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Analista Educacional (ANE-IE)
Obra
Autores
DIREITOS HUMANOS • Aline Melo Borges, Ana Philippini, Camila Cury e Samantha Rodrigues
Edição: Maio/2023
DIREITOS HUMANOS...........................................................................................................5
LEI FEDERAL Nº 8.069, DE 1990 - ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - ECA.............. 5
DIREITOS ÉTNICO-RACIAIS............................................................................................................... 73
CONSIDERAÇÕES INICIAIS ACERCA DO ESTATUTO Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta
DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos,
e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade.
Primeiramente, é importante tecer algumas consi- Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, apli-
derações acerca de termos comuns da lei em questão. ca-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas
Crianças e adolescentes não cometem crimes, mas, entre dezoito e vinte e um anos de idade.
sim, atos infracionais. O ato infracional consiste na
conduta descrita como crime ou contravenção Criança
Até 12 anos
incompletos
penal, conforme estabelece o art. 103, do ECA, que ECA — ART. 2º
DIREITOS HUMANOS
A partir do art. 15, o Estatuto da Criança e do Todo cidadão tem o dever de agir em sua defesa,
Adolescente prevê regras para garantia do direito à diante de qualquer ameaça ou violação. A inércia,
liberdade, ao respeito e à dignidade à criança e ao em tais casos, pode mesmo levar à responsabilização
adolescente. daquele que se omitiu.
Quanto ao direito à preservação da imagem, deve
Art. 15 A criança e o adolescente têm direito à ser esclarecido que este se reveste de duplo conteúdo:
liberdade, ao respeito e à dignidade como pes- moral, porque direito de personalidade, e patrimo-
soas humanas em processo de desenvolvimento e nial, uma vez que a ninguém é lícito locupletar-se à
como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais custa alheia.
garantidos na Constituição e nas leis. 9
Em se tratando de direito à imagem, a obrigação I - encaminhamento a programa oficial ou comuni-
da reparação decorre do próprio uso indevido do tário de proteção à família;
direito personalíssimo, não havendo de cogitar-se II - encaminhamento a tratamento psicológico ou
da prova da existência de prejuízo ou dano, nem a psiquiátrico;
consequência do uso, se ofensivo ou não. Independe de III - encaminhamento a cursos ou programas de
prova do prejuízo a indenização pela publicação não orientação;
IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamen-
autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos
to especializado;
ou comerciais.
V - advertência.
É considerada infração administrativa o ato de VI - garantia de tratamento de saúde especializado
divulgar, total ou parcialmente, sem autorização devi- à vítima.
da, por qualquer meio de comunicação, nome, ato ou Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo
documento de procedimento policial, administrativo serão aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuí-
ou judicial relativo à criança ou adolescente a que se zo de outras providências legais.
atribua ato infracional.
Além disso, é considerada não infração adminis- As medidas relacionadas nos incisos, do art. 18-B,
trativa, mas também crime, a conduta de subtrair têm maior abrangência em aplicação, posto que tam-
criança ou adolescente ao poder de quem o tem sob bém podem atingir outros agentes autores de vio-
sua guarda em virtude de lei ou ordem judicial, com o lência contra crianças e adolescentes. Interessante
fim de colocação em lar substituto. Tal conduta pode observar que as medidas arroladas acima não são de
resultar em pena de multa de três a 20 salários de caráter punitivo (a punição, nesse caso, deverá ocor-
referência, aplicando-se o dobro em caso de reinci- rer no âmbito jurídico, com a instauração do devido
dência (art. 237). processo legal). Sua aplicação, como visto no parágra-
O ECA, no art. 18-A, cuidou em estabelecer a dife- fo único, é de responsabilidade do Conselho Tutelar.
rença entre castigo físico e tratamento cruel ou degra-
dante, e, no art. 18-B, estabeleceu medidas aplicáveis Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária
às referidas situações:
Trata-se de um dos direitos fundamentais a serem
Art. 18-A A criança e o adolescente têm o direito de assegurados a todas as crianças e adolescentes com a
ser educados e cuidados sem o uso de castigo físi- mais absoluta prioridade, tendo a lei criado meca-
co ou de tratamento cruel ou degradante, como nismos para, de um lado (e de forma preferencial),
formas de correção, disciplina, educação ou qual- permitir a manutenção e o fortalecimento dos vín-
quer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da culos com a família natural (ou de origem), e, de
família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes outro, quando por qualquer razão isso não for possí-
públicos executores de medidas socioeducativas ou vel, proporcionar a inserção em família substituta
por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tra- de forma criteriosa e responsável, procurando evitar
tá-los, educá-los ou protegê-los.
os efeitos deletérios tanto da chamada “institucionali-
zação” quanto de uma colocação familiar precipitada,
A legislação procurou deixar ainda mais explícito o desnecessária e/ou inadequada.
direito de as crianças e os adolescentes serem criados e Nesse sentido, estabelece o art. 19, do ECA:
educados de uma forma não violenta, não apenas pelos
pais ou pelo responsável, mas por quaisquer pessoas Art. 19 É direito da criança e do adolescente ser
encarregadas de cuidá-los, tratá-los, educá-los e pro- criado e educado no seio de sua família e, excepcio-
tegê-los. Isso inclui profissionais da saúde, educação e nalmente, em família substituta, assegurada a con-
assistência social que atuem em programas e serviços de vivência familiar e comunitária, em ambiente que
atendimento, bem como as autoridades públicas. garanta seu desenvolvimento integral.
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se: O menor colocado em programa de acolhimento
I - castigo físico: ação de natureza disciplinar familiar ou institucional terá os seguintes direitos:
ou punitiva aplicada com o uso da força física
sobre a criança ou o adolescente que resulte em: § 1º Toda criança ou adolescente que estiver inseri-
a) sofrimento físico; ou do em programa de acolhimento familiar ou institu-
b) lesão; cional terá sua situação reavaliada, no máximo,
II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou a cada 3 (três) meses, devendo a autoridade judi-
forma cruel de tratamento em relação à criança ou ciária competente, com base em relatório elabora-
ao adolescente que: do por equipe interprofissional ou multidisciplinar,
a) humilhe; ou decidir de forma fundamentada pela possibilidade
b) ameace gravemente; ou de reintegração familiar ou pela colocação em
c) ridicularize. família substituta, em quaisquer das modalida-
Art. 18-B Os pais, os integrantes da família amplia- des previstas no art. 28 desta Lei.
da, os responsáveis, os agentes públicos executores § 2º A permanência da criança e do adolescente
de medidas socioeducativas ou qualquer pessoa em programa de acolhimento institucional não
encarregada de cuidar de crianças e de adoles- se prolongará por mais de 18 (dezoito meses),
centes, tratá-los, educá-los ou protegê-los que uti- salvo comprovada necessidade que atenda ao seu
lizarem castigo físico ou tratamento cruel ou superior interesse, devidamente fundamentada
degradante como formas de correção, disci- pela autoridade judiciária.
plina, educação ou qualquer outro pretexto § 3º A manutenção ou a reintegração de criança ou
estarão sujeitos, sem prejuízo de outras sanções adolescente à sua família terá preferência em rela-
cabíveis, às seguintes medidas, que serão aplicadas ção a qualquer outra providência, caso em que será
10 de acordo com a gravidade do caso: está incluída em serviços e programas de proteção,
apoio e promoção, nos termos do § 1º do art. 23, O art. 20 estabelece uma regra quanto à proibição
dos incisos I e IV do caput do art. 101 e dos incisos da discriminação sobre a origem da filiação:
I a IV do caput do art. 129 desta Lei.
§ 4º Será garantida a convivência da criança e Art. 20 Os filhos, havidos ou não da relação do
do adolescente com a mãe ou o pai privado de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direi-
liberdade, por meio de visitas periódicas promo- tos e qualificações, proibidas quaisquer designa-
vidas pelo responsável ou, nas hipóteses de aco- ções discriminatórias relativas à filiação.
lhimento institucional, pela entidade responsável,
independentemente de autorização judicial. Todos os filhos havidos fora do casamento, bem
§ 5º Será garantida a convivência integral da crian-
como os filhos adotados, terão os mesmos direitos e
ça com a mãe adolescente que estiver em acolhi-
qualificações dos demais.
mento institucional.
O ECA repete a disposição constitucional e tem
§ 6º A mãe adolescente será assistida por equipe
especializada multidisciplinar. como objetivo eliminar a discriminação de filhos tidos
em outras relações como ilegítimos ou bastardos.
Cuidado para não confundir os prazos de reavalia-
ção e o período de acolhimento: Art. 21 O poder familiar será exercido, em igualda-
de de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do
que dispuser a legislação civil, assegurado a qual-
REAVALIAÇÃO A cada 3 meses
quer deles o direito de, em caso de discordância,
recorrer à autoridade judiciária competente para a
Até 18 meses, salvo
solução da divergência.
comprovada necessidade
que atenda ao seu superior
ACOLHIMENTO
interesse, devidamente A partir do art. 23, do ECA, são estabelecidas algu-
fundamentada pela mas regras acerca da perda e da suspensão do poder
autoridade judiciária
familiar. Esses institutos poderão ser decretados
judicialmente, em procedimento contraditório, nos
Como visto, a gestante ou a mãe que vier a mani- casos previstos na legislação civil, bem como na hipó-
festar interesse em entregar seu filho para adoção, tese de descumprimento injustificado dos deveres
antes ou logo após o nascimento, será encaminhada e das obrigações:
à Justiça da Infância e da Juventude, conforme dis-
Art. 23 A falta ou a carência de recursos mate-
posto no art. 19-A.
riais não constitui motivo suficiente para a
Uma possibilidade para as crianças e os adoles-
perda ou a suspensão do poder familiar.
centes em programa de acolhimento institucional ou
§ 1º Não existindo outro motivo que por si só auto-
familiar são os programas de apadrinhamento:
rize a decretação da medida, a criança ou o adoles-
cente será mantido em sua família de origem, a qual
Art. 19-B A criança e o adolescente em programa
deverá obrigatoriamente ser incluída em serviços e
de acolhimento institucional ou familiar poderão
programas oficiais de proteção, apoio e promoção.
participar de programa de apadrinhamento.
§ 2º A condenação criminal do pai ou da mãe não
§ 1º O apadrinhamento consiste em estabelecer e
implicará a destituição do poder familiar, exceto
proporcionar à criança e ao adolescente vínculos
na hipótese de condenação por crime dolo-
externos à instituição para fins de convivência
so sujeito à pena de reclusão contra outrem
familiar e comunitária e colaboração com o seu
igualmente titular do mesmo poder familiar
desenvolvimento nos aspectos social, moral, físico,
ou contra filho, filha ou outro descendente.
cognitivo, educacional e financeiro.
§ 2º Podem ser padrinhos ou madrinhas pessoas
maiores de 18 (dezoito) anos não inscritas Dica
nos cadastros de adoção, desde que cumpram
O § 2º foi acrescentado pela Lei nº 13.715, de
os requisitos exigidos pelo programa de apadrinha-
mento de que fazem parte. 2018, e vem sendo cobrado pelas bancas.
§ 3º Pessoas jurídicas podem apadrinhar crian-
ça ou adolescente a fim de colaborar para o seu Da Família Natural
desenvolvimento.
§ 4º O perfil da criança ou do adolescente a ser De acordo com o que estabelece o art. 25, do ECA,
apadrinhado será definido no âmbito de cada pro- “família natural” é aquela formada pelos pais ou por
grama de apadrinhamento, com prioridade para qualquer deles e seus descendentes.
crianças ou adolescentes com remota possibi- Já a família extensa ou ampliada tem um concei-
DIREITOS HUMANOS
lidade de reinserção familiar ou colocação em to mais amplo, estendendo-se para além da unidade
família adotiva. pais-e-filhos ou da unidade do casal, formada por
§ 5º Os programas ou serviços de apadrinhamento parentes próximos com os quais a criança ou o ado-
apoiados pela Justiça da Infância e da Juventude lescente convive e mantém vínculos de afinidade e
poderão ser executados por órgãos públicos
afetividade (parágrafo único, art. 25).
ou por organizações da sociedade civil.
§ 6º Se ocorrer violação das regras de apadrinha-
mento, os responsáveis pelo programa e pelos FAMÍLIA
Pai/Mãe + Filhos
serviços de acolhimento deverão imediatamente NATURAL
notificar a autoridade judiciária competente.
FAMÍLIA EXTENSA
Pai/Mãe + Filhos + Filhos
OU AMPLIADA
11
Art. 26 Os filhos havidos fora do casamento pode- Uma decisão judicial colocará o menor em deter-
rão ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou sepa- minada família substituta e somente outra decisão
radamente, no próprio termo de nascimento, judicial poderá tirá-lo de lá. Assim,
por testamento, mediante escritura ou outro
documento público, qualquer que seja a origem Art. 30 A colocação em família substituta não
da filiação. admitirá transferência da criança ou adolescente
Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder
a terceiros ou a entidades governamentais ou não-
o nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimen-
-governamentais, sem autorização judicial.
to, se deixar descendentes.
Art. 27 O reconhecimento do estado de filia-
ção é direito personalíssimo, indisponível e Além disso, importa saber que “a colocação em
imprescritível, podendo ser exercitado contra família substituta estrangeira constitui medida
os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, excepcional, somente admissível na modalidade de
observado o segredo de Justiça. adoção” (art. 31).
me familiar de trabalho, alunos de escola técnica ou junto aos pais e responsáveis com o objetivo de pro-
aqueles assistidos em entidade governamental ou não mover a informação, a reflexão, o debate e a orien-
governamental estão sujeitos às seguintes vedações tação sobre alternativas ao uso de castigo físico
relacionadas ao trabalho, que não pode ser: ou de tratamento cruel ou degradante no processo
educativo;
Art. 67 [...] VI - a promoção de espaços intersetoriais locais
I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas para a articulação de ações e a elaboração de pla-
de um dia e as cinco horas do dia seguinte; nos de atuação conjunta focados nas famílias em
II - perigoso, insalubre ou penoso; situação de violência, com participação de profis-
III - realizado em locais prejudiciais à sua for- sionais de saúde, de assistência social e de educa-
mação e ao seu desenvolvimento físico, psíqui- ção e de órgãos de promoção, proteção e defesa dos
co, moral e social; direitos da criança e do adolescente; 15
VII - a promoção de estudos e pesquisas, de esta- Prevenção Especial
tísticas e de outras informações relevantes às con-
sequências e à frequência das formas de violência A prevenção especial refere-se às questões de
contra a criança e o adolescente para a sistema- informação, cultura, lazer, esportes, diversões e espe-
tização de dados nacionalmente unificados e a táculos. Observe o arrolado nos arts. 74 e seguintes:
avaliação periódica dos resultados das medidas
adotadas; Art. 74 O poder público, através do órgão compe-
VIII - o respeito aos valores da dignidade da pes- tente, regulará as diversões e espetáculos públicos,
soa humana, de forma a coibir a violência, o trata- informando sobre a natureza deles, as faixas etá-
mento cruel ou degradante e as formas violentas de rias a que não se recomendem, locais e horários em
educação, correção ou disciplina; que sua apresentação se mostre inadequada.
IX - a promoção e a realização de campanhas edu- Parágrafo único. Os responsáveis pelas diversões e
cativas direcionadas ao público escolar e à socieda- espetáculos públicos deverão afixar, em lugar visível e
de em geral e a difusão desta Lei e dos instrumentos de fácil acesso, à entrada do local de exibição, informa-
de proteção aos direitos humanos das crianças e ção destacada sobre a natureza do espetáculo e a fai-
dos adolescentes, incluídos os canais de denúncia xa etária especificada no certificado de classificação.
existentes; Art. 75 Toda criança ou adolescente terá acesso às
X - a celebração de convênios, de protocolos, de diversões e espetáculos públicos classificados como
ajustes, de termos e de outros instrumentos de pro- adequados à sua faixa etária.
moção de parceria entre órgãos governamentais ou Parágrafo único. As crianças menores de dez anos
entre estes e entidades não governamentais, com o somente poderão ingressar e permanecer nos
objetivo de implementar programas de erradicação locais de apresentação ou exibição quando acom-
da violência, de tratamento cruel ou degradante panhadas dos pais ou responsável.
e de formas violentas de educação, correção ou Art. 76 As emissoras de rádio e televisão somente
disciplina; exibirão, no horário recomendado para o público
XI - a capacitação permanente das Polícias Civil e infanto juvenil, programas com finalidades educa-
Militar, da Guarda Municipal, do Corpo de Bom- tivas, artísticas, culturais e informativas.
beiros, dos profissionais nas escolas, dos Conse- Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresenta-
do ou anunciado sem aviso de sua classificação, antes
lhos Tutelares e dos profissionais pertencentes aos
de sua transmissão, apresentação ou exibição.
órgãos e às áreas referidos no inciso II deste caput,
Art. 77 Os proprietários, diretores, gerentes e funcio-
para que identifiquem situações em que crianças
nários de empresas que explorem a venda ou aluguel
e adolescentes vivenciam violência e agressões no
de fitas de programação em vídeo cuidarão para que
âmbito familiar ou institucional;
não haja venda ou locação em desacordo com a clas-
XII - a promoção de programas educacionais que
sificação atribuída pelo órgão competente.
disseminem valores éticos de irrestrito respeito à Parágrafo único. As fitas a que alude este artigo
dignidade da pessoa humana, bem como de progra- deverão exibir, no invólucro, informação sobre a
mas de fortalecimento da parentalidade positiva, natureza da obra e a faixa etária a que se destinam.
da educação sem castigos físicos e de ações de pre- Art. 78 As revistas e publicações contendo material
venção e enfrentamento da violência doméstica e impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes
familiar contra a criança e o adolescente; deverão ser comercializadas em embalagem lacra-
XIII - o destaque, nos currículos escolares de todos da, com a advertência de seu conteúdo.
os níveis de ensino, dos conteúdos relativos à pre- Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as
venção, à identificação e à resposta à violência capas que contenham mensagens pornográficas ou
doméstica e familiar. obscenas sejam protegidas com embalagem opaca.
Art. 70-B As entidades, públicas e privadas, que Art. 79 As revistas e publicações destinadas ao
atuem nas áreas da saúde e da educação, além público infanto-juvenil não poderão conter ilustra-
daquelas às quais se refere o art. 71 desta Lei, entre ções, fotografias, legendas, crônicas ou anúncios
outras, devem contar, em seus quadros, com pes- de bebidas alcoólicas, tabaco, armas e munições, e
soas capacitadas a reconhecer e a comunicar ao deverão respeitar os valores éticos e sociais da pes-
Conselho Tutelar suspeitas ou casos de crimes pra- soa e da família.
ticados contra a criança e o adolescente. Art. 80 Os responsáveis por estabelecimentos que
Parágrafo único. São igualmente responsáveis pela explorem comercialmente bilhar, sinuca ou con-
comunicação de que trata este artigo, as pessoas gênere ou por casas de jogos, assim entendidas as
encarregadas, por razão de cargo, função, ofício, que realizem apostas, ainda que eventualmente,
ministério, profissão ou ocupação, do cuidado, cuidarão para que não seja permitida a entrada e
assistência ou guarda de crianças e adolescentes, a permanência de crianças e adolescentes no local,
punível, na forma deste Estatuto, o injustificado afixando aviso para orientação do público.
retardamento ou omissão, culposos ou dolosos.
Art. 71 A criança e o adolescente têm direito a Dos Produtos e Serviços
informação, cultura, lazer, esportes, diversões,
espetáculos e produtos e serviços que respeitem sua Ao lado dos outros direitos garantidos pela Cons-
condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. tituição Federal e pelo Estatuto da Criança e do Ado-
Art. 72 As obrigações previstas nesta Lei não lescente, é necessário que alguns produtos e serviços
excluem da prevenção especial outras decorrentes sejam restringidos quanto ao acesso por parte dessas
dos princípios por ela adotados. pessoas em condição peculiar de desenvolvimento.
Art. 73 A inobservância das normas de prevenção Nesse sentido, o art. 81 estabelece produtos que não
importará em responsabilidade da pessoa física ou poderão ser vendidos para crianças e adolescentes.
jurídica, nos termos desta Lei.
I - armas, munições e explosivos;
16 II - bebidas alcoólicas;
III - produtos cujos componentes possam causar Portanto, a depender se a viagem é dentro do ter-
dependência física ou psíquica, ainda que por ritório nacional ou para o exterior, as regras serão
utilização indevida; diferentes. O ECA estabelece que comete infração
IV - fogos de estampido e de artifício, exceto administrativa aquele que infringir as regras acerca
aqueles que, pelo seu reduzido potencial, sejam de viagem de criança ou adolescente:
incapazes de provocar qualquer dano físico em
caso de utilização indevida; Art. 251 Transportar criança ou adolescente, por
V - revistas e publicações a que alude o artigo 78; qualquer meio, com inobservância do disposto nos
VI - bilhetes lotéricos e equivalentes. arts. 83, 84 e 85 desta Lei:
Pena - multa de três a vinte salários de referência,
O art. 82, por sua vez, trata de importante regra aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
acerca da proibição de hospedagem de criança ou
adolescente em hotel, motel, pensão ou estabeleci- DA POLÍTICA DE ATENDIMENTO
mento congênere, salvo se autorizado ou acompanha-
do pelos pais ou pelo responsável. A Política de Atendimento é disposta nos arts. 86
O proprietário do estabelecimento que infringir a 97 e tratam de linhas de ação e de diretrizes, bem
essa regra cometerá infração administrativa sujeita à como das entidades de atendimento e de sua fiscaliza-
penalidade de multa, conforme previsão do art. 250: ção. Vejamos os dispositivos legais:
Art. 250 Hospedar criança ou adolescente desa- Art. 90 As entidades de atendimento são responsáveis
companhado dos pais ou responsável, ou sem auto- pela manutenção das próprias unidades, assim como
rização escrita desses ou da autoridade judiciária, pelo planejamento e execução de programas de prote-
em hotel, pensão, motel ou congênere: ção e sócio-educativos destinados a crianças e adoles-
Pena - multa. centes, em regime de: [...]
§ 1º Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena I - orientação e apoio sócio-familiar;
de multa, a autoridade judiciária poderá determi- II - apoio sócio-educativo em meio aberto;
nar o fechamento do estabelecimento por até 15 III - colocação familiar;
(quinze) dias. IV - acolhimento institucional;
§ 2º Se comprovada a reincidência em período infe- V - prestação de serviços à comunidade;
rior a 30 (trinta) dias, o estabelecimento será defini- VI - liberdade assistida;
tivamente fechado e terá sua licença cassada. VII - semiliberdade; e
VIII - internação.
Da Autorização para Viajar § 1º As entidades governamentais e não governamen-
tais deverão proceder à inscrição de seus programas,
O art. 83, do ECA, estabelece regras para os casos especificando os regimes de atendimento, na forma
em que crianças ou adolescentes precisem viajar definida neste artigo, no Conselho Municipal dos
desacompanhados dos pais ou responsáveis. Direitos da Criança e do Adolescente, o qual mante-
rá registro das inscrições e de suas alterações, do que
Em regra, nenhuma criança poderá viajar para
fará comunicação ao Conselho Tutelar e à autoridade
fora da comarca onde reside desacompanhada dos
judiciária.
pais ou responsáveis sem a devida autorização judi- § 2º Os recursos destinados à implementação e manu-
cial. Entretanto, o Estatuto da Criança e do Adolescen- tenção dos programas relacionados neste artigo serão
te estabelece algumas exceções: previstos nas dotações orçamentárias dos órgãos
públicos encarregados das áreas de Educação, Saúde
Art. 83 [...] e Assistência Social, dentre outros, observando-se o
§ 1º A autorização não será exigida quando: princípio da prioridade absoluta à criança e ao ado-
a) tratar-se de comarca contígua à da residência da lescente preconizado pelo caput do art. 227 da Cons-
criança ou do adolescente menor de 16 (dezesseis) tituição Federal e pelo caput e parágrafo único do art.
anos, se na mesma unidade da Federação, ou incluí- 4 o desta Lei.
da na mesma região metropolitana; § 3º Os programas em execução serão reavaliados
b) a criança ou o adolescente menor de 16 (dezes- pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do
seis) anos estiver acompanhado: Adolescente, no máximo, a cada 2 (dois) anos, consti-
1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro tuindo-se critérios para renovação da autorização de
grau, comprovado documentalmente o parentesco; funcionamento:
2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo I - o efetivo respeito às regras e princípios desta Lei,
pai, mãe ou responsável. bem como às resoluções relativas à modalidade de
§ 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos atendimento prestado expedidas pelos Conselhos de
pais ou responsável, conceder autorização válida Direitos da Criança e do Adolescente, em todos os
DIREITOS HUMANOS
III Defesa técnica por advogado O art. 116, por sua vez, prevê a obrigação de repa-
rar o dano:
Assistência judiciária gratuita e integral aos Art. 116 Em se tratando de ato infracional com
IV
necessitados, na forma da lei reflexos patrimoniais, a autoridade poderá deter-
minar, se for o caso, que o adolescente restitua a
Direito de ser ouvido pessoalmente pela autori-
V coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por
dade competente
outra forma, compense o prejuízo da vítima.
Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade,
Direito de solicitar a presença de seus pais ou a medida poderá ser substituída por outra adequada.
VI
responsável em qualquer fase do procedimento
Todavia, caso haja impossibilidade de impor as
Das Medidas Socioeducativas obrigações acima, a reparação do dano poderá ser
substituída por outra medida adequada.
São medidas aplicáveis a adolescentes autores de
atos infracionais e estão previstas no art. 112, do ECA. Da Prestação de Serviços à Comunidade
Apesar de configurarem como resposta à prática de
um delito, apresentam caráter predominantemente Trata-se de medida socioeducativa prevista no art.
educativo e não punitivo. 117. Veja:
As medidas são aplicadas, por um juiz da Infância
e Juventude, às pessoas na faixa etária entre 12 e 18 Art. 117 A prestação de serviços comunitários con-
siste na realização de tarefas gratuitas de interesse
anos, e, excepcionalmente, a jovens com até 21 anos
geral, por período não excedente a seis meses,
incompletos.
junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e
Portanto, de acordo com o art. 112, uma vez “veri- outros estabelecimentos congêneres, bem como em
ficada a prática de ato infracional, a autoridade com- programas comunitários ou governamentais.
petente poderá aplicar ao adolescente as seguintes Parágrafo único: As tarefas serão atribuídas con-
medidas”: forme as aptidões do adolescente, devendo ser cum-
pridas durante jornada máxima de oito horas
I - advertência; semanais, aos sábados, domingos e feriados ou em
II - obrigação de reparar o dano; dias úteis, de modo a não prejudicar a frequência à
III - prestação de serviços à comunidade; escola ou à jornada normal de trabalho.
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semi-liberdade; Frisa-se que a prestação de serviços à comunidade
VI - internação em estabelecimento educacional; não poderá exceder seis meses.
VII - qualquer uma das previstas no art.101, I a VI.
§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em Liberdade Assistida
conta a sua capacidade de cumpri-la, as cir-
cunstâncias e a gravidade da infração. Consiste no acompanhamento, no auxílio e na
orientação do adolescente em conflito com a lei por
Não se admitirá, em hipótese alguma e sob qual- equipes multidisciplinares, por período mínimo de
quer pretexto, a prestação de trabalho forçado (§ 2º). seis meses, objetivando oferecer atendimento nas
DIREITOS HUMANOS
Art. 128 A medida aplicada por força da remissão mandato de 4 (quatro) anos, permitida recondução
poderá ser revista judicialmente, a qualquer tem- por novos processos de escolha (redação pela Lei
po, mediante pedido expresso do adolescente ou de 13.824, de 2019).
seu representante legal, ou do Ministério Público. Art. 133 Para a candidatura a membro do Conselho
Tutelar, serão exigidos os seguintes requisitos:
I - reconhecida idoneidade moral;
DAS MEDIDAS PERTINENTES AOS PAIS OU
II - idade superior a vinte e um anos;
RESPONSÁVEIS
III - residir no município.
Art. 134 Lei municipal ou distrital disporá sobre o
Os pais ou responsáveis podem ser responsabiliza- local, dia e horário de funcionamento do Conselho
dos sempre que os direitos reconhecidos da criança e do Tutelar, inclusive quanto à remuneração dos respecti-
adolescente forem ameaçados ou violados. A aplicação vos membros, aos quais é assegurado o direito a:
destas medidas é de competência do Conselho Tutelar. I - cobertura previdenciária; 23
II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas prover orientação e aconselhamento acerca de seus
de 1/3 (um terço) do valor da remuneração mensal; direitos e dos encaminhamentos necessários;
III - licença-maternidade; XV - representar à autoridade judicial ou policial
IV - licença-paternidade; para requerer o afastamento do agressor do lar, do
V - gratificação natalina. domicílio ou do local de convivência com a vítima
Parágrafo único. Constará da lei orçamentária nos casos de violência doméstica e familiar contra
municipal e da do Distrito Federal previsão dos a criança e o adolescente;
recursos necessários ao funcionamento do Conse- XVI - representar à autoridade judicial para reque-
lho Tutelar e à remuneração e formação continua- rer a concessão de medida protetiva de urgência à
da dos conselheiros tutelares. criança ou ao adolescente vítima ou testemunha de
Art. 135 O exercício efetivo da função de conselhei- violência doméstica e familiar, bem como a revisão
ro constituirá serviço público relevante e estabele- daquelas já concedidas;
cerá presunção de idoneidade moral. XVII - representar ao Ministério Público para reque-
rer a propositura de ação cautelar de antecipação
DAS ATRIBUIÇÕES DO CONSELHO de produção de prova nas causas que envolvam vio-
lência contra a criança e o adolescente;
O art. 136, do ECA, apresenta o rol taxativo de atri- XVIII - tomar as providências cabíveis, na esfera
buições do Conselho Tutelar no desempenho de suas de sua competência, ao receber comunicação da
ocorrência de ação ou omissão, praticada em local
funções administrativas e assistenciais:
público ou privado, que constitua violência domés-
tica e familiar contra a criança e o adolescente;
Art. 136 São atribuições do Conselho Tutelar:
XIX - receber e encaminhar, quando for o caso, as
I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses
informações reveladas por noticiantes ou denun-
previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas
ciantes relativas à prática de violência, ao uso de
previstas no art. 101, I a VII;
tratamento cruel ou degradante ou de formas vio-
II - atender e aconselhar os pais ou responsável,
lentas de educação, correção ou disciplina contra a
aplicando as medidas previstas no art. 129, I a VII;
criança e o adolescente;
III - promover a execução de suas decisões, poden-
XX - representar à autoridade judicial ou ao Ministé-
do para tanto:
rio Público para requerer a concessão de medidas cau-
a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde,
telares direta ou indiretamente relacionada à eficácia
educação, serviço social, previdência, trabalho e
da proteção de noticiante ou denunciante de informa-
segurança;
ções de crimes que envolvam violência doméstica e
b) representar junto à autoridade judiciária nos
familiar contra a criança e o adolescente.
casos de descumprimento injustificado de suas
Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribui-
deliberações.
ções, o Conselho Tutelar entender necessário o
IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de
afastamento do convívio familiar, comunicará
fato que constitua infração administrativa ou penal
incontinenti o fato ao Ministério Público, prestan-
contra os direitos da criança ou adolescente;
do-lhe informações sobre os motivos de tal entendi-
V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de
mento e as providências tomadas para a orientação,
sua competência;
o apoio e a promoção social da família. (Incluído
VI - providenciar a medida estabelecida pela auto-
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
ridade judiciária, dentre as previstas no art. 101, de
Art. 137 As decisões do Conselho Tutelar somente
I a VI, para o adolescente autor de ato infracional;
poderão ser revistas pela autoridade judiciária a
VII - expedir notificações;
pedido de quem tenha legítimo interesse.
VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito
de criança ou adolescente quando necessário;
IX - assessorar o Poder Executivo local na elabora- Da Escolha dos Conselheiros
ção da proposta orçamentária para planos e pro-
gramas de atendimento dos direitos da criança e do Art. 139 O processo para a escolha dos membros do
adolescente; Conselho Tutelar será estabelecido em lei munici-
X - representar, em nome da pessoa e da família, pal e realizado sob a responsabilidade do Conselho
contra a violação dos direitos previstos no art. 220, Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescen-
§ 3º, inciso II, da Constituição Federal; te, e a fiscalização do Ministério Público. (Redação
XI - representar ao Ministério Público para efeito dada pela Lei nº 8.242, de 12.10.1991)
das ações de perda ou suspensão do poder familiar, § 1º O processo de escolha dos membros do Conse-
após esgotadas as possibilidades de manutenção da lho Tutelar ocorrerá em data unificada em todo o
criança ou do adolescente junto à família natural. território nacional a cada 4 (quatro) anos, no pri-
(Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência meiro domingo do mês de outubro do ano subse-
XII - promover e incentivar, na comunidade e nos quente ao da eleição presidencial. (Incluído pela Lei
grupos profissionais, ações de divulgação e trei- nº 12.696, de 2012)
namento para o reconhecimento de sintomas de § 2º A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no
maus-tratos em crianças e adolescentes. (Incluído dia 10 de janeiro do ano subsequente ao processo
pela Lei nº 13.046, de 2014) de escolha. (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)
XIII - adotar, na esfera de sua competência, ações § 3º No processo de escolha dos membros do Con-
articuladas e efetivas direcionadas à identificação selho Tutelar, é vedado ao candidato doar, oferecer,
da agressão, à agilidade no atendimento da crian- prometer ou entregar ao eleitor bem ou vantagem
ça e do adolescente vítima de violência doméstica e pessoal de qualquer natureza, inclusive brindes de
familiar e à responsabilização do agressor; pequeno valor. (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)
XIV - atender à criança e ao adolescente vítima ou
testemunha de violência doméstica e familiar, ou Dos Impedimentos
submetido a tratamento cruel ou degradante ou a
formas violentas de educação, correção ou discipli- Art. 140 São impedidos de servir no mesmo Conselho
24 na, a seus familiares e a testemunhas, de forma a marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e
genro ou nora, irmãos, cunhados, durante o cunhadio, A proibição da divulgação de informações acerca
tio e sobrinho, padrasto ou madrasta e enteado. de crianças e adolescentes aos quais se atribua a auto-
Parágrafo único. Estende-se o impedimento do conse- ria de ato infracional alcança atos judiciais, policiais
lheiro, na forma deste artigo, em relação à autoridade e administrativos.
judiciária e ao representante do Ministério Público Estabelece ainda a lei que as notícias não identi-
com atuação na Justiça da Infância e da Juventude, em ficarão o menor, “vedando-se fotografia, referência a
exercício na comarca, foro regional ou distrital. nome, apelido, filiação, parentesco, residência e, inclu-
sive, iniciais do nome e sobrenome” (parágrafo único,
ACESSO À JUSTIÇA do art. 143).
policiais e administrativos que digam respeito a § 1º [...] prioridade absoluta na tramitação dos
crianças e adolescentes a que se atribua autoria processos e procedimentos previstos nesta Lei,
de ato infracional. assim como na execução dos atos e diligências judi-
Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do ciais a eles referentes.
fato não poderá identificar a criança ou adoles-
cente, vedando-se fotografia, referência a nome, Com relação aos prazos, serão aplicáveis aos seus
apelido, filiação, parentesco, residência e, inclusive, procedimentos, ocasião em que serão
iniciais do nome e sobrenome.
Art. 144 A expedição de cópia ou certidão de atos a § 2º [...] contados em dias corridos, excluído o dia
que se refere o artigo anterior somente será deferida do começo e incluído o dia do vencimento, vedado o
pela autoridade judiciária competente, se demons- prazo em dobro para a Fazenda Pública e o Minis-
trado o interesse e justificada a finalidade. tério Público. 25
Da Colocação em Família Substituta § 7º A família natural e a família substituta rece-
berão a devida orientação por intermédio de equi-
Família substituta é aquela que se propõe a tra- pe técnica interprofissional a serviço da Justiça da
zer para dentro de sua residência uma criança ou Infância e da Juventude, preferencialmente com
um adolescente que, por qualquer circunstância, foi apoio dos técnicos responsáveis pela execução da
desprovido da família natural, para que nela possa se política municipal de garantia do direito à convi-
vência familiar.
desenvolver como parte integrante.
O art. 165 apresenta alguns requisitos que são
Da Apuração de Ato Infracional Atribuído a
necessários para que a criança ou o adolescente seja
Adolescente
colocado em família substituta. Veja:
Acompanhe, ainda, o disposto nos arts. 181 e 182: Art. 184 [...]
§ 4º Estando o adolescente internado, será requisi-
Art. 181 Promovido o arquivamento dos autos ou tada a sua apresentação, sem prejuízo da notifica-
concedida a remissão pelo representante do Minis- ção dos pais ou responsável.
tério Público, mediante termo fundamentado, que Art. 185 A internação, decretada ou mantida pela
conterá o resumo dos fatos, os autos serão conclu- autoridade judiciária, não poderá ser cumprida em
sos à autoridade judiciária para homologação. estabelecimento prisional.
DIREITOS HUMANOS
constitucionais (aprovação em cada Casa do Congres- ção plena e efetiva na sociedade em igualdades de
so Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos condições com as demais pessoas.
dos respectivos membros).
Como resultado, tal decreto passou a ter status de z Pessoa com deficiência:
norma constitucional (mesmo valor normativo das
leis dispostas na Constituição Federal, mesmo sem impedimento de longo prazo;
fazer parte dela). Por essa razão, o Brasil necessitou natureza física, mental, intelectual ou sensorial;
promover alterações legislativas para “assegurar e causar barreiras ou obstruir sua participação
promover o pleno exercício de todos os direitos huma- plena e efetiva na sociedade em igualdades de
nos e liberdades fundamentais por todas as pessoas condições com as demais pessoas.
com deficiência”, em conformidade com o item 1 da
Convenção. 31
Além de conceituar pessoas com deficiência, o Observe que a palavra-chave para entender o con-
art. 2º trouxe, em seus parágrafos, a maneira como ceito de acessibilidade é autonomia (direito de circu-
deve ser procedida a avaliação para caracterizar lar com autonomia em espaços públicos e privados
essas pessoas. O parágrafo primeiro estabelece que de uso coletivo, bem como o direito de ter autonomia
a avaliação será realizada por uma equipe multipro- para utilizar a tecnologia).
fissional e interdisciplinar, de modo a considerar os
aspectos que permeiam o indivíduo (todo o contexto Art. 3° [...]
social). Para determinar ou não a deficiência, a equi- II - desenho universal: concepção de produtos,
pe analisará três enfoques: biológico, psicológico e ambientes, programas e serviços a serem usados
social. Vejamos: por todas as pessoas, sem necessidade de adapta-
ção ou de projeto específico, incluindo os recursos
de tecnologia assistiva.
Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela
que tem impedimento de longo prazo de natureza
física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em Refere-se ao fato de que o produto ou serviço deve
interação com uma ou mais barreiras, pode obs- ser utilizado por todas as pessoas, independentemen-
truir sua participação plena e efetiva na sociedade te de ter ou não alguma deficiência.
em igualdade de condições com as demais pessoas.
§ 1º A avaliação da deficiência, quando necessária, Art. 3° [...]
será biopsicossocial, realizada por equipe multi- III - tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos,
profissional e interdisciplinar e considerará: equipamentos, dispositivos, recursos, metodolo-
I - os impedimentos nas funções e nas estruturas gias, estratégias, práticas e serviços que objetivem
do corpo; promover a funcionalidade, relacionada à ativida-
II - os fatores socioambientais, psicológicos e de e à participação da pessoa com deficiência ou
pessoais; com mobilidade reduzida, visando à sua autono-
III - a limitação no desempenho de atividades; e mia, independência, qualidade de vida e inclusão
IV - a restrição de participação. social.
§ 2º O Poder Executivo criará instrumentos para
avaliação da deficiência. Trata-se, aqui, da possibilidade de adaptar deter-
minado produto ou serviço às necessidades da pessoa
O parágrafo segundo, por sua vez, estabelece que com deficiência, para que possa exercê-lo de forma
compete ao Poder Executivo a criação dos instrumen- autônoma.
tos normativos para a verificação da deficiência.
Art. 3° [...]
IV - barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude
Importante! ou comportamento que limite ou impeça a partici-
pação social da pessoa, bem como o gozo, a frui-
A competência é do Poder Executivo e não do ção e o exercício de seus direitos à acessibilidade,
Poder Legislativo. à liberdade de movimento e de expressão, à comu-
nicação, ao acesso à informação, à compreensão,
à circulação com segurança, entre outros, classifi-
O art. 3° apresenta outros conceitos para aplicação cadas em:
e entendimento da legislação. São eles: a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e
nos espaços públicos e privados abertos ao público
z acessibilidade; ou de uso coletivo;
z desenho universal; b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifí-
cios públicos e privados;
z tecnologia assistiva ou ajuda técnica;
c) barreiras nos transportes: as existentes nos siste-
z barreiras;
mas e meios de transportes;
z comunicação; d) barreiras nas comunicações e na informação:
z adaptações razoáveis; qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comporta-
z elemento de urbanização; mento que dificulte ou impossibilite a expressão ou
z mobiliário urbano; o recebimento de mensagens e de informações por
z pessoa com mobilidade reduzida; intermédio de sistemas de comunicação e de tecno-
z residências inclusivas; logia da informação;
z moradia para a vida independente da pessoa com e) barreiras atitudinais: atitudes ou comportamen-
deficiência; tos que impeçam ou prejudiquem a participação
z atendente pessoal; profissional de apoio escolar; social da pessoa com deficiência em igualdade de
z acompanhante. condições e oportunidades com as demais pessoas;
f) barreiras tecnológicas: as que dificultam ou
Art. 3° [...] impedem o acesso da pessoa com deficiência às
I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcan- tecnologias.
ce para utilização, com segurança e autonomia,
de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, Por barreiras entende-se qualquer obstáculo que
edificações, transportes, informação e comuni- impeça ou limite a participação social da pessoa com
cação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem deficiência. As barreiras podem estar nos espaços
como de outros serviços e instalações abertos ao públicos e privados de uso coletivo (urbanísticas),
público, de uso público ou privados de uso coletivo, nas edificações (arquitetônicas), nos transportes, nas
tanto na zona urbana como na rural, por pessoa comunicações, nas atitudes (atitudinais) e na dificul-
32 com deficiência ou com mobilidade reduzida. dade de acesso às tecnologias (tecnológicas).
Art. 3° [...]
V - comunicação: forma de interação dos cidadãos que abrange, entre outras opções, as línguas, inclusive a Língua
Brasileira de Sinais (Libras), a visualização de textos, o Braille, o sistema de sinalização ou de comunicação tátil,
os caracteres ampliados, os dispositivos multimídia, assim como a linguagem simples, escrita e oral, os sistemas
auditivos e os meios de voz digitalizados e os modos, meios e formatos aumentativos e alternativos de comunicação,
incluindo as tecnologias da informação e das comunicações.
VI - adaptações razoáveis: adaptações, modificações e ajustes necessários e adequados que não acarretem ônus
desproporcional e indevido, quando requeridos em cada caso, a fim de assegurar que a pessoa com deficiência possa
gozar ou exercer, em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas, todos os direitos e liberdades
fundamentais.
VII - elemento de urbanização: quaisquer componentes de obras de urbanização, tais como os referentes a pavi-
mentação, saneamento, encanamento para esgotos, distribuição de energia elétrica e de gás, iluminação pública,
serviços de comunicação, abastecimento e distribuição de água, paisagismo e os que materializam as indicações do
planejamento urbanístico.
VIII - mobiliário urbano: conjunto de objetos existentes nas vias e nos espaços públicos, superpostos ou adicionados
aos elementos de urbanização ou de edificação, de forma que sua modificação ou seu traslado não provoque alte-
rações substanciais nesses elementos, tais como semáforos, postes de sinalização e similares, terminais e pontos
de acesso coletivo às telecomunicações, fontes de água, lixeiras, toldos, marquises, bancos, quiosques e quaisquer
outros de natureza análoga.
IX - pessoa com mobilidade reduzida: aquela que tenha, por qualquer motivo, dificuldade de movimentação, per-
manente ou temporária, gerando redução efetiva da mobilidade, da flexibilidade, da coordenação motora ou da
percepção, incluindo idoso, gestante, lactante, pessoa com criança de colo e obeso.
X - residências inclusivas: unidades de oferta do Serviço de Acolhimento do Sistema Único de Assistência Social
(SUAS) localizadas em áreas residenciais da comunidade, com estruturas adequadas, que possam contar com apoio
psicossocial para o atendimento das necessidades da pessoa acolhida, destinadas a jovens e adultos com deficiên-
cia, em situação de dependência, que não dispõem de condições de autossustentabilidade e com vínculos familiares
fragilizados ou rompidos.
As residências inclusivas têm caráter de assistência para aquelas pessoas com deficiência que são dependen-
tes, porém, não possuem vínculos familiares capazes de lhes dar suporte.
Art. 3° [...]
XI - moradia para a vida independente da pessoa com deficiência: moradia com estruturas adequadas capazes de
proporcionar serviços de apoio coletivos e individualizados que respeitem e ampliem o grau de autonomia de jovens
e adultos com deficiência.
Diferentemente da residência inclusiva, a moradia proporciona serviços de apoio à pessoa com deficiência, os
quais ampliarão o seu grau de autonomia.
Art. 3° [...]
XII - atendente pessoal: pessoa, membro ou não da família, que, com ou sem remuneração, assiste ou presta cuida-
dos básicos e essenciais à pessoa com deficiência no exercício de suas atividades diárias, excluídas as técnicas ou os
procedimentos identificados com profissões legalmente estabelecidas.
XIII - profissional de apoio escolar: pessoa que exerce atividades de alimentação, higiene e locomoção do estudante
com deficiência e atua em todas as atividades escolares nas quais se fizer necessária, em todos os níveis e modali-
dades de ensino, em instituições públicas e privadas, excluídas as técnicas ou os procedimentos identificados com
profissões legalmente estabelecidas.
XIV - Acompanhante: aquele que acompanha a pessoa com deficiência, podendo ou não desempenhar as funções de
atendente pessoal.
Art. 4° [...]
§ 1° [...] toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de
prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa
DIREITOS HUMANOS
Inclui-se, ainda, como forma de discriminação, a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de tecno-
logias assistivas, tanto pelo próprio Estado, como pelo particular.
33
Para facilitar na fixação desse conceito, vamos esquematizá-lo para você:
Impedir, prejudicar
Ação ou anular o
DISTINÇÃO Distinção reconhecimento ou o
EM RAZÃO DA Restrição exercício dos direitos
DEFICIÊNCIA Exclusão e das liberdades
fundamentais
Omissão de pessoa com
deficiência
É importante esclarecer que a igualdade trazida pela Lei nº 13.146, de 2015, não é impositiva, ou seja, as
ações afirmativas constantes da lei não são obrigatórias às pessoas com deficiência, pois, se elas não quiserem se
beneficiar dos direitos elencados, não serão obrigadas. Por exemplo: a pessoa com deficiência não é obrigada a se
inscrever para vagas reservadas, podendo concorrer às vagas de ampla concorrência se assim desejar.
O art. 5º, por sua vez, trata da proteção da pessoa com deficiência, de modo a afastar toda forma de tortura
ou outro mecanismo de redução da dignidade da pessoa humana ao assegurar a proteção contra negligência,
discriminação, exploração, violência, tortura, crueldade, opressão e tratamento desumano ou degradante. Seu
parágrafo único traz um conceito importante: especialmente vulneráveis.
Considerando que a pessoa com deficiência já é vulnerável e, por essa razão, merece a proteção especial,
maior deve ser a proteção das crianças, adolescentes, mulheres e idosos quando estes possuem deficiência.
Importante é, também, o art. 6º da lei, que concedeu às pessoas com deficiência plena capacidade para o exer-
cício de seus direitos, inclusive para:
Dica
Até a entrada em vigor da Lei nº 13.146, de 2015, as pessoas com deficiência eram tidas, em regra, de forma
absoluta, ou relativamente incapazes pelo Código Civil. Atualmente, a regra é que elas são plenamente capa-
zes, só sendo consideradas relativamente incapazes se, por causa transitória ou permanente, não puderem
exprimir sua vontade.
O art. 7° trouxe o dever de vigilância geral aplicável a todas as pessoas. Em decorrência dele, podem comuni-
car às autoridades qualquer tipo de ameaça ou violação aos direitos da pessoa com deficiência. Ressalta-se que
seu parágrafo único dispõe que, uma vez verificado pelos juízes e tribunais ofensa à Lei, o Ministério Público deve
ser informado para que adote as providências para o devido cumprimento da Lei, inclusive na forma penal.
O art. 8° estabelece que é dever do Estado, da sociedade e da família assegurar a efetivação dos direitos
das pessoas com deficiência.
Do Atendimento Prioritário
Encerrando a parte relativa à igualdade, o art. 9° dispõe sobre o atendimento prioritário, com as finalidades
de:
Com exceção da restituição de imposto de renda e da tramitação processual prioritária, todos os demais itens
relativos ao atendimento prioritário são extensivos ao acompanhante da pessoa com deficiência ou ao seu
atendente pessoal. Como consequência, o acompanhante tem direito à preferência de atendimento, ao socorro,
34 entre outros.
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS Art. 15 O processo mencionado no art. 14 desta Lei
baseia-se em avaliação multidisciplinar das neces-
Os arts. 10 ao 78 traçam os direitos das pessoas com sidades, habilidades e potencialidades de cada pes-
deficiência. São eles que estudaremos neste momento. soa, observadas as seguintes diretrizes:
Veja-os a seguir: I - diagnóstico e intervenção precoces;
II - adoção de medidas para compensar perda ou
z Direitos Fundamentais: limitação funcional, buscando o desenvolvimento
de aptidões;
vida; III - atuação permanente, integrada e articulada de
habitação e reabilitação; políticas públicas que possibilitem a plena partici-
saúde; pação social da pessoa com deficiência;
educação; IV - oferta de rede de serviços articulados, com
moradia; atuação intersetorial, nos diferentes níveis de com-
trabalho; plexidade, para atender às necessidades específicas
assistente social; da pessoa com deficiência;
previdência social; V - prestação de serviços próximo ao domicílio da
cultura, esporte, turismo e lazer; pessoa com deficiência, inclusive na zona rural,
transporte; respeitadas a organização das Redes de Atenção à
mobilidade; Saúde (RAS) nos territórios locais e as normas do
acessibilidade. Sistema Único de Saúde (SUS).
Art. 16 Nos programas e serviços de habilitação e
Do Direito à Vida de reabilitação para a pessoa com deficiência, são
garantidos:
O direito à vida encontra-se previsto nos arts. 10 I - organização, serviços, métodos, técnicas e recur-
ao 13, da Lei nº 13.146, de 2015, e dele decorrem os sos para atender às características de cada pessoa
demais direitos, pois, sem a vida, não existiria nenhum com deficiência;
outro. O direito à vida é inviolável, sendo, inclusive, II - acessibilidade em todos os ambientes e serviços;
garantido constitucionalmente a todas as pessoas. Por III - tecnologia assistiva, tecnologia de reabilitação,
conseguinte, a pessoa com deficiência tem o direito materiais e equipamentos adequados e apoio técni-
de lutar pela sua vida, competindo ao Estado o dever co profissional, de acordo com as especificidades de
de adotar toda e qualquer medida para assegurar seu cada pessoa com deficiência;
pleno exercício. IV - capacitação continuada de todos os profissio-
Importante assinalar que a pessoa com deficiência nais que participem dos programas e serviços.
não é obrigada a ser submetida a qualquer espécie Art. 17 Os serviços do SUS e do Suas deverão pro-
de tratamento ou intervenção forçada, haja vista que mover ações articuladas para garantir à pessoa
é indispensável seu livre consentimento para a rea- com deficiência e sua família a aquisição de infor-
lização de qualquer procedimento, exceto nos casos mações, orientações e formas de acesso às políticas
de atendimento de emergência em saúde e risco de públicas disponíveis, com a finalidade de propiciar
morte e nos casos em que se encontra impossibilitada sua plena participação social.
de manifestar a sua vontade. Por possui curador, este Parágrafo único. Os serviços de que trata o caput
supre o seu consentimento (aplica-se apenas às pes- deste artigo podem fornecer informações e orienta-
soas submetidas ao instituto da Curatela). ções nas áreas de saúde, de educação, de cultura,
Verifica-se, ainda, que compete ao Poder Público de esporte, de lazer, de transporte, de previdência
a proteção das pessoas com deficiência em situações social, de assistência social, de habitação, de tra-
de vulnerabilidade, em especial, aquelas em situações balho, de empreendedorismo, de acesso ao crédito,
de risco, como nos casos de estado de emergência ou de promoção, proteção e defesa de direitos e nas
calamidade pública. demais áreas que possibilitem à pessoa com defi-
ciência exercer sua cidadania.
Do Direito à Habilitação e à Reabilitação
Esse direito relaciona-se, diretamente, com a ques-
O direito à habilitação e reabilitação está dis- tão da saúde, de modo a envolver a atuação do Siste-
ciplinado nos arts. 14 ao 17, que dizem respeito à ma Único de Saúde (SUS) e do Serviço de Acolhimento
garantia de se adotar medidas que promovam a recu- do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), ambos
peração física, cognitiva e psicológica, bem como a responsáveis por prestar informações e orientações
proteção, à reabilitação e a reinserção social das pes- adequadas com relação às políticas públicas dispo-
DIREITOS HUMANOS
Libras. (Vigência)
acadêmico e social dos estudantes com deficiência, Art. 29 (VETADO).
favorecendo o acesso, a permanência, a participa- Art. 30 Nos processos seletivos para ingresso e per-
ção e a aprendizagem em instituições de ensino; manência nos cursos oferecidos pelas instituições
VI - pesquisas voltadas para o desenvolvimento de de ensino superior e de educação profissional e tec-
novos métodos e técnicas pedagógicas, de mate- nológica, públicas e privadas, devem ser adotadas
riais didáticos, de equipamentos e de recursos de as seguintes medidas:
tecnologia assistiva; I - atendimento preferencial à pessoa com deficiên-
VII - planejamento de estudo de caso, de elabora- cia nas dependências das Instituições de Ensino
ção de plano de atendimento educacional especia- Superior (IES) e nos serviços;
lizado, de organização de recursos e serviços de II - disponibilização de formulário de inscrição
acessibilidade e de disponibilização e usabilidade de exames com campos específicos para que o
pedagógica de recursos de tecnologia assistiva; candidato com deficiência informe os recursos de 37
acessibilidade e de tecnologia assistiva necessários § 3º Caso não haja pessoa com deficiência interes-
para sua participação; sada nas unidades habitacionais reservadas por
III - disponibilização de provas em formatos acessí- força do disposto no inciso I do caput deste artigo,
veis para atendimento às necessidades específicas as unidades não utilizadas serão disponibilizadas
do candidato com deficiência; às demais pessoas.
IV - disponibilização de recursos de acessibilidade Art. 33 Ao poder público compete:
e de tecnologia assistiva adequados, previamen- I - adotar as providências necessárias para o cum-
te solicitados e escolhidos pelo candidato com primento do disposto nos arts. 31 e 32 desta Lei; e
deficiência; II - divulgar, para os agentes interessados e benefi-
V - dilação de tempo, conforme demanda apresen- ciários, a política habitacional prevista nas legisla-
tada pelo candidato com deficiência, tanto na reali- ções federal, estaduais, distrital e municipais, com
zação de exame para seleção quanto nas atividades
ênfase nos dispositivos sobre acessibilidade.
acadêmicas, mediante prévia solicitação e compro-
vação da necessidade;
VI - adoção de critérios de avaliação das provas Do Direito ao Trabalho
escritas, discursivas ou de redação que considerem
a singularidade linguística da pessoa com deficiên- O direito ao trabalho, disciplinado nos arts. 34
cia, no domínio da modalidade escrita da língua e 35, tem, como característica, o fato de ser incluso.
portuguesa; Como consequência, permite-se que a pessoa com
VII - tradução completa do edital e de suas retifica- deficiência tenha efetiva liberdade de escolha quanto
ções em Libras. à profissão ou ao trabalho que deseja desempenhar.
O direito à moradia, cuja previsão encontra- Art. 34 A pessoa com deficiência tem direito ao tra-
-se nos arts. 31 ao 33, tem, como objetivo, garantir o balho de sua livre escolha e aceitação, em ambiente
máximo de autonomia e dignidade à pessoa com defi- acessível e inclusivo, em igualdade de oportunida-
ciência. Trata-se de um direito contemplado na Decla- des com as demais pessoas.
ração Universal de Direitos Humanos, competindo ao § 1º As pessoas jurídicas de direito público, privado
Poder Público sua promoção e efetiva concretização. ou de qualquer natureza são obrigadas a garantir
ambientes de trabalho acessíveis e inclusivos.
Art. 31 A pessoa com deficiência tem direito à § 2º A pessoa com deficiência tem direito, em igual-
moradia digna, no seio da família natural ou substi- dade de oportunidades com as demais pessoas, a
tuta, com seu cônjuge ou companheiro ou desacom- condições justas e favoráveis de trabalho, incluindo
panhada, ou em moradia para a vida independente igual remuneração por trabalho de igual valor.
da pessoa com deficiência, ou, ainda, em residência § 3º É vedada restrição ao trabalho da pessoa com
inclusiva. deficiência e qualquer discriminação em razão
§ 1º O poder público adotará programas e ações de sua condição, inclusive nas etapas de recruta-
estratégicas para apoiar a criação e a manutenção mento, seleção, contratação, admissão, exames
de moradia para a vida independente da pessoa
admissional e periódico, permanência no emprego,
com deficiência.
ascensão profissional e reabilitação profissional,
§ 2º A proteção integral na modalidade de residên-
bem como exigência de aptidão plena.
cia inclusiva será prestada no âmbito do Suas à
§ 4º A pessoa com deficiência tem direito à partici-
pessoa com deficiência em situação de dependência
pação e ao acesso a cursos, treinamentos, educação
que não disponha de condições de autossustenta-
bilidade, com vínculos familiares fragilizados ou continuada, planos de carreira, promoções, bonifi-
rompidos. cações e incentivos profissionais oferecidos pelo
Art. 32 Nos programas habitacionais, públicos ou empregador, em igualdade de oportunidades com
subsidiados com recursos públicos, a pessoa com os demais empregados.
deficiência ou o seu responsável goza de priorida- § 5º É garantida aos trabalhadores com deficiên-
de na aquisição de imóvel para moradia própria, cia acessibilidade em cursos de formação e de
observado o seguinte: capacitação.
I - reserva de, no mínimo, 3% (três por cento) Art. 35 É finalidade primordial das políticas públi-
das unidades habitacionais para pessoa com cas de trabalho e emprego promover e garantir
deficiência; condições de acesso e de permanência da pessoa
II - (VETADO); com deficiência no campo de trabalho.
III - em caso de edificação multifamiliar, garantia Parágrafo único. Os programas de estímulo ao
de acessibilidade nas áreas de uso comum e nas empreendedorismo e ao trabalho autônomo, incluí-
unidades habitacionais no piso térreo e de acessibi- dos o cooperativismo e o associativismo, devem
lidade ou de adaptação razoável nos demais pisos; prever a participação da pessoa com deficiência
IV - disponibilização de equipamentos urbanos e a disponibilização de linhas de crédito, quando
comunitários acessíveis; necessárias.
V - elaboração de especificações técnicas no projeto
que permitam a instalação de elevadores.
Do Direito à Assistência Social
§ 1º O direito à prioridade, previsto no caput deste
artigo, será reconhecido à pessoa com deficiência
beneficiária apenas uma vez. O direito à assistência social encontra-se con-
§ 2º Nos programas habitacionais públicos, os cri- templado nos arts. 39 e 40, além de fazer parte do rol
térios de financiamento devem ser compatíveis com dos direitos sociais previstos no art. 6º da Constituição
os rendimentos da pessoa com deficiência ou de sua Federal, de 1988.
38 família.
A assistência social faz parte do subsistema da II - a programas de televisão, cinema, teatro e
Seguridade Social, juntamente com a saúde e a previ- outras atividades culturais e desportivas em for-
dência social. Por assistência social entende-se o con- mato acessível; e
junto de medidas institucionalizadas de assistência III - a monumentos e locais de importância cultural
gratuita a ser prestada a quem dela necessitar. e a espaços que ofereçam serviços ou eventos cultu-
São seus objetivos: habilitar e reabilitar as pessoas rais e esportivos.
com deficiência; reintegrá-las à vida comunitária; § 1º É vedada a recusa de oferta de obra intelectual
garantir um benefício mensal àqueles que não têm em formato acessível à pessoa com deficiência, sob
meios de prover a sua manutenção (hipossuficiente). qualquer argumento, inclusive sob a alegação de
Veja os artigos em sua literalidade: proteção dos direitos de propriedade intelectual.
§ 2º O poder público deve adotar soluções desti-
nadas à eliminação, à redução ou à superação de
Art. 39 Os serviços, os programas, os projetos e os
barreiras para a promoção do acesso a todo patri-
benefícios no âmbito da política pública de assis-
tência social à pessoa com deficiência e sua família mônio cultural, observadas as normas de acessi-
têm como objetivo a garantia da segurança de ren- bilidade, ambientais e de proteção do patrimônio
da, da acolhida, da habilitação e da reabilitação, do histórico e artístico nacional.
desenvolvimento da autonomia e da convivência Art. 43 O poder público deve promover a participa-
familiar e comunitária, para a promoção do acesso ção da pessoa com deficiência em atividades artísti-
a direitos e da plena participação social. cas, intelectuais, culturais, esportivas e recreativas,
§ 1º A assistência social à pessoa com deficiência, com vistas ao seu protagonismo, devendo:
nos termos do caput deste artigo, deve envolver I - incentivar a provisão de instrução, de treinamen-
conjunto articulado de serviços do âmbito da Pro- to e de recursos adequados, em igualdade de opor-
teção Social Básica e da Proteção Social Especial, tunidades com as demais pessoas;
ofertados pelo Suas, para a garantia de seguranças II - assegurar acessibilidade nos locais de eventos
fundamentais no enfrentamento de situações de e nos serviços prestados por pessoa ou entidade
vulnerabilidade e de risco, por fragilização de vín- envolvida na organização das atividades de que
culos e ameaça ou violação de direitos. trata este artigo; e
§ 2º Os serviços socioassistenciais destinados à III - assegurar a participação da pessoa com defi-
pessoa com deficiência em situação de dependência ciência em jogos e atividades recreativas, espor-
deverão contar com cuidadores sociais para pres- tivas, de lazer, culturais e artísticas, inclusive no
tar-lhe cuidados básicos e instrumentais. sistema escolar, em igualdade de condições com as
Art. 40 É assegurado à pessoa com deficiência que demais pessoas.
não possua meios para prover sua subsistência Art. 44 Nos teatros, cinemas, auditórios, estádios,
nem de tê-la provida por sua família o benefício ginásios de esporte, locais de espetáculos e de con-
mensal de 1 (um) salário-mínimo, nos termos da ferências e similares, serão reservados espaços
Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993. livres e assentos para a pessoa com deficiência, de
acordo com a capacidade de lotação da edificação,
Do Direito à Previdência Social observado o disposto em regulamento.
§ 1º Os espaços e assentos a que se refere este arti-
O direito à previdência social, também integran- go devem ser distribuídos pelo recinto em locais
te do subsistema da Seguridade Social, encontra-se diversos, de boa visibilidade, em todos os setores,
previsto no art. 41. Trata de garantir à pessoa com próximos aos corredores, devidamente sinalizados,
deficiência segurada do Regime Geral de Previdência evitando-se áreas segregadas de público e obstru-
Social (RGPS) o direito à aposentadoria nos termos ção das saídas, em conformidade com as normas
da Lei Complementar nº 142 de 8 de maio de 2013 — de acessibilidade.
§ 2º No caso de não haver comprovada procura
redução de até 10 (dez) anos de contribuição, confor-
pelos assentos reservados, esses podem, excepcio-
me o grau da deficiência aferido em avaliação médica
nalmente, ser ocupados por pessoas sem deficiência
e social.
ou que não tenham mobilidade reduzida, observa-
do o disposto em regulamento.
Art. 41 A pessoa com deficiência segurada do Regi-
§ 3º Os espaços e assentos a que se refere este arti-
me Geral de Previdência Social (RGPS) tem direito à
go devem situar-se em locais que garantam a aco-
aposentadoria nos termos da Lei Complementar nº
modação de, no mínimo, 1 (um) acompanhante da
142, de 8 de maio de 2013.
pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzi-
da, resguardado o direito de se acomodar proxima-
Do Direito à Cultura, ao Esporte, ao Turismo e ao mente a grupo familiar e comunitário.
Lazer § 4º Nos locais referidos no caput deste artigo,
deve haver, obrigatoriamente, rotas de fuga e saí-
O direito à cultura, ao esporte, ao turismo e ao das de emergência acessíveis, conforme padrões
DIREITOS HUMANOS
lazer está estabelecido nos arts. 42 ao 45, tendo, como das normas de acessibilidade, a fim de permitir
um de seus principais objetivos, a promoção isonômi- a saída segura da pessoa com deficiência ou com
ca à inclusão e participação da pessoa com deficiência mobilidade reduzida, em caso de emergência.
na vida em sociedade em todos os seus aspectos. § 5º Todos os espaços das edificações previstas no
Ressalta-se que é proibida a cobrança de valor caput deste artigo devem atender às normas de
maior pelo ingresso de pessoas com deficiência. acessibilidade em vigor.
§ 6º As salas de cinema devem oferecer, em todas
Art. 42 A pessoa com deficiência tem direito à cul- as sessões, recursos de acessibilidade para a pessoa
tura, ao esporte, ao turismo e ao lazer em igualdade com deficiência.
de oportunidades com as demais pessoas, sendo-lhe § 7º O valor do ingresso da pessoa com deficiên-
garantido o acesso: cia não poderá ser superior ao valor cobrado das
I - a bens culturais em formato acessível; demais pessoas. 39
Art. 45 Os hotéis, pousadas e similares devem ser § 1º Os veículos e as estruturas de que trata o caput
construídos observando-se os princípios do dese- deste artigo devem dispor de sistema de comunica-
nho universal, além de adotar todos os meios de ção acessível que disponibilize informações sobre
acessibilidade, conforme legislação em vigor. todos os pontos do itinerário.
§ 1º Os estabelecimentos já existentes deverão dis- § 2º São asseguradas à pessoa com deficiência prio-
ponibilizar, pelo menos, 10% (dez por cento) de ridade e segurança nos procedimentos de embar-
seus dormitórios acessíveis, garantida, no mínimo, que e de desembarque nos veículos de transporte
1 (uma) unidade acessível. coletivo, de acordo com as normas técnicas.
§ 2º Os dormitórios mencionados no § 1º deste arti- § 3º Para colocação do símbolo internacional de
go deverão ser localizados em rotas acessíveis. acesso nos veículos, as empresas de transporte
coletivo de passageiros dependem da certificação
Do Direito ao Transporte e à Mobilidade de acessibilidade emitida pelo gestor público res-
ponsável pela prestação do serviço.
O direito ao transporte e à mobilidade está disci- Art. 49 As empresas de transporte de fretamento e
plinado nos arts. 46 ao 52. Tal direito objetiva comba- de turismo, na renovação de suas frotas, são obri-
ter, de modo concreto, a manifestação de barreiras na gadas ao cumprimento do disposto nos arts. 46 e 48
vida da pessoa com deficiência. desta Lei. (Vigência)
Art. 50 O poder público incentivará a fabricação de
veículos acessíveis e a sua utilização como táxis e
Art. 46 O direito ao transporte e à mobilidade da
pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzi- vans, de forma a garantir o seu uso por todas as
da será assegurado em igualdade de oportunidades pessoas.
com as demais pessoas, por meio de identificação Art. 51 As frotas de empresas de táxi devem reser-
e de eliminação de todos os obstáculos e barreiras var 10% (dez por cento) de seus veículos acessíveis
ao seu acesso. à pessoa com deficiência. (Vide Decreto nº 9.762, de
§ 1º Para fins de acessibilidade aos serviços de 2019) (Vigência)
transporte coletivo terrestre, aquaviário e aéreo, § 1º É proibida a cobrança diferenciada de tarifas
em todas as jurisdições, consideram-se como inte- ou de valores adicionais pelo serviço de táxi presta-
grantes desses serviços os veículos, os terminais, as do à pessoa com deficiência.
estações, os pontos de parada, o sistema viário e a § 2º O poder público é autorizado a instituir incenti-
prestação do serviço. vos fiscais com vistas a possibilitar a acessibilidade
§ 2º São sujeitas ao cumprimento das disposições dos veículos a que se refere o caput deste artigo.
desta Lei, sempre que houver interação com a Art. 52 As locadoras de veículos são obrigadas a
matéria nela regulada, a outorga, a concessão, a oferecer 1 (um) veículo adaptado para uso de pes-
permissão, a autorização, a renovação ou a habili- soa com deficiência, a cada conjunto de 20 (vinte)
tação de linhas e de serviços de transporte coletivo. veículos de sua frota. (Vide Decreto nº 9.762, de
§ 3º Para colocação do símbolo internacional de 2019) (Vigência)
acesso nos veículos, as empresas de transporte Parágrafo único. O veículo adaptado deverá ter, no
coletivo de passageiros dependem da certificação mínimo, câmbio automático, direção hidráulica,
de acessibilidade emitida pelo gestor público res- vidros elétricos e comandos manuais de freio e de
ponsável pela prestação do serviço. embreagem.
Art. 47 Em todas as áreas de estacionamento aber-
to ao público, de uso público ou privado de uso Da Acessibilidade
coletivo e em vias públicas, devem ser reservadas
vagas próximas aos acessos de circulação de pedes- O direito à acessibilidade encontra-se previsto
tres, devidamente sinalizadas, para veículos que nos arts. 53 ao 62. Seu objetivo é conceder igualdade
transportem pessoa com deficiência com compro- de condições e acesso, liberdade, autonomia e inde-
metimento de mobilidade, desde que devidamente pendência às pessoas com deficiência, competindo ao
identificados.
Poder Público amoldar e adaptar todas as suas esfe-
§ 1º As vagas a que se refere o caput deste arti-
ras com o objetivo de garantir tratamento igualitário
go devem equivaler a 2% (dois por cento) do total,
garantida, no mínimo, 1 (uma) vaga devidamente a todas as pessoas, de modo a eliminar as possíveis
sinalizada e com as especificações de desenho e tra- barreiras impostas a elas.
çado de acordo com as normas técnicas vigentes de
acessibilidade. Art. 53 A acessibilidade é direito que garante à pes-
§ 2º Os veículos estacionados nas vagas reservadas soa com deficiência ou com mobilidade reduzida
devem exibir, em local de ampla visibilidade, a cre- viver de forma independente e exercer seus direitos
dencial de beneficiário, a ser confeccionada e for- de cidadania e de participação social.
necida pelos órgãos de trânsito, que disciplinarão Art. 54 São sujeitas ao cumprimento das dispo-
suas características e condições de uso. sições desta Lei e de outras normas relativas à
§ 3º A utilização indevida das vagas de que trata acessibilidade, sempre que houver interação com a
este artigo sujeita os infratores às sanções previs- matéria nela regulada:
tas no inciso XX do art. 181 da Lei nº 9.503, de 23 de I - a aprovação de projeto arquitetônico e urbanís-
setembro de 1997 (Código de Trânsito Brasileiro). tico ou de comunicação e informação, a fabricação
§ 4º A credencial a que se refere o § 2º deste artigo é de veículos de transporte coletivo, a prestação do
vinculada à pessoa com deficiência que possui com- respectivo serviço e a execução de qualquer tipo
prometimento de mobilidade e é válida em todo o de obra, quando tenham destinação pública ou
território nacional. coletiva;
Art. 48 Os veículos de transporte coletivo terrestre, II - a outorga ou a renovação de concessão, per-
aquaviário e aéreo, as instalações, as estações, os missão, autorização ou habilitação de qualquer
portos e os terminais em operação no País devem natureza;
ser acessíveis, de forma a garantir o seu uso por III - a aprovação de financiamento de projeto
40 todas as pessoas. com utilização de recursos públicos, por meio de
renúncia ou de incentivo fiscal, contrato, convênio Art. 59 Em qualquer intervenção nas vias e nos
ou instrumento congênere; e espaços públicos, o poder público e as empresas
IV - a concessão de aval da União para obtenção de concessionárias responsáveis pela execução das
empréstimo e de financiamento internacionais por obras e dos serviços devem garantir, de forma segu-
entes públicos ou privados. ra, a fluidez do trânsito e a livre circulação e acessi-
Art. 55 A concepção e a implantação de projetos bilidade das pessoas, durante e após sua execução.
que tratem do meio físico, de transporte, de infor- Art. 60 Orientam-se, no que couber, pelas regras de
mação e comunicação, inclusive de sistemas e tec- acessibilidade previstas em legislação e em normas
nologias da informação e comunicação, e de outros técnicas, observado o disposto na Lei nº 10.098, de
serviços, equipamentos e instalações abertos ao 19 de dezembro de 2000, nº 10.257, de 10 de julho de
público, de uso público ou privado de uso coleti- 2001, e nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012:
vo, tanto na zona urbana como na rural, devem I - os planos diretores municipais, os planos dire-
atender aos princípios do desenho universal, tendo tores de transporte e trânsito, os planos de mobi-
como referência as normas de acessibilidade. lidade urbana e os planos de preservação de sítios
§ 1º O desenho universal será sempre tomado como históricos elaborados ou atualizados a partir da
regra de caráter geral. publicação desta Lei;
§ 2º Nas hipóteses em que comprovadamente o II - os códigos de obras, os códigos de postura, as
desenho universal não possa ser empreendido, deve leis de uso e ocupação do solo e as leis do sistema
ser adotada adaptação razoável. viário;
§ 3º Caberá ao poder público promover a inclu- III - os estudos prévios de impacto de vizinhança;
são de conteúdos temáticos referentes ao desenho IV - as atividades de fiscalização e a imposição de
universal nas diretrizes curriculares da educação sanções; e
profissional e tecnológica e do ensino superior e na V - a legislação referente à prevenção contra incên-
formação das carreiras de Estado. dio e pânico.
§ 4º Os programas, os projetos e as linhas de pes- § 1º A concessão e a renovação de alvará de fun-
quisa a serem desenvolvidos com o apoio de orga- cionamento para qualquer atividade são condicio-
nismos públicos de auxílio à pesquisa e de agências nadas à observação e à certificação das regras de
de fomento deverão incluir temas voltados para o acessibilidade.
desenho universal. § 2º A emissão de carta de habite-se ou de habilita-
§ 5º Desde a etapa de concepção, as políticas ção equivalente e sua renovação, quando esta tiver
públicas deverão considerar a adoção do desenho sido emitida anteriormente às exigências de acessi-
universal. bilidade, é condicionada à observação e à certifica-
Art. 56 A construção, a reforma, a ampliação ou a ção das regras de acessibilidade.
mudança de uso de edificações abertas ao público, Art. 61 A formulação, a implementação e a manu-
de uso público ou privadas de uso coletivo deverão tenção das ações de acessibilidade atenderão às
ser executadas de modo a serem acessíveis. seguintes premissas básicas:
§ 1º As entidades de fiscalização profissional das I - eleição de prioridades, elaboração de cronogra-
atividades de Engenharia, de Arquitetura e correla- ma e reserva de recursos para implementação das
tas, ao anotarem a responsabilidade técnica de pro- ações; e
jetos, devem exigir a responsabilidade profissional II - planejamento contínuo e articulado entre os
declarada de atendimento às regras de acessibili- setores envolvidos.
dade previstas em legislação e em normas técnicas Art. 62 É assegurado à pessoa com deficiência,
pertinentes. mediante solicitação, o recebimento de contas,
§ 2º Para a aprovação, o licenciamento ou a emis- boletos, recibos, extratos e cobranças de tributos
são de certificado de projeto executivo arquitetô- em formato acessível.
nico, urbanístico e de instalações e equipamentos
temporários ou permanentes e para o licenciamen- Do Acesso à Informação e à Comunicação
to ou a emissão de certificado de conclusão de obra
ou de serviço, deve ser atestado o atendimento às
O direito ao acesso à informação e à comunica-
regras de acessibilidade.
§ 3º O poder público, após certificar a acessibi- ção está disposto nos arts. 63 ao 73 da lei. Trata-se de
lidade de edificação ou de serviço, determinará a dispositivos cujo escopo é ampliar a ideia de acessibi-
colocação, em espaços ou em locais de ampla visi- lidade à informação, de maneira a contemplar qual-
bilidade, do símbolo internacional de acesso, na quer serviço ou produto.
forma prevista em legislação e em normas técnicas
correlatas. Art. 63 É obrigatória a acessibilidade nos sítios
Art. 57 As edificações públicas e privadas de uso da internet mantidos por empresas com sede ou
coletivo já existentes devem garantir acessibilidade representação comercial no País ou por órgãos
à pessoa com deficiência em todas as suas depen- de governo, para uso da pessoa com deficiência,
DIREITOS HUMANOS
dências e serviços, tendo como referência as nor- garantindo-lhe acesso às informações disponíveis,
mas de acessibilidade vigentes. conforme as melhores práticas e diretrizes de aces-
Art. 58 O projeto e a construção de edificação de sibilidade adotadas internacionalmente.
uso privado multifamiliar devem atender aos pre- § 1º Os sítios devem conter símbolo de acessibilida-
ceitos de acessibilidade, na forma regulamentar. de em destaque.
§ 1º As construtoras e incorporadoras responsáveis § 2º Telecentros comunitários que receberem recur-
pelo projeto e pela construção das edificações a que sos públicos federais para seu custeio ou sua insta-
se refere o caput deste artigo devem assegurar lação e lan houses devem possuir equipamentos e
percentual mínimo de suas unidades internamente instalações acessíveis.
acessíveis, na forma regulamentar. § 3º Os telecentros e as lan houses de que trata o
§ 2º É vedada a cobrança de valores adicionais para § 2º deste artigo devem garantir, no mínimo, 10%
a aquisição de unidades internamente acessíveis a (dez por cento) de seus computadores com recur-
que se refere o § 1º deste artigo. sos de acessibilidade para pessoa com deficiência 41
visual, sendo assegurado pelo menos 1 (um) equi- § 2º Os fornecedores devem disponibilizar, median-
pamento, quando o resultado percentual for infe- te solicitação, exemplares de bulas, prospectos,
rior a 1 (um). textos ou qualquer outro tipo de material de divul-
Art. 64 A acessibilidade nos sítios da internet de gação em formato acessível.
que trata o art. 63 desta Lei deve ser observada Art. 70 As instituições promotoras de congressos,
para obtenção do financiamento de que trata o inci- seminários, oficinas e demais eventos de natureza
so III do art. 54 desta Lei. científico-cultural devem oferecer à pessoa com
Art. 65 As empresas prestadoras de serviços de deficiência, no mínimo, os recursos de tecnologia
telecomunicações deverão garantir pleno acesso à assistiva previstos no art. 67 desta Lei.
pessoa com deficiência, conforme regulamentação Art. 71 Os congressos, os seminários, as oficinas
específica. e os demais eventos de natureza científico-cultu-
Art. 66 Cabe ao poder público incentivar a oferta ral promovidos ou financiados pelo poder público
de aparelhos de telefonia fixa e móvel celular com devem garantir as condições de acessibilidade e os
acessibilidade que, entre outras tecnologias assis- recursos de tecnologia assistiva.
Art. 72 Os programas, as linhas de pesquisa e os
tivas, possuam possibilidade de indicação e de
projetos a serem desenvolvidos com o apoio de
ampliação sonoras de todas as operações e funções
agências de financiamento e de órgãos e entidades
disponíveis.
integrantes da administração pública que atuem no
Art. 67 Os serviços de radiodifusão de sons e ima-
auxílio à pesquisa devem contemplar temas volta-
gens devem permitir o uso dos seguintes recursos,
dos à tecnologia assistiva.
entre outros:
Art. 73 Caberá ao poder público, diretamente ou
I - subtitulação por meio de legenda oculta; em parceria com organizações da sociedade civil,
II - janela com intérprete da Libras; promover a capacitação de tradutores e intérpre-
III - audiodescrição. tes da Libras, de guias intérpretes e de profissionais
Art. 68 O poder público deve adotar mecanis- habilitados em Braille, audiodescrição, estenotipia
mos de incentivo à produção, à edição, à difusão, e legendagem.
à distribuição e à comercialização de livros em
formatos acessíveis, inclusive em publicações da Da Tecnologia Assistiva
administração pública ou financiadas com recur-
sos públicos, com vistas a garantir à pessoa com
Os arts. 74 e 75 referem-se à tecnologia assistiva,
deficiência o direito de acesso à leitura, à informa-
conceituando-a como qualquer forma de apoio neces-
ção e à comunicação.
sário à promoção da autonomia e independência da
§ 1º Nos editais de compras de livros, inclusive
pessoa com deficiência. Cabe ao Poder Público a res-
para o abastecimento ou a atualização de acervos
de bibliotecas em todos os níveis e modalidades de
ponsabilidade de desenvolver um plano específico de
educação e de bibliotecas públicas, o poder público medidas, a ser renovado no período de quatro anos,
deverá adotar cláusulas de impedimento à partici- para facilitar a criação e promoção dessas tecnologias.
pação de editoras que não ofertem sua produção Além disso, tais procedimentos deverão ser avaliados,
também em formatos acessíveis. pelo menos, a cada dois anos.
§ 2º Consideram-se formatos acessíveis os arquivos
digitais que possam ser reconhecidos e acessados Art. 74 É garantido à pessoa com deficiência acesso
por softwares leitores de telas ou outras tecnolo- a produtos, recursos, estratégias, práticas, proces-
gias assistivas que vierem a substituí-los, permi- sos, métodos e serviços de tecnologia assistiva que
tindo leitura com voz sintetizada, ampliação de maximizem sua autonomia, mobilidade pessoal e
caracteres, diferentes contrastes e impressão em qualidade de vida.
Art. 75 O poder público desenvolverá plano especí-
Braille.
fico de medidas, a ser renovado em cada período de
§ 3º O poder público deve estimular e apoiar a
4 (quatro) anos, com a finalidade de: (Regulamento)
adaptação e a produção de artigos científicos em
I - facilitar o acesso a crédito especializado, inclu-
formato acessível, inclusive em Libras.
sive com oferta de linhas de crédito subsidiadas,
Art. 69 O poder público deve assegurar a disponi-
específicas para aquisição de tecnologia assistiva;
bilidade de informações corretas e claras sobre os
II - agilizar, simplificar e priorizar procedimentos
diferentes produtos e serviços ofertados, por quais- de importação de tecnologia assistiva, especial-
quer meios de comunicação empregados, inclusi- mente as questões atinentes a procedimentos alfan-
ve em ambiente virtual, contendo a especificação degários e sanitários;
correta de quantidade, qualidade, características, III - criar mecanismos de fomento à pesquisa e à
composição e preço, bem como sobre os eventuais produção nacional de tecnologia assistiva, inclusi-
riscos à saúde e à segurança do consumidor com ve por meio de concessão de linhas de crédito sub-
deficiência, em caso de sua utilização, aplicando-se, sidiado e de parcerias com institutos de pesquisa
no que couber, os arts. 30 a 41 da Lei nº 8.078, de 11 oficiais;
de setembro de 1990. IV - eliminar ou reduzir a tributação da cadeia pro-
§ 1º Os canais de comercialização virtual e os anún- dutiva e de importação de tecnologia assistiva;
cios publicitários veiculados na imprensa escrita, V - facilitar e agilizar o processo de inclusão de
na internet, no rádio, na televisão e nos demais novos recursos de tecnologia assistiva no rol de
veículos de comunicação abertos ou por assinatura produtos distribuídos no âmbito do SUS e por
devem disponibilizar, conforme a compatibilidade outros órgãos governamentais.
do meio, os recursos de acessibilidade de que trata Parágrafo único. Para fazer cumprir o disposto
o art. 67 desta Lei, a expensas do fornecedor do pro- neste artigo, os procedimentos constantes do plano
duto ou do serviço, sem prejuízo da observância do específico de medidas deverão ser avaliados, pelo
disposto nos arts. 36 a 38 da Lei nº 8.078, de 11 de menos, a cada 2 (dois) anos.
setembro de 1990.
42
Do Direito à Participação na vida Pública e Política Quanto ao reconhecimento igualitário perante a
lei, é reflexo do que já encontra disciplinado na Cons-
O direito à participação na vida pública e políti- tituição Federal. Por conseguinte, a Lei nº 13.146, de
ca, previsto no art. 76, guarda relação com o exercício 2015, visa garantir à pessoa com deficiência o pleno
da cidadania das pessoas com deficiência. A elas são exercício de suas capacidades.
garantidos os direitos inerentes a sua capacidade elei-
toral ativa e passiva. Para a promoção de tais medidas CRIMES E INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS
de acessibilidade, a competência cabe aos Tribunais
Regionais Eleitorais. Os crimes e as infrações administrativas estão
dispostos nos art. 88 a 91. Dos crimes elencados, ape-
Art. 76 O poder público deve garantir à pessoa com nas o do art. 91 tem, como pena, a detenção. Todos os
deficiência todos os direitos políticos e a oportuni- demais apresentam pena de reclusão.
dade de exercê-los em igualdade de condições com
as demais pessoas. z Detenção e reclusão são modalidades de penas
§ 1º À pessoa com deficiência será assegurado o
privativas de liberdade;
direito de votar e de ser votada, inclusive por meio
z Pena de reclusão é aplicada a condenações mais
das seguintes ações:
I - garantia de que os procedimentos, as instala- severas, por ser a única a admitir o regime inicial
ções, os materiais e os equipamentos para votação de cumprimento fechado. Essa modalidade admite
sejam apropriados, acessíveis a todas as pessoas e os três regimes de cumprimento:
de fácil compreensão e uso, sendo vedada a insta-
lação de seções eleitorais exclusivas para a pessoa fechado;
com deficiência; semiaberto;
II - incentivo à pessoa com deficiência a candida- aberto.
tar-se e a desempenhar quaisquer funções públicas
em todos os níveis de governo, inclusive por meio z Pena de detenção é aplicada a condenações mais
do uso de novas tecnologias assistivas, quando leves, uma vez que o regime inicial de cumprimen-
apropriado; to será o semiaberto. A detenção admite os regi-
III - garantia de que os pronunciamentos oficiais,
mes de cumprimento semiaberto e aberto, não
a propaganda eleitoral obrigatória e os debates
admitindo o fechado.
transmitidos pelas emissoras de televisão pos-
suam, pelo menos, os recursos elencados no art. 67
desta Lei; Vamos ao estudo dos crimes:
IV - garantia do livre exercício do direito ao voto e,
para tanto, sempre que necessário e a seu pedido, Art. 88 Praticar, induzir ou incitar discrimina-
permissão para que a pessoa com deficiência seja ção de pessoa em razão de sua deficiência:
auxiliada na votação por pessoa de sua escolha. Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
§ 2º O poder público promoverá a participação da
pessoa com deficiência, inclusive quando institucio- O crime do art. 88 pode ser praticado de três
nalizada, na condução das questões públicas, sem modos:
discriminação e em igualdade de oportunidades,
observado o seguinte: z Participação direta do agente na conduta deli-
I - participação em organizações não governa- tuosa: aqui, o agente age de modo a discriminar a
mentais relacionadas à vida pública e à política do pessoa em razão de sua deficiência. A conduta está
País e em atividades e administração de partidos
no verbo praticar;
políticos;
z Participação indireta do agente na conduta deli-
II - formação de organizações para representar a
pessoa com deficiência em todos os níveis; tuosa ao criar “na cabeça de outra pessoa” a ideia
III - participação da pessoa com deficiência em de que ela pratique a discriminação: aqui, temos
organizações que a representem. dois agentes, um que desperta a atenção de outro
para a prática do crime e outro que, efetivamente,
Da Ciência e Tecnologia pratica o crime. A conduta está no verbo induzir;
z Participação indireta do agente na conduta
Por último, também é estabelecido, na Lei nº delituosa ao reforçar ou encorajar uma pes-
13.146, de 2015, o direito à ciência e tecnologia. Ele soa a praticar a discriminação: diferentemente
está previsto nos arts. 77 e 78 e tem, como escopo, esti- da conduta de induzir, aqui, a pessoa instigada já
mular a criação de cursos de pós-graduação na área tinha a intenção de discriminar, havendo apenas
de tecnologia assistiva, bem como o desenvolvimen- um reforço/encorajamento. Temos, também, dois
DIREITOS HUMANOS
to de outras ações com o objetivo de formar recursos agentes, um que reforça e outro que pratica. A con-
humanos qualificados e estruturar as diretrizes dessa duta está no verbo instigar.
área de conhecimento.
A partir do art. 78, inicia-se a parte especial. Nela, Direta: praticar
Art. 88 — Condutas
Art. 3º É obrigação da família, da comunidade, Art. 4º Nenhuma pessoa idosa será objeto de qual-
da sociedade e do poder público assegurar à pes- quer tipo de negligência, discriminação, violência,
soa idosa, com absoluta prioridade, a efetivação crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus
do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educa- direitos, por ação ou omissão, será punido na for-
46 ção, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à ma da lei.
§ 1º É dever de todos prevenir a ameaça ou violação Conforme o § 1º, do art. 10, o direito de liberdade
aos direitos da pessoa idosa. compreende os seguintes aspectos:
§ 2º As obrigações previstas nesta Lei não excluem
da prevenção outras decorrentes dos princípios por I - faculdade de ir, vir e estar nos logradouros públi-
ela adotados. cos e espaços comunitários, ressalvadas as restri-
Art. 5º A inobservância das normas de prevenção ções legais;
importará em responsabilidade à pessoa física ou II - opinião e expressão;
jurídica nos termos da lei. III - crença e culto religioso;
IV - prática de esportes e de diversões;
O art. 6º, por sua vez, apresenta o instituto da V - participação na vida familiar e comunitária;
delatio criminis (comunicação do crime), que se refe- VI - participação na vida política, na forma da lei;
re à possibilidade de todos os indivíduos levarem ao VII - faculdade de buscar refúgio, auxílio e orientação.
conhecimento das autoridades públicas qualquer for-
ma de violação ao Estatuto. O direito ao respeito, de acordo com o § 2º, do
art. 10, versa sobre a inviolabilidade da integridade
Art. 6º Todo cidadão tem o dever de comunicar à física, psíquica e moral do idoso. Para tanto, considera
autoridade competente qualquer forma de violação a preservação de sua imagem, identidade, autonomia,
a esta Lei que tenha testemunhado ou de que tenha valores, ideias, crenças, espaços e objetos pessoais.
conhecimento. Nos arts. 11 ao 14, estão disciplinados os direitos
aos alimentos. Estes dispositivos asseguram, aos idosos,
O art. 7º, no que lhe diz respeito, refere-se à Lei a concessão de alimentos em casos de necessidade, na
nº 8.842, de 1994, que trata sobre a Política Nacional forma estabelecida pelo Código Civil. Trata-se de uma
do Idoso, afirmando que a responsabilidade de zelar obrigação solidária, podendo a pessoa idosa optar entre
pelo cumprimento dos seus direitos cabe aos Conse- os prestadores. Nos casos em que os familiares não pos-
lhos Nacionais, Estaduais, Distritais e Municipais da suem condições econômicas de prover seu sustento, o
pessoa idosa. provimento compete ao Poder (âmbito da Assistência
Social). Vejamos os dispositivos na íntegra:
Art. 7º Os Conselhos Nacional, Estaduais, do Distri-
to Federal e Municipais da Pessoa Idosa, previstos Art. 11 Os alimentos serão prestados à pessoa ido-
na Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994, zelarão pelo sa na forma da lei civil.
cumprimento dos direitos da pessoa idosa, defini- Art. 12 A obrigação alimentar é solidária, podendo
dos nesta Lei. a pessoa idosa optar entre os prestadores.
Art. 13 As transações relativas a alimentos pode-
rão ser celebradas perante o Promotor de Justiça
Com relação aos Direitos Fundamentais, estes
ou Defensor Público, que as referendará, e passarão
se encontram elencados nos arts. 8º ao 42, do Estatu- a ter efeito de título executivo extrajudicial nos ter-
to, de modo a estabelecer as diretrizes a respeito dos mos da lei processual civil.
direitos à vida, à liberdade, ao respeito, à dignida- Art. 14 Se a pessoa idosa ou seus familiares não
de, aos alimentos, à saúde, à educação, cultura, ao possuírem condições econômicas de prover o seu
esporte e lazer, à profissionalização e ao trabalho, sustento, impõe-se ao poder público esse provimen-
à previdência social, à assistência social, à habita- to, no âmbito da assistência social.
ção e ao transporte.
O direito à vida encontra-se previsto nos arts. 8º e O direito à saúde está previsto nos arts. 15 ao 19,
9º. Trata-se do direito de maior importância, pois, sem do Estatuto. Trata-se de um direito universal, pois é
este, não há possibilidade de existência dos demais. garantido a todos os indivíduos, na Constituição Fede-
Como a vida é inviolável, envelhecer de forma digna ral, como um direito social. Aos idosos, o direito à saú-
é uma consequência e um direito personalíssimo, cuja de é assegurado por meio do Sistema Único de Saúde
proteção é um direito social. Além disso, é dever do (SUS). Vejamos os termos da lei:
Estado garantir aos idosos a proteção não só à vida,
mas, também, à saúde, por meio de efetivações de Art. 15 É assegurada a atenção integral à saúde
políticas sociais públicas que permitam o envelheci- da pessoa idosa, por intermédio do Sistema Único
mento saudável e em condições dignas. de Saúde (SUS), garantindo-lhe o acesso universal
Os direitos à liberdade, ao respeito e à dignida- e igualitário, em conjunto articulado e contínuo
das ações e serviços, para a prevenção, promoção,
de estão disciplinados no art. 10, do Estatuto, respon-
proteção e recuperação da saúde, incluindo a aten-
sável por estabelecer, como obrigação do Estado e da
ção especial às doenças que afetam preferencial-
sociedade, a garantia de que estes sejam efetivados. mente as pessoas idosas. (Redação dada pela Lei nº
DIREITOS HUMANOS
Além disso, o mesmo dispositivo assegura, aos ido- VIOLÊNCIA CONTRA O IDOSO
sos enfermos, o atendimento domiciliar pelas seguin-
Suspeita ou
tes instituições: Notificar Comunicar
confirmação
z perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Autoridade
Social (INSS); policial
z serviço público de saúde; ou Ministério
z serviço privado de saúde, contratado ou convenia- Público
do, para expedição do laudo de saúde necessário Conselho Muni-
ao exercício de seus direitos sociais e de isenção Serviços de cipal da Pessoa
Autoridade
tributária (§ 6º, art. 15). saúde públicos Idosa
sanitária
e privados Conselho Esta-
Outrossim, os maiores de oitenta anos têm direi- dual da Pessoa
to a atendimento preferencial, salvo nos casos de Idosa
emergência (§ 7º, art. 15). Conselho Nacio-
O Estatuto assegura, também, ao idoso internado, nal da Pessoa
o direito a acompanhante, devendo o órgão de saúde Idosa
disponibilizar as condições adequadas a sua perma-
nência em tempo integral (art. 16). O §1º, do art. 19, determina o que é considerado
Nesse ponto, são estabelecidas algumas vedações, violência contra pessoa idosa. Vejamos:
tais como:
§ 1º Para os efeitos desta Lei, considera-se violência
z a discriminação dos idosos nos planos de saúde contra a pessoa idosa qualquer ação ou omissão
(cobrança de valores diferenciados em razão da idade); praticada em local público ou privado que lhe cau-
z a exigência de o idoso enfermo comparecer peran- se morte, dano ou sofrimento físico ou psicológico.
te os órgãos públicos etc. (§§ 3º e 5º, art. 15).
Os arts. 20 a 25 disciplinam o direito à educação,
Ainda, a pessoa idosa tem o direito de optar pelo cultura, esporte e lazer, de modo que sejam respei-
tratamento de saúde que considerar mais favorável, tadas as peculiaridades e condições de idade de cada
nos termos: indivíduo. Para tanto, cabe ao Poder Público criar
as oportunidades de acesso, adequando currículos,
Art. 17 À pessoa idosa que esteja no domínio de metodologias e material didático aos programas edu-
suas faculdades mentais é assegurado o direito de cacionais destinados aos idosos (art. 21).
optar pelo tratamento de saúde que lhe for reputa- Para que a participação dos idosos nas atividades
do mais favorável. culturais e de lazer ocorra adequadamente, o Estatuto
estabelece descontos de, pelo menos, 50% (cinquenta
De acordo com o parágrafo único, do art. 17, quan- por cento) ‘’nos ingressos para eventos artísticos, cul-
do o idoso não puder optar pelo tratamento que lhe turais, esportivos e de lazer, bem como o acesso prefe-
for mais favorável, isso será feito: rencial aos respectivos locais’’ (art. 23).
O direito à profissionalização e ao trabalho
I - pelo curador, quando o idoso for interditado; encontra-se previsto nos arts. 26 a 28 do Estatuto. Este
II - pelos familiares, quando o idoso não tiver se trata do direito ao exercício de atividade profissio-
curador ou este não puder ser contactado em tem- nal, em respeito às condições físicas, intelectuais e psí-
po hábil; quicas do indivíduo, de modo a vedar a discriminação
III - pelo médico, quando ocorrer iminente risco e, também, a fixação de um limite de idade ‘‘inclusive
de vida e não houver tempo hábil para consulta a para concursos públicos, ressalvados os casos em que
48 curador ou familiar; a natureza do cargo o exigir (art. 27)’’. Ressalta-se,
inclusive, que o primeiro critério de desempate em § 2º Nos veículos de transporte coletivo de que trata
concurso público é o critério etário, ‘’dando-se prefe- este artigo, serão reservados 10% (dez por cento)
rência ao de idade mais elevada’’ (§ único, art. 27). dos assentos para as pessoas idosas, devidamente
Os arts. 29 a 32, por sua vez, disciplinam o direi- identificados com a placa de reservado preferen-
to à Previdência Social, de maneira que, para a con- cialmente para pessoas idosas.
cessão dos benefícios de aposentadoria e pensão do § 3º No caso das pessoas compreendidas na faixa etá-
Regime Geral da Previdência Social, deve-se observar ria entre 60 (sessenta) e 65 (sessenta e cinco) anos,
ficará a critério da legislação local dispor sobre as
os ‘’critérios de cálculo que preservem o valor real dos
condições para exercício da gratuidade nos meios de
salários sobre os quais incidiram contribuição’’, garan-
transporte previstos no caput deste artigo.
tindo-lhes o devido reajuste (art. 29 e § único).
O direito à Assistência Social, assim como o
No caso de transporte coletivo interestadual, este
direito à Previdência Social, integra o subsistema
deve estabelecer (nos termos da legislação específica)
da Seguridade Social e faz parte do rol dos direitos
a reserva de 2 vagas gratuitas por veículo para idosos
sociais previstos no art. 6º, da Constituição Federal.
com renda igual ou inferior a 2 salários mínimos. Ade-
No Estatuto, este se encontra previsto nos arts. 33 a
mais, deve-se garantir, também, desconto de 50%, no
36, garantindo o direito dos idosos que não possuam
mínimo, no valor das passagens para as pessoas idosas
meios para prover sua subsistência (diretamente ou
que excederem as vagas gratuitas com renda igual ou
por familiar), a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, ao
inferior a 2 salários mínimos, nos termos do art. 40.
benefício mensal de 1 (um) salário mínimo (benefício
O art. 41, do Estatuto, também assegura, ao ido-
de prestação continuada, estabelecido na Lei Orgâni-
so, a reserva de 5% das vagas nos estacionamentos
ca da Assistência Social, BPC/LOAS).
públicos e privados, posicionadas de forma a garan-
Os arts. 37 e 38 tratam do direito à habitação, ou
tir melhor comodidade à pessoa idosa, nos termos de
seja, à moradia digna em família, natural ou substi-
legislação local, além de prioridade à segurança nos
tuta, desacompanhado (quando a pessoa idosa assim
procedimentos de embarque e desembarque nos veí-
desejar) ou, ainda, em instituição pública ou privada.
culos do sistema de transporte coletivo.
Além disso, de acordo com os mesmos dispositi-
Para ajudar na assimilação do tema, organizamos
vos, a pessoa idosa goza de prioridade na aquisição de
essa parte do conteúdo em tópicos:
moradia própria nos programas habitacionais (públi-
cos ou subsidiados com recursos públicos). Vejamos:
z Maior que 65 anos:
Art. 38 Nos programas habitacionais, públicos ou
subsidiados com recursos públicos, a pessoa idosa Gratuidade dos transportes coletivos públicos
goza de prioridade na aquisição de imóvel para urbanos e semiurbanos;
moradia própria, observado o seguinte: Reserva de 10% dos assentos nos transportes
I - reserva de pelo menos 3% (três por cento) das coletivos.
unidades habitacionais residenciais para atendi-
mento às pessoas idosas; z Entre 60 e 65 anos:
II – implantação de equipamentos urbanos comuni-
tários voltados à pessoa idosa; Legislação local disporá sobre as condições
III – eliminação de barreiras arquitetônicas e urba- para exercício da gratuidade nos meios de
nísticas, para garantia de acessibilidade à pessoa transporte.
idosa;
IV - critérios de financiamento compatíveis com os
z Estacionamentos públicos e privados:
rendimentos de aposentadoria e pensão.
Reserva de 5% (cinco por cento) das vagas, as
Por fim, os arts. 39 e 42 tratam do direito ao trans-
quais deverão ser posicionadas de forma a
porte. O Estatuto assegura a gratuidade dos trans-
garantir a melhor comodidade ao idoso.
portes coletivos públicos urbanos e semiurbanos,
exceto nos serviços seletivos e especiais prestados
z Transporte coletivo interestadual:
paralelamente aos serviços regulares aos maiores de
65 anos. Para o acesso, de acordo com os dispositivos,
Legislação local disporá sobre as condições para
basta apresentar qualquer documento pessoal que
exercício da gratuidade nos meios de transporte;
faça prova de sua idade. Vejamos:
Desconto de 50%, no mínimo, no valor das pas-
Art. 39 Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos
sagens para os idosos que excederem as vagas
fica assegurada a gratuidade dos transportes cole- gratuitas, com renda igual ou inferior a 2 (dois)
tivos públicos urbanos e semi-urbanos, exceto nos salários mínimos.
DIREITOS HUMANOS
INFRAÇÕES Importante!
ADMINISTRATIVAS
Se a entidade descumprir as determinações
Art. 56 Art. 57 Art. 58 que constam no art. 50, ficará sujeita à pena
de multa. Se o fato constituir em crime, pode
Art. 56 Deixar a entidade de atendimento de cum-
haver, ainda, a interdição do estabelecimento
prir as determinações do art. 50 desta Lei: até que sejam cumpridas as exigências legais.
Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ Nesse caso, os idosos serão transferidos para
3.000,00 (três mil reais), se o fato não for caracte- outra instituição (os custos serão arcados
50 rizado como crime, podendo haver a interdição do pelo estabelecimento interditado).
A segunda infração encontra-se determinada no art. 57 e refere-se ao fato de o profissional de saúde (ou o
responsável por estabelecimento de saúde ou instituição de longa permanência) ter deixado de comunicar, à
autoridade competente, os casos conhecidos de crimes contra idoso. Trata-se de uma infração com pena de multa,
aplicada em dobro no caso de reincidência. Vejamos:
Art. 57 Deixar o profissional de saúde ou o responsável por estabelecimento de saúde ou instituição de longa per-
manência de comunicar à autoridade competente os casos de crimes contra pessoa idosa de que tiver conhecimento:
Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais), aplicada em dobro no caso de reincidência.
O art. 58, do Estatuto, traz a terceira e última infração, que ocorre quando se deixa de cumprir as determina-
ções do Estatuto sobre a prioridade no atendimento ao idoso. Esta infração é punida com pena de multa e multa
civil a ser estipulada pelo juiz, conforme o dano sofrido pelo idoso. Nos termos:
Art. 58 Deixar de cumprir as determinações desta Lei sobre a prioridade no atendimento à pessoa idosa:
Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 1.000,00 (mil reais) e multa civil a ser estipulada pelo juiz, conforme o
dano sofrido pela pessoa idosa.
As regras atinentes à apuração administrativa de infração às normas de proteção ao idoso estão discipli-
nadas nos arts. 59 a 63, do Estatuto. Nesta parte, são estabelecidas atualizações monetárias anuais dos valores
das multas e o procedimento para a imposição de penalidade administrativa por infração às normas de proteção
ao idoso, tendo início com requisição do Ministério Público ou auto de infração, elaborado por servidor efetivo e
assinado por duas testemunhas (se possível) (art. 60).
O procedimento de apuração tem início com o auto de infração, que deverá ser lavrado dentro de 24 horas da
verificação da infração, salvo motivo justificado. Após a lavratura do auto, o autuado terá prazo de 10 dias, conta-
do da data da intimação, para a apresentação da defesa. De acordo com o art. 64, para a sua apuração, aplicam-se,
subsidiariamente, as disposições das Leis nº 6.437, de 1977, e nº 9.784, de 1999.
Vejamos o fluxograma abaixo.
Por fim, o procedimento de apuração judicial da irregularidade, quer em entidade governamental, quer em
entidade não governamental de atendimento ao idoso, iniciará mediante petição fundamentada de pessoa inte-
ressada ou iniciativa do Ministério Público (art. 65). É cabível a liminar para afastamento provisório do dirigente
da entidade ou outras medidas julgadas adequadas para evitar lesão aos direitos do idoso, mediante decisão fun-
damentada depois de ouvido o Ministério Público (art. 66).
O dirigente da entidade deverá ser citado para oferecer resposta escrita no prazo de 10 dias, podendo, inclu-
sive, juntar documentos e indicar as provas a produzir (art. 67). Após a apresentação da defesa, o juiz designará
audiência de instrução e julgamento e deliberará sobre a necessidade de produção de outras provas (art. 68). As
alegações finais deverão ser prestadas pelas partes e pelo Ministério Público em 5 dias, salvo manifestação em
audiência. Caso ocorra o afastamento provisório ou definitivo de dirigente de entidade governamental, o juiz
oficiará a autoridade administrativa imediatamente superior ao afastado, dando-lhe prazo de 24 horas para pro-
ceder à substituição (§§ 1º e 2º, art. 68).
No que se refere à parte atinente ao Acesso à Justiça, o Estatuto estabelece que se aplique, subsidia-
riamente, o procedimento sumário, previsto no Código de Processo Civil, naquilo que não contrarie os prazos
previstos no Estatuto (art. 69). A Lei assegura, ainda, prioridade na tramitação dos processos e procedimentos e
na execução dos atos e diligências judiciais em que figure, como parte ou interveniente, pessoa com idade igual
ou superior a 60 anos, em qualquer instância (art. 71). Caso o idoso possua mais de oitenta anos, a ele será dada
prioridade especial (§ 5º, art. 71).
DIREITOS HUMANOS
Dica
A prioridade de tramitação não encerra com a morte do idoso, estendendo-se em favor do cônjuge ou companhei-
ro(a) maior de 60 anos.
CRIMES
O Estatuto disciplina os crimes contra os idosos nos arts. 96 a 108. Antes, porém, estabelece três regras impor-
tantes de interpretação, explicitadas na tabela abaixo:
51
ART. 93 ART. 94 ART. 95
Embora o Estatuto da Pessoa Idosa estabeleça o rito sumaríssimo do juizado aos crimes cuja pena máxima
privativa de liberdade não exceda 4 anos, a transação penal, medida despenalizadora, só é cabível aos crimes de
menor potencial ofensivo, ou seja, cuja pena máxima não ultrapasse 2 anos.
Lembre-se: entende-se por transação penal o acordo realizado entre o acusado (autor do fato) e o Ministério Públi-
co por meio do qual o último submete o primeiro ao cumprimento de determinada medida alternativa com o objetivo
de evitar a instauração de um processo, sem, contudo, ocorrer a admissão de culpa.
Os arts. 181 e 182, do Código Penal, tratam de hipóteses de imunidade absoluta (art. 181) e relativa (art. 182).
Vejamos:
Código Penal
Art. 181 É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.
Art. 182 Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido em prejuízo:
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
De acordo com o art. 95, do Estatuto, qualquer crime praticado contra o idoso (de caráter patrimonial ou não,
com ou sem violência ou grave ameaça) é de ação pública incondicionada.
À vista disso, salienta-se, por necessário, que o próprio art. 183, do Código Penal, já trazia a previsão do art. 95,
do Estatuto, de forma expressa, ou seja, vedava a aplicação da imunidade trazida pelos arts. 181 e 182, do Código
Penal, quando o ‘’crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos’’.
Voltando ao Estatuto da Pessoa Idosa, vamos, agora, ao estudo dos crimes em espécie:
Art. 96 Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias, aos meios de
transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao exercício da cidadania,
por motivo de idade:
Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
Um ponto importante, nesse dispositivo, diz respeito ao conceito de discriminar. No Estatuto, entende-se
como discriminação toda distinção, exclusão ou restrição baseada na idade da vítima do delito. No caso do art.
96, acima exposto, o agente (autor do fato) cria empecilhos (dificulta ou impede) seu acesso a operações bancárias,
aos meios de transporte, ao direito de contratar ou ao exercício de sua cidadania.
Cumpre esclarecer que a expressão “meios de transporte”, trazida pelo Estatuto, é bem ampla, uma vez que
envolve todos os meios de transporte aéreos, terrestres, marítimos, sejam eles individuais ou coletivos, públicos
ou privados. A definição do “direito de contratar”, por sua vez, refere-se à faculdade legal de celebração dos negó-
cios jurídicos. A expressão “exercício da cidadania”, por último, guarda relação com tudo aquilo ligado ao status
de indivíduo, ou seja, ao pleno gozo dos direitos políticos e civis.
O crime tipificado no art. 96, do Estatuto, é um crime comum, isto é, que pode ser praticado por qualquer
pessoa, não exigindo qualidade especial do autor do delito. Porém, exige-se que a prática do crime seja motivada
pela idade (dolo em razão da idade).
§ 1º Na mesma pena incorre quem desdenhar, humilhar, menosprezar ou discriminar pessoa idosa, por qualquer
motivo.
O parágrafo primeiro apresenta uma conduta equiparada à discriminação. Trata-se do tratamento de desdém,
menosprezo ou humilhação contra a pessoa idosa por quaisquer outros motivos que não os disciplinados no caput
(quais sejam: acesso a operações bancárias, aos meios de transporte, ao direito de contratar ou ao exercício de
sua cidadania).
§ 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se a vítima se encontrar sob os cuidados ou responsabilidade do
agente.
O parágrafo segundo afirma que, nos casos em que o agente de uma das condutas elencadas for o responsável
(legal ou não) pelo idoso que sofreu a discriminação, a pena será aumentada. Portanto, o aumento de 1/3 da pena
52 decorre da proximidade e do dever de cuidado para com a pessoa idosa. São considerados responsáveis:
z filhos; z A segunda forma ocorre quando o agente recusa,
z netos; retarda ou dificulta, sem justa causa, a assistên-
z curadores; cia à saúde do idoso, sem que exista qualquer tipo
z cuidadores; de impedimento;
z entre outros. z A terceira forma de incriminação é a conduta de
não pedir socorro à autoridade pública.
Dica
Atenção: o fato de o agente não prestar assistência
Embora a conduta do parágrafo segundo seja
ao idoso devido ao risco a sua integridade não o exi-
mais reprovável do que as anteriores, a esta me de pedir socorro a uma autoridade competente.
também são aplicadas as medidas despenaliza- Cabe mencionar que, considerando a pena máxima
doras da Lei nº 9.099, de 1995, uma vez que se cabível, trata-se de uma infração de menor potencial
trata de uma infração de menor potencial ofensi- ofensivo e, portanto, sujeita às medidas despenaliza-
vo (pena máxima inferior a dois anos). doras da Lei nº 9.099, de 1995.
É de suma importância ressaltar as recentes alterações Parágrafo único. A pena é aumentada de metade,
realizadas, no Estatuto, pela Lei nº 14.181, de 2021, se da omissão resulta lesão corporal de natureza
conhecida por Lei do Superendividamento. Esta lei grave, e triplicada, se resulta a morte.
alterou dispositivos do Estatuto da Pessoa Idosa (Lei
nº 10.741, de 2003) e do Código de Defesa do Consu- O parágrafo único traz uma hipótese de causa de
midor (Lei nº 8.078, de 1990), objetivando melhor aumento de pena devido ao resultado. No caso de a
disciplinar a sistemática de crédito ao consumidor e, omissão resultar lesão corporal grave, a pena será
também, dispor sobre a prevenção e o tratamento do aumentada de metade. Caso resulte em morte, ela
superendividamento.
será triplicada.
Veja o que dispõe o § 3º, do art. 96, do Estatuto:
Observe o que os parágrafos 1º e 2º, do art. 129, do
Código Penal, dispõem sobre a lesão corporal de natu-
§ 3º Não constitui crime a negativa de crédito
reza grave (sentido amplo):
motivada por superendividamento da pessoa idosa.
O caput, do art. 96, do Estatuto da Pessoa Idosa, prevê, z Lesão corporal grave em sentido estrito:
como crime, entre outras condutas, impedir ou dificultar
Art. 129 […]
o acesso da pessoa idosa a operações bancárias (como,
§ 1º Se resulta:
por exemplo, negar um empréstimo a uma pessoa pelo
I - incapacidade para as ocupações habituais, por
simples fato dela estar com 60 anos ou mais).
mais de trinta dias;
Antes da alteração, muitas instituições financeiras
II - perigo de vida;
acabavam por conceder empréstimos para idosos já
III - debilidade permanente de membro, sentido ou
endividados e sem capacidade financeira suficiente,
função;
com receio de serem penalizadas por negar o crédito.
IV - aceleração de parto:
A inclusão do § 3º traz segurança para que as insti-
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
tuições financeiras neguem crédito a fim de evitar o
superendividamento do idoso.
z Lesão corporal gravíssima:
Os arts. 97, 98 e 99, do Estatuto, tratam, em síntese,
da proteção à saúde física e psíquica do idoso. A estes,
§ 2º Se resulta:
portanto, compete disciplinar as formas de violência
I - incapacidade permanente para o trabalho;
que atentem contra a saúde do idoso, ou seja, aquelas
II - enfermidade incurável;
que, por ação ou omissão, lhe cause morte, dano ou III perda ou inutilização do membro, sentido ou
sofrimento físico /psicológico. função;
IV - deformidade permanente;
Art. 97 Deixar de prestar assistência à pessoa V - aborto:
idosa, quando possível fazê-lo sem risco pessoal,
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
em situação de iminente perigo, ou recusar, retar-
dar ou dificultar sua assistência à saúde, sem jus-
De volta aos artigos do Estatuto, observe o art. 98:
ta causa, ou não pedir, nesses casos, o socorro de
autoridade pública:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e Art. 98 Abandonar a pessoa idosa em hospitais,
DIREITOS HUMANOS
1 Devido à pena da infração penal, ao oferecer a denúncia, poderá o Ministério Público propor a suspensão do processo por até 4 (quatro) anos,
no caso de o acusado não possuir outro processo criminal ou de não ter sido condenado por outros crimes, propondo o cumprimento de determi-
54 nadas condições em troca do benefício.
Pena – detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e multa. A preocupação em se estabelecer um conceito aos
direitos humanos decorreu do período pós 2ª Guerra
O crime do art. 105 atinge a honra do idoso, inde- Mundial. Tal evento, de total relevância para a histó-
pendentemente de este se sentir ofendido ou violado. ria mundial, encerrou-se em setembro de 1945.
Trata-se de crime comum ao qual, devido à pena míni- Em decorrência desse fato histórico, em 24 de
ma, caberá suspensão condicional do processo. outubro de 1945 foi criada a Organização das Nações
Unidas (ONU) por meio da Carta da ONU. A ONU se
Art. 106 Induzir pessoa idosa sem discernimen- estruturou a partir da união de países de diferentes
to de seus atos a outorgar procuração para fins de
continentes que tinham um único objetivo: a promo-
administração de bens ou deles dispor livremente:
ção da paz em todo o mundo e a proteção dos estados,
Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
de forma que pudessem se reestruturar no pós-guerra.
O crime do art. 106, do Estatuto, exige um especial O ano de 1948 é um marco histórico para a defe-
fim de agir, ou seja, o agente tem a finalidade adminis- sa dos direitos humanos, tendo em vista ter havido
trar ou dispor livremente dos bens do idoso. a proclamação da Declaração Universal dos Direitos
Humanos.
Art. 107 Coagir, de qualquer modo, a pessoa Então, tenha em mente que os dois importantes
idosa a doar, contratar, testar ou outorgar momentos para os direitos humanos foram a Carta da
procuração: ONU e a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Pena – reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. Vale esclarecer, ainda, que não se pode dizer que
os direitos humanos surgiram a partir da definição de
O art. 107 tipifica a conduta de coação em que a um conceito. Isto porque é possível defender que se
vítima é pessoa idosa e o agente a coage a doar, con- tratam de direitos inerentes à condição humana, ou
tratar, testar ou outorgar procuração. Trata-se de cri- seja, segundo a doutrina são direitos naturais.
me comum. No entanto, seu reconhecimento decorre, de fato,
da positivação, que se refere ao momento em que um
Art. 108 Lavrar ato notarial que envolva pessoa
direito é reconhecido, sendo escrito por meio de uma
idosa sem discernimento de seus atos, sem a
lei que tramita em um processo legislativo e que, a
devida representação legal:
Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
partir da aprovação, passa a ser de observância obri-
gatória por parte de todos.
O crime do art. 108 trata de pessoa idosa sem dis- Atenção à informação a seguir, que é muito impor-
cernimento para a prática de seus atos, cuja conduta tante para sua aprovação: é possível dizer que os
(lavratura de ato notarial) é realizada sem o repre- direitos humanos são inerentes à condição humana
sentante legal. Trata-se de crime próprio (praticado dos indivíduos. São os chamados “direitos naturais”.
somente pela pessoa responsável pela lavratura do Quando estes mesmos direitos passam a ser previstos
ato no cartório). em uma lei escrita devidamente aprovada por meio
Cumpre mencionar, por fim, que o art. 109, do Esta- do processo legislativo de cada estado, dizemos que
tuto, embora não esteja disciplinado na parte relativa estão positivados.
aos crimes, trata do crime de atentado ou empreendi- Quando falamos em direitos humanos, estamos
mento, que ocorre quando o agente impede ou emba- mencionando um rol de direitos pertencentes ao
raça ato do representante do Ministério Público ou de indivíduo. São reconhecidos internacionalmente,
qualquer outro agente fiscalizador. mas também constam nas normas de direito inter-
no dos estados. Dentre tais direitos, temos: o direito
à vida; à liberdade; à educação, e à saúde. No Brasil,
estão elencados na Constituição Federal. São os direi-
CONCEITO DE DIREITOS HUMANOS tos fundamentais e sociais.
A questão da nomenclatura é técnica, porém em
Estabelecer um conceito de direitos humanos, nada interfere no fato de que esses direitos devem ser
embora pareça simples, exige que se faça uma análise garantidos a todos os cidadãos nacionais ou estran-
histórica para compreensão de como surgiu a defini- geiros, que estejam ou não no território de sua terra
ção. Mesmo que todos saibam mencionar quais são natal, e de que é obrigação dos estados respeitarem os
esses direitos, há que se entender como se chegou a direitos humanos de cada um.
um conceito. Recomendamos, para aprofundamento sobre a
DIREITOS HUMANOS
Como dito, o conceito de direitos humanos foi história da Organização das Nações Unidas e para
construído ao longo do tempo, razão pela qual se tor- informações mais detalhadas a respeito do marco ini-
na necessário abordar alguns aspectos referentes à cial dos direitos humanos, o acesso à página da ONU2.
sua evolução histórica.
A princípio, é possível dizer que os direitos huma-
nos, tamanha sua importância, decorrem da dignida- Importante!
de inerente a cada ser humano. Porém, em verdade,
tais direitos não foram, desde o início, efetivamente Direitos humanos são os direitos de cada indi-
previstos e protegidos. víduo reconhecidos em seu país e em âmbito
internacional.
2 https://nacoesunidas.org/conheca/. 55
Cumpre esclarecer, entretanto, que somente os
EVOLUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS direitos mínimos foram reconhecidos. Consequente-
E SUAS IMPLICAÇÕES PARA O CAMPO mente, esta primeira fase refere-se à defesa das pes-
soas contra o abuso do poder do Estado, de modo a
EDUCACIONAL abranger tanto as liberdades dos indivíduos, ou seja,
seus direitos civis e individuais, como os direitos de
Os direitos humanos não foram reconhecidos de
participação popular na administração do Estado, ou
uma única vez, sendo resultado de um processo lento
e gradual. Deste processo advém à noção de “gerações seja, os direitos políticos.
de direitos humanos”. Neste ponto, cabe mencionar O direito à liberdade é um destes direitos. A
que a nomenclatura “gerações” foi dada pelo jurista Declaração Universal dos Direitos Humanos, por
francês Karel Vasak e inspirada no lema da Revolução exemplo, iniciou seu rol de direitos estipulando que
Francesa. Para ele, cada um dos temas envolvia uma todos os indivíduos nascem com a possibilidade de
das gerações dos direitos humanos. fazer escolhas, de dar rumo à própria vida de acor-
Observe: do com a própria inteligência e consciência e não por
estipulações alheias, sendo que, ainda que o meio
z Liberdade: associado aos direitos civis e políticos; social possa influenciar em suas escolhas, a pessoa é
z Igualdade: associada aos direitos econômicos, livre para mudar o rumo dado pela sociedade.
sociais e culturais;
z Fraternidade: associada aos direitos de
solidariedade. Importante!
Para compreender a associação entre o lema da Nascer igual significa poder gozar de todos os
Revolução Francesa e o reconhecimento dos direitos direitos, independentemente de qualquer con-
humanos é preciso entender que no período inicial da dição, ou seja, de ser homem ou mulher, de ser
existência humana somente tinham direitos aqueles rico ou pobre, do país, da religião, entre outros.
que possuíam força física ou que estavam do lado de Assim sendo, direitos e liberdades independem
quem a possuía, visto que era sempre o mais forte que de qualquer condição pessoal ou de distinções
impunha a sua vontade aos demais. fundadas em condição política ou jurídica.
Posteriormente, a aquisição de direitos passou a
ser resultado da vontade das divindades, ou seja, de
um Deus ou de diversos deuses. Já com a formação Além da liberdade de fazer escolhas, o direito à
dos Estados absolutistas, o poder de impor as regras liberdade envolve o direito de locomoção, o direito de
passou a ser dos reis. Assim, foi apenas com a forma- ter convicções religiosas, filosóficas, políticas, entre
ção dos Estados Modernos que as pessoas passaram a outros, o direito de expressar livremente seus pensa-
ser tidas como possuidores de direitos, uma vez que o mentos e o direito de reunião e associação.
poder dos Estados passou a ser limitado. O direito à vida também é um dos direitos garan-
Como consequência, os direitos humanos passa- tidos nesta primeira categoria. Ele engloba não só a
ram a ser reconhecimentos por categorias.
garantia do indivíduo de não ter interrompido o seu
processo vital, salvo pela morte espontânea e inevi-
Dica tável, mas o direito de não ter sua integridade física e
A denominação “gerações” dos direitos huma- moral violada, assim como o direito de ter uma vida
nos foi o termo original criado por Vasak e, digna e justa. Como consequência, tanto a escravidão
posteriormente, passou a ser denominado de como a tortura violam o direito à vida.
dimensão dos direitos humanos. Isto ocorreu Neste ponto, é importante consignar que o direi-
porque grande parte da doutrina passou a enten- to à vida envolve, ainda, o reconhecimento da perso-
der que essa classificação correspondia a uma nalidade humana. Isto significa dizer que os Estados
visão histórica infundada, pois os direitos huma- devem reconhecer a todos os direitos e deveres sem
nos não se sucedem ou se substituem. Assim, qualquer valoração, pois todas as pessoas merecem
a utilização do termo “gerações” poderia levar a proteção. Assim sendo, não é possível efetuar grada-
conclusão de que os direitos de primeira geração ções da dignidade humana, uma vez que a dignidade
foram substituídos pelos de segunda e, assim não pode ser retirada ou desprezada pela prática de
por diante; o que não é o correto, uma vez que os condutas tidas como reprováveis pela sociedade.
direitos se expandem e se acumulam, de modo Outro desdobramento do direito à vida é o direi-
que um fortalece o outro. É por este motivo que to à vida privada, que corresponde ao poder que as
a doutrina optou por utilizar o termo “dimen- pessoas têm de decidir quais informações, condutas,
sões”, pois este traz a ideia de que os direitos se escolhas, preferências, entre outros, querem levar ao
complementam. conhecimento público e quais querem manter como
exclusivamente suas, ou seja, privadas.
A primeira categoria de direitos reconhecidos O direito à igualdade também faz parte da pri-
foi aquela ligada à proteção das pessoas contra o meira categoria de direitos reconhecidos. Trata-se,
poder do Estado, ou seja, os direitos individuais e portanto, da garantia de que a norma não será aplica-
políticos. Trata-se, portanto, dos direitos ligados à pró- da de modo discriminatório, negando direitos básicos
pria pessoa, como, por exemplo, o direito de viver, de aos indivíduos em razão de qualquer condição pes-
56 ter bens, de se locomover. soal, como sexo, cor, origem, entre outros.
Dica Importante!
O direito à igualdade reconhecido nesta catego- O direito à educação faz parte desta catego-
ria não se refere à igualdade de fato perante a ria (segunda geração/dimensão) dos direitos
lei. Esta faz parte da segunda categoria de direi- fundamentais.
tos reconhecidos.
Outro direito reconhecido foi o direito à seguran- No que diz respeito ao direito à educação, obser-
ça, ou seja, o direito de exercer com tranquilidade os ve que uma instrução de qualidade é essencial à for-
demais direitos humanos. Assim, segurança abrange mação integral dos indivíduos, uma vez que somente
os direitos relativos à segurança do indivíduo, como, com uma educação adequada as pessoas podem exer-
por exemplo, a que veda prisão arbitrária ou abusiva cer seus demais direitos, tais como a liberdade de
e estabelece que a restrição da liberdade só será legí- expressão, a liberdade de associação, os direitos polí-
tima quando respeitados os parâmetros da lei, como ticos, entre outros.
também os direitos ligados à segurança das relações A Declaração Universal dos Direitos Humanos, por
jurídicas, como, por exemplo, as garantias proces- exemplo, estabelece que cabe aos Estados assegura-
suais decorrentes dos princípios da duração razoável rem o acesso à educação e garantir que esta será gra-
do processo, do devido processo legal, do contraditó- tuita ao menos nos níveis elementares e fundamentais.
rio e da ampla defesa, entre outros. Quanto à obrigatoriedade, estabelece que a educação
Há de se mencionar, também, o direito à proprie- deve ser apenas da instrução elementar, assegurando,
dade, ou seja, o direito que as pessoas têm de usar, porém, o acesso aos demais níveis de instrução. Neste
gozar e dispor da coisa, assim como retomá-la de ponto é importante observar que, embora o dispositi-
quem injustamente a detenha. vo estabeleça o direito prioritário dos pais na escolha
O direito à nacionalidade também foi um dos pri-
do gênero de instrução, ele também limita sua liber-
meiros direitos reconhecidos. Trata-se do direito que
dade de escolha ao dar caráter obrigatório à instrução
todos possuem de se vincular política e juridicamente
elementar, uma vez que os pais não poderão privar
a um Estado soberano para que este possa lhe assegu-
seus filhos do ensino elementar formal.
rar a proteção aos seus direitos fundamentais.
Já, a Constituição Federal de 1988, ao disciplinar o
Finalizando este primeiro rol de direitos, tem-se os
direitos políticos, que são os direitos de participação dever do Estado brasileiro com a educação, estabele-
diretamente no governo ou indiretamente por meio ce a obrigatoriedade e gratuidade da educação básica,
de seus representantes escolhidos pelo voto. Portanto, que segundo a norma constitucional é aquela ofer-
refere-se ao direito de votar e ser votado. tada para os alunos entre 4 (quatro) e 17 (dezessete)
Atenção! Observe que estes direitos, indepen- anos de idade, assegurada, ainda, sua oferta gratuita
dentemente de serem tidos como civis ou políticos, para aqueles que não puderam ter acesso a ela na ida-
exigem postura negativa do Estado, isto é, de não de própria.
interferência. Além disso, assegura a progressiva universaliza-
A segunda categoria de direitos reconhecidos ção do ensino médio gratuito; o atendimento educa-
foram aqueles ligados aos direitos sociais, de modo a cional especializado aos estudantes com deficiência,
incluir os direitos voltados ao trabalho, à educação, à preferencialmente na rede regular de ensino; a edu-
saúde, entre outros. Parte-se, portanto, da ideia de que cação infantil, tanto em creche como em pré-escola,
os Estados têm o dever não só de conceder e respeitar para as crianças até 5 (cinco) anos de idade; o acesso
as liberdades, mas também proporcionar a igualdade aos níveis mais elevados de ensino, pesquisa e criação
entre as pessoas para reequilibrar os desníveis sociais. artística; a oferta de ensino noturno de forma regular
Para compreender esta categoria, é preciso ter em e adequada; e o atendimento por meio de programas
mente que as pessoas não são iguais, seja em termos suplementares de material didático escolar, transpor-
econômico, sociais ou culturais. Como consequên- te, alimentação e assistência à saúde em todas as eta-
cia, de nada adiantaria garantir o direito à vida, por pas da educação básica.
exemplo, se a pessoa não tiver acesso à saúde. Assim,
os direitos reconhecidos nesta segunda categoria são As regras no que tange à educação brasileira
voltados a estabelecer a igualdade entre os indivíduos. encontram-se previstas nos arts. 205 a 214 da Consti-
Portanto, se em um primeiro momento houve um
tuição Federal de 1988.
olhar para o indivíduo para reconhecer as suas liber-
dades, agora o Estado passa a visualizá-lo como mem-
Há de se mencionar, ainda, o direito cultural, tanto
bro de uma sociedade. Consequentemente, é dever
no que diz respeito ao direito de ter acesso aos meios
do Estado reconhecer que as pessoas são diferentes e
de cultura e artes, bem como aos meios científicos,
DIREITOS HUMANOS
dos próprios Estados membros como entre as dos direitos são assegurados no Brasil por meio da Consti-
territórios colocados sob a sua jurisdição. tuição Federal de 1988, no art. 4º: “Ninguém será man-
tido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o
Assim, fica transparente a posição da Organização trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos”.
das Nações Unidas (ONU/UN), isto é, a afirmação de
que as barbáries das grandes guerras ocorreram por Art. 5º
desprezo ou desconhecimento dos direitos humanos. Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou
Dessa forma, é necessário espalhar o ideal desses tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.
direitos em todas as nações para que o mundo seja um
local cada vez mais amistoso e voltado à paz.
6 Ibid. 59
O art. 5º apresenta a informação de que atos de O art. 9º impede a prisão arbitrária, ou qualquer
tortura, penas ou tratamentos cruéis são proibidos e tipo de detenção ou exílio por diferenças entre seres
contra os direitos humanos. No Brasil, esse direito é humanos, sem o devido processo legal ser cumprido
definido por meio do inciso III, art. 5º, da Constituição e executado.
Federal de 1988: “ninguém será submetido a tortura No Brasil, a Constituição Federal de 1988 defende
nem a tratamento desumano ou degradante”. esses direitos no inciso LXI e seguintes, do art. 5º. Veja
o inciso LXI:
Art. 6º
Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, Art. 5º [...]
em todos os lugares, da sua personalidade jurídica. LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito
ou por ordem escrita e fundamentada de autorida-
O art. 6º diz que: Todos os seres humanos possuem de judiciária competente, salvo nos casos de trans-
a garantia de serem reconhecidos como dotados de gressão militar ou crime propriamente militar,
direitos, ou seja, reconhecidos como pessoas perante definidos em lei.
a lei. Essa é a garantia de personalidade jurídica.
Art. 10
Art. 7º Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a
Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm que a sua causa seja equitativa e publicamente jul-
direito a igual proteção da lei. Todos têm direito a gada por um tribunal independente e imparcial
proteção igual contra qualquer discriminação que decida dos seus direitos e obrigações ou das
que viole a presente Declaração e contra qualquer razões de qualquer acusação em matéria penal que
incitamento a tal discriminação. contra ela seja deduzida.
O art. 7º diz que: Ninguém será privilegiado ou O art. 10 reafirma o respeito ao devido processo
impedido de alcançar a proteção aos seus direitos legal, que deve ser implementado de acordo com as
humanos e a lei garantirá essa igualdade. Nesse mes- regras do ordenamento jurídico nacional, sendo inde-
mo sentido, é proibido pelo artigo incitar qualquer pendente e imparcial em relação as suas inclinações
discriminação nessa proteção. No Brasil, o direito ou vieses, independente da acusação que esteja sendo
à igualdade aparece em vários momentos na Carta analisada. No Brasil, o Princípio do Devido Processo
Constitucional de 1988. No preâmbulo da constituição Legal está presente no inciso LIV, art. 5º, da Constitui-
brasileira, já é previsto a proteção da igualdade: ção Federal de 1988: “ninguém será privado da liberda-
de ou de seus bens sem o devido processo legal”.
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos O art. 11 é dividido em duas partes (inciso 1 e 2).
em Assembleia Nacional Constituinte para instituir Confira:
um Estado Democrático, destinado a assegurar o
exercício dos direitos sociais e individuais, a liber- Art. 11
dade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, 1. Toda a pessoa acusada de um ato delituoso pre-
a igualdade e a justiça como valores supremos de
sume-se inocente até que a sua culpabilidade fique
uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconcei-
legalmente provada no decurso de um processo
tos, fundada na harmonia social e comprometida,
público em que todas as garantias necessárias de
na ordem interna e internacional, com a solução
defesa lhe sejam asseguradas.
pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a
2. Ninguém será condenado por ações ou omis-
proteção de Deus, a seguinte Constituição da Repú-
sões que, no momento da sua prática, não cons-
blica Federativa do Brasil. (BRASIL, CF, 1988)
tituíam ato delituoso à face do direito interno
ou internacional. Do mesmo modo, não será infli-
Art. 8º
gida pena mais grave do que a que era aplicável no
Toda a pessoa tem direito a recurso efetivo
momento em que o ato delituoso foi cometido.
para as jurisdições nacionais competentes contra
os atos que violem os direitos fundamentais reco-
nhecidos pela Constituição ou pela lei. Na primeira parte do décimo primeiro artigo,
temos a proteção da presunção de inocência para os
O art. 8º é o artigo que garante o duplo grau de indivíduos do globo. Ou seja, ninguém será considera-
jurisdição como direito humano. Ou seja, todo ser do culpado antes da finalização do processo penal em
humano é digno de ter acesso a um recurso para suas segunda instância, depois de ter acesso a pelo menos
decisões judiciais. Em outras palavras, todos possuem um recurso da decisão de primeiro grau. No Brasil, a
o direito de serem julgadas por juízes ou turmas de presunção da inocência é garantida pelo inciso LVII,
magistrados mais de uma vez, no mínimo por duas art. 5º: “ninguém será considerado culpado até o trân-
vezes, evitando a arbitrariedade subjetiva do juiz e sito em julgado de sentença penal condenatória”.
erros na busca da justiça nas decisões. No Brasil, o Na segunda parte, é garantido o Princípio da Lega-
Princípio do Duplo Grau de Jurisdição é contido no lidade, o qual define que ninguém será condenado
art. 5º, LV da Constituição Federal de 1988, que diz por fato definido como crime posterior a sua ação ou
sobre a Ampla Defesa. (STERMAN, 2017) omissão. Não existe crime se não houver lei anterior
que o tipifique. Assim, cria-se a segurança jurídica e
Art. 9° afastamento da arbitrariedade por tribunais ad hoc
Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou (criados de maneira posterior aos fatos que serão jul-
exilado. gados). Tal garantia impede possíveis injustiças por
posições pessoais dos julgadores ou instituições tidas
60 como autoridades judiciais no caso em questão.
No Brasil, o Princípio da Legalidade está disposto O art. 15 é dividido em duas partes (inciso 1 e 2).
no art. 5º, inciso II, da Constituição Federal de 1988: Confira:
“ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei”. Art. 15
1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma
Art. 12 nacionalidade.
Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da
vida privada, na sua família, no seu domicílio sua nacionalidade nem do direito de mudar de
ou na sua correspondência, nem ataques à sua hon- nacionalidade.
ra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques
toda a pessoa tem direito a proteção da lei. Aqui, se defende o direito de ter uma nacionalida-
de, pois ser apátrida impede o indivíduo de acessar
Neste artigo, temos a proteção à intimidade e vida vários serviços e bens essenciais para o exercício dos
privada dos indivíduos. Esses seriam essenciais para direitos humanos. Assim, para pessoas que não pos-
uma vida digna. No Brasil, esses direitos são garanti- suem nacionalidade, é difícil o acesso delas aos meios
dos nos incisos X, XXII e XXIII, art. 5º, da Constituição de proteção da sua dignidade e dos seus direitos, uma
Federal de 1988. Veja o inciso X: vez que, quase sempre, esses sistemas estão vincula-
dos a territórios e Estados definidos.
Art. 5º [...] O art. 16 é dividido em três partes (inciso 1, 2 e 3).
X- são invioláveis a intimidade, a vida privada, Confira:
a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral
Art. 16
decorrente de sua violação.
1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qual-
quer restrição de raça, nacionalidade ou religião,
O art. 13 é dividido em duas partes (inciso 1 e 2). têm o direito de contrair matrimônio e fundar
Confira: uma família. Gozam de iguais direitos em relação
ao casamento, sua duração e sua dissolução.
Art. 13 2. O casamento não será válido senão com o livre
1. Toda a pessoa tem o direito de livremente cir- e pleno consentimento dos nubentes.
cular e escolher a sua residência no interior de um 3. A família é o núcleo natural e fundamental da
Estado. sociedade e tem direito à proteção da sociedade e
2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país do Estado.
em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de
regressar ao seu país.
O presente artigo traz a proteção ao casamento e à
família dos moldes ocidentais. Assim, todos os indivíduos
O presente artigo traz o direito de ir e vir, nacional
maiores de idade possuem o direito humano de se casar e
e internacionalmente. A liberdade de circulação faz
constituir a sua família como seu núcleo da vida pessoal.
parte do direito à intimidade e as escolhas pessoais.
No Brasil, o direito à família está previsto no art. 226 da
Portanto, é garantido pela Declaração e também pela
Constituição Federal de 1988. Veja: “Art. 226. A família,
Constituição Federal de 1988. Inciso XV, art. 5º
base da sociedade, tem especial proteção do Estado”.
Art. 5º [...]
O art. 17 é dividido em duas partes (inciso 1 e 2).
XV- é livre a locomoção no território nacional em Confira:
tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos ter-
mos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair Art. 17
com seus bens. 1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só
ou em sociedade com outros.
O art. 14 é dividido em duas partes (inciso 1 e 2). 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua
Confira: propriedade.
Art. 24 Art. 26
Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, 1. Todo ser humano tem direito à instrução. A
inclusive a limitação razoável das horas de traba- instrução será gratuita, pelo menos nos graus ele-
lho e a férias remuneradas periódicas. mentares e fundamentais. A instrução elementar
será obrigatória. A instrução técnico-profissional
No presente artigo se descreve o direito ao lazer será acessível a todos, bem como a instrução supe-
e ao repouso, especificando as situações relativas ao rior, está baseada no mérito.
trabalho, como os intervalos intrajornada (horário de 2. A instrução será orientada no sentido do pleno
desenvolvimento da personalidade humana e
almoço e descansos dentro das horas trabalhadas) e
do fortalecimento do respeito pelos direitos do
interjornada (entre uma jornada de trabalho e outra),
ser humano e pelas liberdades fundamentais. A
além das férias de serviço. No Brasil, o direito ao lazer instrução promoverá a compreensão, a tolerância
é definido como direito social e é descrito por meio do e a amizade entre todas as nações e grupos raciais
artigo 6° da Constituição Federal de 1988: ou religiosos e coadjuvará as atividades das Nações
Unidas em prol da manutenção da paz.
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a 3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do
alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, gênero de instrução que será ministrada a seus filhos.
o lazer, a segurança, a previdência social, a pro-
teção à maternidade e à infância, a assistência aos O art. 26 traz a proteção à educação básica, que
desamparados, na forma desta Constituição. deve ser disponibilizada de maneira gratuita para
todos os indivíduos e voltada a fomentar a informa-
Além desse, a questão dos descansos do trabalha- ção sobre os direitos humanos. No Brasil, temos o arti-
dor (intrajornada, interjornada e férias) é prevista na go 53 da Constituição Federal de 1988:
Constituição Federal de 1988 no artigo 7°, já citado nas
sínteses de artigos acima. Além desse, temos disposi- Art. 53 A criança e adolescente têm direito à edu-
ções específicas na Consolidação das Leis do Trabalho cação, visando ao pleno desenvolvimento de sua
(CLT)8, em seu art. 71 e 139. O estudante deve conferir pessoa, preparo para o exercício da cidadania e
os dispositivos para a sua completa compreensão. qualificação para o trabalho, assegurando-se lhes:
O art. 25 é dividido em duas partes (inciso 1 e 2). [...] V - acesso à escola pública e gratuita, próxima
Confira: de sua residência, garantindo-se vagas no mesmo
estabelecimento a irmãos que frequentem a mesma
Art. 25 etapa ou ciclo de ensino da educação básica.
1. Todo ser humano tem direito a um padrão de
vida capaz de assegurar a si e à sua família saúde, O art. 27 é dividido em duas partes (inciso 1 e 2).
bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habita- Confira:
ção, cuidados médicos e os serviços sociais indis-
pensáveis e direito à segurança em caso de Art. 27
desemprego, doença invalidez, viuvez, velhice 1. Todo ser humano tem o direito de participar
ou outros casos de perda dos meios de subsis- livremente da vida cultural da comunidade,
tência em circunstâncias fora de seu controle. de fruir as artes e de participar do progresso
2. A maternidade e a infância têm direito a cui- científico e de seus benefícios.
DIREITOS HUMANOS
dados e assistência especiais. Todas as crianças, 2. Todo ser humano tem direito à proteção dos
nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da interesses morais e materiais decorrentes de
mesma proteção social. qualquer produção científica literária ou artística
da qual seja autor.
Em sua primeira parte, o art. 25 traz a ideia do míni-
mo básico para garantir a subsistência e um padrão O dispositivo reafirma os direitos à manifestação
de vida digno aos indivíduos, por meio de garantias de expressão e opinião, sendo todos livres a partici-
no momento do desemprego ou incapacidade. parem de atividades culturais e científicas de seu
8 BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm. Acesso em: 26 abri. 2022.
9 BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 26 abri. 2022. 63
agrado. No Brasil, o direito é contido na liberdade de Art. 30
expressão do art. 5º, inciso IV, da Constituição Federal Nenhuma disposição da presente Declaração
brasileira de 1988 protege esse direito: “É livre a mani- poder ser interpretada como o reconhecimento
festação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de
exercer qualquer atividade ou praticar qual-
Art. 28 quer ato destinado à destruição de quaisquer
Todo ser humano tem direito a uma ordem social dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.
e internacional em que os direitos e liberdades
estabelecidos na presente Declaração possam O art. 30 fecha a Declaração Universal dos Direi-
ser plenamente realizados. tos Humanos, trazendo a proibição de interpretações
dos dispositivos do documento em prol da destruição
O art. 28 defende a ordem social estabelecida pela de quaisquer liberdade ou direito de povo/coletivo/
Declaração Universal dos Direitos Humanos, que deve ser nação alheia. Dessa forma, mesmo havendo direitos
mantida e promovida pelas nações. Membros da Orga- que defendam a propriedade privada e a liberdade de
nização das Nações Unidas são obrigados, perante sua expressão, esses dispositivos não permitem agressões
ratificação da Carta das Nações Unidas no ordenamento a outros povos ou pessoas de características específi-
jurídico nacional, a respeitar os direitos humanos e a dis- cas, segmentadas por meio de preconceito e discrimi-
seminarem suas informações em todo território. nação, com a justificativa de defesa de suas garantias
O art. 29 é dividido em três partes (inciso 1, 2 e 3). individuais.
Confira: A Declaração finaliza seu texto lembrando a todos
que a liberdade do outro é tão importante quando a
Art. 29 nossa e que ambas devem ser respeitadas. Desrespei-
1. Todo ser humano tem deveres para com a tar o próximo não é exercer liberdade de opinião. É
comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvi- exercer violência com o outro, que equivale ao desres-
mento de sua personalidade é possível. peito aos direitos humanos.
2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo
ser humano estará sujeito apenas às limitações CONSIDERAÇÕES FINAIS
determinadas pela lei, exclusivamente com o fim
de assegurar o devido reconhecimento e respeito Desde o final da Segunda Guerra Mundial, houve o
dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer esforço internacional para impedir um novo conflito
as justas exigências da moral, da ordem pública e com magnitude mundial.
do bem-estar de uma sociedade democrática. Para isso, criou-se uma organização de cooperação
3. Esses direitos e liberdades não podem, em internacional para a paz, a Organização das Nações
hipótese alguma, ser exercidos contrariamente Unidas, a qual começou em 1945 apenas com 54 mem-
aos objetivos e princípios das Nações Unidas. bros e hoje passa de 190.
Em 1948, é proclamada a Declaração dos Direitos
Como estamos chegando ao final do documen- Humanos, que foi o primeiro marco legal interna-
to, o art. 29 é um compilado de informações. Na sua cional de descrição de direitos humanos. É possível
primeira parte, trata da responsabilidade individual perceber que as mudanças em relação a aplicação
de defesa e proteção dos direitos humanos. Ou seja, dos princípios dos Direitos Humanos começam nessa
não são apenas as nações, empresas e organizações década, prolongando-se até os dias atuais.
internacionais que devem ter uma responsabilidade No Brasil, os esforços em prol da disseminação dos
coletiva em relação a Declaração: as pessoas indivi- Direitos Humanos fortalecem-se na década de 1990,
dualmente também devem estar cientes do seu dever após o fim da Ditadura Militar brasileira.
em manter a paz e a segurança própria dentro de suas A ideia de que todos somos humanos, iguais em
ações pessoais, exercendo o respeito ao próximo. direitos, mesmo que possuindo diferentes caracte-
A segunda parte do artigo relembra o Princípio da rísticas como nacionalidade, gênero, cor e credo, é a
Legalidade, previsto no inciso II, art. 5º, da Constitui- essência que todo cidadão do mundo deve ter.
ção Federal de 1988, que protege as pessoas de serem Para isso, a Declaração Universal dos Direitos
acusadas por crimes que não foram prescritos antes Humanos presta um papel único, uniformizando as
do fato delituoso. Assim, ninguém deve ser processa- noções básicas de dignidade da pessoa humana. Nesse
do por crime que não seja previsto no ordenamento sentido, são criadas as referências básicas de humani-
jurídico legítimo para a ocasião. dade, cidadania e democracia.
Na terceira e última parte, as Nações Unidas limi-
tam o exercício da liberdade e dos direitos humanos: REFERÊNCIAS
essas nunca devem perpassar os objetivos e princí-
pios das Nações Unidas. Sobre esses, recomendamos BRASIL. Curso Educação em Direitos Humanos.
a leitura dos arts. 1º e 2º da Carta das Nações Unidas.10 Escola Virtual. Módulo 1. Pág. 1-19. Disponível em:
Alguns são: mantimento da paz e segurança interna- https://www.escolavirtual.gov.br. Acesso em: 4 fev.
cionais (art. 1º, 1); desenvolvimento de cooperação 2022.
entre os países por meio da diplomacia e fortalecendo ________. Decreto n° 19.841, de 22 de outubro de
relações amistosas entre as nações (art. 1º, 2 e 3); e 1945. Promulga a Carta das Nações Unidas, da qual
respeito ao Princípio da Igualdade (art. 2º, 1). faz parte integrante o anexo Estatuto da Corte Inter-
nacional de Justiça, assinada em São Francisco, a
26 de junho de 1945, por ocasião da Conferência de
10. BRASIL. Decreto nº 19.841, de 22 de outubro de 1945. Promulga a Carta das Nações Unidas, da qual faz parte integrante o anexo Estatuto da
Corte Internacional de Justiça, assinada em São Francisco, a 26 de junho de 1945, por ocasião da Conferência de Organização Internacional das
64 Nações Unidas. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/d19841.htm. Acesso em: 26 abri. 2022.
Organização Internacional das Nações Unidas. Dispo- Os temas transversais fazem parte dos Parâmetros
nível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decre- Curriculares Nacionais (PCNs) como propostas para que
to/1930-1949/d19841.htm. Acesso em: 26 abri. 2022. as Secretarias e Unidades Escolares elaborem os pró-
________. Constituição da República Federativa prios planos de ensino. Trata-se, portanto, de questões
do Brasil de 1988. Disponível em: http://www. presentes na vida cotidiana que passaram a compor o
planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao. currículo nas áreas convencionais, porém de forma
htm. Acesso em: 26 abri. 2022. transversal, de modo a relacionar as questões da atua-
________. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de lidade à disciplina.
1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Como exemplo, é possível citar que o estudo do cor-
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cci- po humano não se restringe à sua dimensão biológica,
vil_03/decreto-lei/del5452.htm. Acesso em: 26 abri. mas também ao comportamento de meninos e meninas
2022. na puberdade (compreensão de gênero — conteúdo de
________. Lei no 5.250, de 9 de fevereiro de 1967. orientação sexual) e do respeito às diferenças (conteúdo
Regula a liberdade de manifestação do pensamen- de ética).
to e de informação. Disponível em: http://www.pla- Importante esclarecer que os temas transversais não
nalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5250.htm. Acesso em: 26 são temas trabalhados de forma paralela ao conteúdo
abri. 2022. didático, uma vez que não representam pontos isolados.
________. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dis- Trata-se de questões sociais que possibilitam aos alunos
põe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente que o conhecimento escolar seja utilizado em sua vida
fora da escola. É por esse motivo que tais temas devem
e dá outras providências. Disponível em: http://
ser incluídos pelos professores de forma articulada ao
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm.
conteúdo e área disciplinada, pois agregam ao exercício
Acesso em: 26 abri. 2022.
da cidadania.
Declaração Universal dos Direitos Humanos.
De acordo com o Conselho Nacional de Educação
Nações Unidas, 2020. Disponível em: https://bra-
(CNE):
sil.un.org/pt-br/91601-declaracao-universal-dos-
-direitos-humanos. Acesso em: 26 abri. 2022.
A transversalidade orienta para a necessidade
STERMAN, M. S. O Duplo Grau de Jurisdição — Uma de se instituir, na prática educativa, uma analo-
Reflexão. In. ONODERA, M. V. K.; DE FILIPPO, T. B. gia entre aprender conhecimentos teoricamente
G. (Org.). Brasil e EUA: Temas de Direito Compa- sistematizados (aprender sobre a realidade) e as
rado. São Paulo: Escola Paulista da Magistratura, questões da vida real (aprender na realidade e da
2017. realidade). Dentro de uma compreensão interdis-
ciplinar do conhecimento, a transversalidade tem
significado, sendo uma proposta didática que possi-
bilita o tratamento dos conhecimentos escolares de
forma integrada. Assim, nessa abordagem, a ges-
TEMAS TRANSVERSAIS, PROJETOS tão do conhecimento parte do pressuposto de que
INTERDISCIPLINARES E EDUCAÇÃO os sujeitos são agentes da arte de problematizar e
interrogar, e buscam procedimentos interdiscipli-
EM DIREITOS HUMANOS nares capazes de acender a chama do diálogo entre
diferentes sujeitos, ciências, saberes e temas.
O art. 1º, da Lei nº 9.394, de 1996 (Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional — LDB) assim estabelece: Trata-se, portanto, de temas que aparecem trans-
versalizados nas diversas áreas do conhecimento, e
Art. 1º A educação abrange os processos formativos que por esse motivo devem ser trabalhados de forma
que se desenvolvem na vida familiar, na convivência significativa e expressiva nas temáticas curriculares,
humana, no trabalho, nas instituições de ensino e por constituírem temas que envolvem um aprender
pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da
sobre a realidade.
sociedade civil e nas manifestações culturais.
No que tange aos temas transversais constituídos
nos Parâmetros Curriculares Nacionais, verifica-se
Deste modo, para que os alunos tenham acesso a seis áreas:
uma educação integral e de qualidade, há a necessida-
de de as escolas proporcionarem não só o ensino básico, z Ética: respeito mútuo, justiça, diálogo,
mas também ensino complementar à formação humana solidariedade;
e social. É por esse motivo que o Ministério da Educação z Orientação sexual: corpo — matriz da sexuali-
(MEC) estipulou que as instituições de ensino de todo o dade, relações de gênero, prevenções das doenças
país têm o dever de incorporar em seus planos pedagó- sexualmente transmissíveis;
DIREITOS HUMANOS
Observe que são temas que expressam conceitos e valores básicos à democracia e à cidadania e, embora não
constituam disciplinas autônomas, permeiam todas as áreas do conhecimento.
Memorize:
TEMAS TRANSVERSAIS
Saúde
Ética
NOS PCNs
Trabalho e consumo
Pluralidade cultural
Orientação sexual
OBJETIVOS
GERAIS
Enquanto os PCNs abordavam seis temas, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) aponta seis macroáreas
temáticas (Cidadania e Civismo, Ciência e Tecnologia, Economia, Meio Ambiente, Multiculturalismo e Saúde), de
modo a englobar 15 temas contemporâneos que afetam a vida humana, quer em escala nacional, regional ou local.
Memorize:
Cumpre mencionar, por necessário, a existência de outras Resoluções do CNE que estabeleceram diretrizes
específicas para que outros temas contemporâneos possam ser incluídos nos planos de ensino.
Neste ponto, destacam-se:
z a Resolução CNE/CP nº 1, de 2004, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das
Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana;
66 z a Resolução CNE/CP nº 1, de 2012, que estabelece as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos;
z a Resolução CNE/CP nº 2, de 2012, que estabelece alunos, entre professores e alunos e entre diferentes
as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa- membros da comunidade escolar;
ção Ambiental. a inclusão dos temas implica a necessidade de um
trabalho sistemático e contínuo no decorrer de toda
a escolaridade, o que possibilitará um tratamento
Cumpre esclarecer que os critérios adotados na
cada vez mais aprofundado das questões eleitas.
escolha de tais temas transversais envolvem múlti-
Por exemplo, se é desejável que os alunos desen-
plos aspectos e diferentes dimensões da vida social. volvam uma postura de respeito às diferenças, é
Deste modo, para a definição e escolha desses temas fundamental que isso seja tratado desde o início
os PCNs adotaram os seguintes critérios: da escolaridade e que continue sendo tratado cada
vez com maiores possibilidades de reflexão, com-
z Urgência social: temas que envolvem questões preensão e autonomia. Muitas vezes essas questões
graves e que se apresentam como obstáculos para são vistas como sendo da “natureza” dos alunos
a concretização da plenitude da cidadania, afron- (eles são ou não são respeitosos), ou atribuídas ao
tam a dignidade das pessoas e deterioram a quali- fato de terem tido ou não essa educação em casa.
dade de vida; Outras vezes são vistas como aprendizados possí-
veis somente quando jovens (maiores) ou quando
z Abrangência nacional: temas que contemplem
adultos. Sabe-se, entretanto, que é um processo de
questões pertinentes a todo o país, porém sem
aprendizagem que precisa de atenção durante toda
impedir que as redes estaduais e municipais acres- a escolaridade e que a contribuição da educação
centem outros temas relevantes à sua realidade; escolar é de natureza complementar à familiar: não
z Possibilidade de ensino e aprendizagem no se excluem nem se dispensam mutuamente. A pro-
ensino fundamental: tema que pode ser desen- posta de transversalidade pode acarretar algumas
volvido nesta etapa da escolaridade; discussões do ponto de vista conceitual como, por
z Favorecer a compreensão da realidade e a par- exemplo, a da sua relação com a concepção.
ticipação social: possibilidade de desenvolver a
capacidade dos alunos de se posicionarem dian- Há de se mencionar, também, a possibilidade de
te de questões que interferem na vida coletiva, tais temas serem abordados de forma interdisciplinar
de superar a indiferença e de intervir de forma em razão da complexidade e da necessidade de consi-
responsável. derar as diversas relações existentes.
Como consequência, para a consecução das pro-
De acordo com os PCNs, a relação entre os temas postas de temas transversais, os PCNs indicam a
transversais e as disciplinas deve desenvolver-se da elaboração de projetos como forma de organizar o
seguinte forma: trabalho didático e integrar os diferentes modos de
organização curricular.
[...] as diferentes áreas contemplem os objetivos e Assim sendo, existem diversas possibilidades de
os conteúdos (fatos, conceitos e princípios; procedi- projetos, tais como aqueles que envolvem a questão
mentos e valores; normas e atitudes) que os temas do lixo, do desperdício, da necessidade de reciclagem
da convivência social propõem; e de reaproveitamento de materiais, da qualidade
haja momentos em que as questões relativas aos ambiental da comunidade, que podem ter como resul-
temas sejam explicitamente trabalhadas e conteú- tados a mudança de atitudes e práticas dos alunos e
dos de campos e origens diferentes sejam colocados familiares, de modo a desenvolver o conceito de cida-
na perspectiva de respondê-las. dania do discente.
talar público ou mesmo matricular-se em uma escola todo cidadão o direito de apresentar um projeto de lei.
estadual ou municipal. Esse direito está regulamentado pelo § 2º, do art. 61,
da Constituição Federal, cabendo, para tanto, serem
Dica preenchidos os requisitos ali previstos.
Direitos sociais são universais. Art. 61 [...]
§ 2º A iniciativa popular pode ser exercida pela
Direitos Políticos apresentação à Câmara dos Deputados de projeto
de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do
Os direitos políticos estão previstos nos arts. 14 eleitorado nacional, distribuído pelo menos por
a 16, da Constituição Federal, em seu Capítulo IV, no cinco Estados, com não menos de três décimos por
Título II. São os meios efetivos pelos quais a pessoa cento dos eleitores de cada um deles. 71
Importa dizer que os direitos políticos são dividi- Finalmente, a alínea “c”, também desse dispositi-
dos entre capacidade eleitoral ativa e capacidade elei- vo, define que será brasileiro nato aquele nascido no
toral passiva. A capacidade eleitoral ativa refere-se ao estrangeiro, filho de pai ou mãe brasileiros quando:
direito de votar. Já a capacidade eleitoral passiva refe-
re-se ao direito de ser votado. Assim, em regra, todos z For registrado em repartição brasileira competente,
os brasileiros podem votar e ser votados. ou seja, quando do nascimento, seus pais o registra-
O art. 15, da Constituição Federal, estabelece que é ram perante consulado brasileiro no exterior;
vedada a cassação de direitos políticos. Porém, é pos- z Venha a residir no Brasil e, após atingida a maiori-
dade, opte pela nacionalidade brasileira.
sível que uma pessoa sofra a perda ou suspensão de
seus direitos políticos. Isso pode ocorrer nas seguintes
Nessa última hipótese, mesmo que a pessoa tenha
situações previstas no art. 15:
nascido no exterior e lá tenha sido registrada, se seu
pai ou sua mãe forem brasileiros e o sujeito tenha
z Por meio do cancelamento da naturalização por vindo morar no Brasil, poderá, após completar dezoi-
sentença transitada em julgado (inciso I); to anos, optar pela nacionalidade. Vale ressaltar que
z Incapacidade civil absoluta, ou seja, aquele que deve-se atingir a maioridade para fazer essa escolha,
tenha sua incapacidade reconhecida terá seus tendo em vista ser esse o momento em que se alcança
direitos suspensos (inciso II); a capacidade jurídica plena.
z Condenação criminal transitada em julgado Ademais, o sujeito poderá ser brasileiro naturali-
enquanto durarem seus efeitos (inciso III); zado. Será naturalizada, conforme determina o inciso
z Recusa de cumprimento de obrigação a todos II, do art. 12:
imposta ou prestação alternativa, nos termos do
inciso VIII, art. 5º (vide também inciso IV); z A pessoa nascida em país cujo idioma seja a língua
z Improbidade administrativa, nos termos do inciso portuguesa, tendo, para tanto, que comprovar a resi-
V, § 4º, do art. 37. dência em solo brasileiro por um ano ininterrupto e
idoneidade moral (alínea “a”, inciso II, art. 12);
z A pessoa nascida em qualquer país, desde que resi-
Dica dente no Brasil há mais de quinze anos ininterrup-
Não podem ser cassados os direitos políticos de tos e sem condenação penal (alínea “b”, inciso III,
uma pessoa; porém, poderão ser suspensos em art. 12).
situações previstas na lei.
Assim, a pessoa poderá requerer a naturalização
brasileira, desde que se enquadre em alguma das
Nacionalidade
situações acima e preencha os requisitos determina-
dos pela Constituição Federal.
Nacionalidade, conforme bem nos define o jurista Ademais, existe uma situação peculiar em relação
Pedro Lenza (2019), ao cidadão português:
Conforme preceitua o § 1º, do art. 12, da Consti-
[...] pode ser definida como o vínculo jurídico-polí- tuição Federal, o português terá os mesmos direitos
tico que liga um indivíduo a determinado Estado, do brasileiro, desde que tenha residência permanente
fazendo com que esse indivíduo passe a integrar o no Brasil e se houver reciprocidade de Portugal em
povo daquele Estado e, por consequência, desfrute relação aos brasileiros, ou seja, se no país europeu o
de direitos e submeta-se a obrigações.11 brasileiro gozar do mesmo privilégio.
O § 4º, do art. 12, define que o brasileiro perderá a
Diante disso, temos que um sujeito pode ser bra- nacionalidade nas seguintes situações:
sileiro nato ou naturalizado. O brasileiro nato,
conforme preceitua a alínea “a”, inciso I, art. 12, da z O inciso I traz a situação daquele que tiver cance-
Constituição Federal, é qualquer pessoa cujo nasci- lada sua naturalização por sentença judicial moti-
mento ocorreu em território brasileiro. Assim, perce- vada por atividade nociva ao interesse nacional;
be-se que a regra adotada no país é do jus solis. z O inciso II define que deixará de ser brasileiro o
É necessário ressalvar, porém, o caso da pessoa sujeito que adquirir outra nacionalidade, exceto se
que nasceu no Brasil, mas é filha de pais estrangeiros houver o reconhecimento de nacionalidade origi-
e que estejam à serviço de seu país. Esse sujeito não nária (brasileira) pela lei estrangeira ou, ainda, se a
será brasileiro. Isso porque a Constituição Federal, pessoa tiver que se naturalizar, em virtude de nor-
ma estrangeira, como condição para permanência
ainda na alínea “a”, inciso I, art. 12, é clara ao dizer
em seu território ou exercício de direitos civis.
que também será brasileiro aquele que tiver nascido
aqui, mesmo filho de estrangeiros, desde que os pais
Finalmente, é necessário dizer que a lei não pode-
não estejam a serviço do seu país. Também será con-
rá fazer qualquer distinção entre o brasileiro nato e
siderado brasileiro aquele que tem pai ou mãe bra- o naturalizado. A Constituição Federal, no § 2º, do art.
sileiros, mas nasceu no estrangeiro quando um deles 12, porém, determina que alguns cargos são privativos
estava no exterior a serviço do Brasil. de brasileiros natos, quais sejam: Presidente e Vice-
É necessário que apenas um dos genitores seja bra- -Presidente da República; Presidente da Câmara dos
sileiro, situação definida na alínea “b”, inciso I, art. 12. Deputados; Presidente do Senado Federal; Ministro do
Supremo Tribunal Federal; carreira diplomática; oficial
das Forças Armadas e Ministro do Estado de Defesa.
72 11 LENZA, P. Direito constitucional esquematizado. São Paulo: Saraiva Jur, 2019.
Assim sendo, o termo etnia expressa a realidade
DIREITOS ÉTNICO-RACIAIS cultural das pessoas em grupos, tendo como base as
percepções comuns e as experiências compartilha-
Para compreender os conceitos básicos que envol- das, enquanto raça refere-se aos traços biológicos
vem as questões étnico-raciais, faz-se necessário comuns e as áreas continentais ocupadas desde tem-
entender o porquê da existência de divisão de pes- pos remotos.
soas em raças. De início, é preciso ter em mente que Observa-se que do etnocentrismo adveio o racis-
quando se fala em raças humanas, o que existe é um mo, que é uma ideologia baseada na superioridade de
conteúdo político e social, fruto das relações de poder. determinadas pessoas em decorrência de característi-
Isto ocorre porque as teorias raciais surgiram como cas fenotípicas ou genotípicas.
forma de tentar justificar a ordem social e as relações
de subordinação entre os povos.
Em termos simples, a divisão em raças é utilizada Importante!
para descrever um grupo de seres vivos que comparti- O termo racismo é decorrente do biopoder e da
lham características morfológicas homogêneas. Deste denominada “guerra de raças”, ou seja, a supe-
modo, a separação serve para diferenciar por crité-
rioridade da denominada “raça branca”, ligando
rios físicos ou biológicos os seres, tendo como base
as demais “raças” à barbárie e selvageria (raças
as características fenotípicas iguais. Observa-se, no
tidas como inferiores). O racismo pode abarcar
entanto, que tanto em termos biológicos como em ter-
mos genéticos, não é possível separar os seres huma-
tanto as diferenças de cor, tipo físico e intelec-
nos. Isto ocorre porque as diferenças mais aparentes tual, bem como aquelas decorrentes de exclu-
entre as pessoas, tais como coloração da pele, textura são, desigualdade social, encarceramento e
dos cabelos, formato do nariz, entre outros, são insig- abandono.
nificantes para dividir os seres humanos em grupos
homogêneos. Para se ter uma ideia, a diferença entre
Deste modo, tanto o etnocentrismo como o racis-
um preto africano e um branco nórdico compreende
mo, são ideologias baseadas na falsa concepção de
0,005% do genoma humano.
superioridade e hierarquização de pessoas. Para
Como consequência, só existe uma raça: a raça tanto, a fim de eliminar as distorções criadas pelo
humana. etnocentrismo e pelo racismo foram implementadas
No entanto, ainda que não existindo biológica e políticas para resguardar a igualdade de todas as pes-
geneticamente esta divisão em raças, era interessante soas por meio de um sistema normativo de proteção
para algumas pessoas que o poder fosse conservado dos direitos humanos.
apenas nas mãos de alguns. Assim, com os seres huma- Este processo de proteção teve início após a Segun-
nos divididos em subespécies era possível sustentar da Guerra Mundial com o movimento de reconstrução
um conjunto de relações de exclusão, encarceramen- dos direitos humanos. Tal movimento decorreu da con-
to e morte daqueles considerados hierarquicamente cepção de que todos os Estados têm a obrigação de res-
inferiores, como, por exemplo, para justificar a colo- peitar os direitos humanos. Seu marco foi a Declaração
nização e escravidão dos povos africanos. Universal dos Direitos Humanos (DUDH) em 1948.
Trata-se, portanto, de uma estratégia desenvolvida Com o decorrer dos anos, este sistema foi aperfei-
por meio de uma biopolítica da população em que as çoado para abarcar a proteção de pessoas, ou grupos
raças tidas como inferiores deveriam ser eliminadas de pessoas particularmente vulneráveis, como no
ou escravizadas para a regeneração e purificação da caso das vítimas de discriminação por etnia e raça.
raça. Assim, atente-se, pois, embora a classificação Para tanto, foi aprovado em 1965, a Convenção Inter-
em raças seja rejeitada, o conceito passou a desig- nacional sobre Eliminação de Todas as Formas de
nar linhagem e descendência, isto é, pessoas que Discriminação Racial, de modo a proibir não só a dis-
possuem características físicas em comum por criminação racial como também qualquer distinção,
decorrerem de um ancestral comum. exclusão, restrição ou preferência fundada na raça,
Cumpre esclarecer que, no decorrer da história da cor descendência ou origem nacional ou étnica.
humanidade, a relação de dominação entre as pessoas Já no âmbito regional, o Sistema Interamericano de
gerou tanto subordinação quanto exclusão de grupos, Proteção dos Direitos Humanos firmou a Convenção
formando, como consequência, o estabelecimento de Interamericana Contra o Racismo, a Discriminação
um padrão predeterminado de identidade cultural e Racial e Formas Correlatas de Intolerância em 2013.
social — fenômeno este chamado de etnocentrismo. Este tratado foi ratificado pelo Brasil neste mesmo ano
e incorporado ao ordenamento jurídico brasileiro por
Dica meio do Decreto nº 10.932, de 10 de janeiro de 2022.
DIREITOS HUMANOS
discriminatório que:
a) defenda, promova ou incite o ódio, a discrimina- O art. 4º condena qualquer tipo de racismo, dis-
ção e a intolerância; e criminação e práticas correlatas, enquanto a Conven-
b) tolere, justifique ou defenda atos que constituam ção estabelece um rol exemplificativo de condutas a
ou tenham constituído genocídio ou crimes contra serem praticadas pelos Estados com o objetivo de pre-
a humanidade, conforme definidos pelo Direito venir, proibir, punir e eliminar tais práticas.
Internacional, ou promova ou incite a prática des-
ses atos; Art. 5 Os Estados Partes comprometem-se a adotar
iii. violência motivada por qualquer um dos crité- as políticas especiais e ações afirmativas necessá-
rios estabelecidos no Artigo 1.1; rias para assegurar o gozo ou exercício dos direitos
iv. atividade criminosa em que os bens da vítima e liberdades fundamentais das pessoas ou grupos
sejam alvos intencionais, com base em qualquer um sujeitos ao racismo, à discriminação racial e for-
dos critérios estabelecidos no Artigo 1.1; mas correlatas de intolerância, com o propósito de 75
promover condições equitativas para a igualdade Importante!
de oportunidades, inclusão e progresso para essas
pessoas ou grupos. Tais medidas ou políticas não No Brasil, a Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010,
serão consideradas discriminatórias ou incompa- também denominada de Estatuto da Igualdade
tíveis com o propósito ou objeto desta Convenção, Racial, é a norma jurídica que traz as ferramen-
não resultarão na manutenção de direitos separa- tas para proteção dos direitos humanos deste
dos para grupos distintos e não se estenderão além grupo da sociedade.
de um período razoável ou após terem alcançado
seu objetivo.
Art. 8 Os Estados Partes comprometem-se a garan-
O art. 5º estabelece atenção especial dos Estados tir que a adoção de medidas de qualquer natureza,
partes da Convenção em elaborarem as medidas espe- inclusive aquelas em matéria de segurança, não
ciais e de políticas afirmativas no âmbito civil e polí- discrimine direta ou indiretamente pessoas ou gru-
tico, com o objetivo de atingir a igualdade material. pos com base em qualquer critério mencionado no
Portanto, trata-se do reconhecimento dos direitos das Artigo 1.1 desta Convenção.
pessoas em situação de racismo, discriminação e into-
lerância. Além disso, deixa claro que tais políticas, por Outro compromisso a ser adotado pelos Estados
ter como finalidade corrigir as distorções existentes, signatários da Convenção é o estabelecido no art. 8º.
não podem ser consideradas como uma prática discri- Assim, não pode o Poder Público, sob a alegação de pro-
minatória ou incompatível com a Convenção. teção de qualquer outro direito, adotar medidas que
reforcem a discriminação já existente. Exemplo: com o
Art. 6 Os Estados Partes comprometem-se a for- objetivo de prevenir crimes, adotar revista pessoal de
mular e implementar políticas cujo propósito seja todas as pessoas pretas e de apenas alguns brancos.
proporcionar tratamento equitativo e gerar igual-
dade de oportunidades para todas as pessoas, em Art. 9 Os Estados Partes comprometem-se a garan-
conformidade com o alcance desta Convenção; entre tir que seus sistemas políticos e jurídicos reflitam
elas políticas de caráter educacional, medidas traba- adequadamente a diversidade de suas sociedades,
lhistas ou sociais, ou qualquer outro tipo de política a fim de atender às necessidades legítimas de todos
promocional, e a divulgação da legislação sobre o os setores da população, de acordo com o alcance
assunto por todos os meios possíveis, inclusive pelos desta Convenção.
meios de comunicação de massa e pela internet.
O art. 9º estabelece a necessidade de os Estados
Complementando o art. 5º, o art. 6º estabelece o membros da Convenção compreenderem as diver-
compromisso dos Estados em formular as medidas sidades da sociedade e, em razão disso, compro-
especiais, enquanto as políticas afirmativas se refe- metem-se em ter sistemas políticos e jurídicos que
rem ao âmbito econômico, social e cultural. Em outras reconheçam que, embora as pessoas sejam diferen-
palavras, não basta adotar medidas de reconhecimen- tes, o tratamento prestado a eles deve ser igual, haja
to dos direitos, sendo também necessário estabelecer vista que os direitos humanos são inerentes a todos
ações estatais para propiciar que estes direitos sejam indistintamente.
efetivados, na medida em que é dever do Estado
garantir igualdade de oportunidades a todos. Art. 10 Os Estados Partes comprometem-se a
garantir às vítimas do racismo, discriminação
racial e formas correlatas de intolerância um tra-
Dica
tamento equitativo e não discriminatório, acesso
O dispositivo assegura alguns dos direitos deno- igualitário ao sistema de justiça, processo ágeis e
minados de segunda geração/dimensão, tais eficazes e reparação justa nos âmbitos civil e crimi-
como o direito à educação, ao trabalho, à cultura, nal, conforme pertinente.
entre outros.
O art. 10 traz outra responsabilidade dos Estados
Art. 7 Os Estados Partes comprometem-se a ado- partes, que é a de garantir às vítimas de racismo, dis-
tar legislação que defina e proíba expressamente o criminação e intolerância, acesso à Justiça, proces-
racismo, a discriminação racial e formas correlatas so célere e indenização justa, uma vez que de nada
de intolerância, aplicável a todas as autoridades adiantaria fixar compromissos se o Estado não adotar
públicas, e a todos os indivíduos ou pessoas físicas postura para reprimir estas modalidades de violência.
e jurídicas, tanto no setor público como no privado,
especialmente nas áreas de emprego, participação Art. 11 Os Estados Partes comprometem-se a con-
em organizações profissionais, educação, capacita- siderar agravantes os atos que resultem em discri-
ção, moradia, saúde, proteção social, exercício de minação múltipla ou atos de intolerância, ou seja,
atividade econômica e acesso a serviços públicos, qualquer distinção, exclusão ou restrição baseada
entre outras, bem como revogar ou reformar toda em dois ou mais critérios enunciados nos Artigos
legislação que constitua ou produza racismo, discri- 1.1 e 1.3 desta Convenção.
minação racial e formas correlatas de intolerância.
Outro compromisso para repressão da prática de
O art. 7º traz mais um tipo de compromisso dos racismo, discriminação e intolerância é o estabelecido
Estados partes, o de adotar em seu ordenamento jurí- no art. 11. Neste dispositivo, os Estados signatários da
dico interno normas que proíbam expressamente o convenção comprometem-se em considerar a discri-
racismo, a discriminação racial e a intolerância. minação múltipla e a intolerância de forma mais rigo-
76 rosa na docimetria da pena.
Art. 12 Os Estados Partes comprometem-se a rea- REAFIRMANDO o direito à educação de todos os
lizar pesquisas sobre a natureza, as causas e as indivíduos, tal como está inscrito na Declaração
manifestações do racismo, da discriminação racial Universal dos Direitos do Homem de 1948, e reno-
e formas correlatas de intolerância em seus respec- vando a garantia dada pela comunidade mundial
tivos países, em âmbito local, regional e nacional, na Conferência Mundial sobre Educação para
bem como coletar, compilar e divulgar dados sobre Todos de 1990 de assegurar esse direito, indepen-
a situação de grupos ou indivíduos que sejam víti- dentemente das diferenças individuais,
mas do racismo, da discriminação racial e formas RELEMBRANDO as diversas declarações das
correlatas de intolerância. Nações Unidas que culminaram, em 1993, nas
Normas das Nações Unidas sobre a Igualdade de
O art. 12 traz um compromisso para a prevenção Oportunidades para as Pessoas com Deficiência, as
da prática de racismo, discriminação racial e intole- quais exortam os Estados a assegurar que a edu-
rância, que é a realização de pesquisas sobre o tema, cação das pessoas com deficiência faça parte inte-
com coleta de dados e divulgação, com o objetivo de grante do sistema educativo,
poder atuar nestas causas para a solução do problema. NOTANDO com satisfação o envolvimento crescen-
te dos governos, dos grupos de pressão, dos grupos
comunitários e de pais, e, em particular, das orga-
Art. 13 Os Estados Partes comprometem-se a
nizações de pessoas com deficiência, na procura da
estabelecer ou designar, de acordo com sua legis-
promoção do acesso à educação para a maioria dos
lação interna, uma instituição nacional que será
que apresentam necessidades especiais e que ainda
responsável por monitorar o cumprimento desta
não foram por ela abrangidos; e
Convenção, devendo informar essa instituição à
RECONHECENDO, como prova deste envolvimen-
Secretaria-Geral da OEA.
to, a participação ativa dos representantes de alto
nível de numerosos governos, de agências especiali-
Outra medida de prevenção é a estabelecida no art. zadas e de organizações intergovernamentais nes-
13. De acordo com o dispositivo, cada Estado signatá- ta Conferência Mundial.
rio deve possuir uma instituição própria para monito-
rar o cumprimento do tratado e informar à OEA. Ao considerar a educação um direito de todos, a
declaração traz como princípio o direito que todas
Art. 14 Os Estados Partes comprometem-se a pro- as crianças têm de aprender em conjunto, ou seja,
mover a cooperação internacional com vistas ao independentemente de quaisquer diferença ou
intercâmbio de ideias e experiências, bem como a
dificuldades.
executar programas voltados à realização dos obje-
Assim, a escola inclusiva é aquela que reconhece
tivos desta Convenção.
e responde à diversidade de seus alunos, porém de
modo a compatibilizar estilos e ritmos diferentes de
Por fim, art. 14 incentiva a promoção de coope-
aprendizagem e proporcionar uma educação de qua-
ração internacional, com a finalidade de que as tro-
lidade a todos.
cas de ideias e experiências possam contribuir para
melhor efetividade do sistema de proteção.
1. Nós, delegados à Conferência Mundial sobre
Necessidades Educativas Especiais, representando
noventa e dois países e vinte e cinco organizações
internacionais, reunidos aqui em Salamanca, Espa-
DECLARAÇÃO DE SALAMANCA: SOBRE nha, de 7 a 10 de Junho de 1994, reafirmamos, por
este meio, o nosso compromisso em prol da Edu-
PRINCÍPIOS, POLÍTICAS E PRÁTICAS cação para Todos, reconhecendo a necessidade e a
NA ÁREA DAS NECESSIDADES urgência de garantir a educação para as crianças,
jovens e adultos com necessidades educativas espe-
EDUCATIVAS ESPECIAIS ciais no quadro do sistema regular de educação,
e sancionamos, também por este meio, o Enqua-
A Declaração de Salamanca foi elaborada na Con- dramento da Ação na área das Necessidades Edu-
ferência Mundial sobre Necessidades Educacionais cativas Especiais, de modo a que os governos e as
Especiais, realizada no ano de 1994, em Salamanca, na organizações sejam guiados pelo espírito das suas
Espanha, com a finalidade de estabelecer as diretrizes propostas e recomendações.
básicas para a formulação e reforma de políticas e sis-
temas educacionais para a inclusão social. Em síntese, o item 1 estabelece que a educa-
Trata-se, portanto, de um dos documentos inter- ção é direito de todos e independe das diferenças
nacionais mais importantes para inclusão social, jun- individuais.
tamente com a Convenção de Direitos da Criança, de
1988, e a Declaração sobre Educação para Todos, de
Dica
DIREITOS HUMANOS
1990.
Sua importância advém do fato de ela promover Por necessidades educacionais especiais
uma política baseada na garantia da inclusão das depreende-se não só as necessidades decor-
crianças com necessidades educacionais especiais. A rentes de algum tipo de deficiência como tam-
Declaração de Salamanca foi incorporada às políticas bém todas as outras dificuldades temporárias
educacionais brasileiras. ou permanentes enfrentadas pelas crianças nas
Ela é composta por um preâmbulo e cinco itens. escolas, tais como crianças que são forçadas
O preâmbulo, que é a parte que precede o texto arti- a trabalhar, crianças em situação de rua ou que
culado da Convenção, é composto pelas seguintes
residem longe das escolas, entre outras.
considerações:
77
2. Acreditamos e proclamamos que: O item 3 traz os deveres dos Estados na implemen-
cada criança tem o direito fundamental à educa-
tação de políticas para a inclusão social.
ção e deve ter a oportunidade de conseguir e man-
ter um nível aceitável de aprendizagem, 4. Também apelamos para a comunidade interna-
cional; apelamos em particular:
cada criança tem características, interesses,
capacidades e necessidades de aprendizagem que aos governos com programas cooperativos
lhe são próprias, internacionais e às agências financiadoras inter-
nacionais, especialmente os patrocinadores da
os sistemas de educação devem ser planeados e Conferência Mundial de Educação para Todos, à
os programas educativos implementados tendo em Organização das Nações Unidas para a Educa-
vista a vasta diversidade destas características e ção, a Ciência e a Cultura (UNESCO), ao Fundo
necessidades, das Nações Unidas para a Infância, (UNICEF), ao
as crianças e jovens com necessidades educati- Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas
vas especiais devem ter acesso às escolas regulares, (PNUD), e ao Banco Mundial:
que a elas se devem adequar através duma pedago-
- a que sancionem a perspectiva da escolaridade
gia centrada na criança, capaz de ir ao encontro
inclusiva e apoiem o desenvolvimento da educação
destas necessidades,
de alunos com necessidades especiais, como parte
as escolas regulares, seguindo esta orientação integrante de todos os programas educativos;
inclusiva, constituem os meios mais capazes para
às Nações Unidas e às suas agências especializa-
combater as atitudes discriminatórias, criando
comunidades abertas e solidárias, construindo das, em particular à Organização Internacional do
uma sociedade inclusiva e atingindo a educação Trabalho (OIT), à Organização Mundial de Saúde
para todos; além disso, proporcionam uma educa- (OMS), UNESCO e UNICEF:
ção adequada à maioria das crianças e promovem - a que fortaleçam a sua cooperação técnica, assim
a eficiência, numa óptima relação custo-qualidade, como reforcem a cooperação e trabalho conjunto,
de todo o sistema educativo. tendo em vista um apoio mais eficiente às respos-
tas integradas e abertas às necessidades educativas
O item 2 estabelece, em síntese, que toda criança especiais;
que possui alguma dificuldade de aprendizagem pode
ser considerada com uma necessidade educativa espe- às organizações não-governamentais envolvidas
cial. Além disso, não são os alunos que devem se adap- no planeamento dos países e na organização dos
serviços:
tar às especificidades das escolas, mas sim as escolas
- a que fortaleçam a sua colaboração com as enti-
que devem se adaptar às especificidades dos alunos.
dades oficiais e que intensifiquem o seu crescente
envolvimento no planejamento, implementação e
3. Apelamos a todos os governos e incitamo-los a:
avaliação das respostas inclusivas às necessidades
conceder a maior prioridade, através das medi-
educativas especiais;
das de política e através das medidas orçamen-
tais, ao desenvolvimento dos respectivos sistemas à UNESCO, enquanto agência das Nações Unidas
educativos, de modo a que possam incluir todas para a educação:
as crianças, independentemente das diferenças ou
dificuldades individuais, - a que assegure que a educação das pessoas com
necessidades educativas especiais faça parte de
adotar como matéria de lei ou como política o cada discussão relacionada com a educação para
princípio da educação inclusiva, admitindo todas todos, realizada nos diferentes fóruns;
as crianças nas escolas regulares, a não ser que
haja razões que obriguem a proceder de outro - a que mobilize o apoio das organizações relacio-
modo, nadas com o ensino, de forma a promover a forma-
ção de professores, tendo em vista as respostas às
desenvolver projetos demonstrativos e encorajar necessidades educativas especiais;
o intercâmbio com países que têm experiência de
escolas inclusivas, - a que estimule a comunidade académica a for-
talecer a investigação e o trabalho conjunto e a
estabelecer mecanismos de planeamento, super-
estabelecer centros regionais de informação e de
visão e avaliação educacional para crianças e
documentação; igualmente, a que seja um ponto de
adultos com necessidades educativas especiais, de
encontro destas atividades e um motor de divulga-
modo descentralizado e participativo,
ção dos resultados e do progresso atingido em cada
encorajar e facilitar a participação dos pais, país, no prosseguimento desta Declaração;
comunidades e organizações de pessoas com defi-
ciência no planeamento e na tomada de decisões - a que mobilize fundos, no âmbito do próximo
sobre os serviços na área das necessidades educa- Plano a Médio Prazo (1996-2000), através da cria-
tivas especiais, ção de um programa extensivo de apoio à escola
inclusiva e de programas comunitários, os quais
investir um maior esforço na identificação e nas permitirão o lançamento de projetos-piloto que
estratégias de intervenção precoce, assim como nos demonstrem e divulguem novas perspectivas e pro-
aspectos vocacionais da educação inclusiva, movam o desenvolvimento de indicadores relativos
garantir que, no contexto duma mudança sisté- às carências no sector das necessidades educativas
mica, os programas de formação de professores, especiais e aos serviços que a elas respondem.
tanto a nível inicial como em-serviço, incluam as
respostas às necessidades educativas especiais nas Complementando o item anterior, o item 4 traz um
78 escolas inclusivas. apelo para toda a comunidade internacional.
5. Finalmente, expressamos o nosso caloroso reco- e) Encaminhamento de advertência aos pais e/ou res-
nhecimento ao Governo de Espanha e à UNESCO ponsáveis pela Polícia Militar.
pela organização desta Conferência e solicitamo-
-los a que empreendam todos os esforços no sen- 4. (FGV — 2014) Sobre a matrícula de uma criança de
tido de levar esta Declaração e o Enquadramento 6 anos de idade em uma escola da rede estadual, de
da Ação que a acompanha ao conhecimento da acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente –
comunidade mundial, especialmente a fóruns tão
ECA, os pais ou os responsáveis:
importantes como a Conferência Mundial para o
Desenvolvimento Social (Copenhaga, 1995) e a Con-
ferência Mundial das Mulheres (Beijing, 1995). a) têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos
na rede regular de ensino.
b) devem optar se desejam ou não matricular seus filhos
Por fim, o item 5 faz o pedido de que a Declara-
ou pupilos na rede regular de ensino.
ção seja levada a conhecimento de toda comunida-
c) têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos
de internacional nos eventos agendados para o ano
na rede pública de ensino.
seguinte da aprovação da declaração.
d) têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos
na rede privada de ensino.
e) devem garantir a educação escolar para seus filhos ou
HORA DE PRATICAR! pupilos independentemente da matrícula na rede regu-
lar de ensino.
1. (FGV — 2018) A Constituição Federal de 1988 abre
5. (FGV — 2023) Embora a proclamação da Declaração
caminho para a promulgação do Estatuto da Criança
Universal dos Direitos Humanos (DH) tenha ocorrido
e do Adolescente (ECA), que dá um novo entendimen-
há mais de meio século, uma educação que busque
to à atuação do Judiciário em relação aos direitos de
trazer os princípios dos DH para uma realidade con-
crianças e adolescentes.
creta deve considerar tanto a promoção quanto a
garantia desses direitos no espaço urbano da comuni-
Assim, o ECA é o instrumento legal de defesa dos
dade escolar. Segundo David Harvey, “A liberdade para
direitos e de indicação de deveres voltados para:
nos fazermos e nos refazermos, assim como nossas
cidades, é um dos mais preciosos, ainda que dos
a) o conjunto da população infanto-juvenil.
mais negligenciados, dos nossos direitos humanos. A
b) os menores em situação irregular.
questão sobre qual tipo de cidade queremos não pode
c) as famílias consideradas vulneráveis.
estar divorciada da questão sobre qual tipo de pes-
d) o adolescente delinquente.
soas desejamos ser, quais tipos de relações sociais
e) as crianças e adolescentes abandonadas.
buscamos, qual relação nutrimos com a natureza, qual
modo de vida desejamos”.
2. (FGV — 2017) Assegurar o direito à saúde e à educa-
Adaptado de HARVEY, David. A liberdade da cidade, GEOUSP Espaço
ção ao sujeito menor de 18 anos, de acordo com o e Tempo (v. 13, n. 2, 2009, p. 9.
Estatuto da Criança e do Adolescente, é:
Com base no trecho citado, analise as afirmativas a
a) uma questão não prioritária. seguir a respeito de pensar a cidade como um direito.
b) de responsabilidade exclusiva da família e da
comunidade. I. O direito à cidade deve ultrapassar o direito ao aces-
c) dever exclusivo do poder público e da sociedade. so do que já está disponível, permitindo transformar a
d) de responsabilidade prioritária da comunidade e exclu- cidade em algo que esteja de acordo com os interes-
siva do poder público. ses de seus cidadãos.
e) dever da família, da comunidade, da sociedade e do II. O direito à cidade se expressa em duas demandas
poder público. recorrentes na metrópole paulistana: a ocupação
democrática dos espaços urbanos e o fortalecimento
3. (FGV — 2019) Em caso de os pais, os integrantes da da cultura de participação política.
família ampliada, os responsáveis, os agentes públi- III. O direito à cidade opera como um conceito agluti-
cos executores de medidas socioeducativas ou qual- nador, na medida em que alinha uma série de outras
quer pessoa encarregada de cuidar de crianças e de políticas de inclusão, participação e uso dos espaços
adolescentes aplicarem castigo físico ou tratamento públicos urbanos.
cruel ou degradante como forma de correção, estão
previstas medidas a serem aplicadas. Está correto o que se afirma em:
a) I, apenas.
dessas medidas. b) I e II, apenas.
c) I e III, apenas.
a) Encaminhamento da criança a tratamento especializa- d) II e III, apenas.
do pelo setor de psicologia da escola. e) I, II e III.
b) Encaminhamento a tratamento psicológico ou psi-
quiátrico pela Clínica da Família. 6. (FGV — 2023) A Declaração Universal dos Direitos
c) Encaminhamento a programa oficial ou comunitário Humanos tem como um dos seus objetivos o reconhe-
de proteção à família pelo Ministério Público. cimento da dignidade inerente a todos os membros da
d) Encaminhamento a cursos ou programas de orienta- família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis
ção pelo Conselho Tutelar. sendo o fundamento da liberdade, da justiça e da paz
no mundo. 79
Considerando o texto aprovado pela Assembleia Geral 9. (FGV — 2014) De acordo com o Estatuto do Idoso (Lei
das Nações Unidas (Resolução nº 217-A, III), em 10 de 10.741/03), considera-se idosa a pessoa com idade:
dezembro de 1948, é correto afirmar que:
a) igual ou superior a 60 (sessenta) anos;
a) as férias remuneradas e periódicas não fazem parte b) igual ou superior a 65 (sessenta e cinco) anos;
do direito ao repouso e ao lazer; c) igual ou superior a 70 (setenta) anos;
b) poderá haver casamento válido sem o consentimento d) superior a 60 (sessenta) anos;
livre dos nubentes, desde que previsto em norma legal; e) superior a 65 (sessenta e cinco) anos.
c) caberá ao Estado a prioridade de direito na escolha do
gênero de instrução que será ministrada a seus filhos; 10. (FGV — 2019) Segundo o Estatuto do Idoso, as insti-
d) todo ser humano tem direito a receber dos tribunais tuições de educação superior ofertarão às pessoas
nacionais competentes remédio efetivo para os atos idosas, na perspectiva da educação ao longo da vida,
que violem os direitos fundamentais que lhe sejam cursos e programas de:
reconhecidos pela Constituição ou pela lei;
e) todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito a) profissionalização;
de procurar e de gozar asilo em outros países, mesmo b) graduação;
em caso de perseguição legitimamente motivada por c) aperfeiçoamento;
crimes de direito comum ou por atos contrários aos d) especialização;
objetivos e princípios das Nações Unidas. e) extensão.
7. (FGV — 2022) Após a Segunda Guerra Mundial, mais pre- 11. (FGV — 2015) Segundo preceito contido no Estatuto
cisamente em 10 de dezembro de 1948, foi proclamada do Idoso (Lei nº 10.741, de 2003), fica assegurada a
a Declaração Universal dos Direitos Humanos, reconhe- gratuidade dos transportes coletivos públicos urbanos
cendo a dignidade como direito a toda categoria humana, e semiurbanos, exceto nos serviços seletivos e espe-
além de outros direitos iguais e inalienáveis cujo funda- ciais, quando prestados paralelamente aos serviços
mento é a liberdade e a justiça. Assim sendo, tendo por regulares aos maiores de:
norte a aludida Declaração e a nossa Constituição da
República de 1988, analise os tópicos a seguir. a) 55 (cinquenta e cinco) anos;
b) 60 (sessenta) anos;
I. Segundo prescreve a Declaração Universal dos Direi- c) 65 (sessenta e cinco) anos;
tos Humanos, de 1948, todos os homens nascem d) 70 (setenta) anos;
livres e iguais em dignidade e direito. Dotados de razão e) 75 (setenta e cinco) anos.
e consciência, devem agir uns para com os outros em
espírito de fraternidade. 12. (FGV — 2014) Sebastiana Camargo, 66 (sessenta e
II. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seis) anos, ajuizou ação de indenização em face de
determinado dispositivo, estabelece que ninguém AUTO ÔNIBUS ALVORECER LTDA, empresa de trans-
pode ser exilado. porte urbano, aduzindo, em resumo, que foi impedida
III. No ordenamento constitucional brasileiro vigente, o prin- de embarcar no coletivo da Ré por não portar identifi-
cípio do primado do trabalho é a base da ordem social. A cação do RIOCARD, embora tenha apresentado a sua
falta de trabalho (direito social) afeta a igualdade entre os carteira de identidade, a qual, no seu entender, seria
homens, dando azo às desigualdades sociais. suficiente para demonstrar a sua condição de idosa e
IV. A Declaração Universal prevê a possibilidade de que autorizar o ingresso gratuito no veículo.
toda pessoa tem o direito de abandonar o país em que Contestou a empresa ré o pedido, argumentando que
se encontra e o direito de retornar ao seu país. não haveria ilegalidade na exigência de apresentação
V. Toda pessoa individual tem direito à propriedade, a do cartão RIOCARD, porque este procedimento bus-
coletiva não, conforme consta da Declaração Univer- ca racionalizar o sistema e evitar fraudes, sem ferir o
sal dos Direitos Humanos. direito à gratuidade dos idosos.
Está correto somente o que se afirma em: Considerando o caso acima exposto, é correto afirmar
que:
a) I, II e IV;
b) I, II e V; a) aos maiores de 65 anos fica assegurada a gratuidade
c) I, III e IV; dos transportes coletivos públicos urbanos, semiurba-
d) II, III e IV; nos, nos serviços seletivos e especiais;
e) II, III e V. b) aos maiores de 65 anos fica assegurada a gratuidade
nos transportes coletivos públicos de qualquer natu-
8. (FGV — 2015) O Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003) reza, mediante apresentação do cartão de gratuidade,
destina-se a regular os direitos assegurados às pes- que servirá de prova de sua condição de idoso;
soas com idade igual ou superior a: c) considerando que o intuito do legislador foi a facilita-
ção e a promoção do acesso aos meios de transporte
a) 55 (cinquenta e cinco) anos; aos idosos portadores de doenças crônicas, é lícito
b) 60 (sessenta) anos; que deles se exija a apresentação do cartão RIOCARD,
c) 65 (sessenta e cinco) anos; com vistas a evitar fraudes;
d) 70 (setenta) anos; d) é garantida aos maiores de 65 anos a gratuidade nos
e) 75 (setenta e cinco) anos. transportes coletivos públicos urbanos e semiurba-
nos, condicionada apenas à apresentação de docu-
mento pessoal que comprove a idade do passageiro;
80
e) é garantida aos maiores de 65 anos a gratuidade nos 15. (FGV — 2019) O Estatuto da Pessoa com Deficiência
transportes coletivos públicos urbanos e semiurba- (Lei nº 13.146, de 15), ao tratar da questão da igualda-
nos, limitado o seu exercício a 60 viagens ao mês, que de e da não discriminação, estabelece que:
são fiscalizadas a partir da apresentação do cartão
RIOCARD. a) a deficiência afeta a plena capacidade civil da pessoa,
inclusive para exercer direitos sexuais e reprodutivos;
13. (FGV — 2022) “Considera-se pessoa com deficiência b) a pessoa com deficiência não está obrigada à fruição
aquela que tem impedimento de longo prazo de natu- de benefícios decorrentes de ação afirmativa;
reza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em c) a pessoa com deficiência não pode exercer diretamen-
interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir te o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção;
sua participação plena e efetiva na sociedade em d) os profissionais da área de saúde devem promover a
igualdade de condições com as demais pessoas”. esterilização compulsória da pessoa com deficiência;
e) a deficiência não compromete a plena capacidade
(Art. 2 da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, civil da pessoa, exceto para casar-se e constituir união
2015.) estável.
Com base no conceito de “pessoa com deficiência” 16. (FGV — 2019) As afirmativas a seguir exemplificam
referido acima, leia as práticas descritas a seguir: corretamente iniciativas adotadas para tornar o
1. Providenciar rampas, banheiros adaptados, platafor- ambiente escolar um espaço inclusivo, de acordo com
mas elevatórias, piso tátil, entre outros. as orientações da Lei nº 13.146/2015, à exceção de
2. Implantar processos de diversificação curricular, flexi- uma. Assinale-a.
bilização do tempo e formas de conceber a aprendiza-
gem e a avaliação. a) O aluno surdo precisa ser incluído em uma classe com
seus pares, para treinar a linguagem dos sinais.
Essas práticas atendem, respectivamente, aos seguin- b) O aluno cego precisa de material em Braille, além de
tes tipos de acessibilidade: marcações no piso para seu percurso.
c) O aluno com síndrome de Down necessita de ativida-
a) instrumental e atitudinal. des multissensoriais e que ativem a motricidade.
b) arquitetônica e metodológica. d) O aluno hiperativo precisa de atendimento individuali-
c) pedagógica e programática. zado com regras claras.
d) comunicacional e instrumental. e) O aluno com paralisia cerebral necessita de recursos
e) física e tecnológica. pedagógicos adaptados para suas capacidades.
14. (FGV — 2019) O adolescente Pedro, pessoa com defi- 17. (FGV — 2017) Em 2018, Ana cursará o 1º período da
ciência, acompanhado de seus pais, compareceu à graduação em nutrição em uma universidade privada.
Secretaria de Educação do Município Alfa e solicitou Ana é surda e necessita de tradutor e intérprete da
a concessão de certos mecanismos de tecnologia LIBRAS para o acompanhamento das aulas.
assistiva. Esses mecanismos se mostravam neces-
sários para a superação de algumas barreiras que Diante da situação e de acordo com a Lei nº 13.146/2015,
se apresentavam para o desenvolvimento do pleno a universidade em que Ana estudará, deverá:
aprendizado de Pedro no âmbito da escola pública
municipal em que se encontrava matriculado. a) contratar um intérprete e tradutor da LIBRAS, aumen-
tando em 20% do valor da mensalidade da escola;
À luz da ordem jurídica vigente, é correto afirmar que b) contratar profissional titulado em nível superior com habi-
Pedro: litação em tradução e interpretação em LIBRAS, repas-
sando 20% dos gastos com a contratação para Ana;
a) não tem direito à obtenção de mecanismos dessa c) contratar intérprete e tradutor da LIBRAS que possua
natureza, já que a encampação, pela Administração nível superior, com habilitação, prioritariamente, em
Pública, de evoluções tecnológicas, configura faculda- Tradução e Interpretação em LIBRAS, sendo vedada
de, não obrigação, sendo matéria estranha à proteção qualquer cobrança adicional à Ana;
das pessoas com deficiência. d) contratar intérprete e tradutor da LIBRAS que possua
b) não tem direito à obtenção de mecanismos des- o ensino médio concluído, e curso de Tradução e Inter-
sa natureza, pois a Administração Pública somente pretação em LIBRAS, sendo vedada qualquer cobran-
tem a obrigação de afastar as barreiras urbanísticas, ça adicional à Ana;
arquitetônicas, nos transportes, nas comunicações e e) solicitar que Ana e sua família providenciem o tradutor
atitudinais. e intérprete da LIBRAS para o acompanhamento das
c) tem direito à obtenção de mecanismos dessa nature-
DIREITOS HUMANOS
aulas.
za, se necessários à ampliação de suas habilidades
funcionais, sendo que a recusa de fornecimento é con- 18. (FGV — 2019) A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
siderada discriminação em razão da deficiência. com Deficiência estabelece que em todas as áreas de
d) não tem direito à obtenção de mecanismos dessa estacionamento aberto ao público, de uso público ou
natureza, pois a Administração Pública somente tem privado de uso coletivo e em vias públicas, devem ser
a obrigação de afastar as barreiras urbanísticas, arqui- reservadas vagas próximas aos acessos de circulação
tetônicas e negacionistas. de pedestres, devidamente sinalizadas, para veículos
e) tem direito à obtenção de tecnologias assistivas, que que transportem pessoa com deficiência com com-
abrangem as adaptações e as modificações em cons- prometimento de mobilidade, desde que devidamente
truções e estruturas, as quais ostentam caráter inclu- identificados.
sivo da pessoa com deficiência.
81
Nesse contexto, a mencionada lei dispõe que: Após visitar as salas de aula, com a ajuda dos alunos,
foi produzida uma cartilha com a ilustração a seguir.
a) os veículos estacionados nas vagas reservadas não
Ressaltos, desníveis ou
podem ser obrigados a exibir, em local de ampla visi- 1 2 obstáculos (palco) no piso
Portas e portões estreitos
bilidade, a credencial de beneficiário, a ser confeccio- das salas onde funcionam
as seções eleitorais
nada e fornecida pelos órgãos de trânsito, para não
serem estereotipados;
b) as citadas vagas devem equivaler a 2% (dois por cen- 1
to) do total, garantida, no mínimo, 1 (uma) vaga devida-
mente sinalizada e com as especificações de desenho
e traçado de acordo com as normas técnicas vigentes 3
de acessibilidade;
c) as frotas de empresas de táxi devem reservar 1% (um 2
por cento) de seus veículos acessíveis à pessoa com
Fios da urna
deficiência e os veículos que estejam efetivamente 3 eletrônica não
transportando pessoa com deficiência terão priorida- fixados
7 C
As afirmativas são, respectivamente,
8 B
a) F, V e F.
b) V, V e V. 9 A
c) V, F e V. 10 E
d) V, F e F.
e) F, F e V. 11 C
16 D
82
17 C
18 B
19 C
20 B
ANOTAÇÕES
DIREITOS HUMANOS
83
ANOTAÇÕES
84