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PRONÚNCIA
1. Relatório
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disparos nele, até o esgotamento da munição de sua arma. Além disso, quando
Alexandre se encontrava ao solo, Willian se afastou, recarregou a arma de fogo
e, mesmo percebendo familiares da vítima tentando socorrê-la, não se
intimidou e, sem se preocupar com a presença de terceiros, continuou
efetuando novos disparos visando a ceifar a vida do ofendido, gerando também
perigo comum.
Relata o Parquet que, enquanto Willian efetuava os disparos, Wando
segurava o filho da vítima, Ítalo, dizendo-lhe para não se preocupar porque
“apenas” estavam matando seu pai.
Consta da exordial que o crime foi cometido por motivo fútil,
consistente no inconformismo de Willian em razão de um desentendido havido
com a vítima, pelo fato de o acusado ter agredido seu filho (da vítima) Ítalo, de
09 (nove) anos, que teria adentrado em um terreno onde Willian guardava seus
cavalos, mas teria deixado a porteira aberta.
Argumenta o Parquet que o crime foi praticado com emprego de
recurso que dificultou a defesa da vítima, uma vez que foi atingida de inopino
pelo denunciado Willian, como também pelo fato de o denunciado ter efetuado
outros disparos mesmo quando a vítima já estava caída ao chão, sem qualquer
possibilidade de defesa.
Boletim de ocorrência juntado às fls. 13/18.
A denúncia foi recebida aos 28/06/2013, mesma ocasião em que foi
decretada a prisão preventiva dos réus (f. 92/93). Mandados expedidos em f.
98/99.
Frustradas as tentativas de citação do acusado Willian (f. 103), foi
ele citado por edital conforme f. 164/165, transcorrendo in albis o prazo para
resposta.
O processo teve seu regular prosseguimento em relação ao acusado
Wando, que restou pronunciado conforme decisão de f. 233/240, nos exatos
termos da denúncia.
Na mesma ocasião, foi determinado o desmembramento do
processo em relação ao acusado Willian, seguida da ordem de suspensão do
feito e do prazo prescricional, nos termos do art. 366 do CPP, a teor da decisão
de f. 250.
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O acusado constituiu defensor em f. 251/254, tendo requerido a
revogação da prisão preventiva em f. 258. Pedido indeferido em f. 270/272.
A Defesa apresentou resposta escrita em f. 273.
O processo foi Instruído em Audiências realizadas nos dias
24/01/2014, 02/08/2018 e 20/09/2019, foram colhidos os depoimentos de 09
(nove) testemunhas e realizado o interrogatório do acusado Wando, conforme
termos e mídias de fls. 195, 296 e 348. O réu foi devidamente intimado para AIJ
de f. 348, porém não compareceu, oportunidade em que foi decretada a sua
revelia.
Em f. 348, as partes expressamente ratificaram a prova oral
produzida às fls. 196/197 dos autos de origem.
Defensores do réu formalizaram sua renúncia às f. 302.
O Ministério Público, em sede de Alegações Finais, na forma de
memoriais, manifestou-se pela pronúncia do réu nos exatos termos da peça
acusatória (fls. 353/365).
A Defesa, por sua vez, pugnou pelo decote das qualificadoras de
motivo fútil e de perigo comum (fls. 366/369).
Por fim, foi noticiado o cumprimento do mandado de prisão
expedido nos autos de origem, aos 05/05/2020 (f. 375/376), vindo os autos
imediatamente para decisão.
É, em síntese, o relatório do ocorrido.
2. Fundamentação
2.1. Materialidade
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A teor do art. 413 do CPP, para a pronúncia basta a prova da
materialidade e a existência de indícios suficientes da autoria.
O acusado optou por não comparecer em juízo para apresentar sua
versão dos fatos, sendo decretada a sua revelia consoante ato de f. 348.
Todavia, os demais elementos de convicção colhidos no processo
sugerem a autoria delitiva imputada ao réu, especialmente porque indicam que
o crime teria ocorrido de forma ostensiva e diante de testemunhas.
A testemunha presencial Sônia Maria Bernardes, genitora da vítima,
relatou, perante a autoridade policial, que a vítima Anderson foi chamada para
uma reunião com a psicóloga, na creche onde os filhos dele estudam, sendo
que no momento em que retornou, se deparou com Willian, que portava um
revólver calibre 38 e passou a disparar contra a vítima. Esclarece que se
abaixou para socorrê-lo, quando percebeu que Willian retornou e efetuou mais
disparos contra Anderson, “até que a arma não mais funcionou” (f. 20/23,
confirmado judicialmente em f. 196).
No mesmo sentido, a testemunha Poliana Jucélia Braz informa que
cerca e um mês após um desentendimento entre Anderson e Willian, a vítima
retornava de uma reunião na creche, quando Willian a abordou e efetuou
diversos disparos contra ela. Ressalta que estava em casa quando ouviu três
disparos, tendo se deparado com o ofendido já caído no chão e ferido.
Verbaliza que Anderson lhe disse que Willian, v. Bocão, teria disparado contra
ele e, nesse momento, retornou para casa a fim de solicitar socorro, quando
ouviu mais cinco disparos. Narra que voltou à rua e “viu Willian segurando
Anderson com uma das mãos e aparentemente tentando agredi-lo com
coronhadas, pois a arma teria parado de funcionar.” (f. 24/27, confirmado em
juízo às f. 197).
Além disso, as referidas testemunhas identificaram o denunciado
Willian no Auto de Reconhecimento Fotográfico de f. 61/66.
Conforme salientado alhures, na audiência instrutória de f. 348 as
partes ratificaram expressamente as provas colhidas às fls. 196/197 dos autos,
que correspondem ao depoimento das mesmas testemunhas acima.
O crime também teria sido presenciado pelo filho da vítima, então
criança Italo Junio Bernardes, que em sede inquisitiva disse ter visto o
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denunciado efetuando os disparos em seu genitor, valendo-se de uma arma de
fogo prateada (f. 28/30).
Da mesma forma, o corréu Wando, quando interrogado
judicialmente, não negou a autoria delitiva de Willian, tendo apenas recusado a
imputação de ter participado do crime (f. 202).
Robustecem os elementos indicativos do envolvimento dos
denunciados na ação delituosa, o Relatório Circunstanciado de Investigação de
f. 33/34, ratificado em juízo pela testemunha Judson Lima dos Santos, policial
civil (f. 348/350).
O Investigador, ainda, ressaltou que o crime foi cometido na
presença de diversas pessoas, que também identificaram o réu mas que não
quiseram formalizar seu depoimento por temor dos acusados. Além disso,
relata que o denunciado não mais foi localizado desde o crime (f. 350).
Destarte, entendo pela existência de suporte probatório mínimo a
indicar a autoria do crime de homicídio praticado em desfavor da vítima
Anderson Bernandes da Silva Ribeiro.
Os depoimentos mencionados alhures, prestados tanto em sede
inquisitiva e judicial, oferecem razoável congruência quanto à possível autoria
do réu no crime em comento, de modo que as argumentações defensivas não
se prestam, neste momento, a afastar peremptoriamente os indícios de autoria
que recaem sobre o acusado.
Assim, entendo que remanescem presentes indícios de autoria
sobre o acusado Willian Jacques Oliveira Santos, a serem analisados pelo
Tribunal do Júri, juiz natural do fato, nos exatos termos do art. 413, caput do
CPP.
Importante ressaltar que tal decisão, por sua natureza, não exige
prova plena da autoria delitiva, pois, reveste-se de simples juízo de
probabilidade, razão pela qual se torna dispensável um juízo de certeza que é
necessário apenas para a condenação.
“(…) a vítima não teve como reagir à agressão; que os três primeiros
disparos atingiram o ofendido pelas costas” (f. 197).