguém se apodera da coisa e nela
permanece por mais de ano dia.

• A posse decorrente de título é denominada de JUS POSSIDENDI.

• TEORIAS

• Posse subjetiva (cujo autor é Savigny) X Posse objetiva (cujo autor é


Ihering - aluno de Savigny).

• SUBJETIVA: É necessária a presença de dois elementos básicos, o corpus


(elemento objetivo – detenção física da coisa) e o animus (elemento
subjetivo – intenção de se exercer sobre a coisa um poder no interesse
próprio e defendê-la. É a intenção de ter a coisa como se fosse sua).
• Para Savigny esses elementos são indissociáveis. Se houver corpus, mas
não houver animus, teremos a chamada detenção (1.198).

• Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de


dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em
cumprimento de ordens ou instruções suas.

• Essa teoria perdeu muita força e não é admitida em nosso ordenamento


jurídico.

• Por exemplo: Por esta teoria o locatário não tem posse. Afinal ele tem
corpus, mas não tem animus. É evidente que o locatário não tem a
intenção de ser dono, mas por isso não deixa de ter posse.
•Teoria OBJETIVA

• Para Ihering o animus encontra-se inserido no corpus, ou seja, para que


exista a posse basta a detenção física da coisa, bem como a exteriorização
por parte do possuidor de sua posse.

• Em outras palavras: o possuidor dever expor sua conduta de dono,


estando, ou não, em contato direto com a coisa.

• Esta teoria defende que a posse não é o poder físico, mas sim a
exteriorização da propriedade. A exteriorização nada mais é do que uma
forma de uso semelhante a de um proprietário.

• OBJETO DA POSSE: Os direitos reais.

• Bens corpóreos e incorpóreos: Muito se discutiu sobre a impossibilidade


da posse dos bens incorpóreos. No entanto, inegável que eles são coisas e
são passíveis de apropriação.
• NATUREZA JURÍDICA

• Posse é um Fato ou um direito??

• Para Ihering, é um direito, pois trata-se de um interesse jurídico


protegido.

• Em nosso ordenamento é fato e direito (Teoria Eclética - Savigny).

• É fato por necessitar de detenção. É também um direito porque o


direito estabelece os efeitos da detenção.

• É um direito real ou pessoal?

• Há quem defenda que se trata de um direito sui generis – figura própria,


pois não se encaixa nem nos direitos reais, nem nos direitos pessoais.
• Carlos Roberto Gonçalves defende a ideia do direito sui generis.

• CLASSIFICAÇÃO

• Posse direta (imediata) X indireta (mediata)

• Direta é a posse exercida por aquele que goza e usa a coisa direta e
pessoalmente.

• Posse indireta: recebida por aquele que possuía a posse direta. Aquele
que transfere passará a ser possuidor indireto.

• Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder,
temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a
indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto
defender a sua posse contra o indireto.

•Não é regra, porém normalmente o possuidor direto é também o


proprietário da coisa.
• O possuidor direto pode e proteger a posse contra o proprietário.

• POSSE EXCLUSIVA / COMPOSSE

• Exclusiva é posse exercida por um único possuidor, que tem a posse


direta da coisa.

• Composse ocorre quando várias pessoas são possuidoras


simultaneamente da coisa

• Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá


cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam
os dos outros compossuidores.

• Cada um possui uma parte abstrata da coisa, mas todos podem utilizá-la
no todo, bem como defendê-la em sua totalidade, desde que não
impeçam a posse dos demais.
• Se os compossuidores estabelecerem uma divisão na utilização haverá a
composse pro diviso. Se nada houver sido estabelecido, a composse será
denominada de pro indiviso.

• Posse JUSTA X INJUSTA (1200 – 1208)

• Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.

• Violenta = força física ou moral

• Clandestina = Furto, ocupação as escondidas

• Precária = Negação de devolução

• Posse de BOA E MÁ FÉ

• Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o


obstáculo que impede a aquisição da coisa.
• Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de
boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não
admite esta presunção.

•Art. 1.202. A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o


momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não
ignora que possui indevidamente.

•Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o


mesmo caráter com que foi adquirida.

• Da Aquisição da Posse

•Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna


possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes
à propriedade.

•Art. 1.205. A posse pode ser adquirida:


• I - pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante;

• II - por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação.

• Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do


possuidor com os mesmos caracteres.

• Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu


antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do
antecessor, para os efeitos legais.

• Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância


assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou
clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade.

• Art. 1.209. A posse do imóvel faz presumir, até prova contrária, a das
coisas móveis que nele estiverem.
• Dos Efeitos da Posse

• Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de


turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se
tiver justo receio de ser molestado.

• *** Ações Possessórias ***

•§ 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-


se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou
de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou
restituição da posse.

• *** Desforço Imediato – Defesa da posse com as próprias mãos ***

•§ 2o Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de


propriedade, ou de outro direito sobre a coisa.
• Art. 1.211. Quando mais de uma pessoa se disser possuidora, manter-
se-á provisoriamente a que tiver a coisa, se não estiver manifesto que a
obteve de alguma das outras por modo vicioso.

• Art. 1.212. O possuidor pode intentar a ação de esbulho, ou a de


indenização, contra o terceiro, que recebeu a coisa esbulhada sabendo
que o era.

• Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos
frutos percebidos.
• Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé
devem ser restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e
custeio; devem ser também restituídos os frutos colhidos com
antecipação.

•Art. 1.215. Os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e


percebidos, logo que são separados; os civis reputam-se percebidos dia
por dia.
• Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos
e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber,
desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas
da produção e custeio.

• Art. 1.217. O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou


deterioração da coisa, a que não der causa.

• Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração


da coisa, ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se
teriam dado, estando ela na posse do reivindicante.

• Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das


benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se
não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da
coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias
necessárias e úteis.
• Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as
benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela
importância destas, nem o de levantar as voluptuárias.

• Art. 1.221. As benfeitorias compensam-se com os danos, e só obrigam


ao ressarcimento se ao tempo da evicção ainda existirem.

• Art. 1.222. O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao


possuidor de má-fé, tem o direito de optar entre o seu valor atual e o seu
custo; ao possuidor de boa-fé indenizará pelo valor atual.

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