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Comarca de Alvorada

1ª Vara Criminal
Rua Contabilista Vitor Brum, s/n, Parada 48
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Processo nº: 003/2.09.0002723-5 (CNJ:.0027232-07.2009.8.21.0003)


Natureza: Tentativa de Homicídio Simples
Autor: Justiça Pública
Réu: Vinícius Soares Mileski
Eric Edmar Esmeraldino Garcia
Juiz Prolator: Juiz de Direito - Dr. André de Oliveira Pires
Data: 30/07/2014

Vistos os autos.

I–RELATÓRIO

O Ministério Público, com base no Inquérito Policial n.º


569/2009, oriundo da 3ª Delegacia de Polícia de Alvorada/RS, ofereceu
denúncia contra VINICIUS SOARES MILESKI, vulgo "VI", brasileiro, natural
de Alvorada, nascido em 14/06/1986, filho de Mario Augusto Mileski e de
Clarice Soares Mileski, residente na Rua Mario Totta, n.º 981, em
Alvorada/RS; e ERIC EDMAR ESMERALDINO GARCIA, brasileiro, natural
de Porto Alegre, nascido em 14/06/1987, filho de Edmar Garcia e de Elizete
Esmeraldino, residente na Rua Mario Totta, n.º 468, em Alvorada/RS, pela
prática do fato assim narrado na exordial acusatória:
“No dia 13 de março de 2009, por volta das 22 horas, na Rua
Maceió, n.º 75, Bairro Sumaré, em Alvorada, os denunciados
VINICICUS SOARES MILESKI e ERIC EDMAR ESMERALDINO
GARCIA, em acordo de vontades e conjugação de esforços com
outros dois indivíduos, não identificados, desferindo disparos de
arma de fogo, por motivo torpe, tentaram matar LUCIANO
PINHEIRO BARBOSA, sem contudo atingi-lo”.

"Na oportunidade, os denunciados, que conduziam um veículo


Peugeot 206, perseguiram a vítima, que caminhava, na via pública,
em direção à casa de sua ex-mulher."

"Em determinado momento, o denunciado Vinícius desceu do


veículo, então conduzido pelo denunciado Eric, com duas armas de
fogo na mão, ordenou que a vítima não corresse e efetuou diversos
disparos de arma de fogo na sua direção."

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"A vítima fugiu dos disparos e ingressou na residência de Ieda
Cavalheiro Lutz, a qual resultou atingida no rosto pelos estilhaços de
vidros provocados pelos disparos."

"O móvel do crime foi torpe, porquanto as brigas que ocorriam


entre a vítima e sua ex-companheira Carina Giugno dos Santos, no
pátio da residência do casal, vinham atrapalhado a "boca de tráfico"
que os denunciados mantinham naquele local."

"O crime não se consumou por circunstâncias alheias a


vontade dos denunciados, já que a vítima conseguiu correr e se
esquivar dos disparos efetuados."

A Autoridade Policial representou pela decretação da


prisão preventiva dos acusados, bem como pela expedição de mandados de
busca e apreensão para diversos endereços (fls. 07/10).

Decretada a prisão preventiva dos acusados e deferida a


busca e apreensão (fl. 42).

O acusado ERIC foi preso em 02/04/2009 (fl. 53).

Sobreveio pedido de revogação da prisão preventiva do


acusado ERIC (fls. 183/186).

A denúncia foi recebida em 23/04/2009, sendo mantida a


prisão preventiva do acusado ERIC (fl. 189).

O réu ERIC foi citado (fl. 187).

Impetrado habeas corpus em favor do réu ERIC, a


liminar foi indeferida (fls. 198/199) e a ordem denegada (fls. 309/317).

O réu ERIC apresentou resposta à acusação por


intermédio de defensor constituído, oportunidade em que foi pleiteada a
revogação da prisão preventiva do mesmo (fls. 222/232).

O réu VINÍCIUS foi preso em 08/05/2009 (fl. 233).

Mantida a segregação cautelar do acusado ERIC (fl.


235).

O réu VINÍCIUS apresentou resposta à acusação por


intermédio da Defensoria Pública, sendo postulada a revogação da
segregação cautelar (fls. 237/253). Mantido o encarceramento (fl. 254).

Revogada a a prisão preventiva dos réus (fls. 290/291).

Declarada extinta a punibilidade do réu ERIC, ante ao


seu falecimento (fl. 403).

No curso da instrução foram ouvidas a vítima, cinco

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testemunhas (fls. 339/340, 703/706, CDs das fls. 365 e 804) e interrogado o
réu VINÍCIUS (CD da fl. 835).

Em memoriais, o Ministério Público requereu a


pronúncia do réu, nos termos da denúncia, sustentando estar demonstrada a
materialidade delitiva e presentes indícios suficientes da autoria. Outrossim,
argumentou que a qualificadora do motivo torpe também encontra respaldo
nos autos (fls. 836/838).

A Defensoria Pública, por sua vez, pugnou pela


impronúncia do réu, ante a ausência de provas (fls. 839/840).

Vieram-me os autos conclusos para sentença.

II – F U N D A M E N T O S

O feito teve regular trâmite, não havendo nulidades a


sanar.

De início, insta frisar que nos processos de competência


do júri, a pronúncia do réu, com sua consequente submissão a julgamento
pelo Conselho de Sentença, é medida impositiva quando certa a existência
do fato e presentes indícios suficientes da autoria, uma vez que nessa fase
processual a dúvida milita em favor da sociedade.

No caso concreto, a existência do fato está sinalizada


pelos elementos de prova colhidos em sedes policial e judicial.

No que atine à autoria, o réu VINÍCIUS SOARES


MILESKI, quando interrogado, negou a prática do fato, dizendo, inclusive,
que sequer estava no local dos acontecimentos. Era amigo do corréu ERIC.
Jamais praticou o tráfico de drogas em Alvorada. ERIC e CHARLES sempre
traficaram em Alvorada, e como conviva muito com ERIC acabou sendo
acusado por este fato. Disse saber que a pessoa que desceu do carro foi
CHARLES, vulgo "Careca", o qual foi assassinado. Nunca trabalhou na
"boca" narrada da denúncia, a qual era de propriedade de ERIC. O crime foi
motivado porque LUCIANO traficava para ERIC na sua residência, sendo
que a esposa da vítima não concordava com isso. Certa feita, a esposa de
LUCIANO escondeu o entorpecente para que o mesmo não traficasse e
consumisse a droga. Em razão, disso LUCIANO jogou uma televisão em
cima de uma cama e acabou ferindo uma criança, sendo que ERIC foi até o
local para resolver essa situação. Quando ERIC chegou no local, LUCIANO
saiu correndo e CHARLES efetuou um disparo para o alto, o qual atingiu
uma residência de dois andares, sendo que uma senhora foi atingida por
estilhaços de vidros. ERIC não efetuou disparos. Negou que o motivo do fato
tenha sido porque LUCIANO e a esposa atrapalhavam o funcionamento da
"boca", mas sim por causa da criança. Está sendo acusado porque "vivia
junto" com ERIC (CD da fl. 835).

A vítima, IEDA CAVALHEIRO LUTZ, quando ouvida em

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juízo, disse que estava em casa na companhia de seu esposo, momento em
que um individuo adentrou correndo no imóvel, oportunidade em que seu
marido empurrou essa pessoa para fora e fechou a porta. Ato contínuo,
ocorreu um disparo que acabou atingindo o vidro da porta, sendo que foi
ferida pelos estilhaços do vidro. Não sabe identificar quem era esse
individuo. Aludiu (fls. 705/706):

"Juíza: Com a palavra Acusação, conforme art.212 do Código


de Processo Penal.
Ministério Público: A senhora mora, então na rua Maceió?
Vítima: Moro, moro lá.
Ministério Público: A senhora não conhecia esse indivíduo, o
Luciano ou a companheira dele a Carina?
Vítima: Não, depois que eu fiquei sabendo que ele morava ali na
rua, mas eu nunca tinha...
Ministério Público: O que aconteceu nesse dia 13 de março, a
senhora refere que um indivíduo entrou na sua casa, a senhora
escutou tiros, como é que foi?
Vítima: Não, o meu marido tava em casa, a porta aberta e
entrou um correndo dentro de casa, meu marido empurrou pra
fora, a hora que ele fechou a porta, que o outro saiu pra fora,
meu marido fechou a porta e daí saiu um tiro, daí raspou em mim
porque eu tava em pé perto da porta.
Ministério Público: O tiro ou os vidros pegaram na senhora?
Vítima: Não, pegou os vidros, e não sei acho que foi os vizinhos
que chamaram a Polícia, não foi nós.
Ministério Público: A senhora não viu ninguém por ali?
Vítima: Não, não vi ninguém não.
Ministério Público: A senhora conhecia o Vinícius, o réu aqui?
Vítima: Não.
Ministério Público: E o Eric Edmar, a senhora já ouviu falar?
Vítima: Não.
Ministério Público: A senhora sabe se ali nessa rua, ali nas
imediações funciona algum ponto de drogas?
Vítima: Não.
Ministério Público: Não sabe?
Vítima: Não, eu não sei não.
Ministério Público: Nada mais.
Juíza: Defesa.
Defesa: Nada.
Juíza: Nada mais."

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A testemunha ANA FRANCO DA SILVA, a seu turno, disse
que conhecia o acusado ERIC o qual, no dia do fato, participou de uma
excursão para Pinhal para comemorar o dia de Iemanjá. A excursão foi
organizada por uma mãe de santo. Aludiu, in verbis (fls. 339/340):
"Juiz: A senhora sabe alguma coisa a respeito desse fato?
Testemunha: Não. Não sei. Até o dia que ele foi preso eu fiquei muito
surpresa. Do que ele tinha feito.
Juiz: A senhora diz ele a senhora refere ao Eric?
Testemunha: Sim senhor.
Juiz: A única pessoa que o senhor conhece é o Eric. A Senhora não
conhece o outro acusado nem a vítima?
Testemunha: Isso mesmo. A única pessoa que conheço é o Eric.
Juiz: A senhora ficou sabendo desse fato. Se isso aconteceu no dia 03
de março de 2009.
Testemunha: Não fiquei sabendo.
Juiz: A senhora sabe aonde ele estava nesse dia?
Testemunha: Nesse dia, ele estava presente numa excursão que nó
fomos a Pinhal, nós pegamos o ônibus às 08h10min, em frente a
Prefeitura de Alvorada, que nós fomos com a nossa mãe de Santo,
chegamos lá começamos a arrumar as coisas para a festa de religião.
Juiz: Que dia foi essa festa?
Testemunha: No dia 13 de março numa sexta-feira.
Juiz: E ele foi junto?
Testemunha: Sim foi junto.
Juiz: Que horas vocês voltaram?
Testemunha: No domingo era umas cinco horas, cinco e dez, nós
saímos de lá.
Juiz: Esse ônibus era de quem?
Testemunha: Não sei. Acho que eles alugaram.
Juiz: Que ônibus era. Qual era a empresa.
Testemunha: Eu não to lembrada do ônibus.
Juiz: Foi feito um cadastro das pessoas que foram? Consta uma
relação?
Testemunha: Sim senhor. Esta com a minha mãe de Santo. A mãe
catarina.
Juiz: E a empresa que ela contratou também?
Testemunha: Deve ter. isso aí eu não sei lhe dizer.
Juiz: E ele foi junto, ele frequentava essa religião.
Testemunha: Sim. Foi ele e a esposa dele.
Juiz: Que santo se comemorava nesse dia?
Testemunha: Iemanjá.
Juiz: Iemanjá não é dia 02 de fevereiro?
Testemunha: É mas nós fomos comemorar, como nós somos da casa
de Iemanjá e Xangô.
Juiz: Mas para mim eu tenho que Iemanjá é dia 02 de fevereiro?
Testemunha: Não sei.
Juiz: Mas a senhora não é da religião?
Testemunha: Sim, sou, sei que a Iemanjá é dia 02 de fevereiro, mas
nós fomos comemorar levar oferendas.
Juiz: A festa era de Iemanjá?
Testemunha: Sim.
Juiz: A senhora sabe por que estão acusando ele?
Testemunha: Não sei mesmo, eu até disse no começo, até eu fiquei
abismada quando ele foi preso. Até eu perguntei o por que ele foi
preso, qual foi o motivo. Por que eu só ou de quinze em quinze dias em
Alvorada. Eu moro realmente aqui.
Juiz: E alguém comentou depois qual foi o motivo já que a senhora se
dá com a esposa dele?
Testemunha: Não. Eu pergunto e todo mundo responde que não

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sabem o motivo.
Juiz: A senhora sabe se ele já se envolveu em algum crime antes.
Testemunha: Não sei. Eu tenho pouco contato com ele. A única coisa
que eu sei é isso dele. Eu pensei que ele era um bom guri que não
tinha nada com a Justiça.
Juiz: Então o seu conhecimento com ele é só da religião.
Testemunha: Sim só da religião.
Juiz: Ele frequentava assiduamente a religião?
Testemunha: É o que a minha mãe de santo falou, que até esses dias
eu estava comentado com ela. Eu perguntei para ela se fazia tempo
que ele era da religião e ela me disse que é desde uns dez anos da
religião.
Juiz: Dada a palavra à defesa:
Defesa: Nada.
Juiz: Nada mais. "

A testemunha JÚLIO CESAR ANTUNES FEIJÓ disse nada


saber a respeito do fato. Afirmou que tinha um relacionamento com MAGALI,
a qual era amiga da esposa de VINÍCIUS, sendo que o conheceu em um
jantar na casa do mesmo. Depois não o viu mais (CD da fl. 364).

O policial civil RICARDO VINICIUS CHAGAS, por sua vez,


disse ter participado da investigação do fato, sendo que a vítima apontou os
réus como autores do fato. Referiu (fls. 703/704):

"Juíza: Com a palavra Acusação, conforme art.212 do Código


de Processo Penal.
Ministério Público: O senhor conhece os réus, o Vinicius
Mileski e o falecido Eric Edmar?
Testemunha: Sim, sim, conheço.
Ministério Público: Se recorda disso aqui?
Testemunha: Por favor me relembra alguma coisa.
Ministério Público: É assim, 13 de março de 2009, na rua
Maceió, tentaram matar Luciano Pinheiro Barbosa.
Testemunha: A ta me recordo agora.
Ministério Público: O que o senhor pode nos dizer sobre isso?
Testemunha: Uma investigação por tentativa de homicídio, se
não me engano.
Ministério Público: Isso.
Testemunha: Luciano a vítima né, tem antecedentes também,
vulgo ‘’Lula’’.
Ministério Público: Luciano Pinheiro Barbosa.
Testemunha: Isso é, ele acusou Vinicius e Eric, é falecido
parece faz 1 ano já, o outro rapaz que tava envolvido também
acho que ficou dentro do inquérito está falecido também.
Ministério Público: O senhor sabe se o Eric Edmar e o Vinicius
tinham envolvimento com o tráfico?

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Testemunha: Eric sim.
Ministério Público: O Eric, filho do Edmar né?
Testemunha: Isso, isso, com certeza, o Vinicius tinha
antecedente, só não recordo se tinha por tráfico.
Ministério Público: Segundo a denúncia a vítima tinha várias
brigas com a sua esposa ali naquele local, que atrapalharia a
‘’boca de tráfico’’, mantida pelos denunciados. O senhor sabe
alguma coisa a respeito disso?
Testemunha: Essa ocorrência foi registrada exatamente nesses
termos pela vítima, pelo Luciano, devido às brigas dele com a
esposa, ele também era usuário de drogas, não se era traficante,
mas era usuário.
Ministério Público: A vítima?
Testemunha: É era usuário de drogas, e estaria embaçando ali
a ‘’boca’’, e que os responsáveis seriam esses dois.
Ministério Público: O senhor não chegou a ir até local assim,
só participou da investigação?
Testemunha: Foram, da investigação e dos cumprimentos de
mandados né, foram cumpridos mandados em vários locais, eu
acho que só no Maceió que não foi porque, se não me engano, a
casa que a gente pediu era de menores e não foi aceito, que o
falecido, vulgo ‘’careca’’, Tharles.
Ministério Público: Se recorda de alguma coisa desses
mandados?
Testemunha: Olha, foram três ou quatro endereços, e alguns na
casa de um deles traficante de drogas, mas eu não me recordo,
agora faz um tempo já, mas foi apreendido drogas, dinheiro,
material pra embalagem, endereços diferentes.
Ministério Público: Nada mais.
Juíza: Defesa.
Defesa: O senhor falou aqui no Tharles e no Eric, e o senhor
disse que o Tharles talvez tivesse... Charles, que talvez tivesse
uma ‘’boca’’...
Testemunha: É o nome é meio complicado, não tem como
esquecer, é Tharles, mas chamavam de Charles.
Defesa: E que ele teria uma ‘’boca de fumo’’ por ali ou
comentários de que teria?
Testemunha: Isso.
Defesa: E o Eric também?
Juíza: Eu me lembro dele, do Tharles no juizado da infância.

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Testemunha: Muito jovem, acho que 15 anos, eu acho (...).
Defesa: E que ele e o Eric teriam, talvez ‘’boca’’ por ali, o senhor
falou isso?
Testemunha: Isso, segundo a vítima.
Defesa: E segundo a vítima, ele teria atingido ou tentava atingir
por estar incomodando essas ‘’bocas de fumo’’, é isso?
Testemunha: Isso.
Defesa: Mas o senhor não participou de investigação que
confirmasse esses fatos, sim ou não?
Testemunha: Sim.
Defesa: Não participou?
Testemunha: Participei sim.
Defesa: Mas e chegou a confirmar esses fatos trazidos pela
vítima?
Testemunha: Pelos reconhecimentos da vítima?
Defesa: Tudo pela vítima?
Testemunha: Exato.
Defesa: Nada mais.
Juíza: Nada mais."

Nesse caminhar foi o relato do policial civil JOÃO CARLOS


DE SOUZA, o qual aludiu que a vítima efetuou registro de ocorrência,
reconhecendo os réus VÍNICIUS e ERIC como sendo os autores do delito.
Contou, in verbis (fls. 704v/705):

"Juíza: Com a palavra Acusação, conforme art.212 do Código


de Processo Penal.
Ministério Público: O senhor conhece o réu?
Testemunha: Só de investigações.
Ministério Público: E o falecido, o Eric Edmar?
Testemunha: Também de investigações.
Ministério Público: O que o senhor sabe a respeito dessa
tentativa de homicídio?
Testemunha: O que recordo é que a vítima registrou ocorrência
dizendo que tinham tentado contra a sua vida e reconheceu as
pessoas, de Eric e de Vinicius como sendo os autores deste fato,
e que o fato seria porque ele estava embaçando o local de
tráfico deles, com brigas com a mulher, com a ex-mulher.
Ministério Público: Isso ele confirmou?
Testemunha: Isso ele pôs em depoimento, ele confirmou que
seria isso aí.
Ministério Público: O senhor sabe se de fato esses indivíduos

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tinham ou têm ainda envolvimento com o tráfico?
Testemunha: Olha, segundo as investigações que realizamos, o
Eric tinha já antecedentes por tráfico e o ‘’Vi’’ era (...), trabalhava
junto, não era o traficante.
Ministério Público: O senhor chegou a participar de
cumprimentos de mandados de busca?
Testemunha: Busca e de prisão.
Ministério Público: Localizaram droga?
Testemunha: Na casa do Vinicius nada foi localizado, quando
das buscas, no Eric foi localizado, inclusive, na casa do Eric
houve prisão de um indivíduo foragido, que ele se apresentou,
inclusive, com nome falso, e depois mais outros dois locais que
foram cumpridos também mandados, que não seriam a casa
deles, mas seriam ‘’pontos’’ ditos comandados por eles, que
também houve apreensão de drogas.
Ministério Público: Nada mais.
Juíza: Defesa.
Defesa: O senhor lembra o nome da pessoa que foi presa na
casa do...?
Testemunha: Não, não tem como lembrar.
Defesa: Não era Tharles?
Testemunha: Não, eu sei que ele era um foragido e se
apresentou com nome falso, tava na casa do Eric, não do
Vinicius.
Defesa: Nada mais.
Juíza: Nada mais."

O policial militar CHARLES CARVALHO ECHEBERRIA


referiu nada recordar'' a respeito do fato (CD da fl. 804).

Do que se infere dos relatos acima reproduzidos, os


mesmos são suficientes para que se reconheça a presença de indícios
suficientes de autoria, de modo a justificar a pronúncia do acusado
VINÍCIUS.

Em que pese a negativa apresentada pelo acusado, a


prova produzida em juízo não afasta, de plano, a autoria que lhe foi
atribuída. Deve-se recordar que nos processos de competência do Tribunal
do Júri, havendo duas versões a respeito do fato, a pronúncia é medida que
se impõe, porquanto nessa fase processual vigora o princípio in dubio pro
societate, cabendo ao Conselho de Sentença decidir por uma das versões
trazidas ao feito.

A negativa de autoria é circunstância a ser examinada

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pelo Conselho de Sentença, haja vista o relato dos policiais civis RICARDO
e JOÃO CARLOS, os quais referiam que a vítima, ao efetuar o registro de
ocorrência policial, identificou que os autores do delito eram ERIC e
VINÍCIUS, o que está em consonância com o depoimento prestado por
LUCIANO em sede policial (fls.13/15).

É bem verdade que VINÍCIUS aludiu que não estava em


Alvorada na data do fato, tendo atribuído a autoria delitiva ao indivíduo
chamado CHARLES; todavia, descabe ao magistrado aquilatar a qualidade
da prova nessa fase processual, incumbindo tal tarefa ao Conselho de
Sentença, constitucionalmente competente para tanto.

Nessas circunstâncias, necessária a pronúncia dos


acusado, a fim de que os jurados julguem a questão, na medida em que
presentes suficientes indícios da autoria e da materialidade.

No tocante à qualificadora referente ao motivo torpe,


tenho que a mesma há de ser apreciada pelo Conselho de Sentença,
havendo possibilidade de que o móvel da ação tenha sido o fato de a vítima
brigar com sua ex-companheira e atrapalhar o andamento da "boca" de
tráfico de propriedade de ERIC e VINÍCIUS, circunstância essa que encontra
amparo na narrativa das testemunhas RICARDO e JOÃO CARLOS, acima
reproduzidas.

Nesse contexto, o juízo de pronúncia é medida


impositiva.

III – D I S P O S I T I V O

Pelo exposto, forte no artigo 413 do Código de


Processo Penal, pronuncio VINÍCIUS SOARES MILESKI, já qualificado,
como incurso nas sanções do artigo 121, § 2º, inciso I, na forma do artigo
14, inciso II, ambos do Código Penal, para que seja submetido a julgamento
pelo Tribunal do Júri.

O pronunciado respondeu ao feito em liberdade, motivo


pelo qual não há necessidade de segregação para o cumprimento do
julgamento, uma vez que ausentes os pressupostos autorizadores da
segregação preventiva.

Preclusa esta decisão, voltem conclusos, nos termos do


artigo 421, do Código de Processo Penal.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Alvorada, 30 de julho de 2014.

ANDRÉ DE OLIVEIRA PIRES


Juiz de Direito

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