Você está na página 1de 4

1.Da competência, 2.Da qualificação, 3. Dos fatos, 4.

Dos
fundamentos, 5. Do pedido, 6. Dos relatórios testemunhais,
7. Assinaturas, 8. Provas anexas.

EXCELENTISSIMA SENHORA JUÍZA DE DIREITO DA 8ª VARA MISTA


DA COMARCA DE PATOS – ESTADO DA PARAIBA

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA PARAÍBA por meio de seus


promotores de justiça ao final assinado, no cumprimento de seu mister constitucional,
vem, mui respeitosamente, perante este juízo, na forma da lei, oferecer DENÚNCIA
contra:

(01) EDUARDA SILVA CUNHA, brasileira, viúva, dona de casa, portadora da


cédula de identidade N° 23.146.841-6 SSP/PB e inscrita no CPF N° 758.016.050-10,
filha de Severino Cunha e Maria Silva, natural de Patos/PB, residente na Rua Roberto
Carlos N°53, Centro, município de Patos/PB.

Pelos seguintes atos delituosos:

Conforme consta dos documentos anexos aos autos processuais que, no dia 15 de
janeiro de 2019, por volta das 17 horas e 34 minutos, na Rua Roberto Carlos N°53,
Centro, situada nesse município e comarca de Patos/PB, a denunciada EDUARDA
SILVA CUNHA, já qualificada, agindo de maneira consciente e voluntária, matou o
seu marido Flavio Lima da Nóbrega, mediante o disparo á queima-roupa de arma de
fogo do tipo revolver calibre 38 que atingiu o coração da vitima, levando à óbito, com o
fim de obter vantagens indevidas de cunho pessoal e financeiro.

Consta ainda que, de acordo com depoimentos testemunhais e da própria ré, que
EDUARDA SILVA CUNHA e seu marido estavam presentes no restaurante Coreto,
Rua São Sebastião nesse município, para fins recreativos, quando a paciente encontra
com Marcos Túlio da Rocha, vizinho da denunciada e da vítima, visando agradece-lhe
por um suposto favor. Segundo depoimento da imputada, esta foi agressivamente levada
de volta ao carro do casal após uma intensa leva de xingamentos e gritos, os quais
atraíram amplamente a atenção dos demais frequentadores e funcionários do
estabelecimento supracitado, e que, dirigido pelo de cujos, retornou à residência da
acusada, onde ela relata ter sido agredida fisicamente e ameaçada de morte, motivo pelo
qual ela apoderou-se de um revolver calibre 38, que a vitima mantinha de maneira
irregular em sua residência, atingindo o coração da vitima, o que perante a injusta
agressão contra si, a violação de direito próprio e iminência de perigo representada pelas
ameaças, ficaria caracterizado a legitima defesa através de uso de meio necessário para
tal, conforme o Artigo 25 do Código Penal brasileiro.
Entretanto, não foi constatado pelo em laudo pelo médico perito durante o enxame
de corpo de delito quaisquer hematomas, marcas no corpo ou outros indícios de
violação da integridade física da acusada, sendo, portanto inexistente a agressão injusta
e o estado de iminente perigo em desfavor desta, pressupostos da legitima defesa na
codificação penal pátria. Diante disso, não há que se falar em excludente de ilicitude
para a ré, sendo cabida a acusação por homicídio doloso.

Ademais, durante a fase de instrução processual, em pericia técnica no aparelho


telefônico da senhora Eduarda, inúmeras mensagens de cunho afetivo e sexual com o
referido vizinho, sendo possível por meio delas, atestar um relacionamento
extraconjugal com Marcos ocorrido pelo período superior à um ano e também
constando em tais conversas uma preparação para execução de Flavio, visando a
dissolução rápida do casamento e o recebimento por parte da acusada de avultada
herança recebido pela vitima, e que na falta de outros herdeiros legalmente constituídos,
seria integralmente repassada à ré desse caso.

Nas conversas efetuadas pelo aplicativo de mensagens WhatsApp, a processada se


referia ao seu marido como “imundo” e ‘inútil” e que “seu ciúme à atrapalhava vida”,
dizia que “Marcos era quem realmente amava” e que desejava finalizar o casamento de
10 anos com Flavio, “sem recorrer à justiça e ficando com todo o dinheiro do de cujus’.
Durante as mensagens é clara e inequívoca pretensão delituosa da ré, onde em
mensagem ela cita que a vitima “morreria logo”, e que ela faria o “defunto ficar como o
bandido da história”, ou seja, simulando uma situação onde a ilicitude do fato poderia
ser afastada pelo instituto jurídico da legitima defesa, ou que a mesma não tivesse
complicações penais em consequência do fato ocorrido.

Durante os diálogos, que sempre eram apagados do dispositivo eletrônico da


acusada, mas foram recuperados pela por programas computacionais destinas à tal fim,
ademais, Marcos, ao ser intimado também entregou o conteúdo de seu aparelho
telefônico, sendo possível a confirmação da existência dos diálogos. Neles a denunciada
dava detalhes de como seria a melhor forma de executar seu plano homicida, no qual,
uma das hipóteses seria inserir veneno na refeição da vitima para leva-lo à óbito, a
outra seria tirar-lhe a vida enquanto dormia.

No entanto, a hipótese relevante ao caso foi encontrada em registros de mensagens


de texto datados de dia anterior ao crime, que a ré EDUARDA SILVA CUNHA
acreditava que seu marido desconfiava de sua fidelidade conjugal, e que aproveitaria um
passeio que ao restaurante Coreto para, como esta referiu em suas próprias palavras
enviadas à Marcos “fazer Flavio explodir de ciúmes, para provocar um vexame no local
e, propositalmente ser agredida ou se colocar em risco de sofrer agressão pela vitima,
valendo-se de seu comportamento explosivo para tal. Assim, por ela saber onde estaria a
arma que Flavio mantinha em sua residência

Nota-se que durante o desenvolvimento dos diálogos, notou-se que Marcos, não
só abstém-se de tentar inibir Eduarda do intento criminoso, mas também, mostrou-se de
acordo com a realização do delito, chegando-o a instrui-la à descartar o corpo visando
livra-se de provável processo penal resultante do falecimento da vitima. Sendo que o
ocultamento do corpo não chegou ocorrer devido aos vizinhos que acionarem a
autoridade policial e ao rápido deslocamento desta até o local da ocorrência.

Chegando a viatura à residência do casal, os agentes policiais encontraram


Flavio caído no chão da sala de jantar com uma perfuração no peito resultante de
disparo de arma de fogo, sendo constatada no laudo cadavérico a perfuração do coração
da vitima, sendo o óbito resultante da parada cardíaca e da hemorragia resultante da
perfuração. Sendo que a autoridade policial efetuou a prisão em flagrante da acusada, a
qual estava visivelmente alterada e em porte de arma calibre 38 em sua mão. Sendo
conduzida ao distrito policial no qual, durante oitiva da ré, ela confessou ter efetuado o
disparo contra avitima alegando cessar agressões físicas contra si, preservar sua
integridade corporal e afastar as ameaças de seu cônjuge mediante o uso da arma que
este possuía.

Entretanto a investigação policial não constatou a legitima defesa, pela


inexistência de agressão injusta ou iminência de agressão, mas sim a presença de um
estratagema delituoso para por fim a vida do senhor Flavio Lima da Nóbrega em
consonância com o Artigo 121 §2° do decreto-lei 2048 (Código Penal Brasileiro).

DOS FUNDAMENTOS:

Sendo assim foram, supostamente, elencados pela ré os requisitos da legitima


defesa postos no Artigo 25 do código penal, sendo estes a Injustiça da agressão, a
iminência da agressão, a violação de direito próprio ou de terceiro, o uso de meios
necessários para a reação e a ponderação de sua utilização, os quais, de acordo com o
doutrinador penalista Guilherme de Souza Nucci e demais pensadores do Direito Penal,
a existência da legitima defesa só se caracteriza pela junção de todos os referidos
elementos. Tese que vem sendo acolhida pelo Superior Tribunal de Justiça em seus
julgamentos, exemplificada pelo voto do ministro da quinta turma REYNALDO
SOARES DA FONSECA, em julgamento de agravo regimental do dia 9 de novembro
de 2021 e publicado no dia 11 do mesmo mês, em voto amparado na Súmula 7 do
mesmo tribunal, julgou improcedente a alegação de legitima defesa ante a inexistência
de agressão atual ou iminente em um processo de invasão de propriedade onde o réu
atira em um suposto invasor que, anteriormente invadira sua propriedade.

DO PEDIDO:

Ante o exposto, o Ministério Público do Estado da Paraíba, por intermédio de


seus promotores de justiça DENUNCIA a acusada EDUARDA SILVA CUNHA como
incursa no Artigo 121 §2° Inciso I do Código Penal (Decreto-Lei 2048/40), solicitando
que esta seja pronunciada e vá a júri popular conforme o Artigo 413 caput do Código de
Processo Penal e que sejam intimados a acusada e seus defensores legais na forma dos
Artigos 420 e 422 do Código de Processo Penal, respeitando-se o devido processo legal,
assim citando-os para o acompanhamento processual e propositura de peça de defesa.

Ademais se solicita que as testemunhas alocadas pelo Ministério Público sejam


intimadas à depor em juízo, conforme o Artigo 206 do Código de Processo Penal.

Rol de testemunhas:

1. _______________________________________________________________

2. _______________________________________________________________

6 de novembro de 2023

Patos/PB

Promotores de justiça:

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Você também pode gostar