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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70083911677 (Nº CNJ: 0029526-07.2020.8.21.7000)
2020/CÍVEL

APELAÇÕES CÍVEIS. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. AÇÃO INDENIZATÓRIA. SEGURO
PRESTAMISTA. REGULARIDADE DA
CONTRATAÇÃO DEMONSTRADA. DANOS
MORAIS. NÃO CONFIGURADOS. REPETIÇÃO DO
INDÉBITO. POSSIBILIDADE EM RELAÇÃO À
PARCELA COBRADA APÓS O AJUIZAMENTO, NA
FORMA SIMPLES.
PREQUESTIONAMENTO. O prequestionamento de
normas constitucionais e infraconstitucionais fica
implicitamente atendido nas razões de decidir, o que
dispensa manifestação individual acerca de cada dispositivo
legal suscitado.
APELOS DESPROVIDOS.

APELAÇÃO CÍVEL VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL

Nº 70083911677 (Nº CNJ: 0029526- COMARCA DE OSÓRIO


07.2020.8.21.7000)

LEO ROSSONI APELANTE/APELADO

BANCO DO BRASIL S/A APELANTE/APELADO

BRASILSEG COMPANHIA DE SEGUROS APELADO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.


Acordam os Desembargadores integrantes da Vigésima Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar provimento aos apelos.
Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores


DES.ª WALDA MARIA MELO PIERRO E DES. DILSO DOMINGOS PEREIRA.

Porto Alegre, 10 de março de 2020.

DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN,

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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
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GJWH
Nº 70083911677 (Nº CNJ: 0029526-07.2020.8.21.7000)
2020/CÍVEL

Relator.

RELATÓRIO
DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN (RELATOR)

Trata-se de apelações cíveis interpostas por LEO ROSSONI e BANCO DO


BRASIL S/A contra sentença que julgou parcialmente procedente a ação indenizatória
ajuizada pelo primeiro apelante.
Eis os termos do dispositivo:

“Diante do exposto, julgo PARCIALMENTE


PROCEDENTE o pedido aforado por LEO ROSSONI em
face de BANCO DO BRASIL S.A. e COMPANHIA DE
SEGUROS ALIANÇA DO BRASIL, para o fim de, em
afastando a preliminar de ilegitimidade passiva do BANCO
DO BASIL S.A., rescindir o contrato de seguro de vida cuja
vigência teve início em 30/12/2017, condenando os
requeridos, modo solidário, a devolução do valor de R$
109,17 (cento e nove reais e dezessete centavos), corrigidos
monetariamente pelo IGPM desde o desembolso, acrescidos
de juros de mora de 1% ao mês, a contar da citação.

Considerando a mínima sucumbência dos requeridos, haja


vista o pedido de danos morais em valor não inferior a R$
40.000,00, bem como o decaimento no que toca o pedido de
devolução em dobro, CONDENO a requerente ao
pagamento das custas processuais e honorários
advocatícios, esses devidos ao procurador do requerido, na
forma do que dispõe o artigo 85, §§ 2º e 8º, do CPC, cujo
valor arbitro em R$ 1.000,00. Contudo, diante da
Gratuidade da Justiça deferida à demandante, resta
suspensa a exigibilidade das verbas sucumbenciais
conforme §3º do artigo 98 do CPC.

Havendo recurso, o Cartório deverá intimar a parte


recorrida, de ofício, para apresentação de contrarrazões e,
após, remeter os autos ao Tribunal de Justiça com as
homenagens deste Juízo.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se, inclusive o Ministério


Público.”

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Em suas razões, a parte autora postula, em síntese, a indenização por danos


morais em razão da cobrança indevida e a repetição em dobro do indébito. Requer o
provimento do apelo.

Por sua vez, a parte ré suscita preliminarmente impugnação à assistência


judiciária gratuita deferida em favor da parte adversa e a sua ilegitimidade passiva. No
mérito, sustenta a regularidade da contratação e a inexistência de dano material. Requer o
provimento do apelo e o prequestionamento das matérias.

Subiram os autos, com as contrarrazões, vindo conclusos para julgamento.


Tendo em vista a adoção do sistema informatizado, os procedimentos para
observância dos ditames do CPC foram simplificados, mas observados em sua integralidade.
É o relatório.

VOTOS
DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN (RELATOR)

Eminentes Colegas.
Preenchidos os requisitos de admissibilidade, conheço dos apelos.

De plano, merecem ser afastadas as preliminares suscitadas.


Não resta dúvidas a respeito da legitimidade passiva do banco. O seguro foi
firmado em seu estabelecimento, em papel com sua logomarca e em garantia de serviço
financeiro por si prestado. Evidente que integra a cadeia de distribuição do seguro, sendo
parte legítima para figurar no polo passivo da presente demanda judicial.
Concernente à impugnação ao deferimento da assistência judiciária gratuita,
igualmente se mostra descabida. O preenchimento dos requisitos inerentes ao benefício
pleiteado foi verificado no julgamento do agravo de instrumento n° 70078356235, de minha
relatoria. Ressalto que nenhuma evidência foi apresentada no sentido de que a situação
financeira do autor tenha se modificado a ponto de estar apto a arcar com as custas
processuais e eventuais ônus de sucumbência.
Merece ser confirmada a sentença proferida pelo Magistrado a quo, cujos
fundamentos vão aqui adotados como razões de decidir, com a licença de seu ilustre
Prolator, a fim de se evitar tautologia, nos seguintes termos:

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“A preliminar de ilegitimidade passiva arguida pela instituição financeira


não merece acolhida, pois que a parte autora é produtor rural e estabeleceu relações
comerciais junto ao banco requerido, o qual, aos olhos do consumidor, representava a
figura do fornecedor. O seguro foi viabilizado pela entidade bancária que o ofertou ao
segurado, provavelmente para garantir alguma operação financeira. Os instrumentos de
contratação estavam com o logotipo e em nome do Banco do Brasil e o desconto foi
efetuado na conta do correntista do respectivo banco, com o que vige a teoria da aparência,
sendo a instituição financeira legítima para responder conjuntamente o pedido.

Razões para afastar a preliminar.


No mérito, merece parcial procedência a pretensão.

De início, compulsando os autos pode-se contatar a existência de relação


contratual de seguro de vida em nome da parte autora com a instituição financeira e a
assistente litisconsorcial desde 30/12/2014 (instrumento contratual firmado pelo autor de
próprio punho às fls. 152/153), cujas renovações eram operacionalizados de modo
automático mediante o respectivo desconto direto na conta do autor, consoante documentos
das fls. 152/166.

Da leitura dos termos gerais do seguro de vida se extrai a automaticidade


da renovação enquanto persistir a relação creditícia que o justificou, ou os limites de
crédito pré aprovados, ou então até que o segurado complete 70 anos ou, por fim, solicite o
seu cancelamento.

No caso, não foi trazida aos autos o histórico das demais relações
comerciais entre as partes, com o que conclui-se pela vigência do seguro até que o autor
solicite o seu cancelamento/não renovação.
Disto, não se pode dizer que houve surpresa a parte autora em ter sido
renovado o contrato do seguro de vida, o qual o autor, diga-se, anuiu expressamente na sua
origem e dele fruiu nos anos anteriores, inexistindo insurgência formal de sua parte.
Concluir de modo diverso, s.m.j., atenta contra a própria boa-fé das relações negociais.
Contudo, mesmo não havendo prova e sequer alegação de que tenha havido
a venda casada e, não obstante também inexistir nos autos pedido administrativo de

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cancelamento do seguro, é evidente que não pode a parte autora ser obrigada a manter a
sua contratação se assim não o pretender, sendo um direito potestativo a sua rescisão. Até
porque o adequado seria a instituição financeira ter obtido a expressa anuência do
correntista após a primeira renovação automática, para chancelar as demais, nos termos do
art. 774 do Código Civil, o qual dispõe in verbis:

Art. 774. A recondução tácita do contrato pelo mesmo


prazo, mediante expressa cláusula contratual, não poderá
operar mais de uma vez.

Disso, procede o pleito no que toca a pretensão de rescisão do contrato de


seguro de vida relativo ao período que teve seu termo inicial em 30/12/2017 (fl. 163), vez
que o autor ingressou com a ação quando ainda vigente, devendo ser ressarcido das
respectivas quantias desembolsadas, no valor de R$ 109,17 (cento e nove reais e dezessete
centavos), os quais devem ser corrigidos monetariamente pelo IGP-M desde a data do
desconto e acrescidos de juros de mora de 1% ao mês a contar da citação.

Relativamente a pretensão de indenização a título de danos morais, contudo,


não merece prosperar o pedido. Isto porque os descontos na conta bancária da parte
autora não compõe suporte fático suficiente a caracterização de danos de ordem moral, vez
que apenas gravitou na órbita do dissabor natural e contemporâneo com a época em que
vivemos, sem maiores repercussões, quer no sentimento pessoal, sem humilhação
exagerada, ou mesmo no campo do padecimento moral ou pessoal do demandante. Nos anos
anteriores, inclusive, a parte autora consentiu com os referidos descontos, usufruindo a
garantia securitária, sem qualquer insurgência.

Eventual acontecimento extraordinário a ensejar a devida reparação moral,


que não o dissabor resultante do mero descumprimento do dever de obter a expressa
anuência do correntista a contar da segunda renovação, deveria ter sido devidamente
comprovado pela autora, nos termos do artigo 373, inciso I, do Código de Processo Civil, o
que não ocorreu.
Outrossim, ausente comprovação de má-fé dos requeridos, improcede a
pretensão de repetição em dobro das quantias descontadas.”

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No caso concreto, restou demonstrada a contratação do seguro vinculado ao


serviço financeiro com clara previsão de renovação automática enquanto perdurasse a
relação contratual ou até o contratante solicitasse seu cancelamento.

Considerando o ajuizamento da ação indenizatória, resta demonstrada a


intenção de rescisão pela parte autora, pelo que se justifica a determinação de que seja
devolvida a parcela do seguro cobrada após iniciada a demanda judicial.
Cumpre observar, entretanto, que a repetição deste valor deve se dar na
forma simples, eis que não se está diante de cobrança sem base contratual, mas amparada em
contrato devidamente firmado, cuja rescisão se deu por meio da sentença ora atacada.

Ante o reconhecimento da licitude da contratação, não há falar em


indenização por danos morais em favor da parte autora, tendo em vista que livremente anuiu
aos termos do contrato.
Acerca do prequestionamento de normas constitucionais e
infraconstitucionais, fica este atendido nas razões de decidir do acórdão, dispensando
manifestação individual de cada dispositivo legal suscitado, valendo referir que não se negou
vigência a qualquer dispositivo, porquanto o julgador não é obrigado responder a todos os
argumentos das partes, bastando proceder à correspondente fundamentação segundo o art. 93
da Constituição Federal.
Nesse sentido:

“APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. REVISIONAL BANCÁRIA.
(...)PRÉ-QUESTIONAMENTO. A exigência de pré-
questionamento da matéria para fins de interposição de
recurso às cortes superiores deve ser cumprida pela parte,
e não pelo julgador, sendo prescindível, portanto, apontar
expressamente se houve, ou não, violação aos dispositivos
legais indicados pelas partes.
APELAÇÃO PARCIALMENTE CONHECIDA E, NA PARTE
CONHECIDA, PARCIALMENTE PROVIDA.”
(APELAÇÃO CÍVEL Nº 70075916726, DÉCIMA PRIMEIRA
CÂMARA CÍVEL, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS,
RELATOR DES. MARCO ANTONIO ANGELO, JULGADO
EM 12/04/18).”

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“AGRAVO REGIMENTAL. ADMINISTRATIVO.


PROCESSUAL CIVIL. CONCURSO PÚBLICO. VIOLAÇÃO
DO ART. 535, I E II, DO CPC. INEXISTÊNCIA. VAGAS,
DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DO CARGO E PROVA
PERICIAL. REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA
7/STJ. DESNECESSIDADE DE SUBMISSÃO DA
RECORRENTE À REGRA DO CONCURSO PÚBLICO.
FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. INOVAÇÃO
RECURSAL 1. A Corte de origem, ao julgar os primeiros
embargos de declaração, entendeu que houve omissão a ser
integrada por meio dos aclaratórios, porquanto o exame do
material probatório em menor extensão também é omissão.
Assim, não há falar em contradição do decisum de origem
em razão de não haver nada a suprir por meios dos
embargos. 2. É sabido que o juiz não fica obrigado a
manifestar-se sobre todas as alegações das partes, nem a
ater-se aos fundamentos indicados por elas ou a responder,
um a um, a todos os seus argumentos, quando já
encontrou motivo suficiente para fundamentar a decisão.
(...).” (AgRg no AREsp 344.779/RJ, Rel. Ministro
HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em
03/09/2013, DJe 11/09/2013). g.n.

Pelo exposto, voto por negar provimento aos apelos.


Por fim, em atendimento ao disposto no art. 85, § 11, do CPC/2015, majoro
os honorários devidos aos procuradores da parte ré para R$1.200,00. Suspensa a
exigibilidade por litigar a parte autora sob o amparo da assistência judiciária gratuita.

É o voto.

DES.ª WALDA MARIA MELO PIERRO - De acordo com o(a) Relator(a).


DES. DILSO DOMINGOS PEREIRA - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. CARLOS CINI MARCHIONATTI - Presidente - Apelação Cível nº 70083911677,


Comarca de Osório: "NEGARAM PROVIMENTO AOS APELOS. UNÂNIME."

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Julgador(a) de 1º Grau: JULIANO PEREIRA BREDA

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