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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ

3ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS - PROJUDI


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Recurso Inominado Cível n° 0037003-36.2022.8.16.0021 RecIno


3º Juizado Especial Cível de Cascavel
Recorrente(s): DOUGLAS FERNANDO CASSOL e LUCAS JOSÉ COSTA
Recorrido(s): DOUGLAS FERNANDO CASSOL e LUCAS JOSÉ COSTA
Relator: Adriana de Lourdes Simette

RECURSOS INOMINADOS. MATÉRIA RESIDUAL. AÇÃO DE


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ALEGAÇÃO DE
AMEAÇA COM ARMA DE FOGO EM CASA NOTURNA.
AUSÊNCIA DE ELEMENTO PROBATÓRIO QUE ATESTE A
NARRATIVA AUTORAL. ÔNUS DA PROVA QUE INCUMBIA AO
RECLAMANTE. ART. 373, I, DO CPC. BOLETIM DE
OCORRÊNCIA QUE CONFIRMA O PORTE DE ARMA DENTRO
DO VÉICULO DO RECLAMADO E NÃO NO MOMENTO
ALEGADO. CONSTATAÇÃO DE EMBRIAGUEZ DO RÉU QUE
NÃO RESULTA EM PRESUNÇÃO DE VERACIDADE DOS FATOS
ALEGADOS. DANOS MORAIS NÃO CONFIGURADOS.
SENTENÇA REFORMADA. Recurso Inominado do reclamado
conhecido e provido. Recurso Inominado do reclamante prejudicado.

I –Tratam-se de Recursos Inominados interpostos por ambas as partes em face da sentença


que julgou parcialmente procedente o pedido inicialmente formulado, a fim de condenar o
reclamado ao pagamento de R$1.000,00 a título de indenização por danos morais.

Em suas razões recursais (mov.73.1 dos autos de origem) o reclamante pugna pela
reforma da sentença para que o quantum indenizatório seja majorado para o valor sugerido de
R$5.000,00, ou, subsidiariamente, para R$1.500,00, em vista do poder aquisitivo da parte ré. O
réu apresentou contrarrazões (mov.86.1) pleiteando pelo não provimento das razões recursais do
autor.
Por sua vez, o reclamado interpôs o recurso cabível ao mov.79.1 requerendo a reforma da
sentença para que a indenização por danos morais fixada seja afastada, ou, subsidiariamente, que
o quantum seja minorado para R$500,00, em razão da inocorrência de ameaça na forma como
alegada pelo reclamante e da ausência de danos morais indenizáveis, com o que discorda o autor
em contrarrazões (mov.87.1).

Voto

II – Presentes os pressupostos de admissibilidade, ambos os recursos merecem ser


conhecidos.

No caso dos autos alega o reclamante que teria sido ameaçado pelo reclamado em uma
casa noturna da cidade, local em que este teria dito “cabaré que eu não mando, eu fecho”
enquanto estava na mesma mesa que o autor, além de dizer, posteriormente, que “a coisa vai
ficar preta” e deixar à mostra a arma de fogo que carregava consigo, em razão de suposto ciúme
de uma terceira pessoa que conversava com o autor.

Em que pese o máximo respeito pela decisão prolatada pelo MM. Juízo de origem, tem-se
que a sentença merece ser reformada. Isso porque, em análise do caderno processual não se
verifica qualquer indício de que o reclamado tenha agido de modo a ameaçar o reclamante na
data alegada.

É inegável que o réu foi abordado por equipe da polícia militar naquela noite, tendo sido
registrada a sua embriaguez ao volante, bem como o porte de arma de fogo que se encontrava no
interior de seu veículo, conforme se extrai do Boletim de Ocorrência lavrado (mov.1.4). Porém,
cabe aqui fazer a distinção de que, aquela infração cometida pelo réu e em apuração pelas vias
próprias, não vale como prova cabal da ameaça que o autor alega ter sofrido, tampouco de que o
reclamado portava a arma de fogo apreendida no momento da suposta ação.

Para além disso, as informações que constam no referido registro acerca da suposta
ameaça, foram fornecidas pelo próprio autor, não podendo, com isso, serem presumidas
verdadeiras apenas pela lavratura do documento, eis que os fatos neles descritos se tornam
verossímeis apenas quando os demais elementos probatórios assim indicarem.

Os depoimentos colhidos em sede de audiência instrutória, igualmente, não são suficientes


para confirmar a ação imputada ao reclamado, eis que as testemunhas e informantes afirmaram
não terem presenciado a ameaça ou ainda a exposição de arma de fogo, com exceção tão somente
do informante e amigo do reclamante que narrou ter presenciado as ameaças.

Ademais, o print juntado ao corpo da petição de impugnação à contestação (mov.60.1, p.


8) não é suficiente para corroborar a tese autoral, visto que além de ser impossível a verificação
da presença da pessoa que enviou as mensagens no dia dos fatos e da sua relação com o
estabelecimento, não há descrição do que teria ocorrido, mas apenas a menção de que “Eu sei
que ele tava errado tbm” para supostamente se referir ao reclamado.

Nesse ponto, a verificação de ato ilícito cometido pelo réu resta impedida pela ausência de
comprovação mínima dos fatos narrados, destaca-se que em se tratando de relação regida pelo
Código Civil, faz-se aplicável ao caso em comento a previsão do CPC a respeito do ônus da
prova:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:

I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;

O reclamante deixou de agregar elementos que possam tornar verossímeis as suas


alegações, ônus que lhe incumbia a teor do que dispõe o Código de Processo Civil.

Em casos semelhantes restou decidido:

RECURSO INOMINADO. MATÉRIA RESIDUAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO


POR DANOS MORAIS. ALEGAÇÃO DE CONSTRANGIMENTO, AMEAÇA E
DIFAMAÇÃO SUPOSTAMENTE PERPETRADAS PELO SÍNDICO DO
CONDOMÍNIO. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. IRRESIGNAÇÃO DA
RECLAMANTE. PRELIMINARMENTE. CONFIRMAÇÃO DA CONCESSÃO DOS
BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA – PREENCHIMENTO DOS
REQUISITOS. MÉRITO. PLEITO DE REFORMA E CONDENAÇÃO AO
PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS –
IMPOSSIBILIDADE. EXISTÊNCIA DE ANIMOSIDADE ENTRE AS
PARTES. AUSÊNCIA DE PROVAS DE QUE A SITUAÇÃO VIVENCIADA
CAUSOU OFENSA AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE DA
RECLAMANTE – ÔNUS QUE LHE INCUMBIA – ART. 373, INCISO I, DO
CPC. DANO MORAL NÃO CARACTERIZADO. SENTENÇA MANTIDA POR
SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS – ART. 46 DA LEI N. 9.099/1995. RECURSO
CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJPR - 5ª Turma Recursal dos Juizados
Especiais - 0065797-25.2021.8.16.0014 - Londrina - Rel.: JUÍZA DE DIREITO
DA TURMA RECURSAL DOS JUÍZAADOS ESPECIAIS MARIA ROSELI
GUIESSMANN - J. 09.11.2023) (grifo nosso)

RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.


AUTORA QUE AFIRMA TER SOFRIDO CRIME DE CALÚNIA E AMEAÇA
DE MORTE. AUSÊNCIA DE PROVAS DOS FATOS CONSTITUTIVOS DO
DIREITO DA AUTORA. ÔNUS QUE LHE INCUMBIA, POR FORÇA DO
ART. 373, I, DO CPC. DANO MORAL NÃO COMPROVADO .
IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO INICIAL. SENTENÇA REFORMADA. Recurso
conhecido e provido. (TJPR - 1ª Turma Recursal - 0022103-25.2020.8.16.0019 -
Ponta Grossa - Rel.: JUIZ DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS
JUIZADOS ESPECIAIS NESTARIO DA SILVA QUEIROZ - J. 27.03.2023) (grifo
nosso)

RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.


ALEGAÇÃO AUTORAL DE QUE SOFREU AGRESSÕES FÍSICAS DOS
SEGURANÇAS DO MERCADO RÉU. AUSÊNCIA DE PROVAS MÍNIMAS
(ART. 373, I, CPC). AUSÊNCIA DE PROVAS DE RELAÇÃO DE CONSUMO.
DANOS MORAIS NÃO CONFIGURADOS. SENTENÇA MANTIDA POR SEUS
PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. APLICABILIDADE DO ART. 46 DA LEI Nº 9.099
/95. Recurso conhecido e desprovido. Alega o autor que em 07.11.2017 comprou
bebidas alcóolicas no estabelecimento réu e as consumiu dentro do
estacionamento da ré. No entanto, após algum tempo os seguranças da ré pediram
para o autor se retirar, mas se negou. Desta forma, os seguranças partiram para
agressão física, inclusive, fazendo ameaça com arma de fogo. Observa-se que o
autor não colacionou aos autos provas mínimas dos fatos alegados, conforme
art. 373, I, CPC. Não trouxe comprovante de que comprou as bebidas no
mencionado local, a fim de caracterizar relação de consumo, ou que ao menos
estivesse no local na data indicada, e, outras provas capazes de comprovar as
agressões físicas. Isto porque, o prontuário médico de movs. 1.9 e 20.1 é datado de
09.11.2017, dois dias após as supostas agressões. Ademais, insta salientar que o
Boletim de Ocorrência possui presunção e deverá ser considerado seirus tantum
corroborada com outras provas, o que não ocorreu no caso sub judice Por fim,
tem-se que no prontuário médico há menção de que o autor teria se envolvido
numa briga e na exordial alega que se recusou a sair do local na primeira vez que
lhe foi chamada atenção. Assim, tem-se que ausente lastro probatório mínimo para
se aferir se houve agressões físicas de fato, quem as iniciou e se houve excessos.
Portanto, como consequência lógica, não há que se falar em indenização por
danos morais. Logo, deve ser mantida a sentença prolatada, por seus próprios
fundamentos, a teor do art. 46 da Lei 9.099/95, servindo esta Súmula/Ementa
como Acórdão de julgamento. (TJPR - 1ª Turma Recursal - 0001057-
18.2018.8.16.0029 - Colombo - Rel.: JUÍZA DE DIREITO DA TURMA
RECURSAL DOS JUÍZAADOS ESPECIAIS MELISSA DE AZEVEDO OLIVAS - J.
09.12.2019) (grifo nosso)

Não se nega que possa ter ocorrido alguma discussão entre as partes, contudo,
considerando que ao julgador da causa cabe a análise dos fatos a partir do conjunto probatório
que lhe foi exposto, no caso em tela não se mostra razoável a manutenção da condenação
arbitrada ante a insuficiência probatória atestada.

Dessa forma, a medida que se impõe é a reforma da sentença de origem para afastar a
condenação por danos morais fixada em R$1.000,00, julgando, consequentemente, improcedente
o pedido inicialmente formulado.

III – Tendo em vista o exposto no item anterior, o pedido de majoração da indenização


por danos morais requerido pelo reclamante em sede recursal resta prejudicado.

Assim, considerando as peculiaridades do caso concreto, vota-se pelo provimento do


recurso interposto pela parte reclamada a fim de reformar a sentença de origem e julgar
improcedente o pedido autoral formulado na demanda, restando, dessa forma, prejudicada a
análise das razões recursais da parte reclamante.

IV – Recurso Inominado do reclamado conhecido e providonos termos do voto. Tendo


em vista o êxito recursal, não há que se falar em pagamento de honorários advocatícios, nos
termos do artigo 55 da Lei Federal nº 9.099/95. Custas devidas conforme artigo 4° da Lei
Estadual nº 18.413/2014 e artigo 18 da Instrução Normativa 01/2015 do CSJE.
V – Prejudicada a análise das razões recursais do reclamante, fica isento o autor do
pagamento de honorários de sucumbência (art. 55, caput da Lei Federal nº 9.099/95). Custas
devidas conforme artigo 4° da Lei Estadual nº 18.413/2014 e artigo 18 da Instrução Normativa 01
/2015 do CSJE, observando-se, no entanto, a suspensão da cobrança na forma do disposto no art.
98, §3º, do Código de Processo Civil, ante o deferimento da gratuidade de justiça (mov. 89.1 dos
autos de origem).

Este é o voto que proponho.

DISPOSITIVO

Ante o exposto, esta 3ª Turma Recursal dos Juizados Especiais resolve, por unanimidade dos votos,
em relação ao recurso de DOUGLAS FERNANDO CASSOL, julgar pelo(a) Com Resolução do Mérito -
Provimento, em relação ao recurso de LUCAS JOSÉ COSTA, julgar pelo(a) Sem Resolução de Mérito -
Recurso prejudicado nos exatos termos do voto.

O julgamento foi presidido pelo (a) Juiz(a) Adriana De Lourdes Simette (relator), com voto, e dele
participaram os Juízes Juan Daniel Pereira Sobreiro e Fernando Swain Ganem.

02 de fevereiro de 2024

Adriana de Lourdes Simette

Juíza Relatora

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