Você está na página 1de 6

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA MISTA

DO FORO DA COMARCA DE ____________.

Processo nº:

____________________, devidamente qualificado nos autos do processo em


epígrafe, por intermédio de seu advogado que esta subscreve, com escritório profissional
localizado na_________, nº 25, Sala 101, Centro, _________/uf, vêm muito respeitosamente
à presença de Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 396 e 396-A, ambos do Código
de Processo Penal, apresentar

RESPOSTA À ACUSAÇÃO

pelas razões de fato e de direito que passa a expor:

I- DA SITUAÇÃO FÁTICA

Consta da denúncia que no dia 28 de fevereiro de 2020, por volta das


22h:00min, na Rua _______, nº 43, bairro portal, nesta cidade de __________/PB, o
peticionante teria ofendido a integridade física, bem como ameaçado a sua, à época
companheira, _____________________.

De acordo com o Caderno Policial o inculpado teria agredido a suposta vítima


por meio de empurrões e socos, causando lesões corporais e em ato contínuo teria proferido
xingamentos diversos e a ameaçado de morte.

Por estas condutas o Ilmo. Representante do Ministério Público ofereceu


denúncia em face do acusado pelos tipos penais constantes do Art. 129, § 9º e Art. 147 do
Código Penal c/c o Art. 7º, inciso I, da Lei 11.340/2006. Em seguida o MM. Juiz recebeu a
denúncia e determinou a citação do acusado para Responder ao Processo nos termos da lei.
II- DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

II.1- DA LEGÍTIMA DEFESA

MM. Juiz tudo não passou de uma mera discussão do casal, não tendo o
acusado em hipótese alguma agido com o dolo de ofender a integridade física da sua ex
companheira, bem como de realizar ameaças.

É notória a omissão da suposta vítima quando da representação ofertada em


sede policial, pois esta relata superficialmente como os fatos teriam ocorrido sem mencionar
sequer o modus operandi do inculpado.

O casal sempre manteve uma relação conturbada com constantes


desentendimentos. O acusado no seu depoimento em sede policial deixa claro o que ora é
alegado. Pois frequentemente a suposta vítima o agredia fisicamente e verbalmente, além de
deteriorar inúmeros móveis e objetos presentes na residência do casal.

Em uma dessas discussões, a suposta vítima chegou a derrubar parte da parede


da residência dos genitores do acusado com a finalidade de remover do interior da mesma um
colchão.

No dia dos fatos relatados na denúncia o acusado chegou a sua residência e


passou a ser xingado com os mais diversos palavrões, não satisfeita a suposta vítima passou a
agredir fisicamente o mesmo, tendo, inclusive, arremessado cadeiras e objetos diversos contra
este.
Com o intuito de se defender, o que é esperado, o mesmo a empurrou por
diversas vezes tentando fazer cessar as agressões injustas e gratuitas que sofria, agindo,
portanto, amparado pelo instituto da legítima defesa constante no Art. 25, do Código Penal
Brasileiro.

Conforme já mencionado tanto o caderno investigativo como a própria


denúncia traz grave omissão quanto à descrição dos acontecimentos. E essa lacuna, por si só,
é capaz de colocar por terra toda pretensão condenatória.
A lesão perpetrada, conforme atestada pelo exame traumatológico foi de
natureza leve e superficial, proveniente de gesto defensivo do acusado.

Nesse sentido é o julgado que segue:

APELAÇÃO CRIMINAL. LESÃO CORPORAL. VIOLÊNCIA


DOMÉSTICA. MATERIALIDADE E AUTORIA
COMPROVADAS. LEGITIMA DEFESA. ABSOLVIÇÃO.
POSSIBILIDADE. Se a dinâmica dos fatos narrados pelo suposto
ofensor e vítima, assim como o laudo pericial, demonstram que
esta última primeiro agrediu o réu, o qual passou a agir em
legítima defesa, utilizando-se moderadamente dos meios
necessários, é de se manter a sentença que a reconheceu. Recurso
conhecido e não provido. (TJDF;Rec 2012.05.1.001862-4; Ac.
773.946; Segunda Turma Criminal; Rel. Des. Souza e Ávila;
DJDFTE 02/04/2014).

Nesse contesto, tendo-se em conta que o acusado agiu almejando defender-se


da agressão em liça e, mais, utilizando-se moderadamente dos meios (empurrão), necessário
se faz aplicar a excludente da ilicitude da legítima defesa.

II.2- AUSÊNCIA DE DOLO DO SUPOSTO CRIME DE AMEAÇA

O acusado jamais tivera a intenção de praticar o ato que lhe foi imputado, no
caso a ameaça de morte. O crime em espécie somente ocorre com a intenção dolosa do
agente.

A denúncia é completamente omissa quando trata do tipo penal constante do


Art. 147, do Código Penal Brasileiro, pois sequer narra como os fatos teriam ocorrido, quais
palavras teriam sido utilizadas e a forma como o suposto delito se procedeu.

Conforme já mencionado e pelo depoimento da testemunha ouvida em sede


policial, as discussões entre o casal ocorriam de maneira habitual, tendo por diversas vezes
acontecido situações semelhantes de desentendimentos por motivos banais.
Não se pode imputar o crime de ameaça a alguém que em um momento de
completo estresse devido às agressões mútuas do casal tenha proferido dizeres que possam
caracterizar de fato uma ameaça, o que se acredita que não ocorreu.

A norma penal reclama ato volitivo doloso, uma vontade consciente de


perpetrar o crime. Não devendo, portanto, imputar ao acusado um crime que este jamais tenha
tido a intenção de praticar. Ainda que o autor tenha proferido dizeres capaz de ter a vítima
assim interpretado, qual credibilidade se tem uma suposta ameaça em um momento de
discussão corriqueira do casal?

O delito de ameaça não restou configurado em suas elementares, prova disto


que não há sequer a menção na denúncia de como tal ameaça teria ocorrido. Quais palavras
utilizadas pelo acusado capaz de ter gerado tal temor na suposta vítima? Nem mesmo a
própria faz menção na representação ofertada.

Nesse sentido, Guilherme de Souza Nucci, acerca da figura típica em debate:


Elemento subjetivo:

Em uma discussão, quando os ânimos estão alterados, é possível


que as pessoas troquem ameaças sem qualquer concretude, isto é,
são palavras lançadas a esmo, como forma de desabafo ou
bravata, que não correspondem à vontade de preencher o tipo
penal.
(...). NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 9.
Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. P. 684.

Para justificar a condenação pelo crime previsto no Art. 147, do Código Penal,
é necessário que a ameaça seja idônea, sem qualquer animosidade entre a vítima e o acusado.

APELAÇÃO CRIMINAL – CRIME DE AMEAÇA –


INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA – APLICAÇÃO DO
PRINCÍPIO DO ‘IN DUBIO PRO REO’ – ABSOLVIÇÃO. –
Diante da fragilidade da prova produzida em desfavor do acusado,
impõe-se a sua absolvição, em atendimento ao princípio do ‘in
dubio pro reo’. (TJ-MG – APR: 10558120018186001 MG, Relator:
Beatriz Pinheiro Caires, Data de Julgamento: 05/06/2014,
Câmaras Criminais/ 2ª CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação:
18/06/2014).

RECURSO CRIME. AMEAÇA. ART.147 DO CP.


INSUFICIÊNCIA DE PROVAS. ELEMENTARES DO TIPO
PENAL NÃO CONFIGURADAS. SENTENÇA
CONDENATÓRIA REFORMADA. Não resultou claro que o réu,
efetivamente, tenha ameaçado a vítima, diante das versões
conflitantes apresentadas, resolvendo-se a dúvida em favor dele.
Ademais, não demonstradas a seriedade da ameaça, que não
produziu intimidação penalmente relevante. A dúvida é ainda
agravada pela existência de prévio desentendimento entre as
partes, relacionado com o namoro entre o réu e a filha da vítima.
APELAÇÃO PROVIDA.
(Recurso Crime Nº 71003729654, Turma Recursal Criminal,
Turmas Recursais, Relator: Volcir Antônio Casal, Julgado em
25/06/2012).(Grifo Nosso).

Com clareza percebe-se que o contexto dos fatos ocorrera quando ambos
estavam com ânimos alterados, restando demonstrado que o casal mantinha uma relação
conflituosa. E isso, sem qualquer dúvida, afasta a lucidez das palavras e, via de consequência,
a vontade de praticar o ato delituoso.

Por estes motivos, além de inepta a denúncia quanto aos fatos narrados, não
assiste razão o Órgão Ministerial quanto às acusações perpetradas.

III- DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer o acusado:


a) A REJEIÇÃO DA INICIAL ACUSATÓRIA, com fundamento no art. 395, inciso III, do
Código de Processo Penal;

b) E caso, no entanto, Vossa Excelência mantenha o recebimento, requer a ABSOLVIÇÃO


SUMÁRIA DO RÉU, com fundamento no art. 397, inciso I e III, do Código de Processo
Penal.

c) No mais, protesta provar o alegado por todos os meios de provas admitidas em direito e

cabíveis à espécie.

Nestes Termos,
Pede e Aguarda Deferimento.

________/UF, ____ de _______ de 2021.

_________________________
Advogado OAB/UF, Nº. ________

Você também pode gostar