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Em suas razões recursais (mov.73.1 dos autos de origem) o reclamante pugna pela
reforma da sentença para que o quantum indenizatório seja majorado para o valor sugerido de
R$5.000,00, ou, subsidiariamente, para R$1.500,00, em vista do poder aquisitivo da parte ré. O
réu apresentou contrarrazões (mov.86.1) pleiteando pelo não provimento das razões recursais do
autor.
Por sua vez, o reclamado interpôs o recurso cabível ao mov.79.1 requerendo a reforma da
sentença para que a indenização por danos morais fixada seja afastada, ou, subsidiariamente, que
o quantum seja minorado para R$500,00, em razão da inocorrência de ameaça na forma como
alegada pelo reclamante e da ausência de danos morais indenizáveis, com o que discorda o autor
em contrarrazões (mov.87.1).
Voto
No caso dos autos alega o reclamante que teria sido ameaçado pelo reclamado em uma
casa noturna da cidade, local em que este teria dito “cabaré que eu não mando, eu fecho”
enquanto estava na mesma mesa que o autor, além de dizer, posteriormente, que “a coisa vai
ficar preta” e deixar à mostra a arma de fogo que carregava consigo, em razão de suposto ciúme
de uma terceira pessoa que conversava com o autor.
Em que pese o máximo respeito pela decisão prolatada pelo MM. Juízo de origem, tem-se
que a sentença merece ser reformada. Isso porque, em análise do caderno processual não se
verifica qualquer indício de que o reclamado tenha agido de modo a ameaçar o reclamante na
data alegada.
É inegável que o réu foi abordado por equipe da polícia militar naquela noite, tendo sido
registrada a sua embriaguez ao volante, bem como o porte de arma de fogo que se encontrava no
interior de seu veículo, conforme se extrai do Boletim de Ocorrência lavrado (mov.1.4). Porém,
cabe aqui fazer a distinção de que, aquela infração cometida pelo réu e em apuração pelas vias
próprias, não vale como prova cabal da ameaça que o autor alega ter sofrido, tampouco de que o
reclamado portava a arma de fogo apreendida no momento da suposta ação.
Para além disso, as informações que constam no referido registro acerca da suposta
ameaça, foram fornecidas pelo próprio autor, não podendo, com isso, serem presumidas
verdadeiras apenas pela lavratura do documento, eis que os fatos neles descritos se tornam
verossímeis apenas quando os demais elementos probatórios assim indicarem.
Nesse ponto, a verificação de ato ilícito cometido pelo réu resta impedida pela ausência de
comprovação mínima dos fatos narrados, destaca-se que em se tratando de relação regida pelo
Código Civil, faz-se aplicável ao caso em comento a previsão do CPC a respeito do ônus da
prova:
Não se nega que possa ter ocorrido alguma discussão entre as partes, contudo,
considerando que ao julgador da causa cabe a análise dos fatos a partir do conjunto probatório
que lhe foi exposto, no caso em tela não se mostra razoável a manutenção da condenação
arbitrada ante a insuficiência probatória atestada.
Dessa forma, a medida que se impõe é a reforma da sentença de origem para afastar a
condenação por danos morais fixada em R$1.000,00, julgando, consequentemente, improcedente
o pedido inicialmente formulado.
DISPOSITIVO
Ante o exposto, esta 3ª Turma Recursal dos Juizados Especiais resolve, por unanimidade dos votos,
em relação ao recurso de DOUGLAS FERNANDO CASSOL, julgar pelo(a) Com Resolução do Mérito -
Provimento, em relação ao recurso de LUCAS JOSÉ COSTA, julgar pelo(a) Sem Resolução de Mérito -
Recurso prejudicado nos exatos termos do voto.
O julgamento foi presidido pelo (a) Juiz(a) Adriana De Lourdes Simette (relator), com voto, e dele
participaram os Juízes Juan Daniel Pereira Sobreiro e Fernando Swain Ganem.
02 de fevereiro de 2024
Juíza Relatora