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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ

18ª CÂMARA CÍVEL - PROJUDI


RUA MAUÁ, 920 - ALTO DA GLORIA - Curitiba/PR - CEP: 80.030-901

Autos nº. 0002840-14.2014.8.16.0117

Apelação Cível n° 0002840-14.2014.8.16.0117


Vara Cível de Medianeira
Apelante(s): GILSONEI RIBEIRO MOREIRA e ARISTEU RIBEIRO MOREIRA
Apelado(s): JOÃO VOLMIR DE OLIVEIRA e ROSANE AMALIA DEGRANDIS
Relator: Juíza Subst. 2ºGrau Luciane Bortoleto

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C DANOS


MATERIAIS E MORAIS. AÇÃO QUE VISA INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS E MATERIAIS, ORIUNDOS DE VÍCIOS CONSTRUTIVOS.
SENTENÇA QUE JULGOU PROCEDENTES OS PEDIDOS INICIAIS E
IMPROCEDENTE O PEDIDO RECONVINTE, CONDENANDO
SOLIDARIAMENTE O CONTRUTOR E ARQUITETO AO CUSTEIO
DOS REPAROS, BEM COMO AO PAGAMENTO DE DANOS MORAIS
AOS REQUERENTES. 1. PREJUDICIAL DE MÉRITO. PLEITO
QUANTO AO RECONHECIMENTO DE DECADÊNCIA.
INOCORRÊNCIA. VÍCIOS CONSTRUTIVOS DE ORDEM NÃO
APARENTE. PRAZO PRESCRICIONAL QUINQUENAL PREVISTO NO
CDC. 2. NULIDADE DO PROCESSO POR CERCEAMENTO DE DEFESA.
INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO À SOLUÇÃO DO
CONFLITO QUE JUSTIFIQUE A REALIZAÇÃO DE NOVA PERÍCIA.
APLICAÇÃO DE TÉCNICA DE PONDERAÇÃO. 3. NULIDADE DO
LAUDO PERICIAL POR AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO.
INOCORRÊNCIA. LAUDO QUE APRESENTA FUNDAMENTAÇÃO
SUFICIENTE À RESPONDER OS QUESITOS FORMULADOS PELOS
REQUERENTES. 4. NULIDADE DA INSTRUÇÃO PROCESSUAL, EIS
QUE IMPEDIDA A OITIVA DE TESTEMUNHAS NA AUDIÊNCIA DE
INSTRUÇÃO. INOCORRÊNCIA. PETIÇÃO DE ARROLAMENTO DE
TESTEMUNHAS APRESENTADA INTEMPESTIVAMENTE. 5.
INEXISTÊNCIA DE RESPONSABILIDADE DOS REQUERIDOS PELOS
DEFEITOS NO IMÓVEL. IMPOSSIBILIDADE. VÍCIOS CONSTATADOS
EM OBRA CUJA RESPONSABILIDADE ATRIBUI-SE AOS
REQUERIDOS. 6. AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE DO
ARQUITETO QUE REALIZOU A OBRA, EIS QUE APENAS
COMPROMETEU-SE COM A REALIZAÇÃO DO PROJETO.
INOCORRÊNICA. ASSINATURA DE REGISTRO DE
RESPONSABILIDADE TÉCNICA QUE O RESPONSABILIZA PELA
CORRETA EXECUÇÃO DO SERVIÇO. 7. PLEITO DE
RESPONSABILIZAÇÃO DO CONSTRUTOR APENAS PELA
MÃO-DE-OBRA, VEZ QUE O MATERIAL FOI FORNECIDO PELOS
REQUERENTES. IMPOSSIBILIDADE. VÍCIOS CONSTATADOS DE
ORDEM RELATIVA A MÁ-EXECUÇÃO DA OBRA, NÃO SE
RELACIONANDO À EVENTUAL BAIXA QUALIDADE DOS
MATERIAIS. 8. AFASTAMENTO DO RECONHECIMENTO DE CULPA
DOS REQUERIDOS. IMPOSSIBILIDADE. CULPA EVIDENCIADA PELA
NEGLIGÊNCIA DOS APELANTES NA REALIZAÇÃO DA OBRA. 9.
PLEITO DE AFASTAMENTO DA CONDENAÇÃO EM DANOS
MATERIAIS. IMPOSSIBILIDADE. RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL
DIANTE DA OCORRÊNCIA DE NEGLIGÊNCIA E PREJUÍZO
SUPORTADO PELOS REQUERENTES, O QUE IMPÕE CONDENAÇÃO.
10. AFASTAMENTO DA CONDENAÇÃO EM DANOS MORAIS.
IMPOSSIBILIDADE. VÍCIOS QUE COMPROMETE A ESTRUTURA DO
IMÓVEL, O QUE IMPÕE RISCO AOS REQUERENTES. DANOS DE
ORDEM IMATERIAL NOTADAMENTE SUPORTADOS. 11. PLEITO DE
PROCEDÊNCIA DO PEDIDO DE RECONVENÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.
AUSÊNCIA DE PROVA DO FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO
INVOCADO. NARRATIVA DOS REQUERENTES E RECIBOS QUE
CORROBORAM O CONTRATO ENTABULADO DESCRITO PELOS
APELADOS. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


0002840-14.2014.8.16.0117 no qual figuram como apelantes Aristeu Ribeiro Moreira e Gilsonei Ribeiro
Moreira, como apelados João Volmir de Oliveira e Rosane Amalia Degrandis.

1. Relatório

Trata-se de recurso de apelação voltado a impugnar a sentença proferida nos autos de ação
obrigação de fazer c/c danos materiais e morais (mov. 242.1) ajuizada pelos apelados, a qual julgou
parcialmente procedentes os pedidos iniciais, a fim de condenar a primeira requerida a: a) indenização dos
danos materiais, determinando que os requeridos arquem com custos dos reparos do imóvel objeto do
feito; b) indenização dos danos morais, nos seguintes termos:

“[...] Ante todo o exposto, resolvo o mérito na forma do art. 487, I do Código de Processo
Civil, JULGANDO PROCEDENTE o pedido, e CONDENANDO os requeridos, solidariamente,
ao pagamento de: a) INDENIZAÇÃO dos danos materiais, determinando que os requeridos
arquem com os custos dos reparos do imóvel objeto do feito, que se encontram pontuados na
fundamentação do presente decisum, devendo o respectivo valor ser apurado em competente
fase de liquidação de sentença, excluindo-se, como dito, os defeitos relacionados à instalação
de calhas e rufos; Os valores relativos aos danos materiais fixados serão corrigidos
monetariamente pelos índices do INPC/IBGE desde a data do efetivo prejuízo (súmula 43 STJ),
acrescida ainda de juros de mora de 1% ao mês contados da citação (art. 405 do Código
Civil). b) INDENIZAÇÃO dos Danos Morais, no montante de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a
cada um dos autores, totalizando R$ 10.000,00 (dez mil reais), a ser corrigido monetariamente
desde a presente data, nos termos da Súmula 362 do STJ, e sofrer a incidência de juros de
mora de 1% ao mês, contados a partir do vencimento, nos termos do art. 397, do CC, por
tratar-se de obrigação contratual líquida. Condeno a parte requerida ao pagamento das custas
processuais e honorários advocatícios, os quais fixo em 10% sobre o valor da condenação,
corrigido monetariamente até o pagamento, com fulcro no art. 85, par. 2º, do CPC”.

No que se refere à reconvenção, o pedido foi julgado improcedente, nos seguintes termos:

“No que tange à reconvenção, JULGO IMPROCEDENTE o pedido, com resolução de mérito,
com base no art. 487, I, do CPC. Condeno a parte ré (reconvinte) ao ressarcimento das custas
e despesas processuais e ao pagamento de honorários advocatícios, que fixo em 10% (dez por
cento) sobre o valor atualizado da causa. Interposto recurso da presente sentença, intime-se a
parte recorrida para apresentar contrarrazões (CPC, art. 1.010, §1º), e após, independente de
juízo de admissibilidade (CPC, art. 1010, §3º) remetam-se os autos ao Eg. Tribunal de Justiça
do Estado do Paraná. Publique-se.Registre-se.Intime-se.”

A ação foi ajuizada pelos recorridos, os quais adquiriram o lote urbano nº 11, da quadra 01,
matrícula 35.147 do CRI de Medianeira, contratando os serviços do segundo réu, Sr. Aristeu Ribeiro
Moreira, para construção de uma residência, tendo indicado seu filho, também réu, Gilsonei Ribeiro
Moreira para a realização do projeto arquitetônico e fiscalização da obra. Para tanto, os requeridos
comprometeram-se a construir e entregar o imóvel em perfeitas condições no prazo total de 05 (cinco)
meses.

A obra foi iniciada em 12 de julho de 2013, e concluída dentro do prazo avençado, sendo
entregues as chaves no dia 13 de dezembro de 2013.

O primeiro réu, Sr. Gilsonei Ribeiro Moreira, foi contratado pelo valor de R$1.000,00 (um
mil reais) para elaborar o projeto e acompanhar a execução da obra, além de R$470,00 (quatrocentos e
setenta reais) para elaborar o projeto e acompanhar a obra (garagem, banheiro e lavanderia da casa),
conforme recibos colacionados com a inicial.

Com o segundo réu houve contrato verbal de empreitada, obrigando-se ele, sem
subordinação, a realizar a edificação da casa pelo valor de R$30.300,00 (trinta mil e trezentos) reais, além
de R$13.250,00 (treze mil duzentos e cinquenta) reais para a construção da garagem, banheiro e
lavanderia, e R$4.000,00 (quatro mil) reais pela pintura da casa, excluindo-se a garagem, banheiro e
lavanderia, totalizando R$ 47.550,00 (quarenta e sete mil, quinhentos e cinquenta) reais, aduzindo o
requerente que os valores estavam quitados.

Após a finalização da obra, os autores alegam que surgiram alguns vícios estruturais em
decorrência de má-execução do serviço. Pleitearam pela condenação dos requeridos em danos morais e
materiais, no importe de R$79.677,65 (setenta e nove mil, seiscentos e setenta e sete reais e sessenta e
cinco centavos) e R$10.000,00 (dez mil) reais, respectivamente.

Em contestação (mov. 35), o réu Aristeu sustentou a ocorrência de decadência dos direitos
dos autores. No mérito, aduziu não ter responsabilidade pelos danos ocorridos no imóvel, alegando que
teriam sido ocasionados pelo uso de materiais de construção de qualidade inferior, fornecidos pelos
autores. Por fim, refuta a possibilidade de configuração dos danos morais e materiais. Em sede de
reconvenção (mov. 35.2), requereu a condenação dos autores ao pagamento de R$13.499,00 (treze mil,
quatrocentos e noventa e nove reais) pelos serviços realizados na obra, ainda não pagos.

O réu Gilsonei apresentou contestação (mov. 37), também alegando, preliminarmente, a


ocorrência de decadência dos direitos dos autores, bem como ser parte ilegítima e inépcia da inicial. No
mérito, asseverou o cumprimento da obrigação contratual, qual seja, realização do projeto arquitetônico,
inexistindo correlação com os supostos vícios verificados no imóvel.

Impugnação à contestação apresentada em mov. 48.1.

Em resposta à reconvenção, os requeridos refutaram a alegação de inadimplência de


R$13.499,00 (treze mil, quatrocentos e noventa e nove reais), bem como a utilização de materiais de
qualidade inferior, vez que foram comprados na Casa Nova Materiais para Construção, por exigência do
próprio réu reconvinte.

Em decisão saneadora (mov. 71.1), foram fixados os pontos controvertidos, sendo eles: a)
existência de danos no imóvel; b) existência e extensão do dano material e moral; c) dever de indenizar;
d) existência de vícios aparentes e ocultos; e) inadimplemento por parte dos autores em razão do
requerido Aristeu; f) existência de culpa. Determinou-se a produção de prova pericial, e foi deferida a
produção de prova oral, consistente na oitiva das testemunhas e depoimento pessoal das partes.

Laudo técnico pericial foi juntado no mov. 202.

Realizada a audiência de instrução e julgamento, foram tomados os depoimentos dos


autores e realizada oitiva de três testemunhas dos requerentes (mov. 209).

Laudo do assistente técnico pericial juntado no mov. 202, e laudo complementar do perito
judicial juntado no mov. 234.

As alegações finais foram apresentadas pelos autores (mov. 240).

Foi proferida sentença (mov. 242.1), a qual julgou parcialmente procedentes os pedidos
iniciais, condenando os requeridos ao pagamento de indenização de danos materiais, e morais. Ainda,
julgou improcedente o pedido de reconvenção, condenando a parte reconvinte ao pagamento das custas e
despesas processuais, bem como honorários advocatícios.

Os requeridos apresentaram embargos de declaração, alegando omissão quanto à


preliminar de decadência, contradição quanto ao valor das indenizações, omissão quanto aos reparos
ensejadores de dano material, bem como quanto aos precedentes jurisprudenciais invocados pela
embargante.

Os Embargos foram conhecidos e acolhidos em parte, para o fim de analisar a afastar a


alegação de decadência.

Irresignados, os requeridos apresentaram apelação, sustentando, preliminarmente, que: a)


ocorreu a decadência do direito invocado pelos requerentes; b) nulidade do processo por cerceamento de
defesa; c) nulidade do laudo pericial por ausência de resposta aos quesitos apresentados pelos agravantes,
bem como por omissão quanto aos pontos essenciais e imprescindíveis para a correta compreensão dos
fatos; d) nulidade da instrução processual, com indevido indeferimento da oitiva de testemunhas no dia da
audiência; No mérito, aduziram em síntese: e) através da análise da oitiva das testemunhas e depoimento
pessoal dos apelados, verifica-se que inexiste responsabilidade dos requeridos pelos defeitos encontrados;
f) o Sr. Gilsonei somente recebeu pelo projeto arquitetônico, não tendo se comprometido pelo
acompanhamento e execução da obra; g) o material de construção foi fornecido pelo dono da obra,
respondendo o construtor apenas pela qualidade de mão-de-obra; h) inexiste comprovação de culpa dos
Apelantes pelo suposto evento danoso; i) que merece ser afastada a condenação em danos materiais; j)
que também merece ser afastada a condenação em danos morais, ou subsidiariamente, seja minorado o
valor.

Quanto ao pedido de reconvenção, julgado improcedente, os requerentes pleiteiam pela


reforma da sentença, alegando, em síntese, que os apelados confessaram em seu depoimento pessoal que
exigiram alterações no projeto, com ampliação de alguns itens, entretanto, não comprovaram pagamento
dos valores correspondentes aos acréscimos, não se desincumbindo do ônus que lhe competia, tendo em
vista que cabia aos apelados a prova do fato extintivo de sua obrigação.

Intimados a contrarrazoar, os requerentes alegaram, preliminarmente: a) falta de interesse


para admissibilidade do recurso, vez que inexiste fundamento de fato e de direito no apelo, o que impõe
condenação em litigância de má-fé por interposição de recurso manifestamente protelatório; b) inexiste
nulidade que macule o laudo pericial; c) inexiste nulidade na instrução processual; No mérito, aduz que:
d) o depoimento prestado pelo engenheiro civil, testemunha dos autores, confirma a existência dos vícios
e defeitos de obra; e) o depoimento prestado pelo moveleiro, Sr. Valmir de Asevedo, confirma a
existência de defeitos em paredes fora do esquadro e pisos com desníveis.

Os autos vieram conclusos.

É o relatório.

2. Voto – Fundamentação

O recurso merece conhecimento, na medida em que estão presentes os pressupostos de


admissibilidade recursal, tanto os intrínsecos (cabimento, legitimação, interesse em recorrer e inexistência
de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer), como os extrínsecos (tempestividade, regularidade
formal e preparo).

2.1 Prejudicial de mérito – Decadência

A parte apelante pretende através do recurso, a reforma da sentença, que afastou a


ocorrência de decadência no caso em apreço, assim fundamentando:

“(...) Em se tratando de defeitos construtivos capazes de gerar risco à saúde, segurança e


integridade do consumidor, em razão pisos assentados irregularmente, poço de luz inacabado,
falta de rejunte nos revestimentos, reboco tortuoso em diversas paredes, desnivelamento de
pisos, fissuras nos cantos de algumas janelas, não resta dúvida que a situação dos autos é
regida pelo disposto no art. 12 do Código de Defesa do Consumidor. Em sendo assim, o
comprador terá direito de reclamar com a construtora no prazo de 05(cinco) anos a partir do
conhecimento do dano e da autoria, conforme os ditames do art. 27 do CDC. Neste ponto, cabe
trazer à tona o entendimento jurisprudencial(...).

Os apelantes, no entanto, fundamentam que os vícios alegados são todos aparentes, de fácil
constatação, o que se verifica pelos depoimentos pessoais e testemunhais, aplicando-se ao caso o prazo
decadencial de 90 (noventa) dias, conforme preconiza o art. 26, II do CDC.
Aduzem que a insurgência dos apelados ocorreu 194 (cento e noventa e quatro) dias após a
entrega das chaves, razão pela qual deve ser reconhecida a decadência do seu direito.

A legislação consumerista preconiza em seu artigo 27 do CDC, que:

“ Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do
produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a
partir do conhecimento do dano e de sua autoria.”

Ainda, cumpre que, os vícios construtivos foram constatados por prova pericial técnica, a
qual confirmou a existência de pisos assentados irregularmente, poço de luz inacabado, falta de rejunte
nos revestimentos, reboco tortuoso em diversas paredes, desnivelamento de pisos, fissuras nos cantos de
algumas janelas, dentre outros.

Inicialmente, importante asseverar que a relação de consumo já foi reconhecida em


sentença, de modo que impõe-se a aplicação da legislação correlata ao caso em apreço.

Outrossim, nota-se que os vícios apontados pelo perito técnico importam em


reconhecimento de fato do serviço, vez que a saúde, segurança e integridade física dos moradores do
imóvel se encontram em risco, notadamente pelos seguintes vícios constatados: falta de ralo para
escoamento da água da chuva no poço de luz, níveis dos pisos irregulares, falta de viga de sustentação no
muro lateral frontal, apresentando risco de cair, entre outros.

Para melhor esclarecer a questão, colaciono abaixo a resposta do perito técnico para os três
últimos quesitos, os quais confirmam que para uma pessoa leiga, nem todos os vícios presentes no imóvel
são de fácil constatação, necessitando, alguns deles, de tempo para que os defeitos começassem a surgir,
vejamos:

Por todo o exposto, não há que se conhecer a decadência do direito dos requeridos, vez que
o prazo a ser observado é prescricional quinquenal, previsto no artigo 27 do CDC. Assim, considerando
que as chaves do imóvel foram entregues em 13 de dezembro de 2013, e a ação proposta em 26 de junho
de 2014, é de se afastar o pleito.
Este é o entendimento esposado por esta Corte, que em casos análogos já decidiu, vide:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS POR


VÍCIOS CONSTRUTIVOS EM IMÓVEL OBJETO DE CONTRATO DE COMPRA E VENDA
CELEBRADO ENTRE AS PARTES. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. ARGUIÇÃO DE
DECADÊNCIA PELO DECURSO DE 90 DIAS PARA RECLAMAR. INOCORRÊNCIA.
VÍCIOS NÃO APARENTES NEM DE FÁCIL CONSTATAÇÃO. CONTAGEM QUE SE
INICIA SOMENTE A PARTIR DO MOMENTO EM QUE OS DEFEITOS RESTAM
EVIDENCIADOS PELOS CONSUMIDORES. INGRESSO EM JUÍZO CERCA DE DOIS
ANOS E MEIO APÓS A ENTREGA DO IMÓVEL. AUSÊNCIA DE PRODUÇÃO DE PROVAS
CONCRETAS E SUFICIENTES DA SUPERAÇÃO DA NOVENTENA INTELIGÊNCIA DO
ART. 26, § 3º, CDC. SITUAÇÃO, ADEMAIS, QUE TAMBÉM ENVOLVE
RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO, COM PRAZO PRESCRICIONAL
QUINQUENAL (ART. 27, CDC). PREJUDICIAL REJEITADA. MÉRITO. VÍCIOS
CONSTRUTIVOS. DEMONSTRAÇÃO. LAUDO PERICIAL CONCLUSIVO E
FUNDAMENTADO. AUSÊNCIA DE PROVAS PRODUZIDAS PELA RÉ, NADA OBSTANTE A
INVERSÃO DO ÔNUS. ALEGAÇÃO DE INOBSERVÂNCIA DO MANUAL DE
MANUTENÇÃO QUE NÃO EXCLUI A RESPONSABILIDADE OBJETIVA PELO RISCO DA
ATIVIDADE DESENVOLVIDA. ENRIQUECIMENTO INDEVIDO OU CULPA EXCLUSIVA
DO CONSUMIDOR. INOCORRÊNCIA. DANOS MORAIS. CONFIGURAÇÃO NA ESPÉCIE.
SUPERAÇÃO DE MERO DISSABOR. INDENIZATÓRIO. MANUTENÇÃO.QUANTUM
RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. EXAME DA JURISPRUDÊNCIA TEMÁTICA.
CORREÇÃO MONETÁRIA. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. ALTERAÇÃO DE OFÍCIO.
MAJORAÇÃO DA VERBA HONORÁRIA CONFORME ART. 85, § 11, NCPC. EXAME DA
JURISPRUDÊNCIA TEMÁTICA DESTE TRIBUNAL. RECURSO CONHECIDO E NÃO
PROVIDO. (TJPR - 7ª C.Cível - 0066006-38.2014.8.16.0014 - Londrina - Rel.:
Desembargador Ramon de Medeiros Nogueira - J. 11.09.2018) (grifos nossos)

Por todo o exposto, nego provimento ao apelo, vez que inexiste a ocorrência de decadência
no caso apreciado.

2.2. Preliminares de mérito

2.2.1. Nulidade do processo por cerceamento de defesa

Aduzem os apelantes que o processo se encontra maculado pelo vício de cerceamento de


defesa, o que implicaria em nulidade processual, vez que não houve resposta do perito aos quesitos
apresentados pelos Apelantes, e formulados anteriormente ao início da perícia.

Pela análise do andamento processual, nota-se que de fato, os quesitos foram formulados
anteriormente à realização da perícia. Contudo, em que pese a ausência de resposta dos quesitos
formulados pelos apelantes, nota-se que o laudo pericial é bastante conclusivo ao afirmar que:

Portanto, pela análise dos quesitos formulados pelo requerido, e não apreciados, bem como
considerando que a cassação da sentença e retorno à instrução processual em nada alteraria a conclusão
pericial pela existência de vícios construtivos, afasto o pedido de nulidade por cerceamento de defesa,
sopesando o notório prejuízo a ser tolerado pelas partes que suportarão maior demora à solução do
conflito, impondo a complementação de prova pericial acerca de quesitos já bastante esclarecidos pelas
respostas presentes da perícia técnica (mov. 202.1), inclusive instruída com fotos.

Importante ressaltar que a Constituição da República assegura em seu artigo 5º, LXXVIII
que:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a
razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua
tramitação.

Referida norma também encontra amparo legal no artigo 4º do CPC, que prevê
expressamente o princípio da efetividade, vejamos:

Art. 4º As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral


do mérito, incluída a atividade satisfativa.

Notadamente, há que se considerar que no presente caso existem conflitos principiológicos


que devem ser apreciados pelo viés da proporcionalidade, aplicando-se a ponderação de interesses como
técnica de solução do conflito.

Embora a parte autora alegue ter seu direito à defesa cerceado, de outro norte observa-se
ofensa aos princípios da efetividade e duração razoável do processo, mormente se levarmos em conta todo
o conjunto fático-probatório carreado aos autos, bem como a completude do laudo pericial e fotos
anexadas ao referido laudo. A análise dos elementos presentes nos autos se mostram suficientes a
demonstrar que efetivamente, a obra apresentou vícios, consubstanciados em defeitos de ordem não
aparente.

Não obstante, a própria sentença atacada afastou da condenação em danos emergentes os


defeitos inerentes à instalação de calhas e rufos, eis que realizados por terceiros alheios ao processo.
Portanto, os quesitos apresentados pelos requeridos, e não respondidos pelo perito, não se mostrariam
hábeis a desconfigurar a conclusão obtida no laudo pericial com a resposta dos quesitos formulados pelos
requerentes.

De mais a mais, a liquidação por arbitramento oportunamente poderá elucidar questões,


podendo ser realizada perícia, se necessário, quanto aos pontos que a parte requerida pretenda maiores
esclarecimentos técnicos.

Por todo o exposto, nego provimento ao pedido de nulidade processual por cerceamento de
defesa.
2.2.3 Nulidade do laudo pericial ante a ausência de fundamentação, o que impõe
violação ao direito da ampla defesa e contraditório.

Aduz a parte agravante ter tido seu direito de defesa cerceado, na medida em que o laudo
pericial seria genérico, vago, impreciso, incompleto e carece de fundamentação legal mínima, de maneira
que não serve de prova no processo.

Sustenta que tanto o laudo como a sentença desconsideraram completamente o fato de que
as infiltrações e fissuras foram ocasionadas por problemas nas calhas, cujos serviços foram contratados
pelos Apelados diretamente de terceiros, de maneira que o laudo pericial é nulo e a sentença também.

Ainda, aduz que o laudo pericial não preenche os requisitos legais, vez que não faz
qualquer menção sobre quais normas técnicas e legais embasou as conclusões, bem como não mencionou
a norma regulamentadora que rege a matéria.

Pois bem.

Em que pese a alegação de ausência de fundamentação, entendo que, aos quesitos


respondidos com a afirmativa “sim”, a pergunta formulada visava uma resposta direta, tendo sido
formulada a pergunta com bastante precisão, vejamos alguns exemplos:

Ainda, aos quesitos que exigiam maior fundamentação, houve resposta adequada, vejamos:

Ainda, diversamente do que dispõe o apelante, a sentença não desconsiderou o fato de as


calhas e rufos terem sido instalados por terceiros alheios ao processo, excetuando-se da condenação os
danos decorrentes da instalação de calhas e rufos, a serem melhor elucidados na fase de liquidação de
sentença.

Portanto, considerando que houve adequada fundamentação, sendo suficiente a


adequadamente respondidos os quesitos formulados, nego provimento ao pedido reconhecimento de
nulidade por cerceamento de defesa, pelos fundamentos acima dispostos.

2.2.4. Nulidade da instrução processual

Aduzem as partes agravantes que a instrução processual é nula por cerceamento de defesa,
vez que no dia da audiência de instrução, as partes compareceram ao ato e, nessa ocasião, a MM. Juíza
não permitiu a oitiva das testemunhas de defesa dos apelados, ao argumento de que a apresentação do rol
teria sido intempestiva.

Sustentam que, posteriormente à apresentação do rol de testemunhas houve decisão judicial


que deferiu a substituição de testemunhas (mov. 208.1) e ratificou o rol anteriormente exibido. Por esta
razão, requer o reconhecimento de nulidade parcial e retorno à instrução processual, a fim de que sejam
ouvidas as testemunhas arroladas oportunamente.

Pois bem.

Analisando o termo de audiência, nota-se que a MM. Juíza fundamentou a exclusão da


oitiva das testemunhas, bem como revogação do despacho de mov. 208, vez que ainda no início do
processo o rol de testemunhas foi apresentado intempestivamente (mov. 79), tendo em vista que ambos os
réus passaram a ser representados pelo mesmo procurador, não havendo que se falar em prazo em dobro.

Compulsando os autos, nota-se que de fato, houve decurso do prazo processual de 10 (dez)
dias conferido aos requeridos, considerando que o procurador dos réus, Sr. Aristeu Ribeiro Moreira e
Gilsonei Ribeiro Moreira, foi intimado da decisão no dia 10/07/2015, finalizando a contagem do prazo em
dias corridos no dia 20/07/2015, observado o regramento previsto no CPC/ 73.

Por esta razão, não há que se falar em nulidade por cerceamento de defesa, tendo em vista
a juntada do rol de testemunhas foi intempestiva, não sendo possível que pelo decurso do prazo entre a
petição e a realização de audiência seja conferido aos requeridos nova oportunidade de cumprimento do
prazo processual, razão pela qual afasto o pedido de nulidade da instrução processual.

3. Do mérito

3.1. Inexistência de responsabilidade dos requeridos pelos defeitos encontrados

Aduzem os apelantes a inexistência de responsabilidade dos requeridos pelos defeitos


encontrados, o que impõe a improcedência dos pedidos iniciais.

Sustentam que, conforme depoimento do perito técnico que realizou vistoria particular a
pedido dos requerentes, Sr. Evandro dos Santos, ficou claro que o problema da infiltração é decorrente de
defeito nas calhas, que foram instaladas por terceiros contratados pelos apelados, sem nenhuma relação
com os apelantes.

Asseveram ainda, que a perícia judicial foi realizada 05 (cinco) anos após a entrega das
chaves, e que os apelados sabiam do problema nas calhas, das goteiras e infiltrações, e nunca realizaram
manutenção no imóvel.
Pois bem.

A sentença atacada reconheceu que a instalação de calhas e rufos são de responsabilidade


de terceira pessoa alheia aos réus, sendo clara ao determinar que o dever de reparação dos danos não se
estende aos decorrentes de má instalação das calhas e rufos.

Ainda, analisando detidamente as respostas do perito aos quesitos formulados, bem como
as fotos colacionadas aos autos, nota-se que é clara a falha na execução de diversos pontos da obra, todos
pontuados pela perícia, não tendo os requeridos lograrado êxito em desincumbirem-se de seu ônus
probatório, razão pela qual é de rigor a responsabilização dos apelantes pelo pagamento dos reparos
necessários no imóvel.

Portanto, nego provimento ao pedido de nulidade da instrução processual.

3.2. Da ausência de responsabilidade do arquiteto que realizou o projeto pelo


acompanhamento e execução da obra

Conforme se verifica do documento juntado aos autos em mov. 1.4, o arquiteto assinou o
Registro de Responsabilidade Técnica -RRT, o que o torna responsável pela execução da obra, não tendo
se desincumbido do seu ônus probatório, razão pela qual, é de rigor o reconhecimento da responsabilidade
do requerido quanto a execução da obra, para além da confecção do projeto arquitetônico.

Por esta razão, nego provimento ao pleito, vez que comprovada a responsabilidade do réu,
Sr. Gilsonei.

3.3 Responsabilidade do construtor apenas pela qualidade de mão-de-obra, vez que o


material foi fornecido pelos requerentes

Aduzem os apelantes que o material utilizado na obra foi fornecido pelos requerentes, o
que importa em afastamento de responsabilidade do empreiteiro pelos vícios ocorridos, na forma do
disposto pelo artigo 612 do Código Civil Brasileiro.

O artigo 612 do CCB assim dispõe:

Art. 612. Se o empreiteiro só forneceu mão-de-obra, todos os riscos em que não tiver culpa
correrão por conta do dono.

Ocorre que, o afastamento da responsabilidade do empreiteiro se aplica aos pontos em que


não for evidenciada sua culpa, de modo que o artigo supracitado não é norma hábil a afastar a
responsabilidade, conforme requer o apelante, vez que se nota a presença de negligência por parte dos
requeridos, mormente em face da constatação da má-execução da obra.

3.4 Da culpa dos Apelantes pelo suposto evento danoso

A constatação da culpa,conforme prevê o ordenamento jurídico vigente, configura-se pela


negligência, imprudência ou imperícia. Como vastamente abordado, o conjunto fático-probatório
demonstrou que houve má-execução no serviço prestado pelos requeridos, o que resultou em defeitos
constatados por perito técnico qualificado.

Ambos os requeridos são profissionais que atuam na área de construção civil, o que leva a
concluir que na execução da obra em comento, houve negligência por parte de ambos, ocasionando vícios
de ordem estética e estrutural, impondo-se a responsabilização civil pelos danos causados aos apelados.

Nota-se que todos os elementos necessários para a responsabilização civil encontram-se


presentes. A conduta humana, representada pela má-execução da obra, tanto pelo arquiteto, Sr. Gilsonei,
responsável pela realização do projeto e execução, quanto pelo construtor, Sr. Aristeu, que foi quem
realizou de fato a construção do imóvel. A culpa, que no presente caso está representada pela negligência,
ou seja, ausência de cuidado na execução da obra, o que implicou na ocorrência de diversos danos. O
nexo de causalidade entre a conduta e o dano, constatada pela perícia técnica (mov.202) e demais provas
colacionadas aos autos no decorrer da instrução processual.

Portanto, a culpa dos apelantes é inquestionável, visto que houve negligência, por parte dos
apelantes, na execução do serviço prestado por ambos, seja na execução da obra efetivamente, seja pela
responsabilidade técnica do arquiteto exigindo a correta execução do serviço prestado pelo construtor.

3.5Condenação em danos materiais

Aduzem os apelantes que merece ser afastada a condenação em danos materiais,


considerando que os requeridos não podem ser responsabilizados pelo mau uso do imóvel, tendo sido
empregada toda a diligência e cuidado na execução do serviço. Salientam que os requerentes, ao
receberem o imóvel, não fizeram nenhuma objeção, o que evidencia que houve o cumprimento do
contrato nos exatos termos acordados, não havendo que se falar em vícios ou defeitos.

Conforme acima mencionado, não há dúvidas quanto à existência de vícios no imóvel,


todos constatados pelo perito técnico que elaborou o laudo, e colacionou fotos que demonstram os
defeitos reclamados. Nota-se que, inexistem vícios decorrentes do mau uso do imóvel. Pelo contrário, o
que se verifica é a falta de instalação de diversos itens, bem como ausência de estruturas que podem gerar
risco aos moradores, caso não sejam feitos os reparos necessários.

Por todo o disposto, imperiosa a condenação em danos emergentes, vez que presentes os
elementos necessários à responsabilização civil, quais sejam: o dano sofrido, o ato ilícito que resultou
nesse dano e o nexo de causalidade entre o ato e o dano por ele produzido.

3.6. Condenação em danos morais

Aduzem os apelantes que inexiste qualquer ofensa à direitos da personalidade hábil a


justificar a condenação em danos morais. Sustentam que inexiste prova do suposto constrangimento ou
abalo psíquico sofrido pelos requerente, o que impõe o afastamento da condenação em danos morais.
Subsidiariamente, pleiteiam a minoração do quantum indenizatório.
Conforme acima fundamentado, nota-se que não houve modificação da sentença, no que se
refere à responsabilização pelos vícios construtivos do imóvel à apelante.

Ademais, depreende-se da leitura do laudo pericial que, a ausência de reparos no imóvel


implica em riscos estruturais, sendo inequívoca a ocorrência de danos morais, uma vez que os requerentes
suportaram diversos infortúnios oriundos das falhas na execução do imóvel, recaindo sobre eles o direito
ao recebimento de indenizações de cunho moral.

Para que se gere a responsabilidade civil, imprescindível que se estabeleça um nexo causal
entre dano pretendido e a conduta do agente, comissiva ou omissiva, sem o qual o prejuízo imaterial não
teria sido causado. No caso concreto, diante dos transtornos relatados e da constatação pericial de vícios
construtivos, deve haver a reparação pelos apelantes.

No que se refere ao valor da indenização do dano moral, necessário esclarecer que não há
um critério padrão para a fixação do valor, ante a impossibilidade de mensurar, em termos absolutos, o
dano, bem como diante da inviabilidade da constituição de parâmetros estanques para a quantificação
deste. Dessa forma, é o órgão julgador que, em atenção às peculiares e circunstâncias de cada caso
concreto, tem as melhores condições de avaliar qual a reparação necessária, suficiente e adequada.

Sobre o tema leciona Silvio Rodrigues:

"Examinando o caso concreto, as circunstâncias pessoais das partes e os materiais que o


circundam, o juiz fixará a indenização que entender adequada. Poderá fazê-la variar conforme
as posses do agente causador do dano, a existência ou não do seguro, o grau de culpa e outros
elementos particulares à hipótese em exame, fugindo de uma decisão ordenada por regra
genérica, no geral desatenta às peculiaridades do caso concreto." (Direito civil. São Paulo:
Saraiva, Vol, IV, p. 187).

Assim, cumpre salientar que, por um lado, a indenização pelo dano moral deve ser
expressiva, de forma a compensar a vítima e, de outro, deve se converter em fator de desestímulo ao
ofensor. Daí o caráter punitivo da sanção pecuniária. Assim, a aferição pelo julgador deve atentar ao caso
concreto, para que seja a mais justa possível.

Neste sentido ensina Rui Stocco:

"A tendência moderna, ademais, é a aplicação do binômio punição e compensação, ou seja, a


incidência da teoria do valor do desestímulo (caráter punitivo da sanção pecuniária)
juntamente com a teoria da compensação, visando destinar à vítima uma soma que compense o
dano moral sofrido. (...) Obtempere-se, ainda, que estes são os pilares ou vigas mestras, mas
não toda a estrutura. (...) É o que se colhe em Caio Mário da Silva Pereira, ao observar: '(...)
O ofendido deve receber uma soma que lhe compense a dor ou o sofrimento, a ser arbitrada
pelo Juiz, atendendo às circunstâncias pessoais de cada caso, e tendo em vista as posses do
ofensor e a situação pessoal do ofendido. Nem tão grande que se converta em fonte de
enriquecimento, nem tão pequena que se torne inexpressiva' (Responsabilidade Civil. 3.ed. Rio
de Janeiro: Forense, 1992, n. 49, p. 60)." (Tratado de Responsabilidade Civil. 6.ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2004, p. 1707-1708).

Deve o magistrado analisar vários critérios para a definição do quantum devido, de forma
que a indenização não se constitua em fator de enriquecimento fácil e indevido, e que não seja irrisório,
de modo a agravar a dor e o inconformismo da vítima, assim como ineficaz no sentido de prevenir que
novas condutas sejam realizadas pelo ofensor.

Assim, diante dos critérios a serem observados e considerando os transtornos que ainda
serão suportados pelos requerentes, a fim de que seja realizado o conserto do imóvel, entendo que o valor
de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a ser pago por cada réu, mostra-se adequado para reparar os prejuízos
morais sofridos, pois compatível com precedentes desta corte em casos análogos, vejamos:

APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS –


SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA – DEFEITOS NA CONSTRUÇÃO EVIDENCIADOS –
IRRESIGNAÇÃO DA REQUERIDA –PREJUDICIAL DE MÉRITO PRAZO PARA EXERCÍCIO
DA– DECADÊNCIA – NÃO CONFIGURADA – PRETENSÃO PREVISTO NO ARTIGO 27 DO
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR – CINCO ANOS A CONTAR DO
CONHECIMENTO DO DANO E SUA AUTORIA – ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE VÍCIOS –
AFASTADA – PERÍCIA QUE CONSTATOU A EXISTÊNCIA DE DEFEITOS CONSTRUTIVOS
– DANO MATERIAL – OCORRÊNCIA – NECESSIDADE DE REFORMAS NO IMÓVEL –
MONTANTE APURADO EM PERÍCIA QUE SE MOSTRA CORRETO – DANO MORAL
VERIFICADO – SITUAÇÃO QUE ULTRAPASSA O MERO DISSABOR – EXPOSIÇÃO DOS
MORADORES A RISCOS – PLEITO DE MINORAÇÃO DO QUANTUM NÃO ACOLHIDO –
PRECEDENTES DESTA CORTE EM CASOS ANÁLOGOS – PRETENSÃO DE
AFASTAMENTO DA MULTA APLICADA POR EMBARGOS DE DECLARAÇÃO COM
CARÁTER PROTELATÓRIO – MANUTENÇÃO – RECURSO DE APELAÇÃO DESPROVIDO
(TJPR - 18ª C.Cível - 0036090-51.2017.8.16.0014 - Londrina - Rel.: Desembargadora Denise
Kruger Pereira - J. 28.11.2018)

3.7 Reconvenção

Sustentam os apelantes que os requerentes estão inadimplentes no valor de R$ 13.499,00


(treze mil quatrocentos e noventa e nove reais), decorrentes de alterações no projeto no decurso da obra.
Asseveram que houve alteração do material a ser colocado no forro, inicialmente acordado em PVC, e
posteriormente alterado para laje, o que importou em aumento do valor inicialmente acordado.

Ocorre que, conforme se depreende da narrativa trazida na inicial, bem como dos
depoimentos pessoais das partes requerentes, nota-se que a quantia paga aos apelantes já incluiu a
alteração relativa à colocação de laje em gesso, de modo que referida alteração do projeto inicial ocorreu
em momento anterior ao início das obras, tendo sido devidamente quitados os valores acordados entre as
partes.

Ademais, todos os recibos apresentados pelos autores corroboram a narrativa trazida na


inicial e colhida nos depoimentos de ambos, não sendo possível exigir dos autores prova de fato negativo,
qual seja, do não pagamento de valores aparentemente não avençados. Da mesma forma que os apelantes
exigem prova de fato extintivo, modificativo ou impeditivo do direito do reconvinte, inexiste prova do
fato constitutivo do direito de cobrança proposto na reconvenção.

Diante disso, entendo que a sentença apelada merece ser mantida em sua integralidade, eis
que tecnicamente escorreita, não cabendo as alegações tecidas nas razões do recurso.

Ante o exposto, voto no sentido de conhecer e negar provimento ao recurso, conforme a


fundamentação supra, mantendo integralmente a sentença apelada.
Por fim, diante do desprovimento integral do apelo, majoro os honorários sucumbenciais
em sede recursal de 10% (dez por cento) para 12% (doze por cento) do valor da condenação, quanto à
ação principal, e 10% (dez por cento) para 12% (doze por cento) do valor da causa em relação à
reconvenção, nos termos do artigo 85, §11º do CPC/15, tendo em vista que foram apresentadas
contrarrazões ao apelo, bem como mantida a sentença em sua integralidade.

Ante o exposto, acordam os Desembargadores da 18ª Câmara Cível do


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ, por unanimidade de votos, em julgar CONHECIDO O
RECURSO DE PARTE E NÃO-PROVIDO o recurso de GILSONEI RIBEIRO MOREIRA, por
unanimidade de votos, em julgar CONHECIDO O RECURSO DE PARTE E NÃO-PROVIDO o recurso
de ARISTEU RIBEIRO MOREIRA.

O julgamento foi presidido pelo (a) Desembargador Péricles Bellusci De


Batista Pereira, sem voto, e dele participaram Juíza Subst. 2ºgrau Luciane Bortoleto (relator), Juiz Subst.
2ºgrau Carlos Henrique Licheski Klein e Desembargadora Denise Kruger Pereira.

10 de junho de 2020

Juíza Subst. 2ºGrau Luciane Bortoleto

Juiz (a) relator (a)

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