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Unidade 4


Vamos iniciar essa unidade com um Vídeo: "Para início de conversa".


Unidade 4 Início

Olá! Espero que tenha gostado do vídeo “Para início de conversa”. Ele foi preparado para você!

Vamos começar a leitura do material?


Ao terminar as atividades previstas nessa unidade, você deverá ser capaz de:

Analisar as conquistas e os desafios da implementação das normativas internacionais e nacionais que garantem os
direitos da criança e do adolescente. Para alcançar os objetivos desta Unidade, vamos (i) retomar os avanços nas
normativas internacionais que se materializaram na Constituição Brasileira e no Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA); (ii) informar a respeito  dos avanços legislativos que complementaram o leque dos direitos adquiridos no ECA;
(iii) realizar breve diagnóstico de implantação do chamado sistema de garantias de direitos; e, (iv) realizar um breve
balanço das políticas de proteção, promoção e defesa dos direitos da criança e do adolescente.

Iniciando esse assunto

O século passado deve ser lembrado, na história da proteção de crianças e


adolescentes, como a era em que este segmento social conquistou o “direito
de ter direitos”. A mobilização de crianças e adolescentes, ativistas sociais,
formuladores de políticas e representantes da comunidade diplomática de 
vários países do mundo resultou no reconhecimento formal de crianças e
adolescentes como sujeitos de direitos.

O leque dos direitos conquistados é amplo: civis, políticos, sociais, econômicos


e culturais. Menciono, aqui, nesta trajetória de conquista de direitos, os três
documentos das Nações Unidas, acerca da temática, mais importantes pela
ênfase específica na proteção de crianças e adolescentes:

(i) A Declaração sobre proteção da criança de 1924, aprovada pela Liga das Nações, organismo antecessor da
Organização das Nações Unidas – ONU, a qual insta autoridades de todos os países do mundo a oportunizarem
condições para o desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes e envidarem esforços para que estas recebam
atenção especial e prioritária em casos de adversidades sociais.

(ii) Um pouco mais de 30 anos mais tarde, as Nações Unidas aprovaram a Declaração dos Direitos da Criança de
1959, a qual instituiu a Doutrina da Proteção Integral e a universalidade dos direitos da criança. Em seu Princípio 1º,
esta Declaração estabelece que:

A criança gozará de todos os direitos enunciados nesta Declaração. Todas as crianças, absolutamente sem qualquer
exceção, serão credoras destes direitos, sem distinção ou discriminação por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião,
opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento ou qualquer outra condição, quer
sua ou de sua família.

(iii) Exatamente 30 anos mais tarde, a ONU aprovou a Convenção sobre os Direitos da Criança (1989). 
A importância desta Convenção está expressa no fato de ser a normativa das Nações Unidas mais ratificada em todo o
mundo – ratificada por todos os países (196), com exceção dos Estados Unidos. Pode ser enfatizada aqui, nesta
apresentação, por algumas de suas mais destacadas conquistas: 

(i) a transformação dos princípios estabelecidos na Declaração Universal dos Direitos da Criança em um marco

normativo internacional da proteção integral de crianças e adolescentes, o qual estabelece explicitamente os
compromissos dos estados partes na efetivação desses direitos;  
(ii) a inserção dos direitos da criança no rol dos direitos humanos, reafirmada
a indissociabilidade e inegociabilidade desses direitos;

(iii) a potencialização de instrumentos jurídicos legais concretos, no âmbito


das legislações nacionais, os quais possibilitam a defesa de crianças e
adolescentes contra as violações aos seus direitos;

(iv) o estabelecimento de marco normativo orientador do processo de


formulação, implementação, monitoramento e avaliação de políticas públicas
para o segmento criança e adolescente; e

(v) como um subproduto, a articulação/organização de um movimento internacional de solidariedade com as crianças


e adolescentes de todo o mundo, particularmente aquelas vivendo em situação de vulnerabilidade social e acometidas
por todas as formas de violência.

Por uma sinergia histórica, os processos de elaboração da Convenção a respeito dos Direitos da Criança e do

Adolescente foram simultâneos aos da inserção dos Arts. 227 e 228 da Constituição Federal e do ECA. Na Constituição
e no ECA estão circunscritos vários dos princípios e diretrizes presentes nessa Convenção. O processo de trâmite para
ratificação da Convenção, em 1990, ocorreu concomitantemente ao do ECA. Por ter sido ratificada pelo Brasil, a
Convenção mencionada é, em si mesma, uma lei no Brasil que pode ser utilizada na proteção da criança e do
adolescente. O ECA foi uma das primeiras legislações mundiais a ter plena sintonia com a Convenção.

Os esforços para concretizar a Convenção a respeito dos Direitos da Criança vêm levando as Nações Unidas a 
pactuarem protocolos com os países partes, como os Protocolos Facultativos à Convenção em relação aos   Direitos da
Criança, de 1989, para proibir que as crianças participem de hostilidades durante conflitos armados, e para eliminar a
venda, a exploração sexual e o abuso sexual de crianças, ambos ratificados pelo Brasil.

Este processo de conquista de direitos não parou. Em um processo dinâmico de constituição da cidadania de crianças
e adolescentes, o instituído pelo ECA vem sendo aperfeiçoado e complementado por uma série de legislações
posteriormente aprovadas. Vale destacar aqui: as alterações no Código Penal relacionadas a coibição da violência
sexual contra crianças e adolescentes; a Lei do Sistema Nacional Socioeducativo; a Lei da Convivência Familiar e da

Adoção; o Marco Normativo da Primeira Infância e, mais recentemente, a Lei nº 13.431/2017, denominada Lei do
Atendimento Integrado e da Escuta Protegida e a Lei Henry Borel (Lei nº 14.344/2022). Como no processo de
elaboração e aprovação do ECA, o UNICEF apoiou o Estado brasileiro por meio de parcerias com a Frente Parlamentar
de Promoção e Defesa dos Direitos da Criança, a Frente Parlamentar pela Primeira Infância, com vários órgãos
públicos e várias organizações da sociedade civil.

Os resultados desses esforços legislativos vão gradualmente impactando a realidade brasileira com a constituição do 

sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente, os avanços nos campos da saúde, educação e assistência
social e da proteção especial à redução do trabalho infantil.
Contudo, demonstraremos, os órgãos de garantia de direitos, em geral, possuem estruturas muito frágeis e os
números de crianças e adolescentes vítimas de violência são exorbitantes.

As conquistas de direitos, os avanços e os desafios no ‘atendimento’ dos direitos da criança e do


adolescente no Brasil

Nas seções subsequentes, realizaremos um breve balanço legislativo das políticas sociais e do sistema de garantia de
direitos da criança e do adolescente.

O esforço legislativo para complementar os direitos da criança e do adolescente


O processo de conquista de direitos não parou com o ECA. A seguir, selecionamos algumas das mais importantes leis
aprovadas que produziram alterações ou complementações diretas ao Estatuto.

1991 - A Lei nº 8.242 cria o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente - CONANDA, órgão colegiado
permanente, de caráter deliberativo, previsto no Art. 88 da Lei nº 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA). O Conanda é um dos principais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos. 

2009 – O Congresso aprova a Lei nº 12.010: Garantia do direito à convivência familiar de crianças e adolescentes (Lei
da adoção).

2012 - O Congresso Nacional aprova a Lei nº 12.594: Institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo
(Sinase) e regulamenta a execução das medidas socioeducativas destinadas a adolescente que pratique ato
infracional.

2012 – O Congresso Nacional aprova a Lei nº 12.696 que unifica o processo de escolha para os Conselhos Tutelares e
estabelece plataforma mínima de direitos.

2014 – O Congresso Nacional aprova a Lei nº 13.010 que estabelece o Direito da Criança e do Adolescente a serem
educados e cuidados sem o uso de castigos físicos ou tratamento cruel ou degradante (Lei Menino Bernardo).

2016 – O Congresso Nacional aprova a Lei nº 13.257 que institui o marco legal da Primeira Infância.

2017 – O Congresso aprova a Lei nº 13.509 que dispõe a respeito da entrega voluntária, destituição do poder familiar,
acolhimento, apadrinhamento, guarda e adoção de crianças e adolescentes. 
2017 - Em 04 de abril é aprovada a Lei nº 13.431/2017, que estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e
do adolescente vítima ou testemunha de violência e altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da
Criança e do Adolescente). 

2022 – O Congresso Nacional aprova a Lei nº 14.344/2022 – denominada menino Henry Borel, que cria mecanismos
para a prevenção e o enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a criança e o adolescente.

Embora a defesa dos direitos conquistados tenha enfrentado muitos desafios como, por exemplo, as tentativas de
redução da maioridade penal, as novas legislações foram agregações positivas ao Estatuto da Criança e do
Adolescente.

Confira a animação para rever a linha do tempo que acabamos de ver.

  


200 anos Unid 4 O esforço legislativo para complementar os direitos da criança e do adolescente

Vamos testar seus conhecimentos?  


Veja se consegue responder à questão a seguir.

Na próxima seção, vamos tratar da construção do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente
Aproveitamos para fazer uma sondagem inicial.
A melhor definição de SGDCA seria o conjunto de órgãos do sistema de segurança e justiça.
 

Esta afirmativa é falsa ou verdadeira?

 A afirmativa é verdadeira. 
 A afirmativa é falsa.

 Verificar resposta

A construção do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente



Os anos 1990 foram marcados pela construção das novas formas de institucionalidade estabelecidas pela
Constituição, pelo ECA e pelo redesenho das políticas sociais para crianças e adolescentes no país.

Os alicerces da saúde, da educação e da assistência social foram estabelecidos na década de 1990, Sistema Único de
Saúde; em 1993 – o Congresso Nacional aprova a Lei Orgânica da Assistência
Social (LOAS); em 1996 – é aprovada, pelo Congresso Nacional, a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação, nº 9.394.

Os resultados dessas legislações aprovadas vão gradualmente impactando a


realidade brasileira. Um dos seus resultados mais expressivos foi a instituição
de um sistema de proteção de crianças e adolescentes baseado em direitos,
na doutrina da proteção integral, e não nas doutrinas da situação irregular ou
do bem-estar social.

Com o propósito de “tirar a lei do papel” e torná-la uma realidade, os anos 


1990 foram decisivos para a estruturação do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente.

No campo dos mecanismos de participação social no processo de formulação e monitoramento de políticas públicas, o
ECA instituiu os Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente nos âmbitos municipal, estadual e federal. De
maneira inovadora, o Brasil criou um mecanismo de aplicação de medidas administrativas, visando prevenir a
judicialização ou desjudicializar aspectos da proteção de crianças e adolescentes que são efetivamente de justiça
social e não de natureza jurídico-legal, que são os Conselhos Tutelares.

No campo da segurança e da justiça, o ECA e as leis posteriores instituíram
unidades policiais e núcleos, centros e varas especializadas em infância e
juventude. Desta maneira, o SGD da Criança e do Adolescente é também
configurado nas intersecções com outros sistemas setoriais: o Sistema Único
de Saúde, o Sistema Único de Assistência Social e o Sistema Educacional (em
processo de estruturação) e o Sistema de Justiça, o qual, por sua vez,
experienciaram significativos avanços institucionais no campo dos trâmites dos
crimes contra as crianças e os adolescentes.

Os números desse Sistema chamam nossa atenção:

5.084 Conselhos de Direitos - cobertura 91,4%.


5.472 Conselhos Tutelares - cobertura 98,3%.
Delegacias especializadas em infância e juventude nas capitais dos estados.
26 estados brasileiros com Centros Operacionais das Promotorias de Justiça da Infância e da Juventude.

796 Núcleos especializados em infância e adolescência das Defensorias Públicas (34,7%).
133 varas especializadas na infância e juventude (competência exclusiva) e 1.137 com competência cumulativa.

Os números anteriormente mencionados oferecem as dimensões desse SGD. Especialistas vinculados aos organismos
internacionais avaliam que talvez o Brasil possua o maior sistema de proteção de crianças, baseado nos direitos da
criança, do mundo. Contudo, na nossa percepção, mais importante que as dimensões desse Sistema, vale medir seu
significado pelos resultados obtidos. E, aqui, adianto um dos nossos desafios centrais: os impactos desse sistema nas 
políticas públicas para a infância e a juventude, nas decisões do sistema de
justiça e na vida das crianças e adolescentes que são ainda muito pouco
conhecidos. Uma pergunta chave que se pode fazer é: De que maneira esse
SGD vem contribuindo para a construção da cidadania de crianças e
adolescentes no país?      

Um breve balanço das políticas de proteção, promoção e defesa


dos direitos da criança e do adolescente

           

Na estrutura do governo federal, no início dos anos 1990, o Governo Collor de Melo extinguiu a Fundação do Bem-
Estar do Menor e criou o Centro Brasileiro para a Infância (CBIA) e, em 1995, o Governo Fernando Henrique Cardoso
extinguiu o CBIA e a LBA e criou, no âmbito do Ministério da Justiça, a Secretaria de Direitos Humanos, que passou a

abrigar a articulação das políticas para a infância e que, nos governos Lula, tornou-se uma Secretaria Especial de
Direitos Humanos. No governo Dilma, em 2015, transformou-se em Ministério da Mulher, Igualdade Racial e Direitos
Humanos. Em 2019, no Governo Bolsonaro, o Ministério foi reestruturado e passou a ser designado Ministério da
Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, o qual possui uma secretaria específica para a promoção, proteção e
defesa de direitos, a Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Essa Secretaria coordena, entre
outras, as ações de fortalecimento dos Conselhos de Direitos e Tutelares, do Sistema Nacional Socioeducativo, das

ações de enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes, do programa de proteção aos adolescentes
ameaçados de morte.
No mapeamento de resultados, nesses mais de 30 anos de vigência do ECA, do ponto de vista das políticas que
afetam essas crianças e adolescentes e suas famílias, é possível verificar avanços em três campos: o das políticas
econômicas, o das políticas sociais e o da proteção especial contra as diversas formas de violência. Embora com
impactos ainda tímidos das políticas econômicas associadas às políticas assistenciais de transferência de renda, as
crianças pobres da geração ECA vivem em lares que convivem com patamares de renda um pouco melhores que em 
décadas anteriores.

No campo das políticas sociais – saúde, educação e assistência social – os resultados mais significativos foram nos
campos da redução da mortalidade infantil e da redução das taxas de crianças/adolescentes fora da escola:  hoje, as
crianças da geração ECA têm mais chances de sobreviver e de acessar à educação pública e gratuita.

No âmbito da proteção especial, o país elaborou e implementou planos de enfrentamento a diversas formas de
violações contra os direitos da criança e do adolescente; dentre estes, devemos mencionar: as duas edições do Plano 

Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes (2000 e 2014); três edições do Plano
Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil (2004, 2009 e 2019); o Plano Nacional de Convivência Familiar e
Comunitária (2006);  o Plano Nacional Primeira Infância (2010) e o Plano Nacional Decenal Socioeducativo (2013).

Em 2012, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) aprovou o Plano Nacional dos
Direitos Humanos de Criança e do Adolescente (PNDHCA).

A partir de 2016, nos estados como Ceará, Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo,
onde foram criados os comitês de prevenção aos homicídios de adolescentes,
vêm sendo elaborados planos estaduais de prevenção aos homicídios de
adolescentes. E, em 2022, o Governo Federal lançou o Pacto Nacional de
Prevenção e de Enfrentamento da Violência Letal contra Crianças e
Adolescentes (Decreto nº 11.074/2022).  

Também em 2022, elaborou-se o Plano Nacional de Enfrentamento da


Violência contra Crianças e Adolescentes, no qual, pela primeira vez, 
abarcaram-se as quatro formas de violências tipificadas pela Lei nº
13.431/2017, da Escuta Protegida, as violências psicológica, física, sexual e institucional.

Neste campo, da proteção especial, os dois resultados mais efetivos, e de maior escala, foram a redução das taxas de
sub-registro de nascimento e do trabalho infantil. Vale registrar que este último alcançou uma redução da ordem de
quase 60% nos últimos 20 anos.


Vamos testar seus conhecimentos? 
Veja se consegue responder à questão a seguir.

Mencionamos que um dos grandes avanços do período de institucionalização do ECA no Poder Judiciário foi a c
varas especializadas em infância e juventude. Contudo, sabemos que estas varas atuam no campo da proteção,
são os seus órgãos que julgam os crimes contra crianças e adolescentes.

Nesta área criminal, um campo sofreu o crescimento mais vertiginoso nestas duas primeiras décadas deste sécu
área de escuta protegida da criança, principalmente com a implantação da metodologia de depoimento especial.

Responda se a afirmativa é falsa ou verdadeira. 


 A afirmativa é verdadeira.

 A afirmativa é falsa.

 Verificar resposta


Resultado expressivo vem sendo sentido na implementação da Lei nº 13.431/2017 e do Decreto nº 9.603/2018 que
estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente
vítimas ou testemunhas de violência. A legislação prevê a criação de
mecanismos de coordenação intersetorial e integração dos órgãos e atividades
de resposta à violência contra crianças e adolescentes, elaboração de fluxos e
protocolos de atendimento integrado, implantação da metodologia do
depoimento especial, no sistema de justiça, para crianças e adolescentes
vítimas ou testemunhas de violência. Para ilustrar o resultado desta última
ação, os projetos de depoimento especial, que garantem o direito à escuta
protegida, cresceram de duas salas, em 2003, para mais de 1.200 salas em
2022.

Infelizmente, os indicadores de violência contra crianças e adolescente não têm caído nestas últimas décadas de
vigência do ECA. A pandemia da Covid 19, que afetou o mundo inteiro, impactou ainda mais duramente a vida de

crianças e adolescentes. Quatro formas de violência (negligência/abandono, violência psicológica, física e sexual)
somam mais de 90% das denúncias e notificações de violência contra as crianças e os adolescentes. Segundo estudo
do Unicef e do Fórum de Segurança Pública, de 2021, a cada dia cerca de 120 crianças e adolescentes são estuprados
e outras 20 são assassinadas, em grande parte por arma de fogo (UNICEF, FBSP, 2021).

Se os avanços são motivo de comemoração, os desafios, contudo, são motivo de muita preocupação: (i) o baixo nível
de institucionalidade do Sistema de Garantia de Direitos – SGD, evidenciado na fragilidade do funcionamento dos seus 

órgãos e na falta de padrão metodológico; (ii) falta de articulação entre as políticas econômicas, as políticas sociais
básicas (setoriais) e as medidas de proteção especial para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade
social; (iii) a ênfase na proteção especial com pouca incidência sobre as
causas estruturais dos problemas; (iv) a falta de políticas de prevenção de
todas as formas de violência contra as crianças e os adolescentes.
Considerando-se que grande parte da violência contra crianças e adolescentes
é perpetrada dentro de casa, faz-se premente levar as políticas de direitos
humanos para um contingente significativo de lares brasileiros; e (v) os níveis
de revitimização de crianças e adolescentes no seu contato com o SGD,
incluindo as instituições da rede de serviços e os sistemas de segurança e
justiça.

Com base nos últimos relatórios que o Brasil apresentou ao Comitê dos Direitos da Criança das Nações Unidas, que
monitora a implementação da Convenção sobre os Direitos da Criança, em 2012, as Nações Unidas apresentaram as
seguintes sugestões ao Brasil para aprimoramento do seu sistema de proteção às crianças e aos adolescentes:

Maiores investimentos na implementação do Plano Decenal dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes;

Fortalecimento dos esforços para combater a discriminação e a estigmatização e exclusão social de crianças que
vivem na pobreza em áreas urbanas marginalizadas, como favelas, crianças em situação de rua e crianças afro-
brasileiras e indígenas;
Priorização do Orçamento Criança;
Criação e implementação de mecanismos de coordenação intersetorial de políticas integrais de proteção às
crianças e adolescentes;

Melhoria nos sistemas de produção de dados;
Implementação de mecanismos independentes de monitoramento das políticas para infância.
Um breve balanço da mobilização da sociedade em prol dos direitos da criança e do adolescente

A ampla mobilização social que ganhou muita visibilidade nacional por ocasião da elaboração do ECA foi
gradativamente assumindo as tarefas de implementação do ECA nos níveis estaduais e municipais.

Os Fóruns DCAs se multiplicaram pelo país ainda na primeira década de vigência do ECA. Aos poucos, foram surgindo
fóruns específicos como o do trabalho infantil, o Comitê Intersetorial de Enfrentamento da Violência Sexual contra
Crianças e Adolescentes, os Comitês pela Primeira Infância.

Na primeira década de aprovação do ECA 1990, o UNICEF e o governo brasileiro promoveram os pactos pela infância,
mobilizando prefeitos e governadores para priorizarem as políticas para a infância e a adolescência.

As conferências dos direitos da criança organizadas nos níveis municipais, estaduais e nacional vêm pautando os
trabalhos dos conselhos de direitos das crianças e dos adolescentes. 
A participação das próprias crianças e adolescentes na defesa dos seus direitos vem crescendo muito desde a
aprovação do ECA. Os conselhos de várias cidades, estados e do nível federal vêm criando e facilitando a articulação
das comissões de participação de adolescentes, as CPAs.

As campanhas do 18 de maio, instituídas pela Lei nº 9.970/2000, Dia Nacional de Luta pelo Fim da Violência Sexual
contra a Criança e o Adolescente, e, mais recentemente, a Campanha Maio Laranja, instituída pela Lei nº 
14.432/2022 vêm ganhando ampla adesão da sociedade, contando com manifestações de milhares de municípios.
Mais recentemente, várias organizações da sociedade civil articularam o
Movimento 227, em referência ao artigo da Constituição Brasileira, na busca
de ganhar a adesão dos candidatos à presidência da república ao princípio
Criança Prioridade Absoluta.

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O processo de conquista de direitos é dinâmico e prosseguiu para as décadas seguintes após a aprovação do Estatuto 

da Criança e do Adolescente.
Entre os avanços na implementação do ECA tivemos:

i) a implantação do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente;

ii) avanços na estruturação do Sistema Único de Saúde (SUS), cobertura da saúde infantil e redução da mortalidade
infantil;

iii) avanços na redução do número de crianças e adolescentes fora da escola;

iv) avanços na estruturação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e na cobertura de benefícios como o de
programas de transferência de renda;

v) reduções nos índices de sub-registro de nascimento e do trabalho infantil;

vi) estruturação do Sistema Nacional Socioeducativo (SINAN);

vii) avanço no marco legal e em políticas para a Primeira Infância; 


viii) melhoria no acesso de crianças e adolescentes, vítimas de violência ao sistema de justiça, particularmente com a
implantação do Depoimento Especial;

ix) incremento na participação de crianças e adolescentes em projetos sociais e nas comissões de participação de
adolescentes (CPAs), dos Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCAs).


Entretanto, muitos problemas ainda desafiam a garantia de direitos. Do lado dos desafios, tem-se a persistência, se
não o incremento, da violência contra crianças e adolescentes nos seus diversos matizes: tráfico para fins de trabalho
e exploração sexual; violência sexual online;  violências psicológica e física, com destaque para os homicídios de
adolescentes; crianças sem cuidados parentais ou alternativos,  violações de direitos humanos contra crianças e
adolescentes migrantes; no atendimento dos direitos de crianças e adolescentes com deficiência e as tendências de
redução da maioridade penal. 

Contudo, o Brasil possui um movimento de defesa de direitos da criança e do adolescente que voltou a se mobilizar
em âmbito nacional em torno da Agenda 227, em referência ao Art. 227 da Constituição Brasileira. Este movimento
tem o potencial de criar espaços para a rearticulação deste amplo movimento social que deve encetar esforços para
produzir os avanços comprometidos pelo Brasil ao assinar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS.


Embora os economistas tenham considerado os anos 1980 como ‘década perdida’ da economia brasileira, esta foi a
principal década de conquista de direitos para crianças e adolescentes.  Esses anos foram muito produtivos para a
infância e a adolescência, pois:

(i) As crianças e adolescentes haviam se tornado atores sociais coletivos – sujeitos políticos;

(ii) Ademais de sujeitos da história e do processo pedagógico, haviam alçado, ainda que informalmente, a categoria
de sujeitos de direitos;
(iii) A agenda da sociedade civil mudou do desenvolvimento de programas alternativos para o de participação em
processos de formulação de políticas públicas alternativas (incidir sobre as políticas para ganhar escala e acelerar a
expansão do estado de direitos para as populações excluídas; e, mais que isso;

(iv)  A fundação de um novo modo de governar baseado em direitos construídos no contraponto do estado de bem-
estar.

Santos (2004, p. 41) anotou, em seu artigo, o seguinte balanço: a concepção de crianças e adolescentes como
sujeitos políticos e a infância e adolescência como um segmento mobilizável da população foi, sem dúvida, “a maior
conquista do movimento em defesa dos direitos da criança e do adolescente no século XX”. De um ponto de vista
simbólico, pode-se afirmar que a condição de sujeitos de direitos das crianças e adolescentes foi conquistada pela
ação dos meninos e meninas de rua, um dos segmentos mais excluídos da população.

Contudo, o baixo impacto das políticas sociais em questões estruturais como pobreza, racismo, sexismo e violência
contra crianças e adolescentes nos leva a examinar os caminhos tomados e deixa perguntas como: 
Quais são os motivos desses avanços irregulares e desse baixo impacto da garantia de direitos proposta pelo ECA na
melhoria das condições de vida de crianças e adolescentes?

Pensando no texto da lei: A concepção de política especializada, as diretrizes e os mecanismos estabelecidos para
formulação e implementação da política de “atendimento” dos direitos da criança e do adolescente (Art. 86) foram e
continuam sendo os mais adequados?

A aposta do ECA na universalização dos direitos sociais (fundamentais) e na democracia participativa (conselhos etc.)
ofereceu ferramentas suficientes para a solução dos problemas estruturais que afetam a vida das nossas crianças e
adolescentes?

Estão, estes fatores, relacionados a aspectos do texto da Lei ou à sua implementação (circunscrito à cultura de baixo
nível de law enforcement no Brasil)? 

Ao que tudo indica, ainda vamos ter dificuldades para atingir a meta dos Objetivos do Desenvolvimento Social (ODS)
prevista no ODS 16.2 de eliminar todas as formas de violência contra crianças e adolescentes até 2030.

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Parabéns por ter chegado até aqui!

Para finalizar essa Unidade, assista ao vídeo: Fim de Papo e realize as atividades avaliativas que estão disponíveis
na página do curso. 
São duas atividades: a fixação de conteúdo e o vamos colocar em prática?

Confira o Vídeo: "Fim de Papo".


Unidade 4 Fim

Avaliação: Fixação do conteúdo - Unidade 4



 Not attempted
Restrito Disponível se: A atividade Avaliação: Vamos colocar em prática? - Unidade 3 esteja marcada como
concluída

Avaliação: Vamos colocar em prática? - Unidade 4

 Not attempted

Restrito Disponível se: A atividade Avaliação: Vamos colocar em prática? - Unidade 3 esteja marcada como
concluída

Avaliação do Curso

Certificado

Restrito Disponível se:
Todas:
A atividade Avaliação: Vamos colocar em prática? - Unidade 3 esteja marcada como concluída
A atividade Avaliação: Fixação do conteúdo - Unidade 4 esteja marcada como concluída
A atividade Avaliação: Vamos colocar em prática? - Unidade 4 esteja marcada como concluída

A atividade Avaliação do Curso esteja marcada como concluída
Unidade 1 Unidade 2 Unidade 3 Unidade 4


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