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18/02/2022 10:39 A declaração dos direitos da criança e a convenção sobre os direitos da criança. - Jus.com.

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ARTIGOS (/ARTIGOS)

A declaração dos direitos


da criança e a convenção
sobre os direitos da
criança.
Direitos humanos a proteger em
um mundo em guerra
A declaração dos direitos da criança e a
convenção sobre os direitos da criança.
Direitos humanos a proteger em um
mundo em guerra
Sérgio Augusto G. Pereira de Souza (https://jus.com.br/946897-sergio-
augusto-g-pereira-de-souza/publicacoes)

Publicado em 01/2002. Elaborado em 10/2001.

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Direito da Criança e do Adolescente
(https://jus.com.br/artigos/direito-da-crianca-e-do-adolescente)
Geral (Direito da Criança e do Adolescente)
(https://jus.com.br/artigos/geral-direito-da-crianca-e-do-adolescente)

No próximo dia 20 de novembro a Declaração Universal dos


Direitos da
Criança completará quarenta e dois anos, sendo que a Convenção
sobre os
Direitos da Criança, estará completando doze anos de existência.

Tais fatos são marcos históricos na busca pelo


desenvolvimento de uma
sociedade internacional onde os direitos humanos sejam
considerados
como prioridade absoluta de todos os Estados e das organizações
internacionais.

Mais do que marcos a serem comemorados, contudo, instigam à


reflexão,
convidando-nos a estudar os caminhos traçados por tais instrumentos,
seus
dispositivos, seus princípios. Instigam, ainda, à demonstração de que,

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apesar da existência de tais instrumentos e do tempo decorrido, ainda
 estamos
muito longe da plena efetivação da sociedade internacional neles 
almejada.
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De fato, vislumbrando pela televisão e jornais as notícias
que nos chegam
da África, de partes da América Latina, e mesmo do nosso país,
acostumamo-nos a ver a débil situação em que vivem inúmeras crianças e
famílias por todo o mundo, flagelados da fome, da miséria, da falta de
condições sanitárias e de saúde.

Agora, após os atentados de 11 de setembro nos Estados


Unidos,
passamos a conviver com o cotidiano de uma guerra que, oficialmente, se
faz com o objetivo de proteger os direitos humanos e as populações
indefesas
contra a ameça terrorista. Nossas vistas se inundam, então, com
um sem número
de imagens provenientes do Afganistão que, em especial,
nos chocam por ver o
tratamento dado às crianças, desprovidas de
qualquer direito material e
utilizadas, por ambos os lados, através da mídia,
como veículos de propaganda
das atrocidades cometidas.

A pergunta que vem à mente, então, é: onde está o direito


que protege tais
vítimas ?

O objetivo aqui proposto é demonstrar que existem


instrumentos jurídicos
internacionais passíveis de serem utilizados,
justamente os acima citados,
reveladores de um perfil jurídico que já foi
amplamente aceito e confirmado
pela comunidade internacional e cuja referência
e lembrança, agora, se
fazem necessários, para que se possa cobrar não apenas
a postura formal,
mas sobretudo a postura efetiva e material de proteção às
crianças dos
governos que se propõe ir à guerra pela defesa dos direitos
humanos.

A preocupação com o tema que aqui se propõe remonta desde


o começo
deste século, quando a extinta Liga das Nações e a Organização
Internacional do Trabalho promoveram as primeiras discussões a respeito
dos
direitos da criança. Assim é que a Organização Internacional do
Trabalho, em
1919 e 1920, adotou três Convenções que tinham por objetivo
abolir ou regular
o trabalho infantil. Já a Liga das Nações, em 1921,
estabeleceu um comitê
especial com a finalidade de tratar das questões
relativas à proteção da
criança e da proibição do tráfico de crianças e
mulheres.

Em 1924 a Assembléia da Liga das Nações adotou a


Declaração de
Genebra dos Direitos da Criança. Tal declaração, contudo,
não teve o
impacto necessário ao pleno reconhecimento internacional dos
direitos da
criança, talvez até como decorrência do próprio panorama
histórico que já
se desenhava e do previsível insucesso da Liga das Nações.

PHILIP ALSTON[1], a respeito de tal declaração,


observou que um de seus
defeitos era o fato da mesma, de forma alguma, obrigar
os Estados, uma
vez que era tomada como uma "declaração de
obrigações dos homens e
mulheres de todas as nações".

Somente com a Declaração Universal dos Direitos do Homem,


contudo,
reconheceu-se, pela primeira vez, universalmente, que a criança deve
ser
objeto de cuidados e atenções especiais. Tal reconhecimento deu-se por
força do item 2 do artigo XXV, onde se dispôs claramente que "a
maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especial.
Todas
as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da
mesma
proteção social".

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De tal dispositivo na Declaração Universal resultou um


sistema pelo qual as
Nações Unidas passaram a proteger os direitos da criança
por meio de
tratados internacionais de caráter geral, normalmente pactos
internacionais
de direitos humanos, preparando a comunidade internacional para o
surgimento de um instrumento específico relativo aos direitos da criança.
Exemplo disso é o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos[2].

O primeiro instrumento específico a surgir com real


importância dentro da
nova ordem internacional que se estabelecia foi a
Declaração Universal dos
Direitos da Criança, no ano de 1959. Essa
Declaração tornou-se um guia
para a atuação, tanto privada como pública, em
favor da criança.

Ao afirmar que "a Humanidade deve dar à criança


o melhor de seus
esforços" a Declaração passou a constituir-se,
no mínimo, num marco
moral para os direitos da criança.

A Declaração é formada de dez princípios básicos onde se


afirma, em
síntese, o direito da criança à proteção especial; à ser-lhe
dadas as
oportunidades e facilidades necessárias ao pleno desenvolvimento
saudável e harmonioso; à utilizar-se dos benefícios relativos à seguridade
social, incluindo-se a adequada nutrição, moradia, recreação e serviços
médicos; à receber educação (https://jus.com.br/tudo/educacao) e a ser
protegida contra todas as formas de
negligência, crueldade e exploração.

Da mesma forma que se pode advogar o caráter de jus


cogens da
Declaração Universal dos Direitos do Homem, tendo em vista os
princípios
gerais de direito que a mesma veicula, o costume internacional e o
art. 38
do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, também a Declaração
Universal dos Direitos da Criança pode ser entendida como dotada de força
obrigacional, tendo em vista também poder-se atribuir à mesma um caráter
de jus
cogens.

Apesar disso, no plano prático, a possibilidade de tal


força obrigacional não
conseguiu traduzir-se em medidas efetivas de proteção
à criança,
consubstanciando-se, mais, no embrião de uma nova doutrina
relativa aos
cuidados com a criança, de uma nova maneira de enxergar o
indivíduo
detentor de direitos e prerrogativas, do que num instrumento ativo de
consolidação de tais direitos e prerrogativas.

Tanto foi assim que, de forma não específica, como acima


mencionado,
diversos dos direitos citados pela Declaração acabaram por
incorporar-se
ao texto de convenções subsequentes como o Pacto Internacional
sobre
Direitos Civis e Políticos, já citado, e o Pacto Internacional sobre
Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais, em especial no concernente ao seu
artigo
10[3].

A necessidade de dar-se força de tratado aos direitos da


criança, de forma
específica e consolidada, tornou-se cada vez mais premente,
tanto que, por
ocasião do Ano Internacional da Criança e das comemorações
pelos vinte
anos da Declaração, em 1979, por iniciativa da delegação da
Polônia, a
Comissão dos Direitos Humanos (https://jus.com.br/tudo/direitos-humanos)
das Nações Unidas começou a
elaborar um projeto de convenção.
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A amplitude de participação no tocante à sua elaboração,
permitiu que o
 projeto de convenção resultante acabasse por ser o fruto de
intenso 
trabalho internacional, envolvendo as mais diversas disciplinas
científicas e,
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principalmente, compatibilizando sistemas jurídicos e culturais
diversos,
criando um texto normativo cujos parâmetros são flexíveis,
adaptáveis às
diferentes realidades dos Estados Partes e, por isso mesmo,
sendo
referência para as políticas legislativas desses últimos.

A Convenção sobre os Direitos da Criança foi adotada por


unanimidade,
pela Assembléia Geral das Nações Unidas, em 20 de novembro de
1989.
Tal ato foi um marco em relação aos esforços que se realizam no plano
internacional para fortalecer a justiça, a paz e a liberdade em todo o mundo
mediante a promoção e a proteção dos direitos humanos.

Com sua adoção (https://jus.com.br/tudo/adocao) pela Assembléia Geral, a


Convenção passou
a receber assinaturas a partir de 26 de janeiro de 1990,
dia no qual exatos
sessenta e um países firmaram a intenção de ratificá-la.

Em 02 de setembro de 1990, como demonstração do alto


interesse e apoio
suscitado em todo o mundo, a Convenção sobre os Direitos da
Criança
entrou em vigor, relativamente aos primeiros vinte Estados, assumindo
um
caráter de lei internacional, com força vinculante entre os Estados que a
ratificaram.

Até o começo de 1996[4], cento e oitenta e seis


países haviam ratificado a
Convenção, permanecendo apenas seis países em
todo o mundo sem a
ratificação. Já no começo de 1998[5], dos
cento e noventa e três países
existentes no mundo, apenas dois não haviam
ratificado a Convenção, não
o fazendo até o presente momento, os Estados
Unidos da América e a
Somália, ambos no centro das atuais e futuras ações
anti-terrorismo.

A partir de tais números é possível dizer que a


Convenção quebrou todos
os recordes concernentes à aceitação, pela
comunidade internacional, de
um tratado a respeito de direitos humanos, o que
demonstra a necessidade
de faze-la efetiva em todo o mundo.

Em face de tamanha aceitação e à importância histórica


da Convenção e
dos direitos por ela garantidos, são pertinentes as palavras
da Diretora
Executiva do UNICEF, Carol Bellamy, ao afirmar que "... um
século que
começou com as crianças não tendo virtualmente nenhum direito
está
terminando com as crianças tendo um poderoso e eficaz instrumento que
não apenas reconhece, mas protege seus direitos humanos"[6].

O que se percebe é que nos trinta anos decorridos entre a


Declaração e a
Convenção houve um grande desenvolvimento dos instrumentos
internacionais, o que deu maior amplitude ao conceito de Direitos da
Criança[7].

Por outro lado, a consciência internacional, no sentido de


respeitar-se tais
direitos, amadureceu em face da necessidade cada vez mais
patente de
deter-se os terríveis processos de desnutrição, ignorância, abuso
e morte
pelos quais têm passado a grande maioria das crianças deste planeta.

A Convenção tem características próprias, dentre as quais


uma das mais
importantes é o seu caráter de Lei Internacional, ou seja, sua
força
obrigacional não é passível de discussão pelos Estados que a ela
aderem.
O compromisso assumido pelos Estados Partes tem reflexos imediatos na
ordem interna de cada Estado, o que confere aos Direitos da Criança uma
força
até então inédita.

Assim, a Convenção surge como instrumento complementador da


Declaração, não substituto, tomando os princípios de jus cogens dessa
última como referência para o estabelecimento de compromissos e
obrigações
específicas que adquirem caráter coercitivo em relação aos
Países que a
ratificam.

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Verifica-se, pois, a preocupação de dar-se à Convenção
um caráter de
 efetividade imediata. Os Estados Partes aceitam sujeitar-se a
normas que 
até então tinham um sentido mais moral que obrigacional,
comprometendo-
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se a realizar mudanças administrativas e legislativas no plano
interno.

Uma das razões de tal preocupação foi o amadurecimento da


comunidade
internacional no sentido de perceber que as crianças de hoje, terão
de
prosseguir, no futuro, a tarefa de criar uma ordem social
(https://jus.com.br/tudo/ordem-social) justa e humana.

Na verdade a Convenção representa um compromisso com o


futuro.

A comunidade internacional demonstrou ter ciência de que o


respeito aos
direitos humanos começa com a maneira pela qual a sociedade trata
as
suas crianças. Uma sociedade que respeite os direitos da criança dará
liberdade e dignidade aos jovens, criando as condições em que possam
desenvolver todas as suas potencialidades e preparar-se para uma vida
adulta
plena e satisfatória.

O conteúdo global da Convenção, pois, se faz perceptível


em diversos de
seus dispositivos, em face ao estabelecimento de princípios
norteadores
dos direitos humanos que podem ser comuns a quaisquer nações,
mesmo
em vista das brutais diferenças, não só culturais e religiosas, mas
também
econômicas dos diversos Estados Partes[8].

Toda a Convenção, de forma a estabelecer tais princípios


norteadores,
orienta-se no sentido de procurar alcançar o interesse maior da
própria
criança. Isso se faz, desde o artigo 3, que estabelece a necessidade
dos
Estados Partes considerarem primordialmente tal interesse em todas as
suas
ações relativas à criança, sejam administrativas ou legislativas, até o
artigo 36, que no tocante à proteção da criança contra todas as forma de
exploração, explicitamente estabelece que tal proteção deva se dar de
forma
a evitar prejuízos a "qualquer aspecto de seu bem-estar".

Englobando uma grande gama de direitos humanos, civis,


políticos, sociais
e culturais, a Convenção deixa claro o seu objetivo de
mostrar que é
impossível que se garanta um direito específico, sem que se
passe a
garantir também todos os demais direitos correlatos.

Tal objetivo leva à consolidação de uma nova doutrina a


ser encampada
pelos Estados Partes, a "doutrina da proteção
integral da criança".

A origem de tal doutrina, sem dúvida, é a Declaração


Universal dos Direitos
da Criança, já mencionada anteriormente.

De fato, já em seu preâmbulo a Declaração textualmente


afirma seu
propósito de reconhecer a necessidade de um sistema de proteção
diferenciado, tendo em vista "que a criança, em razão de sua falta de
maturidade física e intelectual, tem necessidade de proteção jurídica
apropriada antes e depois do nascimento".

No decorrer de seus dez princípios a Declaração deixa


claro que a criança,
em face à sua condição especial de pessoa em
desenvolvimento deve ser
detentora de prerrogativas e privilégios concernentes
à seguridade social,
educação, trabalho, convívio, que em última análise
tem o objetivo de
assegurar-lhe que tal desenvolvimento se dê de forma completa
e
saudável, possibilitando que a criança seja detentora útil de seus
potenciais
máximos.

O segundo princípio da Declaração, em especial, resume o


que seja tal
proteção diferenciada ao afirmar que a criança deve
beneficiar-se e dispor
de oportunidades e serviços por efeito de lei e de
outros meios, para que
possa desenvolver-se de maneira saudável e normal, nos
planos físico,
intelectual, assim como em condições de liberdade e dignidade,
sendo que
todos os dispositivos legais criados com esse objetivo tomarão como
consideração fundamental o interesse superior da criança.

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Esse é o cerne da "doutrina da proteção integral
da criança", estabelecido
 já na Declaração e desenvolvido nos
instrumentos internacionais que lhe 
vieram posteriormente, culminando com a
Convenção dos Direitos da
(https://jus.com.br/)
Criança.

A Convenção, em seu preâmbulo, faz expressa menção a


esses
instrumentos internacionais que consolidaram a doutrina que reconhece a
necessidade de proporcionar à criança uma proteção especial, (a
Declaração
de Genebra de 1924 sobre os Direitos da Criança; a
Declaração dos Direitos da
Criança adotada pela Assembléia Geral em 20
de novembro de 1959; a
Declaração Universal dos Direitos Humanos; o
Pacto Internacional de Direitos
Civis e Políticos, em particular nos Artigos
23 e 24; o Pacto Internacional de
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais,
em particular no Artigo 10; e os
estatutos e instrumentos pertinentes das
Agências Especializadas e das
organizações internacionais que se
interessam pelo bem-estar da criança).

Conforme já foi dito, a enorme gama de direitos reconhecidos


pela
Convenção, no seu conjunto, criam um sistema segundo o qual não existe
efetiva proteção sem que se garanta, não um direito específico, mas todos
os
direitos correlatos.

Por isso a Convenção não menciona em seus dispositivos o


termo
"proteção integral da criança", mas estabelece efetiva
proteção quanto ao
direito à vida e ao desenvolvimento (art. 6º); à
nacionalidade e à filiação
(https://jus.com.br/tudo/filiacao) (art. 7º); à não discriminação por motivos
raciais, sociais, sexuais, etc. (art. 2ª); à vida familiar (arts. 8º, 20 e
21); à
locomoção (art. 10); à própria manifestação em juízo e a um
procedimento
judiciário especial, fundado no devido processo
(https://jus.com.br/tudo/processo) legal, no
contraditório e na ampla defesa
(arts. 12 e 40); às liberdades de expressão,
pensamento e associação (arts.
13, 14 e 15); à intimidade (art. 16); à
religião (art. 30); ao lazer (art. 31); à
saúde (art. 24); à previdência
social (art. 26); à educação (arts. 28 e 29).
Ademais, expressamente
determina ser obrigação dos Estados Partes a
proteção da criança contra as
drogas (art. 33), o tráfico ilícito de crianças
(art. 35) e todas as formar
de exploração, sejam econômicas, trabalhistas,
sexuais, militares, etc. (arts.
32, 34, 36, 37 e 38).

Todos esse dispositivos demonstram a proteção integral à


criança,
sobretudo porque orientados no sentido, sempre, de buscar o interesse
maior da própria criança.

O artigo 27 da Convenção pode ser trazido, então, como um


resumo de tais
dispositivos e de tal orientação ao afirmar que toda criança
tem direito "a
um nível de vida adequado ao seu desenvolvimento
físico, mental,
espiritual, moral e social".

Percebe-se, pois, que proteger de forma integral é dar


atenção diferenciada
à criança, rompendo com a igualdade puramente formal
para estabelecer
um sistema normativo que se incline na busca pela igualdade
material, por
meio de um tratamento desigual, privilegiado, à criança,
assegurando-lhes
a satisfação de suas necessidades básicas, tendo em vista
sua especial
condição de pessoa em desenvolvimento.

Essa a doutrina que a Convenção consolida e que cada Estado


Parte
aceitou ao ratificar a Convenção, submetendo-se ao compromisso de
construir uma ordem legal interna voltada para a efetivação dessa proteção
integral, que consubstancie o pleno e integral desenvolvimento de todos os
potenciais da criança e seja orientada para a realização do interesse maior
dessa mesma criança, de forma a possibilitar o surgimento de um ser
humano mais
apto a construir e participar de uma sociedade internacional
mais justa e
equânime.

Percebe-se, pois, que a comunidade internacional insere a


Convenção no
contexto da universalização dos direitos humanos de forma
plena,
reconhecendo que os direitos da criança, tratados de forma ampla e
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integrada entre si, onde uns não são passíveis de proteção sem que todos
 sejam objeto dessa mesma proteção, somente podem ser objeto de uma 
eficaz
proteção por meio do reconhecimento e salvaguarda dos direitos
(https://jus.com.br/)
fundamentais de
segunda e terceira gerações, já mencionados,
concernentes à igualdade
econômica, à solidariedade, ao desenvolvimento
e à proteção do meio
ambiente pelas nações.

Esse o contexto amplo da Proteção Integral à Criança que


a Convenção
consolida. Essa a visão e a doutrina que a Convenção exprime
dever ser
orientadora da comunidade internacional em seu relacionamento com as
crianças deste planeta.

Assim, é absolutamente urgente que, na defesa dos direitos


humanos que
ora se prega, inclusive pelo instrumento da guerra, não se deixe
massacrar
outros direitos humanos, como vimos consagrados e aceitos por toda a
comunidade internacional, justamente daqueles que serão os construtores
do
nosso futuro, as crianças, sejam afegãs, norteamericanas, somalis, ou
brasileiras.

Deve-se advertir aos governos do mundo para que, aproveitando


já o fato
da sociedade internacional ser outra depois de 11 de setembro de
2001,
façam valer o direito internacional vigente e promovam o desenvolvimento
das nações empobrecidas, como melhor maneira de garantir os direitos
humanos
de todos.

Notas
1.ALSTON, Philip. "The
Declaration was not cast in terms of State
obligations but of duties declared
and accepted by ´men and women of all
nations´ and according to which ´the child
must be given the means
requisite for its normal development, both materially
and spiritually´." op. cit.
pg. 574.

2.PACTO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS -


1966.

"Artigo 24.
1. Toda criança terá
direito, sem discriminação alguma
por motivo de cor, sexo, língua, religião,
origem
nacional ou social, situação econômica ou nascimento,
às medidas de
proteção que a sua condição de menor
requerer por parte de sua família, da
sociedade e do
Estado.
2. Toda criança deverá
ser registrada imediatamente
após o seu nascimento e deverá receber um nome.
3. Toda criança terá
direito a adquirir uma
nacionalidade.
Artigo 25.
4. Os Estados Partes do
presente Pacto deverão
adotar medidas apropriadas para assegurar a
igualdade de
direitos e responsabilidades dos esposos
quanto ao casamento, durante o mesmo e
por ocasião
de sua dissolução. Em caso de dissolução, deverão
adotar-se
disposições que assegurem a proteção
necessária para os filhos."

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3.PACTO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS
 E
CULTURAIS - 1966. Adotado e aberto à assinatura na Assembléia Geral 
das
Nações Unidas em 16 de dezembro de 1966, entrou em vigor a 03 de
(https://jus.com.br/)
janeiro de
1976, após o 35º depósito de instrumento de ratificação (artigo
27), tendo
sido ratificado pelo Brasil em 24 de janeiro de 1992, Decreto
Legislativo nº
226/91 e Decreto nº 591/92.

"Artigo 10 - Os
Estados Partes do presente Pacto
reconhecem que:

1.Deve-se conceder à
família, que é o elemento natural e fundamental da
sociedade, a mais ampla
proteção e assistência possíveis, especialmente
para sua constituição e
enquanto ela for responsável pela criação e
educação dos filhos. O
matrimônio deve ser contraído com o livre
consentimento dos futuros cônjuges.

2.Deve-se conceder
proteção especial às mães por um período de tempo
razoável antes e depois
do parto. Durante esse período, deve-se conceder
às mães que trabalham,
licença remunerada ou licença acompanhada de
benefícios previdenciários
adequados.

3.Devem-se adotar
medidas especiais de proteção e assistência em prol de
todas as crianças,
sem distinção alguma por motivo de filiação ou qualquer
outra condição.
Devem-se proteger as crianças e adolescentes contra a
exploração econômica e
social. O emprego de crianças e adolescentes em
trabalhos que lhes sejam
nocivos à moral e à saúde ou que lhes façam
correr perigo de vida, ou ainda
que lhes venham a prejudicar o
desenvolvimento normal, será punido por lei.

Os Estados devem também


estabelecer limites de
idade sob os quais fique proibido e punido por lei o
emprego assalariado da mão-de-obra infantil."

4.Informações colhidas junto ao "site" do UNICEF


- UK (Inglaterra) na
INTERNET.(http://www.unicef.uk.)

5.DEEN, Thalif. "U.S. right-wingers block U.N.


Children´s Treaty" in
Terraviva, The Inter Press Service Daily
Journal - Vol. 06, nº 29. IPS,
Tuesday, 17 February 1998.

6."... a century
that began with children having virtually no rights is ending
with children
having a powerful and wide-ranging instrument that not only
recognizes but
protects their human rights." - tradução livre - UNICEF. Texto
extraído
da home-page do UNICEF-UK na Internet.(http://www.unicef.uk.)

7.Nesse sentido, afirma o Prof. Alessandro Baratta:

"Tanto na Europa como


na América Latina o novo
discurso sobre os direitos humanos estendeu-se,
durante a segunda metade deste século, aos direitos
das crianças e dos
adolescentes, com base numa
tendência internacional que encontrou expressão na
doutrina e nos documentos das Nações Unidas.
Nesta doutrina, tal como
sabemos, já não se vê a
criança como objecto de protecção e/ou repressão
do
Estado e da sociedade adulta mas sim como sujeito de
direitos originários
relativos a essas instituições."

https://jus.com.br/artigos/2568/a-declaracao-dos-direitos-da-crianca-e-a-convencao-sobre-os-direitos-da-crianca#:~:text=Toda criança terá direit… 8/11


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BARATTA, Alessandro. Os direitos da criança e o futuro da
democracia in
 Perspectivas do direito no início do século XXI -
Studia Jurídica nº 41. 
Boletin da Faculdade de Direito, Universidade de
Coimbra, Coimbra
(https://jus.com.br/)
Editora, pg. 71, 1999.

8."O desafio maior


daqueles que, durante dez anos trabalharam na
elaboração da Convenção, foi
definir quais os direitos humanos que podem
ser comuns diante das diferenças
religiosas, culturais e sócio econômicas
nas diversas nações. Encontraram,
porém, princípios comuns para
formulação de normas internacionais para
nortear os princípios da
Convenção." - UNICEF. "Kit para a
imprensa". Brasília, novembro de 1990.


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Sérgio Augusto G. Pereira de Souza


(https://jus.com.br/946897-sergio-
augusto-g-pereira-de-
souza/publicacoes)
procurador da Fazenda Nacional, mestre em Direito Internacional
pela USP, doutorando em Estudos Internacionais pela Faculdade de
Direito da Universidade de Barcelona (Espanha)

é autor do livro: "Os Direitos da Criança e os Direitos Humanos", Ed.


Sergio Fabris, Porto Alegre, 2001.

Textos publicados pelo autor (https://jus.com.br/946897-sergio-


augusto-g-pereira-de-souza/publicacoes)

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SOUZA, Sérgio Augusto G. Pereira de. A declaração dos direitos da criança
e a convenção sobre os direitos da criança. Direitos humanos a proteger
em um mundo em guerra (https://jus.com.br/artigos/2568/a-declaracao-dos-
direitos-da-crianca-e-a-convencao-sobre-os-direitos-da-crianca). Revista
Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 7
(https://jus.com.br/revista/edicoes/2002),
n. 53
(https://jus.com.br/revista/edicoes/2002/1/1),
1
(https://jus.com.br/revista/edicoes/2002/1/1) jan.
(https://jus.com.br/revista/edicoes/2002/1) 2002
(https://jus.com.br/revista/edicoes/2002).
Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/2568. Acesso em: 18 fev. 2022.

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