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1. Relatório
Trata-se de recurso de apelação voltado a impugnar a sentença proferida nos autos de ação
obrigação de fazer c/c danos materiais e morais (mov. 242.1) ajuizada pelos apelados, a qual julgou
parcialmente procedentes os pedidos iniciais, a fim de condenar a primeira requerida a: a) indenização dos
danos materiais, determinando que os requeridos arquem com custos dos reparos do imóvel objeto do
feito; b) indenização dos danos morais, nos seguintes termos:
“[...] Ante todo o exposto, resolvo o mérito na forma do art. 487, I do Código de Processo
Civil, JULGANDO PROCEDENTE o pedido, e CONDENANDO os requeridos, solidariamente,
ao pagamento de: a) INDENIZAÇÃO dos danos materiais, determinando que os requeridos
arquem com os custos dos reparos do imóvel objeto do feito, que se encontram pontuados na
fundamentação do presente decisum, devendo o respectivo valor ser apurado em competente
fase de liquidação de sentença, excluindo-se, como dito, os defeitos relacionados à instalação
de calhas e rufos; Os valores relativos aos danos materiais fixados serão corrigidos
monetariamente pelos índices do INPC/IBGE desde a data do efetivo prejuízo (súmula 43 STJ),
acrescida ainda de juros de mora de 1% ao mês contados da citação (art. 405 do Código
Civil). b) INDENIZAÇÃO dos Danos Morais, no montante de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a
cada um dos autores, totalizando R$ 10.000,00 (dez mil reais), a ser corrigido monetariamente
desde a presente data, nos termos da Súmula 362 do STJ, e sofrer a incidência de juros de
mora de 1% ao mês, contados a partir do vencimento, nos termos do art. 397, do CC, por
tratar-se de obrigação contratual líquida. Condeno a parte requerida ao pagamento das custas
processuais e honorários advocatícios, os quais fixo em 10% sobre o valor da condenação,
corrigido monetariamente até o pagamento, com fulcro no art. 85, par. 2º, do CPC”.
No que se refere à reconvenção, o pedido foi julgado improcedente, nos seguintes termos:
“No que tange à reconvenção, JULGO IMPROCEDENTE o pedido, com resolução de mérito,
com base no art. 487, I, do CPC. Condeno a parte ré (reconvinte) ao ressarcimento das custas
e despesas processuais e ao pagamento de honorários advocatícios, que fixo em 10% (dez por
cento) sobre o valor atualizado da causa. Interposto recurso da presente sentença, intime-se a
parte recorrida para apresentar contrarrazões (CPC, art. 1.010, §1º), e após, independente de
juízo de admissibilidade (CPC, art. 1010, §3º) remetam-se os autos ao Eg. Tribunal de Justiça
do Estado do Paraná. Publique-se.Registre-se.Intime-se.”
A ação foi ajuizada pelos recorridos, os quais adquiriram o lote urbano nº 11, da quadra 01,
matrícula 35.147 do CRI de Medianeira, contratando os serviços do segundo réu, Sr. Aristeu Ribeiro
Moreira, para construção de uma residência, tendo indicado seu filho, também réu, Gilsonei Ribeiro
Moreira para a realização do projeto arquitetônico e fiscalização da obra. Para tanto, os requeridos
comprometeram-se a construir e entregar o imóvel em perfeitas condições no prazo total de 05 (cinco)
meses.
A obra foi iniciada em 12 de julho de 2013, e concluída dentro do prazo avençado, sendo
entregues as chaves no dia 13 de dezembro de 2013.
O primeiro réu, Sr. Gilsonei Ribeiro Moreira, foi contratado pelo valor de R$1.000,00 (um
mil reais) para elaborar o projeto e acompanhar a execução da obra, além de R$470,00 (quatrocentos e
setenta reais) para elaborar o projeto e acompanhar a obra (garagem, banheiro e lavanderia da casa),
conforme recibos colacionados com a inicial.
Com o segundo réu houve contrato verbal de empreitada, obrigando-se ele, sem
subordinação, a realizar a edificação da casa pelo valor de R$30.300,00 (trinta mil e trezentos) reais, além
de R$13.250,00 (treze mil duzentos e cinquenta) reais para a construção da garagem, banheiro e
lavanderia, e R$4.000,00 (quatro mil) reais pela pintura da casa, excluindo-se a garagem, banheiro e
lavanderia, totalizando R$ 47.550,00 (quarenta e sete mil, quinhentos e cinquenta) reais, aduzindo o
requerente que os valores estavam quitados.
Após a finalização da obra, os autores alegam que surgiram alguns vícios estruturais em
decorrência de má-execução do serviço. Pleitearam pela condenação dos requeridos em danos morais e
materiais, no importe de R$79.677,65 (setenta e nove mil, seiscentos e setenta e sete reais e sessenta e
cinco centavos) e R$10.000,00 (dez mil) reais, respectivamente.
Em contestação (mov. 35), o réu Aristeu sustentou a ocorrência de decadência dos direitos
dos autores. No mérito, aduziu não ter responsabilidade pelos danos ocorridos no imóvel, alegando que
teriam sido ocasionados pelo uso de materiais de construção de qualidade inferior, fornecidos pelos
autores. Por fim, refuta a possibilidade de configuração dos danos morais e materiais. Em sede de
reconvenção (mov. 35.2), requereu a condenação dos autores ao pagamento de R$13.499,00 (treze mil,
quatrocentos e noventa e nove reais) pelos serviços realizados na obra, ainda não pagos.
Em decisão saneadora (mov. 71.1), foram fixados os pontos controvertidos, sendo eles: a)
existência de danos no imóvel; b) existência e extensão do dano material e moral; c) dever de indenizar;
d) existência de vícios aparentes e ocultos; e) inadimplemento por parte dos autores em razão do
requerido Aristeu; f) existência de culpa. Determinou-se a produção de prova pericial, e foi deferida a
produção de prova oral, consistente na oitiva das testemunhas e depoimento pessoal das partes.
Laudo do assistente técnico pericial juntado no mov. 202, e laudo complementar do perito
judicial juntado no mov. 234.
Foi proferida sentença (mov. 242.1), a qual julgou parcialmente procedentes os pedidos
iniciais, condenando os requeridos ao pagamento de indenização de danos materiais, e morais. Ainda,
julgou improcedente o pedido de reconvenção, condenando a parte reconvinte ao pagamento das custas e
despesas processuais, bem como honorários advocatícios.
É o relatório.
2. Voto – Fundamentação
Os apelantes, no entanto, fundamentam que os vícios alegados são todos aparentes, de fácil
constatação, o que se verifica pelos depoimentos pessoais e testemunhais, aplicando-se ao caso o prazo
decadencial de 90 (noventa) dias, conforme preconiza o art. 26, II do CDC.
Aduzem que a insurgência dos apelados ocorreu 194 (cento e noventa e quatro) dias após a
entrega das chaves, razão pela qual deve ser reconhecida a decadência do seu direito.
“ Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do
produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a
partir do conhecimento do dano e de sua autoria.”
Ainda, cumpre que, os vícios construtivos foram constatados por prova pericial técnica, a
qual confirmou a existência de pisos assentados irregularmente, poço de luz inacabado, falta de rejunte
nos revestimentos, reboco tortuoso em diversas paredes, desnivelamento de pisos, fissuras nos cantos de
algumas janelas, dentre outros.
Para melhor esclarecer a questão, colaciono abaixo a resposta do perito técnico para os três
últimos quesitos, os quais confirmam que para uma pessoa leiga, nem todos os vícios presentes no imóvel
são de fácil constatação, necessitando, alguns deles, de tempo para que os defeitos começassem a surgir,
vejamos:
Por todo o exposto, não há que se conhecer a decadência do direito dos requeridos, vez que
o prazo a ser observado é prescricional quinquenal, previsto no artigo 27 do CDC. Assim, considerando
que as chaves do imóvel foram entregues em 13 de dezembro de 2013, e a ação proposta em 26 de junho
de 2014, é de se afastar o pleito.
Este é o entendimento esposado por esta Corte, que em casos análogos já decidiu, vide:
Por todo o exposto, nego provimento ao apelo, vez que inexiste a ocorrência de decadência
no caso apreciado.
Pela análise do andamento processual, nota-se que de fato, os quesitos foram formulados
anteriormente à realização da perícia. Contudo, em que pese a ausência de resposta dos quesitos
formulados pelos apelantes, nota-se que o laudo pericial é bastante conclusivo ao afirmar que:
Portanto, pela análise dos quesitos formulados pelo requerido, e não apreciados, bem como
considerando que a cassação da sentença e retorno à instrução processual em nada alteraria a conclusão
pericial pela existência de vícios construtivos, afasto o pedido de nulidade por cerceamento de defesa,
sopesando o notório prejuízo a ser tolerado pelas partes que suportarão maior demora à solução do
conflito, impondo a complementação de prova pericial acerca de quesitos já bastante esclarecidos pelas
respostas presentes da perícia técnica (mov. 202.1), inclusive instruída com fotos.
Importante ressaltar que a Constituição da República assegura em seu artigo 5º, LXXVIII
que:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a
razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua
tramitação.
Referida norma também encontra amparo legal no artigo 4º do CPC, que prevê
expressamente o princípio da efetividade, vejamos:
Embora a parte autora alegue ter seu direito à defesa cerceado, de outro norte observa-se
ofensa aos princípios da efetividade e duração razoável do processo, mormente se levarmos em conta todo
o conjunto fático-probatório carreado aos autos, bem como a completude do laudo pericial e fotos
anexadas ao referido laudo. A análise dos elementos presentes nos autos se mostram suficientes a
demonstrar que efetivamente, a obra apresentou vícios, consubstanciados em defeitos de ordem não
aparente.
Por todo o exposto, nego provimento ao pedido de nulidade processual por cerceamento de
defesa.
2.2.3 Nulidade do laudo pericial ante a ausência de fundamentação, o que impõe
violação ao direito da ampla defesa e contraditório.
Aduz a parte agravante ter tido seu direito de defesa cerceado, na medida em que o laudo
pericial seria genérico, vago, impreciso, incompleto e carece de fundamentação legal mínima, de maneira
que não serve de prova no processo.
Sustenta que tanto o laudo como a sentença desconsideraram completamente o fato de que
as infiltrações e fissuras foram ocasionadas por problemas nas calhas, cujos serviços foram contratados
pelos Apelados diretamente de terceiros, de maneira que o laudo pericial é nulo e a sentença também.
Ainda, aduz que o laudo pericial não preenche os requisitos legais, vez que não faz
qualquer menção sobre quais normas técnicas e legais embasou as conclusões, bem como não mencionou
a norma regulamentadora que rege a matéria.
Pois bem.
Ainda, aos quesitos que exigiam maior fundamentação, houve resposta adequada, vejamos:
Aduzem as partes agravantes que a instrução processual é nula por cerceamento de defesa,
vez que no dia da audiência de instrução, as partes compareceram ao ato e, nessa ocasião, a MM. Juíza
não permitiu a oitiva das testemunhas de defesa dos apelados, ao argumento de que a apresentação do rol
teria sido intempestiva.
Pois bem.
Compulsando os autos, nota-se que de fato, houve decurso do prazo processual de 10 (dez)
dias conferido aos requeridos, considerando que o procurador dos réus, Sr. Aristeu Ribeiro Moreira e
Gilsonei Ribeiro Moreira, foi intimado da decisão no dia 10/07/2015, finalizando a contagem do prazo em
dias corridos no dia 20/07/2015, observado o regramento previsto no CPC/ 73.
Por esta razão, não há que se falar em nulidade por cerceamento de defesa, tendo em vista
a juntada do rol de testemunhas foi intempestiva, não sendo possível que pelo decurso do prazo entre a
petição e a realização de audiência seja conferido aos requeridos nova oportunidade de cumprimento do
prazo processual, razão pela qual afasto o pedido de nulidade da instrução processual.
3. Do mérito
Sustentam que, conforme depoimento do perito técnico que realizou vistoria particular a
pedido dos requerentes, Sr. Evandro dos Santos, ficou claro que o problema da infiltração é decorrente de
defeito nas calhas, que foram instaladas por terceiros contratados pelos apelados, sem nenhuma relação
com os apelantes.
Asseveram ainda, que a perícia judicial foi realizada 05 (cinco) anos após a entrega das
chaves, e que os apelados sabiam do problema nas calhas, das goteiras e infiltrações, e nunca realizaram
manutenção no imóvel.
Pois bem.
Ainda, analisando detidamente as respostas do perito aos quesitos formulados, bem como
as fotos colacionadas aos autos, nota-se que é clara a falha na execução de diversos pontos da obra, todos
pontuados pela perícia, não tendo os requeridos lograrado êxito em desincumbirem-se de seu ônus
probatório, razão pela qual é de rigor a responsabilização dos apelantes pelo pagamento dos reparos
necessários no imóvel.
Conforme se verifica do documento juntado aos autos em mov. 1.4, o arquiteto assinou o
Registro de Responsabilidade Técnica -RRT, o que o torna responsável pela execução da obra, não tendo
se desincumbido do seu ônus probatório, razão pela qual, é de rigor o reconhecimento da responsabilidade
do requerido quanto a execução da obra, para além da confecção do projeto arquitetônico.
Por esta razão, nego provimento ao pleito, vez que comprovada a responsabilidade do réu,
Sr. Gilsonei.
Aduzem os apelantes que o material utilizado na obra foi fornecido pelos requerentes, o
que importa em afastamento de responsabilidade do empreiteiro pelos vícios ocorridos, na forma do
disposto pelo artigo 612 do Código Civil Brasileiro.
Art. 612. Se o empreiteiro só forneceu mão-de-obra, todos os riscos em que não tiver culpa
correrão por conta do dono.
Ambos os requeridos são profissionais que atuam na área de construção civil, o que leva a
concluir que na execução da obra em comento, houve negligência por parte de ambos, ocasionando vícios
de ordem estética e estrutural, impondo-se a responsabilização civil pelos danos causados aos apelados.
Portanto, a culpa dos apelantes é inquestionável, visto que houve negligência, por parte dos
apelantes, na execução do serviço prestado por ambos, seja na execução da obra efetivamente, seja pela
responsabilidade técnica do arquiteto exigindo a correta execução do serviço prestado pelo construtor.
Por todo o disposto, imperiosa a condenação em danos emergentes, vez que presentes os
elementos necessários à responsabilização civil, quais sejam: o dano sofrido, o ato ilícito que resultou
nesse dano e o nexo de causalidade entre o ato e o dano por ele produzido.
Para que se gere a responsabilidade civil, imprescindível que se estabeleça um nexo causal
entre dano pretendido e a conduta do agente, comissiva ou omissiva, sem o qual o prejuízo imaterial não
teria sido causado. No caso concreto, diante dos transtornos relatados e da constatação pericial de vícios
construtivos, deve haver a reparação pelos apelantes.
No que se refere ao valor da indenização do dano moral, necessário esclarecer que não há
um critério padrão para a fixação do valor, ante a impossibilidade de mensurar, em termos absolutos, o
dano, bem como diante da inviabilidade da constituição de parâmetros estanques para a quantificação
deste. Dessa forma, é o órgão julgador que, em atenção às peculiares e circunstâncias de cada caso
concreto, tem as melhores condições de avaliar qual a reparação necessária, suficiente e adequada.
Assim, cumpre salientar que, por um lado, a indenização pelo dano moral deve ser
expressiva, de forma a compensar a vítima e, de outro, deve se converter em fator de desestímulo ao
ofensor. Daí o caráter punitivo da sanção pecuniária. Assim, a aferição pelo julgador deve atentar ao caso
concreto, para que seja a mais justa possível.
Deve o magistrado analisar vários critérios para a definição do quantum devido, de forma
que a indenização não se constitua em fator de enriquecimento fácil e indevido, e que não seja irrisório,
de modo a agravar a dor e o inconformismo da vítima, assim como ineficaz no sentido de prevenir que
novas condutas sejam realizadas pelo ofensor.
Assim, diante dos critérios a serem observados e considerando os transtornos que ainda
serão suportados pelos requerentes, a fim de que seja realizado o conserto do imóvel, entendo que o valor
de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a ser pago por cada réu, mostra-se adequado para reparar os prejuízos
morais sofridos, pois compatível com precedentes desta corte em casos análogos, vejamos:
3.7 Reconvenção
Ocorre que, conforme se depreende da narrativa trazida na inicial, bem como dos
depoimentos pessoais das partes requerentes, nota-se que a quantia paga aos apelantes já incluiu a
alteração relativa à colocação de laje em gesso, de modo que referida alteração do projeto inicial ocorreu
em momento anterior ao início das obras, tendo sido devidamente quitados os valores acordados entre as
partes.
Diante disso, entendo que a sentença apelada merece ser mantida em sua integralidade, eis
que tecnicamente escorreita, não cabendo as alegações tecidas nas razões do recurso.
10 de junho de 2020