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Pesquisa Jurídica

DIFERENÇA ENTRE QUEIXA-CRIME E


QUEIXA-CRIME SUBSIDIÁRIA.

O que é queixa-crime.

A queixa-crime é uma peça processual capaz de dar início a uma ação penal privada. Por
sua vez, a ação penal privada é aquela apresentada pelo próprio ofendido – chamado
também de querelante. E não pelo Ministério Público, como ocorre nas ações públicas.
Portanto, no cenário da ação privada, a queixa-crime equivale a uma petição inicial.
Neste caso, se aceita, a queixa-crime terá o papel de dar início a ação. A queixa-crime
exige o cumprimento dos requisitos legais previstos no artigo 41 do Código de Processo
Penal, ou seja, exige-se a exposição completa do fato criminoso, com todas as suas
circunstâncias e seguimento dos acontecimentos, a qualificação do querelado ou
esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e o rol de
testemunhas. O art. 41, caput, do CPP, constitui um dos mais importantes dispositivos do
nosso ordenamento jurídico. Isso porque se relaciona diretamente aos princípios da
ampla defesa e do contraditório que estão previstos no art. 5º, LV, da Constituição
Federal, o qual dispõe que aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes. Não é sem motivo que o legislador exige que a denúncia ou a
queixa-crime deva constar a exposição do fato criminoso com todas as suas
circunstâncias. Desde logo, convém observar que a denúncia e a queixa devem ter os
mesmos requisitos, não fazendo a lei qualquer distinção nesse sentido. Veja-se que a
diferença básica se estabelece em nível de legitimidade ativa, cabendo ao Ministério
Público oferecer a denúncia em juízo e cabendo a vítima oferecer a queixa-crime
em juízo. Mas a petição propriamente dita – a denúncia ou a queixa-crime – deve
conter os mesmos requisitos. Portanto, cabe ao promotor de justiça, na qualidade
de representante do Ministério Público, ou cabe à vítima, na qualidade de
querelante, expor em detalhes a acusação que é dirigida ao réu ou ao querelado,
respectivamente. A necessidade do detalhamento da acusação é óbvia: quanto mais
genérica for a acusação, mais difícil é o exercício da ampla defesa e do contraditório.
Todos os crimes que podem ser apurados por meio de ação penal privada são passíveis
do oferecimento de queixa-crime. Dentre eles, segundo o Direito Penal, temos:

● crimes de responsabilidade do funcionário público;


● calúnia;
● difamação;
● injúria;
● exercício arbitrário das próprias razões;
● dano qualificado;
● introdução ou abandono de animais em propriedade alheia;
● esbulho possessório de propriedade particular;

Cabe ressaltar que, naqueles casos em que se intenta uma queixa-crime para motivar
ação penal privada em virtude do Ministério Público ter se ausentado de apresentar
denúncia no prazo estipulado, o prazo do querelante também é de seis meses. Neste
último caso, no entanto, os seis meses são contados a partir do momento que se esgota o
prazo do MP para apresentação da denúncia. Essa normativa está disposta tanto no Art.
38 do CPP, quanto no Art. 103 do Código Penal.

O que é queixa-crime subsidiária.

O inciso LIX do artigo 5° da Constituição Federal garante ao cidadão que, se o


Ministério Público, o qual, nos termos do art. 129, I da Constituição, é o titular exclusivo
da ação penal pública e, portanto, é o órgão responsável por formular acusações
criminais à Justiça, não oferecer uma denúncia (ajuizar a ação) no prazo estabelecido
legalmente, a vítima ou seus representantes podem promover ação penal de iniciativa
privada subsidiária da ação pública (promovida pelo Ministério Público), ou seja, têm o
direito de queixa. Nesse sentido, o direito de queixa seria uma transferência de uma ação
que geralmente seria de iniciativa pública – do Estado -, para uma ação de iniciativa
privada. Importante notar que a ação penal é sempre pública (Estado representado pelo
Ministério Público), e que, como regra geral, a iniciativa é também pública, promovida
pelo órgão criminal do Ministério Público. Mas, excepcionalmente, a ação penal pode ter
iniciativa privada – seja porque o legislador infraconstitucional (leis abaixo da
Constituição, exemplo: Código de Processo Penal) entende que, em certos tipos de
crimes, o interesse privado em sua repressão se sobrepõe ao interesse público, a exemplo
dos crimes contra a honra (calúnia, injúria e difamação), seja porque, para os demais, a
regra geral de iniciativa do Ministério Público para a propositura da ação penal é
contrabalanceada pelo direito de queixa subsidiária (ajuizamento pela vítima ou
parentes), a fim de que a vítima tenha também o poder de movimentar a Justiça em caso
de inércia do Ministério Público. Contudo, caso o Ministério Público, por alguma razão,
não respeite o prazo de dar entrada com a denúncia, a pessoa ofendida ou seu
representante legal pode entrar com um pedido de queixa substitutiva, ou subsidiária. A
queixa subsidiária não é o caminho comum que um processo penal apresenta, mas um
caminho alternativo que só pode ser seguido caso o Ministério Público não apresente a
denúncia no prazo. Ou seja, no caso do exemplo, você ou seu representante legal teriam
o direito de “transformar” uma ação penal pública em uma ação penal privada, por meio
de uma queixa subsidiária, a qual substituiria a denúncia do Ministério Público (que,
nesse exemplo, não foi feita dentro do prazo). É exatamente a esse direito – o de
“transformar” uma ação penal pública em uma ação penal privada – que se refere o
inciso LIX. A queixa (ou “queixa-crime”) subsidiária gera efeitos relevantes na prática.
A partir do momento em que a vítima (ou seu representante) a apresenta à Justiça, essa
ação segue seu curso de maneira independente da ação posterior do Ministério Público.
Supondo que a vítima fez a denúncia-substitutiva e iniciou a ação penal privada. Se,
posteriormente, o Ministério Público decide arquivar o inquérito policial e parar de
investigar a pessoa responsável pela ação criminosa, a ação iniciada pelo cidadão (vítima
ou representante) não será encerrada automaticamente. Pelo contrário, a ação penal
privada terá seguimento como um processo autônomo, mas poderá ter a intervenção do
Ministério Público em cada ato processual, visto que o órgão não perde, em momento
algum, a sua condição de titular da ação penal. Nos casos em que a pessoa ofendida seja
menor de 18 anos, o direito de queixa caberá exclusivamente ao representante legal do
ofendido. Afinal, apenas a partir dos 18 anos, a pessoa adquire plena capacidade legal e
passa a ter o direito de ingressar com a ação penal privada subsidiária.

REFERÊNCIAS

● LIMA, Renato Brasileiro de. Curso de Processo Penal. Niterói: Impetus, 2013.
● MARCÃO, Renato. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2014.
● NEVES, Marcelo. Transconstitucionalismo. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
● SALLES JÚNIOR, Romeu de Almeida. Inquérito Policial e Ação Penal. 5ª. Ed.
São Paulo: Saraiva, 1989.
● DEMERCIAN, Pedro Henrique, MALULY, Jorge Assaf. Op. Cit., p.254 – 255.
● MARCÃO, Renato. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 316.
● NEVES, Marcelo. Transconstitucionalismo. São Paulo: Martins Fontes, 2009, p.
297.

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