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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
SUMÁRIO
6. DA PREVENÇÃO ......................................................................................................................... 34
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
ANTECEDENTES HISTÓRICOS
Entretanto, é somente a partir da Convenção da ONU sobre os Direitos das Crianças (de
20/11/1989, assinada pelo Brasil em 26/01/90 e aprovada pelo Decreto Legislativo nº 28, de
14/09/90) que se deu mais visibilidade às crianças, enquanto sujeito de direito, carentes de proteção
especial. Assim, a criança, em sentido lato1, não mais será vista como mera extensão da família, mas
como pessoas iguais aos adultos, tendo direitos próprios, oponíveis, inclusive, aos de seus pais.
É a partir dessa nova concepção de peculiar necessidade de proteção, tendo em vista o estágio
de desenvolvimento da criança e do adolescente, que se desenvolve toda a doutrina da proteção
infanto-juvenil, baseada na ideia de proteção integral (teoria adotada pelo ECA - art. 1º2).
A distinção entre criança e adolescente tem importância, sobretudo, no que tange às medidas
aplicáveis à prática de ato infracional: à criança somente pode ser aplicada medida de proteção (art.
105, ECA); ao adolescente, medida de proteção (art. 112, VII, ECA), bem como medida
socioeducativa (art. 112, I a VI, ECA).
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
ATO INFRACIONAL
MEDIDA DE PROTEÇÃO
Dessa forma, o direito da criança e do adolescente está situado na esfera do Direito Público,
em decorrência do interesse do Estado na proteção integral da infância e da juventude.
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BARROS, Guilherme Freire de Melo. Direito da Criança e do Adolescente. 2. Ed. Rev., amp. E atual. Bahia: Editora JusPodivm, 2014, p. 25.
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Ainda, como norma especial, veja-se o que prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente:
Art. 4º. É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público
assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
O princípio da prioridade absoluta tem como objetivo principal a proteção integral das crianças
e dos adolescentes, assegurando a primazia que facilitará a concretização dos direitos fundamentais
enumerados no artigo 227, caput, CF, e renumerados no caput do art. 4º, ECA.
Nesse sentido, o Estatuto da Criança e do Adolescente trás em seu art. 15 a previsão legal do
princípio da dignidade quando reza que:
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e a dignidade como
pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis,
humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.
Importante se faz ressaltar que o ECA fornece as diretrizes para a proteção ao respeito e à
dignidade da criança e do adolescente, estabelecendo na primeira parte do art. 175, esse direito em
três subtipos, quais sejam: direito à integridade física, psíquica e moral. Portanto, a lei vem proteger
a criança e o adolescente contra qualquer ofensa ilícita ou ameaça de ofensa à sua personalidade
física e moral.
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Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a
preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.
6
MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade (coordenação). Curso de direito da criança e do adolescente: aspectos teóricos e práticos. 7.
Ed. Rev. E atual. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 61.
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Ademais, a sociedade em geral também deve ser responsabilizada pela primazia dos direitos
das crianças e dos adolescentes, uma vez que cobra deles comportamentos previamente
estabelecidos como adequados (como bons modos, educação, cultura, etc.), mas nem sempre deixa
à disposição os meios necessários para atender a essas expectativas.
Por fim, o Poder Público, em todas as suas esferas (legislativa, judiciária e executiva), tem o
dever de respeitar e resguardar, com primazia, os direitos fundamentais infantojuvenis, o que muitas
vezes não se vê na prática.
PRINCÍPIO DA EXCEPCIONALIDADE
A observação desse princípio faz-se necessária com extrema importância e cautela no tocante
ao momento da aplicação de medidas privativas de liberdade, consistindo assim como uma exceção
na aplicação da medida socioeducativa privativa de liberdade que somente será aplicada na total
impossibilidade ou inadequação de qualquer outra medida em meio aberto.
Sendo assim, as medidas privativas de liberdade “devem ser as últimas medidas a serem
aplicadas pelo Juiz, quando da ineficácia de outras”.7
PRINCIPIO DA BREVIDADE
Esse princípio é um dos regentes na aplicação das medidas privativas de liberdade, e consiste
no limite de tempo da manutenção da medida aplicada, que devera ser o mais breve possível, ou seja
apenas o necessário para reintegrar na sociedade o adolescente em conflito com a lei.
Dessa maneira “a medida deve perdurar tão somente para a necessidade de readaptação do
adolescente”.8
Tal princípio é um dos basilares na aplicação da medida socioeducativa de internação, uma vez
que esta deverá cumprida em estabelecimento fechado devendo ser breve com duração mínima de
seis meses e máxima de três anos conforme art. 121, §§ 2º e 3º, ECA:
Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de
brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento. (...)
§ 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção ser reavaliada,
mediante decisão fundamentada, no máximo a cada seis meses.
7
ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da criança e do adolescente: doutrina e jurisprudência. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
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ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da criança e do adolescente: doutrina e jurisprudência. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
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Salienta-se que tal princípio encontra-se inserido em diversos dispositivos legais, como os arts.
123, 124, 125, ECA9, que tratam dos direitos e garantias fundamentais dos adolescentes internados,
zelando pela integridade física e mental destes, na reavaliação da medida a cada seis meses e o seu
cumprimento em estabelecimento adequado.
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Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entidade exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele destinado ao abrigo,
obedecida rigorosa separação por critérios de idade, compleição física e gravidade da infração.
Parágrafo único. Durante o período de internação, inclusive provisória, serão obrigatórias atividades pedagógicas.
Art. 124. São direitos do adolescente privado de liberdade, entre outros, os seguintes:
I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do Ministério Público;
II - peticionar diretamente a qualquer autoridade;
III - avistar-se reservadamente com seu defensor;
IV - ser informado de sua situação processual, sempre que solicitada;
V - ser tratado com respeito e dignidade;
VI - permanecer internado na mesma localidade ou naquela mais próxima ao domicílio de seus pais ou responsável;
VII - receber visitas, ao menos, semanalmente;
VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos;
IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio pessoal;
X - habitar alojamento em condições adequadas de higiene e salubridade;
XI - receber escolarização e profissionalização;
XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer:
XIII - ter acesso aos meios de comunicação social;
XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença, e desde que assim o deseje;
XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de local seguro para guardá-los, recebendo comprovante daqueles porventura
depositados em poder da entidade;
XVI - receber, quando de sua desinternação, os documentos pessoais indispensáveis à vida em sociedade.
§ 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade.
§ 2º A autoridade judiciária poderá suspender temporariamente a visita, inclusive de pais ou responsável, se existirem motivos sérios e
fundados de sua prejudicialidade aos interesses do adolescente.
Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade física e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas adequadas de contenção e
segurança.
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
DIREITOS DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE
Nesse aspecto, a Lei da Primeira Infância (Lei n. 13.257/16) trouxe alterações significativas
para o Estatuto da Criança e do Adolescente, entre eles, alterou o art. 8º, que passou a determinar
que deve ser assegurado “a todas as mulheres o acesso aos programas e às políticas de saúde da
mulher e de planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção humanizada à
gravidez, ao parto e ao puerpério e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no âmbito
do Sistema Único de Saúde”.
É assegurada, à gestante e à mulher com filho na primeira infância que se encontrem sob
custódia em unidade de privação de liberdade, ambiência que atenda às normas sanitárias e
assistenciais do Sistema Único de Saúde para o acolhimento do filho, em articulação com o sistema
de ensino competente, visando ao desenvolvimento integral da criança.
O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à saúde bucal das crianças e das gestantes, de
forma transversal, integral e intersetorial com as demais linhas de cuidado direcionadas à mulher e à
criança. Além de ser obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades
sanitárias a atenção odontológica à criança terá função educativa protetiva e será prestada,
inicialmente, antes de o bebê nascer, por meio de aconselhamento pré-natal, e, posteriormente, no
sexto e no décimo segundo anos de vida, com orientações sobre saúde bucal.
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Conforme o art. 18-A, ECA, incluído pela Lei n. 13.010/14, a criança e o adolescente “têm o
direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante,
como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos
integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores de medidas
socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-
los”. De acordo com o parágrafo único do dispositivo mencionado em questão:
Art. 18-A. (...)
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se:
I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força física
sobre a criança ou o adolescente que resulte em:
a) sofrimento físico; ou
b) lesão;
II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma cruel de tratamento em relação à
criança ou ao adolescente que:
a) humilhe; ou
b) ameace gravemente; ou
c) ridicularize.
O art. 18-B, ECA, prevê as medidas cabíveis no caso de descumprimento das disposições:
Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, os responsáveis, os agentes públicos
executores de medidas socioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar de
crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los ou protegê-los que utilizarem castigo físico
ou tratamento cruel ou degradante como formas de correção, disciplina, educação ou
qualquer outro pretexto estarão sujeitos, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, às
seguintes medidas, que serão aplicadas de acordo com a gravidade do caso:
I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família;
II - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;
III - encaminhamento a cursos ou programas de orientação;
IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento especializado;
V - advertência.
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Tal direito, via de regra, traduz-se no fato de que a criança deverá ser criada em sua família
natural que, de acordo com o art. 25, ECA, é a “comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e
seus descendentes”. Em último caso, pela sua família extensa ou ampliada, sendo aquela que se
estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos
com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade. É
importante lembrar que o reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo,
indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer
restrição, observado o segredo de Justiça.
Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes
ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais. A mãe
e o pai, ou os responsáveis, têm direitos iguais e deveres e responsabilidades compartilhados no
cuidado e na educação da criança, devendo ser resguardado o direito de transmissão familiar de suas
crenças e culturas, assegurados os direitos da criança estabelecidos em lei.
É pertinente ressaltar, ainda, que a falta ou a carência de recursos materiais não constitui
motivo suficiente para a perda ou a suspensão do poder familiar.
Importante salientar que será garantida a convivência da criança e do adolescente com a mãe
ou o pai privado de liberdade, por meio de visitas periódicas promovidas pelo responsável ou, nas
hipóteses de acolhimento institucional, pela entidade responsável, independentemente de
autorização judicial (art. 19, §4º, ECA). Ainda, será garantida a convivência integral da criança com a
mãe adolescente que estiver em acolhimento institucional (art. 19, §5º, ECA).
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
o
§ 4 Na hipótese de não haver a indicação do genitor e de não existir outro representante
da família extensa apto a receber a guarda, a autoridade judiciária competente deverá
decretar a extinção do poder familiar e determinar a colocação da criança sob a guarda
provisória de quem estiver habilitado a adotá-la ou de entidade que desenvolva programa
de acolhimento familiar ou institucional.
o
§ 5 Após o nascimento da criança, a vontade da mãe ou de ambos os genitores, se
houver pai registral ou pai indicado, deve ser manifestada na audiência a que se refere o §
o
1 do art. 166 desta Lei, garantido o sigilo sobre a entrega.
§ 6º Na hipótese de não comparecerem à audiência nem o genitor nem representante da
família extensa para confirmar a intenção de exercer o poder familiar ou a guarda, a
autoridade judiciária suspenderá o poder familiar da mãe, e a criança será colocada sob a
guarda provisória de quem esteja habilitado a adotá-la.
o
§ 7 Os detentores da guarda possuem o prazo de 15 (quinze) dias para propor a ação de
adoção, contado do dia seguinte à data do término do estágio de convivência.
o
§ 8 Na hipótese de desistência pelos genitores - manifestada em audiência ou perante a
equipe interprofissional - da entrega da criança após o nascimento, a criança será mantida
com os genitores, e será determinado pela Justiça da Infância e da Juventude o
acompanhamento familiar pelo prazo de 180 (cento e oitenta) dias.
o
§ 9 É garantido à mãe o direito ao sigilo sobre o nascimento, respeitado o disposto no
art. 48 desta Lei.
§ 10. Serão cadastrados para adoção recém-nascidos e crianças acolhidas não procuradas
por suas famílias no prazo de 30 (trinta) dias, contado a partir do dia do acolhimento.
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
É dever dos pais ou responsáveis a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede
regular de ensino.
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Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz.
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
LIMITES À CONTRATAÇÃO
A Constituição prevê, em seu art. 7º, XXXIII, a proibição de qualquer trabalho a menores de
dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos. Tal vedação é reproduzida
no art. 60, ECA. O dispositivo constitucional proíbe o trabalho noturno, perigoso ou insalubre a
menores de dezoito anos.
Além disso, em caso de força maior, em que o trabalho seja imprescindível para a empresa, o
menor poderá prestar horas extras acrescidas do adicional, limitado 12 horas.
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Locais de trabalho
De acordo com o art. 405, CLT:
Art. 405. Ao menor não será permitido o trabalho:
I - nos locais e serviços perigosos ou insalubres, constantes de quadro para esse fim
aprovado pelo Diretor Geral do Departamento de Segurança e Higiene do Trabalho;
II - em locais ou serviços prejudiciais à sua moralidade.
§ 2º O trabalho exercido nas ruas, praças e outros logradouros dependerá de prévia
autorização do Juiz de Menores, ao qual cabe verificar se a ocupação é indispensável à sua
própria subsistência ou à de seus pais, avós ou irmãos e se dessa ocupação não poderá
advir prejuízo à sua formação moral.
Além disso, de acordo com o art. 405, § 3º, CLT, considera-se prejudicial à moralidade do
menor o trabalho:
a) prestado de qualquer modo, em teatros de revista, cinemas, boates, cassinos, cabarés,
dancings e estabelecimentos análogos;
b) em empresas circenses, em funções de acrobata, saltimbanco, ginasta e outras
semelhantes;
c) de produção, composição, entrega ou venda de escritos, impressos, cartazes, desenhos,
gravuras, pinturas, emblemas, imagens e quaisquer outros objetos que possam, a juízo da
autoridade competente, prejudicar sua formação moral;
d) consistente na venda, a varejo, de bebidas alcoólicas.
Salário
O art. 7º, XXX, CF, veda a diferenciação de salários por motivos de idade. Assim, no exercício
da mesma função, é garantida, ao menor de 18 anos, a percepção do mesmo salário de outros
empregados maiores de idade.
Trabalho Doméstico
A partir da edição do Decreto n. 6.481/08, proibiu-se o trabalho doméstico aos menores de 18
anos, pois esta norma, atendendo a determinação constante na Convenção n. 182 da Organização
Internacional do Trabalho - OIT, qualificou o trabalho doméstico como uma das piores forma de
trabalho infantil. Tal determinação foi reproduzida no art. 1º, §1º, LC n. 150/15:
Art. 1º. Ao empregado doméstico, assim considerado aquele que presta serviços de
forma contínua, subordinada, onerosa e pessoal e de finalidade não lucrativa à pessoa ou
à família, no âmbito residencial destas, por mais de 2 (dois) dias por semana, aplica-se o
disposto nesta Lei.
Parágrafo único. É vedada a contratação de menor de 18 (dezoito) anos para
o
desempenho de trabalho doméstico, de acordo com a Convenção n 182, de 1999, da
o
Organização Internacional do Trabalho (OIT) e com o Decreto n 6.481, de 12 de junho de
2008.
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Férias
O empregado menor de idade tem direito a férias anuais remuneradas com acréscimo de 1/3.
A peculiaridade, nesse aspecto, em relação a esse trabalhador, se dará em 2 aspectos: (i) o
empregado menor de idade poderá ter suas férias fracionadas (o §2º do art. 134, CLT, foi revogado
pela Lei da Reforma Trabalhista); (ii) direito de coincidir as férias laborais com as escolares (art. 136,
§2º, CLT).
Representantes legais
Os representantes legais do menor de 18 anos têm atuação em algumas situações específicas
relacionadas à extinção contrato de trabalho do representado. Em primeiro lugar, faculta-se ao
responsável pleitear a extinção do contrato de trabalho, caso o serviço possa acarretar prejuízos de
ordem física ou moral (art. 408, CLT). Além disso, em caso de rescisão, é necessária a assinatura do
representante no recibo de quitação das respectivas parcelas, a teor do art. 439, CLT.
Prescrição
No âmbito trabalhista, vigora a regra geral de que o prazo prescricional para o ingresso com a
reclamatória é de até 2 anos após a extinção do contrato de trabalho, objetivando pretensões
referentes aos últimos 5 anos, a contar da propositura da demanda.
Em relação ao trabalhador menor de idade, dispõe o art. 440, CLT, que “contra os menores de
18 anos não corre nenhum prazo de prescrição”.
ESTÁGIO
O conceito de estágio está relacionado a ato educativo escolar supervisionado, que é
desenvolvido no ambiente de trabalho e visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos
que estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação superior, de educação
profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na
modalidade profissional da educação de jovens e adultos.
O estágio poderá ser obrigatório (definido como tal no projeto do curso, cuja carga horária é
requisito para aprovação e obtenção de diploma) ou não-obrigatório (desenvolvido como atividade
opcional, acrescida à carga horária regular e obrigatória), conforme determinação das diretrizes
curriculares da etapa, modalidade e área de ensino e do projeto pedagógico do curso.
O contrato de estágio, se realizado de acordo com os preceitos legais, não cria vínculo
empregatício de qualquer natureza, observados os seguintes requisitos:
- matrícula e frequência regular do educando, atestados pela instituição de ensino;
- celebração de termo de compromisso entre o educando, a parte concedente do estágio e
a instituição de ensino;
- compatibilidade entre as atividades desenvolvidas no estágio e aquelas previstas no termo
de compromisso.
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
privada ou pública que reincidir na irregularidade ficará impedida de receber estagiários por 2 anos,
contados da data da decisão definitiva do processo administrativo correspondente.
É vedada a cobrança de qualquer valor dos estudantes, a título de remuneração pelos serviços
descritos.
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Jornada de trabalho:
Em relação à jornada, a lei estabelece que ela será definida de comum acordo entre a
instituição de ensino, a parte concedente e o aluno estagiário ou seu representante legal, devendo
constar do termo de compromisso ser compatível com as atividades escolares e não ultrapassar (art.
10, Lei n. 11.788/08):
Art. 10. (...)
I – 4 (quatro) horas diárias e 20 (vinte) horas semanais, no caso de estudantes de
educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional de
educação de jovens e adultos;
II – 6 (seis) horas diárias e 30 (trinta) horas semanais, no caso de estudantes do ensino
superior, da educação profissional de nível médio e do ensino médio regular.
A duração total do estágio, na mesma parte concedente, poderá durar, no máximo, 2 anos,
exceto quando se tratar de estagiário portador de deficiência (art. 11, Lei n 11.788/08). O estagiário
poderá receber bolsa ou outra forma de contraprestação que venha a ser acordada, sendo
compulsória a sua concessão, bem como a do auxílio-transporte, na hipótese de estágio não
obrigatório (art. 12, Lei n 11.788/08).
Sempre que o estágio tenha duração igual ou superior a 1 ano, é assegurado ao estagiário que
recebe bolsa o período de recesso remunerado de 30 dias, a ser gozado durante as férias escolares,
preferencialmente (art. 13, Lei n 11.788/08).
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
APRENDIZAGEM
A aprendizagem é regulamentada pela Lei n. 10.097/00, que alterou dispositivos da CLT. Essa
modalidade de trabalho é a única permitida para menores entre 14 e 16 anos, lembrando que o
conceito de estágio está mais relacionado a ato educativo escolar supervisionado do que a trabalho.
Nas localidades onde não houver oferta de ensino médio para o cumprimento do disposto no
§ 1º do art. 428, a contratação do aprendiz poderá ocorrer sem a frequência à escola, desde que ele
já tenha concluído o ensino fundamental.
Assim como ocorre com o contrato de estágio, o contrato de aprendizagem não poderá ser
estipulado por mais de 2 anos, salvo se se tratar de aprendiz portador de deficiência (art. 428, §3º.)
A duração do trabalho do aprendiz não excederá de 6 horas diárias. A lei veda a possibilidade
de prorrogação ou compensação de jornada (art. 432, CLT). No entanto, esse limite diário poderá ser
de até 8 horas diárias para os aprendizes que já tiverem completado o ensino fundamental, se nelas
forem computadas as horas destinadas à aprendizagem teórica (art. 432, §1º, CLT).
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
ESTÁGIO APRENDIZAGEM
Contrato de aprendizagem é o
Estágio é ato educativo escolar contrato de trabalho especial,
supervisionado, desenvolvido no ajustado por escrito e por prazo
ambiente de trabalho, que visa à determinado, em que o
preparação para o trabalho empregador se compromete a
produtivo de educandos que assegurar ao maior de 14 e
estejam frequentando o ensino menor de 24 anos inscrito em
Conceito regular em instituições de programa de aprendizagem
educação superior, de educação formação técnico-profissional
profissional, de ensino médio, metódica, compatível com o seu
da educação especial e dos anos desenvolvimento físico, moral e
finais do ensino fundamental, na psicológico, e o aprendiz, a
modalidade profissional da executar com zelo e diligência as
educação de jovens e adultos. tarefas necessárias a essa
formação.
Idade A partir de 16 anos De 14 a 24 anos
4 horas diárias e 20 horas
semanais: estudantes de
educação especial e dos anos
finais do ensino fundamental, na
modalidade profissional de
educação de jovens e adultos;
6 horas diárias e 30 horas
semanais: estudantes do ensino
Máximo de 6 horas diárias
superior, da educação
O esse limite diário poderá ser
profissional de nível médio e do
de até 8 horas diárias para os
ensino médio regular.
aprendizes que já tiverem
Carga horária O estágio relativo a cursos que
completado o ensino
alternam teoria e prática, nos
fundamental, se nelas forem
períodos em que não estão
computadas as horas destinadas
programadas aulas presenciais,
à aprendizagem teórica.
poderá ter jornada de até 40
horas semanais, desde que isso
esteja previsto no projeto
pedagógico do curso e da
instituição de ensino.
Direito à redução da jornada
pela metade na véspera de
avaliações.
Até 2 anos, exceto quando se Até 2 anos, exceto quando se
Duração tratar de estagiário portador de tratar de aprendiz portador de
deficiência. deficiência.
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Obrigatoriedade de empregar e
De 1 a 5 empregados: 1 matricular nos cursos dos
estagiário; Serviços Nacionais de
De 6 a 10 empregados: até 2 Aprendizagem número de
Proporção em relação ao estagiários; aprendizes equivalente a 5%, no
quadro de pessoal De 11 a 25 empregados: até 5 mínimo, e 15%, no máximo, dos
estagiários; trabalhadores existentes em
Acima de 25 empregados: até cada estabelecimento, cujas
20% de estagiários. funções demandem formação
profissional.
Poderá receber uma bolsa ou
outra forma de contraprestação
que venha a ser acordada,
sendo compulsória a sua
concessão, bem como a do
Deve receber salário
auxílio-transporte, na hipótese
Remuneração mínimo/hora ou condição mais
de estágio não-obrigatório. A
favorável.
eventual concessão de
benefícios relacionados a
transporte, alimentação, saúde
entre outros, não caracteriza
vínculo empregatício.
Completo o período de 1 ano de
estágio, o estagiário tem o O aprendiz menor de 18 anos
direito a um recesso de 30 dias. sempre deverão gozar suas
Férias
Se o estágio tiver duração férias no mesmo período das
inferior a um ano, o recesso será férias escolares.
proporcional.
CTPS Não há assinatura. Há assinatura.
Apenas a manutenção de
estagiários na empresa em
desconformidade com a Lei nº
11.788/08 caracteriza vínculo de
O contrato de aprendizagem é
emprego do educando com a
regido pela CLT, portanto,
parte concedente do estágio
Vínculo de emprego deverão ser observados os
para todos os fins da legislação
aspectos relacionados aos
trabalhista e previdenciária.
encargos sociais e trabalhistas.
Faculta-se ao estagiário a
inscrição como segurado
facultativo em Regime Geral de
Previdência Social.
Alíquota de 2%.
Não há indenização
FGTS Não há recolhimento.
compensatória do FGTS ao final
do contrato.
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
CLT
- O art. 428, § 3º, determina que o contrato de aprendizagem não poderá ser estipulado
por mais de 2 anos, exceto quando se tratar de aprendiz portador de deficiência;
- Regra geral, o contrato de aprendizagem é firmado com adolescentes e jovens maiores de
14 e menores de 24 anos. No entanto, a idade máxima prevista não se aplica a aprendizes
portadores de deficiência, a teor do art. 428, § 5º;
- Para os fins do contrato de aprendizagem, a comprovação da escolaridade de aprendiz
com deficiência deve considerar, sobretudo, as habilidades e competências relacionadas
com a profissionalização (art. 428, §6º);
- Para o aprendiz com deficiência com 18 anos ou mais, a validade do contrato de
aprendizagem pressupõe anotação na CTPS e matrícula e frequência em programa de
aprendizagem desenvolvido sob orientação de entidade qualificada em formação técnico-
profissional metódica (art. 428, §8º);
- O art. 433, I, da CLT prevê que o contrato de aprendizagem poderá ser extinto
antecipadamente por desempenho insuficiente ou inadaptação do aprendiz, salvo para o
aprendiz com deficiência quando desprovido de recursos de acessibilidade, de tecnologias
assistivas e de apoio necessário ao desempenho de suas atividades.
FAMÍLIA NATURAL
Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais (ou qualquer deles) e seus
descendentes abrangendo à família constituída por casamento civil, relação estável e a
monoparental (formada por qualquer dos genitores e seus filhos). Logo, é a família natural que tem
a preferência legal para a criação da criança ou do adolescente, sendo excepcionais as hipóteses de
colocação em família substituta, conforme o artigo 19 do Estatuto.
Por sua vez, entende-se por família extensa ou ampliada todo parente próximo que possuí
vinculo de afinidade ou afetividade. Exemplo: avós, tios, primos. Por fim, quando tratar-se de
preferência da manutenção da família natural, inclui-se a preservação da família extensa ou
ampliada.
23
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
FAMÍLIA SUBSTITUTA
Primeiramente, cumpre destacar que a colocação em família substituta não implica,
necessariamente, em adoção: trata-se de previsão sui generis do Estatuto da Criança e do
Adolescente. Esta ocorre quando nenhum dos pais tem condições de criar a criança.
A colocação em família substituta pode se dar por três formas: a guarda, a tutela e a adoção.
GUARDA
A guarda normalmente é exercida pelo casal, porque é uma das atribuições (e também uma
das obrigações) decorrentes do Poder Familiar. Quando uma criança vive na companhia dos pais, a
guarda é exercida dentro do exercício do poder familiar. Entretanto, não é deste tipo de guarda que
tratam as normas dos artigos 33 a 35 do Estatuto da Criança e do Adolescente, mas sim da guarda
exercida por um terceiro, diferente dos genitores.
A guarda provisória (art. 33, §1º do ECA) é a que se dá em caráter precário, de forma liminar
ou incidental, nos processos de tutela e adoção (exceto adoção por estrangeiros).
A guarda permanente (art. 33, §2º, primeira parte, do ECA) destina-se a atender situações
peculiares, no qual não se logrou, formalmente, uma adoção ou tutela, todavia as medidas adotadas
são mais benéficas a criança e ao adolescente. É medida perene.
A guarda peculiar (art. 33, §2º, segunda parte do Estatuto), por sua vez, visa ao suprimento de
uma falta eventual dos pais, permitindo que o guardião represente o guardado em determinada
situação.
24
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Por fim, cabe ressaltar que a guarda é sempre precária, no sentido de que pode ser revogada
a qualquer tempo, mediante ato judicial fundamentado, ouvido o Ministério Público. Essa
precariedade é que a diferencia da tutela ou da adoção11.
TUTELA
É a segunda modalidade de colocação da criança ou adolescente em família substituta. Seu
objetivo é possibilitar que a criança ou adolescente seja assistida ou representada. Diferentemente
da guarda, é pressuposto para a concessão de tutela que seja decretada a perda ou suspensão do
poder familiar12.
O art. 37, ECA, disciplina a situação do tutor indicado pelos pais, via testamento ou documento
idôneo, cujo seu parágrafo único dispõe que o melhor interesse da criança e do adolescente,
verificado no caso concreto, pode sobrepor-se à disposição de última vontade dos pais. Assim, se
houver pessoa em melhores condições de cuidar dos interesses da criança ou adolescente do que
aquela indicada pelos pais, fica afastada a disposição de última vontade13.
11 Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência material, moral e educacional à criança ou adolescente, conferindo a seu
detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais.
§ 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato, podendo ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos procedimentos de tutela e
adoção, exceto no de adoção por estrangeiros.
§ 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos casos de tutela e adoção, para atender a situações peculiares ou suprir a falta
eventual dos pais ou responsável, podendo ser deferido o direito de representação para a prática de atos determinados.
§ 3º A guarda confere à criança ou adolescente a condição de dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive
previdenciários.
IMPORTANTE – POSIÇÃO DO STJ: como acima referido, o art. 33, § 3º dispõe que a guarda confere a condição de dependente à criança
ou ao adolescente inclusive para fins previdenciários. Em contrapartida, a Lei 8.213/91 (com alterações dadas pela Lei 9.528/97) inclui
entre seus dependentes apenas o tutelado (nenhuma referência é feita àquele que esta sob a guarda do segurado). A antiga posição do
STJ é no sentido de que prevalece a lei previdenciária, por ser específica, razão por que aquele sob guarda não tem direito a benefícios
previdenciários. Contudo, em dezembro de 2016, a questão foi pacificada pela Corte Especial do STJ, no sentido de que a criança ou
adolescente que está sob guarda é considerada dependente do guardião. Desse modo, embora a lei previdenciária seja norma específica
da previdência social, não menos certo é que a criança e adolescente contam com proteção de norma específica que confere ao menor sob
guarda a condição de dependente para todos os efeitos, inclusive previdenciários. Logo, prevalece a previsão do ECA trazida pelo art. 33, §
3º, mesmo sendo anterior à lei previdenciária.
§ 4º Salvo expressa e fundamentada determinação em contrário, da autoridade judiciária competente, ou quando a medida for aplicada
em preparação para adoção, o deferimento da guarda de criança ou adolescente a terceiros não impede o exercício do direito de visitas
pelos pais, assim como o dever de prestar alimentos, que serão objeto de regulamentação específica, a pedido do interessado ou do
Ministério Público.
Art. 34. O poder público estimulará, por meio de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o acolhimento, sob a forma de guarda,
de criança ou adolescente afastado do convívio familiar.
§ 1º A inclusão da criança ou adolescente em programas de acolhimento familiar terá preferência a seu acolhimento institucional,
observado, em qualquer caso, o caráter temporário e excepcional da medida, nos termos desta Lei.
§ 2º Na hipótese do § 1º deste artigo a pessoa ou casal cadastrado no programa de acolhimento familiar poderá receber a criança ou
adolescente mediante guarda, observado o disposto nos arts. 28 a 33 desta Lei.
§ 3º A União apoiará a implementação de serviços de acolhimento em família acolhedora como política pública, os quais deverão dispor
de equipe que organize o acolhimento temporário de crianças e de adolescentes em residências de famílias selecionadas, capacitadas e
acompanhadas que não estejam no cadastro de adoção.
§ 4º Poderão ser utilizados recursos federais, estaduais, distritais e municipais para a manutenção dos serviços de acolhimento em
família acolhedora, facultando-se o repasse de recursos para a própria família acolhedora.
Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tempo, mediante ato judicial fundamentado, ouvido o Ministério Público.
12 Art. 36. A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos.
Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe a prévia decretação da perda ou suspensão do poder familiar e implica
necessariamente o dever de guarda.
13 Art. 37. O tutor nomeado por testamento ou qualquer documento autêntico, conforme previsto no parágrafo único do art. 1.729 da Lei
no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, deverá, no prazo de 30 (trinta) dias após a abertura da sucessão, ingressar com pedido
destinado ao controle judicial do ato, observando o procedimento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei.
Parágrafo único. Na apreciação do pedido, serão observados os requisitos previstos nos arts. 28 e 29 desta Lei, somente sendo deferida a
tutela à pessoa indicada na disposição de última vontade, se restar comprovado que a medida é vantajosa ao tutelando e que não existe
outra pessoa em melhores condições de assumi-la.
Art. 38. Aplica-se à destituição da tutela o disposto no art. 24.
25
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
ADOÇÃO
Antes da vigência do ECA e da nova política de proteção do menor, a adoção se dava em
benefício dos adotantes. O próprio Código Civil de 1916 previa que somente os maiores de 50 anos e
sem prole viva poderiam adotar. Com a mudança de entendimento, hoje, a adoção se dá em
benefício do adotado, sendo obrigatória a demonstração das reais vantagens, tudo em nome do
superior interesse da criança e do adolescente. Desse modo, todo o processo de adoção deve ser
interpretado buscando as reais vantagens à criança e ao adolescente. Em caso de conflito entre
direitos e interesses do adotando e de outras pessoas, inclusive seus pais biológicos, devem
prevalecer os direitos e os interesses do adotando.
Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que será inscrita no
registro civil mediante mandado do qual não se fornecerá certidão.
A sentença judicial, segundo o STJ, possui caráter constitutivo, passível de rescisão apenas
por ação rescisória16.
14
Dentre outros precedentes: REsp 457.635/PB, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ de 17/3/2003.
15
STJ. 3ª Turma. REsp 1421409-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 18/8/2016 (Info 588).
16
REsp 1.112.265/CE, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 18/5/2010.
26
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
anos, o acesso ao processo de adoção poderá ser também deferido ao adotado, a seu pedido,
assegurada orientação e assistência jurídica e psicológica.
De acordo com o art. 47, §10, ECA, o PRAZO MÁXIMO PARA CONCLUSÃO DA AÇÃO DE
ADOÇÃO SERÁ DE 120 DIAS, prorrogável uma única vez por igual período.
REQUISITOS
O ECA apresenta uma série de requisitos para que a adoção seja deferida, vejamos cada um
deles.
Idade e parentesco:
O adotado deve ter, no máximo, 18 anos à data do pedido17, além de possuir, no mínimo, 18
anos e 16 anos de diferença em relação ao adotado.
17
A adoção de pessoa maior e capaz pelo padrasto independe do consentimento do pai biológico, desde que estabelecido o vínculo afetivo
entre adotante e adotando e existente manifestação livre de vontade de quem pretenda adotar e de quem possa ser adotado. Vide REsp
1347228/SC, Rel. Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma, julgado em 06/11/2012, DJe 20/11/2012. Além disso, aos maiores de 18 anos,
aplicam-se as disposições do Código Civil de 2002.
27
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
pais. 5. Realidade diversa do quadro dos autos, porque os avós sempre exerceram e ainda
exercem a função de pais do menor, caracterizando típica filiação socioafetiva. 6.
Observância do art. 6º do ECA: na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins
sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e
coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em
desenvolvimento. 7. Recurso especial não provido. (STJ - REsp: 1448969 SC 2014/0086446-
1, Relator: Ministro MOURA RIBEIRO, Data de Julgamento: 21/10/2014, TERCEIRA TURMA,
Data de Publicação: DJe 03/11/2014)
Consentimento:
Para a adoção, exceto se houver a extinção ou destituição prévia do poder familiar, será
necessário o consentimento dos genitores.
Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal do
adotando.
§ 1º O consentimento será dispensado em relação à criança ou adolescente cujos pais
sejam desconhecidos ou tenham sido destituídos do poder familiar.
A gestante ou mãe que manifeste interesse em entregar seu filho para adoção, antes ou logo
após o nascimento18, será encaminhada à Justiça da Infância e da Juventude. Na hipótese de
desistência pelos genitores da entrega da criança após o nascimento, a criança será mantida com os
genitores, e será determinado pela Justiça da Infância e da Juventude o acompanhamento familiar
pelo prazo de180 dias. Além disso, é garantido à mãe o direito ao sigilo sobre o nascimento.
Estágio de convivência:
O estágio de convivência tem por finalidade avaliar a adaptação da criança na família
adotante, especialmente a verificação quanto ao estabelecimento de vínculos. O estágio de
convivência será cumprido no território nacional, preferencialmente na comarca de residência da
criança ou adolescente, ou, a critério do juiz, em cidade limítrofe, respeitada, em qualquer hipótese,
a competência do juízo da comarca de residência da criança.
18
Essa é uma alteração recente no ECA. Anteriormente não se admitia o consentimento anterior ao nascimento.
28
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
entre eles. A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a dispensa da realização do estágio de
convivência.
Prévio cadastramento:
Para a adoção, exige-se um procedimento prévio de habilitação dos pretendentes à adoção,
expressamente disciplinado no ECA. Trata-se da inscrição dos pretendentes num cadastro de pessoa
interessadas na adoção, estadual e nacional, que, atualmente, é nacional. Haverá cadastros distintos
para pessoas ou casais residentes fora do País, que somente serão consultados na inexistência de
postulantes nacionais habilitados nos cadastros estaduais e nacionais. A autoridade judiciária
providenciará, no prazo de 48 horas, a inscrição das crianças e adolescentes em condições de serem
adotados que não tiveram colocação familiar na comarca de origem, e das pessoas ou casais que
tiveram deferida sua habilitação à adoção nos cadastros estadual e nacional, sob pena de
responsabilidade. Compete à Autoridade Central Estadual zelar pela manutenção e correta
alimentação dos cadastros, com posterior comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira.
O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia consulta aos órgãos técnicos do juizado,
ouvido o Ministério Público. Além disso, a alimentação do cadastro e a convocação criteriosa dos
postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo Ministério Público.
29
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Restrições à idade
e parentesco Consentimento
Prévio cadastramento
Estágio de convivência
Requisitos à
Adoção
NÃO pode ser
tutor ou curador
NÃO pode ser intuito
personae
30
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Desse modo, pode ser aplicada apenas uma medida de proteção ou várias, simultaneamente,
sempre de acordo com as necessidades específicas de seu destinatário. Importante observar que as
medidas de proteção devem, em regra, ser aplicadas em conjunto com as medidas destinadas aos
pais ou responsável pela criança ou adolescente, previstas no art. 129.
A substituição deve ser criteriosa e, no caso das medidas socioeducativas (às quais as regras
contidas nos arts. 99 e 100 do ECA, também se aplicam), invariavelmente precedidas da oitiva do
Ministério Público, do adolescente e de sua defesa, em incidente de execução, devendo em
qualquer caso ser analisada e respeitada a capacidade de cumprimento por seu destinatário,
evitando, pois, a sua aplicação meramente formal. Salienta-se que a execução de tais medidas
estará, em regra, a cargo de algum programa específico de atendimento, cuja adequação e eficácia
devem ser fiscalizadas, sendo que o eventual fracasso da intervenção realizada deve ser considerado,
a priori, de responsabilidade do programa em execução, que precisa ser flexível e capaz de atender
os casos mais complexos e difíceis a ele encaminhados.
31
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
O art. 101 prevê as medidas que poderão ser aplicadas aos tutelados pelo ECA. O rol de
medidas do é meramente exemplificativo, podendo ser aplicadas outras que se mostrem adequadas
às necessidades pedagógicas da criança ou adolescente.
MEDIDAS DE PROTEÇÃO
- Encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;
- Orientação, apoio e acompanhamento temporários
- Matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;
(nada impede que também seja no ensino médio).
- Inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção
da família, da criança e do adolescente;
- Requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou
ambulatorial;
- Inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a
alcoólatras e toxicômanos19;
- Acolhimento institucional
- Inclusão em programa de acolhimento familiar;
- Colocação em família substituta.
Não por acaso o encaminhamento aos pais ou responsáveis está relacionada em primeiro
lugar na lista. Esta medida mostra a preocupação do legislador em realizar as intervenções
necessárias com a criança ou o adolescente junto à sua família. Isto não significa, contudo, que o
encaminhamento da criança ou adolescente a seus pais ou responsável deva ocorrer de forma
automática. Como nos demais casos, antes da aplicação desta medida, é necessário submeter a
criança ou o adolescente atendidos a uma avaliação interprofissional, de modo a descobrir o porquê
da situação, que pode ter se originado por grave omissão ou abuso dos pais ou responsável e
determinar alguma intervenção, ainda que de mera orientação, junto a estes. De qualquer modo, a
boa medida (ou programa de atendimento) não é aquela que se estende indefinidamente no tempo,
mas sim aquela que, após determinado período, permite o desligamento de seu destinatário, por
seus próprios méritos e por não mais se fazer necessária a intervenção.
19
O Conselho tutelar poderá aplicar até essa medida, sem autorização judicial.
32
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
PROCEDIMENTO DE ACOLHIMENTO
Vistas ao Ministério
Juiz decide em 5 dias
Público por 5 dias
33
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
DA PREVENÇÃO
A prevenção pode ser geral ou especial. A prevenção geral está prevista do art. 70 ao 73 do
ECA e trata do dever de prevenção da família, da comunidade e do Estado para com as crianças e
adolescentes. Já a prevenção especial está prevista nos art. 79 e 80 do Estatuto.
- A criança estiver acompanhada de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, mãe
ou responsável.
Fora essas hipóteses, a viagem desacompanhada dos pais ou dos responsáveis legais
depende de autorização judicial. Assim, o pedido deverá ser formulado ao Juiz da Infância e
Juventude, o qual poderá deferir autorização com validade por dois anos.
Caso um dos pais não autorize a viagem ao exterior, será necessário ingressar com
procedimento junto à Vara da Infância e Juventude a fim de suprir judicialmente a falta de
manifestação. O magistrado verificará se é, de fato, justificável a escusa do outro pai.
34
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
A competência territorial da Vara da Infância e Juventude é definida pelo artigo 147. Trata-se
de competência territorial especial, porquanto distinta da regra geral prevista no CPP.
Em caso de conflito entre o domicílio dos pais e do lugar no qual se encontre a criança ou
adolescente, entende a doutrina que deve prevalecer o primeiro, tendo prevalência o domicílio dos
pais sobre o local onde se encontra a criança ou adolescente.
Dispõe o art. 148 sobre a competência em razão de matéria. Nele, se delimita a matéria
abrangida pelas varas especializadas. Dessa forma, trata-se de competência absoluta, devendo ser
declarada de ofício e podendo ser alegada em qualquer tempo e grau de jurisdição,
independentemente de exceção (arts. 111 e 113 do CPC).
35
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
MINISTÉRIO PÚBLICO
A falta de intervenção do Ministério Público acarreta nulidade do feito, que deve ser declarada
de ofício. A intenção do legislador é garantir a presença do MP em todo e qualquer procedimento da
competência da Justiça da Infância e da Juventude, tendo em vista seu papel fundamental na
garantia dos direitos da criança e do adolescente. Dessa forma, é assegurado, sempre, ao Ministério
Público a intimação pessoal (art. 203) e a vista dos autos (art. 202), para que se manifeste sobre
provas produzidas, decisões prolatadas, bem como sobre a existência de irregularidades no feito.
36
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não for parte, atuará obrigatoriamente
o Ministério Público na defesa dos direitos e interesses de que cuida esta Lei, hipótese em
que terá vista dos autos depois das partes, podendo juntar documentos e requerer
diligências, usando os recursos cabíveis.
Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público acarreta a nulidade do feito, que
será declarada de ofício pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado.
ATO INFRACIONAL
CONCEITO
É a conduta praticada por criança ou adolescente descrita como crime ou contravenção penal.
Está previsto no art. 103, ECA:
Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção
penal.
Criança e adolescente não cometem crime, pois não há imputabilidade (art. 228, CF, e art. 104,
ECA), pressuposto necessário à culpabilidade (segundo a teoria finalista tripartite de crime).
SUJEITO PASSIVO
É a criança e o adolescente:
Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança corresponderão as medidas previstas no
art. 101.
Logo, criança também comete ato infracional, mas apenas poderão ser aplicadas medidas de
proteção. Em relação às crianças vigora o regime de irresponsabilidade, pois não podem sofrer
processo de ato infracional. Caso cometa ato infracional, a criança será encaminhada ao Conselho
37
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Tutelar para que, se necessário, sejam aplicadas as medidas protetivas (isoladas ou cumuladas) ou
para que haja representação ao Ministério Público em caso de afastamento do convívio familiar.
- Medida Protetiva pode ser aplicada diretamente pelo Conselho Tutelar, não havendo
processo contraditório.
Teoria Infantista: sustenta que não seja aplicado subsidiariamente o Código Penal e o Código
de Processo Penal ao ECA, pois consideram as medidas socioeducativas tão-somente como
mecanismos de ressocialização, não de punição.
JURISPRUDÊNCIA:
- Aplica-se o princípio da insignificância ao ato infracional. É necessário que haja fato típico
para a configuração de ato infracional e a insignificância afasta a tipicidade (afasta o
conceito material de crime), pois não há desobediência ao princípio da ofensividade.
38
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
- Adolescente não pode ser extraditado, pois não comete crime. Desse modo, nunca
haverá a situação da dupla tipicidade.
Caso se trate das medidas protetivas sujeitas, a decisão judicial, o conselho tutelar
representará ao MP para que represente ao juizado da infância e da juventude se uma dessas
medidas sujeitas a decisão judicial for aceita, emite-se a guia de acolhimento e dá-se início ao
processo de acolhimento visto na aula anterior.
Em relação ao adolescente:
Prática do ato infracional poderá ser apreendido em flagrante ou por ordem judicial, o
que já pressupõe ter havido a representação por parte do MP.
Caso seja apreendido por ordem judicial, será apresentado ao juiz na audiência de
apresentação; se apreendido em flagrante, será apresentado ao delegado.
Caso esteja com os pais e não seja caso de ato infracional passível de aplicação de medida
socioeducativa de internação, poderá o delegado liberar o adolescente, encaminhando um boletim
de ocorrência circunstanciado ao MP, que poderá representar ao judiciário, pedir diligência, arquivar
ou aplicar a remissão.
20
Súmula 342 – STJ: “No procedimento para aplicação de medida socioeducativa, é nula a desistência de outras provas em face da
confissão do adolescente”.
39
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
REMISSÃO
A previsão da remissão, no Direito infantojuvenil brasileiro, decorreu de compromissos
assumidos pelo Brasil no âmbito internacional, havendo expressa recomendação para adoção da
remissão nas Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça, da Infância e da
Juventude − Regras de Beijing (1985, incorporada ao ordenamento pátrio em 1990).
Suspensão ou
Exclusão do
Extinção do
processo
processo
Concedida
pelo MP Concedida pela
Autoridade
Judiciária
40
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
recuperação do adolescente, sempre da forma mais célere e menos traumática possível, o que pode
perfeitamente ocorrer via remissão, notadamente nos casos de menor gravidade, através do ajuste
de uma ou mais medidas socioeducativas e/ou protetivas, conforme as necessidades pedagógicas
específicas do adolescente.
Os processos nos quais foi concedido o benefício da remissão, não podem ser considerados
para efeito de reiteração, tendo em vista que tal instituto não implica reconhecimento de
responsabilidade, nem vale como antecedente21.
Quanto à revisão, prevê o ECA que a medida aplicada por força da remissão poderá ser revista
judicialmente, a qualquer tempo, mediante pedido expresso do adolescente ou de seu
representante legal, ou do Ministério Público (não é possível revisão de ofício).
COMPETÊNCIA
Será sempre da justiça estadual, em razão da matéria. Aplica-se a teoria da atividade à
competência territorial, segundo o § 1º do art. 147, ECA:
Art. 147. (...)
§ 1º. Nos casos de ato infracional, será competente a autoridade do lugar da ação ou
omissão, observadas as regras de conexão, continência e prevenção.
INTIMAÇÃO DA SENTENÇA
A intimação da sentença que aplicar medida de internação ou regime de semiliberdade será
feita ao adolescente e ao seu defensor. Quando não for encontrado o adolescente, a seus pais ou
responsável,sem prejuízo do defensor. Recaindo a intimação na pessoa do adolescente, deverá este
manifestar se deseja ou não recorrer da sentença. Sendo outra a medida aplicada, a intimação far-
se-á unicamente na pessoa do defensor.
Intimação de aplicação de
Outra medida
medida de internação e
qualquer
de semiliberdade
Ao adolescente (ou
responsáveis) e ao Ao Defensor apenas
Defensor
21
STJ. 6ª Turma. HC nº 103287/SP. Rel. Min. O. G. Fernandes. Julgado em 01/07/2008.
41
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
RECURSOS
Aplicam-se aos recursos nos procedimentos de apuração de ato infracional as regras do Código
de Processo Civil. O prazo para recurso é de 10 dias, salvo embargos de declaração, e independem
de preparo. Em regra, o recurso não tem efeito suspensivo, apenas devolutivo, podendo ser
aplicada a medida socioeducativa privativa de liberdade a partir da sentença22. Poderá haver juízo
de retratação nos recursos em procedimento de apuração de ato infracional.
MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
Como o ato infracional não é crime e a medida socioeducativa não é pena, torna-se incabível
qualquer correlação entre a quantidade ou qualidade de pena abstrata prevista para o imputável
criminoso e para o adolescente infrator. Além disso, inexiste qualquer prévia correlação entre o ato
infracional praticado e a medida a ser aplicada, nada impedindo - e sendo até mesmo preferível -
que um ato infracional de natureza grave receba medidas socioeducativas em meio aberto. Portanto,
a aplicação das medidas socioeducativas não está sujeita aos parâmetros traçados pelo Código
Penal e doutrina penalista para a dosimetria da pena, sendo assim inadmissível a utilização da
análise das circunstâncias judiciais do art. 59 do CP. As medidas socioeducativas seguem, portanto,
três princípios:
- Brevidade
- Excepcionalidade
- Respeito à condição de pessoa com deficiência
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar
ao adolescente as seguintes medidas:
I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
22
STJ. 3ª Seção. HC 346.380-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
13/4/2016 (Info 583).
42
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
MEDIDAS SOCIEDUCATIVAS
• Advertência;
• Obrigação de reparar o dano;
• Prestação de serviços à comunidade;
• Liberdade assistida;
• Semiliberdade;
• Internação;
• Qualquer uma das medidas de proteção.
43
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Por exemplo: Medida aplicada pelo prazo de seis meses ‘prescreveria’ em três anos. Caso a
medida seja aplicada por prazo indeterminado (exemplo: medida de semiliberdade), a prescrição
regula-se pelo prazo máximo de internação previsto pelo ECA (três anos).
IMPORTANTE: Os prazos são todos reduzidos pela metade, nos termos do art. 115, CP23.
Assim, no exemplo acima, a medida socioeducativa, em regra, prescreve em quatro anos (três anos
levados ao art. 109 do CP = oito anos. Metade de oito anos = quatro anos).
23
Art. 115. São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos,
ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos.
44
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
INTERNAÇÃO
A medida socioeducativa de internação é a medida mais extrema e consiste na restrição total
da liberdade, de modo que o adolescente permanecerá institucionalizado integralmente.
Mesmo tendo decretada sua internação, o adolescente pode, a princípio, realizar atividades
fora da unidade socioeducativa, de acordo com a proposta pedagógica do programa em execução e
a critério da equipe técnica respectiva, independentemente de autorização judicial, porém,
dependendo da situação, pode o magistrado vedá-las.
A medida de internação não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção ser
reavaliada, mediante decisão fundamentada, no máximo a cada seis meses.
Uma vez aplicada a internação, sua execução deverá se prolongar pelo menor período de
tempo possível, posto que orientada pelo princípio constitucional da brevidade24, estando sua
duração condicionada unicamente ao êxito do trabalho socioeducativo desenvolvido, e jamais à
gravidade da infração praticada. Nesse sentido:
MENOR - INTERNAÇÃO - PROGRESSÃO PARA LIBERDADE ASSISTIDA - PARECERES
FAVORÁVEIS. Tanto quanto possível, há de adotar-se postura geradora de esperança na
evolução do menor. A internação é medida extrema e deve ser substituída mormente
quando a manifestação técnica e a jurídica - do fiscal da lei, Ministério Público - forem
favoráveis. Precedentes: Habeas Corpus nº 75.629-8/SP, acórdão publicado no Diário da
Justiça de 12 de dezembro de 1997, e nº 85.598-9/SP, acórdão veiculado no Diário da
Justiça de 16 de dezembro de 2005, ambos de minha relatoria. (STF. 2ª T. HC nº 98518/RJ.
Rel. Min. Eros Grau. J. em 25/05/2010).
O ECA prevê que em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três
anos. Este prazo máximo de duração da medida privativa de liberdade extrema abrange todos os
atos infracionais anteriores à sentença que a decretou e ao início de sua execução, visto que não há
previsão legal para o somatório de medidas socioeducativas. Assim sendo, por exemplo,
independentemente de quantos tenham sido os atos infracionais anteriores à sentença em cujos
procedimentos houve o decreto da medida socioeducativa extrema da internação, estará o
adolescente sujeito ao máximo de 03 (três) anos de privação de liberdade acima previsto. Atingido o
limite de 3 anos, o adolescente deverá ser liberado, colocado em regime de semiliberdade ou de
liberdade assistida.
Uma vez atingido o limite etário de 21 (vinte e um) anos, não mais será possível a aplicação
e/ou execução de qualquer medida socioeducativa, devendo ser o jovem desinternado
compulsoriamente, com o máximo de celeridade.
24
CF/88, Art. 227§ 3º O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos: V - obediência aos princípios de brevidade,
excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa da
liberdade;
45
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
De acordo com o inciso III, o prazo de internação-sanção não poderá ser superior a 3 meses
(90 dias), devendo ser decretada judicialmente após o devido processo legal. De qualquer modo, em
nenhuma hipótese será aplicada a internação, havendo outra medida adequada.
INTERNAÇÃO (SEMILIBERDADE)
A ocorrência fática das hipóteses legalmente previstas não significa que o adolescente deverá
automaticamente ser submetido a medidas privativas de liberdade. Muito pelo contrário! Mesmo
diante da prática de atos infracionais de natureza grave, o adolescente somente deverá receber
medidas privativas de liberdade se não houver outra alternativa sociopedagógica mais
adequada,consideradas suas necessidades pedagógicas específicas (apuradas do estudo
psicossocial), devendo sempre ser dado preferência a medidas em meio aberto, que venham a
fortalecer vínculos familiares e comunitários.
Devem ser excluídas do conceito de infrações graves aquelas consideradas, pela Lei Penal, de
menor potencial ofensivo, até mesmo para evitar que o adolescente receba um tratamento mais
rigoroso do que do que receberia caso fosse penalmente imputável.
Há o entendimento de que seria considerada infração grave, para fins de incidência do inciso II
do art. 122, aquela em que o tipo penal comina, em abstrato, pena de reclusão25. Para o STJ, no
25
Há discordância na doutrina e na jurisprudência.
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
entanto, depende do caso concreto, sendo que três furtos não são suficientes para caracterizar a
necessidade de internação. Por outro lado, caso o adolescente tenha cinco ou dez apurações de ato
infracional por furto, seria possível aplicar uma medida socioeducativa de internação. Na realidade,
tais situações justificam a aplicação de medida socioeducativa extrema em razões das características
biopsicossociais do adolescente, que serão avaliadas caso a caso. Acerca da gravidade do ato
infracional análogo ao de tráfico de entorpecentes, embora seja considerado crime hediondo, já se
posicionou o STJ:
Súmula 492/STJ. O ato infracional análogo ao tráfico de drogas, por si só, não conduz
obrigatoriamente à imposição de medida socioeducativa de internação do adolescente.
Quanto ao inciso III (internação-sanção), para que tal solução possa ser adotada, deve ser
instaurado incidente de execução, em que se garanta ao adolescente a possibilidade de ampla defesa
(técnica). Não basta apenas de que o descumprimento da medida originalmente imposta ocorra de
fato, mas também que o descumprimento se mostra reiterado e injustificável, não sendo cabível
solução diversa, como a substituição daquela medida por outra. Nesse sentido:
Súmula 265/STJ. É necessária a oitiva do menor infrator antes de decretar-se a regressão
da medida socioeducativa..
Como visto, o ECA não estipulou um número mínimo de atos infracionais graves para justificar
a internação do menor infrator com fulcro na reiteração no cometimento de outras infrações graves.
Logo, cabe ao magistrado analisar as peculiaridades de cada caso e as condições específicas do
adolescente a fim de aplicar ou não a internação. A depender das particularidades e circunstâncias
do caso concreto, pode ser aplicada, com fundamento no art. 122, II (reiteração de infração grave),
do ECA, medida de internação ao adolescente infrator que antes tenha cometido apenas uma outra
infração grave. Reiterando: está superado o entendimento de que a internação com base nesse
dispositivo somente seria permitida com a prática de no mínimo 3 infrações26.
reiteração no cometimento de
infrações graves
Máximo 3 anos
ato infracional praticado com grave
ameaça ou violência à pessoa
INTERNAÇÃO
descumprimento reiterado e
Máximo 3 meses
injustificável de medida
(internação-sanção)
anteriormente aplicada
26
Precedentes: STF. 1ª Turma. HC 94447, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 12/04/2011. STJ. 5ª Turma. HC 332440/SP, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, julgado em 24/11/2015. STJ. 6ª Turma. HC 347434-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Antonio Saldanha
Palheiro, julgado em 27/9/2016 (Info 591).
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos
pais ou responsável, a autoridade judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o
afastamento do agressor da moradia comum.
Parágrafo único. Da medida cautelar constará, ainda, a fixação provisória dos alimentos
de que necessitem a criança ou o adolescente dependentes do agressor.
CONSELHO TUTELAR
Sua composição será de 5 membros, com reconhecida idoneidade moral, idade superior a 21
anos, residência no município e escolhidos pela população local.
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
CRIMES E INFRAÇÕES
ADMINISTRATIVAS
CRIMES
Os crimes previstos no Estatuto são das mais diversas naturezas, há crimes comissivos e
omissivos, dolosos e culposos, cujas penas podem variar entre reclusão e detenção, bem como
serem cumuladas com multa.
O Estatuto apresenta tipos penais nos artigos 228 a 244-B, cujos bens jurídicos tutelados são
os direitos das crianças e adolescentes. Esse rol não é exaustivo, ou seja, há outros tipos penais
49
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
previstos em diversos diplomas legislativos que também tutelam crianças e adolescentes e são
plenamente aplicáveis.
Todos os crimes previstos no ECA são de ação pública incondicionada. Portanto, não
dependem de representação da vítima, nem são propostos pelo particular. Cabe ao Ministério
Público a propositura da ação penal quanto à prática dos crimes tipificados pelo Estatuto.
Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua apreensão
sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade
judiciária competente:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à apreensão sem observância
das formalidades legais.
Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a
vexame ou a constrangimento:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa, de ordenar a imediata
liberação de criança ou adolescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da
apreensão:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
50
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o tem sob sua guarda em
virtude de lei ou ordem judicial, com o fim de colocação em lar substituto:
Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa.
Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a terceiro, mediante paga ou
recompensa:
Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece ou efetiva a paga ou
recompensa.
Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio,
cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
o
§ 1 Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta, coage, ou de qualquer
modo intermedeia a participação de criança ou adolescente nas cenas referidas
no caput deste artigo, ou ainda quem com esses contracena.
o
§ 2 Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente comete o crime:
I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de exercê-la;
II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade; ou
III – prevalecendo-se de relações de parentesco consangüíneo ou afim até o terceiro grau,
ou por adoção, de tutor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de quem, a
qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela, ou com seu consentimento.
Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena
de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por
qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia,
vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo
criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
o
§ 1 Nas mesmas penas incorre quem:
I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento das fotografias, cenas ou
imagens de que trata o caput deste artigo;
II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de computadores às fotografias, cenas
ou imagens de que trata o caput deste artigo.
o o
§ 2 As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1 deste artigo são puníveis quando o
responsável legal pela prestação do serviço, oficialmente notificado, deixa de desabilitar o
acesso ao conteúdo ilícito de que trata o caput deste artigo.
Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra
forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo
criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
51
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
o
§ 1 A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se de pequena quantidade o
material a que se refere o caput deste artigo.
o
§ 2 Não há crime se a posse ou o armazenamento tem a finalidade de comunicar às
autoridades competentes a ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A e
241-C desta Lei, quando a comunicação for feita por:
I – agente público no exercício de suas funções;
II – membro de entidade, legalmente constituída, que inclua, entre suas finalidades
institucionais, o recebimento, o processamento e o encaminhamento de notícia dos
crimes referidos neste parágrafo;
III – representante legal e funcionários responsáveis de provedor de acesso ou serviço
prestado por meio de rede de computadores, até o recebimento do material relativo à
notícia feita à autoridade policial, ao Ministério Público ou ao Poder Judiciário.
o o
§ 3 As pessoas referidas no § 2 deste artigo deverão manter sob sigilo o material ilícito
referido.
Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio de comunicação,
criança, com o fim de com ela praticar ato libidinoso:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:
I – facilita ou induz o acesso à criança de material contendo cena de sexo explícito ou
pornográfica com o fim de com ela praticar ato libidinoso;
II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo com o fim de induzir criança a se
exibir de forma pornográfica ou sexualmente explícita.
Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a expressão “cena de sexo explícito
ou pornográfica” compreende qualquer situação que envolva criança ou adolescente em
atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma
criança ou adolescente para fins primordialmente sexuais.
Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a
criança ou adolescente arma, munição ou explosivo:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos.
Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, ainda que gratuitamente, de
qualquer forma, a criança ou a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros
produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica:
Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais
grave.
Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a
criança ou adolescente fogos de estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo seu
reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de
utilização indevida:
Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais definidos no caput do art.
o
2 desta Lei, à prostituição ou à exploração sexual:
Pena – reclusão de quatro a dez anos e multa, além da perda de bens e valores utilizados
na prática criminosa em favor do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente da
unidade da Federação (Estado ou Distrito Federal) em que foi cometido o crime,
ressalvado o direito de terceiro de boa-fé.
o
§ 1 Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em
que se verifique a submissão de criança ou adolescente às práticas referidas
no caput deste artigo.
o
§ 2 Constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de
funcionamento do estabelecimento.
Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele
praticando infração penal ou induzindo-o a praticá-la:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
o
§ 1 Incorre nas penas previstas no caput deste artigo quem pratica as condutas ali
tipificadas utilizando-se de quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da
internet.
o
§ 2 As penas previstas no caput deste artigo são aumentadas de um terço no caso de a
o o
infração cometida ou induzida estar incluída no rol do art. 1 da Lei n 8.072, de 25 de
julho de 1990.
INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS
Trata-se de normas de cunho administrativo, não penal, e, portanto, dispensam a averiguação
de culpa ou dolo, bastando apenas a voluntariedade da conduta. Nesse sentido, por analogia, a
prescrição para sanção dessas condutas também segue a disciplina administrativa, sendo de cinco
anos.
Cabe ressaltar que o STF julgou a ADI 2404 no qual se discutia as normas dos arts. 254, ECA,
arts. 5º, IX (liberdade de expressão), 21, XVI (competência da União) e 220, § 3º, I e II (competência
de lei federal), CF. Esta ADI foi proposta no ano de 2001 pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) e
afirmava que o Estatuto havia extrapolado a determinação da Carta Maior, pois a norma do ECA
imporia as emissoras de Rádio e TV que exibissem seus programas em determinados horários pré-
determinados sob pena de punições administrativas.
Vamos, em breve síntese, analisar o contexto da ADI: o art. 254 do Estatuto determina que os
programas de Rádio e TV devem ser classificados conforme o conteúdo exibido. Assim, o Ministério
da Justiça regulamentou a situação por meio de Portaria 368/2014, utilizando 3 (três) critérios: a)
violência; b) sexo e nudez; c) drogas. Logo, é com base nestes critérios que vemos na TV as
classificações de livre até 18 anos.
Isto posto, o STF julgou procedente a ADI decidindo que quando o ECA, no art. 254, menciona
“em horário diverso do autorizado” estaria violando a competência, pois o Estatuto estaria realizando
uma censura prévia e, assim, não estaria em harmonia com a Constituição.
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autorização devida, por qualquer meio de
comunicação, nome, ato ou documento de procedimento policial, administrativo ou
judicial relativo a criança ou adolescente a que se atribua ato infracional:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de
reincidência.
§ 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou parcialmente, fotografia de criança ou
adolescente envolvido em ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe diga respeito ou
se refira a atos que lhe sejam atribuídos, de forma a permitir sua identificação, direta ou
indiretamente.
§ 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou emissora de rádio ou televisão, além
da pena prevista neste artigo, a autoridade judiciária poderá determinar a apreensão da
publicação ou a suspensão da programação da emissora até por dois dias, bem como da
publicação do periódico até por dois números. (Expressão declara inconstitucional pela
ADIN 869-2).
Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qualquer meio, com inobservância do
disposto nos arts. 83, 84 e 85 desta Lei:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de
reincidência.
Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetáculo público de afixar, em lugar
visível e de fácil acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada sobre a
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer representações ou espetáculos, sem
indicar os limites de idade a que não se recomendem:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, duplicada em caso de reincidência,
aplicável, separadamente, à casa de espetáculo e aos órgãos de divulgação ou
publicidade.
Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congênere classificado pelo órgão
competente como inadequado às crianças ou adolescentes admitidos ao espetáculo:
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na reincidência, a autoridade poderá
determinar a suspensão do espetáculo ou o fechamento do estabelecimento por até
quinze dias.
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