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AÇÃO PENAL:

Conceito: a ação é um direito público e subjetivo com previsão constitucional, exigindo-se do


Estado-Juiz a aplicação da lei ao caso concreto para a solução da demanda penal. Essa é a
posição preponderante.

Processo: é um procedimento em contraditório, enriquecido pela relação entre o juiz e as


partes. O processo é a ferramenta que permite a evolução da relação jurídica para que, ao
final, seja obtido um provimento jurisdicional satisfatório.

Organização da ação penal: Levamos em consideração a titularidade para a propositura da


demanda. Vejamos:

 Ação penal de iniciativa PÚBLICA


 Ação penal de iniciativa PRIVADA

Ação penal de INICIATIVA PÚBLICA: é aquela titularizada privativamente pelo MP,


em conformidade com o art. 129, I da CRFB/88 (pilar do sistema acusatório) e de acordo com o
art. 257, I do CPP.

 A inicial acusatória é a denúncia, sendo que seus requisitos formais estão previstos no
art. 41 do CPP

 O art. 3º-A do CPP, ainda suspenso por decisão do STF, indica que adotamos o sistema
acusatório, que o juiz não vai substituir o acusador na produção da prova e que não
deve agir de oficio na investigação.

Princípios:

a) Princípio da obrigatoriedade: o exercício da ação penal de iniciativa pública é um


DEVER FUNCIONAL inerente à atuação do MP (art. 24, CPP).

I.P JUIZ abre vista para MP (autoria, materialidade, Circunstancia da Infração)


b) Princípio da indisponibilidade: O MP não poderá desistir da demanda deflagrada, devendo
impulsionar o processo, como desdobramento do dever funcional (art. 42, CPP).

Obs: O MP poderá requerer a ABSOLVIÇÃO do réu, conforme o art. 385, CPP, o que não
significa desistência.

c) Princípio da divisibilidade: para os Tribunais Superiores à ação pública é DIVISÍVEL por


admitir desmembramento e eventual complementação incidental via aditamento.

Atenção: É o contraponto acadêmico. Isso porque boa parte da doutrina afirma que a Ação
Penal Pública é indivisível, pois o MP não pode escolher casuisticamente ou de maneira
arbitrária quem ele vai responsabilizar, então todos os que concorreram para o crime devem
ser responsabilizados. Para essa corrente doutrinária, a indivisibilidade seria o aspecto
subjetivo do princípio da obrigatoriedade: o Ministério Público tem o dever de ajuizar, mas o
dever engloba ajuizar contra todos aqueles que contribuíram para o crime. Para a doutrina, a
indivisibilidade orienta o tratamento da Ação Penal Pública. A posição da doutrina se contrapõe
ao entendimento dos Tribunais Superiores.

Em resumo: O princípio da indivisibilidade para a doutrina majoritária a Ação Pública é


indivisível porque o MP não pode escolher arbitrariamente as pessoas a serem
responsabilizados, afinal, todos aqueles que concorreram para o delito devem estar no polo
passivo da demanda, e o desmembramento é excepcional.

d) Princípio da intranscendência/princípio da pessoalidade:

No Direito Penal é afirmado que a responsabilidade criminal é subjetiva, respondendo


aquele que atuou como dolo ou excepcionalmente com culpa.

No Direito Processual Penal, observando a Ação Penal, ela é intranscendente, pois não
pode transpor, ultrapassar e extravasar a figura imputado. A Ação vai atingir aqueles que foram
colocados no polo passivo da demanda, por isso a ideia de intranscendência, já que o resultado
do julgamento da Ação Penal não poderá atingir pessoas outras que não aquelas que figuraram
na relação processual. Os efeitos da ação penal não podem ultrapassar a figura do réu.

e) Princípio da autoritariedade: a ação penal pública tem como protagonista no seu exercício
uma autoridade pública. O Ministério Público confere aos seus membros o exercício da ação.

F) Princípio da oficialidade: a ação penal pública será exercida por um órgão oficial do estado.

G) Princípio da oficiosidade: usualmente e atividade persecutória ocorrerá ex officio,


independente do desejo da vítima ou de terceiros, afinal, o interesse público é preponderante.

Modalidades de Ação Publica:

✔️Ação Pública Incondicionada:


Na ação pública incondicionada o princípio da oficiosidade será o orientador primário,
pois o interesse público é tão visceral que a ação penal será exercida mesmo que a vítima não
deseje.

Obs.: Para identificar se um delito é (ou não) de ação penal pública incondicionada, basta ler o
tipo penal que o regula. Quando a lei for omissa, presumimos que o crime é de ação pública
incondicionada. Isso porque a ação pública incondicionada é a regra geral.
Obs.: Na investigação do delito cuja ação penal seja pública incondicionada, o delegado
deverá instaurar o inquérito policial de ofício.

Conceito: é aquela titularizada pelo MP, mas onde a atividade persecutória ocorrerá EX
OFFÍCIO, independente do desejo da vítima ou de terceiros. Ela é a REGRA GERAL (art. 100,
caput, CP).

Conclusão: quando o tipo penal ou as disposições gerais que o regulam são omissos,
presumiremos que o crime é de ação pública INCONDICIONADA.

Obs.: Em tais hipóteses, o IP deve ser iniciado ex officio (art. 5º, I, CPP).

✔️Ação Penal Pública Condicionada

Conceito: é aquela titularizada pelo MP, mas que dependerá de uma prévia manifestação de
vontade do legítimo interessado.

Obs.: Almejamos evitar o “strepitus judicii” (escândalo do processo). Essa é a razão de ser da
ação pública condicionada

Obs.: Para que o crime seja de ação pública condicionada, é necessário que a lei diga de forma
expressa (art. 100, §1º, CP).

Ex. Crime de ameaça (art. 147, parágrafo único, CP).

Obs.: Mais recentemente o estelionato foi transformado em crime de ação pública


condicionada, em conformidade com o § 5º do art. 171, CP.

II – Institutos condicionantes:

a) Representação:

a.1) Conceito: é um pedido e ao mesmo tempo uma autorização que condicionada o início da
PERSECUÇÃO PENAL.

Obs.: Se o delito for de ação penal pública condicionada à representação e a vítima não
representar, o delegado não pode instaurar o inquérito. (Prova dissertativa do penúltimo
concurso de Delegado/ES).

Conclusão: sem ela NÃO HAVERÁ ação, inquérito ou lavratura de flagrante. Não poderá ter
persecução penal.

a.2) Natureza jurídica: a representação é enquadrada como CONDIÇÃO DE PROCEDIBILIDADE,


leia-se, condição para a adoção de providências penais.
Obs.: Sem condição de procedibilidade significa sem uma condição para que providências
penais sejam adotadas.

Obs.: Segundo Denilson Feitoza, ela é uma condição especial da ação penal.

a.3) Legitimidade:

a.3.1) Destinatários: Delegado (art. 5º, § 4º, CPP) e o MP.

Obs.: A postura adotada pelo MP caso a vítima represente:

i) Requisitar a instauração de IP (art. 5º, II, CPP);

ii) Instaurar PIC (Procedimento Investigativo Criminal conduzido pelo promotor);

iii) Promover o arquivamento da peça de informação; Obs.: O arquivamento não é somente do


inquérito, mas sim de TODA peça de informação.

iv) Oferecer a DENÚNCIA no prazo de 15 dias (art. 46, CPP). O terceiro destinatário da
representação é o Juiz (das garantias):

Obs.: Postura do juiz:

i) O CPP autoriza ao magistrado requisitar a instauração do IP (art. 5º, II CPP);

ii) À luz do sistema acusatório, a doutrina recomenda que o juiz abra vistas ao MP, para que ele
resolva o que fazer.

a.3.2) Legitimidade ATIVA: a representação é exercida pela VITÍMA ou por seu REPRESENTANTE
LEGAL, nas hipótese de incapacidade.

Obs.: Quando há conflito entre o representante legal e o incapaz, será nomeado CURADOR
ESPECIAL, para avaliar o melhor a ser feito.

Obs.: Emancipação: a emancipação não tem reflexos penais. Logo, o emancipado representa
por meio de CURADOR ESPECIAL. O juiz nomeia o curador especial.

Obs.: Imaginemos uma pessoa que casou aos 16 anos está emancipada. Em uma briga com o
vizinho o emancipado foi vítima do delito de ameaça ou lesão corporal leve, comparece no
departamento de polícia com a certidão de casamento, aponta que foi emancipado e quer
representar. Nesse caso, não poderá exercer representação perante a autoridade policial. Isso
porque se o menor cometer qualquer delito (denunciação caluniosa, por exemplo) será
inimputável em razão da menoridade. A emancipação não afasta a inimputabilidade do menor
de 18 anos e maior de 16 anos.

Obs.: Na morte ou ausência teremos SUCESSÃO quanto ao direito de representar,


a.4) Prazos:

Prazo para representar: 6 meses contados do CONHECIMENTO DA AUTORIA DA INFRAÇÃO


(art. 38, CPP).

Exemplo: Imaginemos que uma pessoa que é funcionária pública sofreu crime contra a honra,
praticado em razão da função, cuja ação penal é pública condicionada à representação. Porém,
o ofendido opta por representar tão somente quando descobrir quem é o autor do delito. O
prazo decadencial, neste caso, somente começa a correr quando descobrir a autoria, todavia, o
prazo prescricional está contando desde a consumação do crime. Imaginemos outro exemplo
de injúria cometido por meio de redes sociais, em que o autor envia um direct com
xingamentos, utilizando-se de um perfil falso, o prazo de prescrição contará desde a
consumação e o prazo para representar não iniciou, haja vista que ainda não é conhecido o
autor. Não confunda o prazo para representar e o prazo prescricional, sendo este último
contado a partir da consumação do delito (art. 109, CP). O crime pode prescrever sem exaurir o
prazo decadencial, haja vista que o prazo para representar é do conhecimento da autoria. O
prazo tem NATUREZA DECADENCIAL, o que significa dizer que é um prazo FATAL, não tolerando
suspensão, interrupção ou prorrogação.

Obs.: Lembre-se que no Direito Processual Penal o prazo É CORRIDO, ou seja, o prazo não é em
dias úteis como no processo civil. A única peculiaridade do prazo decadencial é que ele não
começa a contar se a pessoa não possui plena capacidade.

Ex.: a vítima possui dezessete anos e foi vítima de um crime de ação pública condicionada, o
prazo para representar somente começa a contar do dia em que atingir a maioridade. Antes
disso, o responsável pelo menor represente.

Obs.: O prazo é regulado de acordo com o art. 10 do CP, de forma que o dia do conhecimento
da autoria já é computado.

Exemplo: o sujeito sabe quem é o autor do crime em 10/03/2022 (1º dia), o prazo para
representar finda em 09/03/2023, 23h:59s:59ss.

a.5) Forma: a representação tem FORMA LIVRE, podendo ser apresentada oralmente ou por
escrito a qualquer dos destinatários (STF/STJ). A vitimologia demonstra que em virtude da
hipossuficiência financeira, há uma tendência maior em ser vítima de crime com mais
frequência. Nessa realidade, se a pessoa já não tem condição financeira e houver exigência de
rigor formal para que ela represente, ela ficaria fora do acesso da justiça.

Obs.: É entendimento pacífico do STJ e STF que a representação é uma manifestação de


vontade, explicitação de desejo que providências sejam adotadas.

a.6) Retratação:

a.6.1) Regra geral: a vítima poderá se retratar até ANTES DO OFERECIMENTO DA DENÚNCIA
(art. 25, CPP).

Obs.: Múltiplas retratações: para a doutrina MAJORITÁRIA, se a vítima se retratou, ela poderá
se arrepender e reapresentar a representação, desde que dentro do prazo decadencial, que
está contando do CONHECIMENTO DA AUTORIA DO CRIME.

Conclusão 1: “Cabe retratação da retratação da representação” – “é verdadeiro, cabe!” (já caiu


em concurso)

Conclusão 2: Para Tourinho Filho, em posição MINORITÁRIA, a retratação equivalente a uma


renúncia, não tolerando arrependimento.

Obs.: A regra geral é que se eu representei eu poderei me retratar até antes o promotor
oferecer a denúncia. Se retratei e arrependi, posso reapresentar a representação.

a.6.2) Regra especial: violência doméstica e familiar contra a mulher.

Obs.: A Lei Maria da Penha não tipifica condutas, apenas prevê um tipo penal: descumprir
medida protetiva de urgência. Os crimes praticados no contexto de violência doméstica estão
no Código Penal.

Ex.: ameaça, crimes contra a honra, feminicídio e todos os tipos penais no contexto da
violência doméstica.

Obs.: É possível praticar um crime de ação penal pública condicionada no contexto da violência
doméstica.

Ex.: se o marido ameaçar a esposa, calúnia, injúria, violência física, violência moral, todos no
contexto da violência doméstica.

Obs.: Se a mulher representou ela pode retirar a representação. A lei maria da penha, para o
professor, de maneira a técnica, fala em renúncia ao direito de representar. Para que isso
aconteça, é necessário marcar audiência específica, na presença do juiz e ouvido o MP. Isso
porque o objetivo é que as autoridades possam indagar se a mulher está sendo constrangida a
retirar a representação. A Lei Maria da Penha traz uma especialidade quanto ao marco: a
mulher poderá retirar a representação até antes do RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. O
recebimento da denúncia não tem prazo para o juiz fazer o juízo de admissibilidade da
denúncia.

Obs.: O crime de lesão corporal leve e lesão culposa são crimes de ação penal condicionada à
representação, nos termos do art. 88 da Lei 9.099/95. E, segundo a Lei Maria da Penha, não se
aplica a lei dos juizados não se aplica na violência doméstica.

Obs.: O STF declarou a constitucionalidade do art. 41 da Lei Maria da Penha e o STJ editou a
súmula 542 para disciplinar que o crime de lesão corporal na violência doméstica é SEMPRE
ação penal pública incondicionada. Segundo Lewandowsk, quando votou nesta ADI, pela
qualidade dos bens-jurídicos em jogo, todos os delitos de violência doméstica deveriam ser de
ação pública incondicionada.

Conclusão 1: Existem crimes de ação pública CONDICIONADA no contexto da violência


doméstica, como ocorre com a AMEAÇA (art. 147, CP). Obs.: Existem crimes de ação privada no
contexto da violência doméstica, como ocorre com a ameaça, injúria, calúnia, difamação.

Conclusão 2: A vítima que exerceu a representação poderá se arrepender (a lei fala em


renunciar, termo a técnico), marcando-se audiência específica, na presença do Juiz e ouvido o
MP.

Conclusão 3: A retirada da representação pode ocorrer até ANTES DO RECEBIMENTO DA


DENÚNCIA.

Conclusão 4: Quanto ao crime de lesão corporal, notadamente a leve e a culposa, como não
aplicamos o art. 88 da Lei dos Juizados por força do art. 41 da Lei Maria da Penha, resta
concluir que a lesão corporal, mesmo que leve ou culposa, é crime de AÇÃO PÚBLICA
INCONDICIONADA no contexto da Lei Maria da Penha (Súmula 542, STJ).

Ação Penal Privada:


- É importante começarmos o tema entendendo que alguns crimes podem ofender de tal
maneira a nossa intimidade que o legislador acaba entendendo por bem conferir à vítima o
exercício da ação penal.

- Lembre-se de que a ação penal privada é aquela titularizada pela vítima ou por seu
representante legal na condição de substituição processual, já que ela atua em nome próprio
pleiteando a punição, que será exercida pelo Estado.

- Segundo o autor Aury Lopes Júnior, não se trata de uma substituição processual, pois as
tarefas são diferentes, ou seja, exercer a ação e implementar a punição são funções distintas.
(É importante notar que essa é uma visão minoritária)

Atenção: Enquadramento terminológico:

• Titular da ação (vítima) é rotulado de querelante;


• Demandado (réu) é chamado de querelado;
• Petição inicial é a queixa-crime.

- De acordo com o art. 24 do Código de Processo Penal, a petição inicial que caracteriza o
exercício da ação privada é a queixa-crime.

Obs: Atente-se ao fato de que a queixa-crime é o nome da petição inicial que demarca o
exercício da ação penal privada. Ela é ofertada ao juiz com o intuito de que ele receba a inicial
e inicie o processo.

É importante lembrar que alguns crimes que antes eram de persecução de ação
privada migraram para o âmbito da ação penal pública. Note que uma parcela da doutrina
entende que a vítima não possui equilíbrio para patrocinar a ação penal, por isso seria mais
adequado que os crimes de ação privada migrassem para o contexto da ação pública
incondicionada.
Portanto, parte da doutrina entende que a vítima não possui o necessário equilíbrio
para estar à frente da ação penal, por isso, os crimes migrariam para o âmbito da ação pública,
persistindo a ação privada subsidiária, já que tem previsão constitucional no art. 5º, LIX. A
principiologia da ação penal privada é muito importante.

Ela nos permite diferenciar uma ação penal privada da ação penal de iniciativa pública.
Ao contrário da ação pública, que é pautada pelo princípio da obrigatoriedade, a ação penal
privada visa atender a pretensão ou conveniência da vítima, que só exercerá a ação se quiser.
Portanto, segundo o princípio da oportunidade, a vítima só exercerá a ação privada se lhe for
conveniente. É importante notar que esse princípio não está expressamente previsto no
código, mas o CPP traz regras de tratamento da ação penal privada que permitiram à doutrina
enxergar o princípio da oportunidade.

A decadência é a perda da faculdade de ingressar com a ação privada em razão do decurso


de tempo, qual seja, em regra seis meses contados do conhecimento da autoria da infração.

Se a extinção da punibilidade é declarada, essa decisão faz coisa julgada material.


Sendo assim, o criminoso nunca mais poderá ser processado por essa infração. Lembre-se de
que a extinção de punibilidade é mérito.

A decadência provoca a extinção da punibilidade conforme o art. 107, IV do CP. A


decisão judicial que reconhece a decadência faz coisa julgada matéria. Nesse momento, é
importante entendermos a renúncia.

Esse instituto traz coerência e coerência é pressuposto comportamental. Note que o


Estado traz consequências para o comportamento incoerente da vítima em relação à pretensão
em ingressar com a ação.

A renúncia ocorre pela declaração expressa da vítima de que não pretende ajuizar a
ação, conforme o art. 50 do CPP, ou pela prática de ato incompatível com essa vontade,
conforme o art. 57 do CPP.

Lembre-se de que a renúncia pode ocorrer de forma expressa ou de forma tácita.

É importante lembrarmos que uma consequência da renúncia é a extinção da


punibilidade, ou seja, se a vítima renunciar, então o desdobramento lógico natural é a
declaração de extinção da punibilidade conforme o art. 107, V do CP.

No contexto da ação penal privada, a renúncia traz uma consequência jurídica


impactante que é a extinção da punibilidade, sendo assim é importante lembrar que ela não
tolera retratação. Inexistindo vício na formação da vontade, a renúncia é irretratável. Note que
as regras da boa educação e de tratamento não caracterizam a renúncia.

Em ação privada, em sede de juizado, a composição civil dos danos caracteriza


renúncia e renúncia extingue a punibilidade. Então, em sede de juizado especial, a composição
civil dos danos provoca a renúncia na ação privada ou a renúncia ao direito de representar na
ação pública condicionada conforme o art. 74 da Lei n. 9.099/95.

Note que no transcorrer do processo criminal deflagrado por meio de ação privada a
vítima poderá desistir da demanda. A ação penal privada subsiste para atender a conveniência
da vítima, sendo assim se a vítima não quer mais, então ela pode desistir. Segundo o princípio
da disponibilidade, a vítima poderá desistir da demanda deflagrada.

A vítima pode desistir da ação privada por meio do perdão. Note que quem perdoa
declara expressamente que não vai continuar com a ação que já foi ajuizada ou pratica ato
incompatível com a vontade de continuar com a ação que já está em curso.

Segundo o art. 58 do CPP, o perdão ocorre com a declaração expressa da vítima de que
não pretende continuar com a ação ao pela prática de ato incompatível com essa vontade.
Percebe-se que o perdão pode ser oferecido de forma expressa ou tácita. É importante notar
que virar réu em um processo criminal faz com que a pessoa sofra de diferentes formas.

A pessoa é julgada socialmente, retaliada nas relações de emprego e desenvolve


traumas familiares e econômicos. Sendo assim, o Código dispõe que o perdão é um ato
bilateral, ou seja, se a vítima oferecer o perdão, ele só sofrerá efeito jurídico se o réu aceitá-lo.

Lembre-se que o réu que recusa o perdão é aquele que deseja que o processo prossiga,
pois tem a esperança de ao final ser absolvido para ter seu patrimônio moral restabelecido.

Ser absolvido significa dizer que não há responsabilidade penal por estar declarada a
inocência pelo Poder Judiciário. Segundo o art. 59 do CPP, para que o perdão surta o efeito
pretendido, qual seja, a extinção da punibilidade, é necessário que ele seja aceito, o que pode
ocorrer de forma expressa ou tácita. Percebe-se que a aceitação também pode ocorrer de
maneira expressa ou tácita, admitindo todos os meios de provas.

Um ponto importante a destacar é que tanto o oferecimento quanto a aceitação do


perdão podem ocorrer por meio de procurador. Mas lembre-se de que esse procurador deve
possuir poderes especiais, ou seja, a cláusula geral para o foro não é suficiente segundo o art.
55 do CPP.

O perdão é um instituto típico dos crimes de ação privada. Perceba que esse é um
perdão oferecido pela vítima. Esse instituto não pode ser confundido com o perdão do Juiz. O
perdão judicial possui algumas pertinências na ação penal, mas se tornou mais notório nos
crimes que afetam de tal maneira o próprio sujeito que o Estado não precisa punir.

Imagine que a vida já apenou demais o sujeito que perde um ente querido em um
acidente por exemplo. Nessa situação, esse sujeito não precisaria ser punido pelo Estado.
Trata-se do perdão do Juiz.
Esse tipo de perdão é ato unilateral que se impõe e leva a extinção da punibilidade
ainda que o réu não queira aceitar. O perdão judicial pode ocorrer também como resultado de
colaboração premiada.

Lembre-se de que o perdão judicial é ato unilateral, tendo pertinência em alguns


delitos da esfera pública, quando o imputado foi drasticamente afetado por sua própria
conduta, bem como na relação de prêmio no contexto da colaboração premiada.

O perdão acontece durante a relação processual, mas pode acontecer inclusive em


grau de recurso. Ou seja, o perdão pode acontecer durante o processo, mas pode se dá dentro
ou fora dos autos.

O perdão ocorre na fase processual, sendo admitido até mesmo em grau de recurso.

 A preempção caracteriza uma sanção imposta pelo Juiz em virtude da desídia da vítima na
condução da ação privada.

Note que a preempção prova a extinção da punibilidade. Lembre-se de que a


preempção é a sanção judicialmente imposta pelo descaso da vítima na condução da ação
privada. As hipóteses caracterizadoras de perempção estão no art. 60 do CPP.

É importante que você incorpore a ideia de que se o comportamento da vítima é


desidioso, haverá preempção e ela extingue a punibilidade. Segundo o princípio da
indivisibilidade, a vítima deve ajuizar a ação contra todos os infratores conhecidos.

Se a vítima optar em ingressar com a ação privada, deverá atuar contra todos os
infratores conhecidos. Cabe ao Ministério Público fiscalizar o respeito ao princípio da
indivisibilidade. Imagine que a omissão da vítima foi dolosa, pois não queria processar todos
por entender que parte das pessoas que praticaram o crime eram pessoas de bem.

Nesse sentido, se a vítima propõe, de forma dolosa, a ação penal privada apenas
contra parte dos sujeitos, ela renunciará ao direito em favor dos não processados e a renúncia
extingue a punibilidade.

É necessário notar que a extinção da punibilidade é do fato. Se a punibilidade for


extinta, todos serão beneficiados. Em posição minoritária, o Professor Tourinho Filho dispõe
que o Ministério Público é o fiscal da punibilidade, se a vítima dolosamente processou parte
das pessoas, o MP vai aditar ação privada para incluir as pessoas faltantes.

O fato é que o crime é de ação privada e assim sendo o MP não possui legitimidade
ativa para incluir mais réus na demanda. Mas é necessário lembrar que o CPP permite que o
promotor adite a inicial privada.

Esse aditamento é para fazer reparos formais, ele não serve para trazer mais
imputados, pois o Promotor não tem legitimidade ativa para tanto. A doutrina majoritária
entende que o aditamento feito pelo promotor não serve para incluir mais réus, pois falta ao
MP legitimidade ativa “ad causam”.

Por outro lado, quando a omissão da vítima for involuntária, a própria vítima poderá
aditar a petição inicial para incluir os réus faltantes.

É importante notar que Aury Lopes Júnior recomenda que o melhor é que a vítima
ajuíze outra ação para não gerar tumulto processual. Quando a omissão da vítima é
involuntária, caberá a ela própria envidar os esforços para processar as pessoas faltantes, já
que não houve renúncia.

Há uma posição intermediária na doutrina que entende que se a vítima


involuntariamente não processa todos os envolvidos, pois não sabia quem eram todos eles, a
ação será complementada pela própria vítima ou pelo próprio MP para incluir os réus faltantes.

Lembre-se que o perdão apresentado a um ou a alguns dos réus se estende a todos


que desejem aceitar o perdão. Note que o perdão é um ato bilateral e se algum dos réus
recusá-lo, o processo prosseguirá apenas contra aquele que recusou o perdão.

De acordo com o art. 51 do Código de Processo Penal, o perdão oferecido em favor de


parte dos sujeitos é aplicável a todos que queiram aceitar.

Se alguém recusar, o processo prosseguirá apenas contra quem recusou. Segundo o


princípio da intranscendência ou impessoalidade, os efeitos da ação privada não podem
ultrapassar a figura do réu.

Modalidades de Ação Privada:

• Ação privada exclusiva/ação privada propriamente dita;


• Ação privada personalíssima;
• Ação privada subsidiária da pública.

A ação privada exclusiva ou também rotulada de ação privada


propriamente dita é aquela que é exercida pela vítima ou pelo representante legal da vítima
nas hipóteses em que esta for incapaz. Conforme o art. 31 do CPP, havendo a morte ou a
declaração de ausência do ofendido, o direito de ação é transferido ao cônjuge ou
companheiro, ascendentes, descendentes e irmãos.
O prazo para o exercício da ação privada exclusiva ou ação privada propriamente dita é,
em regra, de seis meses a partir do dia em que a vítima souber que é o infrator da ação. Nesse
momento é importante notar que algo que é personalíssimo é algo que pertence a uma só
pessoa. A ação privada personalíssima possui apenas um titular, a vítima.
Nela não há intervenção de representante legal nem sucessão por morte ou ausência.
É importante notar que atualmente há um único crime de ação personalíssima, o induzimento
a erro ou ocultação de impedimento ao casamento.
Trata-se de um ilícito civil que possui repercussão penal. Lembre-se de que a ação
personalíssima possui a vítima como único titular. Inexiste intervenção do representante legal
ou sucessão por morte ou ausência.
De acordo com o art. 236 do, o único crime de ação personalíssima é o induzimento a
erro ou ocultação de impedimento ao casamento.
O prazo para o ajuizamento dessa ação é de seis meses contados do trânsito em
julgado da sentença cível que invalidar o casamento. Então, a partir do momento em que
transitar em julgado a sentença cível que invalidar o casamento, passa a fluir o prazo para o
manejo da ação privada personalíssima.
Agora é importante notar que estamos habituados a enxergar no ministério público, o
fiscal de tudo e de todos, mas negligenciamos na preparação para concurso as ferramentas
processuais para suprir eventuais omissões no MP. Atente-se ao fato de que o MP atua dentro
de fatos preconcebidos em lei, logo a atividade ministerial é dosada no tempo, isso faz parte do
dever funcional do MP.
A partir do momento em que o MP descumprir prazo, nós temos ferramentas para
contornar a omissão ministerial dentro do cenário constitucional e infraconstitucional. A
principal ferramenta é a ação privada subsidiária. É uma ação que tem positivação na própria
Constituição Federal como cláusula pétrea.
A ação privada subsidiária da pública é positivada no art. 5º, LIX, CF, como
cláusula pétrea, autorizando que a vítima ingresse com a ação penal em delito da esfera
pública, já que o MP não cumpriu o seu papel nos prazos legais. Como o MP foi omisso na
dinâmica do tempo, a vítima poderá ingressar com ação em um delito da esfera pública. Essa é
a ideia da ação privada subsidiária da pública.
É importante notar que a ação privada subsidiária da pública está positivada nos
seguintes artigos:
• Art. 29, CPP; • Art. 100, § 3º, CP; • Art. 5º, LIX, CF.

Segundo o art. 46 do CPP, o prazo para o patrocínio da ação privada subsidiária é de


seis meses contados do esgotamento do prazo que o MP dispunha para agir, qual seja, em
regra 5 dias quando o sujeito está preso, ou 15 dias quando está em liberdade.
Perceba que o prazo não começa a contar do conhecimento da autoria do crime, mas do
esgotamento do prazo que o MP dispunha para agir. Se uma ação privada subsidiária foi
proposta, significa que o Promotor foi desidioso.
Nesse caso, o Código exige que o Promotor venha intervir em todos os termos da
persecução penal sob pena de nulidade. O promotor atua como interveniente adesivo
obrigatório ou como assistente litisconsorcial.
Quando uma ação privada subsidiária é proposta, o Promotor fica exposto na comarca.
Nasce a sensação de que ele não está cumprindo o seu dever. O Código, em certa medida,
então, blinda o Promotor.
Quando a queixa crime substitutiva é apresentada ao Juiz, ele dá vistas ao Promotor,
logo este é o primeiro a saber da ação. Se o Promotor entender que a petição da vítima é
inepta ou que sua desídia possui justificativa, ele pode repudiar a petição da vítima e oferecer a
denúncia substitutiva.
Segundo o art. 564, III, “d” do CPP, o promotor vai atuar como interveniente adesivo
obrigatório, sob pena de nulidade.
Em acréscimo, o MP dispõe de amplos poderes, são eles:
• propor provas;
• apresentar recursos;
• aditar a inicial, até mesmo para incluir mais réus;
• retomar a demanda como parte principal, caso a vítima venha a fraquejar.

É importante observar que não há previsão de ação privada subsidiária no Código


Penal Militar nem no Código de Processo Penal Militar. Mas é necessário destacar que a
doutrina, em peso, entende que é também cabível a ação privada subsidiária na esfera militar,
pois ela tem assento na Constituição Federal.
Em que pese o silêncio do CPM e do CPPM, a ação privada subsidiária terá cabimento
em tal esfera, já que a sua previsão é constitucional no art. 5º, LIX. Os órgãos de promoção e
defesa do consumidor, de acordo com o Código de Defesa do Consumidor, poderão propor
ação privada subsidiária.
É importante lembrar que na esfera consumerista, os interesses costumam ser difusos.
De acordo com os arts. 80 e 82, III e IV, CDC, os órgãos de promoção e defesa do consumidor
podem ingressar com ação privada subsidiária, já que os interesses versados são difusos.
Note que na esfera falimentar, existem legitimados extraordinários à promoção de ação
privada subsidiária. O credor habilitado e o administrador judicial estão autorizados a
promover ação privada subsidiária.
Nesse momento é importante destacar que o art. 801 do CPP estabelecia sanção
pecuniária contra a autoridade culpada pelo atraso, além de obstáculos para o efeito de
promoção por merecimento. Porém, o art. 128, § 5º, I, “c” da CF, consagra a irredutibilidade
dos vencimentos dos membros do MP. A Lei Orgânica do MP disciplina os requisitos para a
promoção. Resta constatar que o art. 801 do CPP está tacitamente revogado.
Outro conceito importante é a ação penal ex officio, ou seja, aquela deflagrada sem a
provocação das partes. Note que existe uma situação de ação penal ex officio que não é mais
tolerada, o processo judicialiforme.
Este processo era aquele deflagrado por iniciativa de Juízes e Delegados sem a
provocação do MP. Outra situação de ação penal ex officio é aquela em que Juízes e Tribunais
estão autorizados a conceder de ofício habeas corpus. Hipóteses de ação penal ex officio:

•Processo judicialiforme, que era a possibilidade de iniciativa da demanda por ato do


juiz ou do delegado. Resta constatar que o art. 26 do CPP não foi recepcionado pelo art. 129, I,
CF;
• A concessão do HC ex officio é amplamente aceita nos Tribunais Superiores de
acordo com o art. 654, § 2º do CPP.
É importante destacar que os crimes contra a honra, ou seja, injúria, calúnia e
difamação, são usualmente crimes de ação penal privada, mas a lei aponta que a ação será
pública condicionada à representação quando esses crimes forem praticados contra
funcionários públicos em relação ao exercício da função de funcionário público.
De acordo com a Súmula n. 714 do STF, quando o funcionário pública é vítima de um
crime contra a honra vinculado ao exercício da função, ele terá as seguintes alternativas:
• Representar para o exercício de uma ação pública (condicionada);
• Contratar um advogado para o exercício de uma ação privada.
É importante destacar que a ação penal nos crimes contra a honra do funcionário
público é também tratada como legitimidade concorrente.
Note que a opção por uma das alternativas elimina drasticamente a outra opção.
Neste momento trabalharemos com a ação penal secundária. Lembre-se de que um
mesmo crime pode ser persecutido por mais de uma ação. Primariamente teremos um tipo de
ação e secundariamente outro tipo.
Primariamente, os crimes contra a honra são de ação penal privada. Mas se o crime for
contra a honra do Presidente da República, será de ação pública condicionada à requisição do
ministro da justiça.
O mesmo delito pode ser persecutido por ações penais com legitimidades distintas, a
depender do que for especificado em lei. É o que ocorre nos crimes contra a honra, que
primariamente são de ação privada, regra geral.
Todavia, quando a vítima é o Presidente da República, secundariamente a ação é
pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça, segundo o art. 145 do CP.

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