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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

9ª CÂMARA CÍVEL

Autos nº. 0014601-55.2017.8.16.0014

Apelação Cível n° 0014601-55.2017.8.16.0014


6ª Vara Cível de Londrina
Apelante(s): IRMANDADE DA SANTA CASA DE LONDRINA e JOSE LEONARDO BERGAMINI
Apelado(s): PAULINA DA CUNHA FERREIRA
Relator: Desembargador Roberto Portugal Bacellar

APELAÇÕES CÍVEIS. PROCESSO CIVIL. CIVIL. CONSUMIDOR.


RESPONSABILIDADE CIVIL. ERRO MÉDICO. SENTENÇA DE
PROCEDÊNCIA. ALEGAÇÃO DE CERCEAMENTO DE DEFESA PELO
INDEFERIMENTO DE PRODUÇÃO DE PROVA ORAL –
DESNECESSIDADE DE PROVA ORAL NO CASO – PROVAS
DOCUMENTAL E TÉCNICA PRODUZIDAS NOS AUTOS SUFICIENTES
PARA A FORMAÇÃO DA LIVRE CONVICÇÃO MOTIVADA DO JUÍZO
PARA O DESLINDE DO FEITO – EXEGESE DO ARTIGO 370 DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL – PRECEDENTES DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA – REJEIÇÃO.APELAÇÃO 2. ALEGAÇÃO DE
ILEGITIMIDADE PASSIVA DA RÉ – DESCABIMENTO – APLICAÇÃO
DA TEORIA DA ASSERÇÃO – LEGITIMIDADE PASSIVA QUE DEVE
SER AFERIDA DE ACORDO COM AS ALEGAÇÕES DA PARTE
AUTORA – QUESTÃO QUE SE CONFUNDE COM O MÉRITO DO
PROCESSO. INSURGÊNCIA CONTRA ERRO MATERIAL CONTIDO
NA SENTENÇA – VALOR DOS DANOS MATERIAIS (LUCROS
CESSANTES) CONTIDO NO DISPOSITIVO, EM DESACORDO COM O
CONTIDO NA FUNDAMENTAÇÃO – NECESSÁRIA CORREÇÃO DA
SENTENÇA. APELAÇÕES 1 E 2. ALEGADA INOBSERVÂNCIA DO
EXAME PERICIAL ELABORADO PELO ASSISTENTE TÉCNICO DO
APELANTE 1 – ENTENDIMENTO PELA UTILIZAÇÃO DO EXAME
PERICIAL JUDICIAL, ELABORADO NOS AUTOS – DESNECESSIDADE
DE RESPONDER A TODAS AS QUESTÕES SUSCITADAS PELAS
PARTES – LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO DO MAGISTRADO.
INSURGÊNCIA A RESPEITO DA COMPROVAÇÃO PELA AUTORA
DOS FATOS CONSTITUTIVOS DO DE SEU DIREITO – AUTORA QUE
APRESENTOU ELEMENTOS DE PROVA QUE CONFEREM
VEROSSIMILHANÇA ÀS SUAS ALEGAÇÕES – PROVAS
DOCUMENTAIS JUNTADAS AOS AUTOS – AUTORA QUE
EFETIVAMENTE COMPROVOU OS FATOS CONSTITUTIVOS DE SEU
DIREITO. INSURGÊNCIA CONTRA A PROCEDÊNCIA DA DEMANDA –
RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DO MÉDICO DEMONSTRADA –
ART. 14, § 4º, DO CDC. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DA
APELANTE 2. ART. 34, DO CDC E ARTS. 932, II E 933, AMBOS DO CPC
– DANOS MATERIAIS COMPROVADOS E, POR ISSO, DEVIDOS –
MANUTENÇÃO DOS DANOS MORAIS ARBITRADOS – ALEGAÇÃO
GENÉRICA DE OFENSA AOS ART.S 371, E 489, IV, DO CPC. PLEITO
DE MINORAÇÃO DOS DANOS MORAIS – PATAMAR ADEQUADO AO
CASO CONCRETO – CONDENAÇÃO MANTIDA NO MONTANTE
ESTABELECIDO NA SENTENÇA. PEDIDO DE ALTERAÇÃO DO
TERMO INICIAL DOS JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA
DAS CONDENAÇÕES PARA A DATA DO TRÂNSITO EM JULGADO OU
DA CITAÇÃO – RESPONSABILIDADE CONTRATUAL –
ESTABELECIDA A DATA DA CITAÇÃO COMO TERMO INICIAL DOS
JUROS DE MORA DAS CONDENAÇÕES. FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS
RECURSAIS. RECURSO DE APELAÇÃO 1 CONHECIDO E
DESPROVIDO. RECURSO DE APELAÇÃO 2 CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


0014601-55.2017.8.16.0014, da Comarca da Região Metropolitana de Londrina – Foro Central de
Londrina – 6ª Vara Cível, em que são Apelantes JOSÉ LEONARDO BERGAMINI (apelante 1) e
IRMANDADE DA SANTA CASA DE LONDRINA (apelante 2) e Apelada PAULINA DA CUNHA
FERREIRA.

I – RELATÓRIO

Trata-se de dois recursos de apelação cível interpostos, respectivamente, por José Leonardo
Bergamini (apelante 1) e Irmandade da Santa Casa de Londrina (apelante 2), contra a sentença proferida
na “ação de indenização por danos morais e materiais e lucros cessantes”, ajuizada Paulinada Cunha
Ferreira em face dos apelantes e o réu Hospital Mater Dei, que foi julgada procedente nos seguintes
termos (mov. 245.1):

“(...)

III. DISPOSITIVO:

DIANTE DO ACIMA EXPOSTO, e do que consta dos autos, JULGO


PROCEDENTES os pedidos iniciais, nos termos do artigo 487, inciso I, do
Código de Processo Civil e, via de consequência:

a)CONDENO os réus a pagar à parte autora, solidariamente, a quantia de R$


15.000,00 (quinze mil reais), a título de indenização por danos morais, a qual
deverá ser acrescida de correção monetária, calculada pela média dos índices
INPC e IGP-DI a partir da data da sentença, quando o valor se tornou líquido
(Súmula 362 do STJ), e de juros de mora de 1% ao mês, estes a contar do ato
ilícito (Súmula 54 do STJ);

b)CONDENO os réus ao pagamento de indenização por danos materiais em favor


da autora, na quantia de R$ 1.844,10 (mil oitocentos e quarenta e quatro reais e
dez centavos);

c)CONDENO os réus ao pagamento de indenização por danos materiais em favor


da autora, na modalidade de lucros cessantes, cujo montante perfaz a quantia de
R$ 3.541,93 (três mil, quinhentos e quarenta e um reais e trinta centavos), nos
termos da fundamentação. Tais valores (itens b) e c)) deverão ser corrigidos
monetariamente pela média dos índices INPC e IGP-DI, contados a partir dos
respectivos prejuízos e acrescidos de juros de mora à base de 1% (um por cento)
ao mês, contados a partir da citação.

Sucumbente, condeno os requeridos ainda ao pagamento da totalidade das custas e


despesas processuais, mais honorários advocatícios em favor do procurador da
parte requerente, que fixo em 10% do valor atualizado da condenação, o que faço
com amparo no artigo 85, § 2º do Código de Processo Civil, levando-se em conta o
tempo despendido no trabalho, o bom grau de zelo do profissional e a
complexidade da demanda.

Sobre o valor dos honorários advocatícios deverão incidir correção monetária


pelos índices da Contadoria Judicial, desde a publicação da sentença, além de
juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, estes a partir do trânsito em julgado
da decisão. (...).” (mov. 245.1).

Contra referida decisão foram opostos embargos de declaração pela ré Irmandade da Santa
Casa de Londrina (mov. 258.1), aduzindo a ocorrência de omissão sobre o pedido de gratuidade de justiça
formulado em contestação, os quais foram acolhidos nos seguintes termos (mov. 277.1):

“Sustentou o ora embargante, que a sentença atacada restou em omissão quanto


ao pedido de assistência judiciária gratuita.

Em análise aos autos, foi verificado que o pedido realmente não fora analisado por
este Magistrado em sua decisão, assim, assiste a parte requerida razão, motivo
pelo qual sano o equívoco, portanto passo a decidir.

Diante da manifestação de seq. 28.1, quanto a apreciação do pedido de justiça


gratuita, que não fora apreciado anteriormente, defiro tal pleito, concedendo o
benefício tanto para a parte requerida.

Vale salientar que caso não haja indeferimento expresso do magistrado em relação
ao pedido supramencionado, entende-se pelo deferimento tácito do benefício.
Vejamos:

APELAÇÃO CÍVEL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. EXTINÇÃO


SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO. CONDENAÇÃO EM CUSTAS E
HONORÁRIOS. PEDIDO DE JUSTIÇA GRATUITA NÃO APRECIADO EM
PRIMEIRA INSTÂNCIA. DEFERIMENTO TÁCITO. PRECEDENTES STJ.
SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE. ART. 98, § 3º, CPC/15. 1. No caso, a parte
apelante formulou pedido de justiça gratuita na petição inicial e, em nenhum
momento tal requerimento fora expressamente indeferido. 2. A ausência de
manifestação quanto ao pedido de justiça gratuita leva à conclusão do deferimento
tácito do benefício, conforme precedentes do Superior Tribunal de Justiça. 3.
Segundo o disposto no art. 98, §§ 2º e 3º, CPC/15, a concessão da gratuidade não
afasta a responsabilidade do beneficiário pelas despesas processuais e honorários
de sucumbência, que ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade. 4. Apelação
Cível conhecida e parcialmente provida para determinar a suspensão da
exigibilidade das custas e despesas processuais, nos termos do § 3º, art. 98,
CPC/15. (TJ-TO - AC: 00143110820198270000, Relator: MAYSA VENDRAMINI
ROSAL)

Sendo assim, mantenho a decisão 245.1 anteriormente proferida. No entanto, a


cobrança das verbas de sucumbência em relação à parte requerida, ora
embargante, fica suspensa, nos termos do artigo 98, § 3º, do Código de Processo
Civil, por ser beneficiária da justiça gratuita.

II -ISTO POSTO, conheço dos embargos de declaração opostos pela requerida e,


em seu mérito, JULGO-OS PROCEDENTES, com fundamento no artigo 1.022 e
incisos do Código de Processo Civil, a fim de sanar a omissão nos termos acima
mencionados.” (mov. 277.1)

O apelante 1 José Leonardo Bergamini interpôs recurso de apelação (mov. 172.1) em que
alegou, em síntese: (a) não foi observado na sentença o laudo elaborado pelo Dr. Carlos Eduardo
Motooka apresentado pelo apelante 1 (mov. 211.2), que considerou que embora tenha havido falha do
médico plantonista, tal conduta não teve repercussão na lesão da apelada, uma vez que ela procurou um
especialista em tempo hábil para o tratamento e que a sequela seria decorrente da própria lesão; (b)
postula a reforma da sentença para que o apelante 1 seja desobrigado de indenizar a apelada em qualquer
valor; (c) caso mantida a sentença de culpa do recorrente, pleiteia que as verbas indenizatórias sejam
minoradas, considerada a idade, o início de carreira e as condições socioeconômicas do apelante 1.
Por sua vez, a apelante 2 Irmandade da Santa Casa de Londrina aduziu que (mov. 284.1):
a) preliminarmente, a ocorrência de cerceamento de defesa pelo indeferimento de produção de prova oral;
b) a ilegitimidade passiva da recorrente e sua consequente exclusão do polo passivo da ação, por se tratar
de ato cuja prática é restrita aos profissionais médicos, bem como por inexistir vínculo empregatício ou
subordinação jurídica entre a apelante 2 e o corréu médico, assim como que a responsabilidade do
hospital por conduta de médico autônomo está restrita aos serviços relacionados com o estabelecimento
comercial propriamente dito; c) a sentença condenatória está pautada em falsas premissas com base em
falha na valoração das provas colhidas; d) não houve a inversão do ônus da prova no processo, de modo
que a apelada deveria ter cumprido com o ônus que lhe era inerente de comprovar os fatos constitutivos
de seu direito; e) a inexistência de falha na prestação de serviços ou ato ilícito que tenha nexo de
causalidade com o dano alegado pela apelada, porque o hospital recorrente e a equipe multidisciplinar que
atenderam a requerida atuaram da maneira recomendada pela literatura e prática médicas; f) a apelada
procurou o médico especialista Dr. Edson Kenji Takaki no início do ano de 2014, que então diagnosticou
a existência da lesão, que poderia ter significado um resultado melhor na cirurgia realizada na mão da
apelada; g) o exame pericial elaborado pelo assistente técnico do corréu (mov. 211.2) esclarece que o
médico plantonista não teria incorrido em ato ilícito capaz de gerar a indenização buscada, restando
esclarecido que o tempo decorrido entre o trauma e a avaliação por parte do especialista não foi
determinante para o resultado da lesão e que a sequela é decorrente da própria lesão; h) houve ofensa aos
artigos 371 e 489, IV, ambos do CPC, quanto ao laudo elaborado pelo assistente técnico do corréu; i)
postula o afastamento da solidariedade da apelante 2, uma vez que inexiste previsão legal ou condicional
a esse respeito; j) caso mantida a condenação, postula a minoração do quantum indenizatório arbitrado,
considerada a condição econômico financeira da requerente, que é beneficiária da gratuidade de justiça;
k) sucessivamente, caso a condenação persista, requer que o termo inicial dos juros e correção monetária
seja a data do trânsito em julgado da decisão, ou, no máximo, a data da citação, consoante dispõe o art.
405, o Código Civil; l) a ausência de danos materiais, mais especificamente lucros cessantes, posto que a
culpa pelo acidente é da própria apelada; m) em sendo mantida a condenação, requer a correção da
sentença, pois na fundamentação consta um valor escrito de R$ 2.804,00 (dois mil, oitocentos e quatro
reais) e no dispositivo da sentença constou a quantia de R$ 3.541,93 (três mil, quinhentos e quarenta e um
reais e noventa e três centavos).

Foram apresentadas contrarrazões ao recurso de apelação 1 (mov. 272.1) e ao recurso de


apelação 2 (mov. 294.1) pela apelada Paulina da Cunha Ferreira, em que requereu o desprovimento de
ambos os recursos, com a majoração dos honorários advocatícios de sucumbência do procurador da
apelada.

Devidamente intimada a apelante 2, nos termos do artigo 10 do Código de Processo Civil,


se manifestou no mov.38.1 e, em seguida a apelante 1 também apresentou manifestação (mov.40.1).

É o relatório.

II – VOTO E SUA FUNDAMENTAÇÃO


Para uma melhor compreensão do caso faz-se um breve resumo.

Trata-se de “ação de indenização por danos morais e materiais e lucros cessantes”,


movida por Paulina da Cunha Ferreira em face de José Leonardo Bergamini, Irmandade da Santa Casa de
Londrina e Hospital Mater Dei, em razão dos danos que teriam sido causados pelo suposto erro médico do
plantonista José Leonardo Bergamini no atendimento da apelada no Hospital Mater Dei, que pertence ao
grupo econômico da Irmandade da Santa Casa de Londrina.

Segundo a autora, ela sofreu acidente doméstico com uma faca de cozinha, tendo cortado o
dedo indicador da mão esquerda e a região palmar, sendo possível a visualização da parte óssea e havendo
sangramento volumoso.

Em razão disso, alega a autora que em 17/12/2013 se dirigiu ao Pronto Socorro do Hospital
Mater Dei. Feita a triagem, a autora foi classificada como “não urgência” e ficou aguardando durante
aproximadamente 1 (uma) hora até o atendimento médico. O atendimento médico foi realizado pelo
médico José Leonardo Bergamini, que não teria solicitado qualquer exame e tampouco medicado a
autora, limitando-se a limpar o ferimento e sutura dos cortes e dando à autora atestado médico com
afastamento do trabalho pelo período de 2 (dois) dias.

Após o retorno ao trabalho, afirma a autora que continuou sentindo fortes dores no local,
porém com o passar do tempo percebeu que houve a perda do movimento e sensibilidade do dedo
lesionado, pelo que procurou em janeiro de 2014 um médico especialista para análise da lesão.

De acordo com a autora, no atendimento junto ao médico especialista foi constatada a


“lesão profunda do nervo flexor prejudicando a articulação do membro, com desorganização do
músculo”. Em decorrência da lesão, a autora alega que foi submetida a duas cirurgias, tendo ficado
afastada do trabalho recebendo benefício previdenciário.

Diante disso, a autora ajuizou a presente ação buscando a condenação do médico, do


hospital e do grupo econômico, de forma solidária, ao pagamento de danos morais, materiais e lucros
cessantes, devidamente corrigidos e atualizados até a efetiva quitação.

Apresentadas as contestações pelos réus (movs. 24.1 e 28.1), a Irmandade da Santa Casa de
Londrina alegou a ilegitimidade passiva do réu Hospital Mater Dei, o que foi aceito pela parte autora
(mov. 39.1) e deferido o pedido (mov. 42.1).

A ação foi julgada procedente, condenando-se os réus, de forma solidária, a pagar à parte
autora indenização por danos morais no valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), acrescidos de juros de
mora de 1% (hum por cento) ao mês, a contar do ato ilícito e correção monetária pelo índice
INPC/IGP-DI, a partir da data da sentença; indenização por danos materiais na quantia de R$ 1.844,10
(hum mil, oitocentos e quarenta e quatro reais e dez centavos); indenização por danos materiais na
modalidade de lucros cessantes no montante de R$ 3.541,93 (três mil, quinhentos e quarenta e um reais e
noventa e três centavos), também corrigidos monetariamente pela média dos índices INPC/IGP-DI, a
contar do respectivo prejuízo e juros de mora de 1% (hum por cento) ao mês, a partir da citação.

Pela sucumbência, os réus/apelantes foram condenados ao pagamento das custas e despesas


processuais e honorários advocatícios de sucumbência no percentual de 10% (dez por cento) sobre o valor
da condenação.

É contra a sentença de procedência da ação que se insurgem os apelantes 1 e 2.

Presentes os pressupostos de admissibilidade recursal, nos termos dos artigos 1.009 a


1.014, do Código de Processo Civil, conheço integralmente do recurso de apelação 1 e do recurso de
apelação 2.

Quanto aos efeitos dos recursos, recebo-os em seu duplo efeito, em função de não haver
quaisquer das exceções previstas no artigo 1.012, § 1°, do Código de Processo Civil.

Por uma questão de técnica processual, inicia-se o exame pelo recurso de apelação 2.

Apelação 2

Do alegado cerceamento de defesa

Preliminarmente, a ré Irmandade Santa Casa de Londrina alegara a ocorrência de


cerceamento de defesa ante a impossibilidade de oitiva de testemunhas, essencial no caso, para esclarecer
pontos controvertidos e comprovar suas alegações de ausência de vínculo entre o corréu e o hospital ora
apelante.

Sem razão.

A respeito do alegado cerceamento de defesa em razão do indeferimento de produção de


provas, é preciso notar que o magistrado não está adstrito às provas para formar seu convencimento. O
magistrado está vinculado ao seu livre convencimento motivado, assim o indeferimento da produção de
provas não tem o condão de causar qualquer nulidade processual.

No Direito Processual Civil brasileiro, cabe ao juiz, enquanto destinatário das provas, a
dispensa de dilação probatória que não contribuirá para o deslinde do feito, consoante disposição do
artigo 370 do Código de Processo Civil, que assim prevê:

“Art. 370. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as


provas necessárias ao julgamento do mérito. Parágrafo único. O juiz indeferirá,
em decisão fundamentada, as diligências inúteis ou meramente protelatórias.”.
Com efeito, o magistrado, no momento de julgar, forma o seu convencimento mediante a
livre apreciação dos elementos probatórios, valorando-os de acordo com os fatos e circunstâncias
constantes dos autos.

No presente caso, o juízo a quo considerou que as provas documentais e técnica seriam
suficientes a elucidar se a atuação médica foi ou não adequada para o caso, bem como a sua
responsabilidade perante os fatos ocorridos, seria inócua a produção de testemunhal para atestar a
responsabilidade do médico apelante, no caso concreto.

Nesse sentido, já decidiu o Superior Tribunal de Justiça:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DECISÃO DA


PRESIDÊNCIA. RECONSIDERAÇÃO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS. ERRO MÉDICO. INDEFERIMENTO DE PRODUÇÃO DE PROVA
ORAL. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO OCORRÊNCIA. AGRAVO INTERNO
PROVIDO PARA CONHECER DO AGRAVO E NEGAR PROVIMENTO AO
RECURSO ESPECIAL.
1. Agravo interno contra decisão da Presidência que não conheceu do agravo em
recurso especial, em razão da falta de impugnação específica de fundamento
decisório. Reconsideração.
2. Não há cerceamento de defesa quando o julgador, ao constatar nos autos a
existência de provas suficientes para o seu convencimento, indefere pedido de
produção de prova. Cabe ao juiz decidir, motivadamente, sobre os elementos
necessários à formação de seu entendimento, pois, como destinatário da prova, é
livre para determinar as provas necessárias ou indeferir as inúteis ou
protelatórias.
3. Agravo interno provido para conhecer do agravo e negar provimento ao recurso
especial.
(AgInt no AREsp 1885002/RJ, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA,
julgado em 20/09/2021, DJe 15/10/2021)

Também, o juízo a quo julgou a pretensão inicial com base no conjunto probatório
produzido nos autos, não havendo dúvida sobre a culpa do médico réu e, ainda, responsabilidade do
Hospital réu, o que reforça a desnecessidade de produção de prova no caso.

Assim, no caso, rejeito a preliminar de cerceamento de defesa.

Ilegitimidade passiva

Pleiteia a apelante 2 que haja o reconhecimento da ilegitimidade passiva da recorrente e


sua consequente exclusão do polo passivo da ação, por se tratar de ato cuja prática é restrita aos
profissionais médicos, bem como por inexistir vínculo empregatício ou subordinação jurídica entre a
apelante 2 e o corréu médico, assim como que a responsabilidade do hospital por conduta de médico
autônomo está restrita aos serviços relacionados com o estabelecimento comercial propriamente dito.

Não tem razão a apelante 2.

Isto porque, pela aplicação da teoria da asserção, a ilegitimidade passiva deve ser analisada
de acordo com o que foi alegado pela parte autora na inicial, devendo ser consideradas verdadeiras as
alegações da autora para fins de análise das condições da ação.

Veja-se que o pedido formulado pela parte autora na petição inicial considera que a
empresa apelante 2 é administradora do Hospital Mater Dei, local em que foi efetuado o atendimento, do
qual relata ter havido erro médico.

Saliente-se, ainda, que o pedido inicial é de condenação solidária dos réus ao pagamento de
indenização por danos morais e materiais, inclusive lucros cessantes, pelo que não há como ser
reconhecida a ilegitimidade passiva da apelante 2.

Ademais, a questão da legitimidade passiva da apelante 2 se confunde com o mérito do


processo, de modo que se durante o trâmite processual ficar demonstrada a inexistência do dever de
indenizar, isso importa no reconhecimento da improcedência do pedido inicial.

Sobre o tema, José Miguel Garcia Medina leciona que:

“De acordo com a teoria da asserção (ou della prospettazione), as condições da


ação (denominação empregada pelo CPC/1973) ou requisitos da demanda
(legitimidade ou interesse processual) devem ser identificados à luz do que tiver
afirmado o autor, em sua petição inicial. (...)
Tem-se decidido que o juiz somente poderia proferir sentença extinguindo o
processo sem resolução do mérito por falta das denominadas condições da ação,
que, à luz do novo Código, seriam apenas a legitimidade e o interesse, se antes da
realização da atividade probatória; caso contrário, o resultado seria o
julgamento de improcedência do pedido.” (MEDINA, José Miguel Garcia. Curso
de Direito Processual Civil Moderno [livro-eletrônico] / José Miguel Garcia
Medina. -- 4ª ed. -- São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2018).

Nesse sentido já decidiu esta 9ª Câmara:

“APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE


INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. – COISA JULGADA. INOCORRÊNCIA.
PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL QUE NÃO FOI OBJETO DE
AÇÃO ANTERIOR. - ILEGITIMIDADE PASSIVA ALEGADA EM
CONTRARRAZÕES. TEORIA DA ASSERÇÃO. AUTORA QUE IMPUTA À
REQUERIDA O DESCUMPRIMENTO DO CONTRATO. PRELIMINAR NÃO
ACOLHIDA. – OPERAÇÃO DE PORTABILIDADE DE DÍVIDA VIA CÉDULA
DE CRÉDITO BANCÁRIO. VALOR RECEBIDO INFERIOR AO CONTRATADO.
DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO.
SITUAÇÃO QUE NÃO ULTRAPASSA O MERO ABORRECIMENTO. –
INCIDÊNCIA DE HONORÁRIOS RECURSAIS. – RECURSO CONHECIDO E
NÃO PROVIDO.”
(TJPR - 9ª C.Cível - 0006009-64.2017.8.16.0194 - Curitiba - Rel.: Juiz Rafael
Vieira de Vasconcellos Pedroso - J. 13.06.2019, P. 14.06.2019) (grifei)

Assim sendo, não há de se falar em ilegitimidade passiva das apelantes.

Do erro material contido na sentença

A apelante 2 postulou a correção de erro material contido na sentença quanto aos danos
materiais, pois na fundamentação consta um valor escrito de R$ 2.804,00 (dois mil, oitocentos e quatro
reais) e no dispositivo da sentença constou a quantia de R$ 3.541,93 (três mil, quinhentos e quarenta e um
reais e noventa e três centavos).

Com razão à apelante 2.

Deve ser reconhecido o erro material contido na sentença, eis que os valores dos danos
materiais (lucros cessantes) constam da fundamentação como sendo R$ 2.804,22 (dois mil, oitocentos e
quatro reais e vinte e dois centavos), enquanto no dispositivo constou o valor que era auferido pela autora
na época do seu afastamento.

Confira-se trecho da fundamentação da sentença que contribui para o entendimento da


situação:

“(...) De outro vértice, quanto aos lucros cessantes, observa-se que a autora
necessitou afastar-se do trabalho, desde a data do acidente, conforme
recomendação médica, e por esta razão deverá ser ressarcida pelo tempo que
deixou de auferir salário. Com base nos holerites juntados (seq. 1.5), o ganho
mensal da autora importa em R$ 3.541,93, ou seja, pela somatória das diferenças,
que a requerente sofreu uma redução e um prejuízo total de R$ 2.804,22. (...)”
(mov. 284.1)

Portanto, corrija-se a sentença para que passe a constar do dispositivo o valor de R$


2.804,22 (dois mil oitocentos e quatro reais e vinte e dois centavos), como sendo o valor devido a título de
danos materiais na modalidade lucros cessantes.

Neste momento, deverão ser reunidas para análise conjunta as apelações 1 e 2.


Apelações 1 e 2

Mérito

O apelante 1, José Leonardo Bergamini, entende que não foi observado na sentença o
exame pericial elaborado pelo Dr. Carlos Eduardo Motooka (mov. 211.2), que considerou que embora
tenha havido falha do médico plantonista, tal conduta não teve repercussão na lesão da apelada, uma vez
que ela procurou um especialista em tempo hábil para o tratamento e que a sequela seria decorrente da
própria lesão, razão pela qual postula a reforma da sentença para que seja desobrigado a indenizar a
apelada em qualquer valor.

Por seu turno, a apelante 2, Irmandade da Santa Casa de Londrina, pugna pela reforma da
sentença pela ausência de demonstração pela autora dos fatos constitutivos de seu direito, em razão da
inexistência de falha na prestação de serviços ou ato ilícito que tenha nexo de causalidade com o dano
alegado pela apelada, bem como diante da prova pericial (mov. 211.2) que atesta que o médico
plantonista não incorreu em ilicitude em seu proceder.

De igual modo, aduz a apelante 2 que o laudo pericial formulado pelo assistente técnico do
corréu (mov. 211.2) esclarece que o tempo decorrido entre o trauma e a avaliação por parte do médico
especialista não foi determinante para o resultado da lesão, uma vez que a sequela é decorrente da própria
lesão.

Por fim, aduz a apelante 2 que houve ofensa aos artigos 371 e 489, IV, ambos do CPC,
quanto ao laudo elaborado pelo assistente técnico do corréu e postula o afastamento da solidariedade da
apelante 2, uma vez que inexiste previsão legal ou condicional a esse respeito.

Sem razão aos apelantes 1 e 2.

Quanto à insurgência do apelante 1, no que tange ao referido laudo pericial (mov. 211.2)
que teria sido elaborado por seu assistente técnico, veja-se que se trata de documento unilateral, juntado
com as alegações finais, que foi formulado pelo assistente técnico do apelante 1 com o intuito de rebater
as conclusões do exame pericial elaborado pelo perito judicial e apresentado nos autos.

Nesse sentido, por certo que a valoração da prova elaborada nos autos, por perito
imparcial, de confiança do Juízo, sem interesse na causa, é distinta da prova produzida pelo assistente
técnico da parte, unilateralmente, sem o devido contraditório.

O perito judicial nomeado pelo Juízo manifestou-se (mov. 199.1) em resposta à


impugnação do laudo pericial apresentada pelo apelante (mov.181.1), assim como aos quesitos de
esclarecimentos (mov. 182.1), quanto ao exame realizado pelo Dr. Carlos Eduardo Motooka anexado ao
processo administrativo no Conselho Regional de Medicina (mov. 181.2) e ao parecer do assistente
técnico do apelante Dr. Luiz Paterlini (mov. 181.3), afirmando que ambos os documentos não
confrontavam o laudo elaborado nos autos, tampouco alteravam as conclusões apresentadas no exame
pericial, tendo em vista que amparadas nas provas documentais contidas nos autos, no exame pericial da
paciente e na doutrina e literatura médica mais atualizada.

Neste ponto interessante trazer parte das razões constantes no esclarecimento prestado pelo
perito do juízo, que por sua vez afastam as impugnações realizadas pelo Dr. Carlos Eduardo Motooka.
Vejamos o que constou do parecer técnico (mov.199.1):

“(...)
No desenho anatômico a seguir a seta superior assinala o local da ferida incisa
que atingiu o 2º dedo da mão esquerda da paciente e a seta inferior a localização
do tendão extensor profundo, que se encontra abaixo do tendão superficial,
encostado no arcabouço ósseo do dedo, o que explica o aspecto visual descrito
pela paciente de que a ferida teria atingido o osso, assim como justifica os
sintomas e sinais das complicações que a paciente passou a apresentar após o
atendimento médico, que ficou restrito à limpeza e sutura da lesão.

A evidência de que a lesão foi efetivamente profunda encontra-se no também nas


alterações que repercutiram no músculo lumbrical da face radial do 2º dedo
descrito na ultrassonografia com aspecto edemaciado e levemente desorganizado.
A figura abaixo mostra a disposição anatômica dos músculos lumbricais e sua
estreita relação com o local da ferida que atingiu o 2º dedo da mão esquerda da
paciente, provocando lesão no tendão extensor profundo, no local assinalado pela
seta amarela, conforme descrito na ultrassonografia.
Ainda que não fosse possível estabelecer o diagnóstico de lesão tendinosa durante
o atendimento de urgência, se a paciente tivesse sido orientada a retornar para
reavaliação ortopédica, a conduta médica teria sido completa, sendo esta talvez a
principal falha no atendimento médico, que também foi reconhecido pelo perito
médico do CRM. A literatura médica é unânime quanto a necessidade de um
diagnóstico precoce em ferimentos desta natureza pela sua complexidade e
necessidade de encaminhamento para médicos especialistas em cirurgia de mão,
com a finalidade de realizar o mais rapidamente possível as correções necessárias
e, assim, evitar ou minimizar as sequelas.
(...)”

Ademais, cabe ao magistrado, segundo seu livre convencimento motivado, analisar as


provas constantes dos autos e estabelecer a valoração daquelas que formaram seu convencimento,
fundamentando devidamente as razões que o levaram a entender daquela maneira, sendo desnecessário
responder a todas as questões suscitadas pelas partes.

Por seu turno, quanto às alegações da parte apelante 2, verifica-se que não houve a
inversão do ônus da prova, mas que, no entanto, a autora comprovou os fatos constitutivos de seu direito,
pois trouxe aos autos elementos necessários para a formação do convencimento do magistrado de
primeiro grau, no sentido de conferir verossimilhança às alegações apresentadas na inicial.

Observe-se que a autora comprovou que foi atendida pelo médico requerido, no
estabelecimento da requerida, demonstrou a existência do corte, da realização das cirurgias, do
recebimento de benefícios previdenciários junto ao INSS, da realização de fisioterapia, além de ter
comparecido para a elaboração do exame pericial, elementos estes que são suficientes para que estejam
amplamente demonstrados os fatos constitutivos de seu direito.

No que tange às conclusões havidas pelo assistente técnico do réu médico, veja-se que,
como já afirmado anteriormente, é desnecessário ao magistrado refutá-las, mas apenas fundamentar as
razões que formaram o seu convencimento, como o fez o Juízo a quo na sentença.

Note-se, a esse respeito, que a responsabilidade subjetiva do médico apelante 1 foi


analisada segundo os ditames da lei consumerista, em especial o art. 14, § 4º, do CDC, concluindo o
magistrado, com base no exame pericial elaborado nos autos, que houve falha na conduta médica, que não
agiu de acordo com as praxes e assistências adequadas, sendo que a solidariedade do fornecedor
reconhecida na sentença decorre de disposição expressa do art. 34, do CDC, ou ainda, os arts. 932, II e
933, ambos do Código Civil, aqui utilizado pela teoria do diálogo das fontes.

Os danos materiais são devidos à apelada, em razão das despesas efetivamente


comprovadas com o tratamento clínico e pela redução das verbas salariais durante o período de
afastamento da autora de seu trabalho.

Em relação aos danos morais, denota-se que foram demonstrados pelas consequências das
sequelas do erro médico no dia a dia da apelada, em especial pela repercussão em seu trabalho como
bancária, que sabidamente se utiliza de habilidades das mãos para o desenvolvimento das atividades.

Assim sendo, embora a apelante 2 afirme de forma genérica que houve ofensa aos artigos
371 e 489, IV, do CPC, tais afirmações não guardam relação com a realidade dos fatos, pelo que deve ser
mantida a sentença neste ponto.

Do quantum indenizatório dos danos morais

Diante da manutenção da condenação, postula a apelante 1 que as verbas indenizatórias


sejam minoradas, considerada a idade, o início de carreira e as condições socioeconômicas do apelante 1.

Da mesma forma, requer a apelante 2 a minoração do quantum indenizatório, levando-se


em conta que a instituição é beneficiária da gratuidade de justiça.

Sem razão.

A indenização arbitrada pelo Juízo a quo foi de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), valor este
que não se afigura desproporcional com os danos que efetivamente foram causados à autora.

Nesse sentido, veja-se que a autora foi submetida a duas cirurgias para correção dos
problemas nas mãos, tendo ficado por 60 (sessenta) dias afastada do trabalho e tendo repercussão em sua
vida, porque possui certa dificuldade no dedo da mão esquerda e perda de força do braço direito em que
foi retirado enxerto para a realização de uma das cirurgias.

Além disso, a situação econômica das partes demonstra que a autora recebe cerca de R$
4.809,33 (quatro mil, oitocentos e nove reais e trinta e três centavos) por mês com seu trabalho de
bancária, vide holerites apresentados nos autos (mov. 1.5) e extrato bancário (mov. 10.4) e é beneficiária
da gratuidade de justiça (mov. 9.1), enquanto o réu José Leonardo Bergamini é médico, porém não há
elementos de prova sobre seus rendimentos mensais e, por derradeiro, a Irmandade da Santa Casa de
Londrina, que é instituição filantrópica e beneficiária da gratuidade de justiça, o que, por si só, não
demonstra que esteja impossibilitada de arcar com o pagamento da indenização por danos morais, ao
passo que deve ser mantida a indenização no patamar de R$ 15.000,00 (quinze mil reais).

Sobre o tema, cumpre trazer os seguintes julgados proferidos em casos análogos:

“APELAÇÃO CÍVEL (1) E (2). AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS


MORAIS E MATERIAIS COM PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA DE
URGÊNCIA. ERRO MÉDICO. CIRURGIA ESTÉTICA. CICATRIZES.
APELAÇÃO (1) –NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.
INOCORRÊNCIA. RESPONSABILIDADE DO PROFISSIONAL LIBERAL. ART.
14, §4º, DO CDC. CULPA VERIFICADA. ERRO MÉDICO CONSTATADO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO HOSPITAL. PROVA DE CULPA DO
MÉDICO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA MANTIDA. APELAÇÃO (2) –
TUTELA DE URGÊNCIA RECURSAL. CIRURGIA CORRETIVA. PERIGO DE
DANO IRREPARÁVEL NÃO VERIFICADO. NÃO PREENCHIMENTO DOS
REQUISITOS ART. 300 CPC. INDENIZATÓRIO. IMPUGNAÇÃO COMUM
AQUANTUM AMBOS OS RECURSOS. DANOS MORAIS MANTIDOS. DANOS
ESTÉTICOS REDUZIDOS. ATENDIMENTO AOS CRITÉRIOS DA
RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. RECURSO DE APELAÇÃO (1)
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. RECURSO DE APELAÇÃO (2)
CONHECIDO E DESPROVIDO.

(...) Sopesando as circunstâncias do caso, bem como os princípios da


razoabilidade e proporcionalidade, tem-se que o valor fixado a título de danos
morais deve ser mantido em R$ 20.000,00 (vinte mil reais), de maneira a se
mostrar justo e adequado, além de ser suficiente para proporcionar consolo à
vítima e cumprir a sua função pedagógica. (...)”

(TJPR - 9ª C.Cível - 0036799-23.2016.8.16.0014 - Londrina - Rel.: JUIZ DE


DIREITO SUBSTITUTO EM SEGUNDO GRAU GUILHERME FREDERICO
HERNANDES DENZ - J. 07.10.2019, P. 07.10.2019)

“APELAÇÃO CÍVEL EM AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS,


DECORRENTE DE ALEGADO ERRO MÉDICO. SENTENÇA QUE JULGOU
PARCIALMENTE PROCEDENTES OS PEDIDOS INICIAIS. 1. DANO MORAL.
QUANTUM INDENIZATÓRIO. REDUÇÃO. POSSIBILIDADE. ANÁLISE DO
CASO CONCRETO. OBSERVÂNCIA DOS PARÂMETROS DE
PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. NOVA QUANTIA FIXADA.
SENTENÇA REFORMADA.2. CONSECTÁRIOS LEGAIS. CORREÇÃO
MONETÁRIA. ÍNDICE. ALTERAÇÃO DE OFÍCIO. MATÉRIA DE ORDEM
PÚBLICA. APLICAÇÃO DA MÉDIA INPC+IGP/DI. ÍNDICE OFICIAL
ADOTADO PELO TJPR. PRECEDENTES. JUROS DE MORA.
INAPLICABILIDADE DA TAXA SELIC.RECURSO DE APELAÇÃO
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.

(...) Ante o exposto, voto no sentido de conhecer e dar parcial provimento ao


Apelo interposto pela ré, a fim de reduzir a indenização por danos morais para
R$ 10.000,00 (dez mil reais). (...)”

(TJPR - 9ª C.Cível - 0079831-83.2013.8.16.0014 - Londrina - Rel.:


DESEMBARGADOR LUIS SERGIO SWIECH - J. 09.07.2020, P. 13/07/2020)

Assim sendo, diante das peculiaridades do caso, mantenho os danos morais no montante de
R$ 15.000,00 (quinze mil reais), valor este que, a meu ver, se mostra adequado ao caso concreto.

Apelação 2

Termo inicial dos juros e correção monetária

Em sendo mantida a sentença, a apelante 2 requer que o termo inicial dos juros e correção
monetária seja a data do trânsito em julgado da decisão, ou, no máximo, a data da citação, consoante
dispõe o art. 405, o Código Civil.

Com razão à apelante 2.


Diante do que se extraí da sentença, em relação aos danos morais, o termo inicial dos juros
foi fixado como sendo a data do ato ilícito por responsabilidade extracontratual (Súmula 54 do STJ) e da
correção monetária foi estabelecida como data do arbitramento (Súmula 362 do STJ).

Por outro lado, no que tange aos danos materiais, o termo inicial da correção monetária que
ficou consignado foi a data dos respectivos prejuízos e os juros de mora a partir da citação.

Contudo, analisando o feito, constata-se que se trata de responsabilidade contratual, uma


vez que a apelada foi atendida pelo Plano de Saúde Unimed (mov. 1.7).

Dessa forma, a sentença deve ser reformada para que o termo inicial dos juros de mora dos
danos morais e materiais passe a ser a data da citação, nos termos do art. 405, do Código Civil.

Dos honorários recursais

O recurso de apelação 1 foi desprovido, assim, o advogado da apelada faz jus aos
honorários de sucumbência recursal, com fundamento no art. 85, § 11 do CPC/2015.

Dessa forma, observada a complexidade da causa, a duração do processo e o trabalho


desempenhado pelo advogado fixo em 2% (dois por cento), sobre o valor da condenação, os honorários
decorrentes da sucumbência recursal, nos termos do previsto no art. 85, § 11, do Código de Processo
Civil, em favor do procurador da parte autora.

Ante o exposto, voto pelo conhecimento e desprovimento do recurso de apelação 1,


interposto por José Leonardo Bergamini, e pelo conhecimento e, pelo parcial provimento do recurso de
apelação 2, interposto por Irmandade Santa Casa de Londrina, nos termos da fundamentação exposta.

III – DECISÃO

Ante o exposto, acordam os Desembargadores da 9ª Câmara Cível do TRIBUNAL DE


JUSTIÇA DO PARANÁ, por unanimidade de votos, em julgar CONHECIDO O RECURSO DE PARTE
E PROVIDO EM PARTE o recurso de IRMANDADE DA SANTA CASA DE LONDRINA, por
unanimidade de votos, em julgar CONHECIDO O RECURSO DE PARTE E NÃO-PROVIDO o recurso
de JOSE LEONARDO BERGAMINI.

O julgamento foi presidido pelo (a) Desembargador Gil Francisco De Paula Xavier
Fernandes Guerra, com voto, e dele participaram Desembargador Roberto Portugal Bacellar (relator) e
Desembargador Arquelau Araujo Ribas.

10 de março de 2022

Desembargador Roberto Portugal Bacellar

Relator

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