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DA AÇÃO PENAL

CONCEITO

É o procedimento judicial iniciado pelo titular da ação


quando há indícios de autoria e de materialidade a fim de que o
juiz declare procedente a pretensão punitiva estatal e condene
o autor da infração penal. Durante o transcorrer da ação penal
será assegurado ao acusado pleno direito de defesa, além de outras
garantias, como a estrita observância do procedimento previsto em
lei, de só ser julgado pelo juiz competente, de ter assegurado o
contraditório e o duplo grau de jurisdição etc.
Classificação

O Estado, detentor do direito e do poder de punir (jus puniendi),


confere a iniciativa do desencadeamento da ação penal a um
órgão público (Ministério Público) ou à própria vítima,
dependendo da modalidade de crime praticado. Portanto, para cada
delito previsto em lei existe a prévia definição da espécie de ação
penal — de iniciativa pública ou privada. Por isso, as próprias
infrações penais são divididas entre aquelas de ação pública e as
de ação privada.
Ação penal pública é aquela em que a iniciativa de seu
desencadeamento é exclusiva do Ministério Público (órgão
público), nos termos do art. 129, I, da Constituição Federal. Em
razão disso, havendo indícios de autoria e materialidade colhidos
durante as investigações, mostra -se obrigatório, salvo em algumas
exceções, o oferecimento da denúncia (peça inicial neste tipo de
ação).

•Homicídio
•Lesão Corporal Seguida de Morte
•Roubo
•Extorsão Mediante Sequestro
•Estupro
•Estupro de Vulnerável
•Epidemia com Resultado de Morte.
A ação pública apresenta as seguintes modalidades:

a) Incondicionada — o exercício da ação independe de


qualquer condição especial.

É a regra no processo penal, uma vez que, no silêncio da lei,


a ação será pública incondicionada.

b) Condicionada — a propositura da ação penal depende da


prévia existência de uma condição especial (representação da
vítima ou requisição do Ministro da Justiça).

São exemplos de crimes dos quais se requer Ação Penal Pública


Condicionada por representação: Perigo de contágio venéreo
(art. 130, CP), ameaça (art. 147, CP), violação de correspondência
comercial (art. 152, CP), divulgação de segredo (art. 153, CP), furto de coisa
comum (art. 156, CP).
Um exemplo é um crime contra a honra cometido contra o Presidente da
República ou chefe executivo de país estrangeiro que esteja de passagem
pelo Brasil (art. 145, parágrafo único, CP).

As ações penais públicas condicionadas à requisição são


aquelas em que a titularidade é do MP, mas a investigação e
posterior ação penal dependem de uma prévia manifestação
de vontade do Ministro da Justiça.

A requisição é um pedido ou autorização para que haja a investigação de um


determinado crime e o posterior processo para apurar a responsabilidade penal do
acusado. A requisição, tal qual a representação, tem natureza jurídica de condição de
procedibilidade, pois sem a manifestação de vontade do Ministro da Justiça, a
investigação do crime sequer pode ser iniciada.
A titularidade é ainda do Ministério Público que, todavia, só pode
oferecer a denúncia se estiver presente no caso concreto a
representação da vítima ou a requisição do Ministro da Justiça, que
constituem, assim, condições de procedibilidade.
Nesse tipo de ação penal a lei, junto ao próprio tipo penal,
necessariamente deve mencionar que “só se procede mediante
representação ou requisição do Ministro da Justiça”.
Ação penal privada é aquela em que a iniciativa da propositura
da ação é conferida à vítima. A peça inicial se chama queixa -crime.
Subdivide -se em:
a) Exclusiva — a iniciativa da ação penal é da vítima, mas, se
esta for menor ou incapaz, a lei permite que a ação seja
proposta pelo representante legal. Em caso de morte da vítima,
a ação poderá ser proposta por seus sucessores (cônjuge,
companheiro, ascendente, descendente ou irmão) e, se a ação
já estiver em andamento por ocasião do falecimento, poderão
eles prosseguir na ação.

Nesse tipo de delito, a lei expressamente menciona que


somente se procede mediante queixa.
b) Personalíssima — a ação só pode ser proposta pela vítima.
Se ela for menor, deve -se aguardar que complete 18 anos. Se
for doente mental, deve -se aguardar eventual restabelecimento.
Em caso de morte, a ação não pode ser proposta pelos
sucessores. Se já tiver sido proposta na data do falecimento, a
ação se extingue pela impossibilidade de sucessão no polo
ativo.

Nesse tipo de infração a lei esclarece que somente se procede


mediante queixa do ofendido.
c) Subsidiária da pública — é a ação proposta pela vítima em
crime de ação pública, possibilidade que só existe quando o
Ministério Público, dentro do prazo que a lei lhe confere, não
apresenta qualquer manifestação.

Todas as modalidades de ação penal serão detalhadamente


analisadas adiante.
Condições gerais da ação

São condições que devem estar presentes para a propositura de


toda e qualquer ação penal. Podemos assim elencá -las
a) Legitimidade de parte. Se a ação for pública, deve ser
proposta pelo Ministério Público, e, se for privada, pelo ofendido ou
por seu representante legal.

O acusado deve ser maior de 18 anos e ser pessoa física, pois,


salvo nos crimes ambientais, pessoa jurídica não pode figurar no
polo passivo de uma ação penal, pois, em regra, não comete crime.

Os inimputáveis por doença mental ou por dependência em


substância entorpecente podem figurar no polo passivo da ação
penal, pois, se provada a acusação, serão absolvidos, mas com
aplicação de medida de segurança ou sujeição a tratamento médico
para a dependência.
b) Interesse de agir. Para que a ação penal seja admitida é
necessária a existência de indícios suficientes de autoria e de
materialidade a ensejar sua propositura. Além disso, é preciso que
não esteja extinta a punibilidade pela prescrição ou qualquer outra
causa.

c) Possibilidade jurídica do pedido. No processo penal o


pedido que se endereça ao juízo é o de condenação do acusado a
uma pena ou medida de segurança. Para ser possível requerer a
condenação é preciso que o fato descrito na denúncia ou queixa
seja típico, ou seja, que se mostrem presentes todas as elementares
exigidas na descrição abstrata da infração penal.
Observação: Além dessas condições gerais, algumas
espécies de ação penal exigem condições específicas, como a
ação pública condicionada, que pressupõe a existência de
representação da vítima ou de requisição do Ministro da
Justiça.
Além dessas, podem ainda ser mencionadas outras condições
(de procedibilidade) específicas:

a) a entrada do autor da infração no território nacional, nas


hipóteses de extraterritorialidade da lei penal brasileira previstas
nos §§ 2º e 3º, do art. 7º, do Código Penal. Exs.: crimes
praticados por brasileiro no exterior ou por estrangeiro contra
um brasileiro fora do Brasil. Ressalte -se, porém, que o ingresso
no território nacional é apenas um dos requisitos para a
incidência da lei brasileira (ver comentários aos artigos citados);

b) autorização da Câmara dos Deputados para a instauração


de processo criminal contra o Presidente da República, Vice -
Presidente ou Ministros de Estado, perante o Supremo Tribunal
Federal (art. 51, I, da CF).
Desde o advento da Emenda Constitucional n. 35/2001, o
desencadeamento de ação penal contra Senadores da República e
Deputados Federais e Estaduais dispensa a prévia autorização da
respectiva Casa Legislativa.
Princípios constitucionais da ação penal

Princípio do juiz natural

Art. 5º, LIII, da CF — Ninguém será processado nem


sentenciado senão pela autoridade competente.

Ao dispor que ninguém será sentenciado senão pela autoridade


competente, a Constituição determina a existência de regramento
prévio em relação à divisão de competência entre os juízes, de tal
modo que, com o cometimento de uma infração penal, seja
imediatamente possível saber a qual juízo incumbirá o julgamento.
Caso haja mais de um juiz igualmente competente, deverá ser
realizada a distribuição, com sorteio aleatório dos autos a um deles.
O julgamento feito por juízo absolutamente incompetente gera a
nulidade da ação (art. 564, I, do CPP).
O art. 5º, XXXVII, da Constituição veda ainda juízos ou tribunais
De exceção, ou seja, formados temporariamente para julgar caso ou casos específicos
após o delito ter sido praticado.

O Supremo Tribunal Federal entende que não fere o princípio do


juiz natural o deslocamento de ação penal já em andamento em
razão da criação de vara especializada (que julgará todos os
delitos de determinada natureza, por exemplo) ou pela criação de
nova Comarca. A propósito: “A al. ‘a’ do inc. I do art. 96 da
Constituição Federal autoriza alteração da competência dos órgãos
do Poder Judiciário por deliberação dos tribunais.
Princípio do promotor natural

Art. 5º, LIII, da CF — Ninguém será processado nem


sentenciado senão pela autoridade competente.

Praticada a infração penal, é necessário que já se saiba qual


órgão do Ministério Público será o responsável pela acusação. É
vedada, portanto, a designação aleatória de promotor para atuar em
caso específico.
Princípio do devido processo legal

Art. 5º, LIV, da CF — Ninguém será privado da liberdade ou de


seus bens sem o devido processo legal.

Para toda espécie de crime deve existir lei regulamentando o


procedimento para a sua apuração. Esse procedimento descrito em
lei, por se tratar de matéria de ordem pública, não pode ser
modificado pelas partes, que também não podem optar por
procedimento diverso daquele previsto.
Princípio da vedação da prova ilícita

Art. 5º, LVI — São inadmissíveis, no processo, as provas obtidas


por meios ilícitos.

De acordo com o art. 157 do Código de Processo Penal, com a


redação que lhe foi dada pela Lei n. 11.690/2008, as provas ilícitas
devem ser desentranhadas, as sim entendidas aquelas obtidas
com violação a preceitos constitucionais ou legais, bem como
aquelas que lhe são derivadas. Esse tema será analisado de
forma aprofundada por ocasião do estudo do título “Das Provas”.
Princípio da presunção de inocência

Art. 5º, LVII, da CF — Ninguém será considerado culpado até o


trânsito em julgado de sentença penal condenatória.

Apenas quando não forem cabíveis mais recursos contra a


sentença condenatória é que o réu poderá ser considerado culpado.
Referido princípio, como se verá, não é absoluto, pois a própria
Constituição permite a prisão provisória antes da condenação,
desde que preenchidos os requisitos legais (art. 5º, LXI).

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