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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

SUMÁRIO

1. ANTECEDENTES HISTÓRICOS ..................................................................................................... 03

2. PRINCÍPIOS DO DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ..................................................... 04

3. DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ............................................................................. 10

4. FAMÍLIA NATURAL E SUBSTITUTA............................................................................................. 23

5. DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO .................................................................................................... 31

6. DA PREVENÇÃO ......................................................................................................................... 34

7. JUSTIÇA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE ........................................................................................ 35

8. MINISTÉRIO PÚBLICO ............................................................................................................... 36

9. ATO INFRACIONAL ..................................................................................................................... 37

10. MEDIDAS SOCIOEDUCTIVAS .................................................................................................... 42

11. MEDIDAS PERTINENTES AOS PAIS OU RESPONSÁVEIS .......................................................... 48

12. DO CONSELHO TUTELAR .......................................................................................................... 48

13. CRIMES E INFRAÇÕES ADMINITRATIVAS ................................................................................ 49

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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

ANTECEDENTES HISTÓRICOS

A primeira previsão normativa, no sentido de se proporcionar uma proteção especial às


crianças e adolescentes, foi encontrada na Convenção de Genebra, de 1924. Corroborando com esta
norma sobreveio a Declaração Universal de Direitos Humanos das Nações Unidas, de 1948, que
repetiu a evocação do "direito a cuidados e assistência especiais" da população infanto-juvenil.

Entretanto, é somente a partir da Convenção da ONU sobre os Direitos das Crianças (de
20/11/1989, assinada pelo Brasil em 26/01/90 e aprovada pelo Decreto Legislativo nº 28, de
14/09/90) que se deu mais visibilidade às crianças, enquanto sujeito de direito, carentes de proteção
especial. Assim, a criança, em sentido lato1, não mais será vista como mera extensão da família, mas
como pessoas iguais aos adultos, tendo direitos próprios, oponíveis, inclusive, aos de seus pais.

É a partir dessa nova concepção de peculiar necessidade de proteção, tendo em vista o estágio
de desenvolvimento da criança e do adolescente, que se desenvolve toda a doutrina da proteção
infanto-juvenil, baseada na ideia de proteção integral (teoria adotada pelo ECA - art. 1º2).

Por proteção integral deve-se compreender um conjunto amplo de mecanismos jurídicos


voltados à tutela da criança e do adolescente. Baseado nessa doutrina, o Estatuto tem o objetivo de
tutelar a criança e o adolescente de forma ampla, não se limitando apenas a tratar de medidas
repressivas contra seus atos infracionais. Dispõem, então, sobre direitos: infanto-juvenis, formas de
auxiliar sua família, tipificação de crimes praticados contra crianças e adolescentes, infrações
administrativas, tutela coletiva, etc.

A doutrina da proteção integral está relacionada ao princípio do melhor interesse da criança


e do adolescente, no qual, na análise do caso concreto, o aplicador do direito deve buscar solução
que proporcione o maior benefício possível para a criança ou adolescente, concretizando, portanto,
os seus direitos fundamentais.

Dessa forma, a Lei Federal 8.069/90, denominada de Estatuto da Criança e do Adolescente,


substituiu o antigo Código de Menores (Lei nº 6.697/79), dando novo tratamento aos pequenos, que
passaram a serem divididos em: crianças, pessoas com idade até 12 anos incompletos, e
adolescentes, as que, tendo mais de 12 anos, ainda não completaram 183.

A distinção entre criança e adolescente tem importância, sobretudo, no que tange às medidas
aplicáveis à prática de ato infracional: à criança somente pode ser aplicada medida de proteção (art.
105, ECA); ao adolescente, medida de proteção (art. 112, VII, ECA), bem como medida
socioeducativa (art. 112, I a VI, ECA).

1 Leia-se criança, em sentido lato, a criança e o adolescente.


2 Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente.
3 Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e
dezoito anos de idade.
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de
idade.

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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

ATO INFRACIONAL

CRIANÇA MEDIDA DE PROTEÇÃO

ADOLESCENTE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA OU

MEDIDA DE PROTEÇÃO

PRINCÍPIOS DO DIREITO DA CRIANÇA E


DO ADOLESCENTE
A Lei n. 8.069/90, conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente, é a lei que tutela a
criança e o adolescente de forma ampla, dispondo sobre seus direitos, formas de auxiliar sua família,
tipificação de crimes praticados contra crianças e adolescentes, infrações administrativas, tutela
coletiva, entre outros.4

O Estatuto da Criança e do Adolescente é formado por um conjunto de princípios e regras que


regem diversos aspectos da vida infantojuvenil, desde o nascimento da criança até a maioridade.

O direito da criança e do adolescente sofreu grande transformação com o advento


da Constituição Federal de 1988, e sua natureza jurídica é considerada ius cogens, em que o Estado
tem o dever de fazer valer sua função protecional e ordenadora na proteção dos direitos
fundamentais infantojuvenis.

Dessa forma, o direito da criança e do adolescente está situado na esfera do Direito Público,
em decorrência do interesse do Estado na proteção integral da infância e da juventude.

 O PRINCÍPIO DA PRIORIDADE ABSOLUTA


O princípio da prioridade absoluta está previsto na Constituição Federal, em seu artigo 227, e
no Estatuto da Criança e do Adolescente, no artigo 4º e no artigo 100, parágrafo único, II. Tais
dispositivos estabelecem a primazia em favor das crianças e dos adolescentes em todas as esferas de
interesse. Vejamos o que prevê a Carta Magna:
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente
e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação,

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BARROS, Guilherme Freire de Melo. Direito da Criança e do Adolescente. 2. Ed. Rev., amp. E atual. Bahia: Editora JusPodivm, 2014, p. 25.

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ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à


convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
§ 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança, do
adolescente e do jovem, admitida a participação de entidades não governamentais,
mediante políticas específicas e obedecendo aos seguintes preceitos:
I - aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à saúde na assistência
materno-infantil;
II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para as pessoas
portadoras de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do
adolescente e do jovem portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho
e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação
de obstáculos arquitetônicos e de todas as formas de discriminação.
§ 2º A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso
público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso
adequado às pessoas portadoras de deficiência.
§ 3º O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos:
I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, observado o disposto no
art. 7º, XXXIII;
II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas;
III - garantia de acesso do trabalhador adolescente e jovem à escola;
IV - garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, igualdade
na relação processual e defesa técnica por profissional habilitado, segundo dispuser a
legislação tutelar específica;
V - obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição
peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida
privativa da liberdade;
VI - estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e
subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou
adolescente órfão ou abandonado;
VII - programas de prevenção e atendimento especializado à criança, ao adolescente e ao
jovem dependente de entorpecentes e drogas afins.
§ 4º A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do
adolescente.
§ 5º A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e
condições de sua efetivação por parte de estrangeiros.
§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos
direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à
filiação.
§ 7º No atendimento dos direitos da criança e do adolescente levar-se- á em consideração
o disposto no art. 204.
§ 8º A lei estabelecerá:
I - o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos dos jovens;
II - o plano nacional de juventude, de duração decenal, visando à articulação das várias
esferas do poder público para a execução de políticas públicas.

Ainda, como norma especial, veja-se o que prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente:
Art. 4º. É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público
assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;

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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;


c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à
infância e à juventude.

Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades pedagógicas,


preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
Parágrafo único. São também princípios que regem a aplicação das medidas:
I - condição da criança e do adolescente como sujeitos de direitos: crianças e adolescentes
são os titulares dos direitos previstos nesta e em outras Leis, bem como na Constituição
Federal;
II - proteção integral e prioritária: a interpretação e aplicação de toda e qualquer norma
contida nesta Lei deve ser voltada à proteção integral e prioritária dos direitos de que
crianças e adolescentes são titulares;
III - responsabilidade primária e solidária do poder público: a plena efetivação dos direitos
assegurados a crianças e a adolescentes por esta Lei e pela Constituição Federal, salvo nos
casos por esta expressamente ressalvados, é de responsabilidade primária e solidária das
3 (três) esferas de governo, sem prejuízo da municipalização do atendimento e da
possibilidade da execução de programas por entidades não governamentais;
IV - interesse superior da criança e do adolescente: a intervenção deve atender
prioritariamente aos interesses e direitos da criança e do adolescente, sem prejuízo da
consideração que for devida a outros interesses legítimos no âmbito da pluralidade dos
interesses presentes no caso concreto;
V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção da criança e do adolescente deve ser
efetuada no respeito pela intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida privada;
VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades competentes deve ser efetuada
logo que a situação de perigo seja conhecida;
VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exercida exclusivamente pelas
autoridades e instituições cuja ação seja indispensável à efetiva promoção dos direitos e à
proteção da criança e do adolescente;
VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção deve ser a necessária e adequada à
situação de perigo em que a criança ou o adolescente se encontram no momento em que
a decisão é tomada;
IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser efetuada de modo que os pais
assumam os seus deveres para com a criança e o adolescente;
X - prevalência da família: na promoção de direitos e na proteção da criança e do
adolescente deve ser dada prevalência às medidas que os mantenham ou reintegrem na
sua família natural ou extensa ou, se isso não for possível, que promovam a sua integração
em família adotiva;
XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o adolescente, respeitado seu estágio de
desenvolvimento e capacidade de compreensão, seus pais ou responsável devem ser
informados dos seus direitos, dos motivos que determinaram a intervenção e da forma
como esta se processa;
XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o adolescente, em separado ou na
companhia dos pais, de responsável ou de pessoa por si indicada, bem como os seus pais
ou responsável, têm direito a ser ouvidos e a participar nos atos e na definição da medida
de promoção dos direitos e de proteção, sendo sua opinião devidamente considerada pela
o o
autoridade judiciária competente, observado o disposto nos §§ 1 e 2 do art. 28 desta Lei.

Conforme o disposto nos dispositivos supracitados, seja no campo judicial, extrajudicial,


administrativo, social ou familiar, o interesse infantojuvenil deve sempre prevalecer.

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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

O princípio da prioridade absoluta tem como objetivo principal a proteção integral das crianças
e dos adolescentes, assegurando a primazia que facilitará a concretização dos direitos fundamentais
enumerados no artigo 227, caput, CF, e renumerados no caput do art. 4º, ECA.

 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA


Quando nos referimos que é dever do Estado à proteção da dignidade da pessoa humana,
também estamos incluindo nesse rol de proteção a criança e o adolescente, pois se encontram num
estado incompleto de desenvolvimento, sendo necessário um especial respeito à sua condição de
pessoa humana, ao passo que, seria mais correto afirmar que é dever de todos: família, sociedade e,
inclusive, do Estado, resguardar o menor de qualquer ofensa ou ato atentatório contra sua
dignidade, respaldando tal preceito no artigo 227 da Lei Suprema.

O Estatuto possui também o condão de resguardar a integridade física, moral e psíquica,


preservando o direito previsto constitucionalmente de proteção à dignidade humana aos menores
como seres em formação e desenvolvimento que o são.

Nesse sentido, o Estatuto da Criança e do Adolescente trás em seu art. 15 a previsão legal do
princípio da dignidade quando reza que:
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e a dignidade como
pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis,
humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.

Importante se faz ressaltar que o ECA fornece as diretrizes para a proteção ao respeito e à
dignidade da criança e do adolescente, estabelecendo na primeira parte do art. 175, esse direito em
três subtipos, quais sejam: direito à integridade física, psíquica e moral. Portanto, a lei vem proteger
a criança e o adolescente contra qualquer ofensa ilícita ou ameaça de ofensa à sua personalidade
física e moral.

 PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO POPULAR


O art. 18, ECA, regulamenta, especificamente, o disposto no artigo 227, CF, ao afirmar ser
dever de todos velar pela dignidade das crianças, pondo-as a salvo de quaisquer tratamentos
desumano, violento, aterrorizante ou constrangedor.

Levando em conta a condição de pessoa em desenvolvimento, a criança e o adolescente


possuem uma fragilidade peculiar de pessoa em formação. Dessa forma, a prioridade deve ser
assegurada por todos os membros da sociedade, tais como a família, a comunidade, a sociedade em
geral e o Poder Público.6

Inicialmente, a família, seja natural ou substituta, possui o dever de formação decorrente do


poder familiar. Além disso, recai sobre ela um valor moral natural de se responsabilizar pelo bem-
estar de suas crianças e adolescentes, seja esse vínculo consanguíneo ou afetivo.

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Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a
preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.
6
MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade (coordenação). Curso de direito da criança e do adolescente: aspectos teóricos e práticos. 7.
Ed. Rev. E atual. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 61.

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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Já a comunidade, parcela da sociedade mais próxima das crianças e adolescentes por


residirem na mesma região e comungarem dos mesmos costumes, como vizinhos, também é
responsável pela proteção dos direitos fundamentais infantojuvenis.

Ademais, a sociedade em geral também deve ser responsabilizada pela primazia dos direitos
das crianças e dos adolescentes, uma vez que cobra deles comportamentos previamente
estabelecidos como adequados (como bons modos, educação, cultura, etc.), mas nem sempre deixa
à disposição os meios necessários para atender a essas expectativas.

Por fim, o Poder Público, em todas as suas esferas (legislativa, judiciária e executiva), tem o
dever de respeitar e resguardar, com primazia, os direitos fundamentais infantojuvenis, o que muitas
vezes não se vê na prática.

 PRINCÍPIO DA EXCEPCIONALIDADE
A observação desse princípio faz-se necessária com extrema importância e cautela no tocante
ao momento da aplicação de medidas privativas de liberdade, consistindo assim como uma exceção
na aplicação da medida socioeducativa privativa de liberdade que somente será aplicada na total
impossibilidade ou inadequação de qualquer outra medida em meio aberto.

Conforme o art. 227, §3º, V da Constituição Federal que assim dispõe:


Art. 227. (...)
§ 3º O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos: (...)
V - obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição
peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida
privativa da liberdade;

Sendo assim, as medidas privativas de liberdade “devem ser as últimas medidas a serem
aplicadas pelo Juiz, quando da ineficácia de outras”.7

 PRINCIPIO DA BREVIDADE
Esse princípio é um dos regentes na aplicação das medidas privativas de liberdade, e consiste
no limite de tempo da manutenção da medida aplicada, que devera ser o mais breve possível, ou seja
apenas o necessário para reintegrar na sociedade o adolescente em conflito com a lei.

Dessa maneira “a medida deve perdurar tão somente para a necessidade de readaptação do
adolescente”.8

Tal princípio é um dos basilares na aplicação da medida socioeducativa de internação, uma vez
que esta deverá cumprida em estabelecimento fechado devendo ser breve com duração mínima de
seis meses e máxima de três anos conforme art. 121, §§ 2º e 3º, ECA:
Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de
brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento. (...)
§ 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção ser reavaliada,
mediante decisão fundamentada, no máximo a cada seis meses.

7
ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da criança e do adolescente: doutrina e jurisprudência. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
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ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da criança e do adolescente: doutrina e jurisprudência. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três anos.

 PRINCÍPIO DA CONDIÇÃO PECULIAR DA PESSOA EM


DESENVOLVIMENTO
Tal preceito veio consubstanciar, que as crianças e os adolescentes, além de serem portadores
dos mesmos direitos conferidos à pessoa adulta, são detentoras de algo mais, ou seja, de uma
atenção especial, do qual os interesses destes deverão sobrepor-se a qualquer outro bem jurídico
tutelado, conforme visto anteriormente no principio da prioridade absoluta.

Salienta-se que tal princípio encontra-se inserido em diversos dispositivos legais, como os arts.
123, 124, 125, ECA9, que tratam dos direitos e garantias fundamentais dos adolescentes internados,
zelando pela integridade física e mental destes, na reavaliação da medida a cada seis meses e o seu
cumprimento em estabelecimento adequado.

Ressalvando que as crianças e adolescentes se encontram em fase de desenvolvimento físico,


psicológico, moral e social, e, portanto, merecem garantias especiais que lhe proporcionem um
desenvolvimento digno, conferindo-lhes assim proteção integral e prioridade absoluta.

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Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entidade exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele destinado ao abrigo,
obedecida rigorosa separação por critérios de idade, compleição física e gravidade da infração.
Parágrafo único. Durante o período de internação, inclusive provisória, serão obrigatórias atividades pedagógicas.
Art. 124. São direitos do adolescente privado de liberdade, entre outros, os seguintes:
I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do Ministério Público;
II - peticionar diretamente a qualquer autoridade;
III - avistar-se reservadamente com seu defensor;
IV - ser informado de sua situação processual, sempre que solicitada;
V - ser tratado com respeito e dignidade;
VI - permanecer internado na mesma localidade ou naquela mais próxima ao domicílio de seus pais ou responsável;
VII - receber visitas, ao menos, semanalmente;
VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos;
IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio pessoal;
X - habitar alojamento em condições adequadas de higiene e salubridade;
XI - receber escolarização e profissionalização;
XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer:
XIII - ter acesso aos meios de comunicação social;
XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença, e desde que assim o deseje;
XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de local seguro para guardá-los, recebendo comprovante daqueles porventura
depositados em poder da entidade;
XVI - receber, quando de sua desinternação, os documentos pessoais indispensáveis à vida em sociedade.
§ 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade.
§ 2º A autoridade judiciária poderá suspender temporariamente a visita, inclusive de pais ou responsável, se existirem motivos sérios e
fundados de sua prejudicialidade aos interesses do adolescente.
Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade física e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas adequadas de contenção e
segurança.

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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

DIREITOS DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE

 DIREITO À VIDA E À SAÚDE


A garantia à saúde estabelece, como consectário lógico, a garantia do direito à vida. Em
relação aos destinatários dos regramentos do ECA, tal direito é efetivado, em termos práticos,
mediante a consecução de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.

Nesse aspecto, a Lei da Primeira Infância (Lei n. 13.257/16) trouxe alterações significativas
para o Estatuto da Criança e do Adolescente, entre eles, alterou o art. 8º, que passou a determinar
que deve ser assegurado “a todas as mulheres o acesso aos programas e às políticas de saúde da
mulher e de planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção humanizada à
gravidez, ao parto e ao puerpério e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no âmbito
do Sistema Único de Saúde”.

O parágrafo 2º do mesmo dispositivo prevê que “os profissionais de saúde de referência da


gestante garantirão sua vinculação, no último trimestre da gestação, ao estabelecimento em que
será realizado o parto, garantido o direito de opção da mulher”. Isso ocorre em razão do direito da
gestante a acompanhamento saudável durante toda a gestação e a parto natural cuidadoso,
estabelecendo-se a aplicação de cesariana e outras intervenções cirúrgicas por motivos médicos.

Incumbe ao poder público proporcionar assistência psicológica à gestante e à mãe, no período


pré e pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as consequências do estado puerperal.
Essa assistência deverá ser prestada também a gestantes e mães que manifestem interesse em
entregar seus filhos para adoção, bem como a gestantes e mães que se encontrem em situação de
privação de liberdade.

A gestante deverá receber orientação sobre aleitamento materno, alimentação complementar


saudável e crescimento e desenvolvimento infantil, bem como sobre formas de favorecer a criação
de vínculos afetivos e de estimular o desenvolvimento integral da criança. Em qualquer momento
antes ou depois do nascimento, a gestante e a parturiente têm direito a um acompanhante de sua
preferência.

É assegurada, à gestante e à mulher com filho na primeira infância que se encontrem sob
custódia em unidade de privação de liberdade, ambiência que atenda às normas sanitárias e
assistenciais do Sistema Único de Saúde para o acolhimento do filho, em articulação com o sistema
de ensino competente, visando ao desenvolvimento integral da criança.

O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à saúde bucal das crianças e das gestantes, de
forma transversal, integral e intersetorial com as demais linhas de cuidado direcionadas à mulher e à
criança. Além de ser obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades
sanitárias a atenção odontológica à criança terá função educativa protetiva e será prestada,
inicialmente, antes de o bebê nascer, por meio de aconselhamento pré-natal, e, posteriormente, no
sexto e no décimo segundo anos de vida, com orientações sobre saúde bucal.

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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

 DIREITO À LIBERDADE, AO RESPEITO E À DIGNIDADE


Crianças e adolescentes têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas
humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais
garantidos na Constituição e nas leis. De acordo com o art. 16, ECA:
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições
legais;
II - opinião e expressão;
III - crença e culto religioso;
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;
V - participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;
VI - participar da vida política, na forma da lei;
VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.

Essa gama de direitos à liberdade, ao respeito e à dignidade obteve maior reconhecimento


com a edição da Lei n. 13.010/14, batizada como “Lei Bernardo”, que alterou o Estatuto da Criança e
do Adolescente para estabelecer o direito da criança e do adolescente de serem educados e cuidados
sem o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel ou degradante.

Conforme o art. 18-A, ECA, incluído pela Lei n. 13.010/14, a criança e o adolescente “têm o
direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante,
como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos
integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores de medidas
socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-
los”. De acordo com o parágrafo único do dispositivo mencionado em questão:
Art. 18-A. (...)
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se:
I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força física
sobre a criança ou o adolescente que resulte em:
a) sofrimento físico; ou
b) lesão;
II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma cruel de tratamento em relação à
criança ou ao adolescente que:
a) humilhe; ou
b) ameace gravemente; ou
c) ridicularize.

O art. 18-B, ECA, prevê as medidas cabíveis no caso de descumprimento das disposições:
Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, os responsáveis, os agentes públicos
executores de medidas socioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar de
crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los ou protegê-los que utilizarem castigo físico
ou tratamento cruel ou degradante como formas de correção, disciplina, educação ou
qualquer outro pretexto estarão sujeitos, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, às
seguintes medidas, que serão aplicadas de acordo com a gravidade do caso:
I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família;
II - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;
III - encaminhamento a cursos ou programas de orientação;
IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento especializado;
V - advertência.

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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

 DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA


O art. 19, ECA, estabelece que é “direito da criança e do adolescente ser criado e educado no
seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e
comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral”.

Tal direito, via de regra, traduz-se no fato de que a criança deverá ser criada em sua família
natural que, de acordo com o art. 25, ECA, é a “comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e
seus descendentes”. Em último caso, pela sua família extensa ou ampliada, sendo aquela que se
estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos
com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade. É
importante lembrar que o reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo,
indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer
restrição, observado o segredo de Justiça.

Toda criança ou adolescente que estiver inserido em programa de acolhimento familiar ou


institucional terá sua situação reavaliada, no máximo, a cada 3 meses (art. 19, §1º, ECA). A
permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento institucional não se
prolongará por mais de 18 meses (art. 19, § 2º, ECA), salvo comprovada necessidade que atenda ao
seu superior interesse, devidamente fundamentada pela autoridade judiciária. A manutenção ou
reintegração de criança ou adolescente à sua família terá preferência em relação a qualquer outra
providência.

Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes
ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais. A mãe
e o pai, ou os responsáveis, têm direitos iguais e deveres e responsabilidades compartilhados no
cuidado e na educação da criança, devendo ser resguardado o direito de transmissão familiar de suas
crenças e culturas, assegurados os direitos da criança estabelecidos em lei.

É pertinente ressaltar, ainda, que a falta ou a carência de recursos materiais não constitui
motivo suficiente para a perda ou a suspensão do poder familiar.

Importante salientar que será garantida a convivência da criança e do adolescente com a mãe
ou o pai privado de liberdade, por meio de visitas periódicas promovidas pelo responsável ou, nas
hipóteses de acolhimento institucional, pela entidade responsável, independentemente de
autorização judicial (art. 19, §4º, ECA). Ainda, será garantida a convivência integral da criança com a
mãe adolescente que estiver em acolhimento institucional (art. 19, §5º, ECA).

A Lei n. 13.509/17 incluiu o arts. 19-A e 19-B a esta seção:


Art. 19-A. A gestante ou mãe que manifeste interesse em entregar seu filho para adoção,
antes ou logo após o nascimento, será encaminhada à Justiça da Infância e da Juventude.
o
§ 1 A gestante ou mãe será ouvida pela equipe interprofissional da Justiça da Infância e
da Juventude, que apresentará relatório à autoridade judiciária, considerando inclusive os
eventuais efeitos do estado gestacional e puerperal.
o
§ 2 De posse do relatório, a autoridade judiciária poderá determinar o encaminhamento
da gestante ou mãe, mediante sua expressa concordância, à rede pública de saúde e
assistência social para atendimento especializado.
o
§ 3 A busca à família extensa, conforme definida nos termos do parágrafo único do art.
25 desta Lei, respeitará o prazo máximo de 90 (noventa) dias, prorrogável por igual
período.

12
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

o
§ 4 Na hipótese de não haver a indicação do genitor e de não existir outro representante
da família extensa apto a receber a guarda, a autoridade judiciária competente deverá
decretar a extinção do poder familiar e determinar a colocação da criança sob a guarda
provisória de quem estiver habilitado a adotá-la ou de entidade que desenvolva programa
de acolhimento familiar ou institucional.
o
§ 5 Após o nascimento da criança, a vontade da mãe ou de ambos os genitores, se
houver pai registral ou pai indicado, deve ser manifestada na audiência a que se refere o §
o
1 do art. 166 desta Lei, garantido o sigilo sobre a entrega.
§ 6º Na hipótese de não comparecerem à audiência nem o genitor nem representante da
família extensa para confirmar a intenção de exercer o poder familiar ou a guarda, a
autoridade judiciária suspenderá o poder familiar da mãe, e a criança será colocada sob a
guarda provisória de quem esteja habilitado a adotá-la.
o
§ 7 Os detentores da guarda possuem o prazo de 15 (quinze) dias para propor a ação de
adoção, contado do dia seguinte à data do término do estágio de convivência.
o
§ 8 Na hipótese de desistência pelos genitores - manifestada em audiência ou perante a
equipe interprofissional - da entrega da criança após o nascimento, a criança será mantida
com os genitores, e será determinado pela Justiça da Infância e da Juventude o
acompanhamento familiar pelo prazo de 180 (cento e oitenta) dias.
o
§ 9 É garantido à mãe o direito ao sigilo sobre o nascimento, respeitado o disposto no
art. 48 desta Lei.
§ 10. Serão cadastrados para adoção recém-nascidos e crianças acolhidas não procuradas
por suas famílias no prazo de 30 (trinta) dias, contado a partir do dia do acolhimento.

Art. 19-B. A criança e o adolescente em programa de acolhimento institucional ou familiar


poderão participar de programa de apadrinhamento.
o
§ 1 O apadrinhamento consiste em estabelecer e proporcionar à criança e ao
adolescente vínculos externos à instituição para fins de convivência familiar e comunitária
e colaboração com o seu desenvolvimento nos aspectos social, moral, físico, cognitivo,
educacional e financeiro.
§ 2º Podem ser padrinhos ou madrinhas pessoas maiores de 18 (dezoito) anos não
inscritas nos cadastros de adoção, desde que cumpram os requisitos exigidos pelo
programa de apadrinhamento de que fazem parte.
o
§ 3 Pessoas jurídicas podem apadrinhar criança ou adolescente a fim de colaborar para o
seu desenvolvimento.
o
§ 4 O perfil da criança ou do adolescente a ser apadrinhado será definido no âmbito de
cada programa de apadrinhamento, com prioridade para crianças ou adolescentes com
remota possibilidade de reinserção familiar ou colocação em família adotiva.
o
§ 5 Os programas ou serviços de apadrinhamento apoiados pela Justiça da Infância e da
Juventude poderão ser executados por órgãos públicos ou por organizações da sociedade
civil.
o
§ 6 Se ocorrer violação das regras de apadrinhamento, os responsáveis pelo programa e
pelos serviços de acolhimento deverão imediatamente notificar a autoridade judiciária
competente.

 DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO ESPORTE E AO LAZER


Em primeiro lugar, o direito à educação visa ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, ao
preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, sendo assegurados, às crianças
e aos adolescentes:
Art. 53. (...)
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - direito de ser respeitado por seus educadores;

13
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares


superiores;
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis;
V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico,
bem como participar da definição das propostas educacionais.

É dever dos pais ou responsáveis a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede
regular de ensino.

Ao Estado, cabe assegurar à criança e ao adolescente:


Art. 54. (...)
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram
acesso na idade própria;
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV – atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos de idade;
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a
capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de
material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.

Importante ressaltar que caberá aos dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental


comunicar o Conselho Tutelar os casos de maus-tratos envolvendo seus alunos, reiteração de faltas
injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares e elevados níveis de repetência.

No processo educacional, serão respeitados os valores culturais, artísticos e históricos próprios


do contexto social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da criação e o
acesso às fontes de cultura.

 DIREITO À PROFISSIONALIZAÇÃO E À PROTEÇÃO NO TRABALHO


Apesar da redação do art. 60, ECA10, a Constituição Federal prevê no art. 7º, XXXIII, a
“proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a
menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos”. Logo, será
permitido o contrato de aprendizagem a partir dos 14 anos e, também, que o adolescente possa
trabalhar, com restrições, a partir dos 16 anos.

Além disso, prevê o art. 67, ECA:


Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime familiar de trabalho, aluno de
escola técnica, assistido em entidade governamental ou não-governamental, é vedado
trabalho:
I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia e as cinco horas do dia
seguinte;
II - perigoso, insalubre ou penoso;
III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu desenvolvimento físico,
psíquico, moral e social;

10
Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz.

14
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

IV - realizado em horários e locais que não permitam a freqüência à escola.

 NORMAS DE PROTEÇÃO AO TRABALHADOR ADOLESCENTE


A crescente atenção voltada aos direitos humanos, bem como a preocupação com a
eliminação da exploração da força de trabalho humana pela economia gerou uma crescente atenção
à questão do trabalho infantil e juvenil. Diante da elevação dos direitos fundamentais, que
alcançaram um reconhecimento universal, essa tutela específica passou a pautar diversas normas
internacionais, tais como a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), a Declaração
Universal dos Direitos da Criança (1959), a Convenção sobre Direitos da Criança (1989), a Convenção
138 da OIT e a Convenção 182 da OIT.

Em termos de legislação interna, a própria Constituição conferiu importância à temática, em


seu art. 227, que consagra a doutrina da proteção integral. Além disso, no plano infraconstitucional,
a Lei n. 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente) visa a garantir a consecução do objetivo
constitucional.

 LIMITES À CONTRATAÇÃO
A Constituição prevê, em seu art. 7º, XXXIII, a proibição de qualquer trabalho a menores de
dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos. Tal vedação é reproduzida
no art. 60, ECA. O dispositivo constitucional proíbe o trabalho noturno, perigoso ou insalubre a
menores de dezoito anos.

De acordo com o art. 67, ECA:


Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime familiar de trabalho, aluno de
escola técnica, assistido em entidade governamental ou não-governamental, é vedado
trabalho:
I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia e as cinco horas do dia
seguinte;
II - perigoso, insalubre ou penoso;
III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu desenvolvimento físico,
psíquico, moral e social;
IV - realizado em horários e locais que não permitam a freqüência à escola.

A contratação de menores para o trabalho, a partir dos 16 anos, é válida, se respeitadas as


vedações legais e algumas previsões especiais quanto a alguns aspectos. Vejamos:

Prestação de trabalho extraordinário


Apesar de o trabalhador menor de idade estar submetido à mesma jornada de 8 horas por dia
e 44 semanais dos demais trabalhadores, existem algumas regras especiais quanto à prestação de
trabalho extraordinário. Nesse aspecto, é importante ressaltar que a carga horária total do
trabalhador menor de idade não poderá exceder o patamar geral. Assim, se possuir 2 empregos, a
carga horária, somada, deverá ficar em até de 8 horas diárias e 44 semanais.

Ainda, em relação à compensação de jornada, é necessário que tal possibilidade esteja


prevista em norma coletiva, não podendo ultrapassar o limite de 44 horas semanais. Não á válido
ajuste individual para tal fim.

Além disso, em caso de força maior, em que o trabalho seja imprescindível para a empresa, o
menor poderá prestar horas extras acrescidas do adicional, limitado 12 horas.

15
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Locais de trabalho
De acordo com o art. 405, CLT:
Art. 405. Ao menor não será permitido o trabalho:
I - nos locais e serviços perigosos ou insalubres, constantes de quadro para esse fim
aprovado pelo Diretor Geral do Departamento de Segurança e Higiene do Trabalho;
II - em locais ou serviços prejudiciais à sua moralidade.
§ 2º O trabalho exercido nas ruas, praças e outros logradouros dependerá de prévia
autorização do Juiz de Menores, ao qual cabe verificar se a ocupação é indispensável à sua
própria subsistência ou à de seus pais, avós ou irmãos e se dessa ocupação não poderá
advir prejuízo à sua formação moral.

Além disso, de acordo com o art. 405, § 3º, CLT, considera-se prejudicial à moralidade do
menor o trabalho:
a) prestado de qualquer modo, em teatros de revista, cinemas, boates, cassinos, cabarés,
dancings e estabelecimentos análogos;
b) em empresas circenses, em funções de acrobata, saltimbanco, ginasta e outras
semelhantes;
c) de produção, composição, entrega ou venda de escritos, impressos, cartazes, desenhos,
gravuras, pinturas, emblemas, imagens e quaisquer outros objetos que possam, a juízo da
autoridade competente, prejudicar sua formação moral;
d) consistente na venda, a varejo, de bebidas alcoólicas.

As hipóteses das alíneas a e b poderão ser autorizadas judicialmente, desde que a


representação tenha fim educativo ou a peça de que participe não possa ser prejudicial à sua
formação moral e desde que se certifique ser a ocupação do menor indispensável à própria
subsistência ou à de seus pais, avós ou irmãos e não advir nenhum prejuízo à sua formação moral.

Salário
O art. 7º, XXX, CF, veda a diferenciação de salários por motivos de idade. Assim, no exercício
da mesma função, é garantida, ao menor de 18 anos, a percepção do mesmo salário de outros
empregados maiores de idade.

Trabalho Doméstico
A partir da edição do Decreto n. 6.481/08, proibiu-se o trabalho doméstico aos menores de 18
anos, pois esta norma, atendendo a determinação constante na Convenção n. 182 da Organização
Internacional do Trabalho - OIT, qualificou o trabalho doméstico como uma das piores forma de
trabalho infantil. Tal determinação foi reproduzida no art. 1º, §1º, LC n. 150/15:
Art. 1º. Ao empregado doméstico, assim considerado aquele que presta serviços de
forma contínua, subordinada, onerosa e pessoal e de finalidade não lucrativa à pessoa ou
à família, no âmbito residencial destas, por mais de 2 (dois) dias por semana, aplica-se o
disposto nesta Lei.
Parágrafo único. É vedada a contratação de menor de 18 (dezoito) anos para
o
desempenho de trabalho doméstico, de acordo com a Convenção n 182, de 1999, da
o
Organização Internacional do Trabalho (OIT) e com o Decreto n 6.481, de 12 de junho de
2008.

16
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Férias
O empregado menor de idade tem direito a férias anuais remuneradas com acréscimo de 1/3.
A peculiaridade, nesse aspecto, em relação a esse trabalhador, se dará em 2 aspectos: (i) o
empregado menor de idade poderá ter suas férias fracionadas (o §2º do art. 134, CLT, foi revogado
pela Lei da Reforma Trabalhista); (ii) direito de coincidir as férias laborais com as escolares (art. 136,
§2º, CLT).

Representantes legais
Os representantes legais do menor de 18 anos têm atuação em algumas situações específicas
relacionadas à extinção contrato de trabalho do representado. Em primeiro lugar, faculta-se ao
responsável pleitear a extinção do contrato de trabalho, caso o serviço possa acarretar prejuízos de
ordem física ou moral (art. 408, CLT). Além disso, em caso de rescisão, é necessária a assinatura do
representante no recibo de quitação das respectivas parcelas, a teor do art. 439, CLT.

Prescrição
No âmbito trabalhista, vigora a regra geral de que o prazo prescricional para o ingresso com a
reclamatória é de até 2 anos após a extinção do contrato de trabalho, objetivando pretensões
referentes aos últimos 5 anos, a contar da propositura da demanda.

Em relação ao trabalhador menor de idade, dispõe o art. 440, CLT, que “contra os menores de
18 anos não corre nenhum prazo de prescrição”.

 ESTÁGIO
O conceito de estágio está relacionado a ato educativo escolar supervisionado, que é
desenvolvido no ambiente de trabalho e visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos
que estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação superior, de educação
profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na
modalidade profissional da educação de jovens e adultos.

O estágio poderá ser obrigatório (definido como tal no projeto do curso, cuja carga horária é
requisito para aprovação e obtenção de diploma) ou não-obrigatório (desenvolvido como atividade
opcional, acrescida à carga horária regular e obrigatória), conforme determinação das diretrizes
curriculares da etapa, modalidade e área de ensino e do projeto pedagógico do curso.

O contrato de estágio, se realizado de acordo com os preceitos legais, não cria vínculo
empregatício de qualquer natureza, observados os seguintes requisitos:
- matrícula e frequência regular do educando, atestados pela instituição de ensino;
- celebração de termo de compromisso entre o educando, a parte concedente do estágio e
a instituição de ensino;
- compatibilidade entre as atividades desenvolvidas no estágio e aquelas previstas no termo
de compromisso.

O estágio deverá ter acompanhamento efetivo pelo professor orientador da instituição de


ensino e por supervisor da parte concedente. O descumprimento de qualquer obrigação legal ou
contida no termo de compromisso caracteriza vínculo de emprego do educando com a parte
concedente do estágio para todos os fins da legislação trabalhista e previdenciária. A instituição

17
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

privada ou pública que reincidir na irregularidade ficará impedida de receber estagiários por 2 anos,
contados da data da decisão definitiva do processo administrativo correspondente.

De acordo com o art. 5º, §1º, Lei n. 11.788/08:


Art. 5º. (...)
o
§ 1 Cabe aos agentes de integração, como auxiliares no processo de aperfeiçoamento do
instituto do estágio:
I – identificar oportunidades de estágio;
II – ajustar suas condições de realização;
III – fazer o acompanhamento administrativo;
IV – encaminhar negociação de seguros contra acidentes pessoais;
V – cadastrar os estudantes.

É vedada a cobrança de qualquer valor dos estudantes, a título de remuneração pelos serviços
descritos.

Obrigações das instituições de ensino:


O art. 7º, Lei n. 11.788/08, define as obrigações das instituições de ensino em relação aos
estágio de seus educandos:
Art. 7º. (...)
I - celebrar termo de compromisso com o educando ou com seu representante ou
assistente legal, quando ele for absoluta ou relativamente incapaz, e com a parte
concedente, indicando as condições de adequação do estágio à proposta pedagógica do
curso, à etapa e modalidade da formação escolar do estudante e ao horário e calendário
escolar;
II - avaliar as instalações da parte concedente do estágio e sua adequação à formação
cultural e profissional do educando;
III - indicar professor orientador, da área a ser desenvolvida no estágio, como responsável
pelo acompanhamento e avaliação das atividades do estagiário;
IV - exigir do educando a apresentação periódica, em prazo não superior a 6 (seis) meses,
de relatório das atividades;
V - zelar pelo cumprimento do termo de compromisso, reorientando o estagiário para
outro local em caso de descumprimento de suas normas;
VI - elaborar normas complementares e instrumentos de avaliação dos estágios de seus
educandos;
VII - comunicar à parte concedente do estágio, no início do período letivo, as datas de
realização de avaliações escolares ou acadêmicas.

Obrigações da parte concedente:


Poderão oferecer estágio as pessoas jurídicas de direito privado e os órgãos da administração
pública direta, autárquica e fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, bem como profissionais liberais de nível superior devidamente registrados
em seus respectivos conselhos de fiscalização profissional, observadas algumas obrigações (art. 9º,
Lei n. 11.788/08):
Art. 9º. (...)
I - celebrar termo de compromisso com a instituição de ensino e o educando, zelando por
seu cumprimento;
II - ofertar instalações que tenham condições de proporcionar ao educando atividades de
aprendizagem social, profissional e cultural;

18
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

III - indicar funcionário de seu quadro de pessoal, com formação ou experiência


profissional na área de conhecimento desenvolvida no curso do estagiário, para orientar e
supervisionar até 10 (dez) estagiários simultaneamente;
IV - contratar em favor do estagiário seguro contra acidentes pessoais, cuja apólice seja
compatível com valores de mercado, conforme fique estabelecido no termo de
compromisso;
V - por ocasião do desligamento do estagiário, entregar termo de realização do estágio
com indicação resumida das atividades desenvolvidas, dos períodos e da avaliação de
desempenho;
VI - manter à disposição da fiscalização documentos que comprovem a relação de estágio;
VII - enviar à instituição de ensino, com periodicidade mínima de 6 (seis) meses, relatório
de atividades, com vista obrigatória ao estagiário.

Jornada de trabalho:
Em relação à jornada, a lei estabelece que ela será definida de comum acordo entre a
instituição de ensino, a parte concedente e o aluno estagiário ou seu representante legal, devendo
constar do termo de compromisso ser compatível com as atividades escolares e não ultrapassar (art.
10, Lei n. 11.788/08):
Art. 10. (...)
I – 4 (quatro) horas diárias e 20 (vinte) horas semanais, no caso de estudantes de
educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional de
educação de jovens e adultos;
II – 6 (seis) horas diárias e 30 (trinta) horas semanais, no caso de estudantes do ensino
superior, da educação profissional de nível médio e do ensino médio regular.

Se a instituição de ensino adotar verificações de aprendizagem periódicas ou finais, nos


períodos de avaliação, a carga horária do estágio será reduzida pelo menos à metade, segundo
estipulado no termo de compromisso, para garantir o bom desempenho do estudante (art. 10, §2º).

A duração total do estágio, na mesma parte concedente, poderá durar, no máximo, 2 anos,
exceto quando se tratar de estagiário portador de deficiência (art. 11, Lei n 11.788/08). O estagiário
poderá receber bolsa ou outra forma de contraprestação que venha a ser acordada, sendo
compulsória a sua concessão, bem como a do auxílio-transporte, na hipótese de estágio não
obrigatório (art. 12, Lei n 11.788/08).

É importante ressaltar que a eventual concessão de benefícios relacionados a transporte,


alimentação e saúde, entre outros, não caracteriza vínculo empregatício (art. 12, §1º, Lei n
11.788/08).

Sempre que o estágio tenha duração igual ou superior a 1 ano, é assegurado ao estagiário que
recebe bolsa o período de recesso remunerado de 30 dias, a ser gozado durante as férias escolares,
preferencialmente (art. 13, Lei n 11.788/08).

Aplica-se ao estagiário a legislação relacionada à saúde e segurança no trabalho, sendo sua


implementação de responsabilidade da parte concedente do estágio (art. 14, Lei n 11.788/08).

19
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

 APRENDIZAGEM
A aprendizagem é regulamentada pela Lei n. 10.097/00, que alterou dispositivos da CLT. Essa
modalidade de trabalho é a única permitida para menores entre 14 e 16 anos, lembrando que o
conceito de estágio está mais relacionado a ato educativo escolar supervisionado do que a trabalho.

O contrato de aprendizagem é contrato de trabalho especial, necessariamente escrito e com


prazo determinado, por meio do qual o empregador se compromete a assegurar ao maior de 14 e
menor de 24 anos, inscrito em programa de aprendizagem, formação técnico-profissional metódica,
compatível com o seu desenvolvimento físico, moral e psicológico, e o aprendiz, a executar, com zelo
e diligência, as tarefas necessárias a essa formação (art. 428, CLT).

A formação técnico-profissional caracteriza-se por atividades teóricas e práticas,


metodicamente organizadas em tarefas de complexidade progressiva desenvolvidas no ambiente de
trabalho.

Diferentemente do que ocorre com o estágio, a validade do contrato de aprendizagem


pressupõe anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social. Também exige matrícula e
frequência do aprendiz à escola, caso não haja concluído o ensino médio, e inscrição em programa
de aprendizagem desenvolvido sob a orientação de entidade qualificada em formação técnico-
profissional metódica. Ao menor aprendiz, salvo condição mais favorável, será garantido o salário
mínimo hora.

Nas localidades onde não houver oferta de ensino médio para o cumprimento do disposto no
§ 1º do art. 428, a contratação do aprendiz poderá ocorrer sem a frequência à escola, desde que ele
já tenha concluído o ensino fundamental.

Assim como ocorre com o contrato de estágio, o contrato de aprendizagem não poderá ser
estipulado por mais de 2 anos, salvo se se tratar de aprendiz portador de deficiência (art. 428, §3º.)

É importante lembrar que os estabelecimentos de qualquer natureza são obrigados a


empregar e matricular nos cursos dos Serviços Nacionais de Aprendizagem número de aprendizes
equivalente a 5%, no mínimo, e 15%, no máximo, dos trabalhadores existentes em cada
estabelecimento, cujas funções demandem formação profissional, não se aplicando tal limite quando
o empregador for entidade sem fins lucrativos, que tenha por objetivo a educação profissional (art.
429, §1º-A, CLT). Além disso, os estabelecimentos referidos no caput poderão destinar o equivalente
a até 10% de sua cota de aprendizes à formação técnico-profissional metódica em áreas relacionadas
a práticas de atividades desportivas, à prestação de serviços relacionados à infraestrutura, incluindo
as atividades de construção, ampliação, recuperação e manutenção de instalações esportivas e à
organização e promoção de eventos esportivos (art. 429, §1º-B, CLT).

A duração do trabalho do aprendiz não excederá de 6 horas diárias. A lei veda a possibilidade
de prorrogação ou compensação de jornada (art. 432, CLT). No entanto, esse limite diário poderá ser
de até 8 horas diárias para os aprendizes que já tiverem completado o ensino fundamental, se nelas
forem computadas as horas destinadas à aprendizagem teórica (art. 432, §1º, CLT).

O contrato de aprendizagem poderá extinguir-se antecipadamente nos seguintes casos:


Art. 433. (...)
I - desempenho insuficiente ou inadaptação do aprendiz, salvo para o aprendiz com
deficiência quando desprovido de recursos de acessibilidade, de tecnologias assistivas e
de apoio necessário ao desempenho de suas atividades;

20
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

II - falta disciplinar grave;


III - ausência injustificada à escola que implique perda do ano letivo; ou
IV - a pedido do aprendiz.

 COMPARATIVO ENTRE ESTÁGIO E APRENDIZAGEM


Abaixo, um quadro comparativo ressaltando os principais aspectos relativos ao estágio e à
aprendizagem:

ESTÁGIO APRENDIZAGEM
Contrato de aprendizagem é o
Estágio é ato educativo escolar contrato de trabalho especial,
supervisionado, desenvolvido no ajustado por escrito e por prazo
ambiente de trabalho, que visa à determinado, em que o
preparação para o trabalho empregador se compromete a
produtivo de educandos que assegurar ao maior de 14 e
estejam frequentando o ensino menor de 24 anos inscrito em
Conceito regular em instituições de programa de aprendizagem
educação superior, de educação formação técnico-profissional
profissional, de ensino médio, metódica, compatível com o seu
da educação especial e dos anos desenvolvimento físico, moral e
finais do ensino fundamental, na psicológico, e o aprendiz, a
modalidade profissional da executar com zelo e diligência as
educação de jovens e adultos. tarefas necessárias a essa
formação.
Idade A partir de 16 anos De 14 a 24 anos
4 horas diárias e 20 horas
semanais: estudantes de
educação especial e dos anos
finais do ensino fundamental, na
modalidade profissional de
educação de jovens e adultos;
6 horas diárias e 30 horas
semanais: estudantes do ensino
Máximo de 6 horas diárias
superior, da educação
O esse limite diário poderá ser
profissional de nível médio e do
de até 8 horas diárias para os
ensino médio regular.
aprendizes que já tiverem
Carga horária O estágio relativo a cursos que
completado o ensino
alternam teoria e prática, nos
fundamental, se nelas forem
períodos em que não estão
computadas as horas destinadas
programadas aulas presenciais,
à aprendizagem teórica.
poderá ter jornada de até 40
horas semanais, desde que isso
esteja previsto no projeto
pedagógico do curso e da
instituição de ensino.
Direito à redução da jornada
pela metade na véspera de
avaliações.
Até 2 anos, exceto quando se Até 2 anos, exceto quando se
Duração tratar de estagiário portador de tratar de aprendiz portador de
deficiência. deficiência.

21
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Obrigatoriedade de empregar e
De 1 a 5 empregados: 1 matricular nos cursos dos
estagiário; Serviços Nacionais de
De 6 a 10 empregados: até 2 Aprendizagem número de
Proporção em relação ao estagiários; aprendizes equivalente a 5%, no
quadro de pessoal De 11 a 25 empregados: até 5 mínimo, e 15%, no máximo, dos
estagiários; trabalhadores existentes em
Acima de 25 empregados: até cada estabelecimento, cujas
20% de estagiários. funções demandem formação
profissional.
Poderá receber uma bolsa ou
outra forma de contraprestação
que venha a ser acordada,
sendo compulsória a sua
concessão, bem como a do
Deve receber salário
auxílio-transporte, na hipótese
Remuneração mínimo/hora ou condição mais
de estágio não-obrigatório. A
favorável.
eventual concessão de
benefícios relacionados a
transporte, alimentação, saúde
entre outros, não caracteriza
vínculo empregatício.
Completo o período de 1 ano de
estágio, o estagiário tem o O aprendiz menor de 18 anos
direito a um recesso de 30 dias. sempre deverão gozar suas
Férias
Se o estágio tiver duração férias no mesmo período das
inferior a um ano, o recesso será férias escolares.
proporcional.
CTPS Não há assinatura. Há assinatura.
Apenas a manutenção de
estagiários na empresa em
desconformidade com a Lei nº
11.788/08 caracteriza vínculo de
O contrato de aprendizagem é
emprego do educando com a
regido pela CLT, portanto,
parte concedente do estágio
Vínculo de emprego deverão ser observados os
para todos os fins da legislação
aspectos relacionados aos
trabalhista e previdenciária.
encargos sociais e trabalhistas.
Faculta-se ao estagiário a
inscrição como segurado
facultativo em Regime Geral de
Previdência Social.
Alíquota de 2%.
Não há indenização
FGTS Não há recolhimento.
compensatória do FGTS ao final
do contrato.

 PROTEÇÃO AO TRABALHADOR ADOLESCENTE COM DEFICIÊNCIA


A legislação pátria prevê uma série de disposições especialmente destinadas ao trabalhador
adolescente com deficiência. Vejamos algumas delas:

22
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Lei n. 11.788/08 (Lei do Estágio)


- Prevê, em seu art. 11, que a duração do estágio, na mesma parte concedente, não poderá
exceder 2 anos, exceto quando se tratar de estagiário portador de deficiência;
- O art. 17, § 5º dispõe que fica assegurado às pessoas portadoras de deficiência o
percentual de 10% das vagas oferecidas pela parte concedente do estágio.

CLT
- O art. 428, § 3º, determina que o contrato de aprendizagem não poderá ser estipulado
por mais de 2 anos, exceto quando se tratar de aprendiz portador de deficiência;
- Regra geral, o contrato de aprendizagem é firmado com adolescentes e jovens maiores de
14 e menores de 24 anos. No entanto, a idade máxima prevista não se aplica a aprendizes
portadores de deficiência, a teor do art. 428, § 5º;
- Para os fins do contrato de aprendizagem, a comprovação da escolaridade de aprendiz
com deficiência deve considerar, sobretudo, as habilidades e competências relacionadas
com a profissionalização (art. 428, §6º);
- Para o aprendiz com deficiência com 18 anos ou mais, a validade do contrato de
aprendizagem pressupõe anotação na CTPS e matrícula e frequência em programa de
aprendizagem desenvolvido sob orientação de entidade qualificada em formação técnico-
profissional metódica (art. 428, §8º);
- O art. 433, I, da CLT prevê que o contrato de aprendizagem poderá ser extinto
antecipadamente por desempenho insuficiente ou inadaptação do aprendiz, salvo para o
aprendiz com deficiência quando desprovido de recursos de acessibilidade, de tecnologias
assistivas e de apoio necessário ao desempenho de suas atividades.

FAMÍLIA NATURAL E SUBSTITUTA

 FAMÍLIA NATURAL
Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais (ou qualquer deles) e seus
descendentes abrangendo à família constituída por casamento civil, relação estável e a
monoparental (formada por qualquer dos genitores e seus filhos). Logo, é a família natural que tem
a preferência legal para a criação da criança ou do adolescente, sendo excepcionais as hipóteses de
colocação em família substituta, conforme o artigo 19 do Estatuto.

Por sua vez, entende-se por família extensa ou ampliada todo parente próximo que possuí
vinculo de afinidade ou afetividade. Exemplo: avós, tios, primos. Por fim, quando tratar-se de
preferência da manutenção da família natural, inclui-se a preservação da família extensa ou
ampliada.

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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

 FAMÍLIA SUBSTITUTA
Primeiramente, cumpre destacar que a colocação em família substituta não implica,
necessariamente, em adoção: trata-se de previsão sui generis do Estatuto da Criança e do
Adolescente. Esta ocorre quando nenhum dos pais tem condições de criar a criança.

A colocação em família substituta pode se dar por três formas: a guarda, a tutela e a adoção.

ATENÇÃO: A colocação em família substituta estrangeira, entretanto, é excepcional, e só é


admissível em caso de adoção.

Será previamente ouvido por


CRIANÇA OU ADOLESCENTE equipe interprofissional, sempre Art. 28, §1º
que possível.
Ouvido obrigatoriamente em
MAIOR DE 12 ANOS audiência, sendo determinante Art. 28, §2º
seu consentimento.

 GUARDA
A guarda normalmente é exercida pelo casal, porque é uma das atribuições (e também uma
das obrigações) decorrentes do Poder Familiar. Quando uma criança vive na companhia dos pais, a
guarda é exercida dentro do exercício do poder familiar. Entretanto, não é deste tipo de guarda que
tratam as normas dos artigos 33 a 35 do Estatuto da Criança e do Adolescente, mas sim da guarda
exercida por um terceiro, diferente dos genitores.

Sendo assim, a primeira modalidade de colocação da criança ou do adolescente em família


substituta é a guarda. Trata-se da regularização jurídica de uma situação já consolidada no mundo
dos fatos.

São três os tipos de guardas previstos no Estatuto: a provisória, a permanente e a peculiar.

A guarda provisória (art. 33, §1º do ECA) é a que se dá em caráter precário, de forma liminar
ou incidental, nos processos de tutela e adoção (exceto adoção por estrangeiros).

A guarda permanente (art. 33, §2º, primeira parte, do ECA) destina-se a atender situações
peculiares, no qual não se logrou, formalmente, uma adoção ou tutela, todavia as medidas adotadas
são mais benéficas a criança e ao adolescente. É medida perene.

A guarda peculiar (art. 33, §2º, segunda parte do Estatuto), por sua vez, visa ao suprimento de
uma falta eventual dos pais, permitindo que o guardião represente o guardado em determinada
situação.

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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Por fim, cabe ressaltar que a guarda é sempre precária, no sentido de que pode ser revogada
a qualquer tempo, mediante ato judicial fundamentado, ouvido o Ministério Público. Essa
precariedade é que a diferencia da tutela ou da adoção11.

 TUTELA
É a segunda modalidade de colocação da criança ou adolescente em família substituta. Seu
objetivo é possibilitar que a criança ou adolescente seja assistida ou representada. Diferentemente
da guarda, é pressuposto para a concessão de tutela que seja decretada a perda ou suspensão do
poder familiar12.

O art. 37, ECA, disciplina a situação do tutor indicado pelos pais, via testamento ou documento
idôneo, cujo seu parágrafo único dispõe que o melhor interesse da criança e do adolescente,
verificado no caso concreto, pode sobrepor-se à disposição de última vontade dos pais. Assim, se
houver pessoa em melhores condições de cuidar dos interesses da criança ou adolescente do que
aquela indicada pelos pais, fica afastada a disposição de última vontade13.

11 Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência material, moral e educacional à criança ou adolescente, conferindo a seu
detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais.
§ 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato, podendo ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos procedimentos de tutela e
adoção, exceto no de adoção por estrangeiros.
§ 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos casos de tutela e adoção, para atender a situações peculiares ou suprir a falta
eventual dos pais ou responsável, podendo ser deferido o direito de representação para a prática de atos determinados.
§ 3º A guarda confere à criança ou adolescente a condição de dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive
previdenciários.
IMPORTANTE – POSIÇÃO DO STJ: como acima referido, o art. 33, § 3º dispõe que a guarda confere a condição de dependente à criança
ou ao adolescente inclusive para fins previdenciários. Em contrapartida, a Lei 8.213/91 (com alterações dadas pela Lei 9.528/97) inclui
entre seus dependentes apenas o tutelado (nenhuma referência é feita àquele que esta sob a guarda do segurado). A antiga posição do
STJ é no sentido de que prevalece a lei previdenciária, por ser específica, razão por que aquele sob guarda não tem direito a benefícios
previdenciários. Contudo, em dezembro de 2016, a questão foi pacificada pela Corte Especial do STJ, no sentido de que a criança ou
adolescente que está sob guarda é considerada dependente do guardião. Desse modo, embora a lei previdenciária seja norma específica
da previdência social, não menos certo é que a criança e adolescente contam com proteção de norma específica que confere ao menor sob
guarda a condição de dependente para todos os efeitos, inclusive previdenciários. Logo, prevalece a previsão do ECA trazida pelo art. 33, §
3º, mesmo sendo anterior à lei previdenciária.
§ 4º Salvo expressa e fundamentada determinação em contrário, da autoridade judiciária competente, ou quando a medida for aplicada
em preparação para adoção, o deferimento da guarda de criança ou adolescente a terceiros não impede o exercício do direito de visitas
pelos pais, assim como o dever de prestar alimentos, que serão objeto de regulamentação específica, a pedido do interessado ou do
Ministério Público.
Art. 34. O poder público estimulará, por meio de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o acolhimento, sob a forma de guarda,
de criança ou adolescente afastado do convívio familiar.
§ 1º A inclusão da criança ou adolescente em programas de acolhimento familiar terá preferência a seu acolhimento institucional,
observado, em qualquer caso, o caráter temporário e excepcional da medida, nos termos desta Lei.
§ 2º Na hipótese do § 1º deste artigo a pessoa ou casal cadastrado no programa de acolhimento familiar poderá receber a criança ou
adolescente mediante guarda, observado o disposto nos arts. 28 a 33 desta Lei.
§ 3º A União apoiará a implementação de serviços de acolhimento em família acolhedora como política pública, os quais deverão dispor
de equipe que organize o acolhimento temporário de crianças e de adolescentes em residências de famílias selecionadas, capacitadas e
acompanhadas que não estejam no cadastro de adoção.
§ 4º Poderão ser utilizados recursos federais, estaduais, distritais e municipais para a manutenção dos serviços de acolhimento em
família acolhedora, facultando-se o repasse de recursos para a própria família acolhedora.
Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tempo, mediante ato judicial fundamentado, ouvido o Ministério Público.
12 Art. 36. A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos.
Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe a prévia decretação da perda ou suspensão do poder familiar e implica
necessariamente o dever de guarda.
13 Art. 37. O tutor nomeado por testamento ou qualquer documento autêntico, conforme previsto no parágrafo único do art. 1.729 da Lei
no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, deverá, no prazo de 30 (trinta) dias após a abertura da sucessão, ingressar com pedido
destinado ao controle judicial do ato, observando o procedimento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei.
Parágrafo único. Na apreciação do pedido, serão observados os requisitos previstos nos arts. 28 e 29 desta Lei, somente sendo deferida a
tutela à pessoa indicada na disposição de última vontade, se restar comprovado que a medida é vantajosa ao tutelando e que não existe
outra pessoa em melhores condições de assumi-la.
Art. 38. Aplica-se à destituição da tutela o disposto no art. 24.

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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

 ADOÇÃO
Antes da vigência do ECA e da nova política de proteção do menor, a adoção se dava em
benefício dos adotantes. O próprio Código Civil de 1916 previa que somente os maiores de 50 anos e
sem prole viva poderiam adotar. Com a mudança de entendimento, hoje, a adoção se dá em
benefício do adotado, sendo obrigatória a demonstração das reais vantagens, tudo em nome do
superior interesse da criança e do adolescente. Desse modo, todo o processo de adoção deve ser
interpretado buscando as reais vantagens à criança e ao adolescente. Em caso de conflito entre
direitos e interesses do adotando e de outras pessoas, inclusive seus pais biológicos, devem
prevalecer os direitos e os interesses do adotando.

A adoção se dá em benefício do adotado, sendo imprescindível a demonstração das reais


vantagens de tal modalidade de colocação em família substituta.

A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se deve recorrer apenas quando


esgotados os recursos de manutenção da criança ou adolescente na família natural ou extensa,
sendo vedada a adoção por procuração (ato personalíssimo). Porém essa norma comporta exceção
importante, a adoção post mortem, ou seja, a adoção deferida a adotante morto, após a
demonstração da sua vontade inequívoca de adotar, porém, antes da sentença definitiva. Nesse
caso, o STJ admite ainda a adoção post mortem de pessoa que morre antes mesmo de ajuizar o
processo, se, por outros meios, for possível a prova da vontade inequívoca de adotar14. Entretanto, o
mesmo STJ já decidiu que, se no curso da ação de adoção conjunta, um dos cônjuges desistir do
pedido e outro vier a falecer sem ter manifestado inequívoca intenção de adotar unilateralmente,
não poderá ser deferido ao interessado falecido o pedido de adoção unilateral post mortem. Pois,
tratando-se de adoção em conjunto, um cônjuge não pode adotar sem o consentimento do outro.
Assim, se proposta adoção em conjunto e um dos autores (candidatos a pai/mãe) desiste da ação, a
adoção deve ser indeferida, especialmente se o outro vem a morrer antes de manifestar-se sobre a
desistência15.

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, a adoção poderá ser deferida ao adotante


que, após inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no curso do procedimento, antes de
prolatada a sentença. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os mesmos direitos e
deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os
impedimentos matrimoniais. Sendo assim, a adoção é um ato pleno! Além disso, a adoção deve ser
constituída por sentença judicial e somente produz efeitos a partir do trânsito em julgado. Essa
característica impossibilidade a adoção por escritura pública.

Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que será inscrita no
registro civil mediante mandado do qual não se fornecerá certidão.

A sentença judicial, segundo o STJ, possui caráter constitutivo, passível de rescisão apenas
por ação rescisória16.

Quanto ao reconhecimento dos seus antepassados, o ECA concede ao adotado o direito de


conhecer sua origem biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo no qual a medida
foi aplicada e seus eventuais incidentes, após completar 18 (dezoito) anos. Caso seja menor de 18

14
Dentre outros precedentes: REsp 457.635/PB, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ de 17/3/2003.
15
STJ. 3ª Turma. REsp 1421409-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 18/8/2016 (Info 588).
16
REsp 1.112.265/CE, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 18/5/2010.

26
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

anos, o acesso ao processo de adoção poderá ser também deferido ao adotado, a seu pedido,
assegurada orientação e assistência jurídica e psicológica.

Há também, no Estatuto, a previsão de adoção conjunta e guarda compartilhada. Os


divorciados, os judicialmente separados e os ex-companheiros podem adotar conjuntamente,
contanto que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o estágio de convivência
tenha sido iniciado na constância do período de convivência e que seja comprovada a existência de
vínculos de afinidade e afetividade com aquele não detentor da guarda, que justifiquem a
excepcionalidade da concessão.Nesse caso, se ficar demonstrado efetivo benefício ao adotando, será
assegurada a guarda compartilhada prevista no Código Civil. Portanto, se no curso de processo de
adoção de criança ou adolescente o casal adotante se divorcia, a adoção poderá ser deferida,
autorizando-se a guarda compartilhada, desde que demonstrado efetivo benefício ao adotando.

De acordo com o art. 47, §10, ECA, o PRAZO MÁXIMO PARA CONCLUSÃO DA AÇÃO DE
ADOÇÃO SERÁ DE 120 DIAS, prorrogável uma única vez por igual período.

 REQUISITOS
O ECA apresenta uma série de requisitos para que a adoção seja deferida, vejamos cada um
deles.

Idade e parentesco:
O adotado deve ter, no máximo, 18 anos à data do pedido17, além de possuir, no mínimo, 18
anos e 16 anos de diferença em relação ao adotado.

Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, independentemente do estado


civil.
§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando.
§ 2º Para adoção conjunta, é indispensável que os adotantes sejam casados civilmente ou
mantenham união estável, comprovada a estabilidade da família.
§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho do que o adotando.

Há um precedente absolutamente excepcional do STJ autorizando a adoção de uma criança


por seus avós. O caso dizia respeito a um casal que adotou uma menina de 8 anos vítima de estupro
do qual resultou gravidez. Nesse caso, em razão de sua tenra idade, mãe e filha cresceram como
irmãs. O STJ entendeu, então, que o princípio do melhor interesse das crianças deveria prevalecer
sobre a letra fria do art. 42, §1º do ECA:
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE ADOÇÃO C/C
DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR MOVIDA PELOS ASCENDENTES QUE JÁ EXERCIAM A
PATERNIDADE SOCIOAFETIVA. SENTENÇA E ACÓRDÃO ESTADUAL PELA PROCEDÊNCIA
DO PEDIDO. MÃE BIOLÓGICA ADOTADA AOS OITO ANOS DE IDADE GRÁVIDA DO
ADOTANDO. ALEGAÇÃO DE NEGATIVA DE VIGÊNCIA AO ART. 535 DO CPC. AUSÊNCIA DE
OMISSÃO, OBSCURIDADE OU CONTRADIÇÃO NO ACÓRDÃO RECORRIDO.
4. A vedação da adoção de descendente por ascendente, prevista no art. 42, § 1º, do
ECA, visou evitar que o instituto fosse indevidamente utilizado com intuitos meramente
patrimoniais ou assistenciais, bem como buscou proteger o adotando em relação a
eventual "confusão mental e patrimonial" decorrente da "transformação" dos avós em

17
A adoção de pessoa maior e capaz pelo padrasto independe do consentimento do pai biológico, desde que estabelecido o vínculo afetivo
entre adotante e adotando e existente manifestação livre de vontade de quem pretenda adotar e de quem possa ser adotado. Vide REsp
1347228/SC, Rel. Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma, julgado em 06/11/2012, DJe 20/11/2012. Além disso, aos maiores de 18 anos,
aplicam-se as disposições do Código Civil de 2002.

27
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

pais. 5. Realidade diversa do quadro dos autos, porque os avós sempre exerceram e ainda
exercem a função de pais do menor, caracterizando típica filiação socioafetiva. 6.
Observância do art. 6º do ECA: na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins
sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e
coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em
desenvolvimento. 7. Recurso especial não provido. (STJ - REsp: 1448969 SC 2014/0086446-
1, Relator: Ministro MOURA RIBEIRO, Data de Julgamento: 21/10/2014, TERCEIRA TURMA,
Data de Publicação: DJe 03/11/2014)

Condição do tutor ou curador:


Há, ainda, uma vedação quanto à adoção por parte do tutor ou do curador:
Art. 44. Enquanto não der conta de sua administração e saldar o seu alcance, não pode o
tutor ou o curador adotar o pupilo ou o curatelado.

Consentimento:
Para a adoção, exceto se houver a extinção ou destituição prévia do poder familiar, será
necessário o consentimento dos genitores.
Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal do
adotando.
§ 1º O consentimento será dispensado em relação à criança ou adolescente cujos pais
sejam desconhecidos ou tenham sido destituídos do poder familiar.

A gestante ou mãe que manifeste interesse em entregar seu filho para adoção, antes ou logo
após o nascimento18, será encaminhada à Justiça da Infância e da Juventude. Na hipótese de
desistência pelos genitores da entrega da criança após o nascimento, a criança será mantida com os
genitores, e será determinado pela Justiça da Infância e da Juventude o acompanhamento familiar
pelo prazo de180 dias. Além disso, é garantido à mãe o direito ao sigilo sobre o nascimento.

Em relação ao consentimento são estabelecidas, também, as seguintes regras:


- Se for adotado maior de 12 anos, deverá haver o seu consentimento;
- Deve ser precedido de orientação;
- Deve ser prestado perante ou ratificado perante autoridade judicial;
- Pode ser retratado até 10 dias após a publicação da sentença de adoção.

Estágio de convivência:
O estágio de convivência tem por finalidade avaliar a adaptação da criança na família
adotante, especialmente a verificação quanto ao estabelecimento de vínculos. O estágio de
convivência será cumprido no território nacional, preferencialmente na comarca de residência da
criança ou adolescente, ou, a critério do juiz, em cidade limítrofe, respeitada, em qualquer hipótese,
a competência do juízo da comarca de residência da criança.

O período máximo de estágio é de 90 dias (prorrogável por igual período), observadas as


características de cada criança ou adolescente e as peculiaridades de cada caso. À luz do caso
concreto, o juiz determinará o período de estágio probatório, que poderá ser dispensado, caso o
adotado esteja sob tutela ou guarda legal dos adotantes ou se verificado o vínculo constituído

18
Essa é uma alteração recente no ECA. Anteriormente não se admitia o consentimento anterior ao nascimento.

28
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

entre eles. A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a dispensa da realização do estágio de
convivência.

Em caso de adoção internacional, o estágio de convivência será de, no mínimo, 30 dias e, no


máximo, 45 dias, prorrogável por até igual período, uma única vez, depois do qual será apresentado
laudo da equipe interdisciplinar, que recomendará, ou não, o deferimento da adoção.

Prévio cadastramento:
Para a adoção, exige-se um procedimento prévio de habilitação dos pretendentes à adoção,
expressamente disciplinado no ECA. Trata-se da inscrição dos pretendentes num cadastro de pessoa
interessadas na adoção, estadual e nacional, que, atualmente, é nacional. Haverá cadastros distintos
para pessoas ou casais residentes fora do País, que somente serão consultados na inexistência de
postulantes nacionais habilitados nos cadastros estaduais e nacionais. A autoridade judiciária
providenciará, no prazo de 48 horas, a inscrição das crianças e adolescentes em condições de serem
adotados que não tiveram colocação familiar na comarca de origem, e das pessoas ou casais que
tiveram deferida sua habilitação à adoção nos cadastros estadual e nacional, sob pena de
responsabilidade. Compete à Autoridade Central Estadual zelar pela manutenção e correta
alimentação dos cadastros, com posterior comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira.

O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia consulta aos órgãos técnicos do juizado,
ouvido o Ministério Público. Além disso, a alimentação do cadastro e a convocação criteriosa dos
postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo Ministério Público.

A inscrição de postulantes à adoção será precedida de um período de preparação psicossocial


e jurídica, orientado pela equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente
com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à
convivência familiar. Sempre que possível e recomendável, a preparação incluirá o contato com
crianças e adolescentes em acolhimento familiar ou institucional em condições de serem adotados,
a ser realizado sob a orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância e da
Juventude, com apoio dos técnicos responsáveis pelo programa de acolhimento e pela execução da
política municipal de garantia do direito à convivência familiar.

Para determinação da adoção, observa-se a ordem cronológica de inscrição no cadastro de


adoção, com a finalidade de moralizar a adoção, sem preferências entre os habilitados. Há,
contudo, hipóteses nas quais a ordem cronológica não será observada:
- Pedido de adoção unilateral;
- Adoção por parente com o qual a criança ou adolescente mantenha vínculos de afinidade
e afetividade;
- Adoção por pedido de quem detém a tutela ou guarda legal de criança maior de 3 (três)
anos ou adolescente, desde que o lapso de tempo de convivência comprove a fixação de
laços de afinidade e afetividade, e não seja constatada a ocorrência de má-fé

Além disso, é assegurada prioridade no cadastro a pessoas interessadas em adotar criança ou


adolescente com deficiência, com doença crônica ou com necessidades específicas de saúde, além
de grupo de irmãos (art. 50, §17, ECA).

Em regra, é vedada a adoção intuito personae, sendo admitida excepcionalmente nas


situações em que o vínculo afetivo já estiver estabelecido, sempre em prol do superior interesse da
criança.

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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Restrições à idade
e parentesco Consentimento

Prévio cadastramento

Estágio de convivência

Requisitos à
Adoção
NÃO pode ser
tutor ou curador
NÃO pode ser intuito
personae

QUADRO COMPARATIVO ENTRE AS MODALIDADES DE COLOCAÇÃO


DA CRIANÇA OU ADOLESCENTE EM FAMÍLIA SUBSTITUTA
GUARDA TUTELA ADOÇÃO
Destinada ao amparo e à
administração dos bens da criança Objetiva a criação do vínculo de
Destinada a regularizar posse de
ou adolescente em caso de paternidade/maternidade entre
fato de criança ou adolescente.
falecimento dos pais, ausência ou pais-adotantes e filho-adotado.
perda do poder familiar.
É revogável. É revogável. É irrevogável.
É necessária a perda do poder
Não implica perda ou suspensão Demanda necessariamente a
familiar dos pais biológicos, cujo
do poder familiar, mas o guardião perda ou suspensão do poder
pedido deve ser expresso na ação
pode opor-se aos pais. familiar.
de adoção.
Em regra, é deferida no curso dos
processos de tutela e adoção, É possível a concessão de guarda
exceto adoção estrangeira. Cabível É possível a concessão de guarda no curso do processo de adoção.
também como pedido autônomo no curso do processo de tutela. Em processo de adoção estrangeira
em caso de falta eventual de pais não se defere pedido de guarda.
ou responsáveis.

Posição do STJ (dezembro/2016): Goza de plenos direitos


Inclui direitos previdenciários,
inclui direitos previdenciários em previdenciários, pois é filho tal qual
atendidos os requisitos legais.
homenagem ao princípio da o biológico.
proteção integral.
Obriga a prestar assistência Engloba o dever de guarda e de
Forma o vínculo do poder familiar
material, moral e educacional. administração de bens do tutelado.

30
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO

As medidas específicas de proteção poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem


como substituídas a qualquer tempo.

Desse modo, pode ser aplicada apenas uma medida de proteção ou várias, simultaneamente,
sempre de acordo com as necessidades específicas de seu destinatário. Importante observar que as
medidas de proteção devem, em regra, ser aplicadas em conjunto com as medidas destinadas aos
pais ou responsável pela criança ou adolescente, previstas no art. 129.

As medidas de proteção devem ser aplicadas de acordo com as necessidades específicas de


seu destinatário, que assim precisam ser apuradas por profissionais habilitados, devendo se
estender pelo período em que estiverem surtindo o efeito (positivo) desejado. Devem ser
continuamente reavaliadas e, se ao longo de sua execução se mostrarem inócuas ou insuficientes, é
necessária sua substituição por outra mais adequada.

A substituição deve ser criteriosa e, no caso das medidas socioeducativas (às quais as regras
contidas nos arts. 99 e 100 do ECA, também se aplicam), invariavelmente precedidas da oitiva do
Ministério Público, do adolescente e de sua defesa, em incidente de execução, devendo em
qualquer caso ser analisada e respeitada a capacidade de cumprimento por seu destinatário,
evitando, pois, a sua aplicação meramente formal. Salienta-se que a execução de tais medidas
estará, em regra, a cargo de algum programa específico de atendimento, cuja adequação e eficácia
devem ser fiscalizadas, sendo que o eventual fracasso da intervenção realizada deve ser considerado,
a priori, de responsabilidade do programa em execução, que precisa ser flexível e capaz de atender
os casos mais complexos e difíceis a ele encaminhados.

Na continuidade do capítulo das medidas específicas de proteção, o Estatuto traz um extenso


rol de princípios que regem a aplicação dessas medidas. No caput do art. 100 estão relacionados
alguns dos princípios que devem nortear a aplicação de medidas de proteção (também aplicados às
medidas socioeducativas). A estes devem se somar aqueles relacionados no seu parágrafo único,
universalmente consagrados, como os princípios do interesse superior da criança e do jovem; da
privacidade; da intervenção precoce; da intervenção mínima; da proporcionalidade e da
atualidade; da responsabilidade parental; da prevalência da família; da obrigatoriedade da
informação, da oitiva obrigatória e da participação da criança ou do adolescente na definição da
medida a ser aplicada.

Na aplicação das medidas, serão levadas em conta as necessidades pedagógicas, preferindo-se


aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.

 PRINCÍPIOS QUE REGEM A APLICAÇÃO DAS MEDIDAS


- Condição da criança e do adolescente como sujeitos de direitos;
- Proteção integral e prioritária;
- Responsabilidade primária e solidária do poder público;

31
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

- Interesse superior da criança e do adolescente;


- Privacidade;
- Intervenção precoce e mínima;
- Proporcionalidade e atualidade;
- Responsabilidade parental;
- Prevalência da família;
- Obrigatoriedade da informação;
- Oitiva obrigatória e participação.

O art. 101 prevê as medidas que poderão ser aplicadas aos tutelados pelo ECA. O rol de
medidas do é meramente exemplificativo, podendo ser aplicadas outras que se mostrem adequadas
às necessidades pedagógicas da criança ou adolescente.

 MEDIDAS DE PROTEÇÃO
- Encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;
- Orientação, apoio e acompanhamento temporários
- Matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;
(nada impede que também seja no ensino médio).
- Inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção
da família, da criança e do adolescente;
- Requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou
ambulatorial;
- Inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a
alcoólatras e toxicômanos19;
- Acolhimento institucional
- Inclusão em programa de acolhimento familiar;
- Colocação em família substituta.

Não por acaso o encaminhamento aos pais ou responsáveis está relacionada em primeiro
lugar na lista. Esta medida mostra a preocupação do legislador em realizar as intervenções
necessárias com a criança ou o adolescente junto à sua família. Isto não significa, contudo, que o
encaminhamento da criança ou adolescente a seus pais ou responsável deva ocorrer de forma
automática. Como nos demais casos, antes da aplicação desta medida, é necessário submeter a
criança ou o adolescente atendidos a uma avaliação interprofissional, de modo a descobrir o porquê
da situação, que pode ter se originado por grave omissão ou abuso dos pais ou responsável e
determinar alguma intervenção, ainda que de mera orientação, junto a estes. De qualquer modo, a
boa medida (ou programa de atendimento) não é aquela que se estende indefinidamente no tempo,
mas sim aquela que, após determinado período, permite o desligamento de seu destinatário, por
seus próprios méritos e por não mais se fazer necessária a intervenção.

19
O Conselho tutelar poderá aplicar até essa medida, sem autorização judicial.

32
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

O acolhimento institucional e o acolhimento familiar são medidas provisórias e excepcionais,


utilizáveis como forma de transição para reintegração familiar ou, não sendo esta possível, para
colocação em família substituta, não implicando privação de liberdade.

Ressalta-se que o afastamento da criança ou adolescente do convívio familiar é de


competência exclusiva da autoridade judiciária e importará na deflagração, a pedido do Ministério
Público ou de quem tenha legítimo interesse, de procedimento judicial contencioso, no qual se
garanta aos pais ou ao responsável legal o exercício do contraditório e da ampla defesa.

Para que crianças e adolescentes sejam encaminhados às instituições de acolhimento


institucional, governamental ou não, será necessária a expedição de uma Guia de Acolhimento pela
autoridade judiciária, na qual deverá constar:

Sua identificação e a qualificação completa de seus pais ou de seu responsável, se conhecidos;


- Endereço de residência dos pais ou do responsável, com pontos de referência;
- Os nomes de parentes ou de terceiros interessados em tê-los sob sua guarda;
- Os motivos da retirada ou da não reintegração ao convívio familiar.

 PROCEDIMENTO DE ACOLHIMENTO

Encaminhamento de Criança ou adolescente à Elaboração do Plano Individual de


entidade de acolhimento, governamental ou não, Atendimento, visando à reintegração
por meio de GUIA DE ACOLHIMENTO, no local mais familiar. Se tiver ordem do juiz, colocação
próximo da residência. em família substituta.

Caso não seja possível a reintegração,


Verificada a possibilidade de reintegração,
entidade envia relatório ao MP, que terá
entidade envia comunicado à autoridade
15 (quinze) dias para pedir a destituição
judiciária.
do poder familiar.

Vistas ao Ministério
Juiz decide em 5 dias
Público por 5 dias

O prazo máximo de permanência em acolhimento é de 18 MESES.

33
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

DA PREVENÇÃO

A prevenção pode ser geral ou especial. A prevenção geral está prevista do art. 70 ao 73 do
ECA e trata do dever de prevenção da família, da comunidade e do Estado para com as crianças e
adolescentes. Já a prevenção especial está prevista nos art. 79 e 80 do Estatuto.

AUTORIZAÇÃO PARA VIAJAR


A regra é que toda viagem de criança seja realizada com acompanhamento dos pais ou
responsáveis. Assim, se não estiver acompanhada dos pais será necessária autorização judicial.
Excepcionalmente, a criança poderá viagem sem autorização judicial ou acompanhada dos pais ou
responsáveis legais, nas seguintes hipóteses:
- Quando o translado ocorrer entre comarca contígua à da residência da criança, se na
mesma unidade da Federação, ou incluída na mesma região metropolitana;

- A criança estiver acompanhada de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau,


comprovado documentalmente o parentesco;

- A criança estiver acompanhada de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, mãe
ou responsável.

Fora essas hipóteses, a viagem desacompanhada dos pais ou dos responsáveis legais
depende de autorização judicial. Assim, o pedido deverá ser formulado ao Juiz da Infância e
Juventude, o qual poderá deferir autorização com validade por dois anos.

Porém, para viagens ao exterior, o procedimento é diverso. De acordo com o Estatuto, a


autorização judicial para viagens de crianças e de adolescentes será dispensável apenas em duas
situações:
- Quando estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável legal;

- Quando viajar na companhia de um dos pais, autorizado expressamente pelo outro


através de documento com firma reconhecida.

Caso um dos pais não autorize a viagem ao exterior, será necessário ingressar com
procedimento junto à Vara da Infância e Juventude a fim de suprir judicialmente a falta de
manifestação. O magistrado verificará se é, de fato, justificável a escusa do outro pai.

O ECA estabelece, também, um tratamento diferenciado quanto à saída do país de estrangeiro


com criança ou adolescente:
Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, nenhuma criança ou adolescente
nascido em território nacional poderá sair do País em companhia de estrangeiro
residente ou domiciliado no exterior.

34
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

JUSTIÇA DA INÂNCIA E JUVENTUDE

A competência territorial da Vara da Infância e Juventude é definida pelo artigo 147. Trata-se
de competência territorial especial, porquanto distinta da regra geral prevista no CPP.

Como já analisado, a competência é a do domicílio dos pais ou responsável, ou pelo lugar


onde se encontre a criança ou adolescente, à falta destes. Adotou o legislador a regra do Juízo
Imediato para fixação da competência, a qual visa proteger a criança e adolescente mediante a
outorga de prestação jurisdicional mais rápida e eficaz.

Súmula 383/STJ. Competência - Processo e Julgamento - Ações Conexas de Interesse de


Menor. A competência para processar e julgar as ações conexas de interesse de menor é,
em princípio, do foro do domicílio do detentor de sua guarda.

Entretanto, no caso de ato infracional, a competência é do lugar da ação ou omissão,


seguindo a linha do art. 70 do CPP. A regra excetua-se, ainda, na hipótese de infração por meio de
transmissão simultânea de rádio ou televisão, que atinja mais de uma comarca, sendo competente a
autoridade judiciária do local da sede estadual da emissora ou rede (art. 147, § 3º).

Em caso de infração administrativa, fixou o STJ o entendimento no sentido de que é cabível a


aplicação do art. 147, I e II do ECA. Portanto, a competência do juízo para aplicação das sanções se
dá, também, pela residência dos pais ou responsável.

Em caso de conflito entre o domicílio dos pais e do lugar no qual se encontre a criança ou
adolescente, entende a doutrina que deve prevalecer o primeiro, tendo prevalência o domicílio dos
pais sobre o local onde se encontra a criança ou adolescente.

Dispõe o art. 148 sobre a competência em razão de matéria. Nele, se delimita a matéria
abrangida pelas varas especializadas. Dessa forma, trata-se de competência absoluta, devendo ser
declarada de ofício e podendo ser alegada em qualquer tempo e grau de jurisdição,
independentemente de exceção (arts. 111 e 113 do CPC).

Informativo 805/STF. Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes consistentes


em disponibilizar ou adquirir material pornográfico envolvendo criança ou adolescente
(arts. 241, 241-A e 241-B do ECA), quando praticados por meio da rede mundial de
computadores (internet).

35
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

MINISTÉRIO PÚBLICO

Trata-se de instituição extremamente relevante para o Estado, na medida em que exerce o


papel de guardião da sociedade e das instituições democráticas. Tem o papel importante não só
como parte, propondo ação, mas também como custos legis, na fiscalização da lei, e como
presidente de procedimentos (inquérito civil, procedimento administrativo de sindicância).

A falta de intervenção do Ministério Público acarreta nulidade do feito, que deve ser declarada
de ofício. A intenção do legislador é garantir a presença do MP em todo e qualquer procedimento da
competência da Justiça da Infância e da Juventude, tendo em vista seu papel fundamental na
garantia dos direitos da criança e do adolescente. Dessa forma, é assegurado, sempre, ao Ministério
Público a intimação pessoal (art. 203) e a vista dos autos (art. 202), para que se manifeste sobre
provas produzidas, decisões prolatadas, bem como sobre a existência de irregularidades no feito.

Art. 201. Compete ao Ministério Público:


I - conceder a remissão como forma de exclusão do processo;
II - promover e acompanhar os procedimentos relativos às infrações atribuídas a
adolescentes;
III - promover e acompanhar as ações de alimentos e os procedimentos de suspensão e
destituição do poder familiar, nomeação e remoção de tutores, curadores e guardiães,
bem como oficiar em todos os demais procedimentos da competência da Justiça da
Infância e da Juventude;
IV - promover, de ofício ou por solicitação dos interessados, a especialização e a inscrição
de hipoteca legal e a prestação de contas dos tutores, curadores e quaisquer
administradores de bens de crianças e adolescentes nas hipóteses do art. 98;
V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos interesses
individuais, difusos ou coletivos relativos à infância e à adolescência, inclusive os definidos
no art. 220, § 3º inciso II, da Constituição Federal;
VI - instaurar procedimentos administrativos e, para instruí-los:
a) expedir notificações para colher depoimentos ou esclarecimentos e, em caso de não
comparecimento injustificado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela polícia civil ou
militar;
b) requisitar informações, exames, perícias e documentos de autoridades municipais,
estaduais e federais, da administração direta ou indireta, bem como promover inspeções
e diligências investigatórias;
c) requisitar informações e documentos a particulares e instituições privadas;
VII - instaurar sindicâncias, requisitar diligências investigatórias e determinar a instauração
de inquérito policial, para apuração de ilícitos ou infrações às normas de proteção à
infância e à juventude;
VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados às crianças e
adolescentes, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;
IX - impetrar mandado de segurança, de injunção e habeas corpus, em qualquer juízo,
instância ou tribunal, na defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis afetos à
criança e ao adolescente;
X - representar ao juízo visando à aplicação de penalidade por infrações cometidas contra
as normas de proteção à infância e à juventude, sem prejuízo da promoção da
responsabilidade civil e penal do infrator, quando cabível;

36
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

XI - inspecionar as entidades públicas e particulares de atendimento e os programas de


que trata esta Lei, adotando de pronto as medidas administrativas ou judiciais necessárias
à remoção de irregularidades porventura verificadas;
XII - requisitar força policial, bem como a colaboração dos serviços médicos, hospitalares,
educacionais e de assistência social, públicos ou privados, para o desempenho de suas
atribuições.
(...)
§ 5º Para o exercício da atribuição de que trata o inciso VIII deste artigo, poderá o
representante do Ministério Público:
a) reduzir a termo as declarações do reclamante, instaurando o competente
procedimento, sob sua presidência;
b) entender-se diretamente com a pessoa ou autoridade reclamada, em dia, local e
horário previamente notificados ou acertados;
c) efetuar recomendações visando à melhoria dos serviços públicos e de relevância pública
afetos à criança e ao adolescente, fixando prazo razoável para sua perfeita adequação.

Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não for parte, atuará obrigatoriamente
o Ministério Público na defesa dos direitos e interesses de que cuida esta Lei, hipótese em
que terá vista dos autos depois das partes, podendo juntar documentos e requerer
diligências, usando os recursos cabíveis.

Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público acarreta a nulidade do feito, que
será declarada de ofício pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado.

ATO INFRACIONAL

 CONCEITO
É a conduta praticada por criança ou adolescente descrita como crime ou contravenção penal.
Está previsto no art. 103, ECA:
Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção
penal.

Criança e adolescente não cometem crime, pois não há imputabilidade (art. 228, CF, e art. 104,
ECA), pressuposto necessário à culpabilidade (segundo a teoria finalista tripartite de crime).

 SUJEITO PASSIVO
É a criança e o adolescente:
Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança corresponderão as medidas previstas no
art. 101.

Logo, criança também comete ato infracional, mas apenas poderão ser aplicadas medidas de
proteção. Em relação às crianças vigora o regime de irresponsabilidade, pois não podem sofrer
processo de ato infracional. Caso cometa ato infracional, a criança será encaminhada ao Conselho

37
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Tutelar para que, se necessário, sejam aplicadas as medidas protetivas (isoladas ou cumuladas) ou
para que haja representação ao Ministério Público em caso de afastamento do convívio familiar.

Já em relação ao adolescente, caso cometa ato infracional, poderá sofrer um processo


infracional, podendo ser aplicadas medidas socioeducativas (e/ou medidas de proteção), a depender
da situação do caso concreto.

 TEMPO DO ATO INFRACIONAL


É o tempo da conduta que configura o ato infracional. Nessa situação, aplica-se a teoria da
atividade, não a do resultado.

 MEDIDA PROTETIVA X MEDIDA SOCIOEDUCATIVA


Além da diferença natural entre as suas espécies:
- Medida Socioeducativa só se aplica a adolescente, através de processo contraditório, com
reserva de jurisdição;

- Medida Protetiva pode ser aplicada diretamente pelo Conselho Tutelar, não havendo
processo contraditório.

 TEORIAS DO ATO INFRACIONAL


Teoria do Direito Penal Juvenil: sustenta que SEJA aplicado subsidiariamente ao ECA o Código
Penal e o Código de Processo Penal, pois considera a medida socioeducativa uma sanção aos
adolescentes pelo cometimento de um ato ilícito.

Teoria Infantista: sustenta que não seja aplicado subsidiariamente o Código Penal e o Código
de Processo Penal ao ECA, pois consideram as medidas socioeducativas tão-somente como
mecanismos de ressocialização, não de punição.

DIREITO PENAL ECA


 Ato infracional equiparado à;
 Crime ou contravenção;
 Mandado de busca e apreensão;
 Mandado de prisão;
 Adolescente internado;
 Maior preso;
 Internação provisória;
 Prisão preventiva;
 Medida socioeducativa;
 Pena;
 Representação;
 Denúncia;
 Representado;
 Réu;
 Apresentação;
 Interrogatório;
 Audiência de apresentação e audiência de
 Instrução.
continuação.

JURISPRUDÊNCIA:
- Aplica-se o princípio da insignificância ao ato infracional. É necessário que haja fato típico
para a configuração de ato infracional e a insignificância afasta a tipicidade (afasta o
conceito material de crime), pois não há desobediência ao princípio da ofensividade.

38
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

- Aplicam-se as causas excludentes de ilicitude e de culpabilidade previstas no Código


Penal,exceto, quanto a estas, a relativa a imputabilidade biológica.

- Adolescente não pode ser extraditado, pois não comete crime. Desse modo, nunca
haverá a situação da dupla tipicidade.

 PROCEDIMENTO DO ATO INFRACIONAL


Em relação à criança:
Prática de ato infracional encaminhamento à delegacia encaminhamento ao
conselho tutelar, que poderá aplicar as medias protetivas de sua competência.

Caso se trate das medidas protetivas sujeitas, a decisão judicial, o conselho tutelar
representará ao MP para que represente ao juizado da infância e da juventude se uma dessas
medidas sujeitas a decisão judicial for aceita, emite-se a guia de acolhimento e dá-se início ao
processo de acolhimento visto na aula anterior.

Em relação ao adolescente:
Prática do ato infracional poderá ser apreendido em flagrante ou por ordem judicial, o
que já pressupõe ter havido a representação por parte do MP.

Caso seja apreendido por ordem judicial, será apresentado ao juiz na audiência de
apresentação; se apreendido em flagrante, será apresentado ao delegado.

Caso esteja com os pais e não seja caso de ato infracional passível de aplicação de medida
socioeducativa de internação, poderá o delegado liberar o adolescente, encaminhando um boletim
de ocorrência circunstanciado ao MP, que poderá representar ao judiciário, pedir diligência, arquivar
ou aplicar a remissão.

Havendo a representação, o juiz poderá receber, ou não, a representação. Já na


representação o juiz deve se manifestar acerca da internação provisória, pois é uma hipótese de
reserva de jurisdição. Cita-se o adolescente e seus pais ou responsáveis para o comparecimento à
audiência de apresentação, assistidos de advogado. Se o adolescente não foi localizado, será
expedido mandado de busca e apreensão, caso seja localizado e não se apresente, será expedido
mandado de condução coercitiva. O juiz pode oferecer a remissão, que deve ser aceita pelo
adolescente. Se não oferecer a remissão, abre- se o prazo de 3 dias para a defesa. Esgotado prazo,
realiza-se audiência de continuação, ocasião na qual são ouvidas as testemunhas e produzidas as
provas20.

Alegações finais na audiência de continuação: 20 minutos + 10 minutos para MP e defesa,


após isso o juiz prolatará sentença.

20
Súmula 342 – STJ: “No procedimento para aplicação de medida socioeducativa, é nula a desistência de outras provas em face da
confissão do adolescente”.

39
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Observações acerca do procedimento: caso o adolescente esteja internado provisoriamente,


o prazo máximo (até a sentença) de todo esse processo é de 45 dias. O STF entende que não se
aplica o princípio da identidade física do juiz, por haver fracionamento dos atos processuais.

 REMISSÃO
A previsão da remissão, no Direito infantojuvenil brasileiro, decorreu de compromissos
assumidos pelo Brasil no âmbito internacional, havendo expressa recomendação para adoção da
remissão nas Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça, da Infância e da
Juventude − Regras de Beijing (1985, incorporada ao ordenamento pátrio em 1990).

A remissão do processo é um instituto próprio do Direito da Criança e do Adolescente, e, por


isso, é um dos temas preferidos das bancas avaliadoras. Geralmente o avaliador tenta confundir o
candidato quanto às diferenças entre exclusão, suspensão ou extinção do processo. Vejamos,
então, a previsão legal da remissão e a diferença entre suas modalidades.
Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial para apuração de ato infracional, o
representante do Ministério Público poderá conceder a remissão, como forma de
EXCLUSÃO do processo, atendendo às circunstâncias e consequências do fato, ao
contexto social, bem como à personalidade do adolescente e sua maior ou menor
participação no ato infracional.
Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão da remissão pela autoridade
judiciária importará na SUSPENSÃO ou EXTINÇÃO do processo.

Suspensão ou
Exclusão do
Extinção do
processo
processo

Antes de iniciado Depois de iniciado


o procedimento o procedimento

Concedida
pelo MP Concedida pela
Autoridade
Judiciária

A concessão da remissão deverá ser sempre a regra, observando os critérios estabelecidos no


caput do art. 126, podendo já ocorrer logo após a oitiva informal do adolescente pelo representante
do Ministério Público, ou a qualquer momento, antes de proposta a ação socioeducativa, via
representação. A remissão visa evitar ou abreviar o processo envolvendo o adolescente acusado da
prática infracional, permitindo uma rápida solução para o caso. Vale lembrar que o objetivo do
procedimento socioeducativo não é a aplicação de uma sanção estatal, mas sim a efetiva

40
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

recuperação do adolescente, sempre da forma mais célere e menos traumática possível, o que pode
perfeitamente ocorrer via remissão, notadamente nos casos de menor gravidade, através do ajuste
de uma ou mais medidas socioeducativas e/ou protetivas, conforme as necessidades pedagógicas
específicas do adolescente.

O ECA prevê a possibilidade de aplicação de medidas por membro do Ministério Público.

Art. 127. A remissão não implica necessariamente o reconhecimento ou comprovação da


responsabilidade, nem prevalece para efeito de antecedentes, podendo incluir
eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas em lei, exceto a colocação
em regime de semi-liberdade e a internação.

Os processos nos quais foi concedido o benefício da remissão, não podem ser considerados
para efeito de reiteração, tendo em vista que tal instituto não implica reconhecimento de
responsabilidade, nem vale como antecedente21.

Quanto à revisão, prevê o ECA que a medida aplicada por força da remissão poderá ser revista
judicialmente, a qualquer tempo, mediante pedido expresso do adolescente ou de seu
representante legal, ou do Ministério Público (não é possível revisão de ofício).

 COMPETÊNCIA
Será sempre da justiça estadual, em razão da matéria. Aplica-se a teoria da atividade à
competência territorial, segundo o § 1º do art. 147, ECA:
Art. 147. (...)
§ 1º. Nos casos de ato infracional, será competente a autoridade do lugar da ação ou
omissão, observadas as regras de conexão, continência e prevenção.

 INTIMAÇÃO DA SENTENÇA
A intimação da sentença que aplicar medida de internação ou regime de semiliberdade será
feita ao adolescente e ao seu defensor. Quando não for encontrado o adolescente, a seus pais ou
responsável,sem prejuízo do defensor. Recaindo a intimação na pessoa do adolescente, deverá este
manifestar se deseja ou não recorrer da sentença. Sendo outra a medida aplicada, a intimação far-
se-á unicamente na pessoa do defensor.

Intimação de aplicação de
Outra medida
medida de internação e
qualquer
de semiliberdade

Ao adolescente (ou
responsáveis) e ao Ao Defensor apenas
Defensor

21
STJ. 6ª Turma. HC nº 103287/SP. Rel. Min. O. G. Fernandes. Julgado em 01/07/2008.

41
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

 RECURSOS
Aplicam-se aos recursos nos procedimentos de apuração de ato infracional as regras do Código
de Processo Civil. O prazo para recurso é de 10 dias, salvo embargos de declaração, e independem
de preparo. Em regra, o recurso não tem efeito suspensivo, apenas devolutivo, podendo ser
aplicada a medida socioeducativa privativa de liberdade a partir da sentença22. Poderá haver juízo
de retratação nos recursos em procedimento de apuração de ato infracional.

MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

As medidas socioeducativas são destinadas apenas aos adolescentes acusados da prática de


atos infracionais, devendo ser levada em consideração a idade do agente à data do fato (lembrando
que acriança está sujeita apenas a medidas de proteção). São medidas jurídicas aplicadas por meio
de uma ação socioeducativa promovidas pelo Ministério Público a ser processada perante a Vara da
Infância e Juventude. Embora as medidas socioeducativas pertençam ao gênero sanção estatal
(decorrentes da não conformidade da conduta do adolescente a uma norma penal proibitiva ou
impositiva), não se confundem com as penas, pois têm natureza jurídica e finalidade diversas.
Enquanto as penas possuem um caráter eminentemente retributivo/punitivo, as medidas
socioeducativas têm um caráter preponderantemente pedagógico, evitando a reincidência do
adolescente. Deve-se atentar, portanto, para o fato de que não se cogita a aplicação de medidas
socioeducativas a adolescentes que não tenham praticado ato infracional, o que realça seu caráter
sancionatório, jamais punitivo.

Como o ato infracional não é crime e a medida socioeducativa não é pena, torna-se incabível
qualquer correlação entre a quantidade ou qualidade de pena abstrata prevista para o imputável
criminoso e para o adolescente infrator. Além disso, inexiste qualquer prévia correlação entre o ato
infracional praticado e a medida a ser aplicada, nada impedindo - e sendo até mesmo preferível -
que um ato infracional de natureza grave receba medidas socioeducativas em meio aberto. Portanto,
a aplicação das medidas socioeducativas não está sujeita aos parâmetros traçados pelo Código
Penal e doutrina penalista para a dosimetria da pena, sendo assim inadmissível a utilização da
análise das circunstâncias judiciais do art. 59 do CP. As medidas socioeducativas seguem, portanto,
três princípios:
- Brevidade
- Excepcionalidade
- Respeito à condição de pessoa com deficiência

Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar
ao adolescente as seguintes medidas:
I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;

22
STJ. 3ª Seção. HC 346.380-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
13/4/2016 (Info 583).

42
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

V - inserção em regime de semiliberdade;


VI - internação em estabelecimento educacional;
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. (medidas de proteção)

MEDIDAS SOCIEDUCATIVAS
• Advertência;
• Obrigação de reparar o dano;
• Prestação de serviços à comunidade;
• Liberdade assistida;
• Semiliberdade;
• Internação;
• Qualquer uma das medidas de proteção.

A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de cumpri-la, as


circunstâncias e a gravidade da infração. Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a
prestação de trabalho forçado. Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental
receberão tratamento individual e especializado, em local adequado às suas condições.

O adolescente deve ter sempre respeitada sua peculiar condição de pessoa em


desenvolvimento, o que demanda uma análise criteriosa da situação psicossocial de cada
adolescente, individualmente considerado, e sua preparação, inclusive sob o ponto de vista
emocional, para se submeter à possível medida aplicada. Por circunstâncias da infração deve-se
compreender muito mais que a singela autoria e materialidade do ato infracional, mas sim todos os
fatores que levaram o adolescente à prática do ato infracional. É, em última análise, a busca do
motivo e das causas da conduta infracional, que a intervenção socioeducativa deve procurar
combater, sempre da forma menos rigorosa possível.

Quanto à gravidade da infração, é necessário que haja uma proporcionalidade entre a


infração praticada e a medida a ser aplicada, não significando, no entanto, que para todo ato de
natureza grave deverão corresponder medidas privativas de liberdade.

Medidas em meio aberto Medidas em meio fechado


- Advertência
- Obrigação de reparar o dano - Semiliberdade
- Prestação de serviços à comunidade - Internação
- Liberdade assistida

 PRESCRIÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS


No ECA não há nenhuma regra a respeito da prescrição das medidas socioeducativas. Com
isso, duas correntes tentam explicar a situação:
1ª Corrente (minoritária): Não existe prescrição de ato infracional, pois o ECA não prevê e
porque medida socioeducativa não é pena, ou seja, não tem finalidade retributiva, mas
educativa.

43
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

2ª Corrente (majoritária): Existe prescrição de ato infracional. Embora medida


socioeducativa não seja pena, ela tem caráter retributivo e repressivo (caráter punitivo).

Súmula 338/STJ. A prescrição penal é aplicável nas medidas socioeducativas.

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE. ATO INFRACIONAL EQUIPARADO A CONTRAVENÇÃO. PRESCRIÇÃO.
OCORRÊNCIA.
I. As medidas socioeducativas perdem a razão de ser com o decurso de tempo.
Consequentemente, ‘a fortiori’, no caso de menores, é de ser aplicado o instituto da
prescrição. (Precedentes). II. ‘A prescrição penal é aplicável nas medidas socioeducativas’
(Súmula nº 338/STJ). III. O disposto no art. 115 do CP é aplicável ao cálculo do prazo
prescricional da medida socioeducativa. (Precedentes). Habeas corpus concedido. (STJ. 5ª
T. HC nº 93.281/SP. Rel. Min. Félix Fischer. J. em 15/05/2008).

Portanto, entende o STJ que há prescrição nas hipóteses de aplicação de medidas


socioeducativas. E como fixar este prazo?

Não há previsão legal, mas a Defensoria Pública entende que:


- Prestação de serviços à comunidade: um ano e meio de prazo prescricional (prazo
máximo da medida levado ao art. 109 do Código Penal, reduzindo pela metade por ser
menor de idade). Logo, a prestação de serviços à comunidade por no máximo seis meses
(menos de um ano), prescreve em três anos, que será reduzido da metade. Portanto, para
essa medida, o prazo prescricional é de um ano e meio.

- Liberdade assistida: Não possui prazo máximo e mesmo considerando a metade do


tempo, o prazo é alto. O mesmo acontece na Semiliberdade e Internação. Vale dizer, que a
Defensoria utiliza o prazo mínimo da Liberdade Assistida para descobrir o prazo
prescricional. Prazo mínimo é de seis meses, utiliza o mesmo raciocínio acima.

Aplicam-se ao ECA as regras de prescrição do CP. Assim, a prescrição da pretensão punitiva do


ato infracional regula-se pelo máximo da pena cominada ao crime ou contravenção ao qual
corresponde o ato infracional.

Já a prescrição da pretensão executória regula-se pelo prazo da medida socioeducativa


aplicada na sentença.

Por exemplo: Medida aplicada pelo prazo de seis meses ‘prescreveria’ em três anos. Caso a
medida seja aplicada por prazo indeterminado (exemplo: medida de semiliberdade), a prescrição
regula-se pelo prazo máximo de internação previsto pelo ECA (três anos).

IMPORTANTE: Os prazos são todos reduzidos pela metade, nos termos do art. 115, CP23.
Assim, no exemplo acima, a medida socioeducativa, em regra, prescreve em quatro anos (três anos
levados ao art. 109 do CP = oito anos. Metade de oito anos = quatro anos).

23
Art. 115. São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos,
ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos.

44
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

 INTERNAÇÃO
A medida socioeducativa de internação é a medida mais extrema e consiste na restrição total
da liberdade, de modo que o adolescente permanecerá institucionalizado integralmente.

A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de brevidade,


excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.

Mesmo tendo decretada sua internação, o adolescente pode, a princípio, realizar atividades
fora da unidade socioeducativa, de acordo com a proposta pedagógica do programa em execução e
a critério da equipe técnica respectiva, independentemente de autorização judicial, porém,
dependendo da situação, pode o magistrado vedá-las.

A medida de internação não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção ser
reavaliada, mediante decisão fundamentada, no máximo a cada seis meses.

Uma vez aplicada a internação, sua execução deverá se prolongar pelo menor período de
tempo possível, posto que orientada pelo princípio constitucional da brevidade24, estando sua
duração condicionada unicamente ao êxito do trabalho socioeducativo desenvolvido, e jamais à
gravidade da infração praticada. Nesse sentido:
MENOR - INTERNAÇÃO - PROGRESSÃO PARA LIBERDADE ASSISTIDA - PARECERES
FAVORÁVEIS. Tanto quanto possível, há de adotar-se postura geradora de esperança na
evolução do menor. A internação é medida extrema e deve ser substituída mormente
quando a manifestação técnica e a jurídica - do fiscal da lei, Ministério Público - forem
favoráveis. Precedentes: Habeas Corpus nº 75.629-8/SP, acórdão publicado no Diário da
Justiça de 12 de dezembro de 1997, e nº 85.598-9/SP, acórdão veiculado no Diário da
Justiça de 16 de dezembro de 2005, ambos de minha relatoria. (STF. 2ª T. HC nº 98518/RJ.
Rel. Min. Eros Grau. J. em 25/05/2010).

O ECA prevê que em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três
anos. Este prazo máximo de duração da medida privativa de liberdade extrema abrange todos os
atos infracionais anteriores à sentença que a decretou e ao início de sua execução, visto que não há
previsão legal para o somatório de medidas socioeducativas. Assim sendo, por exemplo,
independentemente de quantos tenham sido os atos infracionais anteriores à sentença em cujos
procedimentos houve o decreto da medida socioeducativa extrema da internação, estará o
adolescente sujeito ao máximo de 03 (três) anos de privação de liberdade acima previsto. Atingido o
limite de 3 anos, o adolescente deverá ser liberado, colocado em regime de semiliberdade ou de
liberdade assistida.

A LIBERAÇÃO SERÁ COMPULSÓRIA AOS VINTE E UM ANOS DE IDADE.


Essa regra se constitui numa das exceções de aplicação do Estatuto da Criança e do
Adolescente a jovens entre de 18 e 21 anos de idade, como visto anteriormente, nesta aula.

Uma vez atingido o limite etário de 21 (vinte e um) anos, não mais será possível a aplicação
e/ou execução de qualquer medida socioeducativa, devendo ser o jovem desinternado
compulsoriamente, com o máximo de celeridade.

24
CF/88, Art. 227§ 3º O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos: V - obediência aos princípios de brevidade,
excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa da
liberdade;

45
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Em qualquer hipótese a desinternação será precedida de autorização judicial, ouvido o


Ministério Público, podendo essa determinação ser revista a qualquer tempo.

Dada a excepcionalidade da medida, a internação (valendo também para a semiliberdade)


somente poderá ser aplicada numa das três hipóteses previstas no art. 122, ECA, quais sejam:
Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando:
I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa;
II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves;
III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta.

De acordo com o inciso III, o prazo de internação-sanção não poderá ser superior a 3 meses
(90 dias), devendo ser decretada judicialmente após o devido processo legal. De qualquer modo, em
nenhuma hipótese será aplicada a internação, havendo outra medida adequada.
INTERNAÇÃO (SEMILIBERDADE)

Ato infracional com grave ameaça ou violência

Reiteração de outras infrações graves

Descumprimento reiterado e injustificável de medida


anterior

A ocorrência fática das hipóteses legalmente previstas não significa que o adolescente deverá
automaticamente ser submetido a medidas privativas de liberdade. Muito pelo contrário! Mesmo
diante da prática de atos infracionais de natureza grave, o adolescente somente deverá receber
medidas privativas de liberdade se não houver outra alternativa sociopedagógica mais
adequada,consideradas suas necessidades pedagógicas específicas (apuradas do estudo
psicossocial), devendo sempre ser dado preferência a medidas em meio aberto, que venham a
fortalecer vínculos familiares e comunitários.

Devem ser excluídas do conceito de infrações graves aquelas consideradas, pela Lei Penal, de
menor potencial ofensivo, até mesmo para evitar que o adolescente receba um tratamento mais
rigoroso do que do que receberia caso fosse penalmente imputável.

Há o entendimento de que seria considerada infração grave, para fins de incidência do inciso II
do art. 122, aquela em que o tipo penal comina, em abstrato, pena de reclusão25. Para o STJ, no

25
Há discordância na doutrina e na jurisprudência.

46
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

entanto, depende do caso concreto, sendo que três furtos não são suficientes para caracterizar a
necessidade de internação. Por outro lado, caso o adolescente tenha cinco ou dez apurações de ato
infracional por furto, seria possível aplicar uma medida socioeducativa de internação. Na realidade,
tais situações justificam a aplicação de medida socioeducativa extrema em razões das características
biopsicossociais do adolescente, que serão avaliadas caso a caso. Acerca da gravidade do ato
infracional análogo ao de tráfico de entorpecentes, embora seja considerado crime hediondo, já se
posicionou o STJ:
Súmula 492/STJ. O ato infracional análogo ao tráfico de drogas, por si só, não conduz
obrigatoriamente à imposição de medida socioeducativa de internação do adolescente.

Quanto ao inciso III (internação-sanção), para que tal solução possa ser adotada, deve ser
instaurado incidente de execução, em que se garanta ao adolescente a possibilidade de ampla defesa
(técnica). Não basta apenas de que o descumprimento da medida originalmente imposta ocorra de
fato, mas também que o descumprimento se mostra reiterado e injustificável, não sendo cabível
solução diversa, como a substituição daquela medida por outra. Nesse sentido:
Súmula 265/STJ. É necessária a oitiva do menor infrator antes de decretar-se a regressão
da medida socioeducativa..

Como visto, o ECA não estipulou um número mínimo de atos infracionais graves para justificar
a internação do menor infrator com fulcro na reiteração no cometimento de outras infrações graves.
Logo, cabe ao magistrado analisar as peculiaridades de cada caso e as condições específicas do
adolescente a fim de aplicar ou não a internação. A depender das particularidades e circunstâncias
do caso concreto, pode ser aplicada, com fundamento no art. 122, II (reiteração de infração grave),
do ECA, medida de internação ao adolescente infrator que antes tenha cometido apenas uma outra
infração grave. Reiterando: está superado o entendimento de que a internação com base nesse
dispositivo somente seria permitida com a prática de no mínimo 3 infrações26.

reiteração no cometimento de
infrações graves

Máximo 3 anos
ato infracional praticado com grave
ameaça ou violência à pessoa
INTERNAÇÃO

descumprimento reiterado e
Máximo 3 meses
injustificável de medida
(internação-sanção)
anteriormente aplicada

26
Precedentes: STF. 1ª Turma. HC 94447, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 12/04/2011. STJ. 5ª Turma. HC 332440/SP, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, julgado em 24/11/2015. STJ. 6ª Turma. HC 347434-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Antonio Saldanha
Palheiro, julgado em 27/9/2016 (Info 591).

47
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

MEDIDAS PERTINENTES AOS PAIS OU


RESPONSÁVEIS
O Estatuto da Criança e do Adolescente não prevê somente medidas disciplinares aplicáveis as
crianças e aos adolescentes. A partir do artigo 129, prevê uma série de medidas que podem e devem,
inclusive cautelarmente, ser aplicadas aos pais ou responsáveis que deixam de cumprir suas
obrigações legais e viola os direitos das crianças e adolescentes que estão sob sua responsabilidade.

Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável:


I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e
promoção da família;
II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a
alcoólatras e toxicômanos;
III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;
IV - encaminhamento a cursos ou programas de orientação;
V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua freqüência e
aproveitamento escolar;
VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento especializado;
VII - advertência;
VIII - perda da guarda;
IX - destituição da tutela;
X - suspensão ou destituição do poder familiar.
Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas nos incisos IX e X deste artigo,
observar-se-á o disposto nos arts. 23 e 24.

Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos
pais ou responsável, a autoridade judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o
afastamento do agressor da moradia comum.
Parágrafo único. Da medida cautelar constará, ainda, a fixação provisória dos alimentos
de que necessitem a criança ou o adolescente dependentes do agressor.

CONSELHO TUTELAR

O Conselho Tutelar é o órgão permanente e autônomo encarregado pela sociedade de zelar


pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente. Tem o poder de tomar decisões (art.
136), mas não é órgão jurisdicional.

Haverá, no mínimo, um Conselho Tutelar em cada Município e em cada Região Administrativa


do Distrito Federal.

Sua composição será de 5 membros, com reconhecida idoneidade moral, idade superior a 21
anos, residência no município e escolhidos pela população local.

48
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Mandato do Conselheiro: 4 anos, permitida 1 recondução, mediante novo processo de


escolha.

Ainda, aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de competência da Vara da Infância e Juventude


(art. 147). Assim, na hipótese de criança e adolescente em situação do art. 98, ECA (medidas de
proteção), possui atribuição o Conselho da residência dos pais ou do responsável legal. No caso de
ato infracional, a atribuição se dá em decorrência do local da infração.

 ATRIBUIÇÕES DO CONSELHO TUTELAR


- Atender as crianças e adolescentes nas hipóteses de situação irregular;
- Atender e aconselhar os pais ou responsável;
- Promover a execução de suas decisões;
- Encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração administrativa ou
penal contra os direitos da criança ou adolescente;
- Encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência;
- Providenciar a medida de proteção estabelecida pela autoridade judiciária, para o
adolescente autor de ato infracional;
- Expedir notificações;
- Requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou adolescente quando
necessário;
- Assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentária para planos e
programas de atendimento dos direitos da criança e do adolescente;
- Representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos direitos de
comunicação social da Constituição Federal;
- Representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou suspensão do poder
familiar, depois de esgotadas as possibilidades de manutenção da criança ou do
adolescente junto à família natural.

CRIMES E INFRAÇÕES
ADMINISTRATIVAS
 CRIMES
Os crimes previstos no Estatuto são das mais diversas naturezas, há crimes comissivos e
omissivos, dolosos e culposos, cujas penas podem variar entre reclusão e detenção, bem como
serem cumuladas com multa.

O Estatuto apresenta tipos penais nos artigos 228 a 244-B, cujos bens jurídicos tutelados são
os direitos das crianças e adolescentes. Esse rol não é exaustivo, ou seja, há outros tipos penais

49
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

previstos em diversos diplomas legislativos que também tutelam crianças e adolescentes e são
plenamente aplicáveis.

Todos os crimes previstos no ECA são de ação pública incondicionada. Portanto, não
dependem de representação da vítima, nem são propostos pelo particular. Cabe ao Ministério
Público a propositura da ação penal quanto à prática dos crimes tipificados pelo Estatuto.

Dos Crimes em Espécie


Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente de estabelecimento de atenção à
saúde de gestante de manter registro das atividades desenvolvidas, na forma e prazo
referidos no art. 10 desta Lei, bem como de fornecer à parturiente ou a seu responsável,
por ocasião da alta médica, declaração de nascimento, onde constem as intercorrências
do parto e do desenvolvimento do neonato:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Se o crime é culposo:
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.

Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à


saúde de gestante de identificar corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião do
parto, bem como deixar de proceder aos exames referidos no art. 10 desta Lei:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Se o crime é culposo:
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.

Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua apreensão
sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade
judiciária competente:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à apreensão sem observância
das formalidades legais.

Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela apreensão de criança ou


adolescente de fazer imediata comunicação à autoridade judiciária competente e à família
do apreendido ou à pessoa por ele indicada:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a
vexame ou a constrangimento:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa, de ordenar a imediata
liberação de criança ou adolescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da
apreensão:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado nesta Lei em benefício de


adolescente privado de liberdade:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade judiciária, membro do Conselho


Tutelar ou representante do Ministério Público no exercício de função prevista nesta Lei:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.

50
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o tem sob sua guarda em
virtude de lei ou ordem judicial, com o fim de colocação em lar substituto:
Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa.

Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a terceiro, mediante paga ou
recompensa:
Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece ou efetiva a paga ou
recompensa.

Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de criança ou


adolescente para o exterior com inobservância das formalidades legais ou com o fito de
obter lucro:
Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa.
Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave ameaça ou fraude:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena correspondente à violência.

Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio,
cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
o
§ 1 Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta, coage, ou de qualquer
modo intermedeia a participação de criança ou adolescente nas cenas referidas
no caput deste artigo, ou ainda quem com esses contracena.
o
§ 2 Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente comete o crime:
I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de exercê-la;
II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade; ou
III – prevalecendo-se de relações de parentesco consangüíneo ou afim até o terceiro grau,
ou por adoção, de tutor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de quem, a
qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela, ou com seu consentimento.

Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena
de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por
qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia,
vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo
criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
o
§ 1 Nas mesmas penas incorre quem:
I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento das fotografias, cenas ou
imagens de que trata o caput deste artigo;
II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de computadores às fotografias, cenas
ou imagens de que trata o caput deste artigo.
o o
§ 2 As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1 deste artigo são puníveis quando o
responsável legal pela prestação do serviço, oficialmente notificado, deixa de desabilitar o
acesso ao conteúdo ilícito de que trata o caput deste artigo.

Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra
forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo
criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

51
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

o
§ 1 A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se de pequena quantidade o
material a que se refere o caput deste artigo.
o
§ 2 Não há crime se a posse ou o armazenamento tem a finalidade de comunicar às
autoridades competentes a ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A e
241-C desta Lei, quando a comunicação for feita por:
I – agente público no exercício de suas funções;
II – membro de entidade, legalmente constituída, que inclua, entre suas finalidades
institucionais, o recebimento, o processamento e o encaminhamento de notícia dos
crimes referidos neste parágrafo;
III – representante legal e funcionários responsáveis de provedor de acesso ou serviço
prestado por meio de rede de computadores, até o recebimento do material relativo à
notícia feita à autoridade policial, ao Ministério Público ou ao Poder Judiciário.
o o
§ 3 As pessoas referidas no § 2 deste artigo deverão manter sob sigilo o material ilícito
referido.

Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou


pornográfica por meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou
qualquer outra forma de representação visual:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda, disponibiliza,
distribui, publica ou divulga por qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material
produzido na forma do caput deste artigo.

Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio de comunicação,
criança, com o fim de com ela praticar ato libidinoso:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:
I – facilita ou induz o acesso à criança de material contendo cena de sexo explícito ou
pornográfica com o fim de com ela praticar ato libidinoso;
II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo com o fim de induzir criança a se
exibir de forma pornográfica ou sexualmente explícita.

Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a expressão “cena de sexo explícito
ou pornográfica” compreende qualquer situação que envolva criança ou adolescente em
atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma
criança ou adolescente para fins primordialmente sexuais.

Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a
criança ou adolescente arma, munição ou explosivo:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos.

Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, ainda que gratuitamente, de
qualquer forma, a criança ou a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros
produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica:
Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais
grave.

Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a
criança ou adolescente fogos de estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo seu
reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de
utilização indevida:
Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.

52
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais definidos no caput do art.
o
2 desta Lei, à prostituição ou à exploração sexual:
Pena – reclusão de quatro a dez anos e multa, além da perda de bens e valores utilizados
na prática criminosa em favor do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente da
unidade da Federação (Estado ou Distrito Federal) em que foi cometido o crime,
ressalvado o direito de terceiro de boa-fé.
o
§ 1 Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em
que se verifique a submissão de criança ou adolescente às práticas referidas
no caput deste artigo.
o
§ 2 Constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de
funcionamento do estabelecimento.

Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele
praticando infração penal ou induzindo-o a praticá-la:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
o
§ 1 Incorre nas penas previstas no caput deste artigo quem pratica as condutas ali
tipificadas utilizando-se de quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da
internet.
o
§ 2 As penas previstas no caput deste artigo são aumentadas de um terço no caso de a
o o
infração cometida ou induzida estar incluída no rol do art. 1 da Lei n 8.072, de 25 de
julho de 1990.

 INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS
Trata-se de normas de cunho administrativo, não penal, e, portanto, dispensam a averiguação
de culpa ou dolo, bastando apenas a voluntariedade da conduta. Nesse sentido, por analogia, a
prescrição para sanção dessas condutas também segue a disciplina administrativa, sendo de cinco
anos.

Cabe ressaltar que o STF julgou a ADI 2404 no qual se discutia as normas dos arts. 254, ECA,
arts. 5º, IX (liberdade de expressão), 21, XVI (competência da União) e 220, § 3º, I e II (competência
de lei federal), CF. Esta ADI foi proposta no ano de 2001 pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) e
afirmava que o Estatuto havia extrapolado a determinação da Carta Maior, pois a norma do ECA
imporia as emissoras de Rádio e TV que exibissem seus programas em determinados horários pré-
determinados sob pena de punições administrativas.

Vamos, em breve síntese, analisar o contexto da ADI: o art. 254 do Estatuto determina que os
programas de Rádio e TV devem ser classificados conforme o conteúdo exibido. Assim, o Ministério
da Justiça regulamentou a situação por meio de Portaria 368/2014, utilizando 3 (três) critérios: a)
violência; b) sexo e nudez; c) drogas. Logo, é com base nestes critérios que vemos na TV as
classificações de livre até 18 anos.

Contudo, analisando a Constituição Federal verifica-se que a competência é da União para


exercer a classificação de programas de rádio e TV, bem como regular as diversões e espetáculos
públicos informando sua natureza e faixa etária, de modo que a produção e a programação das
emissoras de rádio e TV atenderão os princípios éticos e sociais da pessoa e da família.

Isto posto, o STF julgou procedente a ADI decidindo que quando o ECA, no art. 254, menciona
“em horário diverso do autorizado” estaria violando a competência, pois o Estatuto estaria realizando
uma censura prévia e, assim, não estaria em harmonia com a Constituição.

53
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Há que se ressaltar que permanece o dever de informar previsto no art. 76 do Estatuto,


entretanto, as emissoras não podem ser punidas pelo ECA, mas devem ser responsabilizadas caso
pratiquem abusos ou algum dano à integridade da criança (latu senso).

Das Infrações Administrativas


Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção à
saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade
competente os casos de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação
de maus-tratos contra criança ou adolescente:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de
reincidência.

Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de entidade de atendimento o exercício


dos direitos constantes nos incisos II, III, VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de
reincidência.

Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autorização devida, por qualquer meio de
comunicação, nome, ato ou documento de procedimento policial, administrativo ou
judicial relativo a criança ou adolescente a que se atribua ato infracional:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de
reincidência.
§ 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou parcialmente, fotografia de criança ou
adolescente envolvido em ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe diga respeito ou
se refira a atos que lhe sejam atribuídos, de forma a permitir sua identificação, direta ou
indiretamente.
§ 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou emissora de rádio ou televisão, além
da pena prevista neste artigo, a autoridade judiciária poderá determinar a apreensão da
publicação ou a suspensão da programação da emissora até por dois dias, bem como da
publicação do periódico até por dois números. (Expressão declara inconstitucional pela
ADIN 869-2).

Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres inerentes ao poder familiar ou


decorrente de tutela ou guarda, bem assim determinação da autoridade judiciária ou
Conselho Tutelar:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de
reincidência.

Art. 250. Hospedar criança ou adolescente desacompanhado dos pais ou responsável, ou


sem autorização escrita desses ou da autoridade judiciária, em hotel, pensão, motel ou
congênere: Pena – multa.
§ 1º Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena de multa, a autoridade judiciária
poderá determinar o fechamento do estabelecimento por até 15 (quinze) dias.
§ 2º Se comprovada a reincidência em período inferior a 30 (trinta) dias, o
estabelecimento será definitivamente fechado e terá sua licença cassada.

Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qualquer meio, com inobservância do
disposto nos arts. 83, 84 e 85 desta Lei:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de
reincidência.

Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetáculo público de afixar, em lugar
visível e de fácil acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada sobre a

54
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

natureza da diversão ou espetáculo e a faixa etária especificada no certificado de


classificação:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de
reincidência.

Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer representações ou espetáculos, sem
indicar os limites de idade a que não se recomendem:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, duplicada em caso de reincidência,
aplicável, separadamente, à casa de espetáculo e aos órgãos de divulgação ou
publicidade.

Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espetáculo em horário diverso do


autorizado ou sem aviso de sua classificação:
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; duplicada em caso de reincidência a
autoridade judiciária poderá determinar a suspensão da programação da emissora por até
dois dias.

Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congênere classificado pelo órgão
competente como inadequado às crianças ou adolescentes admitidos ao espetáculo:
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na reincidência, a autoridade poderá
determinar a suspensão do espetáculo ou o fechamento do estabelecimento por até
quinze dias.

Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita de programação em vídeo, em


desacordo com a classificação atribuída pelo órgão competente:
Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso de reincidência, a autoridade
judiciária poderá determinar o fechamento do estabelecimento por até quinze dias.

Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78 e 79 desta Lei:


Pena - multa de três a vinte salários de referência, duplicando-se a pena em caso de
reincidência, sem prejuízo de apreensão da revista ou publicação.

Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento ou o empresário de observar o que


dispõe esta Lei sobre o acesso de criança ou adolescente aos locais de diversão, ou sobre
sua participação no espetáculo:
Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso de reincidência, a autoridade
judiciária poderá determinar o fechamento do estabelecimento por até quinze dias.

Art. 258-A. Deixar a autoridade competente de providenciar a instalação e


operacionalização dos cadastros previstos no art. 50 e no § 11 do art. 101 desta Lei:
Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais).
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas a autoridade que deixa de efetuar o
cadastramento de crianças e de adolescentes em condições de serem adotadas, de
pessoas ou casais habilitados à adoção e de crianças e adolescentes em regime de
acolhimento institucional ou familiar.

Art. 258-B. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à


saúde de gestante de efetuar imediato encaminhamento à autoridade judiciária de caso
de que tenha conhecimento de mãe ou gestante interessada em entregar seu filho para
adoção:
Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais).

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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Parágrafo único. Incorre na mesma pena o funcionário de programa oficial ou


comunitário destinado à garantia do direito à convivência familiar que deixa de efetuar a
comunicação referida no caput deste artigo.

Art. 258-C. Descumprir a proibição estabelecida no inciso II do art. 81:


Pena - multa de R$ 3.000,00 (três mil reais) a R$ 10.000,00 (dez mil reais);
Medida Administrativa - interdição do estabelecimento comercial até o recolhimento da
multa aplicada.

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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

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