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Autor: MINISTÉRIO PÚBLICO

Réu : JHEVERSON SILVA SOUZA

Processo nº 201603017903

JHEVERSON SILVA SOUZA foi pronunciado pela


prática delitiva de homicídio tentado qualificado, por fato ocorrido no dia 20 de março de 2016,
por volta das 18:00 horas, na rua Caravelas, quadra A, lote 10, Vila Santa Helena. Figura como
vítima FERNANDO DA SILVA CUNHA.

Narra a denúncia que o acusado e a vítima desentenderam


devido a negociação de um aparelho celular, e por tal motivo FERNANDO foi até a casa do pai
de JHEVERSON para cobrar o pagamento da quantia no valor de R$ 400,00, e nesta
oportunidade quebrou o portão da residência do pai do réu.

No mesmo dia o pai de JHEVERSON foi até a residência


de FERNANDO e pagou a dívida, e nesta oportunidade descontou a quantia de R$ 50,00,
referente ao valor do conserto do portão. Em razão destes fatos o réu teceu comentários que
mataria a vítima.

Na data do fato, FERNANDO se encontrava na porta de


sua residência, quando JHEVERSON passou duas vezes pelo local, na garupa de uma
motocicleta e também em um veículo Fiat/Uno, na companhia de duas pessoas não
identificadas. Logo em seguida JHEVERSON retornou a pé, já de arma em punho, e foi em
direção a FERNANDO e desferiu contra o mesmo os disparos de arma de fogo, causando-lhe as
lesões corporais descritas no Laudo de Exame de Corpo de Delito ?Lesões Corporais? (fls.
181/182).

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Submetido a julgamento perante o Tribunal do Júri, a
representante do Ministério Público pugnou pela condenação do réu nos termos da pronúncia. O
Defensor Público sustentou as teses de tentativa privilegiada e retirada da qualificadora.

O Conselho de Sentença reconheceu a materialidade e


autoria delitiva e rechaçou as teses da defesa.

Reconhecida a soberania do veredicto do Tribunal do Júri,


declaro o réu JHEVERSON SILVA SOUZA, CONDENADO pela prática da conduta delitiva
tipificada no artigo 121, § 2º, inciso IV, c/c artigo 14, inciso II, ambos do Código Penal. Passo à
dosimetria da pena, conforme o disposto no artigo 59 do Código Penal.

A culpabilidade se apresenta reprovável e de grau elevado,


e encerra o desvalor da conduta do réu, que buscou vingar-se da vítima. No momento do crime o
réu não se preocupou se apenas a vítima seria atingida no momento dos disparos, uma vez que,
no momento em que efetuou os disparos contra a vítima ela estava com seu filho de apenas um
ano de idade em seu colo, colocando em risco também a vida da criança. Os antecedentes são
desfavoráveis, conforme se extrai da certidão de fls. 299/300. A conduta social e
personalidade não serão consideradas nesse contexto ante a inexistência nos autos de dados que
possibilitem avaliá-las. Os motivos do crime encerra o sentimento de vingança nutrido pelo réu,
devido à cobrança de uma dívida decorrente de uma negociação mal feita. As circunstâncias do
crime determinam que o réu foi ao encalço da vítima na sua residência, e a atingiu em dois
momentos, inicialmente quando estava na calçada com seu filho de apenas um ano no colo, e
posteriormente quando já se encontrava dentro da sua residência e buscava se desvencilhar do
réu. As consequências do crime determinam a gravidade da conduta perpetrada pelo réu,
considerando que a vítima foi atingida por quatro disparos de arma de fogo e sofreu perda
parcial do intestino. Embora não seja justificada a conduta praticada pelo réu, o
comportamento da vítima não se mostra digno de qualquer encômio, na medida em que se
dirigiu até a residência do pai do réu e chutou o portão com o propósito de encontrar o réu para
cobrar-lhe determinada quantia que lhe era devida. Muito provável que o crime não teria
ocorrido se a vítima não tivesse agido de tal maneira.

Reconhecidas negativamente a culpabilidade, os


antecedentes, as consequências e circunstâncias, fixo a pena base em 16 anos e 06 meses de
reclusão. Tratando-se de homicídio na sua forma tentada, reduzo a pena em 1/3, reconhecido
que o réu percorreu todo iter criminis, demonstrada a sua periculosidade e esgotada sua
potencialidade lesiva, ao descarregar sua arma contra a vítima, e ainda buscou recarregá-la,

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contudo, não conseguiu seu intento homicida devido ao fato de não ter alcançado a vítima.
Aplicado esse redutor de 1/3, totalizou a pena o quantum de 11 anos, que torno definitiva.

Em decisão prolatada em data de 08.09.16 (fls. 75/78), foi


indeferido o pedido de prisão preventiva, nada obstante, foram aplicadas medidas cautelares
diversas da prisão ao réu, as quais jamais foram cumpridas. Embora não conste nos autos
intimação pessoal do réu para cumprimento das obrigações impostas nesta decisão, o réu foi
assistido por defensor constituído até o encerramento da primeira fase deste procedimento, com
pleno conhecimento do defensor acerca desta decisão.

A decisão proferida por este juízo que impôs a prisão


preventiva ao réu, teve como fundamento a garantia de aplicação da lei penal, uma vez o réu
encontrar-se em local ignorado, haja vista ter mudado de endereço sem comunicar a este juízo.
Independentemente do conhecimento por parte do réu de aplicação de medidas cautelares
diversas da prisão, não cumpriu seu ônus de comunicar eventual mudança de endereço,
conforme o disposto no artigo 367 do Código de Processo Penal: ?O processo seguirá sem a
presença do acusado que, citado ou intimado pessoalmente para qualquer ato, deixar de
comparecer sem motivo justificado, ou, no caso de mudança de residência, não comunicar o
novo endereço ao juízo?.

Ressalto por oportuno, que o réu numa atitude totalmente


inusitada e desrespeitosa para com o Poder Judiciário, aqui inseridos também a acusação, seu
defensor e principalmente o Conselho de Sentença, deixou o plenário deste Tribunal do Júri,
momentos antes do início da sessão, sem sequer comunicar ao Defensor Público que o assistia.

Diante do entendimento já manifestado por este julgador


em decisões proferidas noutros julgamentos em sessões plenárias, tenho como plenamente
plausível a prisão do réu condenado por crime doloso nesta quadra processual, em conformidade
com os preceitos constitucionais insculpidos no artigo 5º, inciso XXXVIII, alínea ?c? da
Constituição Federal, reconhecido pelo legislador constituinte de 1988, a instituição do Júri,
com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das
votações; c) a soberania dos veredictos.

Ao reconhecer a instituição do Tribunal do Júri com a


competência para julgar os crimes dolosos contra a vida, o legislador constituinte apenas
asseverou e dimensionou uma instituição secular e contemplada nas Constituições Federais
anteriores. Cediço que não existe letra morta na legislação, muito menos no que pertine ao texto
constitucional.

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No caso, assegurado dentre os direitos e garantias
fundamentais o princípio da presunção de inocência, este não conflita com a instituição do
Tribunal do Júri, e também não se sobrepõe ao princípio da soberania dos veredictos, e diante do
reconhecimento e aplicação deste princípio constitucional, não será possível a revisão do
julgamento pelas cortes de apelação, apenas na hipótese do veredicto ser proferido com
manifesta contrariedade a prova dos autos. Decorre daí a presunção de legitimidade e
prevalência dos julgamentos pelo Tribunal do Júri, com o reconhecimento da soberania de seus
veredictos.

Este entendimento encontra ressonância nos julgados


proferidos pelas Cortes Superiores, uma vez que, na eventual interposição de recurso especial ou
extraordinário, não se permite reavaliar fatos e provas, apenas questões processuais ou formais,
o que determina a supremacia e a irretocabilidade da soberania dos veredictos.

Pelas razões expendidas, reconhecida a decisão soberana dos Veredictos deste Tribunal do Júri,
e flagrante intenção do réu em se furtar à aplicação da lei penal, DECRETO A PRISÃO
PREVENTIVA do réu JHEVERSON SILVA E SOUZA. EXPEÇA-SE MANDADO DE
PRISÃO. Deixo de condenar o réu no pagamento das custas, porquanto encontra-se assistido
pela Defensoria Pública.

Após o trânsito em julgado, lance-se o nome do réu no rol


dos culpados e proceda as comunicações necessárias, oficiando-se ao cartório eleitoral onde
porventura o réu encontrar-se inscrito, com a finalidade de suspensão dos seus direitos políticos,
consoante o disposto no artigo 15, inciso III, da Constituição Federal.

Publicada neste plenário. Intimem-se as partes. Registre-se


e façam-se as comunicações de estilo.

Sala das sessões do Tribunal do Júri, aos vinte e dois dias


do mês de maio do ano de dois mil e dezenove (22.05.19).

Lourival Machado da Costa

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Juiz de Direito

Presidente do Tribunal do Júri

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