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Secretaria de Educação de Minas Gerais

Conteúdo Complementar
Analista Educacional (ANE-IE)
Obra

SEE-MG – Secretaria de Educação de Minas Gerais


Analista Educacional (ANE-IE)

Autores

DIREITOS HUMANOS • Aline Melo Borges, Ana Philippini, Camila Cury e Samantha Rodrigues

Edição: Maio/2023

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SUMÁRIO

DIREITOS HUMANOS...........................................................................................................5
LEI FEDERAL Nº 8.069, DE 1990 - ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - ECA.............. 5

LEI FEDERAL Nº 13.146, DE 2015 - LEI BRASILEIRA DE INCLUSÃO DA PESSOA COM


DEFICIÊNCIA (ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA)........................................................... 31

LEI FEDERAL Nº 10.741, DE 2003 – ESTATUTO DA PESSOA IDOSA............................................. 45

CONCEITO DE DIREITOS HUMANOS................................................................................................. 55

EVOLUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS E SUAS IMPLICAÇÕES PARA O CAMPO


EDUCACIONAL.................................................................................................................................... 56

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS.................................................................. 58

TEMAS TRANSVERSAIS, PROJETOS INTERDISCIPLINARES E EDUCAÇÃO EM DIREITOS


HUMANOS........................................................................................................................................... 65

DIREITOS HUMANOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL...................................................................... 67

DIREITOS ÉTNICO-RACIAIS............................................................................................................... 73

DECLARAÇÃO DE SALAMANCA: SOBRE PRINCÍPIOS, POLÍTICAS E PRÁTICAS NA ÁREA


DAS NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS............................................................................... 77
MENORES DE 18
MAIORES DE 18 ANOS ANOS (CRIANÇAS E
(IMPUTÁVEIS) ADOLESCENTES SOB
PROTEÇÃO DO ECA)

DIREITOS HUMANOS Atos infracionais


Podem ser apreendidos
Crimes
Estão sujeitos a medidas
Podem ser presos
socioeducativas (ado-
Estão sujeitos ao cumpri-
lescentes) e a medidas
LEI FEDERAL Nº 8.069, DE 90 - mento de pena
de proteção (crianças e
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO adolescentes)
ADOLESCENTE - ECA
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Ter acesso à saúde, à educação, manter relações
As disposições preliminares do Estatuto da Crian-
sociais saudáveis, ter uma alimentação adequada, ça e do Adolescente estão contidas nos arts. 1º a 6º.
atendimento e acompanhamento médico de qualida- Vemos que o principal objetivo do referido estatuto
de são indispensáveis para que crianças e adolescen- está descrito em seu art. 1º, qual seja: a proteção inte-
tes cresçam saudáveis física e mentalmente. gral à criança e ao adolescente.
Todos os direitos básicos e fundamentais para o
desenvolvimento saudável da criança e do adolescen- Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à
criança e ao adolescente.
te têm respaldo constitucional, especificamente no
art. 227. Veja:
Essa proteção é uma doutrina, inclusive constitu-
cionalmente estabelecida, tal a importância do insti-
Art. 227 (CF, de 1988) É dever da família, da socie-
tuto, sendo indispensável ter em mente a literalidade
dade e do Estado assegurar à criança, ao adoles- disposta no art. 227, da Constituição Federal.
cente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito Conforme o artigo citado, a proteção integral é
à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, dever da família, da sociedade e do Estado, e indica
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao res- que nada deve faltar à criança e ao adolescente em
peito, à liberdade e à convivência familiar e comu- todas as suas necessidades essenciais.
nitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de Na interpretação dos dispositivos do ECA, é neces-
negligência, discriminação, exploração, violência, sário levar em conta os fins sociais aos quais eles
crueldade e opressão. se dirigem, as exigências do bem comum, os direitos
e deveres individuais e coletivos e a condição pecu-
Contudo, tornou-se imprescindível a criação de liar da criança e do adolescente como pessoas em
legislação especial para regulamentar sobre as pecu- desenvolvimento.
O critério que define quem é legalmente conside-
liaridades e sobre a proteção que deve ser direciona-
rado criança ou adolescente é a idade.
da aos adolescentes e às crianças. O ECA estabelece, em seu art. 2º, que são crianças
Desta maneira, foi publicada a Lei nº 8.069, de 13 aqueles que possuírem até 12 anos incompletos (11
de julho de 1990, denominada Estatuto da Criança e anos e onze meses), e adolescentes aqueles com ida-
do Adolescente (ECA). de de 12 a 18 anos.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS ACERCA DO ESTATUTO Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta
DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos,
e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade.
Primeiramente, é importante tecer algumas consi- Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, apli-
derações acerca de termos comuns da lei em questão. ca-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas
Crianças e adolescentes não cometem crimes, mas, entre dezoito e vinte e um anos de idade.
sim, atos infracionais. O ato infracional consiste na
conduta descrita como crime ou contravenção Criança
Até 12 anos
incompletos
penal, conforme estabelece o art. 103, do ECA, que ECA — ART. 2º
DIREITOS HUMANOS

será estudado em momento oportuno. Adolescente


De 12
a 18 anos
O menor sob a proteção do Estatuto da Criança
e do Adolescente jamais será preso, mas, nas hipó-
teses estritamente previstas no ECA, poderá ser O parágrafo único apresenta uma exceção à regra
apreendido. relativa ao critério etário, ao estabelecer que, excep-
cionalmente, o Estatuto da Criança e do Adolescente
Finalmente, o menor sob a proteção do referido
poderá ser aplicado a pessoas entre 18 e 21 anos de
texto legal não será submetido a pena, e, sim, a medi-
idade. Esta determinação possui relação direta com
das socioeducativas (aplicáveis somente a adoles- duas disposições estatutárias: a primeira é o art. 40,
centes) e a medidas de proteção (para crianças e do ECA, que prevê a aplicação do parágrafo único, do
adolescentes). art. 12, nos casos de jovens entre 18 e 21 anos de idade
que, à época do pedido de adoção, já se encontravam 5
sob a guarda e tutela dos adotantes; a segunda é o § 5º, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
do art. 121, também do ECA, que prevê a aplicação de facilidades, a fim de facultar-lhes o desenvolvimen-
medidas socioeducativas de internação e de manuten- to físico, mental, moral, espiritual e social, em con-
ção do jovem sob a custódia do Estado até os 21 anos dições de liberdade e de dignidade;
de idade.
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será obje-
Art. 40 O adotando deve contar com, no máximo, to de qualquer forma de negligência, discrimina-
dezoito anos à data do pedido, salvo se já estiver ção, exploração, violência, crueldade e opressão,
sob a guarda ou tutela dos adotantes. punido na forma da lei qualquer atentado, por ação
Art. 121 [...] ou omissão, aos seus direitos fundamentais.
§ 5º A liberação será compulsória aos vinte e um
anos de idade. z Princípio da não discriminação: os direitos enun-
ciados na Lei nº 8.069, de 1990, aplicam-se a todas as
Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça (STF) crianças e adolescentes, sem discriminação de nas-
adota a corrente que entende que há uma distin- cimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou
ção entre as esferas cíveis e penais. Portanto, com o cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal
advento do Código Civil de 2002, o ECA não se apli-
de desenvolvimento e aprendizagem, condição eco-
ca aos maiores de 18 anos. Contudo, em relação aos
nômica, ambiente social, região e local de moradia ou
aspectos infracionais, aplica-se o parágrafo único, do
outra condição que diferencie as pessoas, as famílias
art. 2º, do ECA, uma vez que o próprio Estatuto prevê
ou a comunidade em que vivem.
liberação compulsória aos 21 anos de idade.
Veja a decisão do STJ:
Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em
conta os fins sociais e a que ela se dirige, as exi-
HABEAS CORPUS. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
gências do bem comum, os direitos e deveres indivi-
ADOLESCENTE. MEDIDA SOCIOEDUCATIVA.
duais e coletivos, e a condição peculiar da criança e
SEMILIBERDADE. MENOR QUE COMPLETARA
do adolescente como pessoas em desenvolvimento.
DEZOITO ANOS. PRETENSÃO DE EXTINÇÃO DA
MEDIDA. CONTRARIEDADE LEGAL. ART. 120, §
2º. IMPOSSIBILIDADE. ORDEM DENEGADA. DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
1. A teor do que dispõe o art. 104, parágrafo único,
da Lei 8.069/90, considera-se a idade do menor à Do Direito à Vida e à Saúde
época da prática do ato infracional.
2. Somente quando o reeducando completar 21 O Estado, em todas as suas esferas (federal, estadual
anos de idade será obrigatoriamente liberado, nos e municipal), tem o dever de fomentar políticas públicas
termos do art. 121, § 5º, do Estatuto da Criança e do voltadas à proteção integral da saúde de crianças e ado-
Adolescente, que não foi alterado com a entrada em lescentes, em regime de mais absoluta prioridade.
vigor da Lei 10.406/02.
3. Ausência de ilegal constrangimento decorrente
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos
da manutenção da medida socioeducativa imposta
os direitos fundamentais inerentes à pessoa huma-
a infrator que atingira os 18 anos de idade.
4. Ordem denegada. na, sem prejuízo da proteção integral de que trata
esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros
meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim
Princípios Fundamentais
de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental,
moral, espiritual e social, em condições de liberda-
O ECA estabelece três princípios fundamentais: de e de dignidade.
Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei
z Princípio da prioridade absoluta: é dever da aplicam-se a todas as crianças e adolescentes, sem
família, da comunidade, da sociedade em geral discriminação de nascimento, situação familiar,
e do poder público assegurar, com absoluta prio- idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença,
ridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento
à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao e aprendizagem, condição econômica, ambiente
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, social, região e local de moradia ou outra condição
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e que diferencie as pessoas, as famílias ou a comu-
comunitária. A garantia de prioridade, de acordo nidade em que vivem. (incluído pela Lei nº 13.257,
com o parágrafo único, do art. 4º, compreende: de 2016)
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da socie-
a) primazia de receber proteção e socorro em dade em geral e do poder público assegurar, com
quaisquer circunstâncias; absoluta prioridade, a efetivação dos direitos refe-
b) precedência do atendimento nos serviços rentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação,
públicos ou de relevância pública; ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura,
c) preferência na formulação e na execução à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivên-
das políticas sociais públicas; cia familiar e comunitária.
d) destinação privilegiada de recursos públi- Parágrafo único. A garantia de prioridade
cos nas áreas relacionadas com a proteção à infân- compreende:
cia e à juventude. a) primazia de receber proteção e socorro em quais-
quer circunstâncias;
z Princípio da dignidade: a criança e o adolescente b) precedência de atendimento nos serviços públi-
gozam de todos os direitos fundamentais inerentes cos ou de relevância pública;
à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral c) preferência na formulação e na execução das
6 de que trata o estatuto em questão, assegurando-lhes, políticas sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas cesariana e outras intervenções cirúrgicas por
áreas relacionadas com a proteção à infância e à motivos médicos.
juventude. § 9º A atenção primária à saúde fará a busca ativa
da gestante que não iniciar ou que abandonar as
Para tanto, devem ser destinados percentuais consultas de pré-natal, bem como da puérpera que
mínimos em política social básica de saúde com foco não comparecer às consultas pós-parto.
na criança e no adolescente. Não é possível respeitar § 10 Incumbe ao poder público garantir, à gestante
direitos fundamentais sem destinação mínima de e à mulher com filho na primeira infância que se
encontrem sob custódia em unidade de privação
recursos para essa finalidade. Tais recursos devem ser
de liberdade, ambiência que atenda às normas
aplicados à luz do princípio da máxima eficiência.
sanitárias e assistenciais do Sistema Único de
Veja o que diz o art. 7º, do ECA: Saúde para o acolhimento do filho, em articulação
com o sistema de ensino competente, visando ao
Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a pro- desenvolvimento integral da criança.
teção à vida e à saúde, mediante a efetivação de Art. 8º-A Fica instituída a Semana Nacional de
políticas sociais públicas que permitam o nasci- Prevenção da Gravidez na Adolescência, a ser rea-
mento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em lizada anualmente na semana que incluir o dia 1º
condições dignas de existência. de fevereiro, com o objetivo de disseminar informa-
ções sobre medidas preventivas e educativas que
Com relação à proteção à vida, todas as legisla- contribuam para a redução da incidência da gravi-
ções consagram tal direito como aquele necessário à dez na adolescência.
consecução dos demais. É interessante observar que Parágrafo único. As ações destinadas a efetivar o
o art. 8º e seus respectivos parágrafos dispõem sobre disposto no caput deste artigo ficarão a cargo do
os direitos da mulher durante toda a gestação e após poder público, em conjunto com organizações da
o parto com a finalidade de garantir o bem-estar do sociedade civil, e serão dirigidas prioritariamente
feto. Os cuidados com a mãe devem ocorrer tanto no ao público adolescente.
plano físico quanto no emocional.
A primeira infância compreende o período entre
Art. 8º É assegurado a todas as mulheres o acesso os primeiros seis anos completos ou 72 meses de
aos programas e às políticas de saúde da mulher vida da criança.
e de planejamento reprodutivo e, às gestantes, O aleitamento materno deve ser estimulado, por
nutrição adequada, atenção humanizada à meio de campanhas de orientação, ao menos, até o
gravidez, ao parto e ao puerpério e atendimen- sexto mês de vida da criança.
to pré-natal, perinatal e pós-natal integral no
âmbito do Sistema Único de Saúde. Art. 9º O poder público, as instituições e os empre-
§ 1º O atendimento pré-natal será realizado por gadores propiciarão condições adequadas ao
profissionais da atenção primária. aleitamento materno, inclusive aos filhos de
§ 2º Os profissionais de saúde de referência da mães submetidas à medida privativa de liberdade.
gestante garantirão sua vinculação, no último § 1º Os profissionais das unidades primárias de saú-
trimestre da gestação, ao estabelecimento em que de desenvolverão ações sistemáticas, individuais
será realizado o parto, garantido o direito de ou coletivas, visando ao planejamento, à implemen-
opção da mulher. tação e à avaliação de ações de promoção, proteção
§ 3º Os serviços de saúde onde o parto for reali- e apoio ao aleitamento materno e à alimentação
zado assegurarão às mulheres e aos seus filhos complementar saudável, de forma contínua.
recém-nascidos alta hospitalar responsável e con- § 2º Os serviços de unidades de terapia intensiva
trarreferência na atenção primária, bem como neonatal deverão dispor de banco de leite humano
o acesso a outros serviços e a grupos de apoio à ou unidade de coleta de leite humano.
amamentação.
§ 4º Incumbe ao poder público proporcionar Visando ao crescimento saudável como direi-
assistência psicológica à gestante e à mãe, no to de todos os menores, as presidiárias têm direi-
período pré e pós-natal, inclusive como forma de to a amamentar seus filhos. O inciso XLV, do art. 5º,
prevenir ou minorar as consequências do estado da Constituição Federal, faz alusão ao princípio da
puerperal. intranscendência ou pessoalidade da pena, ou seja,
§ 5º A assistência referida no § 4º deste artigo deve- somente a pessoa sentenciada irá responder pelo cri-
rá ser prestada também a gestantes e mães que me que praticou. Assim sendo, o caráter tutelar do
manifestem interesse em entregar seus filhos para art. 9º, do ECA, visa reafirmar a proteção ao direito
adoção, bem como a gestantes e mães que se encon- de amamentação ao filho da mulher que estiver cum-
trem em situação de privação de liberdade.
prindo pena de reclusão.
DIREITOS HUMANOS

§ 6º A gestante e a parturiente têm direito a 1


O caráter tutelar do ECA garante os direitos da
(um) acompanhante de sua preferência durante
criança que não podem ser suprimidos pela situação
o período do pré-natal, do trabalho de parto e do
pós-parto imediato.
em que se encontra sua genitora, como consequência
§ 7º A gestante deverá receber orientação sobre da proteção integral aos mesmos.
aleitamento materno, alimentação complementar Além disso, o ECA, visando tutelar o recém-nasci-
saudável e crescimento e desenvolvimento infantil, do, trouxe uma série de regras aos estabelecimentos
bem como sobre formas de favorecer a criação de de saúde que atendem gestantes.
vínculos afetivos e de estimular o desenvolvimento De acordo com o que estabelece o art. 10, os hos-
integral da criança. pitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde
§ 8º A gestante tem direito a acompanhamento de gestantes, públicos e particulares, são obrigados a:
saudável durante toda a gestação e a parto natu-
ral cuidadoso, estabelecendo-se a aplicação de 7
Art. 10 […] O acesso universal não derroga, ou seja, não anula,
I - manter registro das atividades desenvolvi- a necessidade de metodologia própria para o enfren-
das, através de prontuários individuais, pelo prazo tamento das diversas demandas e situações pecu-
de dezoito anos; liares às quais estão sujeitos os recém-nascidos, de
II - identificar o recém-nascido mediante o regis- acordo com o art. 11:
tro de sua impressão plantar e digital e da impres-
são digital da mãe, sem prejuízo de outras formas § 1º A criança e o adolescente com deficiência serão
normatizadas pela autoridade administrativa atendidos, sem discriminação ou segregação, em
competente; suas necessidades gerais de saúde e específicas de
III - proceder a exames visando ao diagnóstico habilitação e reabilitação. (Redação dada pela Lei
e terapêutica de anormalidades no metabolis- nº 13.257, de 2016)
mo do recém-nascido, bem como prestar orienta- § 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuita-
ção aos pais; mente, àqueles que necessitarem, medicamentos,
IV - fornecer declaração de nascimento onde órteses, próteses e outras tecnologias assistivas
constem necessariamente as intercorrências do relativas ao tratamento, habilitação ou reabi-
parto e do desenvolvimento do neonato; litação para crianças e adolescentes, de acordo
V - manter alojamento conjunto, possibilitando com as linhas de cuidado voltadas às suas necessida-
ao neonato a permanência junto à mãe. des específicas. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de
VI - acompanhar a prática do processo de 2016)
amamentação, prestando orientações quanto à § 3º Os profissionais que atuam no cuidado diário ou
técnica adequada, enquanto a mãe permanecer na frequente de crianças na primeira infância receberão
unidade hospitalar, utilizando o corpo técnico já formação específica e permanente para a detecção de
existente. sinais de risco para o desenvolvimento psíquico, bem
§ 1º Os testes para o rastreamento de doenças como para o acompanhamento que se fizer necessá-
no recém-nascido serão disponibilizados pelo rio. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Sistema Único de Saúde, no âmbito do Programa Art. 12 Os estabelecimentos de atendimento à
Nacional de Triagem Neonatal (PNTN), na forma saúde, inclusive as unidades neonatais, de terapia
da regulamentação elaborada pelo Ministério da intensiva e de cuidados intermediários, deverão
Saúde, com implementação de forma escalonada, proporcionar condições para a permanência em
de acordo com a seguinte ordem de progressão: tempo integral de um dos pais ou responsável, nos
I - etapa 1: casos de internação de criança ou adolescente.
a) fenilcetonúria e outras hiperfenilalaninemias;
b) hipotireoidismo congênito; Os estabelecimentos que atendem as gestantes
c) doença falciforme e outras hemoglobinopatias; deverão proporcionar condições para a permanência
d) fibrose cística; em tempo integral de um dos pais ou do respon-
e) hiperplasia adrenal congênita; sável, nos casos de internação de criança ou adoles-
f) deficiência de biotinidase; cente. Os pais ou o responsável poderão fiscalizar o
g) toxoplasmose congênita; atendimento que está sendo dispensado ao seu filho,
II - etapa 2: garantindo-lhe rápida recuperação.
a) galactosemias; O art. 13 estabelece que qualquer suspeita ou con-
b) aminoacidopatias; firmação de crianças ou adolescentes submetidos a
c) distúrbios do ciclo da ureia; castigo físico, a tratamento cruel e degradante ou
d) distúrbios da betaoxidação dos ácidos graxos; a maus-tratos deverá ser, obrigatoriamente, comu-
III - etapa 3: doenças lisossômicas; nicada ao Conselho Tutelar da respectiva localidade.
IV - etapa 4: imunodeficiências primárias;
V - etapa 5: atrofia muscular espinhal.
Art. 13 Os casos de suspeita ou confirmação de cas-
§ 2º A delimitação de doenças a serem rastreadas
tigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de
pelo teste do pezinho, no âmbito do PNTN, maus-tratos contra criança ou adolescente serão
será revisada periodicamente, com base em obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tute-
evidências científicas, considerados os benefícios lar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras
do rastreamento, do diagnóstico e do tratamento providências legais.
precoce, priorizando as doenças com maior
prevalência no País, com protocolo de tratamento
A omissão da comunicação de agressões contra
aprovado e com tratamento incorporado no
crianças e adolescentes importa na prática de infra-
Sistema Único de Saúde.
ção administrativa, prevista no art. 245, do ECA. Nas
§ 3º O rol de doenças constante do § 1º deste artigo
poderá ser expandido pelo poder público com base
situações em que pese a alusão ao Conselho Tutelar, é
nos critérios estabelecidos no § 2º deste artigo. mais adequado que os casos de suspeita ou confirma-
§ 4º Durante os atendimentos de pré-natal e de ção de violência contra crianças e adolescentes sejam
puerpério imediato, os profissionais de saúde diretamente comunicados à autoridade policial.
devem informar a gestante e os acompanhantes
sobre a importância do teste do pezinho e sobre § 1º As gestantes ou mães que manifestem interesse
as eventuais diferenças existentes entre as em entregar seus filhos para adoção serão obri-
modalidades oferecidas no Sistema Único de Saúde gatoriamente encaminhadas, sem constrangi-
e na rede privada de saúde. mento, à Justiça da Infância e da Juventude.
Art. 11 É assegurado acesso integral às linhas
de cuidado voltadas à saúde da criança e do O objetivo do legislador com esse dispositivo é coi-
adolescente, por intermédio do Sistema Único bir práticas ilegais, abusivas ou criminosas de adoção
de Saúde, observado o princípio da equidade no mediante pagamento ou promessa de recompensa. As
acesso a ações e serviços para promoção, proteção mães que pretendem entregar seus filhos para a ado-
8 e recuperação da saúde. ção devem receber a devida orientação psicológica e
jurídica, de modo que a criança também tenha iden- O princípio da dignidade da pessoa humana é uni-
tificada sua paternidade e que lhe sejam asseguradas versalmente consagrado, sendo inerente a todo ser
condições de permanência junto à família de origem. humano, independentemente da idade.
No art. 16, podemos encontrar expresso o direito à
§ 2º Os serviços de saúde em suas diferentes portas de liberdade, que compreende os seguintes aspectos:
entrada, os serviços de assistência social em seu com-
ponente especializado, o Centro de Referência Especia- Art. 16 O direito à liberdade compreende os seguin-
lizado de Assistência Social (Creas) e os demais órgãos tes aspectos:
do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços
Adolescente deverão conferir máxima prioridade ao comunitários, ressalvadas as restrições legais;
atendimento das crianças na faixa etária da primeira
infância com suspeita ou confirmação de violência de Como ocorrência desse dispositivo, não mais se admi-
qualquer natureza, formulando projeto terapêutico te a expedição de “portarias” judiciais estabelecendo
singular que inclua intervenção em rede e, se necessá- “toques de recolher” para crianças e adolescentes.
rio, acompanhamento domiciliar.
II - opinião e expressão;
Institui-se, a partir do Marco Legal da Primeira
Infância (de zero a seis anos de idade), uma “priori- Trata-se da reafirmação da obrigatoriedade da
dade dentro da prioridade”, como forma de evitar oitiva da criança ou do adolescente quando da apli-
prejuízos decorrentes da demora na realização das cação de medidas socioeducativas dispostas nos arts.
intervenções a favor das crianças e dos adolescentes 101 e 112, do ECA, que serão estudadas em momentos
vítimas de violência. Isso pressupõe planejamento de oportuno.
ações, protocolos de atendimento, adequação de espa-
ços e equipamentos e qualificação de servidores. III - crença e culto religioso;
O art. 14, por sua vez, estabelece que o Sistema IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;
Único de Saúde promoverá programas de assistên- V - participar da vida familiar e comunitária, sem
cia odontológica para a prevenção das enfermidades discriminação;
que ordinariamente afetam a população infantil, bem VI - participar da vida política, na forma da lei;
como campanhas de educação sanitária para pais,
educadores e alunos. Refere-se ao alistamento eleitoral e ao voto facul-
Dispõe, ainda, em seus respectivos parágrafos: tativo para maiores de 16 e menores de 18 anos de
idade.
Art. 14 [...]
§ 1º É obrigatória a vacinação das crianças nos VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.
casos recomendados pelas autoridades sanitárias.
§ 2º O Sistema Único de Saúde promoverá a aten- O art. 17 trata do direito ao respeito, que consiste
ção à saúde bucal das crianças e das gestantes, de em três pilares:
forma transversal, integral e intersetorial com as
demais linhas de cuidado direcionadas à mulher e z inviolabilidade da integridade física;
à criança. z inviolabilidade psíquica;
§ 3º A atenção odontológica à criança terá função z integridade moral.
educativa protetiva e será prestada, inicialmente,
antes de o bebê nascer, por meio de aconselhamen-
Esses valores abrangem a preservação da ima-
to pré-natal, e, posteriormente, no sexto e no déci-
gem, da identidade, da autonomia, dos valores,
mo segundo anos de vida, com orientações sobre
ideias e crenças e dos espaços e objetos pessoais
saúde bucal.
§ 4º A criança com necessidade de cuidados odonto- das crianças e adolescentes.
lógicos especiais será atendida pelo Sistema Único Não incumbe ao Conselho Tutelar a investigação
de Saúde. criminal acerca da efetiva ocorrência de maus-tratos.
§ 5º É obrigatória a aplicação a todas as crianças, A notícia deve ser encaminhada ao Ministério Público,
nos seus primeiros dezoito meses de vida, de proto- que decidirá ou não pela propositura de ação judicial.
colo ou outro instrumento construído com a finali- Veja a literalidade disposta no art. 18, do ECA:
dade de facilitar a detecção, em consulta pediátrica
de acompanhamento da criança, de risco para o Art. 18 É dever de todos velar pela dignidade da
seu desenvolvimento psíquico. criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qual-
quer tratamento desumano, violento, aterrorizan-
DIREITOS HUMANOS

Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade te, vexatório ou constrangedor.

A partir do art. 15, o Estatuto da Criança e do Todo cidadão tem o dever de agir em sua defesa,
Adolescente prevê regras para garantia do direito à diante de qualquer ameaça ou violação. A inércia,
liberdade, ao respeito e à dignidade à criança e ao em tais casos, pode mesmo levar à responsabilização
adolescente. daquele que se omitiu.
Quanto ao direito à preservação da imagem, deve
Art. 15 A criança e o adolescente têm direito à ser esclarecido que este se reveste de duplo conteúdo:
liberdade, ao respeito e à dignidade como pes- moral, porque direito de personalidade, e patrimo-
soas humanas em processo de desenvolvimento e nial, uma vez que a ninguém é lícito locupletar-se à
como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais custa alheia.
garantidos na Constituição e nas leis. 9
Em se tratando de direito à imagem, a obrigação I - encaminhamento a programa oficial ou comuni-
da reparação decorre do próprio uso indevido do tário de proteção à família;
direito personalíssimo, não havendo de cogitar-se II - encaminhamento a tratamento psicológico ou
da prova da existência de prejuízo ou dano, nem a psiquiátrico;
consequência do uso, se ofensivo ou não. Independe de III - encaminhamento a cursos ou programas de
prova do prejuízo a indenização pela publicação não orientação;
IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamen-
autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos
to especializado;
ou comerciais.
V - advertência.
É considerada infração administrativa o ato de VI - garantia de tratamento de saúde especializado
divulgar, total ou parcialmente, sem autorização devi- à vítima.
da, por qualquer meio de comunicação, nome, ato ou Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo
documento de procedimento policial, administrativo serão aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuí-
ou judicial relativo à criança ou adolescente a que se zo de outras providências legais.
atribua ato infracional.
Além disso, é considerada não infração adminis- As medidas relacionadas nos incisos, do art. 18-B,
trativa, mas também crime, a conduta de subtrair têm maior abrangência em aplicação, posto que tam-
criança ou adolescente ao poder de quem o tem sob bém podem atingir outros agentes autores de vio-
sua guarda em virtude de lei ou ordem judicial, com o lência contra crianças e adolescentes. Interessante
fim de colocação em lar substituto. Tal conduta pode observar que as medidas arroladas acima não são de
resultar em pena de multa de três a 20 salários de caráter punitivo (a punição, nesse caso, deverá ocor-
referência, aplicando-se o dobro em caso de reinci- rer no âmbito jurídico, com a instauração do devido
dência (art. 237). processo legal). Sua aplicação, como visto no parágra-
O ECA, no art. 18-A, cuidou em estabelecer a dife- fo único, é de responsabilidade do Conselho Tutelar.
rença entre castigo físico e tratamento cruel ou degra-
dante, e, no art. 18-B, estabeleceu medidas aplicáveis Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária
às referidas situações:
Trata-se de um dos direitos fundamentais a serem
Art. 18-A A criança e o adolescente têm o direito de assegurados a todas as crianças e adolescentes com a
ser educados e cuidados sem o uso de castigo físi- mais absoluta prioridade, tendo a lei criado meca-
co ou de tratamento cruel ou degradante, como nismos para, de um lado (e de forma preferencial),
formas de correção, disciplina, educação ou qual- permitir a manutenção e o fortalecimento dos vín-
quer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da culos com a família natural (ou de origem), e, de
família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes outro, quando por qualquer razão isso não for possí-
públicos executores de medidas socioeducativas ou vel, proporcionar a inserção em família substituta
por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tra- de forma criteriosa e responsável, procurando evitar
tá-los, educá-los ou protegê-los.
os efeitos deletérios tanto da chamada “institucionali-
zação” quanto de uma colocação familiar precipitada,
A legislação procurou deixar ainda mais explícito o desnecessária e/ou inadequada.
direito de as crianças e os adolescentes serem criados e Nesse sentido, estabelece o art. 19, do ECA:
educados de uma forma não violenta, não apenas pelos
pais ou pelo responsável, mas por quaisquer pessoas Art. 19 É direito da criança e do adolescente ser
encarregadas de cuidá-los, tratá-los, educá-los e pro- criado e educado no seio de sua família e, excepcio-
tegê-los. Isso inclui profissionais da saúde, educação e nalmente, em família substituta, assegurada a con-
assistência social que atuem em programas e serviços de vivência familiar e comunitária, em ambiente que
atendimento, bem como as autoridades públicas. garanta seu desenvolvimento integral.

Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se: O menor colocado em programa de acolhimento
I - castigo físico: ação de natureza disciplinar familiar ou institucional terá os seguintes direitos:
ou punitiva aplicada com o uso da força física
sobre a criança ou o adolescente que resulte em: § 1º Toda criança ou adolescente que estiver inseri-
a) sofrimento físico; ou do em programa de acolhimento familiar ou institu-
b) lesão; cional terá sua situação reavaliada, no máximo,
II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou a cada 3 (três) meses, devendo a autoridade judi-
forma cruel de tratamento em relação à criança ou ciária competente, com base em relatório elabora-
ao adolescente que: do por equipe interprofissional ou multidisciplinar,
a) humilhe; ou decidir de forma fundamentada pela possibilidade
b) ameace gravemente; ou de reintegração familiar ou pela colocação em
c) ridicularize. família substituta, em quaisquer das modalida-
Art. 18-B Os pais, os integrantes da família amplia- des previstas no art. 28 desta Lei.
da, os responsáveis, os agentes públicos executores § 2º A permanência da criança e do adolescente
de medidas socioeducativas ou qualquer pessoa em programa de acolhimento institucional não
encarregada de cuidar de crianças e de adoles- se prolongará por mais de 18 (dezoito meses),
centes, tratá-los, educá-los ou protegê-los que uti- salvo comprovada necessidade que atenda ao seu
lizarem castigo físico ou tratamento cruel ou superior interesse, devidamente fundamentada
degradante como formas de correção, disci- pela autoridade judiciária.
plina, educação ou qualquer outro pretexto § 3º A manutenção ou a reintegração de criança ou
estarão sujeitos, sem prejuízo de outras sanções adolescente à sua família terá preferência em rela-
cabíveis, às seguintes medidas, que serão aplicadas ção a qualquer outra providência, caso em que será
10 de acordo com a gravidade do caso: está incluída em serviços e programas de proteção,
apoio e promoção, nos termos do § 1º do art. 23, O art. 20 estabelece uma regra quanto à proibição
dos incisos I e IV do caput do art. 101 e dos incisos da discriminação sobre a origem da filiação:
I a IV do caput do art. 129 desta Lei.
§ 4º Será garantida a convivência da criança e Art. 20 Os filhos, havidos ou não da relação do
do adolescente com a mãe ou o pai privado de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direi-
liberdade, por meio de visitas periódicas promo- tos e qualificações, proibidas quaisquer designa-
vidas pelo responsável ou, nas hipóteses de aco- ções discriminatórias relativas à filiação.
lhimento institucional, pela entidade responsável,
independentemente de autorização judicial. Todos os filhos havidos fora do casamento, bem
§ 5º Será garantida a convivência integral da crian-
como os filhos adotados, terão os mesmos direitos e
ça com a mãe adolescente que estiver em acolhi-
qualificações dos demais.
mento institucional.
O ECA repete a disposição constitucional e tem
§ 6º A mãe adolescente será assistida por equipe
especializada multidisciplinar. como objetivo eliminar a discriminação de filhos tidos
em outras relações como ilegítimos ou bastardos.
Cuidado para não confundir os prazos de reavalia-
ção e o período de acolhimento: Art. 21 O poder familiar será exercido, em igualda-
de de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do
que dispuser a legislação civil, assegurado a qual-
REAVALIAÇÃO A cada 3 meses
quer deles o direito de, em caso de discordância,
recorrer à autoridade judiciária competente para a
Até 18 meses, salvo
solução da divergência.
comprovada necessidade
que atenda ao seu superior
ACOLHIMENTO
interesse, devidamente A partir do art. 23, do ECA, são estabelecidas algu-
fundamentada pela mas regras acerca da perda e da suspensão do poder
autoridade judiciária
familiar. Esses institutos poderão ser decretados
judicialmente, em procedimento contraditório, nos
Como visto, a gestante ou a mãe que vier a mani- casos previstos na legislação civil, bem como na hipó-
festar interesse em entregar seu filho para adoção, tese de descumprimento injustificado dos deveres
antes ou logo após o nascimento, será encaminhada e das obrigações:
à Justiça da Infância e da Juventude, conforme dis-
Art. 23 A falta ou a carência de recursos mate-
posto no art. 19-A.
riais não constitui motivo suficiente para a
Uma possibilidade para as crianças e os adoles-
perda ou a suspensão do poder familiar.
centes em programa de acolhimento institucional ou
§ 1º Não existindo outro motivo que por si só auto-
familiar são os programas de apadrinhamento:
rize a decretação da medida, a criança ou o adoles-
cente será mantido em sua família de origem, a qual
Art. 19-B A criança e o adolescente em programa
deverá obrigatoriamente ser incluída em serviços e
de acolhimento institucional ou familiar poderão
programas oficiais de proteção, apoio e promoção.
participar de programa de apadrinhamento.
§ 2º A condenação criminal do pai ou da mãe não
§ 1º O apadrinhamento consiste em estabelecer e
implicará a destituição do poder familiar, exceto
proporcionar à criança e ao adolescente vínculos
na hipótese de condenação por crime dolo-
externos à instituição para fins de convivência
so sujeito à pena de reclusão contra outrem
familiar e comunitária e colaboração com o seu
igualmente titular do mesmo poder familiar
desenvolvimento nos aspectos social, moral, físico,
ou contra filho, filha ou outro descendente.
cognitivo, educacional e financeiro.
§ 2º Podem ser padrinhos ou madrinhas pessoas
maiores de 18 (dezoito) anos não inscritas Dica
nos cadastros de adoção, desde que cumpram
O § 2º foi acrescentado pela Lei nº 13.715, de
os requisitos exigidos pelo programa de apadrinha-
mento de que fazem parte. 2018, e vem sendo cobrado pelas bancas.
§ 3º Pessoas jurídicas podem apadrinhar crian-
ça ou adolescente a fim de colaborar para o seu Da Família Natural
desenvolvimento.
§ 4º O perfil da criança ou do adolescente a ser De acordo com o que estabelece o art. 25, do ECA,
apadrinhado será definido no âmbito de cada pro- “família natural” é aquela formada pelos pais ou por
grama de apadrinhamento, com prioridade para qualquer deles e seus descendentes.
crianças ou adolescentes com remota possibi- Já a família extensa ou ampliada tem um concei-
DIREITOS HUMANOS

lidade de reinserção familiar ou colocação em to mais amplo, estendendo-se para além da unidade
família adotiva. pais-e-filhos ou da unidade do casal, formada por
§ 5º Os programas ou serviços de apadrinhamento parentes próximos com os quais a criança ou o ado-
apoiados pela Justiça da Infância e da Juventude lescente convive e mantém vínculos de afinidade e
poderão ser executados por órgãos públicos
afetividade (parágrafo único, art. 25).
ou por organizações da sociedade civil.
§ 6º Se ocorrer violação das regras de apadrinha-
mento, os responsáveis pelo programa e pelos FAMÍLIA
Pai/Mãe + Filhos
serviços de acolhimento deverão imediatamente NATURAL
notificar a autoridade judiciária competente.
FAMÍLIA EXTENSA
Pai/Mãe + Filhos + Filhos
OU AMPLIADA
11
Art. 26 Os filhos havidos fora do casamento pode- Uma decisão judicial colocará o menor em deter-
rão ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou sepa- minada família substituta e somente outra decisão
radamente, no próprio termo de nascimento, judicial poderá tirá-lo de lá. Assim,
por testamento, mediante escritura ou outro
documento público, qualquer que seja a origem Art. 30 A colocação em família substituta não
da filiação. admitirá transferência da criança ou adolescente
Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder
a terceiros ou a entidades governamentais ou não-
o nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimen-
-governamentais, sem autorização judicial.
to, se deixar descendentes.
Art. 27 O reconhecimento do estado de filia-
ção é direito personalíssimo, indisponível e Além disso, importa saber que “a colocação em
imprescritível, podendo ser exercitado contra família substituta estrangeira constitui medida
os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, excepcional, somente admissível na modalidade de
observado o segredo de Justiça. adoção” (art. 31).

O reconhecimento dos filhos tidos fora do casa- Da Guarda


mento é irrevogável e pode ser feito a qualquer tem-
po, ou seja, antes ou depois de sua morte, e nas formas A partir do art. 33, o ECA estabelece disposições
do art. 1.609, do Código Civil. Pode ser feito no registro acerca da guarda da criança e do adolescente. Confere
do nascimento, por escritura pública ou escrito par- à criança ou ao adolescente a condição de dependen-
ticular, a ser arquivado em cartório, por testamento, te, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive pre-
ainda que incidentalmente manifestado, e por mani- videnciários (§ 3º).
festação direta e expressa perante o juiz, mesmo que
o reconhecimento não haja sido o objeto único e prin- Art. 33 A guarda obriga a prestação de assistência
cipal do ato que o contém. material, moral e educacional à criança ou adoles-
cente, conferindo a seu detentor o direito de opor-se
Da Família Substituta a terceiros, inclusive aos pais.
§ 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato,
A colocação em família substituta far-se-á mediante podendo ser deferida, liminar ou incidentalmente,
guarda, tutela ou adoção, independentemente da situa- nos procedimentos de tutela e adoção, exceto no de
ção jurídica da criança ou do adolescente (art. 28). adoção por estrangeiros.
§ 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda,
Art. 28 [...] fora dos casos de tutela e adoção, para atender
§ 1º Sempre que possível, a criança ou o ado- a situações peculiares ou suprir a falta eventual
lescente será previamente ouvido por equi- dos pais ou responsável, podendo ser deferido o
pe interprofissional, respeitado seu estágio de direito de representação para a prática de atos
desenvolvimento e grau de compreensão sobre as determinados.
implicações da medida, e terá sua opinião devida- § 3º A guarda confere à criança ou adolescente a
mente considerada. condição de dependente, para todos os fins e efeitos
§ 2º Tratando-se de maior de 12 anos de idade, de direito, inclusive previdenciários.
será necessário seu consentimento, colhido em § 4º Salvo expressa e fundamentada determinação
audiência. em contrário, da autoridade judiciária competente,
§ 3º Na apreciação do pedido levar-se-á em conta ou quando a medida for aplicada em preparação
o grau de parentesco e a relação de afinidade para adoção, o deferimento da guarda de criança
ou de afetividade, a fim de evitar ou minorar as ou adolescente a terceiros não impede o exercício
consequências decorrentes da medida. do direito de visitas pelos pais, assim como o
§ 4º Os grupos de irmãos serão colocados sob
dever de prestar alimentos, que serão objeto de
adoção, tutela ou guarda da mesma família
regulamentação específica, a pedido do interessado
substituta, ressalvada a comprovada existência
ou do Ministério Público.
de risco de abuso ou outra situação que justifique
plenamente a excepcionalidade de solução diversa,
procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompi- GUARDA
mento definitivo dos vínculos fraternais. Assistência
§ 5º A colocação da criança ou adolescente em famí-
lia substituta será precedida de sua preparação Material
gradativa e acompanhamento posterior, realizados
Moral
pela equipe interprofissional a serviço da Justiça da
Infância e da Juventude, preferencialmente com o Educacional
apoio dos técnicos responsáveis pela execução da
política municipal de garantia do direito à convi-
vência familiar. Para estimular que a criança e o adolescente sejam
inseridos em uma família substituta e não tenham que
O ambiente familiar é de suma importância para ser levados para uma instituição de menores, o poder
a boa formação do menor. É nele que a criança e o público está obrigado por lei a conceder incentivos
adolescente vão moldar sua personalidade e tornar-se fiscais e subsídios à família candidata ao acolhimento.
aptos para o convívio social. Para que isso ocorra, não É importante salientar que “a guarda poderá ser
se deferirá colocação em família substituta a pessoa revogada a qualquer tempo, mediante ato judicial fun-
que revele, por qualquer modo, incompatibilidade damentado, ouvido o Ministério Público” (art. 35).
com a natureza da medida ou não ofereça ambiente
12 familiar adequado.
Da Tutela Em regra, a adoção será deferida quando apresentar
reais vantagens para o adotando. Deverá fundar-se em
A tutela possui o objetivo precípuo de conferir, a motivos legítimos e dependerá do consentimento dos
um representante legal da criança ou do adolescen- pais ou do representante legal do adotando, salvo nos
te, poderes necessários para assegurar a proteção dos casos cujos pais sejam desconhecidos ou tenham sido
representados. destituídos do poder familiar (caput e § 1º, do art. 45).
O consentimento será expresso, colhido em audiência e
Art. 36 A tutela será deferida, nos termos da lei perante a autoridade judiciária. Em se tratando de ado-
civil, a pessoa de até 18 anos incompletos. tando maior de 12 anos de idade, será também necessá-
Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe rio o seu consentimento (§ 2º, do art. 45).
a prévia decretação da perda ou suspensão do poder No caso de tutor ou curador, se houver interes-
familiar e implica necessariamente o dever de guarda.
se em adotar seu pupilo ou curatelado, é necessário,
primeiro, prestar contas do seu exercício como tutor
A destituição da tutela será decretada quando o tutor
ou curador e saldar eventuais débitos patrimoniais.
for negligente, prevaricador ou incurso em incapacida-
Intenciona a lei que os objetivos da adoção não sejam
de, ou quando deixar de cumprir injustificadamente os
desvirtuados por ganância.
deveres de prestar total assistência ao menor.
A adoção será precedida de estágio de convivên-
cia com a criança ou adolescente, pelo prazo máximo
Da Adoção
de 90 dias, observadas a idade do adotante e as pecu-
liaridades do caso, conforme disposto no art. 46, do
De acordo com o art. 39, do ECA, a adoção é medi-
referido estatuto.
da excepcional e irrevogável, à qual se deve recorrer
O vínculo da adoção constitui-se por sentença
apenas quando esgotados os recursos de manutenção da
judicial, que será inscrita no registro civil mediante
criança ou adolescente na família natural ou extensa. A
mandado do qual não se fornecerá certidão, conforme
adoção não poderá ser feita por procuração (§ 2º).
é disposto no art. 47:

§ 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes


Importante!
como pais, bem como o nome de seus ascendentes.
Em caso de conflito entre direitos e interesses do § 2º O mandado judicial, que será arquivado,
adotando e de outras pessoas, inclusive seus pais cancelará o registro original do adotado.
biológicos, devem prevalecer os direitos e os inte- § 3º A pedido do adotante, o novo registro poderá ser
resses do adotando, à luz do § 3º, do art. 39. lavrado no Cartório do Registro Civil do Município de
sua residência.
§ 4º Nenhuma observação sobre a origem do ato
Art. 40 O adotando deve contar com, no máximo, poderá constar nas certidões do registro.
dezoito anos à data do pedido, salvo se já estiver § 5º A sentença conferirá ao adotado o nome do
sob a guarda ou tutela dos adotantes. adotante e, a pedido de qualquer deles, poderá
Art. 41 A adoção atribuiu a condição de filho ao determinar a modificação do prenome.
adotado, com os mesmos direitos e deveres, inclu- § 6º Caso a modificação de prenome seja requerida
sive sucessórios, desligando-o de qualquer vín- pelo adotante, é obrigatória a oitiva do adotando,
culo com pais e parentes, salvo os impedimentos observado o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 28 desta Lei.
matrimoniais. § 7º A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito
Art. 42 Podem adotar os maiores de 18 anos, em julgado da sentença constitutiva, exceto na
independentemente do estado civil. hipótese prevista no § 6º do art. 42 desta Lei, caso em
§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os que terá força retroativa à data do óbito.
irmãos do adotando. § 8º O processo relativo à adoção assim como outros
§ 2º Para adoção conjunta, é indispensável que os a ele relacionados serão mantidos em arquivo,
adotantes sejam casados civilmente ou mantenham admitindo-se seu armazenamento em microfilme ou
união estável, comprovada a estabilidade da família. por outros meios, garantida a sua conservação para
§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis consulta a qualquer tempo.
anos mais velho do que o adotando. § 9º Terão prioridade de tramitação os processos de
§ 4º Os divorciados, os judicialmente separados e adoção em que o adotando for criança ou adolescente
os ex-companheiros podem adotar conjuntamente, com deficiência ou com doença crônica.
contanto que acordem sobre a guarda e o regime § 10 O prazo máximo para conclusão da ação de ado-
de visitas e desde que o estágio de convivência ção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável uma
tenha sido iniciado na constância do período de única vez por igual período, mediante decisão funda-
DIREITOS HUMANOS

convivência e que seja comprovada a existência mentada da autoridade judiciária.


de vínculos de afinidade e afetividade com Art. 48 O adotado tem direito de conhecer sua origem
aquele não detentor da guarda, que justifiquem a biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao pro-
excepcionalidade da concessão.
cesso no qual a medida foi aplicada e seus eventuais
§ 5º Nos casos do § 4º deste artigo, desde que
incidentes, após completar 18 (dezoito) anos.
demonstrado efetivo benefício ao adotando, será
assegurada a guarda compartilhada, conforme
previsto no art. 1.584 da Lei no 10.406, de 10 de Caso seja de interesse do adotado, pelo disposto no
janeiro de 2002 - Código Civil. art. 48, ele terá acesso irrestrito a todo o seu processo
§ 6º A adoção poderá ser deferida ao adotante de adoção.
que, após inequívoca manifestação de vontade, Segundo o art. 49, a morte dos adotantes não resta-
vier a falecer no curso do procedimento, antes de belece o pode familiar dos pais naturais.
prolatada a sentença. 13
O Estatuto da Criança e do Adolescente também Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis
apresenta disposição sobre a adoção internacional, ter ciência do processo pedagógico, bem como par-
ou seja, quando pessoas que têm residência em outros ticipar da definição das propostas educacionais.
países estão na fila de adoção de crianças brasileiras. Art. 53-A É dever da instituição de ensino, clubes
Veja o que alude o art. 51, do estatuto em questão: e agremiações recreativas e de estabelecimentos
congêneres assegurar medidas de conscientização,
Art. 51 Considera-se adoção internacional aquela prevenção e enfrentamento ao uso ou dependência
na qual o pretendente possui residência habitual de drogas ilícitas.
em país-parte da Convenção de Haia, de 29 de
maio de 1993, Relativa à Proteção das Crianças e Com relação a esses direitos, cabe ao Estado asse-
à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, gurar à criança e ao adolescente, de acordo com o art.
promulgada pelo Decreto nº 3.087, de 21 junho de 54, do ECA:
1999, e deseja adotar criança em outro país-parte
da Convenção. Art. 54 […]
§ 1º A adoção internacional de criança ou adoles- I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito,
cente brasileiro ou domiciliado no Brasil somente inclusive para os que a ele não tiveram acesso na
terá lugar quando restar comprovado: idade própria;
I - que a colocação em família adotiva é a solução II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gra-
adequada ao caso concreto; tuidade ao ensino médio;
II - que foram esgotadas todas as possibilidades de III - atendimento educacional especializado
colocação da criança ou adolescente em família aos portadores de deficiência, preferencialmente na
adotiva brasileira, com a comprovação, certificada rede regular de ensino;
nos autos, da inexistência de adotantes habilitados IV - atendimento em creche e pré-escola às crian-
residentes no Brasil com perfil compatível com a ças de zero a cinco anos de idade;
criança ou adolescente, após consulta aos cadas- V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da
tros mencionados nesta Lei; pesquisa e da criação artística, segundo a capa-
III - que, em se tratando de adoção de adolescen- cidade de cada um;
te, este foi consultado, por meios adequados ao seu VI - oferta de ensino noturno regular, adequado
estágio de desenvolvimento, e que se encontra pre- às condições do adolescente trabalhador;
parado para a medida, mediante parecer elaborado VII - atendimento no ensino fundamental, através
por equipe interprofissional, observado o disposto de programas suplementares de material didáti-
nos §§ 1ºe 2º do art. 28 desta Lei. co-escolar, transporte, alimentação e assistên-
cia à saúde.
Atenção especial deve ser atribuída ao § 2º, do art. 51:
O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito
Art. 51 [...] público subjetivo (§ 1º, do art. 54) e a falta do ofe-
§ 2º Os brasileiros residentes no exterior terão recimento do ensino obrigatório pelo poder público
preferência aos estrangeiros, nos casos de adoção ou sua oferta irregular importa responsabilidade da
internacional de criança ou adolescente brasileiro. autoridade competente (§ 2º, do art. 54).
Compete ao poder público recensear os educandos
Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar,
Lazer junto aos pais ou ao responsável, pela frequência à
escola (§ 3º, do art. 54).
Os arts. 205 e 206, da Constituição Federal, de 1988,
estabelecem que a educação, direito de todos e dever Art. 54 […]
do Estado e da família, será promovida e incentiva- § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é
da com a colaboração da sociedade, visando ao pleno direito público subjetivo.
desenvolvimento da pessoa, ao seu preparo para o § 2º O não oferecimento do ensino obrigatório
exercício da cidadania e à sua qualificação para o tra- pelo poder público ou sua oferta irregular importa
balho. O Estatuto da Criança e do Adolescente também responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educan-
apresenta suas próprias disposições sobre o direito à
dos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e
educação, à cultura, ao esporte e ao lazer, que se ini-
zelar, junto aos pais ou responsável, pela freqüên-
ciam com o art. 53:
cia à escola.

Art. 53 A criança e o adolescente têm direito à edu-


Os pais ou responsáveis têm a obrigação de
cação, visando ao pleno desenvolvimento de sua
matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de
pessoa, preparo para o exercício da cidadania e
qualificação para o trabalho, assegurando-se lhes: ensino, nos termos do art. 55, do ECA.
I - igualdade de condições para o acesso e perma-
nência na escola; Art. 55 Os pais ou responsável têm a obrigação de
II - direito de ser respeitado por seus educadores; matricular seus filhos ou pupilos na rede regular
III - direito de contestar critérios avaliativos, poden- de ensino.
do recorrer às instâncias escolares superiores;
IV - direito de organização e participação em enti- Conforme estabelece o art. 56, os dirigentes de
dades estudantis; estabelecimentos de ensino fundamental comunica-
V - acesso à escola pública e gratuita, próxima de rão ao Conselho Tutelar ao tomarem ciência:
sua residência, garantindo-se vagas no mesmo
estabelecimento a irmãos que frequentem a mesma Art. 56 […]
14 etapa ou ciclo de ensino da educação básica. I - de maus-tratos envolvendo seus alunos;
II - reiteração de faltas injustificadas e de eva- IV - realizado em horários e locais que não per-
são escolar, esgotados os recursos escolares; mitam a frequência à escola.
III - elevados níveis de repetência.
Além disso, o adolescente tem direito à profissio-
Ademais, vejamos: nalização e à proteção no trabalho por meio do respei-
to à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento
Art. 57 O poder público estimulará pesquisas, expe- e da capacitação profissional adequada ao mercado
riências e novas propostas relativas a calendário, de trabalho.
seriação, currículo, metodologia, didática e avalia- Por fim, veja o que dispõe o art. 68:
ção, com vistas à inserção de crianças e adolescen-
tes excluídos do ensino fundamental obrigatório. Art. 68 O programa social que tenha por base o
Art. 58 No processo educacional respeitar-se-ão os trabalho educativo, sob responsabilidade de enti-
valores culturais, artísticos e históricos próprios do dade governamental ou não-governamental sem
contexto social da criança e do adolescente, garan- fins lucrativos, deverá assegurar ao adolescente
tindo-se a estes a liberdade da criação e o acesso às que dele participe condições de capacitação para o
fontes de cultura. exercício de atividade regular remunerada.
Art. 59 Os municípios, com apoio dos estados e da
União, estimularão e facilitarão a destinação de
DA PREVENÇÃO
recursos e espaços para programações culturais,
esportivas e de lazer voltadas para a infância e a
juventude.
A prevenção da ocorrência de ameaça ou violação
dos direitos da criança e do adolescente é um dever
de todos, nos termos do art. 70.
Do Direito à Profissionalização e à Proteção no
O art. 70-A, do referido estatuto, diz o seguinte:
Trabalho
Art. 70-A A União, os Estados, o Distrito Federal e
O ECA estabelece regras atinentes ao direito à pro-
os Municípios deverão atuar de forma articulada
fissionalização e à proteção no trabalho aos menores
na elaboração de políticas públicas e na execução
sob a proteção do referido instrumento de proteção. de ações destinadas a coibir o uso de castigo físi-
Em primeiro lugar, e de suma importância, é a co ou de tratamento cruel ou degradante e difundir
regra que proíbe qualquer trabalho a menores de 14 formas não violentas de educação de crianças e de
anos de idade, salvo na condição de aprendizes, pelo adolescentes, tendo como principais ações:
que dispõe o art. 60, do referido estatuto. I - a promoção de campanhas educativas perma-
O art. 62, do ECA, define como aprendizagem “a nentes para a divulgação do direito da criança e
formação técnico-profissional ministrada segundo as do adolescente de serem educados e cuidados sem
diretrizes e bases da legislação de educação em vigor”, o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou
que deverá observar os seguintes princípios (art. 63): degradante e dos instrumentos de proteção aos
direitos humanos;
I - garantia de acesso e frequência obrigatória ao II - a integração com os órgãos do Poder Judiciário,
ensino regular; do Ministério Público e da Defensoria Pública, com
II - atividade compatível com o desenvolvimento do o Conselho Tutelar, com os Conselhos de Direitos
adolescente; da Criança e do Adolescente e com as entidades não
III - horário especial para o exercício das atividades. governamentais que atuam na promoção, proteção
e defesa dos direitos da criança e do adolescente;
Serão garantidos alguns direitos aos adolescentes III - a formação continuada e a capacitação dos
que prestarem serviços de aprendizagem; tais direi- profissionais de saúde, educação e assistência
tos têm previsão legal nos dispositivos apresentados social e dos demais agentes que atuam na promo-
ção, proteção e defesa dos direitos da criança e do
a seguir:
adolescente para o desenvolvimento das compe-
tências necessárias à prevenção, à identificação de
Art. 64 Ao adolescente até quatorze anos de idade é
evidências, ao diagnóstico e ao enfrentamento de
assegurada bolsa de aprendizagem.
todas as formas de violência contra a criança e o
Art. 65 Ao adolescente aprendiz, maior de quator-
adolescente;
ze anos, são assegurados os direitos trabalhistas e
IV - o apoio e o incentivo às práticas de resolução
previdenciários.
pacífica de conflitos que envolvam violência contra
Art. 66 Ao adolescente portador de deficiência é
a criança e o adolescente;
assegurado trabalho protegido.
V - a inclusão, nas políticas públicas, de ações que
visem a garantir os direitos da criança e do ado-
Os adolescentes empregados, aprendizes, em regi- lescente, desde a atenção pré-natal, e de atividades
DIREITOS HUMANOS

me familiar de trabalho, alunos de escola técnica ou junto aos pais e responsáveis com o objetivo de pro-
aqueles assistidos em entidade governamental ou não mover a informação, a reflexão, o debate e a orien-
governamental estão sujeitos às seguintes vedações tação sobre alternativas ao uso de castigo físico
relacionadas ao trabalho, que não pode ser: ou de tratamento cruel ou degradante no processo
educativo;
Art. 67 [...] VI - a promoção de espaços intersetoriais locais
I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas para a articulação de ações e a elaboração de pla-
de um dia e as cinco horas do dia seguinte; nos de atuação conjunta focados nas famílias em
II - perigoso, insalubre ou penoso; situação de violência, com participação de profis-
III - realizado em locais prejudiciais à sua for- sionais de saúde, de assistência social e de educa-
mação e ao seu desenvolvimento físico, psíqui- ção e de órgãos de promoção, proteção e defesa dos
co, moral e social; direitos da criança e do adolescente; 15
VII - a promoção de estudos e pesquisas, de esta- Prevenção Especial
tísticas e de outras informações relevantes às con-
sequências e à frequência das formas de violência A prevenção especial refere-se às questões de
contra a criança e o adolescente para a sistema- informação, cultura, lazer, esportes, diversões e espe-
tização de dados nacionalmente unificados e a táculos. Observe o arrolado nos arts. 74 e seguintes:
avaliação periódica dos resultados das medidas
adotadas; Art. 74 O poder público, através do órgão compe-
VIII - o respeito aos valores da dignidade da pes- tente, regulará as diversões e espetáculos públicos,
soa humana, de forma a coibir a violência, o trata- informando sobre a natureza deles, as faixas etá-
mento cruel ou degradante e as formas violentas de rias a que não se recomendem, locais e horários em
educação, correção ou disciplina; que sua apresentação se mostre inadequada.
IX - a promoção e a realização de campanhas edu- Parágrafo único. Os responsáveis pelas diversões e
cativas direcionadas ao público escolar e à socieda- espetáculos públicos deverão afixar, em lugar visível e
de em geral e a difusão desta Lei e dos instrumentos de fácil acesso, à entrada do local de exibição, informa-
de proteção aos direitos humanos das crianças e ção destacada sobre a natureza do espetáculo e a fai-
dos adolescentes, incluídos os canais de denúncia xa etária especificada no certificado de classificação.
existentes; Art. 75 Toda criança ou adolescente terá acesso às
X - a celebração de convênios, de protocolos, de diversões e espetáculos públicos classificados como
ajustes, de termos e de outros instrumentos de pro- adequados à sua faixa etária.
moção de parceria entre órgãos governamentais ou Parágrafo único. As crianças menores de dez anos
entre estes e entidades não governamentais, com o somente poderão ingressar e permanecer nos
objetivo de implementar programas de erradicação locais de apresentação ou exibição quando acom-
da violência, de tratamento cruel ou degradante panhadas dos pais ou responsável.
e de formas violentas de educação, correção ou Art. 76 As emissoras de rádio e televisão somente
disciplina; exibirão, no horário recomendado para o público
XI - a capacitação permanente das Polícias Civil e infanto juvenil, programas com finalidades educa-
Militar, da Guarda Municipal, do Corpo de Bom- tivas, artísticas, culturais e informativas.
beiros, dos profissionais nas escolas, dos Conse- Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresenta-
do ou anunciado sem aviso de sua classificação, antes
lhos Tutelares e dos profissionais pertencentes aos
de sua transmissão, apresentação ou exibição.
órgãos e às áreas referidos no inciso II deste caput,
Art. 77 Os proprietários, diretores, gerentes e funcio-
para que identifiquem situações em que crianças
nários de empresas que explorem a venda ou aluguel
e adolescentes vivenciam violência e agressões no
de fitas de programação em vídeo cuidarão para que
âmbito familiar ou institucional;
não haja venda ou locação em desacordo com a clas-
XII - a promoção de programas educacionais que
sificação atribuída pelo órgão competente.
disseminem valores éticos de irrestrito respeito à Parágrafo único. As fitas a que alude este artigo
dignidade da pessoa humana, bem como de progra- deverão exibir, no invólucro, informação sobre a
mas de fortalecimento da parentalidade positiva, natureza da obra e a faixa etária a que se destinam.
da educação sem castigos físicos e de ações de pre- Art. 78 As revistas e publicações contendo material
venção e enfrentamento da violência doméstica e impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes
familiar contra a criança e o adolescente; deverão ser comercializadas em embalagem lacra-
XIII - o destaque, nos currículos escolares de todos da, com a advertência de seu conteúdo.
os níveis de ensino, dos conteúdos relativos à pre- Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as
venção, à identificação e à resposta à violência capas que contenham mensagens pornográficas ou
doméstica e familiar. obscenas sejam protegidas com embalagem opaca.
Art. 70-B As entidades, públicas e privadas, que Art. 79 As revistas e publicações destinadas ao
atuem nas áreas da saúde e da educação, além público infanto-juvenil não poderão conter ilustra-
daquelas às quais se refere o art. 71 desta Lei, entre ções, fotografias, legendas, crônicas ou anúncios
outras, devem contar, em seus quadros, com pes- de bebidas alcoólicas, tabaco, armas e munições, e
soas capacitadas a reconhecer e a comunicar ao deverão respeitar os valores éticos e sociais da pes-
Conselho Tutelar suspeitas ou casos de crimes pra- soa e da família.
ticados contra a criança e o adolescente. Art. 80 Os responsáveis por estabelecimentos que
Parágrafo único. São igualmente responsáveis pela explorem comercialmente bilhar, sinuca ou con-
comunicação de que trata este artigo, as pessoas gênere ou por casas de jogos, assim entendidas as
encarregadas, por razão de cargo, função, ofício, que realizem apostas, ainda que eventualmente,
ministério, profissão ou ocupação, do cuidado, cuidarão para que não seja permitida a entrada e
assistência ou guarda de crianças e adolescentes, a permanência de crianças e adolescentes no local,
punível, na forma deste Estatuto, o injustificado afixando aviso para orientação do público.
retardamento ou omissão, culposos ou dolosos.
Art. 71 A criança e o adolescente têm direito a Dos Produtos e Serviços
informação, cultura, lazer, esportes, diversões,
espetáculos e produtos e serviços que respeitem sua Ao lado dos outros direitos garantidos pela Cons-
condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. tituição Federal e pelo Estatuto da Criança e do Ado-
Art. 72 As obrigações previstas nesta Lei não lescente, é necessário que alguns produtos e serviços
excluem da prevenção especial outras decorrentes sejam restringidos quanto ao acesso por parte dessas
dos princípios por ela adotados. pessoas em condição peculiar de desenvolvimento.
Art. 73 A inobservância das normas de prevenção Nesse sentido, o art. 81 estabelece produtos que não
importará em responsabilidade da pessoa física ou poderão ser vendidos para crianças e adolescentes.
jurídica, nos termos desta Lei.
I - armas, munições e explosivos;
16 II - bebidas alcoólicas;
III - produtos cujos componentes possam causar Portanto, a depender se a viagem é dentro do ter-
dependência física ou psíquica, ainda que por ritório nacional ou para o exterior, as regras serão
utilização indevida; diferentes. O ECA estabelece que comete infração
IV - fogos de estampido e de artifício, exceto administrativa aquele que infringir as regras acerca
aqueles que, pelo seu reduzido potencial, sejam de viagem de criança ou adolescente:
incapazes de provocar qualquer dano físico em
caso de utilização indevida; Art. 251 Transportar criança ou adolescente, por
V - revistas e publicações a que alude o artigo 78; qualquer meio, com inobservância do disposto nos
VI - bilhetes lotéricos e equivalentes. arts. 83, 84 e 85 desta Lei:
Pena - multa de três a vinte salários de referência,
O art. 82, por sua vez, trata de importante regra aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
acerca da proibição de hospedagem de criança ou
adolescente em hotel, motel, pensão ou estabeleci- DA POLÍTICA DE ATENDIMENTO
mento congênere, salvo se autorizado ou acompanha-
do pelos pais ou pelo responsável. A Política de Atendimento é disposta nos arts. 86
O proprietário do estabelecimento que infringir a 97 e tratam de linhas de ação e de diretrizes, bem
essa regra cometerá infração administrativa sujeita à como das entidades de atendimento e de sua fiscaliza-
penalidade de multa, conforme previsão do art. 250: ção. Vejamos os dispositivos legais:

Art. 250 Hospedar criança ou adolescente desa- Art. 90 As entidades de atendimento são responsáveis
companhado dos pais ou responsável, ou sem auto- pela manutenção das próprias unidades, assim como
rização escrita desses ou da autoridade judiciária, pelo planejamento e execução de programas de prote-
em hotel, pensão, motel ou congênere: ção e sócio-educativos destinados a crianças e adoles-
Pena - multa. centes, em regime de: [...]
§ 1º Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena I - orientação e apoio sócio-familiar;
de multa, a autoridade judiciária poderá determi- II - apoio sócio-educativo em meio aberto;
nar o fechamento do estabelecimento por até 15 III - colocação familiar;
(quinze) dias. IV - acolhimento institucional;
§ 2º Se comprovada a reincidência em período infe- V - prestação de serviços à comunidade;
rior a 30 (trinta) dias, o estabelecimento será defini- VI - liberdade assistida;
tivamente fechado e terá sua licença cassada. VII - semiliberdade; e
VIII - internação.
Da Autorização para Viajar § 1º As entidades governamentais e não governamen-
tais deverão proceder à inscrição de seus programas,
O art. 83, do ECA, estabelece regras para os casos especificando os regimes de atendimento, na forma
em que crianças ou adolescentes precisem viajar definida neste artigo, no Conselho Municipal dos
desacompanhados dos pais ou responsáveis. Direitos da Criança e do Adolescente, o qual mante-
rá registro das inscrições e de suas alterações, do que
Em regra, nenhuma criança poderá viajar para
fará comunicação ao Conselho Tutelar e à autoridade
fora da comarca onde reside desacompanhada dos
judiciária.
pais ou responsáveis sem a devida autorização judi- § 2º Os recursos destinados à implementação e manu-
cial. Entretanto, o Estatuto da Criança e do Adolescen- tenção dos programas relacionados neste artigo serão
te estabelece algumas exceções: previstos nas dotações orçamentárias dos órgãos
públicos encarregados das áreas de Educação, Saúde
Art. 83 [...] e Assistência Social, dentre outros, observando-se o
§ 1º A autorização não será exigida quando: princípio da prioridade absoluta à criança e ao ado-
a) tratar-se de comarca contígua à da residência da lescente preconizado pelo caput do art. 227 da Cons-
criança ou do adolescente menor de 16 (dezesseis) tituição Federal e pelo caput e parágrafo único do art.
anos, se na mesma unidade da Federação, ou incluí- 4 o desta Lei.
da na mesma região metropolitana; § 3º Os programas em execução serão reavaliados
b) a criança ou o adolescente menor de 16 (dezes- pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do
seis) anos estiver acompanhado: Adolescente, no máximo, a cada 2 (dois) anos, consti-
1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro tuindo-se critérios para renovação da autorização de
grau, comprovado documentalmente o parentesco; funcionamento:
2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo I - o efetivo respeito às regras e princípios desta Lei,
pai, mãe ou responsável. bem como às resoluções relativas à modalidade de
§ 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos atendimento prestado expedidas pelos Conselhos de
pais ou responsável, conceder autorização válida Direitos da Criança e do Adolescente, em todos os
DIREITOS HUMANOS

por dois anos. níveis;


Art. 84 Quando se tratar de viagem ao exte- II - a qualidade e eficiência do trabalho desenvolvido,
rior, a autorização é dispensável, se a criança ou atestadas pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério Públi-
adolescente: co e pela Justiça da Infância e da Juventude;
I - estiver acompanhado de ambos os pais ou III - em se tratando de programas de acolhimento ins-
responsável; titucional ou familiar, serão considerados os índices
II - viajar na companhia de um dos pais, autori- de sucesso na reintegração familiar ou de adaptação
zado expressamente pelo outro através de docu- à família substituta, conforme o caso.
mento com firma reconhecida. Art. 91 As entidades não-governamentais somente
Art. 85 Sem prévia e expressa autorização judicial, poderão funcionar depois de registradas no Conselho
nenhuma criança ou adolescente nascido em terri- Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente,
tório nacional poderá sair do País em companhia o qual comunicará o registro ao Conselho Tutelar e à
de estrangeiro residente ou domiciliado no exterior. autoridade judiciária da respectiva localidade. 17
§ 1º Será negado o registro à entidade que: atenção à atuação de educadores de referência está-
a) não ofereça instalações físicas em condições ade- veis e qualitativamente significativos, às rotinas espe-
quadas de habitabilidade, higiene, salubridade e cíficas e ao atendimento das necessidades básicas,
segurança; incluindo as de afeto como prioritárias.
b) não apresente plano de trabalho compatível com os Art. 93 As entidades que mantenham programa de
princípios desta Lei; acolhimento institucional poderão, em caráter excep-
c) esteja irregularmente constituída; cional e de urgência, acolher crianças e adolescentes
d) tenha em seus quadros pessoas inidôneas. sem prévia determinação da autoridade competente,
e) não se adequar ou deixar de cumprir as resoluções fazendo comunicação do fato em até 24 (vinte e qua-
e deliberações relativas à modalidade de atendimen- tro) horas ao Juiz da Infância e da Juventude, sob pena
to prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos da de responsabilidade.
Criança e do Adolescente, em todos os níveis. Parágrafo único. Recebida a comunicação, a autorida-
§ 2º O registro terá validade máxima de 4 (quatro) de judiciária, ouvido o Ministério Público e se neces-
anos, cabendo ao Conselho Municipal dos Direitos da sário com o apoio do Conselho Tutelar local, tomará
Criança e do Adolescente, periodicamente, reavaliar o as medidas necessárias para promover a imediata
cabimento de sua renovação, observado o disposto no reintegração familiar da criança ou do adolescen-
§ 1º deste artigo. te ou, se por qualquer razão não for isso possível ou
Art. 92 As entidades que desenvolvam programas de recomendável, para seu encaminhamento a progra-
acolhimento familiar ou institucional deverão adotar ma de acolhimento familiar, institucional ou a família
os seguintes princípios: substituta, observado o disposto no § 2 o do art. 101
I - preservação dos vínculos familiares e promoção da desta Lei.
reintegração familiar; Art. 94 As entidades que desenvolvem programas de
II - integração em família substituta, quando esgota- internação têm as seguintes obrigações, entre outras:
dos os recursos de manutenção na família natural ou I - observar os direitos e garantias de que são titulares
extensa; os adolescentes;
III - atendimento personalizado e em pequenos grupos; II - não restringir nenhum direito que não tenha sido
IV - desenvolvimento de atividades em regime de objeto de restrição na decisão de internação;
co-educação; III - oferecer atendimento personalizado, em pequenas
V - não desmembramento de grupos de irmãos; unidades e grupos reduzidos;
VI - evitar, sempre que possível, a transferência para IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de res-
outras entidades de crianças e adolescentes abrigados; peito e dignidade ao adolescente;
VII - participação na vida da comunidade local; V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da pre-
VIII - preparação gradativa para o desligamento; servação dos vínculos familiares;
IX - participação de pessoas da comunidade no pro- VI - comunicar à autoridade judiciária, periodicamen-
cesso educativo. te, os casos em que se mostre inviável ou impossível o
§ 1º O dirigente de entidade que desenvolve programa reatamento dos vínculos familiares;
de acolhimento institucional é equiparado ao guar- VII - oferecer instalações físicas em condições adequa-
dião, para todos os efeitos de direito. das de habitabilidade, higiene, salubridade e seguran-
§ 2º Os dirigentes de entidades que desenvolvem ça e os objetos necessários à higiene pessoal;
programas de acolhimento familiar ou institucio- VIII - oferecer vestuário e alimentação suficientes e
nal remeterão à autoridade judiciária, no máximo a adequados à faixa etária dos adolescentes atendidos;
cada 6 (seis) meses, relatório circunstanciado acerca IX - oferecer cuidados médicos, psicológicos, odontoló-
da situação de cada criança ou adolescente acolhido gicos e farmacêuticos;
e sua família, para fins da reavaliação prevista no § X - propiciar escolarização e profissionalização;
1 o do art. 19 desta Lei. XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de
§ 3º Os entes federados, por intermédio dos Poderes lazer;
Executivo e Judiciário, promoverão conjuntamente a XII - propiciar assistência religiosa àqueles que deseja-
permanente qualificação dos profissionais que atuam rem, de acordo com suas crenças;
direta ou indiretamente em programas de acolhimen- XIII - proceder a estudo social e pessoal de cada caso;
to institucional e destinados à colocação familiar de XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com inter-
crianças e adolescentes, incluindo membros do Poder valo máximo de seis meses, dando ciência dos resulta-
Judiciário, Ministério Público e Conselho Tutelar. dos à autoridade competente;
§ 4º Salvo determinação em contrário da autoridade XV - informar, periodicamente, o adolescente interna-
judiciária competente, as entidades que desenvolvem do sobre sua situação processual;
programas de acolhimento familiar ou institucional, XVI - comunicar às autoridades competentes todos
se necessário com o auxílio do Conselho Tutelar e dos os casos de adolescentes portadores de moléstias
órgãos de assistência social, estimularão o contato da infecto-contagiosas;
criança ou adolescente com seus pais e parentes, em XVII - fornecer comprovante de depósito dos pertences
cumprimento ao disposto nos incisos I e VIII do caput dos adolescentes;
deste artigo. XVIII - manter programas destinados ao apoio e
§ 5º As entidades que desenvolvem programas de aco- acompanhamento de egressos;
lhimento familiar ou institucional somente poderão XIX - providenciar os documentos necessários ao exer-
receber recursos públicos se comprovado o atendi- cício da cidadania àqueles que não os tiverem;
mento dos princípios, exigências e finalidades desta XX - manter arquivo de anotações onde constem data
Lei. e circunstâncias do atendimento, nome do adolescen-
§ 6º O descumprimento das disposições desta Lei pelo te, seus pais ou responsável, parentes, endereços, sexo,
dirigente de entidade que desenvolva programas de idade, acompanhamento da sua formação, relação de
acolhimento familiar ou institucional é causa de sua seus pertences e demais dados que possibilitem sua
destituição, sem prejuízo da apuração de sua respon- identificação e a individualização do atendimento.
sabilidade administrativa, civil e criminal. § 1º Aplicam-se, no que couber, as obrigações constan-
§ 7º Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três) tes deste artigo às entidades que mantêm programas
18 anos em acolhimento institucional, dar-se-á especial de acolhimento institucional e familiar.
§ 2º No cumprimento das obrigações a que alude este A aplicação das medidas deve observar uma série
artigo as entidades utilizarão preferencialmente os de princípios, que estão previstos no art. 100 e dispos-
recursos da comunidade. tos a seguir:
Art. 94-A As entidades, públicas ou privadas, que abri-
guem ou recepcionem crianças e adolescentes, ainda I - condição da criança e do adolescente como
que em caráter temporário, devem ter, em seus qua- sujeitos de direitos: crianças e adolescentes são
dros, profissionais capacitados a reconhecer e repor- os titulares dos direitos previstos nesta e em outras
tar ao Conselho Tutelar suspeitas ou ocorrências de Leis, bem como na Constituição Federal;
maus-tratos. II - proteção integral e prioritária: a interpre-
Art. 95 As entidades governamentais e não-governa- tação e aplicação de toda e qualquer norma conti-
mentais referidas no art. 90 serão fiscalizadas pelo da nesta Lei deve ser voltada à proteção integral e
prioritária dos direitos de que crianças e adolescen-
Judiciário, pelo Ministério Público e pelos Conselhos
tes são titulares;
Tutelares.
III - responsabilidade primária e solidária do
Art. 96 Os planos de aplicação e as prestações de con-
poder público: a plena efetivação dos direitos
tas serão apresentados ao estado ou ao município, assegurados a crianças e a adolescentes por esta
conforme a origem das dotações orçamentárias. Lei e pela Constituição Federal, salvo nos casos por
Art. 97 São medidas aplicáveis às entidades de atendi- esta expressamente ressalvados, é de responsabi-
mento que descumprirem obrigação constante do art. lidade primária e solidária das 3 (três) esferas de
94, sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal governo, sem prejuízo da municipalização do aten-
de seus dirigentes ou prepostos: dimento e da possibilidade da execução de progra-
I - às entidades governamentais: mas por entidades não governamentais;
a) advertência; IV - interesse superior da criança e do adoles-
b) afastamento provisório de seus dirigentes; cente: a intervenção deve atender prioritariamente
c) afastamento definitivo de seus dirigentes; aos interesses e direitos da criança e do adolescen-
d) fechamento de unidade ou interdição de programa. te, sem prejuízo da consideração que for devida a
II - às entidades não-governamentais: outros interesses legítimos no âmbito da pluralida-
a) advertência; de dos interesses presentes no caso concreto;
V - privacidade: a promoção dos direitos e prote-
b) suspensão total ou parcial do repasse de verbas
ção da criança e do adolescente deve ser efetuada
públicas;
no respeito pela intimidade, direito à imagem e
c) interdição de unidades ou suspensão de programa;
reserva da sua vida privada;
d) cassação do registro. VI - intervenção precoce: a intervenção das auto-
§ 1º Em caso de reiteradas infrações cometidas por ridades competentes deve ser efetuada logo que a
entidades de atendimento, que coloquem em risco situação de perigo seja conhecida;
os direitos assegurados nesta Lei, deverá ser o fato VII - intervenção mínima: a intervenção deve
comunicado ao Ministério Público ou representado ser exercida exclusivamente pelas autoridades e
perante autoridade judiciária competente para as pro- instituições cuja ação seja indispensável à efetiva
vidências cabíveis, inclusive suspensão das atividades promoção dos direitos e à proteção da criança e do
ou dissolução da entidade. adolescente;
§ 2º As pessoas jurídicas de direito público e as organi- VIII - proporcionalidade e atualidade: a inter-
zações não governamentais responderão pelos danos venção deve ser a necessária e adequada à situa-
que seus agentes causarem às crianças e aos adoles- ção de perigo em que a criança ou o adolescente se
centes, caracterizado o descumprimento dos princí- encontram no momento em que a decisão é tomada;
pios norteadores das atividades de proteção específica. IX - responsabilidade parental: a intervenção
deve ser efetuada de modo que os pais assumam os
seus deveres para com a criança e o adolescente;
DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO X - prevalência da família: na promoção de
direitos e na proteção da criança e do adolescente
As medidas de proteção à criança e ao adolescente deve ser dada prevalência às medidas que os man-
estão previstas a partir do art. 98 e são aplicáveis sem- tenham ou reintegrem na sua família natural ou
pre que os direitos reconhecidos no Estatuto da Crian- extensa ou, se isto não for possível, que promovam
ça e do Adolescente forem ameaçados ou violados: a sua integração em família substituta;
X - prevalência da família: na promoção de
direitos e na proteção da criança e do adolescente
z por ação ou omissão da sociedade ou do Estado
deve ser dada prevalência às medidas que os man-
(Inciso I); tenham ou reintegrem na sua família natural ou
z por falta, omissão ou abuso dos pais ou respon- extensa ou, se isso não for possível, que promovam
sável (Inciso II); a sua integração em família adotiva;
DIREITOS HUMANOS

z em razão da conduta do próprio adolescente ou XI - obrigatoriedade da informação: a criança e


criança (Inciso III). o adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvi-
mento e capacidade de compreensão, seus pais ou
Das Medidas Específicas de Proteção responsável devem ser informados dos seus direi-
tos, dos motivos que determinaram a intervenção e
da forma como esta se processa;
Poderão ser aplicadas isoladas ou cumulativamen-
XII - oitiva obrigatória e participação: a criança
te, bem como substituídas a qualquer tempo (art. 99). e o adolescente, em separado ou na companhia dos
pais, de responsável ou de pessoa por si indicada,
Art. 100 Na aplicação das medidas levar-se-ão em bem como os seus pais ou responsável, têm direito
conta as necessidades pedagógicas, preferindo- a ser ouvidos e a participar nos atos e na definição
-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vín- da medida de promoção dos direitos e de proteção,
culos familiares e comunitários. sendo sua opinião devidamente considerada pela 19
autoridade judiciária competente, observado o dis- Dos Direitos Individuais
posto nos §§ 1º e 2º do art. 28 desta Lei.
De acordo com a previsão do art. 106,
Verificada qualquer das hipóteses previstas no art.
98 (ação ou omissão da sociedade ou do Estado; falta, Art. 106 Nenhum adolescente será privado de sua
omissão ou abuso dos pais ou responsável; conduta liberdade senão em flagrante de ato infracional
do próprio adolescente ou criança), a autoridade com- ou por ordem escrita e fundamentada da autori-
petente poderá determinar, dentre outras, as medidas dade judiciária competente.
descritas a seguir e previstas no art. 101.
Assim como os maiores, o adolescente também
I - encaminhamento aos pais ou responsável, possui direito à identificação dos responsáveis pela
mediante termo de responsabilidade; sua apreensão, devendo ser informado acerca de seus
II - orientação, apoio e acompanhamento
direitos (parágrafo único).
temporários;
III - matrícula e frequência obrigatórias em estabe-
Outro importante direito garantido ao adolescente
lecimento oficial de ensino fundamental; apreendido, conforme previsão do art. 107, consiste
IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou na imediata comunicação da apreensão “à autori-
comunitários de proteção, apoio e promoção da dade judiciária competente e à família do apreendi-
família, da criança e do adolescente; do ou à pessoa por ele indicada”.
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou
psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; Art. 107 [...]
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob
de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e pena de responsabilidade, a possibilidade de libe-
toxicômanos; ração imediata.
VII - acolhimento institucional;
VIII - inclusão em programa de acolhimento
O art. 108 determina que a internação, antes da
familiar;
sentença, pode ser determinada pelo prazo máxi-
IX - colocação em família substituta.
mo de 45 dias. “A decisão deverá ser fundamentada
Antes de encaminhar a criança ou o adolescente e basear-se em indícios suficientes de autoria e mate-
para colocação em família substituta, prioriza-se a rialidade, demonstrada a necessidade imperiosa da
tentativa de manutenção ou reinserção deles no seio medida”, nos termos do parágrafo único, do art. 108.
da família à qual já pertencem. Por fim, conforme previsão do art. 109, o adoles-
Ademais, ainda no art. 101, o acolhimento institu- cente civilmente identificado não será submetido à
cional e o acolhimento familiar não devem ser eter- identificação compulsória pelos órgãos policiais, de
nos, possuindo caráter provisório e excepcional. proteção e judiciais, “salvo para efeito de confronta-
ção, havendo dúvida fundada”.
§ 1º O acolhimento institucional e o acolhimento
familiar são medidas provisórias e excepcionais, Identificação dos responsáveis
utilizáveis como forma de transição para reinte- pela sua apreensão, devendo ser
gração familiar ou, não sendo esta possível, para informado acerca de seus direitos
colocação em família substituta, não implicando
privação de liberdade. Imediata comunicação da
DIREITOS DO apreensão à autoridade judiciária
§ 2º Sem prejuízo da tomada de medidas
ADOLESCENTE competente e à família do
emergenciais para proteção de vítimas de violência APREENDIDO apreendido ou à pessoa por ele
ou abuso sexual e das providências a que alude o indicada
art. 130 desta Lei, o afastamento da criança ou
adolescente do convívio familiar é de competência A internação, antes da sentença,
exclusiva da autoridade judiciária e importará pode ser determinada pelo prazo
máximo de 45 dias
na deflagração, a pedido do Ministério Público ou
de quem tenha legítimo interesse, de procedimen-
to judicial contencioso, no qual se garanta aos Das Garantias Processuais
pais ou ao responsável legal o exercício do contra-
ditório e da ampla defesa.
Em um primeiro momento, vimos os direitos indi-
viduais do adolescente quando suspeito de come-
DA PRÁTICA DE ATO INFRACIONAL
ter prática de ato infracional. Ainda sob a tutela dos
direitos e garantias já estudados neste capítulo, os
O ECA regula a prática do ato infracional a partir
do art. 103. Ato infracional é, portanto, a conduta defi- adolescentes gozam de proteção especial quanto às
nida como crime ou contravenção penal. garantias processuais.
Por serem penalmente inimputáveis, os menores Nesse sentido, o art. 110 estabelece que “nenhum
de 18 anos estão sujeitos apenas às medidas previstas adolescente será privado de sua liberdade sem o devi-
na lei em estudo. Para todos os efeitos, deve ser consi- do processo legal”. Não há privação de liberdade para
derada a idade do adolescente à data do fato (parágra- crianças. Estas, quando acusadas da prática de ato
fo único, do art. 104). infracional, deverão ser encaminhadas ao Conselho
Tutelar.
20
O art. 111, por sua vez, descreve quais são essas Advertência
garantias. Veja no quadro a seguir:
A primeira medida socioeducativa, e uma das mais
brandas, é a advertência. Ela poderá ser aplicada sem-
GARANTIAS PROCESSUAIS (ECA) pre que houver prova da materialidade e indícios
suficientes da autoria; consiste em uma admoesta-
Pleno e formal conhecimento da atribuição ção verbal, que será reduzida a termo e assinada,
I de ato infracional, mediante citação ou meio conforme exposto no art. 115.
equivalente Admoestar, no caso, significa aplicar reprimenda
em razão de incorreção ou inconveniência acerca do
Igualdade na relação processual, podendo con- comportamento de alguém.
II frontar-se com vítimas e testemunhas e produ-
zir todas as provas necessárias à sua defesa Obrigação de Reparar o Dano

III Defesa técnica por advogado O art. 116, por sua vez, prevê a obrigação de repa-
rar o dano:

Assistência judiciária gratuita e integral aos Art. 116 Em se tratando de ato infracional com
IV
necessitados, na forma da lei reflexos patrimoniais, a autoridade poderá deter-
minar, se for o caso, que o adolescente restitua a
Direito de ser ouvido pessoalmente pela autori-
V coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por
dade competente
outra forma, compense o prejuízo da vítima.
Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade,
Direito de solicitar a presença de seus pais ou a medida poderá ser substituída por outra adequada.
VI
responsável em qualquer fase do procedimento
Todavia, caso haja impossibilidade de impor as
Das Medidas Socioeducativas obrigações acima, a reparação do dano poderá ser
substituída por outra medida adequada.
São medidas aplicáveis a adolescentes autores de
atos infracionais e estão previstas no art. 112, do ECA. Da Prestação de Serviços à Comunidade
Apesar de configurarem como resposta à prática de
um delito, apresentam caráter predominantemente Trata-se de medida socioeducativa prevista no art.
educativo e não punitivo. 117. Veja:
As medidas são aplicadas, por um juiz da Infância
e Juventude, às pessoas na faixa etária entre 12 e 18 Art. 117 A prestação de serviços comunitários con-
siste na realização de tarefas gratuitas de interesse
anos, e, excepcionalmente, a jovens com até 21 anos
geral, por período não excedente a seis meses,
incompletos.
junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e
Portanto, de acordo com o art. 112, uma vez “veri- outros estabelecimentos congêneres, bem como em
ficada a prática de ato infracional, a autoridade com- programas comunitários ou governamentais.
petente poderá aplicar ao adolescente as seguintes Parágrafo único: As tarefas serão atribuídas con-
medidas”: forme as aptidões do adolescente, devendo ser cum-
pridas durante jornada máxima de oito horas
I - advertência; semanais, aos sábados, domingos e feriados ou em
II - obrigação de reparar o dano; dias úteis, de modo a não prejudicar a frequência à
III - prestação de serviços à comunidade; escola ou à jornada normal de trabalho.
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semi-liberdade; Frisa-se que a prestação de serviços à comunidade
VI - internação em estabelecimento educacional; não poderá exceder seis meses.
VII - qualquer uma das previstas no art.101, I a VI.
§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em Liberdade Assistida
conta a sua capacidade de cumpri-la, as cir-
cunstâncias e a gravidade da infração. Consiste no acompanhamento, no auxílio e na
orientação do adolescente em conflito com a lei por
Não se admitirá, em hipótese alguma e sob qual- equipes multidisciplinares, por período mínimo de
quer pretexto, a prestação de trabalho forçado (§ 2º). seis meses, objetivando oferecer atendimento nas
DIREITOS HUMANOS

diversas áreas de políticas públicas, como saúde, edu-


§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou cação, cultura, esporte, lazer e profissionalização, com
deficiência mental receberão tratamento indivi- vistas à sua promoção social e à de sua família, bem
dual e especializado, em local adequado às suas como à inserção no mercado de trabalho.
condições.
Art. 114 A imposição das medidas previstas nos Art. 118 A liberdade assistida será adotada sem-
incisos II a VI do art. 112 pressupõe a existência de pre que se afigurar a medida mais adequada para
provas suficientes da autoria e da materiali- o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o
dade da infração, ressalvada a hipótese de remis- adolescente.
são, nos termos do art. 127. § 1º A autoridade designará pessoa capacitada para
acompanhar o caso, a qual poderá ser recomenda-
da por entidade ou programa de atendimento. 21
§ 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo § 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo
mínimo de seis meses, podendo a qualquer tempo anterior, o adolescente deverá ser liberado, colo-
ser prorrogada, revogada ou substituída por cado em regime de semiliberdade ou de liberdade
outra medida, ouvido o orientador, o Ministério assistida.
Público e o defensor. § 5º A liberação será compulsória aos vinte e um
Art. 119 Incumbe ao orientador, com o apoio e a anos de idade.
supervisão da autoridade competente, a realização § 6º Em qualquer hipótese a desinternação será
dos seguintes encargos, entre outros: precedida de autorização judicial, ouvido o Minis-
I - promover socialmente o adolescente e sua tério Público.
família, fornecendo-lhes orientação e inserindo-os,
se necessário, em programa oficial ou comunitário Em nenhuma hipótese será aplicada a inter-
de auxílio e assistência social; nação havendo outra medida adequada (§ 2º, do art.
II - supervisionar a frequência e o aproveita- 122). A medida de internação só poderá ser aplica
mento escolar do adolescente, promovendo, inclu- nos casos a seguir (art. 122):
sive, sua matrícula;
III - diligenciar no sentido da profissionalização I - tratar-se de ato infracional cometido mediante
do adolescente e de sua inserção no mercado de grave ameaça ou violência a pessoa;
trabalho; II - por reiteração no cometimento de outras infra-
IV - apresentar relatório do caso. ções graves;
III - por descumprimento reiterado e injustificável
da medida anteriormente imposta.
Dica
� Prestação de serviços à comunidade: período O prazo de internação por descumprimento reite-
máximo de 6 meses; rado e injustificável da medida anteriormente impos-
� Liberdade assistida: período mínimo de 6 meses. ta não poderá ser superior a três meses, devendo ser
decretada judicialmente após o devido processo legal
(§ 1º, do art. 122).
Regime de Semiliberdade
Art. 123 A internação deverá ser cumprida em
É a vinculação do adolescente a unidades especializadas,
entidade exclusiva para adolescentes, em local
com restrição da sua liberdade, possibilitada a realização distinto daquele destinado ao abrigo, obedecida
de atividades externas, sendo obrigatórias a escolariza- rigorosa separação por critérios de idade, complei-
ção e a profissionalização. ção física e gravidade da infração.
Parágrafo único. Durante o período de internação,
Art. 120 O regime de semiliberdade pode ser deter- inclusive provisória, serão obrigatórias atividades
minado desde o início, ou como forma de transição pedagógicas.
para o meio aberto, possibilitada a realização de
atividades externas, independentemente de autori- O art. 124 elenca um rol dos direitos assegurados
zação judicial. pelo ECA ao adolescente em cumprimento de medida
§ 1º São obrigatórias a escolarização e a privativa de liberdade.
profissionalização, devendo, sempre que possível,
ser utilizados os recursos existentes na comunidade. I - entrevistar-se pessoalmente com o represen-
§ 2º A medida não comporta prazo determinado tante do Ministério Público;
aplicando-se, no que couber, as disposições relati- II - peticionar diretamente a qualquer autoridade;
vas à internação. III - avistar-se reservadamente com seu defensor;
IV - ser informado de sua situação processual,
Internação sempre que solicitada;
V - ser tratado com respeito e dignidade;
É a mais grave dentre as medidas socioeducativas, VI - permanecer internado na mesma localidade ou
sendo considerada como uma medida privativa da naquela mais próxima ao domicílio de seus pais
liberdade. Trata-se, portanto, de medida excepcio- ou responsável;
nalmente aplicada, que será adotada pela autorida- VII - receber visitas, ao menos, semanalmente;
VIII - corresponder-se com seus familiares e
de judiciária quando o ato infracional praticado pelo
amigos;
adolescente se enquadrar nas situações previstas nos
IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e
incisos I, II e III, do art. 122, do ECA. asseio pessoal;
X - habitar alojamento em condições adequadas
Art. 121 A internação constitui medida privativa de higiene e salubridade;
da liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, XI - receber escolarização e profissionalização;
excepcionalidade e respeito à condição peculiar XII - realizar atividades culturais, esportivas e de
de pessoa em desenvolvimento. A internação lazer:
pode ocorrer em caráter provisório ou estrito. XIII - ter acesso aos meios de comunicação social;
§ 1º Será permitida a realização de atividades XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua
externas, a critério da equipe técnica da entidade, crença, e desde que assim o deseje;
salvo expressa determinação judicial em contrário. XV - manter a posse de seus objetos pessoais e
§ 2º A medida não comporta prazo determinado, dispor de local seguro para guardá-los, recebendo
devendo sua manutenção ser reavaliada, median- comprovante daqueles porventura depositados em
te decisão fundamentada, no máximo a cada seis poder da entidade;
meses. XVI - receber, quando de sua desinternação, os
§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de documentos pessoais indispensáveis à vida em
22 internação excederá a três anos. sociedade.
Os §§ 1º e 2º, do art. 124, estabelecem regras quanto O art. 129 prevê o rol de medidas que poderão ser
à incomunicabilidade do menor apreendido. A regra aplicadas aos pais ou responsáveis em situação de vio-
geral é, portanto, a vedação da incomunicabilidade. lação dos direitos das crianças e dos adolescentes:
Entretanto, excepcionalmente, o juiz poderá suspen-
der as visitas ao adolescente, inclusive de seus pais,
MEDIDAS PERTINENTES AOS PAIS OU
caso considere que as visitas o prejudicam. RESPONSÁVEIS
§ 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade. Encaminhamento a serviços e programas
§ 2º A autoridade judiciária poderá suspender tem- I oficiais ou comunitários de proteção, apoio e
porariamente a visita, inclusive de pais ou respon- promoção da família
sável, se existirem motivos sérios e fundados de sua
prejudicialidade aos interesses do adolescente. Inclusão em programa oficial ou comunitário
Art. 125 É dever do Estado zelar pela integridade II de auxílio, orientação e tratamento a
física e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as alcoólatras e toxicômanos
medidas adequadas de contenção e segurança.
Encaminhamento a tratamento psicológico ou
III
psiquiátrico
Por fim, o art. 125 contempla a responsabilidade
do Estado em “zelar pela integridade física e mental Encaminhamento a cursos ou programas de
IV
dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas adequa- orientação
das de contenção e segurança”.
Obrigação de matricular o filho ou pupilo e
V acompanhar sua frequência e aproveitamento
Remissão
escolar
A remissão é um instituto peculiar do Estatuto da Obrigação de encaminhar a criança ou
VI
Criança e do Adolescente, uma vez que não encontra adolescente a tratamento especializado
paralelo com o direito penal.
VII Advertência
De acordo com o art. 126:
VIII Perda da guarda
Art. 126 Antes de iniciado o procedimento judi-
cial para apuração de ato infracional, o repre- XI Destituição da tutela
sentante do Ministério Público poderá conceder a
remissão, como forma de exclusão do processo, X Suspensão ou destituição do poder familiar
atendendo às circunstâncias e consequências
do fato, ao contexto social, bem como à perso- Art. 130 Verificada a hipótese de maus-tratos,
nalidade do adolescente e sua maior ou menor opressão ou abuso sexual impostos pelos pais ou
participação no ato infracional. responsável, a autoridade judiciária poderá deter-
Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a conces- minar, como medida cautelar, o afastamento
são da remissão pela autoridade judiciária importará do agressor da moradia comum.
na suspensão ou extinção do processo. Parágrafo único. Da medida cautelar constará, ain-
da, a fixação provisória dos alimentos de que
necessitem a criança ou o adolescente dependentes
Antes do do agressor.
Forma de
início do
exclusão do
procedimento
processo DO CONSELHO TUTELAR
judicial
REMISSÃO
Após o De acordo com o art. 131,
Suspensão ou
início do
extinção do
procedimento
processo Art. 131 O Conselho Tutelar é órgão permanente e
judicial
autônomo, não jurisdicional, encarregado pela
sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos
Art. 127 A remissão não implica necessariamente da criança e do adolescente.
o reconhecimento ou comprovação da responsabi- Art. 132 Em cada Município e em cada Região
lidade, nem prevalece para efeito de antecedentes, Administrativa do Distrito Federal haverá, no míni-
podendo incluir eventualmente a aplicação de qual- mo, 1 (um) Conselho Tutelar como órgão integrante
quer das medidas previstas em lei, exceto a colo- da administração pública local, composto de 5 (cin-
cação em regime de semi-liberdade e a internação. co) membros, escolhidos pela população local para
DIREITOS HUMANOS

Art. 128 A medida aplicada por força da remissão mandato de 4 (quatro) anos, permitida recondução
poderá ser revista judicialmente, a qualquer tem- por novos processos de escolha (redação pela Lei
po, mediante pedido expresso do adolescente ou de 13.824, de 2019).
seu representante legal, ou do Ministério Público. Art. 133 Para a candidatura a membro do Conselho
Tutelar, serão exigidos os seguintes requisitos:
I - reconhecida idoneidade moral;
DAS MEDIDAS PERTINENTES AOS PAIS OU
II - idade superior a vinte e um anos;
RESPONSÁVEIS
III - residir no município.
Art. 134 Lei municipal ou distrital disporá sobre o
Os pais ou responsáveis podem ser responsabiliza- local, dia e horário de funcionamento do Conselho
dos sempre que os direitos reconhecidos da criança e do Tutelar, inclusive quanto à remuneração dos respecti-
adolescente forem ameaçados ou violados. A aplicação vos membros, aos quais é assegurado o direito a:
destas medidas é de competência do Conselho Tutelar. I - cobertura previdenciária; 23
II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas prover orientação e aconselhamento acerca de seus
de 1/3 (um terço) do valor da remuneração mensal; direitos e dos encaminhamentos necessários;
III - licença-maternidade; XV - representar à autoridade judicial ou policial
IV - licença-paternidade; para requerer o afastamento do agressor do lar, do
V - gratificação natalina. domicílio ou do local de convivência com a vítima
Parágrafo único. Constará da lei orçamentária nos casos de violência doméstica e familiar contra
municipal e da do Distrito Federal previsão dos a criança e o adolescente;
recursos necessários ao funcionamento do Conse- XVI - representar à autoridade judicial para reque-
lho Tutelar e à remuneração e formação continua- rer a concessão de medida protetiva de urgência à
da dos conselheiros tutelares. criança ou ao adolescente vítima ou testemunha de
Art. 135 O exercício efetivo da função de conselhei- violência doméstica e familiar, bem como a revisão
ro constituirá serviço público relevante e estabele- daquelas já concedidas;
cerá presunção de idoneidade moral. XVII - representar ao Ministério Público para reque-
rer a propositura de ação cautelar de antecipação
DAS ATRIBUIÇÕES DO CONSELHO de produção de prova nas causas que envolvam vio-
lência contra a criança e o adolescente;
O art. 136, do ECA, apresenta o rol taxativo de atri- XVIII - tomar as providências cabíveis, na esfera
buições do Conselho Tutelar no desempenho de suas de sua competência, ao receber comunicação da
ocorrência de ação ou omissão, praticada em local
funções administrativas e assistenciais:
público ou privado, que constitua violência domés-
tica e familiar contra a criança e o adolescente;
Art. 136 São atribuições do Conselho Tutelar:
XIX - receber e encaminhar, quando for o caso, as
I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses
informações reveladas por noticiantes ou denun-
previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas
ciantes relativas à prática de violência, ao uso de
previstas no art. 101, I a VII;
tratamento cruel ou degradante ou de formas vio-
II - atender e aconselhar os pais ou responsável,
lentas de educação, correção ou disciplina contra a
aplicando as medidas previstas no art. 129, I a VII;
criança e o adolescente;
III - promover a execução de suas decisões, poden-
XX - representar à autoridade judicial ou ao Ministé-
do para tanto:
rio Público para requerer a concessão de medidas cau-
a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde,
telares direta ou indiretamente relacionada à eficácia
educação, serviço social, previdência, trabalho e
da proteção de noticiante ou denunciante de informa-
segurança;
ções de crimes que envolvam violência doméstica e
b) representar junto à autoridade judiciária nos
familiar contra a criança e o adolescente.
casos de descumprimento injustificado de suas
Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribui-
deliberações.
ções, o Conselho Tutelar entender necessário o
IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de
afastamento do convívio familiar, comunicará
fato que constitua infração administrativa ou penal
incontinenti o fato ao Ministério Público, prestan-
contra os direitos da criança ou adolescente;
do-lhe informações sobre os motivos de tal entendi-
V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de
mento e as providências tomadas para a orientação,
sua competência;
o apoio e a promoção social da família. (Incluído
VI - providenciar a medida estabelecida pela auto-
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
ridade judiciária, dentre as previstas no art. 101, de
Art. 137 As decisões do Conselho Tutelar somente
I a VI, para o adolescente autor de ato infracional;
poderão ser revistas pela autoridade judiciária a
VII - expedir notificações;
pedido de quem tenha legítimo interesse.
VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito
de criança ou adolescente quando necessário;
IX - assessorar o Poder Executivo local na elabora- Da Escolha dos Conselheiros
ção da proposta orçamentária para planos e pro-
gramas de atendimento dos direitos da criança e do Art. 139 O processo para a escolha dos membros do
adolescente; Conselho Tutelar será estabelecido em lei munici-
X - representar, em nome da pessoa e da família, pal e realizado sob a responsabilidade do Conselho
contra a violação dos direitos previstos no art. 220, Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescen-
§ 3º, inciso II, da Constituição Federal; te, e a fiscalização do Ministério Público. (Redação
XI - representar ao Ministério Público para efeito dada pela Lei nº 8.242, de 12.10.1991)
das ações de perda ou suspensão do poder familiar, § 1º O processo de escolha dos membros do Conse-
após esgotadas as possibilidades de manutenção da lho Tutelar ocorrerá em data unificada em todo o
criança ou do adolescente junto à família natural. território nacional a cada 4 (quatro) anos, no pri-
(Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência meiro domingo do mês de outubro do ano subse-
XII - promover e incentivar, na comunidade e nos quente ao da eleição presidencial. (Incluído pela Lei
grupos profissionais, ações de divulgação e trei- nº 12.696, de 2012)
namento para o reconhecimento de sintomas de § 2º A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no
maus-tratos em crianças e adolescentes. (Incluído dia 10 de janeiro do ano subsequente ao processo
pela Lei nº 13.046, de 2014) de escolha. (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)
XIII - adotar, na esfera de sua competência, ações § 3º No processo de escolha dos membros do Con-
articuladas e efetivas direcionadas à identificação selho Tutelar, é vedado ao candidato doar, oferecer,
da agressão, à agilidade no atendimento da crian- prometer ou entregar ao eleitor bem ou vantagem
ça e do adolescente vítima de violência doméstica e pessoal de qualquer natureza, inclusive brindes de
familiar e à responsabilização do agressor; pequeno valor. (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)
XIV - atender à criança e ao adolescente vítima ou
testemunha de violência doméstica e familiar, ou Dos Impedimentos
submetido a tratamento cruel ou degradante ou a
formas violentas de educação, correção ou discipli- Art. 140 São impedidos de servir no mesmo Conselho
24 na, a seus familiares e a testemunhas, de forma a marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e
genro ou nora, irmãos, cunhados, durante o cunhadio, A proibição da divulgação de informações acerca
tio e sobrinho, padrasto ou madrasta e enteado. de crianças e adolescentes aos quais se atribua a auto-
Parágrafo único. Estende-se o impedimento do conse- ria de ato infracional alcança atos judiciais, policiais
lheiro, na forma deste artigo, em relação à autoridade e administrativos.
judiciária e ao representante do Ministério Público Estabelece ainda a lei que as notícias não identi-
com atuação na Justiça da Infância e da Juventude, em ficarão o menor, “vedando-se fotografia, referência a
exercício na comarca, foro regional ou distrital. nome, apelido, filiação, parentesco, residência e, inclu-
sive, iniciais do nome e sobrenome” (parágrafo único,
ACESSO À JUSTIÇA do art. 143).

O acesso à justiça, no âmbito do Estatuto da Crian- Da Justiça da Infância e da Juventude


ça e do Adolescente, é o instrumento de proteção de
qualquer criança ou adolescente à Defensoria Públi- De acordo com a previsão do art. 145:
ca, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, por
qualquer de seus órgãos. Art. 145 Os estados e o Distrito Federal pode-
rão criar varas especializadas e exclusivas
Art. 141 É garantido o acesso de toda criança ou ado- da infância e da juventude, cabendo ao Poder
lescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público e Judiciário estabelecer sua proporcionalidade por
ao Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos. número de habitantes, dotá-las de infraestrutura e
§ 1º A assistência judiciária gratuita será prestada dispor sobre o atendimento, inclusive em plantões.
aos que dela necessitarem, através de defensor
público ou advogado nomeado. Competência
§ 2º As ações judiciais da competência da Justiça
da Infância e da Juventude são isentas de custas e De acordo com o que dispõe o art. 147, a competên-
emolumentos, ressalvada a hipótese de litigância
cia para os processos da Infância e da Juventude será
de má-fé.
determinada:

I - pelo domicílio dos pais ou responsável;


Importante! II - pelo lugar onde se encontre a criança ou ado-
O STJ já decidiu que a isenção de custas e emo- lescente, à falta dos pais ou responsável.
lumentos é deferida às crianças e adolescentes
enquanto autores ou réus, não sendo extensível aos As regras acima, no entanto, são aplicáveis aos casos
que não envolvam ato infracional, uma vez que o § 1º
demais sujeitos processuais que figurem no feito.
estabelece que, “nos casos de ato infracional, será com-
petente a autoridade do lugar da ação ou omissão,
Em regra, observadas as regras de conexão, continência e preven-
ção”. Nos casos que envolvam ato infracional, a autori-
Art. 142 Os menores de dezesseis anos serão repre- dade competente é a do lugar da ação ou omissão.
sentados e os maiores de dezesseis e menores de vinte
e um anos assistidos por seus pais, tutores ou curado- Dos Procedimentos
res, na forma da legislação civil ou processual.
Com base no que determina o art. 152, as regras
Há casos, no entanto, em que os interesses dos estabelecidas no Código de Processo Civil são aplica-
menores podem vir a colidir com os de seus pais ou das subsidiariamente ao ECA quando este não regula-
responsáveis, ou, ainda, casos em que venha o menor mentar especificamente situação condizente.
a carecer de representação ou assistência legal, ainda Contudo, no que for relacionado ao regramento de
que eventual. Nesses casos, o parágrafo único, do art. apuração de infrações e medidas de privação de liber-
142, determina que a autoridade judiciária dê cura- dade, aplicar-se-ão, de forma subsidiária, as regras
dor especial à criança ou ao adolescente. estabelecidas no Código de Processo Penal.
Os arts. 143 e 144, do ECA, estabelecem regras quanto
à publicidade dos procedimentos que envolvam meno- Art. 152 Aos procedimentos regulados nesta Lei
res. Tais preceitos possuem o objetivo de proteger a con- aplicam-se subsidiariamente as normas gerais pre-
dição do menor em desenvolvimento, a fim de evitar que vistas na legislação processual pertinente.
sejam atingidas a sua moral, honra e imagem.
Aos menores será assegurada a
Art. 143 É vedada a divulgação de atos judiciais,
DIREITOS HUMANOS

policiais e administrativos que digam respeito a § 1º [...] prioridade absoluta na tramitação dos
crianças e adolescentes a que se atribua autoria processos e procedimentos previstos nesta Lei,
de ato infracional. assim como na execução dos atos e diligências judi-
Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do ciais a eles referentes.
fato não poderá identificar a criança ou adoles-
cente, vedando-se fotografia, referência a nome, Com relação aos prazos, serão aplicáveis aos seus
apelido, filiação, parentesco, residência e, inclusive, procedimentos, ocasião em que serão
iniciais do nome e sobrenome.
Art. 144 A expedição de cópia ou certidão de atos a § 2º [...] contados em dias corridos, excluído o dia
que se refere o artigo anterior somente será deferida do começo e incluído o dia do vencimento, vedado o
pela autoridade judiciária competente, se demons- prazo em dobro para a Fazenda Pública e o Minis-
trado o interesse e justificada a finalidade. tério Público. 25
Da Colocação em Família Substituta § 7º A família natural e a família substituta rece-
berão a devida orientação por intermédio de equi-
Família substituta é aquela que se propõe a tra- pe técnica interprofissional a serviço da Justiça da
zer para dentro de sua residência uma criança ou Infância e da Juventude, preferencialmente com
um adolescente que, por qualquer circunstância, foi apoio dos técnicos responsáveis pela execução da
desprovido da família natural, para que nela possa se política municipal de garantia do direito à convi-
vência familiar.
desenvolver como parte integrante.
O art. 165 apresenta alguns requisitos que são
Da Apuração de Ato Infracional Atribuído a
necessários para que a criança ou o adolescente seja
Adolescente
colocado em família substituta. Veja:

Art. 165 São requisitos para a concessão de pedidos


“O adolescente apreendido por força de ordem
de colocação em família substituta: judicial será, desde logo, encaminhado à autoridade
I - qualificação completa do requerente e de seu judiciária”, nos termos do art. 171.
eventual cônjuge, ou companheiro, com expressa Por sua vez, o art. 172 descreve que “o adoles-
anuência deste; cente apreendido em flagrante de ato infracional
II - indicação de eventual parentesco do requerente será, desde logo, encaminhado à autoridade policial
e de seu cônjuge, ou companheiro, com a criança competente”.
ou adolescente, especificando se tem ou não paren- O policial que descumprir a regra incidirá na con-
te vivo; duta criminosa prevista no art. 231, do ECA:
III - qualificação completa da criança ou adolescen-
te e de seus pais, se conhecidos; Art. 231 Deixar a autoridade policial responsável
IV - indicação do cartório onde foi inscrito nasci- pela apreensão de criança ou adolescente de fazer
mento, anexando, se possível, uma cópia da respec- imediata comunicação à autoridade judiciária
tiva certidão; competente e à família do apreendido ou à pessoa
V - declaração sobre a existência de bens, direitos ou por ele indicada:
rendimentos relativos à criança ou ao adolescente. Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Em se tratando de adoção, obser-
var-se-ão também os requisitos específicos. De acordo com o art. 173, no caso em que ocorrer
flagrante de ato infracional cometido mediante vio-
Conforme o art. 166, do ECA: lência ou grave ameaça a pessoa, a autoridade poli-
cial deverá:
Art. 166 Se os pais forem falecidos, tiverem sido
destituídos ou suspensos do poder familiar, ou I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemu-
houverem aderido expressamente ao pedido de nhas e o adolescente;
colocação em família substituta, este poderá ser II - apreender o produto e os instrumentos da
formulado diretamente em cartório, em petição infração;
assinada pelos próprios requerentes, dispensada a III - requisitar os exames ou perícias necessá-
assistência de advogado. rios à comprovação da materialidade e autoria da
§ 1º Na hipótese de concordância dos pais, o juiz: infração.
I - na presença do Ministério Público, ouvirá as par-
tes, devidamente assistidas por advogado ou por Nas demais hipóteses de flagrante sem violência
defensor público, para verificar sua concordância ou grave ameaça, “a lavratura do auto poderá ser subs-
com a adoção, no prazo máximo de 10 (dez) dias, tituída por boletim de ocorrência circunstanciada”
contado da data do protocolo da petição ou da (parágrafo único, do art. 173).
entrega da criança em juízo, tomando por termo as
declarações; e (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) Art. 174 Comparecendo qualquer dos pais ou respon-
II - declarará a extinção do poder familiar. sável, o adolescente será prontamente liberado pela
§ 2º O consentimento dos titulares do poder familiar autoridade policial, sob termo de compromisso e
será precedido de orientações e esclarecimentos responsabilidade de sua apresentação ao represen-
prestados pela equipe interprofissional da Justiça tante do Ministério Público, no mesmo dia ou, sendo
da Infância e da Juventude, em especial, no caso de impossível, no primeiro dia útil imediato, exceto quan-
adoção, sobre a irrevogabilidade da medida. do, pela gravidade do ato infracional e sua reper-
§ 3º São garantidos a livre manifestação de vontade cussão social, deva o adolescente permanecer sob
dos detentores do poder familiar e o direito ao sigi- internação para garantia de sua segurança pessoal
lo das informações. ou manutenção da ordem pública.
§ 4º O consentimento prestado por escrito não terá Art. 175 Em caso de não liberação, a autoridade
validade se não for ratificado na audiência a que se policial encaminhará, desde logo, o adolescente
refere o § 1º deste artigo. ao representante do Ministério Público, juntamen-
§ 5º O consentimento é retratável até a data da rea- te com cópia do auto de apreensão ou boletim de
lização da audiência especificada no § 1º deste arti- ocorrência.
go, e os pais podem exercer o arrependimento no § 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a
prazo de 10 (dez) dias, contado da data de prolação autoridade policial encaminhará o adolescente à
da sentença de extinção do poder familiar. entidade de atendimento, que fará a apresentação ao
§ 6º O consentimento somente terá valor se for representante do Ministério Público no prazo de vin-
dado após o nascimento da criança. te e quatro horas.
26
§ 2º Nas localidades onde não houver entidade de autoridade judiciária, propondo a instauração de
atendimento, a apresentação far-se-á pela autoridade procedimento para aplicação da medida socioedu-
policial. À falta de repartição policial especializada, o cativa que se afigurar a mais adequada.
adolescente aguardará a apresentação em dependên- § 1º A representação será oferecida por petição, que
cia separada da destinada a maiores, não poden- conterá o breve resumo dos fatos e a classificação
do, em qualquer hipótese, exceder o prazo referido no do ato infracional e, quando necessário, o rol de
parágrafo anterior. testemunhas, podendo ser deduzida oralmente, em
sessão diária instalada pela autoridade judiciária.
Caso a autoridade policial entenda ser necessária a § 2º A representação independe de prova pré-
não liberação do menor, este deverá ser imediatamente constituída da autoria e materialidade.
encaminhado ao Ministério Público. Não sendo possível
o encaminhamento imediato, o prazo é de 24 horas. O art. 183 determina que
Art. 176 Sendo o adolescente liberado, a autorida-
Art. 183 O prazo máximo e improrrogável para
de policial encaminhará imediatamente ao repre-
a conclusão do procedimento, estando o adolescen-
sentante do Ministério Público cópia do auto de
te internado provisoriamente, será de quarenta e
apreensão ou boletim de ocorrência.
Art. 177 Se, afastada a hipótese de flagrante, houver cinco dias.
indícios de participação de adolescente na prática Art. 184 Oferecida a representação, a autoridade
de ato infracional, a autoridade policial encami- judiciária designará audiência de apresentação do
nhará ao representante do Ministério Público rela- adolescente, decidindo, desde logo, sobre a decre-
tório das investigações e demais documentos. tação ou manutenção da internação, observado o
Art. 178 O adolescente a quem se atribua autoria disposto no artigo 108 e parágrafo.
de ato infracional não poderá ser conduzido ou
transportado em compartimento fechado de Caso seja oferecida a representação do adolescen-
veículo policial, em condições atentatórias à sua te, deverá ser designada audiência de apresentação,
dignidade, ou que impliquem risco à sua integrida- na qual se decidirá pela decretação ou manutenção
de física ou mental, sob pena de responsabilidade.
da internação (art. 184).
Art. 179 Apresentado o adolescente, o representan-
te do Ministério Público, no mesmo dia e à vista do
De acordo com o § 1º, do art. 184,
auto de apreensão, boletim de ocorrência ou rela-
tório policial, devidamente autuados pelo cartório § 1º O adolescente e seus pais ou responsável serão
judicial e com informação sobre os antecedentes do cientificados do teor da representação, e notifica-
adolescente, procederá imediata e informalmente à dos a comparecer à audiência, acompanhados de
sua oitiva e, em sendo possível, de seus pais ou res- advogado.
ponsável, vítima e testemunhas.
Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o Caso não sejam localizados pais ou responsáveis, será
representante do Ministério Público notificará os nomeado curador especial, pela autoridade judiciária,
pais ou responsável para apresentação do adolescen- ao adolescente (§ 2º, do art. 184). E, caso não seja loca-
te, podendo requisitar o concurso das polícias civil e
lizado o adolescente, será expedido mandado de busca
militar.
e apreensão, determinando-se o sobrestamento do feito
até a efetiva apresentação (§ 3º, art. 184).
Adotadas as providências descritas acima, de acor-
do com o art. 180, o representante do Ministério Público
poderá: Dica
� o instrumento para efetuar a prisão de maior
I - promover o arquivamento dos autos;
II - conceder a remissão; de idade é o mandado de prisão;
III - representar à autoridade judiciária para apli- � o instrumento para efetuar a apreensão de menor
cação de medida sócio-educativa. de idade é o mandado de busca e apreensão.

Acompanhe, ainda, o disposto nos arts. 181 e 182: Art. 184 [...]
§ 4º Estando o adolescente internado, será requisi-
Art. 181 Promovido o arquivamento dos autos ou tada a sua apresentação, sem prejuízo da notifica-
concedida a remissão pelo representante do Minis- ção dos pais ou responsável.
tério Público, mediante termo fundamentado, que Art. 185 A internação, decretada ou mantida pela
conterá o resumo dos fatos, os autos serão conclu- autoridade judiciária, não poderá ser cumprida em
sos à autoridade judiciária para homologação. estabelecimento prisional.
DIREITOS HUMANOS

§ 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, § 1º Inexistindo na comarca entidade com as


a autoridade judiciária determinará, conforme o características definidas no art. 123, o adolescente
caso, o cumprimento da medida. deverá ser imediatamente transferido para a
§ 2º Discordando, a autoridade judiciária fará
localidade mais próxima.
remessa dos autos ao Procurador-Geral de Justiça,
§ 2º Sendo impossível a pronta transferência, o
mediante despacho fundamentado, e este oferecerá
adolescente aguardará sua remoção em repartição
representação, designará outro membro do
Ministério Público para apresentá-la, ou ratificará policial, desde que em seção isolada dos adultos
o arquivamento ou a remissão, que só então estará e com instalações apropriadas, não podendo
a autoridade judiciária obrigada a homologar. ultrapassar o prazo máximo de cinco dias, sob
Art. 182 Se, por qualquer razão, o representante do pena de responsabilidade.
Ministério Público não promover o arquivamento
ou conceder a remissão, oferecerá representação à 27
A internação de adolescente jamais poderá ser z invasão de dispositivo informático (art. 154-A,
realizada em estabelecimento prisional (art. 185). do CP).
Caso não haja unidade de internação na localidade de
residência do menor, ele será transferido para aquela Art. 190-A A infiltração de agentes de polícia na
que seja mais próxima (§ 1º). internet com o fim de investigar os crimes previs-
Em caso de ser impossível a pronta transferência, o tos nos arts. 240, 241, 241-A, 241-B,241-C e 241-
adolescente poderá permanecer em repartição policial, D desta Lei e nos arts. 154-A, 217-A, 218, 218-A e
separado dos presos maiores, pelo período máximo de 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
cinco dias, sob pena de responsabilidade (§ 2º). 1940 (Código Penal), obedecerá às seguintes regras:
(Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
I - será precedida de autorização judicial devida-
Art. 187 Se o adolescente, devidamente notificado,
mente circunstanciada e fundamentada, que esta-
não comparecer, injustificadamente à audiência de
belecerá os limites da infiltração para obtenção de
apresentação, a autoridade judiciária designará
prova, ouvido o Ministério Público; (Incluído pela
nova data, determinando sua condução coercitiva.
Lei nº 13.441, de 2017)
Art. 188 A remissão, como forma de extinção ou
II - dar-se-á mediante requerimento do Ministério
suspensão do processo, poderá ser aplicada em
Público ou representação de delegado de polícia
qualquer fase do procedimento, antes da sentença.
e conterá a demonstração de sua necessidade, o
alcance das tarefas dos policiais, os nomes ou ape-
O art. 189 estabelece que a autoridade judiciá- lidos das pessoas investigadas e, quando possível,
ria não aplicará qualquer medida, reconhecendo na os dados de conexão ou cadastrais que permitam a
sentença: identificação dessas pessoas; (Incluído pela Lei nº
13.441, de 2017)
I - estar provada a inexistência do fato; III - não poderá exceder o prazo de 90 (noventa)
II - não haver prova da existência do fato; dias, sem prejuízo de eventuais renovações, desde
III - não constituir o fato ato infracional; que o total não exceda a 720 (setecentos e vinte)
IV - não existir prova de ter o adolescente concor- dias e seja demonstrada sua efetiva necessidade, a
rido para o ato infracional. critério da autoridade judicial. (Incluído pela Lei nº
13.441, de 2017)
Nos casos acima, “estando o adolescente internado,
será imediatamente colocado em liberdade” (parágra- Para os fins acima, considera-se (§ 2º, art. 190-A,
fo único, do art. 189). do ECA):
Quando houver sentença aplicando medida de
internação ou regime de semiliberdade, a intimação I - dados de conexão: informações referentes a hora,
será feita: data, início, término, duração, endereço de Protoco-
lo de Internet (IP) utilizado e terminal de origem da
Art. 190 A intimação da sentença que aplicar medida conexão;
de internação ou regime de semiliberdade será feita: II - dados cadastrais: informações referentes a
I - ao adolescente e ao seu defensor; nome e endereço de assinante ou de usuário registra-
II - quando não for encontrado o adolescente, a seus do ou autenticado para a conexão a quem endereço de
pais ou responsável, sem prejuízo do defensor. IP, identificação de usuário ou código de acesso tenha
§ 1º Sendo outra a medida aplicada, a intimação far- sido atribuído no momento da conexão.
-se-á unicamente na pessoa do defensor.
§ 2º Recaindo a intimação na pessoa do adolescente, deve-
rá este manifestar se deseja ou não recorrer da sentença. Importante!
Da Infiltração de Agentes de Polícia para a
“A infiltração de agentes de polícia na internet
Investigação de Crimes contra a Dignidade Sexual de não será admitida se a prova puder ser obtida
Criança e de Adolescente por outros meios” (§ 3º, do art. 190-A).

A Lei nº 13.441, de 2017, instituiu, no Estatuto da


Criança e do Adolescente (arts. 190-A a 190-E, da Lei nº DOS CRIMES E DAS INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS
8.069, de 1990), a infiltração policial virtual. Trata-se de
uma nova modalidade de infiltração de agentes policiais Os crimes e as infrações administrativas abran-
a ser realizada de forma virtual, por meio da internet. gem as condutas criminosas e ilegais praticadas con-
A infiltração consiste em técnica de investigação, tra a criança e o adolescente, por ação ou omissão,
mediante a utilização de disfarces pelos policiais a sem prejuízo do disposto na legislação penal, segundo
fim de obter elementos de prova aptos a ensejarem a o art. 225, do ECA.
repercussão penal dos crimes alcançados pela lei.
A infiltração, na forma do art. 190-A, dar-se-á para Art. 226 Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei
a elucidação dos seguintes crimes: as normas da Parte Geral do Código Penal e, quan-
to ao processo, as pertinentes ao Código de Proces-
so Penal.
z pedofilia (arts. 240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241- § 1º Aos crimes cometidos contra a criança e o ado-
D, do ECA); lescente, independentemente da pena prevista, não
z crimes contra a dignidade sexual de vulnerá- se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.
veis, quais sejam estupro de vulnerável (art. 217- § 2º Nos casos de violência doméstica e familiar
A, do CP), corrupção de menores (art. 218, do CP), contra a criança e o adolescente, é vedada a aplica-
satisfação de lascívia (art. 218-A, do CP) e favoreci- ção de penas de cesta básica ou de outras de pres-
mento da prostituição de criança ou adolescente tação pecuniária, bem como a substituição de pena
28 ou de vulnerável (art. 218-B, do CP); que implique o pagamento isolado de multa.” (NR)
Os crimes são de ação pública incondicionada, Pena - detenção de seis meses a dois anos.
ou seja, prescindem (dispensam) de representação da Art. 236 Impedir ou embaraçar a ação de autori-
vítima ou de seu responsável legal. dade judiciária, membro do Conselho Tutelar ou
Atenção para o art. 227-A, que foi incluído pela Lei representante do Ministério Público no exercício de
nº 13.869, de 2019: função prevista nesta Lei:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Art. 227-A Os efeitos da condenação prevista no Art. 237 Subtrair criança ou adolescente ao poder
inciso I do caput do art. 92 do Decreto-Lei nº de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei
2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), ou ordem judicial, com o fim de colocação em lar
para os crimes previstos nesta Lei, praticados por substituto:
servidores públicos com abuso de autoridade, são Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa.
condicionados à ocorrência de reincidência. Art. 238 Prometer ou efetivar a entrega de filho ou
Parágrafo único. A perda do cargo, do mandato ou pupilo a terceiro, mediante paga ou recompensa:
da função, nesse caso, independerá da pena aplica- Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.
da na reincidência. Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem
oferece ou efetiva a paga ou recompensa.
Art. 239 Promover ou auxiliar a efetivação de ato
Nos tópicos que veremos a seguir, não nos resta
destinado ao envio de criança ou adolescente para
alternativa senão gravar os principais crimes e infra-
o exterior com inobservância das formalidades
ções cobrados em provas. Sugerimos que faça uma
legais ou com o fito de obter lucro:
leitura atenta dos dispositivos e invista na resolução Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa.
de questões sobre o assunto. Desta forma, você certa- Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave
mente estará preparado para sua prova. ameaça ou fraude:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da
Dos Crimes em Espécie pena correspondente à violência.
Art. 240 Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar,
Art. 228 Deixar o encarregado de serviço ou o diri- filmar ou registrar, por qualquer meio, cena de
gente de estabelecimento de atenção à saúde de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança
gestante de manter registro das atividades desen- ou adolescente:
volvidas, na forma e prazo referidos no art. 10 des- Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e
ta Lei, bem como de fornecer à parturiente ou a seu multa.
responsável, por ocasião da alta médica, declara- § 1º Incorre nas mesmas penas quem agencia, faci-
ção de nascimento, onde constem as intercorrên- lita, recruta, coage, ou de qualquer modo interme-
cias do parto e do desenvolvimento do neonato: deia a participação de criança ou adolescente nas
Pena - detenção de seis meses a dois anos. cenas referidas no caput deste artigo, ou ainda
Parágrafo único. Se o crime é culposo: quem com esses contracena.
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. § 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agen-
Art. 229 Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente te comete o crime:
de estabelecimento de atenção à saúde de gestante I - no exercício de cargo ou função pública ou a pre-
de identificar corretamente o neonato e a partu- texto de exercê-la;
riente, por ocasião do parto, bem como deixar de II - prevalecendo-se de relações domésticas, de coa-
proceder aos exames referidos no art. 10 desta Lei: bitação ou de hospitalidade; ou
Pena - detenção de seis meses a dois anos. III - prevalecendo-se de relações de parentesco con-
Parágrafo único. Se o crime é culposo: sanguíneo ou afim até o terceiro grau, ou por ado-
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. ção, de tutor, curador, preceptor, empregador da
Art. 230 Privar a criança ou o adolescente de sua vítima ou de quem, a qualquer outro título, tenha
liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar autoridade sobre ela, ou com seu consentimento.
em flagrante de ato infracional ou inexistindo Art. 241 Vender ou expor à venda fotografia,
ordem escrita da autoridade judiciária competente: vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo
Pena - detenção de seis meses a dois anos. explícito ou pornográfica envolvendo criança ou
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que adolescente:
procede à apreensão sem observância das formali- Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e
dades legais. multa.
Art. 231 Deixar a autoridade policial responsável
pela apreensão de criança ou adolescente de fazer Infelizmente, hoje em dia, por ocasião da tec-
imediata comunicação à autoridade judiciária
nologia e de seu uso cada vez maior por crianças e
competente e à família do apreendido ou à pessoa
adolescentes, há uma proliferação de crimes ciber-
por ele indicada:
Pena - detenção de seis meses a dois anos. néticos envolvendo a pornografia com crianças e
adolescentes.
DIREITOS HUMANOS

Art. 232 Submeter criança ou adolescente sob sua


autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a Aquele que compartilhar, enviar ou até armaze-
constrangimento: nar conteúdo pornográfico envolvendo crianças e
Pena - detenção de seis meses a dois anos. adolescentes cometerá o crime previsto no art. 241-A.
Art. 233 Revogado
Art. 234 Deixar a autoridade competente, sem justa Art. 241-A Oferecer, trocar, disponibilizar, trans-
causa, de ordenar a imediata liberação de criança mitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer
ou adolescente, tão logo tenha conhecimento da ile- meio, inclusive por meio de sistema de informática
galidade da apreensão: ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro
Pena - detenção de seis meses a dois anos. que contenha cena de sexo explícito ou pornográfi-
Art. 235 Descumprir, injustificadamente, prazo ca envolvendo criança ou adolescente:
fixado nesta Lei em benefício de adolescente priva- Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
do de liberdade: § 1º Nas mesmas penas incorre quem: 29
I - assegura os meios ou serviços para o armaze- Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
namento das fotografias, cenas ou imagens de que Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:
trata o caput deste artigo; I - facilita ou induz o acesso à criança de material
II - assegura, por qualquer meio, o acesso por rede contendo cena de sexo explícito ou pornográfica
de computadores às fotografias, cenas ou imagens com o fim de com ela praticar ato libidinoso;
de que trata o caput deste artigo. II - pratica as condutas descritas no caput deste
§ 2º As condutas tipificadas nos incisos I e II do §
artigo com o fim de induzir criança a se exibir de
1º deste artigo são puníveis quando o responsável
forma pornográfica ou sexualmente explícita.
legal pela prestação do serviço, oficialmente noti-
Art. 241-E Para efeito dos crimes previstos nesta
ficado, deixa de desabilitar o acesso ao conteúdo
ilícito de que trata o caput deste artigo. Lei, a expressão “cena de sexo explícito ou porno-
gráfica” compreende qualquer situação que envol-
Acerca dos delitos relacionados à pornografia va criança ou adolescente em atividades sexuais
infantil, importa citar o Informativo nº 335, do STJ, explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos
que determinou: órgãos genitais de uma criança ou adolescente
para fins primordialmente sexuais.
Compete à Justiça Federal processar e julgar os Art. 242 Vender, fornecer ainda que gratuitamente
crimes consistentes em disponibilizar ou adqui- ou entregar, de qualquer forma, a criança ou ado-
rir material pornográfico envolvendo criança ou lescente arma, munição ou explosivo:
adolescente [artigos 241, 241-A e 241-B da Lei Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos.
8.069/1990] quando praticados por meio da rede Art. 243 Vender, fornecer, servir, ministrar ou
mundial de computadores. entregar, ainda que gratuitamente, de qualquer for-
ma, a criança ou a adolescente, bebida alcoólica ou,
Art. 241-B Adquirir, possuir ou armazenar, por sem justa causa, outros produtos cujos componen-
qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de tes possam causar dependência física ou psíquica:
registro que contenha cena de sexo explícito ou por- Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e mul-
nográfica envolvendo criança ou adolescente: ta, se o fato não constitui crime mais grave.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Art. 244 Vender, fornecer, ainda que gratuitamente,
§ 1º A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois
ou entregar, de qualquer forma, a criança ou ado-
terços) se de pequena quantidade o material a
lescente fogos de estampido ou de artifício, exceto
que se refere o caput deste artigo
§ 2º Não há crime se a posse ou o armazenamento aqueles que, pelo seu reduzido potencial, sejam
tem a finalidade de comunicar às autoridades incapazes de provocar qualquer dano físico em
competentes a ocorrência das condutas descritas caso de utilização indevida:
nos arts. 240, 241, 241-A e 241-C desta Lei, quando Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.
a comunicação for feita por: Art. 244-A Submeter criança ou adolescente, como
I - agente público no exercício de suas funções; tais definidos no caput do art. 2 desta Lei, à prosti-
II - membro de entidade, legalmente constituída, tuição ou à exploração sexual:
que inclua, entre suas finalidades institucionais, o Pena - reclusão de quatro a dez anos e multa, além
recebimento, o processamento e o encaminhamen- da perda de bens e valores utilizados na prática cri-
to de notícia dos crimes referidos neste parágrafo; minosa em favor do Fundo dos Direitos da Criança
III - representante legal e funcionários res- e do Adolescente da unidade da Federação (Estado
ponsáveis de provedor de acesso ou serviço
ou Distrito Federal) em que foi cometido o crime,
prestado por meio de rede de computadores, até
ressalvado o direito de terceiro de boa-fé.
o recebimento do material relativo à notícia feita
§ 1º Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o
à autoridade policial, ao Ministério Público ou ao
Poder Judiciário. gerente ou o responsável pelo local em que se veri-
§ 3º As pessoas referidas no § 2º deste artigo deve- fique a submissão de criança ou adolescente às prá-
rão manter sob sigilo o material ilícito referido. ticas referidas no caput deste artigo.
§ 2º Constitui efeito obrigatório da condenação a
Quanto ao crime previsto no art. 241-A (divulgação cassação da licença de localização e de funciona-
de imagem pornográfica de adolescente via WhatsA- mento do estabelecimento.
pp e Facebook), a competência para julgamento, em Art. 244-B Corromper ou facilitar a corrupção de
regra, é da Justiça Estadual. Todavia, será da Justiça menor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando
Federal nas hipóteses em que estiver evidenciada a infração penal ou induzindo-o a praticá-la:
internacionalidade da conduta. Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
§ 1º Incorre nas penas previstas no caput deste
Art. 241-C Simular a participação de criança ou artigo quem pratica as condutas ali tipificadas uti-
adolescente em cena de sexo explícito ou pornográ- lizando-se de quaisquer meios eletrônicos, inclusive
fica por meio de adulteração, montagem ou modifi- salas de bate-papo da internet.
cação de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma § 2º As penas previstas no caput deste artigo são
de representação visual: aumentadas de um terço no caso de a infração
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. cometida ou induzida estar incluída no rol do art.
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990.
vende, expõe à venda, disponibiliza, distribui, publi-
ca ou divulga por qualquer meio, adquire, possui ou
Segundo a Súmula nº 500, do STJ, “a configuração
armazena o material produzido na forma do caput
deste artigo. do crime previsto no art. 244-B” (corrupção de meno-
Art. 241-D Aliciar, assediar, instigar ou constran- res), do Estatuto da Criança e do Adolescente, “inde-
ger, por qualquer meio de comunicação, criança, pende da prova da efetiva corrupção do menor, por se
30 com o fim de com ela praticar ato libidinoso: tratar de delito formal”.
Assim, foi editada, em 6 de julho de 2015, a Lei
LEI FEDERAL Nº 13.146, DE 2015 - LEI nº 13.146, com o objetivo de dar cumprimento à
BRASILEIRA DE INCLUSÃO DA PESSOA Convenção.
Antes de iniciar nosso estudo, é preciso ter em
COM DEFICIÊNCIA (ESTATUTO DA mente que, para melhor compreender a Lei nº 13.146,
PESSOA COM DEFICIÊNCIA) de 2015, é primordial entender sua estrutura e iden-
tificar as ideias mais importantes da legislação, uma
A proteção dos direitos das pessoas com deficiên- vez que as bancas tendem a cobrar o que se denomina
cia, tanto no Brasil como no mundo, é algo bem recen- “literalidade das ideias”, ou seja, os pontos principais
te. Na realidade, a preocupação da sociedade com essa de cada artigo com base em sua estrutura, não haven-
parcela da população faz parte de um discurso atual, do, para tanto, a necessidade de decorá-los. Consi-
resultado da forma como essas pessoas passaram a derando os concursos anteriores, o estudo deve ter
ser percebidas. atenção especial à parte relativa aos crimes e infra-
É possível visualizar, ao longo da história, que as ções administrativas por ser esse o ponto mais cobra-
pessoas com deficiência foram encaradas de quatro do pelas bancas examinadoras.
modos diferentes, conforme cada período temporal. A Feitas essas considerações iniciais, bons estudos!
primeira fase foi a de intolerância em relação às pes-
soas com deficiência, pois simbolizavam a impureza, NOÇÕES SOBRE O DIREITO DA PESSOA COM
o pecado, ou, até mesmo, o castigo divino. A segun- DEFICIÊNCIA
da foi a fase marcada pela invisibilidade das pessoas
com deficiência. Dela, decorreu a terceira fase, mar- A Lei n° 13.146, de 2015, é dividida em duas par-
cada pelo assistencialismo e pautada na perspectiva tes: geral e especial. A parte geral tem, como base, os
médica e biológica de que a deficiência era uma pato- princípios da Convenção sobre os Direitos das Pessoas
logia e, como tal, deveria ser curada. Por fim, a quarta com Deficiência, disciplinando, além desses, os direi-
fase voltou-se para os direitos humanos, despontando tos fundamentais das pessoas com deficiência. Já a
os direitos à inclusão social, com ênfase na relação parte especial é composta pelos meios de proteção,
da pessoa com deficiência e do meio em que ela está quais sejam: o acesso à Justiça e reconhecimento igual
inserida. perante a lei e aos crimes e infrações administrativas.
Até mesmo a forma de se referir a estas pessoas é
fruto de uma construção histórica. A partir de 1993, a LEI Nº 13.146, DE 2015
nomenclatura mudou para “portadores de necessida-
des especiais”, “pessoas com necessidades especiais”,
Parte geral Parte geral
“pessoas especiais”, “portadores de direitos especiais”
ou “pessoas com deficiência”. Princípios e direitos Princípios e direitos
Como consequência dessas mudanças no modo de fundamentais fundamentais
ver/encarar a pessoa com deficiência, surgiu o dever
de eliminar os obstáculos que pudessem impedir o Iniciando pela parte geral, os arts. de 1º a 3º da
pleno exercício de seus direitos, de modo a possibili- mencionada lei introduzem o tema, estabelecendo
tar o desenvolvimento de suas potencialidades, com suas disposições gerais. De acordo com o art. 1º, o obje-
autonomia e participação. tivo da legislação é assegurar e promover o exercício
Nesse contexto, iniciou-se um sistema de proteção dos direitos e das liberdades fundamentais da pessoa
internacional, exigindo dos Estados um tratamento com deficiência em iguais condições com os demais,
especializado para proteção aos direitos das pessoas de modo a garantir sua inclusão social e cidadania.
com deficiência. Entre os instrumentos de proteção Seu parágrafo único deixa claro que a Lei nº 13.146,
realizados, encontra-se a Convenção sobre os Direitos de 2015, decorre da Convenção (juntamente com seus
das Pessoas com Deficiência, de 2006. O texto dessa protocolos), sendo incorporada no ordenamento jurí-
convenção foi assinado no ano de 2007 e incorpora- dico brasileiro com status de Emenda Constitucional,
do ao ordenamento jurídico brasileiro no ano de 2009 conforme explanado.
pelo Decreto nº 6.949. O art. 2º preocupou-se em dar o conceito de pessoa
A importância do Decreto nº 6.949, de 2009, é com deficiência. Em termos gerais, considera-se pes-
imensa, uma vez que ele foi o primeiro tratado inter- soa com deficiência aquela que possui impedimento
nacional de direitos humanos a adotar a norma do § de longo prazo, sendo este de natureza física, men-
3º, art. 5º, da Constituição Federal, ou seja, a seguir o tal, intelectual ou sensorial, que pode, de alguma
mesmo rito de aprovação cabível para as emendas forma, causar barreiras ou obstruir sua participa-
DIREITOS HUMANOS

constitucionais (aprovação em cada Casa do Congres- ção plena e efetiva na sociedade em igualdades de
so Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos condições com as demais pessoas.
dos respectivos membros).
Como resultado, tal decreto passou a ter status de z Pessoa com deficiência:
norma constitucional (mesmo valor normativo das
leis dispostas na Constituição Federal, mesmo sem „ impedimento de longo prazo;
fazer parte dela). Por essa razão, o Brasil necessitou „ natureza física, mental, intelectual ou sensorial;
promover alterações legislativas para “assegurar e „ causar barreiras ou obstruir sua participação
promover o pleno exercício de todos os direitos huma- plena e efetiva na sociedade em igualdades de
nos e liberdades fundamentais por todas as pessoas condições com as demais pessoas.
com deficiência”, em conformidade com o item 1 da
Convenção. 31
Além de conceituar pessoas com deficiência, o Observe que a palavra-chave para entender o con-
art. 2º trouxe, em seus parágrafos, a maneira como ceito de acessibilidade é autonomia (direito de circu-
deve ser procedida a avaliação para caracterizar lar com autonomia em espaços públicos e privados
essas pessoas. O parágrafo primeiro estabelece que de uso coletivo, bem como o direito de ter autonomia
a avaliação será realizada por uma equipe multipro- para utilizar a tecnologia).
fissional e interdisciplinar, de modo a considerar os
aspectos que permeiam o indivíduo (todo o contexto Art. 3° [...]
social). Para determinar ou não a deficiência, a equi- II - desenho universal: concepção de produtos,
pe analisará três enfoques: biológico, psicológico e ambientes, programas e serviços a serem usados
social. Vejamos: por todas as pessoas, sem necessidade de adapta-
ção ou de projeto específico, incluindo os recursos
de tecnologia assistiva.
Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela
que tem impedimento de longo prazo de natureza
física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em Refere-se ao fato de que o produto ou serviço deve
interação com uma ou mais barreiras, pode obs- ser utilizado por todas as pessoas, independentemen-
truir sua participação plena e efetiva na sociedade te de ter ou não alguma deficiência.
em igualdade de condições com as demais pessoas.
§ 1º A avaliação da deficiência, quando necessária, Art. 3° [...]
será biopsicossocial, realizada por equipe multi- III - tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos,
profissional e interdisciplinar e considerará: equipamentos, dispositivos, recursos, metodolo-
I - os impedimentos nas funções e nas estruturas gias, estratégias, práticas e serviços que objetivem
do corpo; promover a funcionalidade, relacionada à ativida-
II - os fatores socioambientais, psicológicos e de e à participação da pessoa com deficiência ou
pessoais; com mobilidade reduzida, visando à sua autono-
III - a limitação no desempenho de atividades; e mia, independência, qualidade de vida e inclusão
IV - a restrição de participação. social.
§ 2º O Poder Executivo criará instrumentos para
avaliação da deficiência. Trata-se, aqui, da possibilidade de adaptar deter-
minado produto ou serviço às necessidades da pessoa
O parágrafo segundo, por sua vez, estabelece que com deficiência, para que possa exercê-lo de forma
compete ao Poder Executivo a criação dos instrumen- autônoma.
tos normativos para a verificação da deficiência.
Art. 3° [...]
IV - barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude
Importante! ou comportamento que limite ou impeça a partici-
pação social da pessoa, bem como o gozo, a frui-
A competência é do Poder Executivo e não do ção e o exercício de seus direitos à acessibilidade,
Poder Legislativo. à liberdade de movimento e de expressão, à comu-
nicação, ao acesso à informação, à compreensão,
à circulação com segurança, entre outros, classifi-
O art. 3° apresenta outros conceitos para aplicação cadas em:
e entendimento da legislação. São eles: a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e
nos espaços públicos e privados abertos ao público
z acessibilidade; ou de uso coletivo;
z desenho universal; b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifí-
cios públicos e privados;
z tecnologia assistiva ou ajuda técnica;
c) barreiras nos transportes: as existentes nos siste-
z barreiras;
mas e meios de transportes;
z comunicação; d) barreiras nas comunicações e na informação:
z adaptações razoáveis; qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comporta-
z elemento de urbanização; mento que dificulte ou impossibilite a expressão ou
z mobiliário urbano; o recebimento de mensagens e de informações por
z pessoa com mobilidade reduzida; intermédio de sistemas de comunicação e de tecno-
z residências inclusivas; logia da informação;
z moradia para a vida independente da pessoa com e) barreiras atitudinais: atitudes ou comportamen-
deficiência; tos que impeçam ou prejudiquem a participação
z atendente pessoal; profissional de apoio escolar; social da pessoa com deficiência em igualdade de
z acompanhante. condições e oportunidades com as demais pessoas;
f) barreiras tecnológicas: as que dificultam ou
Art. 3° [...] impedem o acesso da pessoa com deficiência às
I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcan- tecnologias.
ce para utilização, com segurança e autonomia,
de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, Por barreiras entende-se qualquer obstáculo que
edificações, transportes, informação e comuni- impeça ou limite a participação social da pessoa com
cação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem deficiência. As barreiras podem estar nos espaços
como de outros serviços e instalações abertos ao públicos e privados de uso coletivo (urbanísticas),
público, de uso público ou privados de uso coletivo, nas edificações (arquitetônicas), nos transportes, nas
tanto na zona urbana como na rural, por pessoa comunicações, nas atitudes (atitudinais) e na dificul-
32 com deficiência ou com mobilidade reduzida. dade de acesso às tecnologias (tecnológicas).
Art. 3° [...]
V - comunicação: forma de interação dos cidadãos que abrange, entre outras opções, as línguas, inclusive a Língua
Brasileira de Sinais (Libras), a visualização de textos, o Braille, o sistema de sinalização ou de comunicação tátil,
os caracteres ampliados, os dispositivos multimídia, assim como a linguagem simples, escrita e oral, os sistemas
auditivos e os meios de voz digitalizados e os modos, meios e formatos aumentativos e alternativos de comunicação,
incluindo as tecnologias da informação e das comunicações.
VI - adaptações razoáveis: adaptações, modificações e ajustes necessários e adequados que não acarretem ônus
desproporcional e indevido, quando requeridos em cada caso, a fim de assegurar que a pessoa com deficiência possa
gozar ou exercer, em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas, todos os direitos e liberdades
fundamentais.
VII - elemento de urbanização: quaisquer componentes de obras de urbanização, tais como os referentes a pavi-
mentação, saneamento, encanamento para esgotos, distribuição de energia elétrica e de gás, iluminação pública,
serviços de comunicação, abastecimento e distribuição de água, paisagismo e os que materializam as indicações do
planejamento urbanístico.
VIII - mobiliário urbano: conjunto de objetos existentes nas vias e nos espaços públicos, superpostos ou adicionados
aos elementos de urbanização ou de edificação, de forma que sua modificação ou seu traslado não provoque alte-
rações substanciais nesses elementos, tais como semáforos, postes de sinalização e similares, terminais e pontos
de acesso coletivo às telecomunicações, fontes de água, lixeiras, toldos, marquises, bancos, quiosques e quaisquer
outros de natureza análoga.
IX - pessoa com mobilidade reduzida: aquela que tenha, por qualquer motivo, dificuldade de movimentação, per-
manente ou temporária, gerando redução efetiva da mobilidade, da flexibilidade, da coordenação motora ou da
percepção, incluindo idoso, gestante, lactante, pessoa com criança de colo e obeso.
X - residências inclusivas: unidades de oferta do Serviço de Acolhimento do Sistema Único de Assistência Social
(SUAS) localizadas em áreas residenciais da comunidade, com estruturas adequadas, que possam contar com apoio
psicossocial para o atendimento das necessidades da pessoa acolhida, destinadas a jovens e adultos com deficiên-
cia, em situação de dependência, que não dispõem de condições de autossustentabilidade e com vínculos familiares
fragilizados ou rompidos.

As residências inclusivas têm caráter de assistência para aquelas pessoas com deficiência que são dependen-
tes, porém, não possuem vínculos familiares capazes de lhes dar suporte.

Art. 3° [...]
XI - moradia para a vida independente da pessoa com deficiência: moradia com estruturas adequadas capazes de
proporcionar serviços de apoio coletivos e individualizados que respeitem e ampliem o grau de autonomia de jovens
e adultos com deficiência.

Diferentemente da residência inclusiva, a moradia proporciona serviços de apoio à pessoa com deficiência, os
quais ampliarão o seu grau de autonomia.

Art. 3° [...]
XII - atendente pessoal: pessoa, membro ou não da família, que, com ou sem remuneração, assiste ou presta cuida-
dos básicos e essenciais à pessoa com deficiência no exercício de suas atividades diárias, excluídas as técnicas ou os
procedimentos identificados com profissões legalmente estabelecidas.
XIII - profissional de apoio escolar: pessoa que exerce atividades de alimentação, higiene e locomoção do estudante
com deficiência e atua em todas as atividades escolares nas quais se fizer necessária, em todos os níveis e modali-
dades de ensino, em instituições públicas e privadas, excluídas as técnicas ou os procedimentos identificados com
profissões legalmente estabelecidas.
XIV - Acompanhante: aquele que acompanha a pessoa com deficiência, podendo ou não desempenhar as funções de
atendente pessoal.

DA IGUALDADE E DA NÃO DISCRIMINAÇÃO

Os arts. 4º a 9º tratam do tema igualdade e não discriminação, consubstanciados no princípio da promoção


da igualdade presente na Convenção sobre Direitos das Pessoas com Deficiência. Para tanto, o § 1º, do art. 4º preo-
cupou-se em definir discriminação em razão da deficiência como:

Art. 4° [...]
§ 1° [...] toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de
prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa
DIREITOS HUMANOS

com deficiência, [...].

Inclui-se, ainda, como forma de discriminação, a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de tecno-
logias assistivas, tanto pelo próprio Estado, como pelo particular.

33
Para facilitar na fixação desse conceito, vamos esquematizá-lo para você:

Impedir, prejudicar
Ação ou anular o
DISTINÇÃO Distinção reconhecimento ou o
EM RAZÃO DA Restrição exercício dos direitos
DEFICIÊNCIA Exclusão e das liberdades
fundamentais
Omissão de pessoa com
deficiência

É importante esclarecer que a igualdade trazida pela Lei nº 13.146, de 2015, não é impositiva, ou seja, as
ações afirmativas constantes da lei não são obrigatórias às pessoas com deficiência, pois, se elas não quiserem se
beneficiar dos direitos elencados, não serão obrigadas. Por exemplo: a pessoa com deficiência não é obrigada a se
inscrever para vagas reservadas, podendo concorrer às vagas de ampla concorrência se assim desejar.
O art. 5º, por sua vez, trata da proteção da pessoa com deficiência, de modo a afastar toda forma de tortura
ou outro mecanismo de redução da dignidade da pessoa humana ao assegurar a proteção contra negligência,
discriminação, exploração, violência, tortura, crueldade, opressão e tratamento desumano ou degradante. Seu
parágrafo único traz um conceito importante: especialmente vulneráveis.
Considerando que a pessoa com deficiência já é vulnerável e, por essa razão, merece a proteção especial,
maior deve ser a proteção das crianças, adolescentes, mulheres e idosos quando estes possuem deficiência.
Importante é, também, o art. 6º da lei, que concedeu às pessoas com deficiência plena capacidade para o exer-
cício de seus direitos, inclusive para:

z casar ou constituir união estável;


z exercer direitos sexuais e reprodutivos;
z exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações adequadas sobre reprodu-
ção e planejamento familiar;
z conservar sua fertilidade, sendo proibida a esterilização compulsória;
z exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária;
z exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de opor-
tunidades com as demais pessoas.

Dica
Até a entrada em vigor da Lei nº 13.146, de 2015, as pessoas com deficiência eram tidas, em regra, de forma
absoluta, ou relativamente incapazes pelo Código Civil. Atualmente, a regra é que elas são plenamente capa-
zes, só sendo consideradas relativamente incapazes se, por causa transitória ou permanente, não puderem
exprimir sua vontade.

O art. 7° trouxe o dever de vigilância geral aplicável a todas as pessoas. Em decorrência dele, podem comuni-
car às autoridades qualquer tipo de ameaça ou violação aos direitos da pessoa com deficiência. Ressalta-se que
seu parágrafo único dispõe que, uma vez verificado pelos juízes e tribunais ofensa à Lei, o Ministério Público deve
ser informado para que adote as providências para o devido cumprimento da Lei, inclusive na forma penal.
O art. 8° estabelece que é dever do Estado, da sociedade e da família assegurar a efetivação dos direitos
das pessoas com deficiência.

Do Atendimento Prioritário

Encerrando a parte relativa à igualdade, o art. 9° dispõe sobre o atendimento prioritário, com as finalidades
de:

z proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;


z atendimento em todas as instituições e serviços de atendimento ao público;
z disponibilização de recursos, tanto humanos quanto tecnológicos, que garantam atendimento em igualdade
de condições com as demais pessoas;
z disponibilização de pontos de parada, estações e terminais acessíveis de transporte coletivo de passageiros e
garantia de segurança no embarque e no desembarque;
z acesso a informações e disponibilização de recursos de comunicação acessíveis;
z recebimento de restituição de imposto de renda;
z tramitação processual e procedimentos judiciais e administrativos em que for parte ou interessada, em todos
os atos e diligências.

Com exceção da restituição de imposto de renda e da tramitação processual prioritária, todos os demais itens
relativos ao atendimento prioritário são extensivos ao acompanhante da pessoa com deficiência ou ao seu
atendente pessoal. Como consequência, o acompanhante tem direito à preferência de atendimento, ao socorro,
34 entre outros.
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS Art. 15 O processo mencionado no art. 14 desta Lei
baseia-se em avaliação multidisciplinar das neces-
Os arts. 10 ao 78 traçam os direitos das pessoas com sidades, habilidades e potencialidades de cada pes-
deficiência. São eles que estudaremos neste momento. soa, observadas as seguintes diretrizes:
Veja-os a seguir: I - diagnóstico e intervenção precoces;
II - adoção de medidas para compensar perda ou
z Direitos Fundamentais: limitação funcional, buscando o desenvolvimento
de aptidões;
„ vida; III - atuação permanente, integrada e articulada de
„ habitação e reabilitação; políticas públicas que possibilitem a plena partici-
„ saúde; pação social da pessoa com deficiência;
„ educação; IV - oferta de rede de serviços articulados, com
„ moradia; atuação intersetorial, nos diferentes níveis de com-
„ trabalho; plexidade, para atender às necessidades específicas
„ assistente social; da pessoa com deficiência;
„ previdência social; V - prestação de serviços próximo ao domicílio da
„ cultura, esporte, turismo e lazer; pessoa com deficiência, inclusive na zona rural,
„ transporte; respeitadas a organização das Redes de Atenção à
„ mobilidade; Saúde (RAS) nos territórios locais e as normas do
„ acessibilidade. Sistema Único de Saúde (SUS).
Art. 16 Nos programas e serviços de habilitação e
Do Direito à Vida de reabilitação para a pessoa com deficiência, são
garantidos:
O direito à vida encontra-se previsto nos arts. 10 I - organização, serviços, métodos, técnicas e recur-
ao 13, da Lei nº 13.146, de 2015, e dele decorrem os sos para atender às características de cada pessoa
demais direitos, pois, sem a vida, não existiria nenhum com deficiência;
outro. O direito à vida é inviolável, sendo, inclusive, II - acessibilidade em todos os ambientes e serviços;
garantido constitucionalmente a todas as pessoas. Por III - tecnologia assistiva, tecnologia de reabilitação,
conseguinte, a pessoa com deficiência tem o direito materiais e equipamentos adequados e apoio técni-
de lutar pela sua vida, competindo ao Estado o dever co profissional, de acordo com as especificidades de
de adotar toda e qualquer medida para assegurar seu cada pessoa com deficiência;
pleno exercício. IV - capacitação continuada de todos os profissio-
Importante assinalar que a pessoa com deficiência nais que participem dos programas e serviços.
não é obrigada a ser submetida a qualquer espécie Art. 17 Os serviços do SUS e do Suas deverão pro-
de tratamento ou intervenção forçada, haja vista que mover ações articuladas para garantir à pessoa
é indispensável seu livre consentimento para a rea- com deficiência e sua família a aquisição de infor-
lização de qualquer procedimento, exceto nos casos mações, orientações e formas de acesso às políticas
de atendimento de emergência em saúde e risco de públicas disponíveis, com a finalidade de propiciar
morte e nos casos em que se encontra impossibilitada sua plena participação social.
de manifestar a sua vontade. Por possui curador, este Parágrafo único. Os serviços de que trata o caput
supre o seu consentimento (aplica-se apenas às pes- deste artigo podem fornecer informações e orienta-
soas submetidas ao instituto da Curatela). ções nas áreas de saúde, de educação, de cultura,
Verifica-se, ainda, que compete ao Poder Público de esporte, de lazer, de transporte, de previdência
a proteção das pessoas com deficiência em situações social, de assistência social, de habitação, de tra-
de vulnerabilidade, em especial, aquelas em situações balho, de empreendedorismo, de acesso ao crédito,
de risco, como nos casos de estado de emergência ou de promoção, proteção e defesa de direitos e nas
calamidade pública. demais áreas que possibilitem à pessoa com defi-
ciência exercer sua cidadania.
Do Direito à Habilitação e à Reabilitação
Esse direito relaciona-se, diretamente, com a ques-
O direito à habilitação e reabilitação está dis- tão da saúde, de modo a envolver a atuação do Siste-
ciplinado nos arts. 14 ao 17, que dizem respeito à ma Único de Saúde (SUS) e do Serviço de Acolhimento
garantia de se adotar medidas que promovam a recu- do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), ambos
peração física, cognitiva e psicológica, bem como a responsáveis por prestar informações e orientações
proteção, à reabilitação e a reinserção social das pes- adequadas com relação às políticas públicas dispo-
DIREITOS HUMANOS

soas com deficiência. níveis, de modo a favorecer a plena participação das


pessoas com deficiência.
Art. 14 O processo de habilitação e de reabilitação
é um direito da pessoa com deficiência. Do Direito à Saúde
Parágrafo único. O processo de habilitação e de
reabilitação tem por objetivo o desenvolvimento
O direito à saúde encontra-se estabelecido nos
de potencialidades, talentos, habilidades e aptidões
arts. 18 a 26. Trata-se de um direito universal, pois
físicas, cognitivas, sensoriais, psicossociais, atitudi-
nais, profissionais e artísticas que contribuam para estabelece garantidas às pessoas de modo geral, estan-
a conquista da autonomia da pessoa com deficiên- do, também, arrolado na Constituição Federal como
cia e de sua participação social em igualdade de um direito social.
condições e oportunidades com as demais pessoas. 35
Salienta-se que o direito à saúde da pessoa com II - promoção de práticas alimentares adequadas e
deficiência contempla o acesso a um atendimento saudáveis, vigilância alimentar e nutricional, pre-
integral, ou seja, em todos os níveis de complexidade, venção e cuidado integral dos agravos relacionados
seja de caráter preventivo ou para fins de tratamen- à alimentação e nutrição da mulher e da criança;
to, sem qualquer discriminação ou custos adicionais, III - aprimoramento e expansão dos programas de
com direito ao acompanhante, em ambientes acessí- imunização e de triagem neonatal;
veis, sem se submeter a qualquer tipo de discrimina- IV - identificação e controle da gestante de alto
ção ou violência, estabelecendo, portanto, o acesso risco.
igualitário. V - aprimoramento do atendimento neonatal, com
a oferta de ações e serviços de prevenção de danos
Art. 18 É assegurada atenção integral à saúde da cerebrais e sequelas neurológicas em recém-nasci-
pessoa com deficiência em todos os níveis de com- dos, inclusive por telessaúde. (Incluído pela Lei nº
plexidade, por intermédio do SUS, garantido acesso 14.510, de 2022)
universal e igualitário. Art. 20 As operadoras de planos e seguros privados
§ 1º É assegurada a participação da pessoa com de saúde são obrigadas a garantir à pessoa com
deficiência na elaboração das políticas de saúde a deficiência, no mínimo, todos os serviços e produ-
ela destinadas. tos ofertados aos demais clientes.
§ 2º É assegurado atendimento segundo normas Art. 21 Quando esgotados os meios de atenção à
éticas e técnicas, que regulamentarão a atuação saúde da pessoa com deficiência no local de resi-
dos profissionais de saúde e contemplarão aspec- dência, será prestado atendimento fora de domi-
tos relacionados aos direitos e às especificidades da cílio, para fins de diagnóstico e de tratamento,
pessoa com deficiência, incluindo temas como sua garantidos o transporte e a acomodação da pessoa
dignidade e autonomia. com deficiência e de seu acompanhante.
§ 3º Aos profissionais que prestam assistência à Art. 22 À pessoa com deficiência internada ou em
pessoa com deficiência, especialmente em serviços observação é assegurado o direito a acompanhante
de habilitação e de reabilitação, deve ser garantida ou a atendente pessoal, devendo o órgão ou a insti-
capacitação inicial e continuada. tuição de saúde proporcionar condições adequadas
§ 4º As ações e os serviços de saúde pública desti- para sua permanência em tempo integral.
nados à pessoa com deficiência devem assegurar: § 1º Na impossibilidade de permanência do acom-
I - diagnóstico e intervenção precoces, realizados panhante ou do atendente pessoal junto à pessoa
por equipe multidisciplinar; com deficiência, cabe ao profissional de saúde res-
II - serviços de habilitação e de reabilitação sempre ponsável pelo tratamento justificá-la por escrito.
que necessários, para qualquer tipo de deficiência, § 2º Na ocorrência da impossibilidade prevista no
inclusive para a manutenção da melhor condição § 1º deste artigo, o órgão ou a instituição de saúde
de saúde e qualidade de vida; deve adotar as providências cabíveis para suprir
III - atendimento domiciliar multidisciplinar, trata- a ausência do acompanhante ou do atendente
mento ambulatorial e internação; pessoal.
IV - campanhas de vacinação; Art. 23 São vedadas todas as formas de discrimi-
V - atendimento psicológico, inclusive para seus nação contra a pessoa com deficiência, inclusive
familiares e atendentes pessoais; por meio de cobrança de valores diferenciados por
VI - respeito à especificidade, à identidade de gêne- planos e seguros privados de saúde, em razão de
ro e à orientação sexual da pessoa com deficiência; sua condição.
VII - atenção sexual e reprodutiva, incluindo o direi- Art. 24 É assegurado à pessoa com deficiência o
to à fertilização assistida; acesso aos serviços de saúde, tanto públicos como
VIII - informação adequada e acessível à pessoa privados, e às informações prestadas e recebidas,
com deficiência e a seus familiares sobre sua con- por meio de recursos de tecnologia assistiva e de
dição de saúde;
todas as formas de comunicação previstas no inci-
IX - serviços projetados para prevenir a ocorrên-
so V do art. 3º desta Lei.
cia e o desenvolvimento de deficiências e agravos
Art. 25 Os espaços dos serviços de saúde, tanto
adicionais;
públicos quanto privados, devem assegurar o aces-
X - promoção de estratégias de capacitação perma-
so da pessoa com deficiência, em conformidade
nente das equipes que atuam no SUS, em todos os
com a legislação em vigor, mediante a remoção
níveis de atenção, no atendimento à pessoa com
de barreiras, por meio de projetos arquitetônico,
deficiência, bem como orientação a seus atendentes
de ambientação de interior e de comunicação que
pessoais;
atendam às especificidades das pessoas com defi-
XI - oferta de órteses, próteses, meios auxiliares
de locomoção, medicamentos, insumos e fórmu- ciência física, sensorial, intelectual e mental.
las nutricionais, conforme as normas vigentes do Art. 26 Os casos de suspeita ou de confirmação de
Ministério da Saúde. violência praticada contra a pessoa com deficiên-
§ 5º As diretrizes deste artigo aplicam-se também cia serão objeto de notificação compulsória pelos
às instituições privadas que participem de forma serviços de saúde públicos e privados à autoridade
complementar do SUS ou que recebam recursos policial e ao Ministério Público, além dos Conselhos
públicos para sua manutenção. dos Direitos da Pessoa com Deficiência.
Art. 19 Compete ao SUS desenvolver ações destina- Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, consi-
das à prevenção de deficiências por causas evitá- dera-se violência contra a pessoa com deficiência
veis, inclusive por meio de: qualquer ação ou omissão, praticada em local
I - acompanhamento da gravidez, do parto e do público ou privado, que lhe cause morte ou dano ou
puerpério, com garantia de parto humanizado e sofrimento físico ou psicológico.
seguro;
36
Do Direito à Educação VIII - participação dos estudantes com deficiência e
de suas famílias nas diversas instâncias de atuação
O direito à educação está previsto nos arts. 27 da comunidade escolar;
ao 30, além de fazer parte do rol dos direitos sociais, IX - adoção de medidas de apoio que favoreçam o
previstos no art. 6º da Constituição Federal, de 1988. desenvolvimento dos aspectos linguísticos, cultu-
rais, vocacionais e profissionais, levando-se em
Na Lei nº 13.146, de 2015, o direito à educação deve
conta o talento, a criatividade, as habilidades e os
ser garantido por meio de um sistema educacio-
interesses do estudante com deficiência;
nal inclusivo, que deve atender, com qualidade e
X - adoção de práticas pedagógicas inclusivas pelos
de modo satisfatório, as pessoas com deficiência. O programas de formação inicial e continuada de
objetivo desse sistema inclusivo é evitar a segregação professores e oferta de formação continuada para
dessas pessoas, a fim de superar as dificuldades que o atendimento educacional especializado;
advenham dessa condição e favorecer a sua integra- XI - formação e disponibilização de professores
ção na comunidade. para o atendimento educacional especializado, de
tradutores e intérpretes da Libras, de guias intér-
Dica pretes e de profissionais de apoio;
XII - oferta de ensino da Libras, do Sistema Braille e
É a escola que deve se adaptar ao aluno, bus- de uso de recursos de tecnologia assistiva, de forma
cando compreender suas necessidades e carac- a ampliar habilidades funcionais dos estudantes,
terísticas e não o contrário. promovendo sua autonomia e participação;
XIII - acesso à educação superior e à educação pro-
Art. 27 A educação constitui direito da pessoa com fissional e tecnológica em igualdade de oportunida-
deficiência, assegurados sistema educacional inclu- des e condições com as demais pessoas;
sivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de XIV - inclusão em conteúdos curriculares, em cur-
toda a vida, de forma a alcançar o máximo desen- sos de nível superior e de educação profissional
técnica e tecnológica, de temas relacionados à
volvimento possível de seus talentos e habilidades
pessoa com deficiência nos respectivos campos de
físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo
conhecimento;
suas características, interesses e necessidades de
XV - acesso da pessoa com deficiência, em igualda-
aprendizagem.
de de condições, a jogos e a atividades recreativas,
Parágrafo único. É dever do Estado, da família,
esportivas e de lazer, no sistema escolar;
da comunidade escolar e da sociedade assegurar
XVI - acessibilidade para todos os estudantes, tra-
educação de qualidade à pessoa com deficiência,
balhadores da educação e demais integrantes da
colocando-a a salvo de toda forma de violência,
comunidade escolar às edificações, aos ambientes e
negligência e discriminação.
às atividades concernentes a todas as modalidades,
Art. 28 Incumbe ao poder público assegurar, criar,
etapas e níveis de ensino;
desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar
XVII - oferta de profissionais de apoio escolar;
e avaliar:
XVIII - articulação intersetorial na implementação
I - sistema educacional inclusivo em todos os níveis
de políticas públicas.
e modalidades, bem como o aprendizado ao longo § 1º Às instituições privadas, de qualquer nível e
de toda a vida; modalidade de ensino, aplica-se obrigatoriamente
II - aprimoramento dos sistemas educacionais, o disposto nos incisos I, II, III, V, VII, VIII, IX, X, XI,
visando a garantir condições de acesso, perma- XII, XIII, XIV, XV, XVI, XVII e XVIII do caput deste
nência, participação e aprendizagem, por meio da artigo, sendo vedada a cobrança de valores adicio-
oferta de serviços e de recursos de acessibilidade nais de qualquer natureza em suas mensalidades,
que eliminem as barreiras e promovam a inclusão anuidades e matrículas no cumprimento dessas
plena; determinações.
III - projeto pedagógico que institucionalize o aten- § 2º Na disponibilização de tradutores e intérpretes
dimento educacional especializado, assim como os da Libras a que se refere o inciso XI do caput deste
demais serviços e adaptações razoáveis, para aten- artigo, deve-se observar o seguinte:
der às características dos estudantes com deficiên- I - os tradutores e intérpretes da Libras atuantes na
cia e garantir o seu pleno acesso ao currículo em educação básica devem, no mínimo, possuir ensi-
condições de igualdade, promovendo a conquista e no médio completo e certificado de proficiência na
o exercício de sua autonomia; Libras; (Vigência)
IV - oferta de educação bilíngue, em Libras como II - os tradutores e intérpretes da Libras, quando
primeira língua e na modalidade escrita da língua direcionados à tarefa de interpretar nas salas de
portuguesa como segunda língua, em escolas e aula dos cursos de graduação e pós-graduação,
classes bilíngues e em escolas inclusivas; devem possuir nível superior, com habilitação,
V - adoção de medidas individualizadas e coletivas prioritariamente, em Tradução e Interpretação em
em ambientes que maximizem o desenvolvimento
DIREITOS HUMANOS

Libras. (Vigência)
acadêmico e social dos estudantes com deficiência, Art. 29 (VETADO).
favorecendo o acesso, a permanência, a participa- Art. 30 Nos processos seletivos para ingresso e per-
ção e a aprendizagem em instituições de ensino; manência nos cursos oferecidos pelas instituições
VI - pesquisas voltadas para o desenvolvimento de de ensino superior e de educação profissional e tec-
novos métodos e técnicas pedagógicas, de mate- nológica, públicas e privadas, devem ser adotadas
riais didáticos, de equipamentos e de recursos de as seguintes medidas:
tecnologia assistiva; I - atendimento preferencial à pessoa com deficiên-
VII - planejamento de estudo de caso, de elabora- cia nas dependências das Instituições de Ensino
ção de plano de atendimento educacional especia- Superior (IES) e nos serviços;
lizado, de organização de recursos e serviços de II - disponibilização de formulário de inscrição
acessibilidade e de disponibilização e usabilidade de exames com campos específicos para que o
pedagógica de recursos de tecnologia assistiva; candidato com deficiência informe os recursos de 37
acessibilidade e de tecnologia assistiva necessários § 3º Caso não haja pessoa com deficiência interes-
para sua participação; sada nas unidades habitacionais reservadas por
III - disponibilização de provas em formatos acessí- força do disposto no inciso I do caput deste artigo,
veis para atendimento às necessidades específicas as unidades não utilizadas serão disponibilizadas
do candidato com deficiência; às demais pessoas.
IV - disponibilização de recursos de acessibilidade Art. 33 Ao poder público compete:
e de tecnologia assistiva adequados, previamen- I - adotar as providências necessárias para o cum-
te solicitados e escolhidos pelo candidato com primento do disposto nos arts. 31 e 32 desta Lei; e
deficiência; II - divulgar, para os agentes interessados e benefi-
V - dilação de tempo, conforme demanda apresen- ciários, a política habitacional prevista nas legisla-
tada pelo candidato com deficiência, tanto na reali- ções federal, estaduais, distrital e municipais, com
zação de exame para seleção quanto nas atividades
ênfase nos dispositivos sobre acessibilidade.
acadêmicas, mediante prévia solicitação e compro-
vação da necessidade;
VI - adoção de critérios de avaliação das provas Do Direito ao Trabalho
escritas, discursivas ou de redação que considerem
a singularidade linguística da pessoa com deficiên- O direito ao trabalho, disciplinado nos arts. 34
cia, no domínio da modalidade escrita da língua e 35, tem, como característica, o fato de ser incluso.
portuguesa; Como consequência, permite-se que a pessoa com
VII - tradução completa do edital e de suas retifica- deficiência tenha efetiva liberdade de escolha quanto
ções em Libras. à profissão ou ao trabalho que deseja desempenhar.

Do Direito à Moradia Disposições Gerais

O direito à moradia, cuja previsão encontra- Art. 34 A pessoa com deficiência tem direito ao tra-
-se nos arts. 31 ao 33, tem, como objetivo, garantir o balho de sua livre escolha e aceitação, em ambiente
máximo de autonomia e dignidade à pessoa com defi- acessível e inclusivo, em igualdade de oportunida-
ciência. Trata-se de um direito contemplado na Decla- des com as demais pessoas.
ração Universal de Direitos Humanos, competindo ao § 1º As pessoas jurídicas de direito público, privado
Poder Público sua promoção e efetiva concretização. ou de qualquer natureza são obrigadas a garantir
ambientes de trabalho acessíveis e inclusivos.
Art. 31 A pessoa com deficiência tem direito à § 2º A pessoa com deficiência tem direito, em igual-
moradia digna, no seio da família natural ou substi- dade de oportunidades com as demais pessoas, a
tuta, com seu cônjuge ou companheiro ou desacom- condições justas e favoráveis de trabalho, incluindo
panhada, ou em moradia para a vida independente igual remuneração por trabalho de igual valor.
da pessoa com deficiência, ou, ainda, em residência § 3º É vedada restrição ao trabalho da pessoa com
inclusiva. deficiência e qualquer discriminação em razão
§ 1º O poder público adotará programas e ações de sua condição, inclusive nas etapas de recruta-
estratégicas para apoiar a criação e a manutenção mento, seleção, contratação, admissão, exames
de moradia para a vida independente da pessoa
admissional e periódico, permanência no emprego,
com deficiência.
ascensão profissional e reabilitação profissional,
§ 2º A proteção integral na modalidade de residên-
bem como exigência de aptidão plena.
cia inclusiva será prestada no âmbito do Suas à
§ 4º A pessoa com deficiência tem direito à partici-
pessoa com deficiência em situação de dependência
pação e ao acesso a cursos, treinamentos, educação
que não disponha de condições de autossustenta-
bilidade, com vínculos familiares fragilizados ou continuada, planos de carreira, promoções, bonifi-
rompidos. cações e incentivos profissionais oferecidos pelo
Art. 32 Nos programas habitacionais, públicos ou empregador, em igualdade de oportunidades com
subsidiados com recursos públicos, a pessoa com os demais empregados.
deficiência ou o seu responsável goza de priorida- § 5º É garantida aos trabalhadores com deficiên-
de na aquisição de imóvel para moradia própria, cia acessibilidade em cursos de formação e de
observado o seguinte: capacitação.
I - reserva de, no mínimo, 3% (três por cento) Art. 35 É finalidade primordial das políticas públi-
das unidades habitacionais para pessoa com cas de trabalho e emprego promover e garantir
deficiência; condições de acesso e de permanência da pessoa
II - (VETADO); com deficiência no campo de trabalho.
III - em caso de edificação multifamiliar, garantia Parágrafo único. Os programas de estímulo ao
de acessibilidade nas áreas de uso comum e nas empreendedorismo e ao trabalho autônomo, incluí-
unidades habitacionais no piso térreo e de acessibi- dos o cooperativismo e o associativismo, devem
lidade ou de adaptação razoável nos demais pisos; prever a participação da pessoa com deficiência
IV - disponibilização de equipamentos urbanos e a disponibilização de linhas de crédito, quando
comunitários acessíveis; necessárias.
V - elaboração de especificações técnicas no projeto
que permitam a instalação de elevadores.
Do Direito à Assistência Social
§ 1º O direito à prioridade, previsto no caput deste
artigo, será reconhecido à pessoa com deficiência
beneficiária apenas uma vez. O direito à assistência social encontra-se con-
§ 2º Nos programas habitacionais públicos, os cri- templado nos arts. 39 e 40, além de fazer parte do rol
térios de financiamento devem ser compatíveis com dos direitos sociais previstos no art. 6º da Constituição
os rendimentos da pessoa com deficiência ou de sua Federal, de 1988.
38 família.
A assistência social faz parte do subsistema da II - a programas de televisão, cinema, teatro e
Seguridade Social, juntamente com a saúde e a previ- outras atividades culturais e desportivas em for-
dência social. Por assistência social entende-se o con- mato acessível; e
junto de medidas institucionalizadas de assistência III - a monumentos e locais de importância cultural
gratuita a ser prestada a quem dela necessitar. e a espaços que ofereçam serviços ou eventos cultu-
São seus objetivos: habilitar e reabilitar as pessoas rais e esportivos.
com deficiência; reintegrá-las à vida comunitária; § 1º É vedada a recusa de oferta de obra intelectual
garantir um benefício mensal àqueles que não têm em formato acessível à pessoa com deficiência, sob
meios de prover a sua manutenção (hipossuficiente). qualquer argumento, inclusive sob a alegação de
Veja os artigos em sua literalidade: proteção dos direitos de propriedade intelectual.
§ 2º O poder público deve adotar soluções desti-
nadas à eliminação, à redução ou à superação de
Art. 39 Os serviços, os programas, os projetos e os
barreiras para a promoção do acesso a todo patri-
benefícios no âmbito da política pública de assis-
tência social à pessoa com deficiência e sua família mônio cultural, observadas as normas de acessi-
têm como objetivo a garantia da segurança de ren- bilidade, ambientais e de proteção do patrimônio
da, da acolhida, da habilitação e da reabilitação, do histórico e artístico nacional.
desenvolvimento da autonomia e da convivência Art. 43 O poder público deve promover a participa-
familiar e comunitária, para a promoção do acesso ção da pessoa com deficiência em atividades artísti-
a direitos e da plena participação social. cas, intelectuais, culturais, esportivas e recreativas,
§ 1º A assistência social à pessoa com deficiência, com vistas ao seu protagonismo, devendo:
nos termos do caput deste artigo, deve envolver I - incentivar a provisão de instrução, de treinamen-
conjunto articulado de serviços do âmbito da Pro- to e de recursos adequados, em igualdade de opor-
teção Social Básica e da Proteção Social Especial, tunidades com as demais pessoas;
ofertados pelo Suas, para a garantia de seguranças II - assegurar acessibilidade nos locais de eventos
fundamentais no enfrentamento de situações de e nos serviços prestados por pessoa ou entidade
vulnerabilidade e de risco, por fragilização de vín- envolvida na organização das atividades de que
culos e ameaça ou violação de direitos. trata este artigo; e
§ 2º Os serviços socioassistenciais destinados à III - assegurar a participação da pessoa com defi-
pessoa com deficiência em situação de dependência ciência em jogos e atividades recreativas, espor-
deverão contar com cuidadores sociais para pres- tivas, de lazer, culturais e artísticas, inclusive no
tar-lhe cuidados básicos e instrumentais. sistema escolar, em igualdade de condições com as
Art. 40 É assegurado à pessoa com deficiência que demais pessoas.
não possua meios para prover sua subsistência Art. 44 Nos teatros, cinemas, auditórios, estádios,
nem de tê-la provida por sua família o benefício ginásios de esporte, locais de espetáculos e de con-
mensal de 1 (um) salário-mínimo, nos termos da ferências e similares, serão reservados espaços
Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993. livres e assentos para a pessoa com deficiência, de
acordo com a capacidade de lotação da edificação,
Do Direito à Previdência Social observado o disposto em regulamento.
§ 1º Os espaços e assentos a que se refere este arti-
O direito à previdência social, também integran- go devem ser distribuídos pelo recinto em locais
te do subsistema da Seguridade Social, encontra-se diversos, de boa visibilidade, em todos os setores,
previsto no art. 41. Trata de garantir à pessoa com próximos aos corredores, devidamente sinalizados,
deficiência segurada do Regime Geral de Previdência evitando-se áreas segregadas de público e obstru-
Social (RGPS) o direito à aposentadoria nos termos ção das saídas, em conformidade com as normas
da Lei Complementar nº 142 de 8 de maio de 2013 — de acessibilidade.
§ 2º No caso de não haver comprovada procura
redução de até 10 (dez) anos de contribuição, confor-
pelos assentos reservados, esses podem, excepcio-
me o grau da deficiência aferido em avaliação médica
nalmente, ser ocupados por pessoas sem deficiência
e social.
ou que não tenham mobilidade reduzida, observa-
do o disposto em regulamento.
Art. 41 A pessoa com deficiência segurada do Regi-
§ 3º Os espaços e assentos a que se refere este arti-
me Geral de Previdência Social (RGPS) tem direito à
go devem situar-se em locais que garantam a aco-
aposentadoria nos termos da Lei Complementar nº
modação de, no mínimo, 1 (um) acompanhante da
142, de 8 de maio de 2013.
pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzi-
da, resguardado o direito de se acomodar proxima-
Do Direito à Cultura, ao Esporte, ao Turismo e ao mente a grupo familiar e comunitário.
Lazer § 4º Nos locais referidos no caput deste artigo,
deve haver, obrigatoriamente, rotas de fuga e saí-
O direito à cultura, ao esporte, ao turismo e ao das de emergência acessíveis, conforme padrões
DIREITOS HUMANOS

lazer está estabelecido nos arts. 42 ao 45, tendo, como das normas de acessibilidade, a fim de permitir
um de seus principais objetivos, a promoção isonômi- a saída segura da pessoa com deficiência ou com
ca à inclusão e participação da pessoa com deficiência mobilidade reduzida, em caso de emergência.
na vida em sociedade em todos os seus aspectos. § 5º Todos os espaços das edificações previstas no
Ressalta-se que é proibida a cobrança de valor caput deste artigo devem atender às normas de
maior pelo ingresso de pessoas com deficiência. acessibilidade em vigor.
§ 6º As salas de cinema devem oferecer, em todas
Art. 42 A pessoa com deficiência tem direito à cul- as sessões, recursos de acessibilidade para a pessoa
tura, ao esporte, ao turismo e ao lazer em igualdade com deficiência.
de oportunidades com as demais pessoas, sendo-lhe § 7º O valor do ingresso da pessoa com deficiên-
garantido o acesso: cia não poderá ser superior ao valor cobrado das
I - a bens culturais em formato acessível; demais pessoas. 39
Art. 45 Os hotéis, pousadas e similares devem ser § 1º Os veículos e as estruturas de que trata o caput
construídos observando-se os princípios do dese- deste artigo devem dispor de sistema de comunica-
nho universal, além de adotar todos os meios de ção acessível que disponibilize informações sobre
acessibilidade, conforme legislação em vigor. todos os pontos do itinerário.
§ 1º Os estabelecimentos já existentes deverão dis- § 2º São asseguradas à pessoa com deficiência prio-
ponibilizar, pelo menos, 10% (dez por cento) de ridade e segurança nos procedimentos de embar-
seus dormitórios acessíveis, garantida, no mínimo, que e de desembarque nos veículos de transporte
1 (uma) unidade acessível. coletivo, de acordo com as normas técnicas.
§ 2º Os dormitórios mencionados no § 1º deste arti- § 3º Para colocação do símbolo internacional de
go deverão ser localizados em rotas acessíveis. acesso nos veículos, as empresas de transporte
coletivo de passageiros dependem da certificação
Do Direito ao Transporte e à Mobilidade de acessibilidade emitida pelo gestor público res-
ponsável pela prestação do serviço.
O direito ao transporte e à mobilidade está disci- Art. 49 As empresas de transporte de fretamento e
plinado nos arts. 46 ao 52. Tal direito objetiva comba- de turismo, na renovação de suas frotas, são obri-
ter, de modo concreto, a manifestação de barreiras na gadas ao cumprimento do disposto nos arts. 46 e 48
vida da pessoa com deficiência. desta Lei. (Vigência)
Art. 50 O poder público incentivará a fabricação de
veículos acessíveis e a sua utilização como táxis e
Art. 46 O direito ao transporte e à mobilidade da
pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzi- vans, de forma a garantir o seu uso por todas as
da será assegurado em igualdade de oportunidades pessoas.
com as demais pessoas, por meio de identificação Art. 51 As frotas de empresas de táxi devem reser-
e de eliminação de todos os obstáculos e barreiras var 10% (dez por cento) de seus veículos acessíveis
ao seu acesso. à pessoa com deficiência. (Vide Decreto nº 9.762, de
§ 1º Para fins de acessibilidade aos serviços de 2019) (Vigência)
transporte coletivo terrestre, aquaviário e aéreo, § 1º É proibida a cobrança diferenciada de tarifas
em todas as jurisdições, consideram-se como inte- ou de valores adicionais pelo serviço de táxi presta-
grantes desses serviços os veículos, os terminais, as do à pessoa com deficiência.
estações, os pontos de parada, o sistema viário e a § 2º O poder público é autorizado a instituir incenti-
prestação do serviço. vos fiscais com vistas a possibilitar a acessibilidade
§ 2º São sujeitas ao cumprimento das disposições dos veículos a que se refere o caput deste artigo.
desta Lei, sempre que houver interação com a Art. 52 As locadoras de veículos são obrigadas a
matéria nela regulada, a outorga, a concessão, a oferecer 1 (um) veículo adaptado para uso de pes-
permissão, a autorização, a renovação ou a habili- soa com deficiência, a cada conjunto de 20 (vinte)
tação de linhas e de serviços de transporte coletivo. veículos de sua frota. (Vide Decreto nº 9.762, de
§ 3º Para colocação do símbolo internacional de 2019) (Vigência)
acesso nos veículos, as empresas de transporte Parágrafo único. O veículo adaptado deverá ter, no
coletivo de passageiros dependem da certificação mínimo, câmbio automático, direção hidráulica,
de acessibilidade emitida pelo gestor público res- vidros elétricos e comandos manuais de freio e de
ponsável pela prestação do serviço. embreagem.
Art. 47 Em todas as áreas de estacionamento aber-
to ao público, de uso público ou privado de uso Da Acessibilidade
coletivo e em vias públicas, devem ser reservadas
vagas próximas aos acessos de circulação de pedes- O direito à acessibilidade encontra-se previsto
tres, devidamente sinalizadas, para veículos que nos arts. 53 ao 62. Seu objetivo é conceder igualdade
transportem pessoa com deficiência com compro- de condições e acesso, liberdade, autonomia e inde-
metimento de mobilidade, desde que devidamente pendência às pessoas com deficiência, competindo ao
identificados.
Poder Público amoldar e adaptar todas as suas esfe-
§ 1º As vagas a que se refere o caput deste arti-
ras com o objetivo de garantir tratamento igualitário
go devem equivaler a 2% (dois por cento) do total,
garantida, no mínimo, 1 (uma) vaga devidamente a todas as pessoas, de modo a eliminar as possíveis
sinalizada e com as especificações de desenho e tra- barreiras impostas a elas.
çado de acordo com as normas técnicas vigentes de
acessibilidade. Art. 53 A acessibilidade é direito que garante à pes-
§ 2º Os veículos estacionados nas vagas reservadas soa com deficiência ou com mobilidade reduzida
devem exibir, em local de ampla visibilidade, a cre- viver de forma independente e exercer seus direitos
dencial de beneficiário, a ser confeccionada e for- de cidadania e de participação social.
necida pelos órgãos de trânsito, que disciplinarão Art. 54 São sujeitas ao cumprimento das dispo-
suas características e condições de uso. sições desta Lei e de outras normas relativas à
§ 3º A utilização indevida das vagas de que trata acessibilidade, sempre que houver interação com a
este artigo sujeita os infratores às sanções previs- matéria nela regulada:
tas no inciso XX do art. 181 da Lei nº 9.503, de 23 de I - a aprovação de projeto arquitetônico e urbanís-
setembro de 1997 (Código de Trânsito Brasileiro). tico ou de comunicação e informação, a fabricação
§ 4º A credencial a que se refere o § 2º deste artigo é de veículos de transporte coletivo, a prestação do
vinculada à pessoa com deficiência que possui com- respectivo serviço e a execução de qualquer tipo
prometimento de mobilidade e é válida em todo o de obra, quando tenham destinação pública ou
território nacional. coletiva;
Art. 48 Os veículos de transporte coletivo terrestre, II - a outorga ou a renovação de concessão, per-
aquaviário e aéreo, as instalações, as estações, os missão, autorização ou habilitação de qualquer
portos e os terminais em operação no País devem natureza;
ser acessíveis, de forma a garantir o seu uso por III - a aprovação de financiamento de projeto
40 todas as pessoas. com utilização de recursos públicos, por meio de
renúncia ou de incentivo fiscal, contrato, convênio Art. 59 Em qualquer intervenção nas vias e nos
ou instrumento congênere; e espaços públicos, o poder público e as empresas
IV - a concessão de aval da União para obtenção de concessionárias responsáveis pela execução das
empréstimo e de financiamento internacionais por obras e dos serviços devem garantir, de forma segu-
entes públicos ou privados. ra, a fluidez do trânsito e a livre circulação e acessi-
Art. 55 A concepção e a implantação de projetos bilidade das pessoas, durante e após sua execução.
que tratem do meio físico, de transporte, de infor- Art. 60 Orientam-se, no que couber, pelas regras de
mação e comunicação, inclusive de sistemas e tec- acessibilidade previstas em legislação e em normas
nologias da informação e comunicação, e de outros técnicas, observado o disposto na Lei nº 10.098, de
serviços, equipamentos e instalações abertos ao 19 de dezembro de 2000, nº 10.257, de 10 de julho de
público, de uso público ou privado de uso coleti- 2001, e nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012:
vo, tanto na zona urbana como na rural, devem I - os planos diretores municipais, os planos dire-
atender aos princípios do desenho universal, tendo tores de transporte e trânsito, os planos de mobi-
como referência as normas de acessibilidade. lidade urbana e os planos de preservação de sítios
§ 1º O desenho universal será sempre tomado como históricos elaborados ou atualizados a partir da
regra de caráter geral. publicação desta Lei;
§ 2º Nas hipóteses em que comprovadamente o II - os códigos de obras, os códigos de postura, as
desenho universal não possa ser empreendido, deve leis de uso e ocupação do solo e as leis do sistema
ser adotada adaptação razoável. viário;
§ 3º Caberá ao poder público promover a inclu- III - os estudos prévios de impacto de vizinhança;
são de conteúdos temáticos referentes ao desenho IV - as atividades de fiscalização e a imposição de
universal nas diretrizes curriculares da educação sanções; e
profissional e tecnológica e do ensino superior e na V - a legislação referente à prevenção contra incên-
formação das carreiras de Estado. dio e pânico.
§ 4º Os programas, os projetos e as linhas de pes- § 1º A concessão e a renovação de alvará de fun-
quisa a serem desenvolvidos com o apoio de orga- cionamento para qualquer atividade são condicio-
nismos públicos de auxílio à pesquisa e de agências nadas à observação e à certificação das regras de
de fomento deverão incluir temas voltados para o acessibilidade.
desenho universal. § 2º A emissão de carta de habite-se ou de habilita-
§ 5º Desde a etapa de concepção, as políticas ção equivalente e sua renovação, quando esta tiver
públicas deverão considerar a adoção do desenho sido emitida anteriormente às exigências de acessi-
universal. bilidade, é condicionada à observação e à certifica-
Art. 56 A construção, a reforma, a ampliação ou a ção das regras de acessibilidade.
mudança de uso de edificações abertas ao público, Art. 61 A formulação, a implementação e a manu-
de uso público ou privadas de uso coletivo deverão tenção das ações de acessibilidade atenderão às
ser executadas de modo a serem acessíveis. seguintes premissas básicas:
§ 1º As entidades de fiscalização profissional das I - eleição de prioridades, elaboração de cronogra-
atividades de Engenharia, de Arquitetura e correla- ma e reserva de recursos para implementação das
tas, ao anotarem a responsabilidade técnica de pro- ações; e
jetos, devem exigir a responsabilidade profissional II - planejamento contínuo e articulado entre os
declarada de atendimento às regras de acessibili- setores envolvidos.
dade previstas em legislação e em normas técnicas Art. 62 É assegurado à pessoa com deficiência,
pertinentes. mediante solicitação, o recebimento de contas,
§ 2º Para a aprovação, o licenciamento ou a emis- boletos, recibos, extratos e cobranças de tributos
são de certificado de projeto executivo arquitetô- em formato acessível.
nico, urbanístico e de instalações e equipamentos
temporários ou permanentes e para o licenciamen- Do Acesso à Informação e à Comunicação
to ou a emissão de certificado de conclusão de obra
ou de serviço, deve ser atestado o atendimento às
O direito ao acesso à informação e à comunica-
regras de acessibilidade.
§ 3º O poder público, após certificar a acessibi- ção está disposto nos arts. 63 ao 73 da lei. Trata-se de
lidade de edificação ou de serviço, determinará a dispositivos cujo escopo é ampliar a ideia de acessibi-
colocação, em espaços ou em locais de ampla visi- lidade à informação, de maneira a contemplar qual-
bilidade, do símbolo internacional de acesso, na quer serviço ou produto.
forma prevista em legislação e em normas técnicas
correlatas. Art. 63 É obrigatória a acessibilidade nos sítios
Art. 57 As edificações públicas e privadas de uso da internet mantidos por empresas com sede ou
coletivo já existentes devem garantir acessibilidade representação comercial no País ou por órgãos
à pessoa com deficiência em todas as suas depen- de governo, para uso da pessoa com deficiência,
DIREITOS HUMANOS

dências e serviços, tendo como referência as nor- garantindo-lhe acesso às informações disponíveis,
mas de acessibilidade vigentes. conforme as melhores práticas e diretrizes de aces-
Art. 58 O projeto e a construção de edificação de sibilidade adotadas internacionalmente.
uso privado multifamiliar devem atender aos pre- § 1º Os sítios devem conter símbolo de acessibilida-
ceitos de acessibilidade, na forma regulamentar. de em destaque.
§ 1º As construtoras e incorporadoras responsáveis § 2º Telecentros comunitários que receberem recur-
pelo projeto e pela construção das edificações a que sos públicos federais para seu custeio ou sua insta-
se refere o caput deste artigo devem assegurar lação e lan houses devem possuir equipamentos e
percentual mínimo de suas unidades internamente instalações acessíveis.
acessíveis, na forma regulamentar. § 3º Os telecentros e as lan houses de que trata o
§ 2º É vedada a cobrança de valores adicionais para § 2º deste artigo devem garantir, no mínimo, 10%
a aquisição de unidades internamente acessíveis a (dez por cento) de seus computadores com recur-
que se refere o § 1º deste artigo. sos de acessibilidade para pessoa com deficiência 41
visual, sendo assegurado pelo menos 1 (um) equi- § 2º Os fornecedores devem disponibilizar, median-
pamento, quando o resultado percentual for infe- te solicitação, exemplares de bulas, prospectos,
rior a 1 (um). textos ou qualquer outro tipo de material de divul-
Art. 64 A acessibilidade nos sítios da internet de gação em formato acessível.
que trata o art. 63 desta Lei deve ser observada Art. 70 As instituições promotoras de congressos,
para obtenção do financiamento de que trata o inci- seminários, oficinas e demais eventos de natureza
so III do art. 54 desta Lei. científico-cultural devem oferecer à pessoa com
Art. 65 As empresas prestadoras de serviços de deficiência, no mínimo, os recursos de tecnologia
telecomunicações deverão garantir pleno acesso à assistiva previstos no art. 67 desta Lei.
pessoa com deficiência, conforme regulamentação Art. 71 Os congressos, os seminários, as oficinas
específica. e os demais eventos de natureza científico-cultu-
Art. 66 Cabe ao poder público incentivar a oferta ral promovidos ou financiados pelo poder público
de aparelhos de telefonia fixa e móvel celular com devem garantir as condições de acessibilidade e os
acessibilidade que, entre outras tecnologias assis- recursos de tecnologia assistiva.
Art. 72 Os programas, as linhas de pesquisa e os
tivas, possuam possibilidade de indicação e de
projetos a serem desenvolvidos com o apoio de
ampliação sonoras de todas as operações e funções
agências de financiamento e de órgãos e entidades
disponíveis.
integrantes da administração pública que atuem no
Art. 67 Os serviços de radiodifusão de sons e ima-
auxílio à pesquisa devem contemplar temas volta-
gens devem permitir o uso dos seguintes recursos,
dos à tecnologia assistiva.
entre outros:
Art. 73 Caberá ao poder público, diretamente ou
I - subtitulação por meio de legenda oculta; em parceria com organizações da sociedade civil,
II - janela com intérprete da Libras; promover a capacitação de tradutores e intérpre-
III - audiodescrição. tes da Libras, de guias intérpretes e de profissionais
Art. 68 O poder público deve adotar mecanis- habilitados em Braille, audiodescrição, estenotipia
mos de incentivo à produção, à edição, à difusão, e legendagem.
à distribuição e à comercialização de livros em
formatos acessíveis, inclusive em publicações da Da Tecnologia Assistiva
administração pública ou financiadas com recur-
sos públicos, com vistas a garantir à pessoa com
Os arts. 74 e 75 referem-se à tecnologia assistiva,
deficiência o direito de acesso à leitura, à informa-
conceituando-a como qualquer forma de apoio neces-
ção e à comunicação.
sário à promoção da autonomia e independência da
§ 1º Nos editais de compras de livros, inclusive
pessoa com deficiência. Cabe ao Poder Público a res-
para o abastecimento ou a atualização de acervos
de bibliotecas em todos os níveis e modalidades de
ponsabilidade de desenvolver um plano específico de
educação e de bibliotecas públicas, o poder público medidas, a ser renovado no período de quatro anos,
deverá adotar cláusulas de impedimento à partici- para facilitar a criação e promoção dessas tecnologias.
pação de editoras que não ofertem sua produção Além disso, tais procedimentos deverão ser avaliados,
também em formatos acessíveis. pelo menos, a cada dois anos.
§ 2º Consideram-se formatos acessíveis os arquivos
digitais que possam ser reconhecidos e acessados Art. 74 É garantido à pessoa com deficiência acesso
por softwares leitores de telas ou outras tecnolo- a produtos, recursos, estratégias, práticas, proces-
gias assistivas que vierem a substituí-los, permi- sos, métodos e serviços de tecnologia assistiva que
tindo leitura com voz sintetizada, ampliação de maximizem sua autonomia, mobilidade pessoal e
caracteres, diferentes contrastes e impressão em qualidade de vida.
Art. 75 O poder público desenvolverá plano especí-
Braille.
fico de medidas, a ser renovado em cada período de
§ 3º O poder público deve estimular e apoiar a
4 (quatro) anos, com a finalidade de: (Regulamento)
adaptação e a produção de artigos científicos em
I - facilitar o acesso a crédito especializado, inclu-
formato acessível, inclusive em Libras.
sive com oferta de linhas de crédito subsidiadas,
Art. 69 O poder público deve assegurar a disponi-
específicas para aquisição de tecnologia assistiva;
bilidade de informações corretas e claras sobre os
II - agilizar, simplificar e priorizar procedimentos
diferentes produtos e serviços ofertados, por quais- de importação de tecnologia assistiva, especial-
quer meios de comunicação empregados, inclusi- mente as questões atinentes a procedimentos alfan-
ve em ambiente virtual, contendo a especificação degários e sanitários;
correta de quantidade, qualidade, características, III - criar mecanismos de fomento à pesquisa e à
composição e preço, bem como sobre os eventuais produção nacional de tecnologia assistiva, inclusi-
riscos à saúde e à segurança do consumidor com ve por meio de concessão de linhas de crédito sub-
deficiência, em caso de sua utilização, aplicando-se, sidiado e de parcerias com institutos de pesquisa
no que couber, os arts. 30 a 41 da Lei nº 8.078, de 11 oficiais;
de setembro de 1990. IV - eliminar ou reduzir a tributação da cadeia pro-
§ 1º Os canais de comercialização virtual e os anún- dutiva e de importação de tecnologia assistiva;
cios publicitários veiculados na imprensa escrita, V - facilitar e agilizar o processo de inclusão de
na internet, no rádio, na televisão e nos demais novos recursos de tecnologia assistiva no rol de
veículos de comunicação abertos ou por assinatura produtos distribuídos no âmbito do SUS e por
devem disponibilizar, conforme a compatibilidade outros órgãos governamentais.
do meio, os recursos de acessibilidade de que trata Parágrafo único. Para fazer cumprir o disposto
o art. 67 desta Lei, a expensas do fornecedor do pro- neste artigo, os procedimentos constantes do plano
duto ou do serviço, sem prejuízo da observância do específico de medidas deverão ser avaliados, pelo
disposto nos arts. 36 a 38 da Lei nº 8.078, de 11 de menos, a cada 2 (dois) anos.
setembro de 1990.
42
Do Direito à Participação na vida Pública e Política Quanto ao reconhecimento igualitário perante a
lei, é reflexo do que já encontra disciplinado na Cons-
O direito à participação na vida pública e políti- tituição Federal. Por conseguinte, a Lei nº 13.146, de
ca, previsto no art. 76, guarda relação com o exercício 2015, visa garantir à pessoa com deficiência o pleno
da cidadania das pessoas com deficiência. A elas são exercício de suas capacidades.
garantidos os direitos inerentes a sua capacidade elei-
toral ativa e passiva. Para a promoção de tais medidas CRIMES E INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS
de acessibilidade, a competência cabe aos Tribunais
Regionais Eleitorais. Os crimes e as infrações administrativas estão
dispostos nos art. 88 a 91. Dos crimes elencados, ape-
Art. 76 O poder público deve garantir à pessoa com nas o do art. 91 tem, como pena, a detenção. Todos os
deficiência todos os direitos políticos e a oportuni- demais apresentam pena de reclusão.
dade de exercê-los em igualdade de condições com
as demais pessoas. z Detenção e reclusão são modalidades de penas
§ 1º À pessoa com deficiência será assegurado o
privativas de liberdade;
direito de votar e de ser votada, inclusive por meio
z Pena de reclusão é aplicada a condenações mais
das seguintes ações:
I - garantia de que os procedimentos, as instala- severas, por ser a única a admitir o regime inicial
ções, os materiais e os equipamentos para votação de cumprimento fechado. Essa modalidade admite
sejam apropriados, acessíveis a todas as pessoas e os três regimes de cumprimento:
de fácil compreensão e uso, sendo vedada a insta-
lação de seções eleitorais exclusivas para a pessoa „ fechado;
com deficiência; „ semiaberto;
II - incentivo à pessoa com deficiência a candida- „ aberto.
tar-se e a desempenhar quaisquer funções públicas
em todos os níveis de governo, inclusive por meio z Pena de detenção é aplicada a condenações mais
do uso de novas tecnologias assistivas, quando leves, uma vez que o regime inicial de cumprimen-
apropriado; to será o semiaberto. A detenção admite os regi-
III - garantia de que os pronunciamentos oficiais,
mes de cumprimento semiaberto e aberto, não
a propaganda eleitoral obrigatória e os debates
admitindo o fechado.
transmitidos pelas emissoras de televisão pos-
suam, pelo menos, os recursos elencados no art. 67
desta Lei; Vamos ao estudo dos crimes:
IV - garantia do livre exercício do direito ao voto e,
para tanto, sempre que necessário e a seu pedido, Art. 88 Praticar, induzir ou incitar discrimina-
permissão para que a pessoa com deficiência seja ção de pessoa em razão de sua deficiência:
auxiliada na votação por pessoa de sua escolha. Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
§ 2º O poder público promoverá a participação da
pessoa com deficiência, inclusive quando institucio- O crime do art. 88 pode ser praticado de três
nalizada, na condução das questões públicas, sem modos:
discriminação e em igualdade de oportunidades,
observado o seguinte: z Participação direta do agente na conduta deli-
I - participação em organizações não governa- tuosa: aqui, o agente age de modo a discriminar a
mentais relacionadas à vida pública e à política do pessoa em razão de sua deficiência. A conduta está
País e em atividades e administração de partidos
no verbo praticar;
políticos;
z Participação indireta do agente na conduta deli-
II - formação de organizações para representar a
pessoa com deficiência em todos os níveis; tuosa ao criar “na cabeça de outra pessoa” a ideia
III - participação da pessoa com deficiência em de que ela pratique a discriminação: aqui, temos
organizações que a representem. dois agentes, um que desperta a atenção de outro
para a prática do crime e outro que, efetivamente,
Da Ciência e Tecnologia pratica o crime. A conduta está no verbo induzir;
z Participação indireta do agente na conduta
Por último, também é estabelecido, na Lei nº delituosa ao reforçar ou encorajar uma pes-
13.146, de 2015, o direito à ciência e tecnologia. Ele soa a praticar a discriminação: diferentemente
está previsto nos arts. 77 e 78 e tem, como escopo, esti- da conduta de induzir, aqui, a pessoa instigada já
mular a criação de cursos de pós-graduação na área tinha a intenção de discriminar, havendo apenas
de tecnologia assistiva, bem como o desenvolvimen- um reforço/encorajamento. Temos, também, dois
DIREITOS HUMANOS

to de outras ações com o objetivo de formar recursos agentes, um que reforça e outro que pratica. A con-
humanos qualificados e estruturar as diretrizes dessa duta está no verbo instigar.
área de conhecimento.
A partir do art. 78, inicia-se a parte especial. Nela, Direta: praticar
Art. 88 — Condutas

constam disposições acerca do direito de acesso à


Justiça, o reconhecimento igualitário perante a lei e
a tipificação de determinadas condutas, como crimes Indireta: induzir
ou infrações. No que tange ao acesso à Justiça, compe-
te ao Poder Público realizar as adaptações e propor- Indireta: instigar
cionar os recursos de tecnologia assistiva necessários
para a plena participação da pessoa com deficiência
no âmbito do Poder Judiciário. 43
Outro ponto importante neste dispositivo é rela- Por fim, o parágrafo quarto refere-se ao que irá
tivo ao conceito de discriminar. Entende-se como acontecer com o material apreendido ou bloqueado.
discriminação toda distinção, exclusão ou restrição Após o trânsito em julgado da decisão (quando esgo-
baseada na deficiência, objetivando impedir ou obs- tou todos os meios de defesa e não há mais recurso
tar o exercício pleno de direitos. cabível), todo o material apreendido será destruído.

Art. 88 [...] Art. 89 Apropriar-se de ou desviar bens, proven-


§ 1º Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) se a víti- tos, pensão, benefícios, remuneração ou qualquer
ma encontrar-se sob cuidado e responsabilidade outro rendimento de pessoa com deficiência:
do agente. Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e
multa.
O parágrafo primeiro traz uma hipótese de cau-
sa de aumento de pena. Trata-se do fato de o agen- O crime tipificado no art. 89 pode ser praticado de
te, que praticou uma das condutas elencadas, ser o dois modos: por apropriação ou por desvio. Enten-
responsável (legal ou não) por aquele que sofreu a de-se por apropriação quando o agente faz da coisa
discriminação. O aumento de 1/3 da pena decorre da alheia como se fosse sua, ou seja, apodera-se de bem,
proximidade e do dever de cuidado para com a pes- proventos, pensões, benefícios ou qualquer outro ren-
soa com deficiência. São exemplos: pais, tutores, cura- dimento da pessoa com deficiência.
dores, guardiões, professores, médicos, cuidadores, Já no desvio, o agente dá um destino diferente
entre outros. ao bem, proventos, pensões, benefícios ou qualquer
outro rendimento da pessoa com deficiência. As duas
Art. 88 [...] condutas são punidas com pena de reclusão de 1 (um)
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput des- a 4 (quatro) anos.
te artigo é cometido por intermédio de meios de
comunicação social ou de publicação de qual- Art. 89 [...]
quer natureza: Parágrafo único. Aumenta-se a pena em 1/3 (um
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. terço) se o crime é cometido:
I - por tutor, curador, síndico, liquidatário, inven-
O parágrafo segundo é uma qualificadora do cri- tariante, testamenteiro ou depositário judicial; ou
me. Ela diz respeito ao meio utilizado para a prática II - por aquele que se apropriou em razão de ofício
da conduta, pois, ao ser cometido por intermédio de ou de profissão.
meios de comunicação social ou de publicação de
qualquer natureza, a conduta atinge mais visibilida- O parágrafo único apresenta uma hipótese de cau-
de, chegando ao conhecimento de um número maior sa de aumento de pena de 1/3 no caso de o agente que
de pessoas. praticou a conduta ser o responsável (legal) da pessoa
Atenção: A qualificadora altera o patamar da pena com deficiência ou ter se aproveitado de ofício ou pro-
(penas mínima e máxima constantes do tipo penal — fissão para o cometimento do crime.
preceito secundário) em razão de novas elementares
acrescentadas, o que faz com que ele seja um tipo Art. 90 Abandonar pessoa com deficiência em
derivado autônomo ou independente. Por outro lado, hospitais, casas de saúde, entidades de abrigamen-
a causa de aumento (majorante) é apenas uma hipóte- to ou congêneres:
se para que a pena possa ser aumentada. Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e
multa.
Art. 88 [...] Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem não
§ 3º Na hipótese do § 2º deste artigo, o juiz poderá prover as necessidades básicas de pessoa com defi-
determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedi- ciência quando obrigado por lei ou mandado.
do deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena
de desobediência: O art. 90 tipifica o crime de abandono de pessoa
I – recolhimento ou busca e apreensão dos exempla- com deficiência, de modo a dar amparo e proteção
res do material discriminatório; a essas pessoas, por vezes incapazes de zelar por sua
II – interdição das respectivas mensagens ou pági- vida. Refere-se ao fato de o agente deixar de prestar
nas de informação na internet. assistência, mesmo quando possui o dever de cuidado
e proteção.
O parágrafo terceiro dispõe a consequência do
crime cometido por intermédio de meios de comuni- Art. 91 Reter ou utilizar cartão magnético, qual-
cação social ou de publicação de qualquer natureza. quer meio eletrônico ou documento de pessoa com
Trata-se de medida para evitar a propagação da discri- deficiência destinados ao recebimento de benefícios,
minação, uma vez que, verificada a ocorrência de dis- proventos, pensões ou remuneração ou à realiza-
criminação da pessoa com deficiência por estes meios, ção de operações financeiras, com o fim de obter
é possível, ao juiz, após ouvido o Ministério Público vantagem indevida para si ou para outrem:
ou a pedido deste, determinar o recolhimento de todo Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
o material em que está descrita a discriminação. No e multa.
caso de divulgação em site de internet, pode-se deter- Parágrafo único. Aumenta-se a pena em 1/3 (um
minar a retirada do ar da página ou do conteúdo. terço) se o crime é cometido por tutor ou curador.

Art. 88 [...] O crime do art. 91 pode ser praticado por duas


§ 4º Na hipótese do § 2º deste artigo, constitui efeito condutas: retenção ou utilização. Ocorre quando o
da condenação, após o trânsito em julgado da deci- agente fica na posse ou utiliza-se de cartão magnéti-
44 são, a destruição do material apreendido. co ou meio eletrônico ou documento pessoal, com a
finalidade de obter vantagem indevida para si ou para
outrem. Exemplo: utilização de carteira de passe livre LEI FEDERAL Nº 10.741, DE 2003 –
em transporte coletivo com a intenção de não pagar a ESTATUTO DA PESSOA IDOSA
passagem. Trata-se de crime mais brando do que o do
art. 89, pois, aqui, o objetivo não é prejudicar a pes- Embora os direitos fundamentais sejam univer-
soa com deficiência, mas aferir vantagem com a sua sais (por serem inerentes à condição de ser humano),
situação. em alguns casos, levando em conta as dificuldades
Cumpre mencionar, por necessário, que a Lei nº enfrentadas por determinadas minorias sociais, tais
13.146, de 2015, alterou o crime previsto no art. 8°, da como as mulheres, as crianças, os idosos, houve/há
Lei nº 7.853, de 1989, que dispõe sobre o apoio às pes- necessidade de criação de mecanismos de proteção
soas com deficiência. Vejamos: de alcance especial. Além disso, a fim de enfrentar a
violência e o preconceito contra determinados grupos
Art. 8º Constitui crime punível com reclusão de 2 étnicos, também foram criados alguns instrumentos
(dois) a 5 (cinco) anos e multa: legais de tutela e acolhimento.
I - recusar, cobrar valores adicionais, suspender, Cumpre esclarecer, no entanto, que o sistema de
procrastinar, cancelar ou fazer cessar inscrição de proteção especial não visa, relativizar as peculiari-
aluno em estabelecimento de ensino de qualquer dades sociais e culturais de determinado grupo, mas,
curso ou grau, público ou privado, em razão de sua sim, aumentar o alcance de proteção dos direitos
deficiência; humanos em razão das particularidades existentes.
II - obstar inscrição em concurso público ou acesso Nesta ótica, pode-se dizer que o art. 229, da Cons-
de alguém a qualquer cargo ou emprego público, tituição Federal, de 1988, deu amparo aos direitos da
em razão de sua deficiência; pessoa idosa ao estabelecer que, na velhice, carência ou
III - negar ou obstar emprego, trabalho ou promo- situações de enfermidade, compete aos filhos o dever
ção à pessoa em razão de sua deficiência; de prestar auxílio e amparo aos seus pais. Além disso,
IV - recusar, retardar ou dificultar internação ou ainda de acordo com a CF, é dever da família, da socie-
deixar de prestar assistência médico-hospitalar e dade e do Estado prestar assistência às pessoas idosas,
ambulatorial à pessoa com deficiência; garantindo que participem da comunidade de forma
V - deixar de cumprir, retardar ou frustrar execu- digna, pois, assim como todos os outros indivíduos,
ção de ordem judicial expedida na ação civil a que esse grupo social tem direito à vida e ao bem-estar.
alude esta Lei; Em razão dessa proteção constitucional, foi elabo-
VI - recusar, retardar ou omitir dados técnicos rada a Política Nacional do Idoso por meio da Lei nº
indispensáveis à propositura da ação civil pública 8.842, de 1994. No entanto, o sistema de proteção da
objeto desta Lei, quando requisitados. pessoa idosa, no Brasil, somente foi aperfeiçoado com
§ 1º Se o crime for praticado contra pessoa com a Lei nº 10.741, de 2003, também denominada “Estatu-
deficiência menor de 18 (dezoito) anos, a pena é
to da Pessoa Idosa”.
agravada em 1/3 (um terço).
Antes de iniciarmos o estudo desse Estatuto, é pre-
§ 2º A pena pela adoção deliberada de critérios
ciso ter em mente que, para melhor compreendê-lo,
subjetivos para indeferimento de inscrição, de
é primordial entender sua estrutura e identificar as
aprovação e de cumprimento de estágio probatório
ideias mais importantes da legislação, uma vez que as
em concursos públicos não exclui a responsabilida-
bancas tendem a cobrar o que se denomina “literali-
de patrimonial pessoal do administrador público
dade das ideias”, ou seja, os pontos principais de cada
pelos danos causados.
artigo com base em sua estrutura. Não há, entretanto,
§ 3º Incorre nas mesmas penas quem impede ou
a necessidade de decorá-los.
dificulta o ingresso de pessoa com deficiência em
O presente material dedica atenção especial à par-
planos privados de assistência à saúde, inclusive
com cobrança de valores diferenciados.
te relativa aos crimes (arts. 93 a 108).
§ 4º Se o crime for praticado em atendimento de
urgência e emergência, a pena é agravada em 1/3 NOÇÕES GERAIS DO DIREITO DO IDOSO
(um terço). O Estatuto da Pessoa Idosa é dividido em 7 (sete)
partes:
A nova redação dada ao artigo acrescentou ao
inciso I a conduta de cobrar valores adicionais por z Disposições Preliminares: estabelece os concei-
tos iniciais e as regras de interpretação;
parte da instituição de ensino. Exemplos clássicos
z Direitos Fundamentais: elenca e disciplina os
são as mensalidades diferenciadas para alunos com
direitos à vida, à liberdade, ao respeito e à dignida-
transtorno do espectro autista (com valores a mais).
de, aos alimentos, à saúde, à educação, à cultura,
O inciso II se refere à discriminação com relação a
ao esporte e lazer, à profissionalização e ao tra-
DIREITOS HUMANOS

emprego, trabalho ou promoção. O inciso III ao aten-


balho, à previdência social, à assistência social, à
dimento médico e ambulatorial. O inciso IV à omissão habitação e ao transporte;
de dados quando estes são essenciais à propositura de z Medidas de Proteção: cuida dos meios de prote-
ação civil pública ou quando houver requisição. ção sempre que os direitos fundamentais dos ido-
A Lei nº 13.146, de 2015, acrescentou parágrafos ao sos forem ameaçados ou violados;
art. 8º, da Lei nº 7.853, de 1989, estabelecendo causas z Política de Atendimento ao Idoso: disciplina
de aumento de pena ao crime. as linhas de ação da política de atendimento, as
Por fim, é importante mencionar que todos os cri- entidades de atendimento ao idoso, os meios de
mes disciplinados pela mencionada Lei são crimes de fiscalização dessas entidades, as infrações admi-
Ação Penal Pública Incondicionada, ou seja, compete nistrativas, a apuração administrativa de infração
ao Ministério Público promover a ação independente- às normas de proteção ao idoso e a apuração judi-
mente da vontade da vítima. cial de irregularidades das entidades; 45
z Acesso à Justiça: estabelece a tramitação prioritá- cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à
ria, as regras de proteção e o órgão competente por convivência familiar e comunitária.
sua promoção;
z Crimes: tipifica os crimes praticados contra as pes- Ademais, seu parágrafo primeiro apresenta as diver-
soas idosas; sas garantias deste sistema especial de proteção. Vejamos:
z Disposições Finais e Transitórias: cuida das
regras de transição e demais modificações legisla- § 1º A garantia de prioridade compreende:
tivas feitas pelo Estatuto em outras leis. I - atendimento preferencial imediato e indi-
vidualizado junto aos órgãos públicos e privados
Inicialmente, o conceito de pessoa idosa é encon- prestadores de serviços à população;
trado no art. 1º, do Estatuto. Considera-se pessoa idosa II - preferência na formulação e na execução de
políticas sociais públicas específicas;
aquela ‘’com idade igual ou superior a 60 (sessenta)
III - destinação privilegiada de recursos públi-
anos.’’ Por levar em consideração apenas a idade bio-
cos nas áreas relacionadas com a proteção à
lógica da pessoa, descartando qualquer outro crité-
pessoa idosa;
rio para apuração, como o físico e o psicológico, por IV - viabilização de formas alternativas de
exemplo, estamos diante de um critério cronológico participação, ocupação e convívio da pessoa
Atenção: embora o Estatuto fixe a idade de 60 anos idosa com as demais gerações;
ou mais, isso não impede que outras leis fixem idades V - priorização do atendimento da pessoa ido-
distintas, desde que estas não se refiram, exatamen- sa por sua própria família, em detrimento do
te, à pessoa idosa, ou seja, desde que se relacionem atendimento asilar, exceto dos que não a possuam
apenas à idade e não ao fato de a pessoa ser idosa. São ou careçam de condições de manutenção da pró-
exemplos importantes: pria sobrevivência;
VI - capacitação e reciclagem dos recursos
z 65 anos: direito ao benefício do transporte coleti- humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na
vo público gratuito, conforme a Constituição; prestação de serviços às pessoas idosas;
z 65 anos: direito ao Benefício de Prestação Conti- VII - estabelecimento de mecanismos que favo-
nuada (BPC) da Lei Orgânica da Assistência Social; reçam a divulgação de informações de caráter
educativo sobre os aspectos biopsicossociais de
z 70 anos, na data da sentença: direito à redução,
envelhecimento;
pela metade, do prazo prescricional, conforme
VIII - garantia de acesso à rede de serviços de
o Código Penal.
saúde e de assistência social locais.
IX - prioridade no recebimento da restituição do
O art. 2º estabelece uma norma de interpretação Imposto de Renda.
extremamente importante, pois, mesmo que o Estatu-
to objetive apresentar um sistema de proteção especí-
fica para o idoso, ele não exclui a aplicação de outras
Dica
regras inerentes a todas as pessoas. Vejamos: O sistema especial de proteção dos direitos não
exclui o sistema geral de proteção, uma vez que
Art. 2º A pessoa idosa goza de todos os direitos ambos se complementam.
fundamentais inerentes à pessoa humana, sem
prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, Outra regra importante apresenta-se no parágrafo
assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios,
segundo, do art. 3º: a pessoa idosa com mais de 80
todas as oportunidades e facilidades, para preser-
(oitenta) anos deve gozar de prioridade especial,
vação de sua saúde física e mental e seu aperfei-
ou seja, suas necessidades devem ser atendidas forma
çoamento moral, intelectual, espiritual e social, em
condições de liberdade e dignidade.
preferencial em relação aos demais. Nos termos:

§ 2º Entre as pessoas idosas, é assegurada prio-


Para uma melhor compreensão do artigo: os sis-
ridade especial aos maiores de 80 (oitenta) anos,
temas de proteção geral (aplicável a todas as pessoas)
atendendo-se suas necessidades sempre preferen-
e especial (aplicável a pessoas determinadas em razão cialmente em relação às demais pessoas idosas.
de peculiaridades) não são dicotômicos. Na realida-
de, eles se complementam. Como consequência, não
+ Maior —
é porque existe um sistema de proteção próprio ao Prioridade
idoso que os direitos desse grupo serão excluídos da prioridade
60 anos ou
proteção trazida pela Constituição Federal. Portanto, 80 anos ou
mais
as pessoas idosas possuem, somados à proteção inte- mais
gral do Estatuto, mais específica, uma vez que leva em
consideração suas peculiaridades, a garantia de todos Os arts. 4º e 5º, do Estatuto, afirmam que as pesso-
os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana. as idosas não podem sofrer qualquer tipo de negligên-
Neste mesmo sentido, o art. 3º clarifica o caráter cia, discriminação ou violência. Ainda de acordo com
complementar do Estatuto ao reafirmar que o idoso os mesmos dispositivos, a inobservância das normas
possui, além dos direitos intrínsecos a todas as pesso- de prevenção resulta na responsabilização da pessoa
as, um sistema próprio de proteção. física ou jurídica. Observemos:

Art. 3º É obrigação da família, da comunidade, Art. 4º Nenhuma pessoa idosa será objeto de qual-
da sociedade e do poder público assegurar à pes- quer tipo de negligência, discriminação, violência,
soa idosa, com absoluta prioridade, a efetivação crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus
do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educa- direitos, por ação ou omissão, será punido na for-
46 ção, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à ma da lei.
§ 1º É dever de todos prevenir a ameaça ou violação Conforme o § 1º, do art. 10, o direito de liberdade
aos direitos da pessoa idosa. compreende os seguintes aspectos:
§ 2º As obrigações previstas nesta Lei não excluem
da prevenção outras decorrentes dos princípios por I - faculdade de ir, vir e estar nos logradouros públi-
ela adotados. cos e espaços comunitários, ressalvadas as restri-
Art. 5º A inobservância das normas de prevenção ções legais;
importará em responsabilidade à pessoa física ou II - opinião e expressão;
jurídica nos termos da lei. III - crença e culto religioso;
IV - prática de esportes e de diversões;
O art. 6º, por sua vez, apresenta o instituto da V - participação na vida familiar e comunitária;
delatio criminis (comunicação do crime), que se refe- VI - participação na vida política, na forma da lei;
re à possibilidade de todos os indivíduos levarem ao VII - faculdade de buscar refúgio, auxílio e orientação.
conhecimento das autoridades públicas qualquer for-
ma de violação ao Estatuto. O direito ao respeito, de acordo com o § 2º, do
art. 10, versa sobre a inviolabilidade da integridade
Art. 6º Todo cidadão tem o dever de comunicar à física, psíquica e moral do idoso. Para tanto, considera
autoridade competente qualquer forma de violação a preservação de sua imagem, identidade, autonomia,
a esta Lei que tenha testemunhado ou de que tenha valores, ideias, crenças, espaços e objetos pessoais.
conhecimento. Nos arts. 11 ao 14, estão disciplinados os direitos
aos alimentos. Estes dispositivos asseguram, aos idosos,
O art. 7º, no que lhe diz respeito, refere-se à Lei a concessão de alimentos em casos de necessidade, na
nº 8.842, de 1994, que trata sobre a Política Nacional forma estabelecida pelo Código Civil. Trata-se de uma
do Idoso, afirmando que a responsabilidade de zelar obrigação solidária, podendo a pessoa idosa optar entre
pelo cumprimento dos seus direitos cabe aos Conse- os prestadores. Nos casos em que os familiares não pos-
lhos Nacionais, Estaduais, Distritais e Municipais da suem condições econômicas de prover seu sustento, o
pessoa idosa. provimento compete ao Poder (âmbito da Assistência
Social). Vejamos os dispositivos na íntegra:
Art. 7º Os Conselhos Nacional, Estaduais, do Distri-
to Federal e Municipais da Pessoa Idosa, previstos Art. 11 Os alimentos serão prestados à pessoa ido-
na Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994, zelarão pelo sa na forma da lei civil.
cumprimento dos direitos da pessoa idosa, defini- Art. 12 A obrigação alimentar é solidária, podendo
dos nesta Lei. a pessoa idosa optar entre os prestadores.
Art. 13 As transações relativas a alimentos pode-
rão ser celebradas perante o Promotor de Justiça
Com relação aos Direitos Fundamentais, estes
ou Defensor Público, que as referendará, e passarão
se encontram elencados nos arts. 8º ao 42, do Estatu- a ter efeito de título executivo extrajudicial nos ter-
to, de modo a estabelecer as diretrizes a respeito dos mos da lei processual civil.
direitos à vida, à liberdade, ao respeito, à dignida- Art. 14 Se a pessoa idosa ou seus familiares não
de, aos alimentos, à saúde, à educação, cultura, ao possuírem condições econômicas de prover o seu
esporte e lazer, à profissionalização e ao trabalho, sustento, impõe-se ao poder público esse provimen-
à previdência social, à assistência social, à habita- to, no âmbito da assistência social.
ção e ao transporte.
O direito à vida encontra-se previsto nos arts. 8º e O direito à saúde está previsto nos arts. 15 ao 19,
9º. Trata-se do direito de maior importância, pois, sem do Estatuto. Trata-se de um direito universal, pois é
este, não há possibilidade de existência dos demais. garantido a todos os indivíduos, na Constituição Fede-
Como a vida é inviolável, envelhecer de forma digna ral, como um direito social. Aos idosos, o direito à saú-
é uma consequência e um direito personalíssimo, cuja de é assegurado por meio do Sistema Único de Saúde
proteção é um direito social. Além disso, é dever do (SUS). Vejamos os termos da lei:
Estado garantir aos idosos a proteção não só à vida,
mas, também, à saúde, por meio de efetivações de Art. 15 É assegurada a atenção integral à saúde
políticas sociais públicas que permitam o envelheci- da pessoa idosa, por intermédio do Sistema Único
mento saudável e em condições dignas. de Saúde (SUS), garantindo-lhe o acesso universal
Os direitos à liberdade, ao respeito e à dignida- e igualitário, em conjunto articulado e contínuo
das ações e serviços, para a prevenção, promoção,
de estão disciplinados no art. 10, do Estatuto, respon-
proteção e recuperação da saúde, incluindo a aten-
sável por estabelecer, como obrigação do Estado e da
ção especial às doenças que afetam preferencial-
sociedade, a garantia de que estes sejam efetivados. mente as pessoas idosas. (Redação dada pela Lei nº
DIREITOS HUMANOS

A pessoa idosa possui direitos civis, políticos, indivi- 14.423, de 2022)


duais e sociais e todos os indivíduos devem zelar por
sua dignidade, colocando-a a salvo de qualquer trata- Para a prevenção e manutenção da saúde, o Esta-
mento tido como desumano, violento, aterrorizante, tuto estabelece as seguintes medidas (§ 1º, art. 15):
vexatório ou constrangedor.
Nos termos da lei: I - cadastramento da população idosa em base
territorial;
Art. 10 É obrigação do Estado e da sociedade asse- II - atendimento geriátrico e gerontológico em
gurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dig- ambulatórios;
nidade, como pessoa humana e sujeito de direitos III - unidades geriátricas de referência, com pessoal
civis, políticos, individuais e sociais, garantidos na especializado nas áreas de geriatria e gerontologia
Constituição e nas leis. social; 47
IV - atendimento domiciliar, incluindo a interna- IV - pelo próprio médico, quando não houver
ção, para a população que dele necessitar e este- curador ou familiar conhecido, caso em que deverá
ja impossibilitada de se locomover, inclusive para comunicar o fato ao Ministério Público.
idosos abrigados e acolhidos por instituições públi-
cas, filantrópicas ou sem fins lucrativos e eventual- Ademais, o Estatuto determina que, em casos de
mente conveniadas com o Poder Público, nos meios violência praticada contra o idoso (suspeita ou con-
urbano e rural; firmação), os serviços de saúde públicos e privados
V - reabilitação orientada pela geriatria e geron- deverão notificar compulsoriamente à autoridade
tologia, para redução das sequelas decorrentes do sanitária e comunicar qualquer um dos seguintes
agravo da saúde. órgãos:

O Estatuto estabelece, no § 2º, do art. 15, como res- z Autoridade policial;


ponsabilidade do Poder Público, o fornecimento gra- z Ministério Público;
tuito, aos idosos, de: z Conselho Municipal da Pessoa Idosa;
z Conselho Estadual da Pessoa Idosa; ou
z medicamentos (como os de uso continuado); z Conselho Nacional da Pessoa Idosa.
z próteses;
z órteses; Para uma melhor fixação do conteúdo, observe-
z outros recursos relativos ao tratamento, habilita- mos a tabela abaixo.
ção ou reabilitação.

Além disso, o mesmo dispositivo assegura, aos ido- VIOLÊNCIA CONTRA O IDOSO
sos enfermos, o atendimento domiciliar pelas seguin-
Suspeita ou
tes instituições: Notificar Comunicar
confirmação
z perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Autoridade
Social (INSS); policial
z serviço público de saúde; ou Ministério
z serviço privado de saúde, contratado ou convenia- Público
do, para expedição do laudo de saúde necessário Conselho Muni-
ao exercício de seus direitos sociais e de isenção Serviços de cipal da Pessoa
Autoridade
tributária (§ 6º, art. 15). saúde públicos Idosa
sanitária
e privados Conselho Esta-
Outrossim, os maiores de oitenta anos têm direi- dual da Pessoa
to a atendimento preferencial, salvo nos casos de Idosa
emergência (§ 7º, art. 15). Conselho Nacio-
O Estatuto assegura, também, ao idoso internado, nal da Pessoa
o direito a acompanhante, devendo o órgão de saúde Idosa
disponibilizar as condições adequadas a sua perma-
nência em tempo integral (art. 16). O §1º, do art. 19, determina o que é considerado
Nesse ponto, são estabelecidas algumas vedações, violência contra pessoa idosa. Vejamos:
tais como:
§ 1º Para os efeitos desta Lei, considera-se violência
z a discriminação dos idosos nos planos de saúde contra a pessoa idosa qualquer ação ou omissão
(cobrança de valores diferenciados em razão da idade); praticada em local público ou privado que lhe cau-
z a exigência de o idoso enfermo comparecer peran- se morte, dano ou sofrimento físico ou psicológico.
te os órgãos públicos etc. (§§ 3º e 5º, art. 15).
Os arts. 20 a 25 disciplinam o direito à educação,
Ainda, a pessoa idosa tem o direito de optar pelo cultura, esporte e lazer, de modo que sejam respei-
tratamento de saúde que considerar mais favorável, tadas as peculiaridades e condições de idade de cada
nos termos: indivíduo. Para tanto, cabe ao Poder Público criar
as oportunidades de acesso, adequando currículos,
Art. 17 À pessoa idosa que esteja no domínio de metodologias e material didático aos programas edu-
suas faculdades mentais é assegurado o direito de cacionais destinados aos idosos (art. 21).
optar pelo tratamento de saúde que lhe for reputa- Para que a participação dos idosos nas atividades
do mais favorável. culturais e de lazer ocorra adequadamente, o Estatuto
estabelece descontos de, pelo menos, 50% (cinquenta
De acordo com o parágrafo único, do art. 17, quan- por cento) ‘’nos ingressos para eventos artísticos, cul-
do o idoso não puder optar pelo tratamento que lhe turais, esportivos e de lazer, bem como o acesso prefe-
for mais favorável, isso será feito: rencial aos respectivos locais’’ (art. 23).
O direito à profissionalização e ao trabalho
I - pelo curador, quando o idoso for interditado; encontra-se previsto nos arts. 26 a 28 do Estatuto. Este
II - pelos familiares, quando o idoso não tiver se trata do direito ao exercício de atividade profissio-
curador ou este não puder ser contactado em tem- nal, em respeito às condições físicas, intelectuais e psí-
po hábil; quicas do indivíduo, de modo a vedar a discriminação
III - pelo médico, quando ocorrer iminente risco e, também, a fixação de um limite de idade ‘‘inclusive
de vida e não houver tempo hábil para consulta a para concursos públicos, ressalvados os casos em que
48 curador ou familiar; a natureza do cargo o exigir (art. 27)’’. Ressalta-se,
inclusive, que o primeiro critério de desempate em § 2º Nos veículos de transporte coletivo de que trata
concurso público é o critério etário, ‘’dando-se prefe- este artigo, serão reservados 10% (dez por cento)
rência ao de idade mais elevada’’ (§ único, art. 27). dos assentos para as pessoas idosas, devidamente
Os arts. 29 a 32, por sua vez, disciplinam o direi- identificados com a placa de reservado preferen-
to à Previdência Social, de maneira que, para a con- cialmente para pessoas idosas.
cessão dos benefícios de aposentadoria e pensão do § 3º No caso das pessoas compreendidas na faixa etá-
Regime Geral da Previdência Social, deve-se observar ria entre 60 (sessenta) e 65 (sessenta e cinco) anos,
ficará a critério da legislação local dispor sobre as
os ‘’critérios de cálculo que preservem o valor real dos
condições para exercício da gratuidade nos meios de
salários sobre os quais incidiram contribuição’’, garan-
transporte previstos no caput deste artigo.
tindo-lhes o devido reajuste (art. 29 e § único).
O direito à Assistência Social, assim como o
No caso de transporte coletivo interestadual, este
direito à Previdência Social, integra o subsistema
deve estabelecer (nos termos da legislação específica)
da Seguridade Social e faz parte do rol dos direitos
a reserva de 2 vagas gratuitas por veículo para idosos
sociais previstos no art. 6º, da Constituição Federal.
com renda igual ou inferior a 2 salários mínimos. Ade-
No Estatuto, este se encontra previsto nos arts. 33 a
mais, deve-se garantir, também, desconto de 50%, no
36, garantindo o direito dos idosos que não possuam
mínimo, no valor das passagens para as pessoas idosas
meios para prover sua subsistência (diretamente ou
que excederem as vagas gratuitas com renda igual ou
por familiar), a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, ao
inferior a 2 salários mínimos, nos termos do art. 40.
benefício mensal de 1 (um) salário mínimo (benefício
O art. 41, do Estatuto, também assegura, ao ido-
de prestação continuada, estabelecido na Lei Orgâni-
so, a reserva de 5% das vagas nos estacionamentos
ca da Assistência Social, BPC/LOAS).
públicos e privados, posicionadas de forma a garan-
Os arts. 37 e 38 tratam do direito à habitação, ou
tir melhor comodidade à pessoa idosa, nos termos de
seja, à moradia digna em família, natural ou substi-
legislação local, além de prioridade à segurança nos
tuta, desacompanhado (quando a pessoa idosa assim
procedimentos de embarque e desembarque nos veí-
desejar) ou, ainda, em instituição pública ou privada.
culos do sistema de transporte coletivo.
Além disso, de acordo com os mesmos dispositi-
Para ajudar na assimilação do tema, organizamos
vos, a pessoa idosa goza de prioridade na aquisição de
essa parte do conteúdo em tópicos:
moradia própria nos programas habitacionais (públi-
cos ou subsidiados com recursos públicos). Vejamos:
z Maior que 65 anos:
Art. 38 Nos programas habitacionais, públicos ou
subsidiados com recursos públicos, a pessoa idosa „ Gratuidade dos transportes coletivos públicos
goza de prioridade na aquisição de imóvel para urbanos e semiurbanos;
moradia própria, observado o seguinte: „ Reserva de 10% dos assentos nos transportes
I - reserva de pelo menos 3% (três por cento) das coletivos.
unidades habitacionais residenciais para atendi-
mento às pessoas idosas; z Entre 60 e 65 anos:
II – implantação de equipamentos urbanos comuni-
tários voltados à pessoa idosa; „ Legislação local disporá sobre as condições
III – eliminação de barreiras arquitetônicas e urba- para exercício da gratuidade nos meios de
nísticas, para garantia de acessibilidade à pessoa transporte.
idosa;
IV - critérios de financiamento compatíveis com os
z Estacionamentos públicos e privados:
rendimentos de aposentadoria e pensão.
„ Reserva de 5% (cinco por cento) das vagas, as
Por fim, os arts. 39 e 42 tratam do direito ao trans-
quais deverão ser posicionadas de forma a
porte. O Estatuto assegura a gratuidade dos trans-
garantir a melhor comodidade ao idoso.
portes coletivos públicos urbanos e semiurbanos,
exceto nos serviços seletivos e especiais prestados
z Transporte coletivo interestadual:
paralelamente aos serviços regulares aos maiores de
65 anos. Para o acesso, de acordo com os dispositivos,
„ Legislação local disporá sobre as condições para
basta apresentar qualquer documento pessoal que
exercício da gratuidade nos meios de transporte;
faça prova de sua idade. Vejamos:
„ Desconto de 50%, no mínimo, no valor das pas-
Art. 39 Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos
sagens para os idosos que excederem as vagas
fica assegurada a gratuidade dos transportes cole- gratuitas, com renda igual ou inferior a 2 (dois)
tivos públicos urbanos e semi-urbanos, exceto nos salários mínimos.
DIREITOS HUMANOS

serviços seletivos e especiais, quando prestados


paralelamente aos serviços regulares. As medidas de proteção, disciplinadas nos arts.
§ 1º Para ter acesso à gratuidade, basta que a pes- 43 ao 68, do Estatuto, tratam dos meios aplicáveis
soa idosa apresente qualquer documento pessoal sempre que os direitos dos idosos sofrerem ameaça/
que faça prova de sua idade. violação por ação/omissão da sociedade ou do Estado,
falta, omissão ou abuso da família, curador ou entida-
De acordo com o § 2º, do art. 39, devem ser reser- de de atendimento ou, ainda, em razão de sua condi-
vados 10% (dez por cento) dos assentos para os idosos ção pessoal.
(identificados com a placa de reservado, preferen- Caso ocorra ameaça ou violação, cabe ao Minis-
cialmente, para idosos). Aos idosos entre 60 e 65 anos tério Público ou ao Poder Judiciário, a requerimento
incompletos, ficará a critério da legislação local a con- daquele, determinar algumas medidas, entre as quais
cessão ou não da gratuidade. Veja: se destacam: 49
Art. 45 […] estabelecimento até que sejam cumpridas as exi-
I - encaminhamento à família ou curador, mediante gências legais.
termo de responsabilidade; Parágrafo único. No caso de interdição do estabe-
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários; lecimento de longa permanência, as pessoas idosas
III - requisição para tratamento de sua saúde, em abrigadas serão transferidas para outra institui-
regime ambulatorial, hospitalar ou domiciliar; ção, a expensas do estabelecimento interditado,
IV – inclusão em programa oficial ou comunitá- enquanto durar a interdição.
rio de auxílio, orientação e tratamento a usuários
dependentes de drogas lícitas ou ilícitas, à própria A primeira infração está prevista no art. 56 e guar-
pessoa idosa ou à pessoa de sua convivência que da relação com o descumprimento das seguintes obri-
lhe cause perturbação; gações pelas entidades de atendimento:
V - abrigo em entidade;
VI - abrigo temporário. Art. 50 Constituem obrigações das entidades de
atendimento:
O Estatuto dispõe acerca das medidas específicas I - celebrar contrato escrito de prestação de serviço
de proteção, que podem ser aplicadas, isolada ou com a pessoa idosa, especificando o tipo de aten-
cumulativamente, levando ‘’em conta os fins sociais a dimento, as obrigações da entidade e prestações
que se destinam e o fortalecimento dos vínculos fami- decorrentes do contrato, com os respectivos preços,
liares e comunitários’’ (art. 44). se for o caso;
No que se refere à política de atendimento à pes- II - observar os direitos e as garantias de que são
soa idosa, de acordo com o art. 46, esta será feita por titulares as pessoas idosas;
meio do conjunto articulado de ações governamentais III - fornecer vestuário adequado, se for pública, e
e não governamentais dos entes federativos (União, alimentação suficiente;
IV - oferecer instalações físicas em condições ade-
estados, Distrito Federal e municípios), tendo em vista
quadas de habitabilidade;
as seguintes linhas de atendimento:
V - oferecer atendimento personalizado;
VI - diligenciar no sentido da preservação dos vín-
Art. 47 […] culos familiares;
I - políticas sociais básicas, previstas na Lei nº VII - oferecer acomodações apropriadas para rece-
8.842, de 4 de janeiro de 1994; bimento de visitas;
II - políticas e programas de assistência social, em VIII - proporcionar cuidados à saúde, conforme a
caráter supletivo, para aqueles que necessitarem; necessidade da pessoa idosa;
III - serviços especiais de prevenção e atendimento IX - promover atividades educacionais, esportivas,
às vítimas de negligência, maus-tratos, exploração, culturais e de lazer;
abuso, crueldade e opressão; X - propiciar assistência religiosa àqueles que dese-
IV – serviço de identificação e localização de jarem, de acordo com suas crenças;
parentes ou responsáveis por pessoas idosas XI - proceder a estudo social e pessoal de cada caso;
abandonados em hospitais e instituições de longa XII - comunicar à autoridade competente de saú-
permanência; de toda ocorrência de pessoa idosa com doenças
V – proteção jurídico-social por entidades de defesa infectocontagiosas;
dos direitos das pessoas idosas; XIII - providenciar ou solicitar que o Ministério
VI – mobilização da opinião pública no sentido da Público requisite os documentos necessários ao
participação dos diversos segmentos da sociedade exercício da cidadania àqueles que não os tiverem
no atendimento da pessoa idosa. na forma da lei;
XIV - fornecer comprovante de depósito dos bens
De acordo com o art. 48, assim como as políticas de móveis que receberem das pessoas idosas;
atendimento, as entidades de atendimento, responsá- XV - manter arquivo de anotações no qual cons-
veis pela manutenção das próprias unidades, deverão tem data e circunstâncias do atendimento, nome
observar as normas de planejamento e execução da Lei da pessoa idosa, responsável, parentes, endere-
nº 8.842, de 1994 (Política Nacional da Pessoa Idosa). ços, cidade, relação de seus pertences, bem como o
Cumpre mencionar que as entidades governamen- valor de contribuições, e suas alterações, se houver,
tais e não governamentais de atendimento ao idoso e demais dados que possibilitem sua identificação e
serão fiscalizadas pelos Conselhos da Pessoa Idosa, a individualização do atendimento;
Ministério Público, Vigilância Sanitária e outros pre- XVI - comunicar ao Ministério Público, para as pro-
vidências cabíveis, a situação de abandono moral
vistos em lei (parágrafo único, art. 48).
ou material por parte dos familiares;
Para efetivação da proteção, o Estatuto da Pessoa
XVII - manter no quadro de pessoal profissionais
Idosa estabelece 3 infrações administrativas. Obser-
com formação específica.
vemos o fluxograma abaixo.

INFRAÇÕES Importante!
ADMINISTRATIVAS
Se a entidade descumprir as determinações
Art. 56 Art. 57 Art. 58 que constam no art. 50, ficará sujeita à pena
de multa. Se o fato constituir em crime, pode
Art. 56 Deixar a entidade de atendimento de cum-
haver, ainda, a interdição do estabelecimento
prir as determinações do art. 50 desta Lei: até que sejam cumpridas as exigências legais.
Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ Nesse caso, os idosos serão transferidos para
3.000,00 (três mil reais), se o fato não for caracte- outra instituição (os custos serão arcados
50 rizado como crime, podendo haver a interdição do pelo estabelecimento interditado).
A segunda infração encontra-se determinada no art. 57 e refere-se ao fato de o profissional de saúde (ou o
responsável por estabelecimento de saúde ou instituição de longa permanência) ter deixado de comunicar, à
autoridade competente, os casos conhecidos de crimes contra idoso. Trata-se de uma infração com pena de multa,
aplicada em dobro no caso de reincidência. Vejamos:

Art. 57 Deixar o profissional de saúde ou o responsável por estabelecimento de saúde ou instituição de longa per-
manência de comunicar à autoridade competente os casos de crimes contra pessoa idosa de que tiver conhecimento:
Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais), aplicada em dobro no caso de reincidência.

O art. 58, do Estatuto, traz a terceira e última infração, que ocorre quando se deixa de cumprir as determina-
ções do Estatuto sobre a prioridade no atendimento ao idoso. Esta infração é punida com pena de multa e multa
civil a ser estipulada pelo juiz, conforme o dano sofrido pelo idoso. Nos termos:

Art. 58 Deixar de cumprir as determinações desta Lei sobre a prioridade no atendimento à pessoa idosa:
Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 1.000,00 (mil reais) e multa civil a ser estipulada pelo juiz, conforme o
dano sofrido pela pessoa idosa.

As regras atinentes à apuração administrativa de infração às normas de proteção ao idoso estão discipli-
nadas nos arts. 59 a 63, do Estatuto. Nesta parte, são estabelecidas atualizações monetárias anuais dos valores
das multas e o procedimento para a imposição de penalidade administrativa por infração às normas de proteção
ao idoso, tendo início com requisição do Ministério Público ou auto de infração, elaborado por servidor efetivo e
assinado por duas testemunhas (se possível) (art. 60).
O procedimento de apuração tem início com o auto de infração, que deverá ser lavrado dentro de 24 horas da
verificação da infração, salvo motivo justificado. Após a lavratura do auto, o autuado terá prazo de 10 dias, conta-
do da data da intimação, para a apresentação da defesa. De acordo com o art. 64, para a sua apuração, aplicam-se,
subsidiariamente, as disposições das Leis nº 6.437, de 1977, e nº 9.784, de 1999.
Vejamos o fluxograma abaixo.

� Auto de infração 10 dias da intimação � Decisão

Lavratura Aplicação subsidiária das


� Apresentação de defesa
24 horas da infração Leis nº 6.437/77 e 9.784/99

Por fim, o procedimento de apuração judicial da irregularidade, quer em entidade governamental, quer em
entidade não governamental de atendimento ao idoso, iniciará mediante petição fundamentada de pessoa inte-
ressada ou iniciativa do Ministério Público (art. 65). É cabível a liminar para afastamento provisório do dirigente
da entidade ou outras medidas julgadas adequadas para evitar lesão aos direitos do idoso, mediante decisão fun-
damentada depois de ouvido o Ministério Público (art. 66).
O dirigente da entidade deverá ser citado para oferecer resposta escrita no prazo de 10 dias, podendo, inclu-
sive, juntar documentos e indicar as provas a produzir (art. 67). Após a apresentação da defesa, o juiz designará
audiência de instrução e julgamento e deliberará sobre a necessidade de produção de outras provas (art. 68). As
alegações finais deverão ser prestadas pelas partes e pelo Ministério Público em 5 dias, salvo manifestação em
audiência. Caso ocorra o afastamento provisório ou definitivo de dirigente de entidade governamental, o juiz
oficiará a autoridade administrativa imediatamente superior ao afastado, dando-lhe prazo de 24 horas para pro-
ceder à substituição (§§ 1º e 2º, art. 68).
No que se refere à parte atinente ao Acesso à Justiça, o Estatuto estabelece que se aplique, subsidia-
riamente, o procedimento sumário, previsto no Código de Processo Civil, naquilo que não contrarie os prazos
previstos no Estatuto (art. 69). A Lei assegura, ainda, prioridade na tramitação dos processos e procedimentos e
na execução dos atos e diligências judiciais em que figure, como parte ou interveniente, pessoa com idade igual
ou superior a 60 anos, em qualquer instância (art. 71). Caso o idoso possua mais de oitenta anos, a ele será dada
prioridade especial (§ 5º, art. 71).
DIREITOS HUMANOS

Dica
A prioridade de tramitação não encerra com a morte do idoso, estendendo-se em favor do cônjuge ou companhei-
ro(a) maior de 60 anos.

CRIMES

O Estatuto disciplina os crimes contra os idosos nos arts. 96 a 108. Antes, porém, estabelece três regras impor-
tantes de interpretação, explicitadas na tabela abaixo:
51
ART. 93 ART. 94 ART. 95

Os crimes trazidos pelo Estatuto são


Aplicação do procedimento previsto de Ação Penal Pública Incondiciona-
Aplicação subsidiária da Lei nº na Lei nº 9.099, de 1995 (Lei dos da, ou seja, compete ao Ministério
7.347, de 1985 (Lei de Ação Civil Juizados Especiais) aos crimes cuja Público promover a ação indepen-
Pública) no que couber pena máxima privativa de liberdade dentemente da vontade da vítima,
não ultrapasse 4 (quatro) anos excluindo a aplicação dos arts. 181 e
182, do Código Penal

Embora o Estatuto da Pessoa Idosa estabeleça o rito sumaríssimo do juizado aos crimes cuja pena máxima
privativa de liberdade não exceda 4 anos, a transação penal, medida despenalizadora, só é cabível aos crimes de
menor potencial ofensivo, ou seja, cuja pena máxima não ultrapasse 2 anos.
Lembre-se: entende-se por transação penal o acordo realizado entre o acusado (autor do fato) e o Ministério Públi-
co por meio do qual o último submete o primeiro ao cumprimento de determinada medida alternativa com o objetivo
de evitar a instauração de um processo, sem, contudo, ocorrer a admissão de culpa.
Os arts. 181 e 182, do Código Penal, tratam de hipóteses de imunidade absoluta (art. 181) e relativa (art. 182).
Vejamos:

Código Penal
Art. 181 É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.
Art. 182 Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido em prejuízo:
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.

De acordo com o art. 95, do Estatuto, qualquer crime praticado contra o idoso (de caráter patrimonial ou não,
com ou sem violência ou grave ameaça) é de ação pública incondicionada.
À vista disso, salienta-se, por necessário, que o próprio art. 183, do Código Penal, já trazia a previsão do art. 95,
do Estatuto, de forma expressa, ou seja, vedava a aplicação da imunidade trazida pelos arts. 181 e 182, do Código
Penal, quando o ‘’crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos’’.
Voltando ao Estatuto da Pessoa Idosa, vamos, agora, ao estudo dos crimes em espécie:

Art. 96 Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias, aos meios de
transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao exercício da cidadania,
por motivo de idade:
Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.

Um ponto importante, nesse dispositivo, diz respeito ao conceito de discriminar. No Estatuto, entende-se
como discriminação toda distinção, exclusão ou restrição baseada na idade da vítima do delito. No caso do art.
96, acima exposto, o agente (autor do fato) cria empecilhos (dificulta ou impede) seu acesso a operações bancárias,
aos meios de transporte, ao direito de contratar ou ao exercício de sua cidadania.
Cumpre esclarecer que a expressão “meios de transporte”, trazida pelo Estatuto, é bem ampla, uma vez que
envolve todos os meios de transporte aéreos, terrestres, marítimos, sejam eles individuais ou coletivos, públicos
ou privados. A definição do “direito de contratar”, por sua vez, refere-se à faculdade legal de celebração dos negó-
cios jurídicos. A expressão “exercício da cidadania”, por último, guarda relação com tudo aquilo ligado ao status
de indivíduo, ou seja, ao pleno gozo dos direitos políticos e civis.
O crime tipificado no art. 96, do Estatuto, é um crime comum, isto é, que pode ser praticado por qualquer
pessoa, não exigindo qualidade especial do autor do delito. Porém, exige-se que a prática do crime seja motivada
pela idade (dolo em razão da idade).

§ 1º Na mesma pena incorre quem desdenhar, humilhar, menosprezar ou discriminar pessoa idosa, por qualquer
motivo.

O parágrafo primeiro apresenta uma conduta equiparada à discriminação. Trata-se do tratamento de desdém,
menosprezo ou humilhação contra a pessoa idosa por quaisquer outros motivos que não os disciplinados no caput
(quais sejam: acesso a operações bancárias, aos meios de transporte, ao direito de contratar ou ao exercício de
sua cidadania).

§ 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se a vítima se encontrar sob os cuidados ou responsabilidade do
agente.

O parágrafo segundo afirma que, nos casos em que o agente de uma das condutas elencadas for o responsável
(legal ou não) pelo idoso que sofreu a discriminação, a pena será aumentada. Portanto, o aumento de 1/3 da pena
52 decorre da proximidade e do dever de cuidado para com a pessoa idosa. São considerados responsáveis:
z filhos; z A segunda forma ocorre quando o agente recusa,
z netos; retarda ou dificulta, sem justa causa, a assistên-
z curadores; cia à saúde do idoso, sem que exista qualquer tipo
z cuidadores; de impedimento;
z entre outros. z A terceira forma de incriminação é a conduta de
não pedir socorro à autoridade pública.
Dica
Atenção: o fato de o agente não prestar assistência
Embora a conduta do parágrafo segundo seja
ao idoso devido ao risco a sua integridade não o exi-
mais reprovável do que as anteriores, a esta me de pedir socorro a uma autoridade competente.
também são aplicadas as medidas despenaliza- Cabe mencionar que, considerando a pena máxima
doras da Lei nº 9.099, de 1995, uma vez que se cabível, trata-se de uma infração de menor potencial
trata de uma infração de menor potencial ofensi- ofensivo e, portanto, sujeita às medidas despenaliza-
vo (pena máxima inferior a dois anos). doras da Lei nº 9.099, de 1995.

É de suma importância ressaltar as recentes alterações Parágrafo único. A pena é aumentada de metade,
realizadas, no Estatuto, pela Lei nº 14.181, de 2021, se da omissão resulta lesão corporal de natureza
conhecida por Lei do Superendividamento. Esta lei grave, e triplicada, se resulta a morte.
alterou dispositivos do Estatuto da Pessoa Idosa (Lei
nº 10.741, de 2003) e do Código de Defesa do Consu- O parágrafo único traz uma hipótese de causa de
midor (Lei nº 8.078, de 1990), objetivando melhor aumento de pena devido ao resultado. No caso de a
disciplinar a sistemática de crédito ao consumidor e, omissão resultar lesão corporal grave, a pena será
também, dispor sobre a prevenção e o tratamento do aumentada de metade. Caso resulte em morte, ela
superendividamento.
será triplicada.
Veja o que dispõe o § 3º, do art. 96, do Estatuto:
Observe o que os parágrafos 1º e 2º, do art. 129, do
Código Penal, dispõem sobre a lesão corporal de natu-
§ 3º Não constitui crime a negativa de crédito
reza grave (sentido amplo):
motivada por superendividamento da pessoa idosa.

O caput, do art. 96, do Estatuto da Pessoa Idosa, prevê, z Lesão corporal grave em sentido estrito:
como crime, entre outras condutas, impedir ou dificultar
Art. 129 […]
o acesso da pessoa idosa a operações bancárias (como,
§ 1º Se resulta:
por exemplo, negar um empréstimo a uma pessoa pelo
I - incapacidade para as ocupações habituais, por
simples fato dela estar com 60 anos ou mais).
mais de trinta dias;
Antes da alteração, muitas instituições financeiras
II - perigo de vida;
acabavam por conceder empréstimos para idosos já
III - debilidade permanente de membro, sentido ou
endividados e sem capacidade financeira suficiente,
função;
com receio de serem penalizadas por negar o crédito.
IV - aceleração de parto:
A inclusão do § 3º traz segurança para que as insti-
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
tuições financeiras neguem crédito a fim de evitar o
superendividamento do idoso.
z Lesão corporal gravíssima:
Os arts. 97, 98 e 99, do Estatuto, tratam, em síntese,
da proteção à saúde física e psíquica do idoso. A estes,
§ 2º Se resulta:
portanto, compete disciplinar as formas de violência
I - incapacidade permanente para o trabalho;
que atentem contra a saúde do idoso, ou seja, aquelas
II - enfermidade incurável;
que, por ação ou omissão, lhe cause morte, dano ou III perda ou inutilização do membro, sentido ou
sofrimento físico /psicológico. função;
IV - deformidade permanente;
Art. 97 Deixar de prestar assistência à pessoa V - aborto:
idosa, quando possível fazê-lo sem risco pessoal,
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
em situação de iminente perigo, ou recusar, retar-
dar ou dificultar sua assistência à saúde, sem jus-
De volta aos artigos do Estatuto, observe o art. 98:
ta causa, ou não pedir, nesses casos, o socorro de
autoridade pública:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e Art. 98 Abandonar a pessoa idosa em hospitais,
DIREITOS HUMANOS

multa. casas de saúde, entidades de longa permanência,


ou congêneres, ou não prover suas necessidades
O crime do art. 97, do Estatuto, é um crime prati- básicas, quando obrigado por lei ou mandado:
cado por omissão: deixar de prestar assistência quan- Pena – detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e
multa.
do se tem a possibilidade de fazê-lo sem qualquer
risco pessoal. Este pode ser cometido de três formas
distintas: O art. 98 traz uma modalidade de crime próprio,
ou seja, aquele que somente será cometido por quem
z A primeira refere-se à conduta omissa quando o possui dever de cuidado (obrigação legal ou conven-
idoso está em iminente perigo, isto é, o perigo que cional), como no caso de filho que abandona a mãe,
está prestes a ocorrer; privando-a do convívio familiar, de carinho ou de
afeto. 53
Como a pena máxima excede dois anos, não caberá Art. 101 Deixar de cumprir, retardar ou frus-
transação penal, mas é cabível a suspensão condicio- trar, sem justo motivo, a execução de ordem
nal do processo1, já que a pena mínima não ultrapassa judicial expedida nas ações em que for parte ou
1 ano. interveniente a pessoa idosa:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e
multa.
Art. 99 Expor a perigo a integridade e a saúde,
física ou psíquica, da pessoa idosa, submetendo-a
a condições desumanas ou degradantes ou privan- O crime do art. 101 refere-se ao descumprimento
do-a de alimentos e cuidados indispensáveis, quan- da execução de ordem judicial expedida nas ações
do obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-a a trabalho em que for parte ou interveniente o idoso, ou seja,
excessivo ou inadequado: qualquer tipo de ação que tenha, como parte ou inter-
Pena – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e veniente, a pessoa idosa. Este se trata, também, de cri-
multa. me próprio e sujeito às medidas despenalizadoras, por
ser uma infração de menor potencial ofensivo.
O crime do art. 99 também é próprio, ou seja, o
Art. 102 Apropriar-se de ou desviar bens, pro-
acusado necessita ter um vínculo de cuidado com o
ventos, pensão ou qualquer outro rendimento da
idoso. A exposição a perigo deve ser concreta, ou
pessoa idosa, dando-lhes aplicação diversa da de
seja, é preciso provar que o idoso ficou, efetivamente, sua finalidade:
exposto a uma situação de perigo. Trata-se, também, Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa.
de infração de menor potencial ofensivo, sendo cabí-
vel aplicação das medidas despenalizadoras previstas O crime tipificado no art. 102 pode ser praticado
na Lei nº 9.099, de 1995. de dois modos: apropriação ou desvio. Entende-se
por apropriação qualquer situação na qual o agente
§ 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza trate coisa alheia como se fosse sua, ou seja, apode-
grave: ra-se de bem, proventos, pensões, benefícios ou qual-
Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos. quer outro rendimento do idoso. Nos casos de desvio,
o agente dá um destino diferente a bem, proventos,
O parágrafo primeiro traz uma hipótese de crime pensões, benefícios ou qualquer outro rendimento da
qualificado pelo resultado, de modo a alterar o pata- pessoa idosa. As duas condutas são punidas com pena
mar da pena. No caso de o fato resultar lesão corporal de reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos. Trata-se de
grave, a pena será reclusão de 1 a 4 anos. crime comum e, devido à pena mínima ser inferior a
um ano, cabe suspensão do processo.
§ 2º Se resulta a morte:
Pena – reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. Art. 103 Negar o acolhimento ou a permanên-
cia da pessoa idosa, como abrigada, por recusa
O parágrafo segundo disciplina outra qualificado- desta em outorgar procuração à entidade de aten-
ra pelo resultado. No caso de o fato resultar morte, a dimento: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um)
ano e multa.
pena será reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
O art. 103 apresenta, como crime, negar a esta-
Art. 100 Constitui crime punível com reclusão de 6
(seis) meses a 1 (um) ano e multa:
dia à pessoa idosa com base no fato de ter o idoso se
I - obstar o acesso de alguém a qualquer cargo recusado a outorgar procuração para que a entidade
público por motivo de idade; administre seus bens ou valores, com a finalidade de
II - negar a alguém, por motivo de idade, emprego custear a estadia do idoso no local. Trata-se de crime
ou trabalho; comum e infração de menor potencial ofensivo, sujei-
III - recusar, retardar ou dificultar atendimen- to, portanto, às medidas despenalizadoras.
to ou deixar de prestar assistência à saúde, sem
justa causa, a pessoa idosa; Art. 104 Reter o cartão magnético de conta ban-
IV - deixar de cumprir, retardar ou frustrar, cária relativa a benefícios, proventos ou pensão da
sem justo motivo, a execução de ordem judicial pessoa idosa, bem como qualquer outro documento
com objetivo de assegurar recebimento ou ressarci-
expedida na ação civil a que alude esta Lei;
mento de dívida:
V - recusar, retardar ou omitir dados técnicos
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e
indispensáveis à propositura da ação civil objeto des-
multa.
ta Lei, quando requisitados pelo Ministério Público.
O art. 104 traz hipótese de o credor, com o objetivo
O art. 100 traz várias formas de cometimento de
de assegurar recebimento ou ressarcimento de dívida,
crime. Com exceção do inciso III, cujo crime pode ser reter o cartão magnético do idoso. Trata-se de um cri-
praticado por qualquer pessoa (crime comum), os me próprio (credor do idoso) e sujeito à aplicação das
demais incisos são hipóteses de crime próprio (I e II medidas despenalizadoras da Lei nº 9.099, de 1995,
pela pessoa responsável pela admissão, IV e V pelas por se tratar de infração de menor potencial ofensivo.
pessoas que obstarem ordem judicial ou requisição
do Ministério Público). Para todos os delitos previstos Art. 105 Exibir ou veicular, por qualquer meio de
nesse artigo, cabem as medidas despenalizadoras, por comunicação, informações ou imagens depre-
se tratarem de infrações de menor potencial ofensivo. ciativas ou injuriosas à pessoa idosa:

1 Devido à pena da infração penal, ao oferecer a denúncia, poderá o Ministério Público propor a suspensão do processo por até 4 (quatro) anos,
no caso de o acusado não possuir outro processo criminal ou de não ter sido condenado por outros crimes, propondo o cumprimento de determi-
54 nadas condições em troca do benefício.
Pena – detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e multa. A preocupação em se estabelecer um conceito aos
direitos humanos decorreu do período pós 2ª Guerra
O crime do art. 105 atinge a honra do idoso, inde- Mundial. Tal evento, de total relevância para a histó-
pendentemente de este se sentir ofendido ou violado. ria mundial, encerrou-se em setembro de 1945.
Trata-se de crime comum ao qual, devido à pena míni- Em decorrência desse fato histórico, em 24 de
ma, caberá suspensão condicional do processo. outubro de 1945 foi criada a Organização das Nações
Unidas (ONU) por meio da Carta da ONU. A ONU se
Art. 106 Induzir pessoa idosa sem discernimen- estruturou a partir da união de países de diferentes
to de seus atos a outorgar procuração para fins de
continentes que tinham um único objetivo: a promo-
administração de bens ou deles dispor livremente:
ção da paz em todo o mundo e a proteção dos estados,
Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
de forma que pudessem se reestruturar no pós-guerra.
O crime do art. 106, do Estatuto, exige um especial O ano de 1948 é um marco histórico para a defe-
fim de agir, ou seja, o agente tem a finalidade adminis- sa dos direitos humanos, tendo em vista ter havido
trar ou dispor livremente dos bens do idoso. a proclamação da Declaração Universal dos Direitos
Humanos.
Art. 107 Coagir, de qualquer modo, a pessoa Então, tenha em mente que os dois importantes
idosa a doar, contratar, testar ou outorgar momentos para os direitos humanos foram a Carta da
procuração: ONU e a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Pena – reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. Vale esclarecer, ainda, que não se pode dizer que
os direitos humanos surgiram a partir da definição de
O art. 107 tipifica a conduta de coação em que a um conceito. Isto porque é possível defender que se
vítima é pessoa idosa e o agente a coage a doar, con- tratam de direitos inerentes à condição humana, ou
tratar, testar ou outorgar procuração. Trata-se de cri- seja, segundo a doutrina são direitos naturais.
me comum. No entanto, seu reconhecimento decorre, de fato,
da positivação, que se refere ao momento em que um
Art. 108 Lavrar ato notarial que envolva pessoa
direito é reconhecido, sendo escrito por meio de uma
idosa sem discernimento de seus atos, sem a
lei que tramita em um processo legislativo e que, a
devida representação legal:
Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
partir da aprovação, passa a ser de observância obri-
gatória por parte de todos.
O crime do art. 108 trata de pessoa idosa sem dis- Atenção à informação a seguir, que é muito impor-
cernimento para a prática de seus atos, cuja conduta tante para sua aprovação: é possível dizer que os
(lavratura de ato notarial) é realizada sem o repre- direitos humanos são inerentes à condição humana
sentante legal. Trata-se de crime próprio (praticado dos indivíduos. São os chamados “direitos naturais”.
somente pela pessoa responsável pela lavratura do Quando estes mesmos direitos passam a ser previstos
ato no cartório). em uma lei escrita devidamente aprovada por meio
Cumpre mencionar, por fim, que o art. 109, do Esta- do processo legislativo de cada estado, dizemos que
tuto, embora não esteja disciplinado na parte relativa estão positivados.
aos crimes, trata do crime de atentado ou empreendi- Quando falamos em direitos humanos, estamos
mento, que ocorre quando o agente impede ou emba- mencionando um rol de direitos pertencentes ao
raça ato do representante do Ministério Público ou de indivíduo. São reconhecidos internacionalmente,
qualquer outro agente fiscalizador. mas também constam nas normas de direito inter-
no dos estados. Dentre tais direitos, temos: o direito
à vida; à liberdade; à educação, e à saúde. No Brasil,
estão elencados na Constituição Federal. São os direi-
CONCEITO DE DIREITOS HUMANOS tos fundamentais e sociais.
A questão da nomenclatura é técnica, porém em
Estabelecer um conceito de direitos humanos, nada interfere no fato de que esses direitos devem ser
embora pareça simples, exige que se faça uma análise garantidos a todos os cidadãos nacionais ou estran-
histórica para compreensão de como surgiu a defini- geiros, que estejam ou não no território de sua terra
ção. Mesmo que todos saibam mencionar quais são natal, e de que é obrigação dos estados respeitarem os
esses direitos, há que se entender como se chegou a direitos humanos de cada um.
um conceito. Recomendamos, para aprofundamento sobre a
DIREITOS HUMANOS

Como dito, o conceito de direitos humanos foi história da Organização das Nações Unidas e para
construído ao longo do tempo, razão pela qual se tor- informações mais detalhadas a respeito do marco ini-
na necessário abordar alguns aspectos referentes à cial dos direitos humanos, o acesso à página da ONU2.
sua evolução histórica.
A princípio, é possível dizer que os direitos huma-
nos, tamanha sua importância, decorrem da dignida- Importante!
de inerente a cada ser humano. Porém, em verdade,
tais direitos não foram, desde o início, efetivamente Direitos humanos são os direitos de cada indi-
previstos e protegidos. víduo reconhecidos em seu país e em âmbito
internacional.
2 https://nacoesunidas.org/conheca/. 55
Cumpre esclarecer, entretanto, que somente os
EVOLUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS direitos mínimos foram reconhecidos. Consequente-
E SUAS IMPLICAÇÕES PARA O CAMPO mente, esta primeira fase refere-se à defesa das pes-
soas contra o abuso do poder do Estado, de modo a
EDUCACIONAL abranger tanto as liberdades dos indivíduos, ou seja,
seus direitos civis e individuais, como os direitos de
Os direitos humanos não foram reconhecidos de
participação popular na administração do Estado, ou
uma única vez, sendo resultado de um processo lento
e gradual. Deste processo advém à noção de “gerações seja, os direitos políticos.
de direitos humanos”. Neste ponto, cabe mencionar O direito à liberdade é um destes direitos. A
que a nomenclatura “gerações” foi dada pelo jurista Declaração Universal dos Direitos Humanos, por
francês Karel Vasak e inspirada no lema da Revolução exemplo, iniciou seu rol de direitos estipulando que
Francesa. Para ele, cada um dos temas envolvia uma todos os indivíduos nascem com a possibilidade de
das gerações dos direitos humanos. fazer escolhas, de dar rumo à própria vida de acor-
Observe: do com a própria inteligência e consciência e não por
estipulações alheias, sendo que, ainda que o meio
z Liberdade: associado aos direitos civis e políticos; social possa influenciar em suas escolhas, a pessoa é
z Igualdade: associada aos direitos econômicos, livre para mudar o rumo dado pela sociedade.
sociais e culturais;
z Fraternidade: associada aos direitos de
solidariedade. Importante!
Para compreender a associação entre o lema da Nascer igual significa poder gozar de todos os
Revolução Francesa e o reconhecimento dos direitos direitos, independentemente de qualquer con-
humanos é preciso entender que no período inicial da dição, ou seja, de ser homem ou mulher, de ser
existência humana somente tinham direitos aqueles rico ou pobre, do país, da religião, entre outros.
que possuíam força física ou que estavam do lado de Assim sendo, direitos e liberdades independem
quem a possuía, visto que era sempre o mais forte que de qualquer condição pessoal ou de distinções
impunha a sua vontade aos demais. fundadas em condição política ou jurídica.
Posteriormente, a aquisição de direitos passou a
ser resultado da vontade das divindades, ou seja, de
um Deus ou de diversos deuses. Já com a formação Além da liberdade de fazer escolhas, o direito à
dos Estados absolutistas, o poder de impor as regras liberdade envolve o direito de locomoção, o direito de
passou a ser dos reis. Assim, foi apenas com a forma- ter convicções religiosas, filosóficas, políticas, entre
ção dos Estados Modernos que as pessoas passaram a outros, o direito de expressar livremente seus pensa-
ser tidas como possuidores de direitos, uma vez que o mentos e o direito de reunião e associação.
poder dos Estados passou a ser limitado. O direito à vida também é um dos direitos garan-
Como consequência, os direitos humanos passa- tidos nesta primeira categoria. Ele engloba não só a
ram a ser reconhecimentos por categorias.
garantia do indivíduo de não ter interrompido o seu
processo vital, salvo pela morte espontânea e inevi-
Dica tável, mas o direito de não ter sua integridade física e
A denominação “gerações” dos direitos huma- moral violada, assim como o direito de ter uma vida
nos foi o termo original criado por Vasak e, digna e justa. Como consequência, tanto a escravidão
posteriormente, passou a ser denominado de como a tortura violam o direito à vida.
dimensão dos direitos humanos. Isto ocorreu Neste ponto, é importante consignar que o direi-
porque grande parte da doutrina passou a enten- to à vida envolve, ainda, o reconhecimento da perso-
der que essa classificação correspondia a uma nalidade humana. Isto significa dizer que os Estados
visão histórica infundada, pois os direitos huma- devem reconhecer a todos os direitos e deveres sem
nos não se sucedem ou se substituem. Assim, qualquer valoração, pois todas as pessoas merecem
a utilização do termo “gerações” poderia levar a proteção. Assim sendo, não é possível efetuar grada-
conclusão de que os direitos de primeira geração ções da dignidade humana, uma vez que a dignidade
foram substituídos pelos de segunda e, assim não pode ser retirada ou desprezada pela prática de
por diante; o que não é o correto, uma vez que os condutas tidas como reprováveis pela sociedade.
direitos se expandem e se acumulam, de modo Outro desdobramento do direito à vida é o direi-
que um fortalece o outro. É por este motivo que to à vida privada, que corresponde ao poder que as
a doutrina optou por utilizar o termo “dimen- pessoas têm de decidir quais informações, condutas,
sões”, pois este traz a ideia de que os direitos se escolhas, preferências, entre outros, querem levar ao
complementam. conhecimento público e quais querem manter como
exclusivamente suas, ou seja, privadas.
A primeira categoria de direitos reconhecidos O direito à igualdade também faz parte da pri-
foi aquela ligada à proteção das pessoas contra o meira categoria de direitos reconhecidos. Trata-se,
poder do Estado, ou seja, os direitos individuais e portanto, da garantia de que a norma não será aplica-
políticos. Trata-se, portanto, dos direitos ligados à pró- da de modo discriminatório, negando direitos básicos
pria pessoa, como, por exemplo, o direito de viver, de aos indivíduos em razão de qualquer condição pes-
56 ter bens, de se locomover. soal, como sexo, cor, origem, entre outros.
Dica Importante!
O direito à igualdade reconhecido nesta catego- O direito à educação faz parte desta catego-
ria não se refere à igualdade de fato perante a ria (segunda geração/dimensão) dos direitos
lei. Esta faz parte da segunda categoria de direi- fundamentais.
tos reconhecidos.

Outro direito reconhecido foi o direito à seguran- No que diz respeito ao direito à educação, obser-
ça, ou seja, o direito de exercer com tranquilidade os ve que uma instrução de qualidade é essencial à for-
demais direitos humanos. Assim, segurança abrange mação integral dos indivíduos, uma vez que somente
os direitos relativos à segurança do indivíduo, como, com uma educação adequada as pessoas podem exer-
por exemplo, a que veda prisão arbitrária ou abusiva cer seus demais direitos, tais como a liberdade de
e estabelece que a restrição da liberdade só será legí- expressão, a liberdade de associação, os direitos polí-
tima quando respeitados os parâmetros da lei, como ticos, entre outros.
também os direitos ligados à segurança das relações A Declaração Universal dos Direitos Humanos, por
jurídicas, como, por exemplo, as garantias proces- exemplo, estabelece que cabe aos Estados assegura-
suais decorrentes dos princípios da duração razoável rem o acesso à educação e garantir que esta será gra-
do processo, do devido processo legal, do contraditó- tuita ao menos nos níveis elementares e fundamentais.
rio e da ampla defesa, entre outros. Quanto à obrigatoriedade, estabelece que a educação
Há de se mencionar, também, o direito à proprie- deve ser apenas da instrução elementar, assegurando,
dade, ou seja, o direito que as pessoas têm de usar, porém, o acesso aos demais níveis de instrução. Neste
gozar e dispor da coisa, assim como retomá-la de ponto é importante observar que, embora o dispositi-
quem injustamente a detenha. vo estabeleça o direito prioritário dos pais na escolha
O direito à nacionalidade também foi um dos pri-
do gênero de instrução, ele também limita sua liber-
meiros direitos reconhecidos. Trata-se do direito que
dade de escolha ao dar caráter obrigatório à instrução
todos possuem de se vincular política e juridicamente
elementar, uma vez que os pais não poderão privar
a um Estado soberano para que este possa lhe assegu-
seus filhos do ensino elementar formal.
rar a proteção aos seus direitos fundamentais.
Já, a Constituição Federal de 1988, ao disciplinar o
Finalizando este primeiro rol de direitos, tem-se os
direitos políticos, que são os direitos de participação dever do Estado brasileiro com a educação, estabele-
diretamente no governo ou indiretamente por meio ce a obrigatoriedade e gratuidade da educação básica,
de seus representantes escolhidos pelo voto. Portanto, que segundo a norma constitucional é aquela ofer-
refere-se ao direito de votar e ser votado. tada para os alunos entre 4 (quatro) e 17 (dezessete)
Atenção! Observe que estes direitos, indepen- anos de idade, assegurada, ainda, sua oferta gratuita
dentemente de serem tidos como civis ou políticos, para aqueles que não puderam ter acesso a ela na ida-
exigem postura negativa do Estado, isto é, de não de própria.
interferência. Além disso, assegura a progressiva universaliza-
A segunda categoria de direitos reconhecidos ção do ensino médio gratuito; o atendimento educa-
foram aqueles ligados aos direitos sociais, de modo a cional especializado aos estudantes com deficiência,
incluir os direitos voltados ao trabalho, à educação, à preferencialmente na rede regular de ensino; a edu-
saúde, entre outros. Parte-se, portanto, da ideia de que cação infantil, tanto em creche como em pré-escola,
os Estados têm o dever não só de conceder e respeitar para as crianças até 5 (cinco) anos de idade; o acesso
as liberdades, mas também proporcionar a igualdade aos níveis mais elevados de ensino, pesquisa e criação
entre as pessoas para reequilibrar os desníveis sociais. artística; a oferta de ensino noturno de forma regular
Para compreender esta categoria, é preciso ter em e adequada; e o atendimento por meio de programas
mente que as pessoas não são iguais, seja em termos suplementares de material didático escolar, transpor-
econômico, sociais ou culturais. Como consequên- te, alimentação e assistência à saúde em todas as eta-
cia, de nada adiantaria garantir o direito à vida, por pas da educação básica.
exemplo, se a pessoa não tiver acesso à saúde. Assim,
os direitos reconhecidos nesta segunda categoria são As regras no que tange à educação brasileira
voltados a estabelecer a igualdade entre os indivíduos. encontram-se previstas nos arts. 205 a 214 da Consti-
Portanto, se em um primeiro momento houve um
tuição Federal de 1988.
olhar para o indivíduo para reconhecer as suas liber-
dades, agora o Estado passa a visualizá-lo como mem-
Há de se mencionar, ainda, o direito cultural, tanto
bro de uma sociedade. Consequentemente, é dever
no que diz respeito ao direito de ter acesso aos meios
do Estado reconhecer que as pessoas são diferentes e
de cultura e artes, bem como aos meios científicos,
DIREITOS HUMANOS

ter um papel mais ativo para garantir oportunidades


iguais aos indivíduos por meio de políticas públicas. assim como a proteção do direito do autor, quer em
Atente-se: atualmente, é exigida uma ação do seu aspecto material, quer em seu aspecto moral. Em
Estado e não mais uma omissão, ou seja, as liberdades suma, a cultura encontra-se disciplinada nos arts.
positivas ou prestacionais. 215 e 216 da Constituição Federal de 1988.
Nesta categoria são englobados os direitos ao tra- A terceira categoria de direitos reconhecidos
balho e os direitos dos trabalhadores, a assistência são aqueles atrelados ao ideal de fraternidade, por
e proteção econômica em determinados momen- dizerem respeito a toda coletividade. Neste ponto,
tos, tais como incapacidade temporária ou definitiva, observe que a primeira categoria se refere à proteção
velhice, maternidade, entre outros; o direito à educa- individual, enquanto os segundos à proteção da socie-
ção, o direito à cultura e ao lazer, o direito à saúde, dade. Assim, a terceira categoria é voltada à coletivi-
entre outros. dade como um todo. 57
Estes direitos são constituídos por interesses indi- z Os Direitos Humanos incluirão: o direito à vida e à
visíveis, que podem abranger um número indeter- liberdade, à liberdade de opinião e de expressão, o
minado de pessoas, com sujeitos indeterminados e direito ao trabalho e à educação, entre muitos outros.
indetermináveis, denominados de direitos difusos,
como, por exemplo, o direito ao meio ambiente eco- A Declaração Universal dos Direitos Humanos
logicamente equilibrado, o direito à autodetermina- foi redigida em um contexto de pós Segunda Guerra
ção dos povos, o direito à comunicação, entre outros. Mundial, em 1948, que continha cenário de destruição
Podem também abranger um grupo ou categoria em diversos países e territórios por conta do uso de
determinada de pessoas determináveis unidas pelo bombas atômicas e armas de diversas naturezas.
mesmo interesse jurídico, denominados de direito Muitas nações e grupos sociais foram alvos de per-
coletivo, como, por exemplo, a proteção de determi- seguições e genocídios. O impacto mundial dos con-
nados grupos sociais tidos como vulneráveis. flitos mostrou que era necessário prezar por maior
Observe que tais direitos refletem na vida de todas diplomacia nos problemas internacionais, pois as con-
as pessoas e tem como objetivo evitar a deteriora- sequências do combate entre forças bélicas teriam se
ção da qualidade de vida humana. É por este motivo mostrado extremamente prejudiciais a todos, não só
que são chamados de direitos de solidariedade, pois aos países ou nações “perdedoras”.
demandam na participação do conjunto e não de um Nesse sentido, a Declaração é uma reafirmação da
só indivíduo ou grupo. importância da vida humana e do bem-estar mínimo
Salienta-se, por necessário, que existem outras dos povos de diversas culturas, devendo ser obrigação
subdivisões em categorias, como, por exemplo, a pro- de todas as nações prezar pela proteção dos direitos
posta por Paulo Bonavides que acrescenta uma quarta universais para todos os indivíduos.
e quinta dimensão aos direitos, referindo-se ao direito A seguir, teremos a análise de artigo por artigo
à informação, à democracia e ao pluralismo político e da Declaração, com comentários necessários para a
ao direito à paz. compreensão. Leia atentamente e faça suas próprias
anotações sobre os pontos principais do importante
documento para os Direitos Humanos e sua proteção
mundial.
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS Aos analisar os artigos da Declaração, é importan-
DIREITOS HUMANOS te lembrar que vários deles são reafirmados por nos-
sa Constituição Federal do Brasil, de 1988. Os direitos
A Declaração Universal dos Direitos Humanos é humanos na carta constitucional brasileira são cha-
um documento elaborado por diversos representan- mados de direitos fundamentais e grande parte deles
tes de nações de diferentes culturas e bagagens jurídi- estarão previstos no art. 5º, do ordenamento pátrio.
cas, em prol de uma norma comum para proteção dos
direitos universais a ser alcançada por todos os seres CORPO DA NORMA: DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS
humanos em todos os territórios. DIREITOS HUMANOS
O documento3 foi proclamado por meio da Assem-
bleia Geral das Nações Unidas (Organização das Preâmbulo
Nações Unidas, ONU/UN) em seu escritório de Paris,
em 10 de dezembro de 1948, por meio da Resolução O Preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos
217-A (III) da Assembleia Geral. Humanos contém o reconhecimento de uma dignida-
Por sua vez, os Direitos Humanos são conceitos cria- de universal para os seres humanos que são os funda-
dos para definir o que seria básico para a vida digna de mentos da paz, da justiça e da liberdade de todos.
qualquer indivíduo no mundo, criando uma espécie de Em seguida, rechaça todos os atos de violência
cidadão universal, que detém garantias e deveres. entre nações, como “atos bárbaros”, que trouxeram
No art. 3º da declaração, afirma-se que todo o ser apenas terror e miséria, desrespeitando a dignidade
humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança humana de muitos.
pessoal. No corpo da declaração, vai-se estendendo o Assim, considera que é necessário um regime de
que se entende da expressão de tais garantias. direito que proteja os direitos humanos como direi-
A seguir, confira o conceito adotado por Direitos tos universais, de todos, para que ninguém precise se
Humanos e suas características principais:4 revoltar contra as autoridades por tirania ou opressão.
Defende-se a diplomacia e o diálogo entre nações
z Os Direitos Humanos são os direitos e liberdades para resolução de conflitos, a fim de disponibilizar
básicas de todos os seres humanos; melhores condições de vida aos seus cidadãos, pro-
z Esses direitos são inerentes a todos os seres huma- porcionando ampliação da liberdade.
nos, independentemente de raça, sexo, naciona- No texto do Preâmbulo, é citada por diversas vezes
lidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra a Carta das Nações Unidas, documento que inaugura a
condição de diversidade. Todos merecem esses Organização das Nações Unidas em 1945.5
direitos, sem discriminação;
3 Declaração Universal dos Direitos Humanos. Nações Unidas, 2020. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/91601-declaracao-universal-dos-
-direitos-humanos. Acesso em: 26 abri. 2022.
4 BRASIL. Curso Educação em Direitos Humanos. Escola Virtual. Módulo 1. p. 1-19. Disponível em: https://www.escolavirtual.gov.br. Acesso em:
4 fev. 2022.
5 BRASIL. Decreto n° 19.841, de 22 de outubro de 1945. Promulga a Carta das Nações Unidas, da qual faz parte integrante o anexo Estatuto da
Corte Internacional de Justiça, assinada em São Francisco, a 26 de junho de 1945, por ocasião da Conferência de Organização Internacional das
58 Nações Unidas. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/d19841.htm. Acesso em: 26 abri. 2022.
A Organização das Nações Unidas, órgão inter- Artigos
nacional que escreveu a Declaração, foi criada para
evitar novos conflitos armados de caráter mundial e Agora, veremos cada artigo e uma síntese do seu
promover a cooperação entre países e sua diplomacia. significado. Leia atentamente e faça suas anotações.
Desde 1945, o Brasil ratificou a Carta e se tornou par-
te das Nações Unidas. Dessa forma, a resolução que cria Art. 1º
a Declaração reafirma o que a Carta traz, com testamen- Todos os seres humanos nascem livres e iguais em
tos em prol da paz e da segurança internacionais.6 dignidade e em direitos. Dotados de razão e de
Sua inovação diz respeito ao fortalecimento da consciência, devem agir uns para com os outros
rede de proteção dos direitos humanos por meio de em espírito de fraternidade.
um instrumento jurídico que baseie as medidas inter-
nas dos países com um objetivo comum: manter a dig- O art. 1º traz a ideia da dignidade como o ponto
nidade humana. central do fundamento dos direitos humanos. Leva
Veja o texto na íntegra a seguir: em consideração que humanos são seres racionais,
dotados de consciência e, assim, podem fazer as suas
Preâmbulo próprias decisões com base no que é mais benéfico
Considerando que o reconhecimento da dignidade para a população mundial e suas culturas, ou seja, em
inerente a todos os membros da família humana e dos prol do respeito da dignidade humana.
seus direitos iguais e inalienáveis constitui o funda-
mento da liberdade, da justiça e da paz no mundo; Art. 2º
Considerando que o desconhecimento e o desprezo Todos os seres humanos podem invocar os direitos
dos direitos do Homem conduziram a atos de bar- e as liberdades proclamados na presente Decla-
bárie que revoltam a consciência da Humanidade e ração, sem distinção alguma, nomeadamente de
que o advento de um mundo em que os seres huma- raça, de cor, de sexo, de língua, de religião,
nos sejam livres de falar e de crer, libertos do terror de opinião política ou outra, de origem nacio-
e da miséria, foi proclamado como a mais alta ins- nal ou social, de fortuna, de nascimento ou de
piração do Homem; qualquer outra situação. Além disso, não será
Considerando que é essencial a proteção dos direi- feita nenhuma distinção fundada no estatuto polí-
tos do Homem através de um regime de direito, tico, jurídico ou internacional do país ou do terri-
para que o Homem não seja compelido, em supremo tório da naturalidade da pessoa, seja esse país ou
recurso, à revolta contra a tirania e a opressão; território independente, sob tutela, autônomo ou
Considerando que é essencial encorajar o desenvol- sujeito a alguma limitação de soberania.
vimento de relações amistosas entre as nações;
Considerando que, na Carta, os povos das Nações O art. 2º traz algumas observações a respeito de
Unidas proclamam, de novo, a sua fé nos direitos diferenças entre os seres humanos, mostrando que,
fundamentais do Homem, na dignidade e no valor da muito embora cada indivíduo apresente suas parti-
pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens cularidades, todos são dignos de proteção e devem
e das mulheres e se declaram resolvidos a favorecer o ter seus direitos garantidos. Dentre as características
progresso social e a instaurar melhores condições de destacadas, encontram-se: “raça, de cor, de sexo, de
vida dentro de uma liberdade mais ampla; língua, de religião, de opinião política ou outra, de ori-
Considerando que os Estados membros se com-
gem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou
prometeram a promover, em cooperação com
de qualquer outra situação”.
a Organização das Nações Unidas, o respeito
universal e efetivo dos direitos do Homem e
das liberdades fundamentais; Art. 3º
Considerando que uma concepção comum destes Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à
segurança pessoal.
direitos e liberdades é da mais alta importância
para dar plena satisfação a tal compromisso:
A Assembleia Geral proclama a presente Declaração O art. 3º traz alguns dos chamados direitos funda-
Universal dos Direitos Humanos como ideal comum mentais, tais como: vida, liberdade e segurança.
a atingir por todos os povos e todas as nações,
a fim de que todos os indivíduos e todos os órgãos Art. 4º
da sociedade, tendo-a constantemente no espírito, se Ninguém será mantido em escravatura ou em
esforcem, pelo ensino e pela educação, por desenvol- servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob
ver o respeito desses direitos e liberdades e por pro- todas as formas, são proibidos.
mover, por medidas progressivas de ordem nacional
e internacional, o seu reconhecimento e a sua aplica- O art. 4º coloca como contra os direitos humanos
ção universais e efetivos tanto entre as populações qualquer tipo de escravidão ou servidão humana. Esses
DIREITOS HUMANOS

dos próprios Estados membros como entre as dos direitos são assegurados no Brasil por meio da Consti-
territórios colocados sob a sua jurisdição. tuição Federal de 1988, no art. 4º: “Ninguém será man-
tido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o
Assim, fica transparente a posição da Organização trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos”.
das Nações Unidas (ONU/UN), isto é, a afirmação de
que as barbáries das grandes guerras ocorreram por Art. 5º
desprezo ou desconhecimento dos direitos humanos. Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou
Dessa forma, é necessário espalhar o ideal desses tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.
direitos em todas as nações para que o mundo seja um
local cada vez mais amistoso e voltado à paz.
6 Ibid. 59
O art. 5º apresenta a informação de que atos de O art. 9º impede a prisão arbitrária, ou qualquer
tortura, penas ou tratamentos cruéis são proibidos e tipo de detenção ou exílio por diferenças entre seres
contra os direitos humanos. No Brasil, esse direito é humanos, sem o devido processo legal ser cumprido
definido por meio do inciso III, art. 5º, da Constituição e executado.
Federal de 1988: “ninguém será submetido a tortura No Brasil, a Constituição Federal de 1988 defende
nem a tratamento desumano ou degradante”. esses direitos no inciso LXI e seguintes, do art. 5º. Veja
o inciso LXI:
Art. 6º
Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, Art. 5º [...]
em todos os lugares, da sua personalidade jurídica. LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito
ou por ordem escrita e fundamentada de autorida-
O art. 6º diz que: Todos os seres humanos possuem de judiciária competente, salvo nos casos de trans-
a garantia de serem reconhecidos como dotados de gressão militar ou crime propriamente militar,
direitos, ou seja, reconhecidos como pessoas perante definidos em lei.
a lei. Essa é a garantia de personalidade jurídica.
Art. 10
Art. 7º Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a
Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm que a sua causa seja equitativa e publicamente jul-
direito a igual proteção da lei. Todos têm direito a gada por um tribunal independente e imparcial
proteção igual contra qualquer discriminação que decida dos seus direitos e obrigações ou das
que viole a presente Declaração e contra qualquer razões de qualquer acusação em matéria penal que
incitamento a tal discriminação. contra ela seja deduzida.

O art. 7º diz que: Ninguém será privilegiado ou O art. 10 reafirma o respeito ao devido processo
impedido de alcançar a proteção aos seus direitos legal, que deve ser implementado de acordo com as
humanos e a lei garantirá essa igualdade. Nesse mes- regras do ordenamento jurídico nacional, sendo inde-
mo sentido, é proibido pelo artigo incitar qualquer pendente e imparcial em relação as suas inclinações
discriminação nessa proteção. No Brasil, o direito ou vieses, independente da acusação que esteja sendo
à igualdade aparece em vários momentos na Carta analisada. No Brasil, o Princípio do Devido Processo
Constitucional de 1988. No preâmbulo da constituição Legal está presente no inciso LIV, art. 5º, da Constitui-
brasileira, já é previsto a proteção da igualdade: ção Federal de 1988: “ninguém será privado da liberda-
de ou de seus bens sem o devido processo legal”.
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos O art. 11 é dividido em duas partes (inciso 1 e 2).
em Assembleia Nacional Constituinte para instituir Confira:
um Estado Democrático, destinado a assegurar o
exercício dos direitos sociais e individuais, a liber- Art. 11
dade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, 1. Toda a pessoa acusada de um ato delituoso pre-
a igualdade e a justiça como valores supremos de
sume-se inocente até que a sua culpabilidade fique
uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconcei-
legalmente provada no decurso de um processo
tos, fundada na harmonia social e comprometida,
público em que todas as garantias necessárias de
na ordem interna e internacional, com a solução
defesa lhe sejam asseguradas.
pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a
2. Ninguém será condenado por ações ou omis-
proteção de Deus, a seguinte Constituição da Repú-
sões que, no momento da sua prática, não cons-
blica Federativa do Brasil. (BRASIL, CF, 1988)
tituíam ato delituoso à face do direito interno
ou internacional. Do mesmo modo, não será infli-
Art. 8º
gida pena mais grave do que a que era aplicável no
Toda a pessoa tem direito a recurso efetivo
momento em que o ato delituoso foi cometido.
para as jurisdições nacionais competentes contra
os atos que violem os direitos fundamentais reco-
nhecidos pela Constituição ou pela lei. Na primeira parte do décimo primeiro artigo,
temos a proteção da presunção de inocência para os
O art. 8º é o artigo que garante o duplo grau de indivíduos do globo. Ou seja, ninguém será considera-
jurisdição como direito humano. Ou seja, todo ser do culpado antes da finalização do processo penal em
humano é digno de ter acesso a um recurso para suas segunda instância, depois de ter acesso a pelo menos
decisões judiciais. Em outras palavras, todos possuem um recurso da decisão de primeiro grau. No Brasil, a
o direito de serem julgadas por juízes ou turmas de presunção da inocência é garantida pelo inciso LVII,
magistrados mais de uma vez, no mínimo por duas art. 5º: “ninguém será considerado culpado até o trân-
vezes, evitando a arbitrariedade subjetiva do juiz e sito em julgado de sentença penal condenatória”.
erros na busca da justiça nas decisões. No Brasil, o Na segunda parte, é garantido o Princípio da Lega-
Princípio do Duplo Grau de Jurisdição é contido no lidade, o qual define que ninguém será condenado
art. 5º, LV da Constituição Federal de 1988, que diz por fato definido como crime posterior a sua ação ou
sobre a Ampla Defesa. (STERMAN, 2017) omissão. Não existe crime se não houver lei anterior
que o tipifique. Assim, cria-se a segurança jurídica e
Art. 9° afastamento da arbitrariedade por tribunais ad hoc
Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou (criados de maneira posterior aos fatos que serão jul-
exilado. gados). Tal garantia impede possíveis injustiças por
posições pessoais dos julgadores ou instituições tidas
60 como autoridades judiciais no caso em questão.
No Brasil, o Princípio da Legalidade está disposto O art. 15 é dividido em duas partes (inciso 1 e 2).
no art. 5º, inciso II, da Constituição Federal de 1988: Confira:
“ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei”. Art. 15
1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma
Art. 12 nacionalidade.
Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da
vida privada, na sua família, no seu domicílio sua nacionalidade nem do direito de mudar de
ou na sua correspondência, nem ataques à sua hon- nacionalidade.
ra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques
toda a pessoa tem direito a proteção da lei. Aqui, se defende o direito de ter uma nacionalida-
de, pois ser apátrida impede o indivíduo de acessar
Neste artigo, temos a proteção à intimidade e vida vários serviços e bens essenciais para o exercício dos
privada dos indivíduos. Esses seriam essenciais para direitos humanos. Assim, para pessoas que não pos-
uma vida digna. No Brasil, esses direitos são garanti- suem nacionalidade, é difícil o acesso delas aos meios
dos nos incisos X, XXII e XXIII, art. 5º, da Constituição de proteção da sua dignidade e dos seus direitos, uma
Federal de 1988. Veja o inciso X: vez que, quase sempre, esses sistemas estão vincula-
dos a territórios e Estados definidos.
Art. 5º [...] O art. 16 é dividido em três partes (inciso 1, 2 e 3).
X- são invioláveis a intimidade, a vida privada, Confira:
a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral
Art. 16
decorrente de sua violação.
1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qual-
quer restrição de raça, nacionalidade ou religião,
O art. 13 é dividido em duas partes (inciso 1 e 2). têm o direito de contrair matrimônio e fundar
Confira: uma família. Gozam de iguais direitos em relação
ao casamento, sua duração e sua dissolução.
Art. 13 2. O casamento não será válido senão com o livre
1. Toda a pessoa tem o direito de livremente cir- e pleno consentimento dos nubentes.
cular e escolher a sua residência no interior de um 3. A família é o núcleo natural e fundamental da
Estado. sociedade e tem direito à proteção da sociedade e
2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país do Estado.
em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de
regressar ao seu país.
O presente artigo traz a proteção ao casamento e à
família dos moldes ocidentais. Assim, todos os indivíduos
O presente artigo traz o direito de ir e vir, nacional
maiores de idade possuem o direito humano de se casar e
e internacionalmente. A liberdade de circulação faz
constituir a sua família como seu núcleo da vida pessoal.
parte do direito à intimidade e as escolhas pessoais.
No Brasil, o direito à família está previsto no art. 226 da
Portanto, é garantido pela Declaração e também pela
Constituição Federal de 1988. Veja: “Art. 226. A família,
Constituição Federal de 1988. Inciso XV, art. 5º
base da sociedade, tem especial proteção do Estado”.
Art. 5º [...]
O art. 17 é dividido em duas partes (inciso 1 e 2).
XV- é livre a locomoção no território nacional em Confira:
tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos ter-
mos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair Art. 17
com seus bens. 1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só
ou em sociedade com outros.
O art. 14 é dividido em duas partes (inciso 1 e 2). 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua
Confira: propriedade.

Art. 14 O décimo sétimo artigo é recheado pela proteção à


1. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito propriedade privada como direito humano. Ter direito
de procurar e de beneficiar de asilo em outros países. a ter bens faz parte da dignidade das pessoas, uma vez
2. Este direito não pode, porém, ser invocado no que são necessários para o convívio saudável em socie-
caso de processo realmente existente por crime de dade. O presente artigo traz a proteção ao casamento e
direito comum ou por atividades contrárias aos à família dos moldes ocidentais. Assim, todos os indiví-
fins e aos princípios das Nações Unidas. duos maiores de idade possuem o direito humano de se
DIREITOS HUMANOS

casar e constituir a sua família como seu núcleo da vida


Neste artigo temos a proteção relativa ao asilo pessoal. Como vimos, no Brasil, o direito à família está
para indivíduos. O direito ao asilo é uma proteção à previsto no art. 226 da Constituição Federal de 1988.
perseguição política e de outras naturezas, que levem
a imposições de leis arbitrárias ou injustas a certo Art. 18
indivíduo. Sendo assim, se os direitos do devido pro- Todo ser humano tem direito à liberdade de; esse
cesso legal, legalidade e presunção de inocência este- direito inclui a liberdade de mudar de religião ou
jam sendo desrespeitados, é direito de todos procurar crença e a liberdade de manifestar essa religião
um asilo para se proteger de tal perseguição. Contudo, ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto em
esse asilo só é permitido caso não haja processo exis- público ou em particular.
tente de crime comum e apenas se estiver de acordo
com as atividades e princípios da ONU. 61
O presente artigo se reserva a falar do direito à 3. A vontade do povo será a base da autoridade
liberdade religiosa e de manifestação de pensamento, do governo; essa vontade será expressa em
descrito nas seguintes naturezas: liberdade de pensa- eleições periódicas e legítimas, por sufrágio
mento, consciência e religião. No Brasil, o inciso VI, universal, por voto secreto ou processo equi-
art. 5º, da Constituição Federal brasileira de 1988 tam- valente que assegure a liberdade de voto.
bém protege esse direito.
Neste artigo temos a garantia de um processo
Art. 5º [...] democrático nos países das Nações Unidas, garan-
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de tia de direitos políticos (poder votar e ser votado) e
crença, sendo assegurado o livre exercício dos cul- o direito ao livre acesso dos cidadãos aos serviços
tos religiosos e garantida, na forma da lei, a prote- públicos. Eles são garantidos nacionalmente na Cons-
ção aos locais de culto e a suas liturgias. tituição Federal de 1988, nos arts. 14, 15 e 16. É reco-
mendado que o estudante confira os artigos listados
Art. 19 acima para compreensão da matéria.
Todo ser humano tem direito à liberdade de opi-
nião e expressão; esse direito inclui a liberdade Art. 22
de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, Todo ser humano, como membro da sociedade,
receber e transmitir informações e ideias por quais- tem direito à segurança social, à realização pelo
quer meios e independentemente de fronteiras. esforço nacional, pela cooperação internacional e
de acordo com a organização e recursos de cada
Neste, é protegida a liberdade de opinião e expres- Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais
são, podendo todos os indivíduos emitir e receber indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvol-
informações. Esse direito diz respeito à resistência a vimento da sua personalidade.
opressões, comunicações de ideias e manifestações
que não atrapalhem a ordem pública. No Brasil, o O presente dispositivo traz o direito à segurança
direito é garantido por meio do inciso IV, do mesmo social, ou seja, direito de seguridade social, asseguran-
art. 5º, da Constituição Federal brasileira de 1988: “É do o direito ao acesso a serviços públicos. No Brasil,
livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o esses direitos são assegurados Constituição Federal de
anonimato”. Além deste, podemos citar a Lei nº 5.250, 1988, no art. 194 e no seu parágrafo único:
de 9 de fevereiro de 1967, que regula a liberdade de
manifestação do pensamento e de informação, popu- Art. 194
Parágrafo único. A seguridade social compreende
larmente chamada de Lei de Imprensa.7
um conjunto integrado de ações de iniciativa dos
O art. 20 é dividido em duas partes (inciso 1 e 2).
Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a asse-
Confira: gurar os direitos relativos à saúde, à previdência e
à assistência social. Parágrafo único. Compete ao
Art. 20 Poder Público, nos termos da lei, organizar a segu-
1. Todo ser humano tem direito à liberdade de ridade social [...]
reunião e associação pacífica.
2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma
Sugere-se que o estudante leia o artigo por
associação.
completo.
O art. 23 é dividido em quatro partes (inciso 1, 2, 3
No presente artigo é contido o direito de reunião. e 4). Confira:
Ou seja, ninguém será perseguido por reunir pessoas
e desenvolver associações pacíficas entre seus mem- Art. 23
bros em prol de um bem comum. No Brasil, o direito é 1. Todo ser humano tem direito ao trabalho,
garantido por meio do art. 5º, inciso XVI, da Constitui- à livre escolha de emprego, a condições justas
ção Federal brasileira de 1988: e favoráveis de trabalho e à proteção contra o
desemprego.
Art. 5º [...] 2. Todo ser humano, sem qualquer distinção,
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem tem direito a igual remuneração por igual
armas, em locais abertos ao público, independen- trabalho.
temente de autorização, desde que não frustrem 3. Todo ser humano que trabalha tem direito a
outra reunião anteriormente convocada para o uma remuneração justa e satisfatória que lhe
mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à assegure, assim como à sua família, uma existên-
autoridade competente. cia compatível com a dignidade humana e a que se
acrescentarão, se necessário, outros meios de pro-
O art. 21 é dividido em três partes (inciso 1, 2 e 3). teção social.
Confira: 4. Todo ser humano tem direito a organizar sin-
dicatos e a neles ingressar para proteção de seus
Art. 21 interesses.
1. Todo ser humano tem o direito de tomar parte no
governo de seu país diretamente ou por intermédio O art. 23 traz o direito ao trabalho digno com
de representantes livremente escolhidos. remuneração justa. Assim, todos têm o direito de tra-
2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao balhar para gerar renda para sua família e garantindo
serviço público do seu país. a sua subsistência. No Brasil, esses direitos são asse-
gurados pela Constituição Federal de 1988 em seu art.
7 BRASIL. Lei n° 5.250, de 9 de fevereiro de 1967. Regula a liberdade de manifestação do pensamento e de informação. Disponível em: http://www.
62 planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5250.htm. Acesso em: 26 abri. 2022.
7º, o qual trata especificamente da proteção à relação Esses direitos são previstos na Constituição Fede-
de emprego. Nele, são contidos aspectos importantes ral de 1988 no artigo já supracitado 194, que trata da
dessa proteção: proibição de despedida sem justifica- seguridade social.
tiva (justa causa), apenas permitida com pagamento Já em sua segunda parte, temos a garantia de
de indenização; O direito ao Fundo de Garantia do direitos especiais para crianças e mães, por meio dos
Tempo de Serviço (FGTS), como espécie de poupança direitos inerentes à maternidade e a infância. Para
obrigatória, na qual o empregador e o empregado con- essa segunda parte, esses direitos específicos estarão
tribuem com um valor específico a cada mês, estando previstos tanto na Consolidação das Leis do Trabalho,
o valor em dinheiro disponível ao funcionário caso no seu art. 392 e no Estatuto da Criança e do Adoles-
seja demitido (e em algumas outras situações especí- cente9, que tratará em seu art. 143 do Princípio da
ficas); o salário mínimo fixado pelo governo federal Proteção Integral de Crianças e Adolescentes, que vai
anualmente; piso salarial em relação a complexidade falar sobre os casos de violências com crianças e a sua
do trabalho; décimo terceiro salário; remuneração vulnerabilidade superior aos adultos.
do trabalho noturno; entre outros. Recomenda-se ao O art. 26 é dividido em três partes (inciso 1, 2 e 3).
estudante a leitura do dispositivo na íntegra. Confira:

Art. 24 Art. 26
Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, 1. Todo ser humano tem direito à instrução. A
inclusive a limitação razoável das horas de traba- instrução será gratuita, pelo menos nos graus ele-
lho e a férias remuneradas periódicas. mentares e fundamentais. A instrução elementar
será obrigatória. A instrução técnico-profissional
No presente artigo se descreve o direito ao lazer será acessível a todos, bem como a instrução supe-
e ao repouso, especificando as situações relativas ao rior, está baseada no mérito.
trabalho, como os intervalos intrajornada (horário de 2. A instrução será orientada no sentido do pleno
desenvolvimento da personalidade humana e
almoço e descansos dentro das horas trabalhadas) e
do fortalecimento do respeito pelos direitos do
interjornada (entre uma jornada de trabalho e outra),
ser humano e pelas liberdades fundamentais. A
além das férias de serviço. No Brasil, o direito ao lazer instrução promoverá a compreensão, a tolerância
é definido como direito social e é descrito por meio do e a amizade entre todas as nações e grupos raciais
artigo 6° da Constituição Federal de 1988: ou religiosos e coadjuvará as atividades das Nações
Unidas em prol da manutenção da paz.
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a 3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do
alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, gênero de instrução que será ministrada a seus filhos.
o lazer, a segurança, a previdência social, a pro-
teção à maternidade e à infância, a assistência aos O art. 26 traz a proteção à educação básica, que
desamparados, na forma desta Constituição. deve ser disponibilizada de maneira gratuita para
todos os indivíduos e voltada a fomentar a informa-
Além desse, a questão dos descansos do trabalha- ção sobre os direitos humanos. No Brasil, temos o arti-
dor (intrajornada, interjornada e férias) é prevista na go 53 da Constituição Federal de 1988:
Constituição Federal de 1988 no artigo 7°, já citado nas
sínteses de artigos acima. Além desse, temos disposi- Art. 53 A criança e adolescente têm direito à edu-
ções específicas na Consolidação das Leis do Trabalho cação, visando ao pleno desenvolvimento de sua
(CLT)8, em seu art. 71 e 139. O estudante deve conferir pessoa, preparo para o exercício da cidadania e
os dispositivos para a sua completa compreensão. qualificação para o trabalho, assegurando-se lhes:
O art. 25 é dividido em duas partes (inciso 1 e 2). [...] V - acesso à escola pública e gratuita, próxima
Confira: de sua residência, garantindo-se vagas no mesmo
estabelecimento a irmãos que frequentem a mesma
Art. 25 etapa ou ciclo de ensino da educação básica.
1. Todo ser humano tem direito a um padrão de
vida capaz de assegurar a si e à sua família saúde, O art. 27 é dividido em duas partes (inciso 1 e 2).
bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habita- Confira:
ção, cuidados médicos e os serviços sociais indis-
pensáveis e direito à segurança em caso de Art. 27
desemprego, doença invalidez, viuvez, velhice 1. Todo ser humano tem o direito de participar
ou outros casos de perda dos meios de subsis- livremente da vida cultural da comunidade,
tência em circunstâncias fora de seu controle. de fruir as artes e de participar do progresso
2. A maternidade e a infância têm direito a cui- científico e de seus benefícios.
DIREITOS HUMANOS

dados e assistência especiais. Todas as crianças, 2. Todo ser humano tem direito à proteção dos
nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da interesses morais e materiais decorrentes de
mesma proteção social. qualquer produção científica literária ou artística
da qual seja autor.
Em sua primeira parte, o art. 25 traz a ideia do míni-
mo básico para garantir a subsistência e um padrão O dispositivo reafirma os direitos à manifestação
de vida digno aos indivíduos, por meio de garantias de expressão e opinião, sendo todos livres a partici-
no momento do desemprego ou incapacidade. parem de atividades culturais e científicas de seu
8 BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm. Acesso em: 26 abri. 2022.
9 BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 26 abri. 2022. 63
agrado. No Brasil, o direito é contido na liberdade de Art. 30
expressão do art. 5º, inciso IV, da Constituição Federal Nenhuma disposição da presente Declaração
brasileira de 1988 protege esse direito: “É livre a mani- poder ser interpretada como o reconhecimento
festação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de
exercer qualquer atividade ou praticar qual-
Art. 28 quer ato destinado à destruição de quaisquer
Todo ser humano tem direito a uma ordem social dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.
e internacional em que os direitos e liberdades
estabelecidos na presente Declaração possam O art. 30 fecha a Declaração Universal dos Direi-
ser plenamente realizados. tos Humanos, trazendo a proibição de interpretações
dos dispositivos do documento em prol da destruição
O art. 28 defende a ordem social estabelecida pela de quaisquer liberdade ou direito de povo/coletivo/
Declaração Universal dos Direitos Humanos, que deve ser nação alheia. Dessa forma, mesmo havendo direitos
mantida e promovida pelas nações. Membros da Orga- que defendam a propriedade privada e a liberdade de
nização das Nações Unidas são obrigados, perante sua expressão, esses dispositivos não permitem agressões
ratificação da Carta das Nações Unidas no ordenamento a outros povos ou pessoas de características específi-
jurídico nacional, a respeitar os direitos humanos e a dis- cas, segmentadas por meio de preconceito e discrimi-
seminarem suas informações em todo território. nação, com a justificativa de defesa de suas garantias
O art. 29 é dividido em três partes (inciso 1, 2 e 3). individuais.
Confira: A Declaração finaliza seu texto lembrando a todos
que a liberdade do outro é tão importante quando a
Art. 29 nossa e que ambas devem ser respeitadas. Desrespei-
1. Todo ser humano tem deveres para com a tar o próximo não é exercer liberdade de opinião. É
comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvi- exercer violência com o outro, que equivale ao desres-
mento de sua personalidade é possível. peito aos direitos humanos.
2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo
ser humano estará sujeito apenas às limitações CONSIDERAÇÕES FINAIS
determinadas pela lei, exclusivamente com o fim
de assegurar o devido reconhecimento e respeito Desde o final da Segunda Guerra Mundial, houve o
dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer esforço internacional para impedir um novo conflito
as justas exigências da moral, da ordem pública e com magnitude mundial.
do bem-estar de uma sociedade democrática. Para isso, criou-se uma organização de cooperação
3. Esses direitos e liberdades não podem, em internacional para a paz, a Organização das Nações
hipótese alguma, ser exercidos contrariamente Unidas, a qual começou em 1945 apenas com 54 mem-
aos objetivos e princípios das Nações Unidas. bros e hoje passa de 190.
Em 1948, é proclamada a Declaração dos Direitos
Como estamos chegando ao final do documen- Humanos, que foi o primeiro marco legal interna-
to, o art. 29 é um compilado de informações. Na sua cional de descrição de direitos humanos. É possível
primeira parte, trata da responsabilidade individual perceber que as mudanças em relação a aplicação
de defesa e proteção dos direitos humanos. Ou seja, dos princípios dos Direitos Humanos começam nessa
não são apenas as nações, empresas e organizações década, prolongando-se até os dias atuais.
internacionais que devem ter uma responsabilidade No Brasil, os esforços em prol da disseminação dos
coletiva em relação a Declaração: as pessoas indivi- Direitos Humanos fortalecem-se na década de 1990,
dualmente também devem estar cientes do seu dever após o fim da Ditadura Militar brasileira.
em manter a paz e a segurança própria dentro de suas A ideia de que todos somos humanos, iguais em
ações pessoais, exercendo o respeito ao próximo. direitos, mesmo que possuindo diferentes caracte-
A segunda parte do artigo relembra o Princípio da rísticas como nacionalidade, gênero, cor e credo, é a
Legalidade, previsto no inciso II, art. 5º, da Constitui- essência que todo cidadão do mundo deve ter.
ção Federal de 1988, que protege as pessoas de serem Para isso, a Declaração Universal dos Direitos
acusadas por crimes que não foram prescritos antes Humanos presta um papel único, uniformizando as
do fato delituoso. Assim, ninguém deve ser processa- noções básicas de dignidade da pessoa humana. Nesse
do por crime que não seja previsto no ordenamento sentido, são criadas as referências básicas de humani-
jurídico legítimo para a ocasião. dade, cidadania e democracia.
Na terceira e última parte, as Nações Unidas limi-
tam o exercício da liberdade e dos direitos humanos: REFERÊNCIAS
essas nunca devem perpassar os objetivos e princí-
pios das Nações Unidas. Sobre esses, recomendamos BRASIL. Curso Educação em Direitos Humanos.
a leitura dos arts. 1º e 2º da Carta das Nações Unidas.10 Escola Virtual. Módulo 1. Pág. 1-19. Disponível em:
Alguns são: mantimento da paz e segurança interna- https://www.escolavirtual.gov.br. Acesso em: 4 fev.
cionais (art. 1º, 1); desenvolvimento de cooperação 2022.
entre os países por meio da diplomacia e fortalecendo ________. Decreto n° 19.841, de 22 de outubro de
relações amistosas entre as nações (art. 1º, 2 e 3); e 1945. Promulga a Carta das Nações Unidas, da qual
respeito ao Princípio da Igualdade (art. 2º, 1). faz parte integrante o anexo Estatuto da Corte Inter-
nacional de Justiça, assinada em São Francisco, a
26 de junho de 1945, por ocasião da Conferência de
10. BRASIL. Decreto nº 19.841, de 22 de outubro de 1945. Promulga a Carta das Nações Unidas, da qual faz parte integrante o anexo Estatuto da
Corte Internacional de Justiça, assinada em São Francisco, a 26 de junho de 1945, por ocasião da Conferência de Organização Internacional das
64 Nações Unidas. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/d19841.htm. Acesso em: 26 abri. 2022.
Organização Internacional das Nações Unidas. Dispo- Os temas transversais fazem parte dos Parâmetros
nível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decre- Curriculares Nacionais (PCNs) como propostas para que
to/1930-1949/d19841.htm. Acesso em: 26 abri. 2022. as Secretarias e Unidades Escolares elaborem os pró-
________. Constituição da República Federativa prios planos de ensino. Trata-se, portanto, de questões
do Brasil de 1988. Disponível em: http://www. presentes na vida cotidiana que passaram a compor o
planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao. currículo nas áreas convencionais, porém de forma
htm. Acesso em: 26 abri. 2022. transversal, de modo a relacionar as questões da atua-
________. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de lidade à disciplina.
1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Como exemplo, é possível citar que o estudo do cor-
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cci- po humano não se restringe à sua dimensão biológica,
vil_03/decreto-lei/del5452.htm. Acesso em: 26 abri. mas também ao comportamento de meninos e meninas
2022. na puberdade (compreensão de gênero — conteúdo de
________. Lei no 5.250, de 9 de fevereiro de 1967. orientação sexual) e do respeito às diferenças (conteúdo
Regula a liberdade de manifestação do pensamen- de ética).
to e de informação. Disponível em: http://www.pla- Importante esclarecer que os temas transversais não
nalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5250.htm. Acesso em: 26 são temas trabalhados de forma paralela ao conteúdo
abri. 2022. didático, uma vez que não representam pontos isolados.
________. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dis- Trata-se de questões sociais que possibilitam aos alunos
põe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente que o conhecimento escolar seja utilizado em sua vida
fora da escola. É por esse motivo que tais temas devem
e dá outras providências. Disponível em: http://
ser incluídos pelos professores de forma articulada ao
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm.
conteúdo e área disciplinada, pois agregam ao exercício
Acesso em: 26 abri. 2022.
da cidadania.
Declaração Universal dos Direitos Humanos.
De acordo com o Conselho Nacional de Educação
Nações Unidas, 2020. Disponível em: https://bra-
(CNE):
sil.un.org/pt-br/91601-declaracao-universal-dos-
-direitos-humanos. Acesso em: 26 abri. 2022.
A transversalidade orienta para a necessidade
STERMAN, M. S. O Duplo Grau de Jurisdição — Uma de se instituir, na prática educativa, uma analo-
Reflexão. In. ONODERA, M. V. K.; DE FILIPPO, T. B. gia entre aprender conhecimentos teoricamente
G. (Org.). Brasil e EUA: Temas de Direito Compa- sistematizados (aprender sobre a realidade) e as
rado. São Paulo: Escola Paulista da Magistratura, questões da vida real (aprender na realidade e da
2017. realidade). Dentro de uma compreensão interdis-
ciplinar do conhecimento, a transversalidade tem
significado, sendo uma proposta didática que possi-
bilita o tratamento dos conhecimentos escolares de
forma integrada. Assim, nessa abordagem, a ges-
TEMAS TRANSVERSAIS, PROJETOS tão do conhecimento parte do pressuposto de que
INTERDISCIPLINARES E EDUCAÇÃO os sujeitos são agentes da arte de problematizar e
interrogar, e buscam procedimentos interdiscipli-
EM DIREITOS HUMANOS nares capazes de acender a chama do diálogo entre
diferentes sujeitos, ciências, saberes e temas.
O art. 1º, da Lei nº 9.394, de 1996 (Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional — LDB) assim estabelece: Trata-se, portanto, de temas que aparecem trans-
versalizados nas diversas áreas do conhecimento, e
Art. 1º A educação abrange os processos formativos que por esse motivo devem ser trabalhados de forma
que se desenvolvem na vida familiar, na convivência significativa e expressiva nas temáticas curriculares,
humana, no trabalho, nas instituições de ensino e por constituírem temas que envolvem um aprender
pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da
sobre a realidade.
sociedade civil e nas manifestações culturais.
No que tange aos temas transversais constituídos
nos Parâmetros Curriculares Nacionais, verifica-se
Deste modo, para que os alunos tenham acesso a seis áreas:
uma educação integral e de qualidade, há a necessida-
de de as escolas proporcionarem não só o ensino básico, z Ética: respeito mútuo, justiça, diálogo,
mas também ensino complementar à formação humana solidariedade;
e social. É por esse motivo que o Ministério da Educação z Orientação sexual: corpo — matriz da sexuali-
(MEC) estipulou que as instituições de ensino de todo o dade, relações de gênero, prevenções das doenças
país têm o dever de incorporar em seus planos pedagó- sexualmente transmissíveis;
DIREITOS HUMANOS

gicos os chamados “temas transversais”. z Meio ambiente: ciclos da natureza, sociedade e


De acordo com o MEC, temas transversais na educa- meio ambiente, manejo e conservação ambiental;
ção são aqueles voltados à compreensão e construção z Saúde: autocuidado e vida coletiva;
da realidade social, dos direitos e das responsabilidades z Pluralidade cultural: pluralidade cultural e a
relacionas à vida pessoal e coletiva e na afirmação do vida das crianças no Brasil, constituição da plura-
princípio da participação política, tais como ética, saúde, lidade cultural no Brasil, ser humano como agente
meio ambiente, orientação sexual, trabalho, consumo, social e produtor de cultura, pluralidade cultural
pluralidade e cultura. e cidadania;
Tais temas são denominados de transversais por z Trabalho e consumo: relações de trabalho; traba-
serem trabalhados nas áreas e disciplinas já existentes, lho, consumo, meio ambiente e saúde; consumo,
ou seja, são temas que não pertencem a nenhuma disci- meios de comunicação de massas, publicidade e
plina específica, porém são pertinentes a todas elas. vendas; direitos humanos, cidadania. 65
Importante
Cada escola possui autonomia para incluir dentro da proposta do PCN outros assuntos tidos como relevantes
para o aprendizado dos estudantes. No entanto, os seis temas transversais previstos no PCN devem estar
presentes no plano de ensino da educação básica.

Observe que são temas que expressam conceitos e valores básicos à democracia e à cidadania e, embora não
constituam disciplinas autônomas, permeiam todas as áreas do conhecimento.
Memorize:

TEMAS TRANSVERSAIS
Saúde
Ética

NOS PCNs
Trabalho e consumo
Pluralidade cultural
Orientação sexual

Neste sentido, os PCNs estabelecem os seguintes temas transversais no Ensino Fundamental:

ESTRUTURA PARA PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS


Ensino Fundamental

OBJETIVOS
GERAIS

Área de Área de Área de Área de


Área de Área de Área de
Língua Ciências Área de Artes Educação Língua
Matemática História Geografia
Portuguesa Naturais Física Estrangeira

Meio Orientação Pluralidade


Ética Saúde Trabalho Consumo
Ambiente Sexual Cultural

Fonte: MEC. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ttransversais.pdf. Acesso em 4 jun. 2023.

Enquanto os PCNs abordavam seis temas, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) aponta seis macroáreas
temáticas (Cidadania e Civismo, Ciência e Tecnologia, Economia, Meio Ambiente, Multiculturalismo e Saúde), de
modo a englobar 15 temas contemporâneos que afetam a vida humana, quer em escala nacional, regional ou local.
Memorize:

TEMAS TRANSVERSAIS NA BNCC

Cidadania e civismo Ciência e Economia Meio Multiculturalismo Saúde


tecnologia ambiente

Vida familiar e social Ciência e Trabalho Educação Diversidade cultural Saúde


Educação para o tecnologia Educação ambiental Educação para Educação
trânsito financeira Educação valorização do alimentar e
Educação em Educação para multiculturalismo nas nutricional
direitos humanos fiscal consumo matrizes históricas
Direitos da criança e culturais brasileiras
do adolescente
Processo de
envelhecimento
e respeito e
valorização do idoso

Cumpre mencionar, por necessário, a existência de outras Resoluções do CNE que estabeleceram diretrizes
específicas para que outros temas contemporâneos possam ser incluídos nos planos de ensino.
Neste ponto, destacam-se:

z a Resolução CNE/CP nº 1, de 2004, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das
Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana;
66 z a Resolução CNE/CP nº 1, de 2012, que estabelece as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos;
z a Resolução CNE/CP nº 2, de 2012, que estabelece alunos, entre professores e alunos e entre diferentes
as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa- membros da comunidade escolar;
ção Ambiental. a inclusão dos temas implica a necessidade de um
trabalho sistemático e contínuo no decorrer de toda
a escolaridade, o que possibilitará um tratamento
Cumpre esclarecer que os critérios adotados na
cada vez mais aprofundado das questões eleitas.
escolha de tais temas transversais envolvem múlti-
Por exemplo, se é desejável que os alunos desen-
plos aspectos e diferentes dimensões da vida social. volvam uma postura de respeito às diferenças, é
Deste modo, para a definição e escolha desses temas fundamental que isso seja tratado desde o início
os PCNs adotaram os seguintes critérios: da escolaridade e que continue sendo tratado cada
vez com maiores possibilidades de reflexão, com-
z Urgência social: temas que envolvem questões preensão e autonomia. Muitas vezes essas questões
graves e que se apresentam como obstáculos para são vistas como sendo da “natureza” dos alunos
a concretização da plenitude da cidadania, afron- (eles são ou não são respeitosos), ou atribuídas ao
tam a dignidade das pessoas e deterioram a quali- fato de terem tido ou não essa educação em casa.
dade de vida; Outras vezes são vistas como aprendizados possí-
veis somente quando jovens (maiores) ou quando
z Abrangência nacional: temas que contemplem
adultos. Sabe-se, entretanto, que é um processo de
questões pertinentes a todo o país, porém sem
aprendizagem que precisa de atenção durante toda
impedir que as redes estaduais e municipais acres- a escolaridade e que a contribuição da educação
centem outros temas relevantes à sua realidade; escolar é de natureza complementar à familiar: não
z Possibilidade de ensino e aprendizagem no se excluem nem se dispensam mutuamente. A pro-
ensino fundamental: tema que pode ser desen- posta de transversalidade pode acarretar algumas
volvido nesta etapa da escolaridade; discussões do ponto de vista conceitual como, por
z Favorecer a compreensão da realidade e a par- exemplo, a da sua relação com a concepção.
ticipação social: possibilidade de desenvolver a
capacidade dos alunos de se posicionarem dian- Há de se mencionar, também, a possibilidade de
te de questões que interferem na vida coletiva, tais temas serem abordados de forma interdisciplinar
de superar a indiferença e de intervir de forma em razão da complexidade e da necessidade de consi-
responsável. derar as diversas relações existentes.
Como consequência, para a consecução das pro-
De acordo com os PCNs, a relação entre os temas postas de temas transversais, os PCNs indicam a
transversais e as disciplinas deve desenvolver-se da elaboração de projetos como forma de organizar o
seguinte forma: trabalho didático e integrar os diferentes modos de
organização curricular.
[...] as diferentes áreas contemplem os objetivos e Assim sendo, existem diversas possibilidades de
os conteúdos (fatos, conceitos e princípios; procedi- projetos, tais como aqueles que envolvem a questão
mentos e valores; normas e atitudes) que os temas do lixo, do desperdício, da necessidade de reciclagem
da convivência social propõem; e de reaproveitamento de materiais, da qualidade
haja momentos em que as questões relativas aos ambiental da comunidade, que podem ter como resul-
temas sejam explicitamente trabalhadas e conteú- tados a mudança de atitudes e práticas dos alunos e
dos de campos e origens diferentes sejam colocados familiares, de modo a desenvolver o conceito de cida-
na perspectiva de respondê-las. dania do discente.

Portanto, cabe aos professores correlacionar suas Dica


disciplinas com as questões importantes do cotidiano
para a formação integral de seus alunos.
No estado de Minas Gerais é possível citar como
Os PCNs estabelecem, ainda, que a proposta de exemplo o Programa Dignidade e Saúde em
transversalidade deve ser definida em torno de qua- Ciclo (PDSC), normatizado nas escolas públicas
tro pontos: da rede estadual de ensino por meio da Resolu-
ção SEE nº 4.826, de 2023.
[...] os temas não constituem novas áreas, pres-
supondo um tratamento integrado nas diferentes
áreas;
a proposta de transversalidade traz a necessida- DIREITOS HUMANOS NA
de de a escola refletir e atuar conscientemente na
educação de valores e atitudes em todas as áreas, CONSTITUIÇÃO FEDERAL
garantindo que a perspectiva político-social se
DIREITOS HUMANOS

expresse no direcionamento do trabalho pedagógi- Com a promulgação da Constituição Federal de


co; influencia a definição de objetivos educacionais 1988, o Brasil foi definido como um Estado Democrá-
e orienta eticamente as questões epistemológicas tico de Direito. Em razão disso, é certo que a Constitui-
mais gerais das áreas, seus conteúdos e, mesmo, as ção trouxe importantes direitos e garantias. No art. 5º,
orientações didáticas; os direitos fundamentais; nos arts. 6º ao 11, os direitos
a perspectiva transversal aponta uma transforma- sociais e, nos arts. 14 e 15, os direitos políticos.
ção da prática pedagógica, pois rompe o confina- A inserção desses direitos em nosso ordenamento
mento da atuação dos professores às atividades jurídico decorre de o Brasil ter aderido a tratados e
pedagogicamente formalizadas e amplia a respon- convenções internacionais, como a Declaração Uni-
sabilidade com a formação dos alunos. Os Temas versal dos Direitos Humanos, o Pacto de Direitos Civil
Transversais permeiam necessariamente toda a e Políticos da ONU e o Pacto dos Direitos Econômicos,
prática educativa que abarca relações entre os Sociais e Culturais. 67
O direito à vida e a preservação à integridade É necessário verificar as particularidades e des-
física e moral, bem como à liberdade e à igualdade, dobramentos de alguns destes direitos e garantias
à propriedade e à segurança constituem os direitos e fundamentais.
garantias fundamentais que estão previstos no caput
do art. 5º, da Constituição Federal. z Direito à vida: é possível dizer que o direito à vida
garante à pessoa o direito de preservação de sua
Esses direitos e garantias constitucionais corres-
vida, bem como o de poder viver de forma digna.
pondem aos direitos humanos previstos em pactos
Como desdobramento desse direito, é possível
dos quais o Brasil se tornou signatário. Diante disso,
mencionar a vedação à pena de morte, exceto em
tornou-se necessária a inclusão desses direitos em situação de guerra declarada.
nosso ordenamento jurídico, o que ocorreu pela Cons-
tituição Federal de 1988. Inclusive, importa frisar que, por se tratar de uma
É importante dizer que, assim como os direitos decorrência do direito à vida, referida proibição cons-
humanos, os direitos fundamentais mencionados pos- titui cláusula pétrea, ou seja, assim como os demais
suem algumas características: direitos e garantias fundamentais, não poderá ser
objeto de alteração ou supressão.
São direitos garantidos a Além disso, em razão desse direito, é garantido a
todos que estejam sob a todos viver de forma digna, ou seja, ter acesso a ser-
égide, ou seja, vivendo no viços de saúde, saneamento básico, medicamentos
UNIVERSALIDADE e também a garantia de um valor mínimo para sua
território brasileiro e, por-
tanto, sob a vigência da sobrevivência (como o benefício decorrente da Lei
Constituição Federal Orgânica da Assistência Social, conhecido popular-
mente como LOAS).
O titular dos direitos e ga- Também se relaciona ao direito à vida a previsão
rantias fundamentais não do aborto como um crime. Assim, é certo que, com
pode deles renunciar. Po- exceção dos casos previstos no Código Penal, a inter-
IRRENUNCIÁVEL
derá, contudo, não exercer rupção de uma gestação é considerada um crime. Há
o direito, mas jamais dele grande controvérsia em torno do assunto atualmente.
abrir mão Porém, a previsão do aborto como uma conduta cri-
Ainda como consequência minosa decorre do direito ora estudado;
da característica acima,
o titular de um direito fun- z Preservação da integridade física e moral (hon-
damental também não po- ra, imagem, nome, intimidade e vida privada):
INALIENABILIDADE derá aliená-lo, ou seja, não o inciso X, do art. 5º, da Constituição Federal, pre-
pode realizar qualquer tipo ceitua o seguinte:
de transação abrindo mão
de seu direito, pois não há Art. 5º [...]
conteúdo econômico X- são invioláveis a intimidade, a vida privada, a
honra, a imagem das pessoas, assegurado o direito
Esses direitos são impres- a indenização pelo dano material ou moral decor-
critíveis. Diante disso, a rente de sua violação.
qualquer tempo, aquele que
sofrer lesão a um de seus Em razão disso, todos terão a garantia de que sua
direitos ou garantias fun- integridade física e moral será respeitada. Porém,
damentais poderá buscar a caso o indivíduo sofra qualquer forma de violação,
IMPRESCRITIBILIDADE
reparação diante do Poder poderá buscar reparação, tendo garantido o direito a
Judiciário. Assim, o lapso ser indenizado pelo dano material ou moral decorren-
temporal não terá o condão te de sua violação.
de impedir que a pessoa le- Assim, aquele que tenha sua honra, imagem, nome,
sada busque exigir a prote- intimidade e vida privada expostos de qualquer for-
ção de seu direito ma, sem que tenha havido sua autorização para tanto,
terá direito a buscar, junto ao Poder Judiciário, inde-
CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988: DOS nização pelos danos sofridos. Isso porque tal proteção
decorre da garantia fundamental de que todos gozam
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
de ter preservada sua integridade, física ou moral.
Caso ocorra qualquer violação, a pessoa ofendida
Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos
terá garantido seu direito a ingressar em juízo e obter
indenização pelos prejuízos materiais (econômicos)
Como já vimos anteriormente, os direitos e garan- que tenham decorrido dessa ofensa, bem como morais.
tias fundamentais estão previstos no art. 5º, da Consti- Por dano moral, entende-se qualquer violação que
tuição Federal, que traz a seguinte redação: uma pessoa sofra que lhe cause mágoa, tristeza, inten-
so sofrimento, desgosto, vergonha, enfim, que seja
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção capaz de gerar sentimentos extremamente negativos.
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei- Portanto, ninguém poderá expor o nome, a honra, a
ros e aos estrangeiros residentes no País a inviola- imagem, a intimidade e a vida privada do outro, sem
bilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, que haja a devida autorização da pessoa envolvida.
68 à segurança e à propriedade, nos seguintes termos.
Essa situação pode ser exemplificada quando lembra- Além disso, hoje também é comum que existam
mos de certos quadros veiculados em programas televi- cotas nos editais de concursos públicos para negros.
sivos conhecidos popularmente como “pegadinhas”. A Isso se justifica porque os negros, em virtude do pre-
pessoa exposta àquela situação autorizou a veiculação conceito perpetrado na sociedade, encontram, ainda
daquelas imagens. Se não o tivesse feito, certamente hoje, diversas barreiras que impedem o acesso aos
poderia buscar, diante de um juiz, indenização por estudos e, posteriormente, ao mercado de trabalho
danos materiais e morais que teriam surgido daquela em igualdade de condições com pessoas brancas.
situação. Trata-se das chamadas ações afirmativas, que
Nos tempos atuais, as redes sociais também se tor- são medidas pontuais e que serão adotadas por cer-
nam um importante meio de possíveis violações. Diaria- to período de tempo com o objetivo de amenizar ou
mente, internautas se envolvem em situações que podem mesmo cessar as diferenças históricas havidas entre
constituir possíveis danos aos direitos fundamentais da os indivíduos. Vale dizer que as ações afirmativas
pessoa. É o caso dos chamados haters, pessoas que aces- estão previstas no Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº
sam a rede com o exclusivo intuito de ofender o outro, 12.288, de 20 de julho de 2010), em seu inciso VI, pará-
expondo seu nome, imagem e intimidade.
grafo único, do art. 1º:
Essas situações certamente constituem violações
que serão levadas ao Poder Judiciário para a res-
Art. 1º Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade
ponsabilização dos ofensores e reparação de danos Racial, destinado a garantir à população negra a
(indenização por dano material e moral). Lembre-se efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa
sempre de que isso decorre da garantia constitucio- dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos
nal de preservação da integridade física e moral a que e o combate à discriminação e às demais formas de
todos fazem jus; intolerância étnica. [...]
Parágrafo único. Para efeito deste Estatuto, consi-
z Direito à igualdade: o direito à igualdade está dera-se: [...]
previsto também no caput do art. 5º, da Constitui- VI - ações afirmativas: os programas e medidas
ção Federal. Assim, é definido: especiais adotados pelo Estado e pela iniciativa pri-
vada para a correção das desigualdades raciais e
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção para a promoção da igualdade de oportunidades.
de qualquer natureza [...].
Também são previstas nos editais de concursos
Trata-se da igualdade formal, ou seja, a garantia, públicos vagas destinadas exclusivamente para pes-
prevista na lei (Constituição Federal) de que todas as soas que tenham alguma deficiência. Ou seja, em
pessoas, independentemente de raça, gênero ou qual- razão de uma desigualdade em relação aos demais
quer outra característica física ou comportamental,
ocasionada pela deficiência, aquele que pleitear uma
são iguais, tendo os mesmos direitos e garantias asse-
vaga em concurso público deverá concorrer conforme
gurados pela Constituição Federal.
suas condições.
Porém, a igualdade também é analisada sobre outro
Diante disso, verifica-se que a igualdade está pre-
aspecto: o material. Por igualdade material, temos que
sente ainda que em situações que aparentam uma
a lei deve tratar os iguais de forma igual e os desiguais,
possível desigualdade, pois, em verdade, deve ser
de forma desigual, na medida de sua desigualdade.
observado todo o contexto ao redor desses direitos, de
Em um primeiro momento, isso parece bastante
confuso. Entretanto, vamos entender como todos são forma a garantir efetivamente que todos sejam trata-
iguais, mas podem ser tratados de forma desigual dos da mesma forma perante a lei, consoante prevê o
quando houver uma desigualdade que isso justifique. art. 5º, da Constituição Federal.
A Constituição Federal traz alguns exemplos de situa-
ções que são tratadas de forma desigual, pois há uma z Direito à liberdade: a liberdade também é uma
desigualdade que justifique: por exemplo, a licença-ma- decorrência do direito à vida.
ternidade e licença-paternidade, previstas, respectiva-
mente, nos incisos XVIII e XIX, do art. 7º, da Constituição O direito à liberdade, previsto no art. 5º, manifes-
Federal, ou ainda, o serviço militar obrigatório, que isen- ta-se em diversos pontos da Constituição Federal, e
ta as mulheres e os eclesiásticos (§ 2º, art. 143). em muitos aspectos: liberdade de locomoção (inciso
Percebe-se assim que, embora esses sejam exem- XV); liberdade de pensamento (inciso IV); liberdade
plos de possíveis direitos desiguais, eles se justificam de expressão (inciso IX); liberdade de associação (inci-
em razão da desigualdade que envolve os detentores so XVII); liberdade religiosa (inciso VI), liberdade de
DIREITOS HUMANOS

dos direitos. exercício de trabalho (inciso XIII).


Também podemos falar sobre o direito à igualdade Alguns aspectos devem ser destacados em relação
no tocante às cotas previstas para ingresso nas uni- à liberdade:
versidades. Atualmente, os vestibulares para ingresso Pela liberdade de locomoção:
nas universidades estabelecem cotas específicas para
pessoas egressas do ensino público. Justifica-se por- Art. 5º [...]
que, ao longo dos tempos, verificou-se que os alunos XV - é livre a locomoção no território nacional em
que frequentaram escolas de ensino público apresen- tempos de paz, podendo qualquer pessoa, nos ter-
taram maiores dificuldades para ingresso em univer- mos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair
sidades públicas do que aqueles que frequentaram o com seus bens.
ensino privado.
69
Assim, em decorrência da liberdade, também é Art. 5º [...]
garantido pela Constituição Federal que todos vivam LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito
conforme suas convicções, seguindo a crença religiosa ou por ordem escrita e fundamentada de autorida-
que melhor lhe convier, bem como tendo respeitado de judiciária competente, salvo nos casos de trans-
seu pensamento em relação à política ou convicções gressão militar ou crime propriamente militar,
filosóficas. Isso está previsto no inciso VIII, do art. 5º: definidos em lei.

Art. 5º [...] z Direito à propriedade: o direito à propriedade,


VIII - ninguém será privado de direitos por motivo embora previsto na Constituição Federal, não é
de crença religiosa ou convicção filosófica ou políti- absoluto, em primeiro lugar, porque o direito está
ca, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação condicionado ao atendimento da função social.
legal a todos imposta e recusar-se a cumprir pres-
tação alternativa, fixada em lei. A Constituição Federal, em dois dispositivos —§ 2º,
art. 182, e art. 186 —, fala sobre o tema:
Assim, é certo que cabe a cada indivíduo fazer
suas escolhas de vida e manter seus pensamentos, não Art. 182 A política de desenvolvimento urbano,
podendo o Estado criar qualquer óbice ou punir aque- executada pelo Poder Público municipal, confor-
les que pensem de forma diversa. Também merece ser me diretrizes gerais fixadas em lei, tem por obje-
mencionado o inciso IV do mesmo artigo: tivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções
sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus
Art. 5º [...] habitantes. [...]
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo § 2º A propriedade urbana cumpre sua função
vedado o anonimato. social quando atende às exigências fundamentais
da ordenação da cidade expressas no plano diretor.
Art. 186 A função social é cumprida quando a pro-
E, ainda, o inciso IX:
priedade rural atende, simultaneamente, segundo
critérios e graus de exigência estabelecidos em lei,
Art. 5º [...]
aos seguintes requisitos:
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, I- aproveitamento racional e adequado;
artística, científica e de comunicação, independen- II- utilização adequada dos recursos naturais dis-
temente de censura ou licença; poníveis e preservação do meio ambiente;
III- observância das disposições que regulam as
Assim, também decorrem da liberdade o direito de relações de trabalho;
manifestação do pensamento e de qualquer atividade IV- exploração que favoreça o bem-estar dos pro-
intelectual, artística, científica e de comunicação. Por- prietários e dos trabalhadores.
tanto, não pode ser estabelecida qualquer forma de
censura pelo Poder Público. Ademais, todos os indiví- Segundo previsto nesses dois dispositivos, em rela-
duos podem expor sua atividade intelectual ou artísti- ção à propriedade urbana, a função social é cumprida
ca de forma livre, sem necessitar de eventual aval dos quando as exigências de ordenação da cidade cons-
governantes. Destaca-se que é em razão disso que são tantes no plano diretor estiverem sendo observadas.
livres quaisquer manifestações. Quanto à propriedade rural, a função social será
Ainda sobre o direito à liberdade, cabe mencionar, preenchida quando os seguintes requisitos estiverem
ainda que brevemente, um fato notório ocorrido há sendo cumpridos: aproveitamento racional e adequa-
pouco tempo. Atente-se, pois há grande chance deste do da área; utilização adequada dos recursos naturais
assunto ser cobrado em sua prova: disponíveis e preservação do meio ambiente; obser-
Uma associação de artistas ingressou com uma vância das disposições que regulam as relações de
ação no Supremo Tribunal Federal (STF) com o obje- trabalho, ou seja, daqueles que estiverem prestando
tivo de impedir que fossem publicadas biografias serviços na propriedade; exploração que favoreça o
não autorizadas. A alegação deles era de que essas bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
biografias ofendiam a integridade moral dos biogra- Assim, embora o direito de propriedade seja
fados, visto que expunham fatos desconhecidos pelas garantido na Constituição Federal, ele não é absoluto.
pessoas ou mesmo situações que poderiam causar- Como visto, a função social deve ser atendida. Enten-
-lhes constrangimentos se viessem ao conhecimento de-se por função social, como visto acima, no caso da
público. propriedade urbana, que sejam atendidas e respeita-
Contudo, a Corte entendeu que eles não tinham das as determinações do plano diretor. Em síntese, o
razão pois, ao necessitar de autorização para a publi- plano diretor é um documento que deve ser elaborado
cação das biografias, os escritores teriam violado seu por cada município para o ordenamento das cidades.
direito à liberdade de manifestação e à liberdade inte- No caso da propriedade rural, para que seja efe-
lectual e artística. tivamente aproveitada, é necessário que sejam uti-
Finalmente, é necessário dizer que, diante da lizados os recursos naturais de forma consciente e
garantia de liberdade, o indivíduo apenas poderá ser adequada, sem desperdício e depredação ambiental.
preso em situação de flagrante delito ou por meio de Ademais, a função social também inclui um impor-
ordem escrita e fundamentada da autoridade compe- tante elemento subjetivo daqueles que estão relacio-
tente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime nados à propriedade, qual seja: devem ser respeitadas
propriamente militar, conforme estabelece o inciso as relações trabalhistas daqueles que trabalham na
LXI, do art. 5º: propriedade, bem como seu bem-estar, além do bem-
-estar do proprietário.
70
Finalmente, o direito de propriedade pode ser rela- exerce sua cidadania, pois é por meio desses direitos
tivizado pela desapropriação. Prevista no inciso XXIV, que a pessoa vota e também pode ser votada.
do art. 5º, a desapropriação poderá ser ordenada pelo O art. 14 preceitua o seguinte:
Poder Público em razão de necessidade, utilidade
pública e interesse social. Nesses casos, será determi- Art. 14 A soberania popular será exercida pelo sufrá-
nada a perda da propriedade da pessoa em favor do gio universal e pelo voto direto e secreto, com valor
Poder Público mediante o pagamento de uma indeni- igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
zação justa e prévia, que deverá ser paga em dinheiro. I - plebiscito;
II - referendo;
Art. 5º [...] III - iniciativa popular.
XXIV- a lei estabelecerá o procedimento para desa-
propriação por necessidade ou utilidade pública, Assim, dentre os direitos políticos, o mais conhe-
ou por interesse social, mediante justa e prévia cido deles é o sufrágio universal, que nada mais é do
indenização em dinheiro, ressalvados os casos pre- que o voto, estabelecido como direto e secreto e tam-
vistos nesta Constituição. bém o direito de ser votado.
Percebe-se o que o voto de todos tem o mesmo
Dos Direitos Sociais valor, superada a questão que já permeou em consti-
tuições anteriores em que o voto tinha valor diverso
O art. 6º, da Constituição Federal, preceitua os dependendo da posição social de seu titular.
direitos sociais. Por sua vez, plebiscito e referendo referem-se a
formas por meio das quais o cidadão é instado a se
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a manifestar sobre algum assunto de grande relevância
alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, para o país. Assim, por meio de decretos legislativos,
o lazer, a segurança, a previdência social, a prote- as pessoas são convocadas para expressar sua opinião
ção à maternidade e à infância, a assistência aos sobre determinado tema colocado em pauta. Diver-
desamparados, na forma desta Constituição. gem no seguinte: enquanto o plebiscito é estabelecido
de forma prévia e a população se manifesta a favor ou
Conforme verifica-se, tratam-se dos direitos míni- contrária a um tema que lhe é apresentado, o referen-
mos necessários para que a pessoa viva com dignida- do é convocado posteriormente sobre um assunto que
de em um Estado de Direito. Esses direitos constituem já faz parte do dia a dia dos cidadãos, cabendo a eles
prestações positivas que o Estado deve garantir a ratificá-lo ou rejeitá-lo.
todos os cidadãos. Terão eficácia imediata, à medida Na história recente brasileira, houve um plebisci-
que não podem depender de outra norma para sua to em 21 de abril de 1993 em que os cidadãos foram
implementação pelo Poder Público. chamados a manifestarem-se sobre a forma e sistema
Destaca-se o direito à saúde, por meio do qual o de governo. Foram colocadas as opções de forma de
Poder Público deverá promover ações de promoção, governo: monarquia ou república, e sistema de gover-
proteção e recuperação da saúde: no: presidencialismo ou parlamentarismo. Prevale-
ceu que a forma deveria ser mantida como república
Art. 196 Constituição Federal. A saúde é direito de e o sistema, presidencialista.
todos e dever do Estado, garantido mediante polí- Já, como exemplo de referendo, temos o ocorrido em
ticas sociais e econômicas que visem à redução do 23 de outubro de 2005, quando a população foi instada
risco de doença e de outros agravos e ao acesso a posicionar-se sobre a seguinte questão: “O comércio
universal e igualitário às ações e serviços para sua de armas de fogo e munição deve ser proibido no Bra-
promoção, proteção e recuperação. sil?”. Importa destacar que estava vigente desde 2003 o
Estatuto do Desarmamento, no qual já havia sido proi-
Ou seja, a obrigação do Estado com a população, bido o comércio de armas de fogo e munições. Contudo,
em princípio, é de manter políticas públicas que havia previsão legal de que, para entrar em vigor, seria
previnam e protejam de doenças. Em um segundo necessária a ratificação da população por meio de um
momento, se a pessoa já apresenta uma doença, cabe referendo, podendo, é claro, também rejeitar o disposi-
ao Estado prestar-lhe atendimento médico e fornecer tivo que, então, não vigoraria.
medicamentos para a recuperação de sua saúde. A maioria dos cidadãos votou pela ratificação do dis-
É necessário dizer que todos os direitos sociais são positivo, respondendo “não” à questão formulada men-
universais. Portanto, caberá ao Poder Público imple- cionada acima, o que fez com que vigorasse o artigo que
mentá-los sem qualquer distinção. Assim, mesmo que proibia o comércio de armas de fogo e munições no Brasil.
a pessoa não apresente uma situação de vulnerabili- Outro direito político que deve ser mencionado é a
dade econômica, poderá buscar atendimento hospi- iniciativa popular. Trata-se da iniciativa que garante a
DIREITOS HUMANOS

talar público ou mesmo matricular-se em uma escola todo cidadão o direito de apresentar um projeto de lei.
estadual ou municipal. Esse direito está regulamentado pelo § 2º, do art. 61,
da Constituição Federal, cabendo, para tanto, serem
Dica preenchidos os requisitos ali previstos.
Direitos sociais são universais. Art. 61 [...]
§ 2º A iniciativa popular pode ser exercida pela
Direitos Políticos apresentação à Câmara dos Deputados de projeto
de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do
Os direitos políticos estão previstos nos arts. 14 eleitorado nacional, distribuído pelo menos por
a 16, da Constituição Federal, em seu Capítulo IV, no cinco Estados, com não menos de três décimos por
Título II. São os meios efetivos pelos quais a pessoa cento dos eleitores de cada um deles. 71
Importa dizer que os direitos políticos são dividi- Finalmente, a alínea “c”, também desse dispositi-
dos entre capacidade eleitoral ativa e capacidade elei- vo, define que será brasileiro nato aquele nascido no
toral passiva. A capacidade eleitoral ativa refere-se ao estrangeiro, filho de pai ou mãe brasileiros quando:
direito de votar. Já a capacidade eleitoral passiva refe-
re-se ao direito de ser votado. Assim, em regra, todos z For registrado em repartição brasileira competente,
os brasileiros podem votar e ser votados. ou seja, quando do nascimento, seus pais o registra-
O art. 15, da Constituição Federal, estabelece que é ram perante consulado brasileiro no exterior;
vedada a cassação de direitos políticos. Porém, é pos- z Venha a residir no Brasil e, após atingida a maiori-
dade, opte pela nacionalidade brasileira.
sível que uma pessoa sofra a perda ou suspensão de
seus direitos políticos. Isso pode ocorrer nas seguintes
Nessa última hipótese, mesmo que a pessoa tenha
situações previstas no art. 15:
nascido no exterior e lá tenha sido registrada, se seu
pai ou sua mãe forem brasileiros e o sujeito tenha
z Por meio do cancelamento da naturalização por vindo morar no Brasil, poderá, após completar dezoi-
sentença transitada em julgado (inciso I); to anos, optar pela nacionalidade. Vale ressaltar que
z Incapacidade civil absoluta, ou seja, aquele que deve-se atingir a maioridade para fazer essa escolha,
tenha sua incapacidade reconhecida terá seus tendo em vista ser esse o momento em que se alcança
direitos suspensos (inciso II); a capacidade jurídica plena.
z Condenação criminal transitada em julgado Ademais, o sujeito poderá ser brasileiro naturali-
enquanto durarem seus efeitos (inciso III); zado. Será naturalizada, conforme determina o inciso
z Recusa de cumprimento de obrigação a todos II, do art. 12:
imposta ou prestação alternativa, nos termos do
inciso VIII, art. 5º (vide também inciso IV); z A pessoa nascida em país cujo idioma seja a língua
z Improbidade administrativa, nos termos do inciso portuguesa, tendo, para tanto, que comprovar a resi-
V, § 4º, do art. 37. dência em solo brasileiro por um ano ininterrupto e
idoneidade moral (alínea “a”, inciso II, art. 12);
z A pessoa nascida em qualquer país, desde que resi-
Dica dente no Brasil há mais de quinze anos ininterrup-
Não podem ser cassados os direitos políticos de tos e sem condenação penal (alínea “b”, inciso III,
uma pessoa; porém, poderão ser suspensos em art. 12).
situações previstas na lei.
Assim, a pessoa poderá requerer a naturalização
brasileira, desde que se enquadre em alguma das
Nacionalidade
situações acima e preencha os requisitos determina-
dos pela Constituição Federal.
Nacionalidade, conforme bem nos define o jurista Ademais, existe uma situação peculiar em relação
Pedro Lenza (2019), ao cidadão português:
Conforme preceitua o § 1º, do art. 12, da Consti-
[...] pode ser definida como o vínculo jurídico-polí- tuição Federal, o português terá os mesmos direitos
tico que liga um indivíduo a determinado Estado, do brasileiro, desde que tenha residência permanente
fazendo com que esse indivíduo passe a integrar o no Brasil e se houver reciprocidade de Portugal em
povo daquele Estado e, por consequência, desfrute relação aos brasileiros, ou seja, se no país europeu o
de direitos e submeta-se a obrigações.11 brasileiro gozar do mesmo privilégio.
O § 4º, do art. 12, define que o brasileiro perderá a
Diante disso, temos que um sujeito pode ser bra- nacionalidade nas seguintes situações:
sileiro nato ou naturalizado. O brasileiro nato,
conforme preceitua a alínea “a”, inciso I, art. 12, da z O inciso I traz a situação daquele que tiver cance-
Constituição Federal, é qualquer pessoa cujo nasci- lada sua naturalização por sentença judicial moti-
mento ocorreu em território brasileiro. Assim, perce- vada por atividade nociva ao interesse nacional;
be-se que a regra adotada no país é do jus solis. z O inciso II define que deixará de ser brasileiro o
É necessário ressalvar, porém, o caso da pessoa sujeito que adquirir outra nacionalidade, exceto se
que nasceu no Brasil, mas é filha de pais estrangeiros houver o reconhecimento de nacionalidade origi-
e que estejam à serviço de seu país. Esse sujeito não nária (brasileira) pela lei estrangeira ou, ainda, se a
será brasileiro. Isso porque a Constituição Federal, pessoa tiver que se naturalizar, em virtude de nor-
ma estrangeira, como condição para permanência
ainda na alínea “a”, inciso I, art. 12, é clara ao dizer
em seu território ou exercício de direitos civis.
que também será brasileiro aquele que tiver nascido
aqui, mesmo filho de estrangeiros, desde que os pais
Finalmente, é necessário dizer que a lei não pode-
não estejam a serviço do seu país. Também será con-
rá fazer qualquer distinção entre o brasileiro nato e
siderado brasileiro aquele que tem pai ou mãe bra- o naturalizado. A Constituição Federal, no § 2º, do art.
sileiros, mas nasceu no estrangeiro quando um deles 12, porém, determina que alguns cargos são privativos
estava no exterior a serviço do Brasil. de brasileiros natos, quais sejam: Presidente e Vice-
É necessário que apenas um dos genitores seja bra- -Presidente da República; Presidente da Câmara dos
sileiro, situação definida na alínea “b”, inciso I, art. 12. Deputados; Presidente do Senado Federal; Ministro do
Supremo Tribunal Federal; carreira diplomática; oficial
das Forças Armadas e Ministro do Estado de Defesa.
72 11 LENZA, P. Direito constitucional esquematizado. São Paulo: Saraiva Jur, 2019.
Assim sendo, o termo etnia expressa a realidade
DIREITOS ÉTNICO-RACIAIS cultural das pessoas em grupos, tendo como base as
percepções comuns e as experiências compartilha-
Para compreender os conceitos básicos que envol- das, enquanto raça refere-se aos traços biológicos
vem as questões étnico-raciais, faz-se necessário comuns e as áreas continentais ocupadas desde tem-
entender o porquê da existência de divisão de pes- pos remotos.
soas em raças. De início, é preciso ter em mente que Observa-se que do etnocentrismo adveio o racis-
quando se fala em raças humanas, o que existe é um mo, que é uma ideologia baseada na superioridade de
conteúdo político e social, fruto das relações de poder. determinadas pessoas em decorrência de característi-
Isto ocorre porque as teorias raciais surgiram como cas fenotípicas ou genotípicas.
forma de tentar justificar a ordem social e as relações
de subordinação entre os povos.
Em termos simples, a divisão em raças é utilizada Importante!
para descrever um grupo de seres vivos que comparti- O termo racismo é decorrente do biopoder e da
lham características morfológicas homogêneas. Deste denominada “guerra de raças”, ou seja, a supe-
modo, a separação serve para diferenciar por crité-
rioridade da denominada “raça branca”, ligando
rios físicos ou biológicos os seres, tendo como base
as demais “raças” à barbárie e selvageria (raças
as características fenotípicas iguais. Observa-se, no
tidas como inferiores). O racismo pode abarcar
entanto, que tanto em termos biológicos como em ter-
mos genéticos, não é possível separar os seres huma-
tanto as diferenças de cor, tipo físico e intelec-
nos. Isto ocorre porque as diferenças mais aparentes tual, bem como aquelas decorrentes de exclu-
entre as pessoas, tais como coloração da pele, textura são, desigualdade social, encarceramento e
dos cabelos, formato do nariz, entre outros, são insig- abandono.
nificantes para dividir os seres humanos em grupos
homogêneos. Para se ter uma ideia, a diferença entre
Deste modo, tanto o etnocentrismo como o racis-
um preto africano e um branco nórdico compreende
mo, são ideologias baseadas na falsa concepção de
0,005% do genoma humano.
superioridade e hierarquização de pessoas. Para
Como consequência, só existe uma raça: a raça tanto, a fim de eliminar as distorções criadas pelo
humana. etnocentrismo e pelo racismo foram implementadas
No entanto, ainda que não existindo biológica e políticas para resguardar a igualdade de todas as pes-
geneticamente esta divisão em raças, era interessante soas por meio de um sistema normativo de proteção
para algumas pessoas que o poder fosse conservado dos direitos humanos.
apenas nas mãos de alguns. Assim, com os seres huma- Este processo de proteção teve início após a Segun-
nos divididos em subespécies era possível sustentar da Guerra Mundial com o movimento de reconstrução
um conjunto de relações de exclusão, encarceramen- dos direitos humanos. Tal movimento decorreu da con-
to e morte daqueles considerados hierarquicamente cepção de que todos os Estados têm a obrigação de res-
inferiores, como, por exemplo, para justificar a colo- peitar os direitos humanos. Seu marco foi a Declaração
nização e escravidão dos povos africanos. Universal dos Direitos Humanos (DUDH) em 1948.
Trata-se, portanto, de uma estratégia desenvolvida Com o decorrer dos anos, este sistema foi aperfei-
por meio de uma biopolítica da população em que as çoado para abarcar a proteção de pessoas, ou grupos
raças tidas como inferiores deveriam ser eliminadas de pessoas particularmente vulneráveis, como no
ou escravizadas para a regeneração e purificação da caso das vítimas de discriminação por etnia e raça.
raça. Assim, atente-se, pois, embora a classificação Para tanto, foi aprovado em 1965, a Convenção Inter-
em raças seja rejeitada, o conceito passou a desig- nacional sobre Eliminação de Todas as Formas de
nar linhagem e descendência, isto é, pessoas que Discriminação Racial, de modo a proibir não só a dis-
possuem características físicas em comum por criminação racial como também qualquer distinção,
decorrerem de um ancestral comum. exclusão, restrição ou preferência fundada na raça,
Cumpre esclarecer que, no decorrer da história da cor descendência ou origem nacional ou étnica.
humanidade, a relação de dominação entre as pessoas Já no âmbito regional, o Sistema Interamericano de
gerou tanto subordinação quanto exclusão de grupos, Proteção dos Direitos Humanos firmou a Convenção
formando, como consequência, o estabelecimento de Interamericana Contra o Racismo, a Discriminação
um padrão predeterminado de identidade cultural e Racial e Formas Correlatas de Intolerância em 2013.
social — fenômeno este chamado de etnocentrismo. Este tratado foi ratificado pelo Brasil neste mesmo ano
e incorporado ao ordenamento jurídico brasileiro por
Dica meio do Decreto nº 10.932, de 10 de janeiro de 2022.
DIREITOS HUMANOS

Alguns pontos importantes desta Convenção.


No etnocentrismo tem-se a formação de um
grupo padrão, de modo que todos os demais Art. 1 Para os efeitos desta Convenção:
passam a ser avaliados e classificados com 1) Discriminação racial é qualquer distinção, exclu-
base nas referências trazidas por ele. Note, por são, restrição ou preferência, em qualquer área da
exemplo, que como a Europa no século XIX era vida pública ou privada, cujo propósito ou efeito
tida como centro de qualquer desenvolvimento seja anular ou restringir o reconhecimento, gozo
ou exercício, em condições de igualdade, de um ou
humano, era plenamente aceitável a coloniza-
mais direitos humanos e liberdades fundamentais
ção e a escravidão dos povos nativos da África, consagrados nos instrumentos internacionais apli-
Ásia, América e Oceania, assim como ocorreu cáveis aos Estados Partes. A discriminação racial
com algumas culturas e religiões, que eram tidas pode basear-se em raça, cor, ascendência ou origem
como inferiores. nacional ou étnica. 73
2) Discriminação racial indireta é aquela que ocor- resultado de conduta intencional do agente. Exemplo:
re, em qualquer esfera da vida pública ou privada, negar emprego ou atendimento a uma determinada
quando um dispositivo, prática ou critério aparen- pessoa em decorrência da coloração de sua pele ou
temente neutro tem a capacidade de acarretar uma nacionalidade. Por outro lado, considera-se discrimi-
desvantagem particular para pessoas pertencentes
nação indireta o tratamento que aparece de forma
a um grupo específico, com base nas razões estabele-
indireta, dissimulada ou desprovida de intenção. Tra-
cidas no Artigo 1.1, ou as coloca em desvantagem, a
menos que esse dispositivo, prática ou critério tenha ta-se de uma prática ou política ou critério tido como
um objetivo ou justificativa razoável e legítima à luz aparentemente neutro, porém, que coloca a pessoa
do Direito Internacional dos Direitos Humanos. com características em relação de desvantagem às
3) Discriminação múltipla ou agravada é qualquer demais, sem que exista um motivo justo para isso.
preferência, distinção, exclusão ou restrição basea- Por exemplo, a proibição de determinados trajes para
da, de modo concomitante, em dois ou mais crité- entradas em alguns estabelecimentos comerciais,
rios dispostos no Artigo 1.1, ou outros reconhecidos como chinelo, ou a contratação de pessoas de uma
em instrumentos internacionais, cujo objetivo ou única faculdade.
resultado seja anular ou restringir o reconhecimen- A discriminação múltipla ou agravada é aquela que
to, gozo ou exercício, em condições de igualdade,
acrescenta outros critérios à conduta de restringir ou
de um ou mais direitos humanos e liberdades fun-
damentais consagrados nos instrumentos interna-
anular direitos, tais como gênero, religião, orientação
cionais aplicáveis aos Estados Partes, em qualquer sexual, deficiência e idade. Trata-se, portanto, de um
área da vida pública ou privada. fenômeno múltiplo e complexo cuja discriminação
4) Racismo consiste em qualquer teoria, doutrina, abrange mais de um fator de discriminação. Exemplo:
ideologia ou conjunto de ideias que enunciam um mulheres pretas sofrem mais discriminação do que
vínculo causal entre as características fenotípicas homens pretos ou mulheres brancas.
ou genotípicas de indivíduos ou grupos e seus traços O racismo é um dos diversos tipos de preconceito,
intelectuais, culturais e de personalidade, inclusive baseando-se na pré-concepção a respeito de uma etnia
o falso conceito de superioridade racial. O racismo ou grupo social. Por racismo depreende-se a ideologia
ocasiona desigualdades raciais e a noção de que as
que exalta a superioridade de determinadas pessoas em
relações discriminatórias entre grupos são moral
decorrência de características fenotípicas ou genotípicas.
e cientificamente justificadas. Toda teoria, doutri-
na, ideologia e conjunto de ideias racistas descritas Atenção! O termo racismo é decorrente do bio-
neste Artigo são cientificamente falsas, moralmen- poder e da denominada “guerra de raças”, ou seja, a
te censuráveis, socialmente injustas e contrárias superioridade da denominada “raça branca”, ligando
aos princípios fundamentais do Direito Interna- as demais “raças” à barbárie e selvageria (raças tidas
cional e, portanto, perturbam gravemente a paz e como inferiores). O racismo pode abarcar tanto as
a segurança internacional, sendo, dessa maneira, diferenças de cor, tipo físico e intelectual, bem como
condenadas pelos Estados Partes. aquelas decorrentes de exclusão, desigualdade social,
5) As medidas especiais ou de ação afirmativa encarceramento e abandono.
adotadas com a finalidade de assegurar o gozo Destarte, as medidas especiais ou ações afirmativas
ou exercício, em condições de igualdade, de um ou
correspondem ao conjunto de ações voltadas a grupos
mais direitos humanos e liberdades fundamentais
de grupos que requeiram essa proteção não consti-
discriminados ou vitimados pela exclusão racial, tendo
tuirão discriminação racial, desde que essas medi- como objetivo eliminar as desigualdades e segregações.
das não levem à manutenção de direitos separados Tratam-se, portanto, de medidas públicas que propiciem
para grupos diferentes e não se perpetuem uma vez uma maior participação de determinados grupos (gru-
alcançados seus objetivos. pos discriminados) na educação, emprego, saúde, entre
6) Intolerância é um ato ou conjunto de atos ou outros. São exemplos: o acesso aos cargos públicos e uni-
manifestações que denotam desrespeito, rejeição ou versidades por meio do sistema de cotas raciais.
desprezo à dignidade, características, convicções ou A intolerância é uma atitude de violência, física ou
opiniões de pessoas por serem diferentes ou contrá- moral, baseada na negação de que a pessoa é titular
rias. Pode manifestar-se como a marginalização e a
de direitos por pertencer a um grupo étnico-racial.
exclusão de grupos em condições de vulnerabilidade
Assim, ela está fundamentada na construção ideoló-
da participação em qualquer esfera da vida pública
ou privada ou como violência contra esses grupos. gica do racismo, de modo a justificar ações violentas
de não aceitação das diferenças sob a justificativa de
A primeira das seis definições contidas no artigo é subordinação, objetificação ou exclusão dos direitos
a de discriminação racial, que se baseia no tratamento de determinadas pessoas por serem consideradas
desigual entre pessoas e que tem como objetivo man- como “raças” menos desenvolvidas. Exemplo: negar
ter tais desigualdades, de modo a evitar o reconheci- ser atendido por uma pessoa preta.
mento dos direitos destas pessoas. Salienta-se que a
Convenção considera como discriminação racial qual- Art. 2 Todo ser humano é igual perante a lei e tem
quer distinção, exclusão, restrição ou preferência fun- direito à igual proteção contra o racismo, a discri-
dada na raça, cor descendência ou origem nacional ou minação racial e formas correlatas de intolerância,
étnica, que tenha como objetivo anular ou comprome- em qualquer esfera da vida pública ou privada.
ter o reconhecimento, o gozo ou o exercício no mesmo
plano a todos os direitos e liberdades humanas, tan- O art. 2º decorre do princípio da isonomia ou da
to no domínio político, econômico ou social, como na igualdade. Tal princípio tem como fundamento o fato
esfera da vida privada. de que todos nascem e vivem com os mesmos direitos
A discriminação pode ser direta ou indireta. Diz-se e obrigações. Portanto, são destinatários do princípio
discriminação direta aquela que contém em si a inten- da igualdade tanto o legislador como os aplicadores
74 ção de discriminar, ou seja, o tratamento desigual é da lei.
Dica v. qualquer ação repressiva fundamentada em qual-
quer dos critérios enunciados no Artigo 1.1, em vez
Igualdade na lei – direcionado ao legislador, de de basear-se no comportamento da pessoa ou em
modo a vedar a elaboração de dispositivos que informações objetivas que identifiquem seu envol-
estabeleçam desigualdades ou privilégio entre vimento em atividades criminosas;
as pessoas. vi. restrição, de maneira indevida ou não razoável,
Igualdade perante a lei – direcionado aos aplica- do exercício dos direitos individuais à propriedade,
administração e disposição de bens de qualquer
dores da lei, uma vez que não é possível utilizar
tipo, com base em qualquer dos critérios enuncia-
critérios discriminatórios na aplicação da norma, dos no Artigo 1.1;
salvo nos casos de medidas especiais ou políti- vii. qualquer distinção, exclusão, restrição ou prefe-
cas afirmativas. rência aplicada a pessoas, devido a sua condição de
vítima de discriminação múltipla ou agravada, cujo
Art. 3 Todo ser humano tem direito ao reconheci- propósito ou resultado seja negar ou prejudicar o
mento, gozo, exercício e proteção, em condições de reconhecimento, gozo, exercício ou proteção, em
igualdade, tanto no plano individual como no cole- condições de igualdade, dos direitos e liberdades
tivo, de todos os direitos humanos e liberdades fun- fundamentais;
damentais consagrados na legislação interna e nos viii. qualquer restrição racialmente discriminató-
instrumentos internacionais aplicáveis aos Estados ria do gozo dos direitos humanos consagrados nos
Partes. instrumentos internacionais e regionais aplicáveis
e pela jurisprudência dos tribunais internacionais e
O art. 3º baseia-se no direito à igualdade e reafirma regionais de direitos humanos, especialmente com
os direitos de não discriminação contidos tanto nos relação a minorias ou grupos em situação de vulne-
rabilidade e sujeitos à discriminação racial;
tratados internacionais como nos regionais. A come-
ix. qualquer restrição ou limitação do uso de idio-
çar pela Carta da Organização das Nações Unidas de ma, tradições, costumes e cultura das pessoas em
1945, que estabeleceu em seu preâmbulo a igualdade atividades públicas ou privadas;
de direitos entre homens e mulheres, assim como o x. elaboração e implementação de material, méto-
art. 1º, que ao prever o respeito aos direitos humanos, dos ou ferramentas pedagógicas que reprodu-
acrescentou a expressão “sem distinção de raça, sexo, zam estereótipos ou preconceitos, com base em
língua ou religião”. Na sequência, em 1948, a Declara- qualquer critério estabelecido no Artigo 1.1 desta
ção Universal dos Direitos Humanos trouxe a ideia de Convenção;
universalidade dos direitos humanos, ou seja, eles são xi. negação do acesso à educação pública ou pri-
inerentes a todas as pessoas, sejam homens ou mulhe- vada, bolsas de estudo ou programas de financia-
res. Já, o que se refere à proteção interamericana dos mento educacional, com base em qualquer critério
direitos humanos, tem-se a Convenção Americana estabelecido no Artigo 1.1 desta Convenção;
sobre Direitos Humanos, mais conhecida como Pacto xii. negação do acesso a qualquer direito econômi-
co, social e cultural, com base em qualquer critério
de São José da Costa Rica, estabelecendo a igualdade
estabelecido no Artigo 1.1 desta Convenção;
de direitos entre as pessoas.
xiii. realização de pesquisas ou aplicação dos
Atente-se: as duas acepções de igualdade são resultados de pesquisas sobre o genoma huma-
igualdade formal e igualdade material. A igualdade no, especialmente nas áreas da biologia, genética
formal corresponde ao tratamento de todos em igual e medicina, com vistas à seleção ou à clonagem
forma, enquanto a igualdade material conduz tratar humana, que extrapolem o respeito aos direitos
igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na humanos, às liberdades fundamentais e à dignidade
medida de sua desigualdade. humana, gerando qualquer forma de discriminação
fundamentada em características genéticas;
Art. 4 Os Estados comprometem-se a prevenir, eli- xiv. restrição ou limitação, com base em qualquer
minar, proibir e punir, de acordo com suas normas dos critérios enunciados no Artigo 1.1 desta Con-
constitucionais e com as disposições desta Con- venção, do direito de toda pessoa de obter acesso
venção, todos os atos e manifestações de racismo, à água, aos recursos naturais, aos ecossistemas, à
discriminação racial e formas correlatas de intole- biodiversidade e aos serviços ecológicos que cons-
rância, inclusive: tituem o patrimônio natural de cada Estado, prote-
i. apoio público ou privado a atividades racialmen- gido pelos instrumentos internacionais pertinentes
te discriminatórias e racistas ou que promovam a e suas próprias legislações nacionais, bem como de
intolerância, incluindo seu financiamento; usá-los de maneira sustentável; e
ii. publicação, circulação ou difusão, por qualquer xv. restrição do acesso a locais públicos e locais pri-
forma e/ou meio de comunicação, inclusive a inter- vados franqueados ao público pelos motivos enun-
net, de qualquer material racista ou racialmente ciados no Artigo 1.1 desta Convenção.
DIREITOS HUMANOS

discriminatório que:
a) defenda, promova ou incite o ódio, a discrimina- O art. 4º condena qualquer tipo de racismo, dis-
ção e a intolerância; e criminação e práticas correlatas, enquanto a Conven-
b) tolere, justifique ou defenda atos que constituam ção estabelece um rol exemplificativo de condutas a
ou tenham constituído genocídio ou crimes contra serem praticadas pelos Estados com o objetivo de pre-
a humanidade, conforme definidos pelo Direito venir, proibir, punir e eliminar tais práticas.
Internacional, ou promova ou incite a prática des-
ses atos; Art. 5 Os Estados Partes comprometem-se a adotar
iii. violência motivada por qualquer um dos crité- as políticas especiais e ações afirmativas necessá-
rios estabelecidos no Artigo 1.1; rias para assegurar o gozo ou exercício dos direitos
iv. atividade criminosa em que os bens da vítima e liberdades fundamentais das pessoas ou grupos
sejam alvos intencionais, com base em qualquer um sujeitos ao racismo, à discriminação racial e for-
dos critérios estabelecidos no Artigo 1.1; mas correlatas de intolerância, com o propósito de 75
promover condições equitativas para a igualdade Importante!
de oportunidades, inclusão e progresso para essas
pessoas ou grupos. Tais medidas ou políticas não No Brasil, a Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010,
serão consideradas discriminatórias ou incompa- também denominada de Estatuto da Igualdade
tíveis com o propósito ou objeto desta Convenção, Racial, é a norma jurídica que traz as ferramen-
não resultarão na manutenção de direitos separa- tas para proteção dos direitos humanos deste
dos para grupos distintos e não se estenderão além grupo da sociedade.
de um período razoável ou após terem alcançado
seu objetivo.
Art. 8 Os Estados Partes comprometem-se a garan-
O art. 5º estabelece atenção especial dos Estados tir que a adoção de medidas de qualquer natureza,
partes da Convenção em elaborarem as medidas espe- inclusive aquelas em matéria de segurança, não
ciais e de políticas afirmativas no âmbito civil e polí- discrimine direta ou indiretamente pessoas ou gru-
tico, com o objetivo de atingir a igualdade material. pos com base em qualquer critério mencionado no
Portanto, trata-se do reconhecimento dos direitos das Artigo 1.1 desta Convenção.
pessoas em situação de racismo, discriminação e into-
lerância. Além disso, deixa claro que tais políticas, por Outro compromisso a ser adotado pelos Estados
ter como finalidade corrigir as distorções existentes, signatários da Convenção é o estabelecido no art. 8º.
não podem ser consideradas como uma prática discri- Assim, não pode o Poder Público, sob a alegação de pro-
minatória ou incompatível com a Convenção. teção de qualquer outro direito, adotar medidas que
reforcem a discriminação já existente. Exemplo: com o
Art. 6 Os Estados Partes comprometem-se a for- objetivo de prevenir crimes, adotar revista pessoal de
mular e implementar políticas cujo propósito seja todas as pessoas pretas e de apenas alguns brancos.
proporcionar tratamento equitativo e gerar igual-
dade de oportunidades para todas as pessoas, em Art. 9 Os Estados Partes comprometem-se a garan-
conformidade com o alcance desta Convenção; entre tir que seus sistemas políticos e jurídicos reflitam
elas políticas de caráter educacional, medidas traba- adequadamente a diversidade de suas sociedades,
lhistas ou sociais, ou qualquer outro tipo de política a fim de atender às necessidades legítimas de todos
promocional, e a divulgação da legislação sobre o os setores da população, de acordo com o alcance
assunto por todos os meios possíveis, inclusive pelos desta Convenção.
meios de comunicação de massa e pela internet.
O art. 9º estabelece a necessidade de os Estados
Complementando o art. 5º, o art. 6º estabelece o membros da Convenção compreenderem as diver-
compromisso dos Estados em formular as medidas sidades da sociedade e, em razão disso, compro-
especiais, enquanto as políticas afirmativas se refe- metem-se em ter sistemas políticos e jurídicos que
rem ao âmbito econômico, social e cultural. Em outras reconheçam que, embora as pessoas sejam diferen-
palavras, não basta adotar medidas de reconhecimen- tes, o tratamento prestado a eles deve ser igual, haja
to dos direitos, sendo também necessário estabelecer vista que os direitos humanos são inerentes a todos
ações estatais para propiciar que estes direitos sejam indistintamente.
efetivados, na medida em que é dever do Estado
garantir igualdade de oportunidades a todos. Art. 10 Os Estados Partes comprometem-se a
garantir às vítimas do racismo, discriminação
racial e formas correlatas de intolerância um tra-
Dica
tamento equitativo e não discriminatório, acesso
O dispositivo assegura alguns dos direitos deno- igualitário ao sistema de justiça, processo ágeis e
minados de segunda geração/dimensão, tais eficazes e reparação justa nos âmbitos civil e crimi-
como o direito à educação, ao trabalho, à cultura, nal, conforme pertinente.
entre outros.
O art. 10 traz outra responsabilidade dos Estados
Art. 7 Os Estados Partes comprometem-se a ado- partes, que é a de garantir às vítimas de racismo, dis-
tar legislação que defina e proíba expressamente o criminação e intolerância, acesso à Justiça, proces-
racismo, a discriminação racial e formas correlatas so célere e indenização justa, uma vez que de nada
de intolerância, aplicável a todas as autoridades adiantaria fixar compromissos se o Estado não adotar
públicas, e a todos os indivíduos ou pessoas físicas postura para reprimir estas modalidades de violência.
e jurídicas, tanto no setor público como no privado,
especialmente nas áreas de emprego, participação Art. 11 Os Estados Partes comprometem-se a con-
em organizações profissionais, educação, capacita- siderar agravantes os atos que resultem em discri-
ção, moradia, saúde, proteção social, exercício de minação múltipla ou atos de intolerância, ou seja,
atividade econômica e acesso a serviços públicos, qualquer distinção, exclusão ou restrição baseada
entre outras, bem como revogar ou reformar toda em dois ou mais critérios enunciados nos Artigos
legislação que constitua ou produza racismo, discri- 1.1 e 1.3 desta Convenção.
minação racial e formas correlatas de intolerância.
Outro compromisso para repressão da prática de
O art. 7º traz mais um tipo de compromisso dos racismo, discriminação e intolerância é o estabelecido
Estados partes, o de adotar em seu ordenamento jurí- no art. 11. Neste dispositivo, os Estados signatários da
dico interno normas que proíbam expressamente o convenção comprometem-se em considerar a discri-
racismo, a discriminação racial e a intolerância. minação múltipla e a intolerância de forma mais rigo-
76 rosa na docimetria da pena.
Art. 12 Os Estados Partes comprometem-se a rea- REAFIRMANDO o direito à educação de todos os
lizar pesquisas sobre a natureza, as causas e as indivíduos, tal como está inscrito na Declaração
manifestações do racismo, da discriminação racial Universal dos Direitos do Homem de 1948, e reno-
e formas correlatas de intolerância em seus respec- vando a garantia dada pela comunidade mundial
tivos países, em âmbito local, regional e nacional, na Conferência Mundial sobre Educação para
bem como coletar, compilar e divulgar dados sobre Todos de 1990 de assegurar esse direito, indepen-
a situação de grupos ou indivíduos que sejam víti- dentemente das diferenças individuais,
mas do racismo, da discriminação racial e formas RELEMBRANDO as diversas declarações das
correlatas de intolerância. Nações Unidas que culminaram, em 1993, nas
Normas das Nações Unidas sobre a Igualdade de
O art. 12 traz um compromisso para a prevenção Oportunidades para as Pessoas com Deficiência, as
da prática de racismo, discriminação racial e intole- quais exortam os Estados a assegurar que a edu-
rância, que é a realização de pesquisas sobre o tema, cação das pessoas com deficiência faça parte inte-
com coleta de dados e divulgação, com o objetivo de grante do sistema educativo,
poder atuar nestas causas para a solução do problema. NOTANDO com satisfação o envolvimento crescen-
te dos governos, dos grupos de pressão, dos grupos
comunitários e de pais, e, em particular, das orga-
Art. 13 Os Estados Partes comprometem-se a
nizações de pessoas com deficiência, na procura da
estabelecer ou designar, de acordo com sua legis-
promoção do acesso à educação para a maioria dos
lação interna, uma instituição nacional que será
que apresentam necessidades especiais e que ainda
responsável por monitorar o cumprimento desta
não foram por ela abrangidos; e
Convenção, devendo informar essa instituição à
RECONHECENDO, como prova deste envolvimen-
Secretaria-Geral da OEA.
to, a participação ativa dos representantes de alto
nível de numerosos governos, de agências especiali-
Outra medida de prevenção é a estabelecida no art. zadas e de organizações intergovernamentais nes-
13. De acordo com o dispositivo, cada Estado signatá- ta Conferência Mundial.
rio deve possuir uma instituição própria para monito-
rar o cumprimento do tratado e informar à OEA. Ao considerar a educação um direito de todos, a
declaração traz como princípio o direito que todas
Art. 14 Os Estados Partes comprometem-se a pro- as crianças têm de aprender em conjunto, ou seja,
mover a cooperação internacional com vistas ao independentemente de quaisquer diferença ou
intercâmbio de ideias e experiências, bem como a
dificuldades.
executar programas voltados à realização dos obje-
Assim, a escola inclusiva é aquela que reconhece
tivos desta Convenção.
e responde à diversidade de seus alunos, porém de
modo a compatibilizar estilos e ritmos diferentes de
Por fim, art. 14 incentiva a promoção de coope-
aprendizagem e proporcionar uma educação de qua-
ração internacional, com a finalidade de que as tro-
lidade a todos.
cas de ideias e experiências possam contribuir para
melhor efetividade do sistema de proteção.
1. Nós, delegados à Conferência Mundial sobre
Necessidades Educativas Especiais, representando
noventa e dois países e vinte e cinco organizações
internacionais, reunidos aqui em Salamanca, Espa-
DECLARAÇÃO DE SALAMANCA: SOBRE nha, de 7 a 10 de Junho de 1994, reafirmamos, por
este meio, o nosso compromisso em prol da Edu-
PRINCÍPIOS, POLÍTICAS E PRÁTICAS cação para Todos, reconhecendo a necessidade e a
NA ÁREA DAS NECESSIDADES urgência de garantir a educação para as crianças,
jovens e adultos com necessidades educativas espe-
EDUCATIVAS ESPECIAIS ciais no quadro do sistema regular de educação,
e sancionamos, também por este meio, o Enqua-
A Declaração de Salamanca foi elaborada na Con- dramento da Ação na área das Necessidades Edu-
ferência Mundial sobre Necessidades Educacionais cativas Especiais, de modo a que os governos e as
Especiais, realizada no ano de 1994, em Salamanca, na organizações sejam guiados pelo espírito das suas
Espanha, com a finalidade de estabelecer as diretrizes propostas e recomendações.
básicas para a formulação e reforma de políticas e sis-
temas educacionais para a inclusão social. Em síntese, o item 1 estabelece que a educa-
Trata-se, portanto, de um dos documentos inter- ção é direito de todos e independe das diferenças
nacionais mais importantes para inclusão social, jun- individuais.
tamente com a Convenção de Direitos da Criança, de
1988, e a Declaração sobre Educação para Todos, de
Dica
DIREITOS HUMANOS

1990.
Sua importância advém do fato de ela promover Por necessidades educacionais especiais
uma política baseada na garantia da inclusão das depreende-se não só as necessidades decor-
crianças com necessidades educacionais especiais. A rentes de algum tipo de deficiência como tam-
Declaração de Salamanca foi incorporada às políticas bém todas as outras dificuldades temporárias
educacionais brasileiras. ou permanentes enfrentadas pelas crianças nas
Ela é composta por um preâmbulo e cinco itens. escolas, tais como crianças que são forçadas
O preâmbulo, que é a parte que precede o texto arti- a trabalhar, crianças em situação de rua ou que
culado da Convenção, é composto pelas seguintes
residem longe das escolas, entre outras.
considerações:

77
2. Acreditamos e proclamamos que: O item 3 traz os deveres dos Estados na implemen-
 cada criança tem o direito fundamental à educa-
tação de políticas para a inclusão social.
ção e deve ter a oportunidade de conseguir e man-
ter um nível aceitável de aprendizagem, 4. Também apelamos para a comunidade interna-
cional; apelamos em particular:
 cada criança tem características, interesses,
capacidades e necessidades de aprendizagem que  aos governos com programas cooperativos
lhe são próprias, internacionais e às agências financiadoras inter-
nacionais, especialmente os patrocinadores da
 os sistemas de educação devem ser planeados e Conferência Mundial de Educação para Todos, à
os programas educativos implementados tendo em Organização das Nações Unidas para a Educa-
vista a vasta diversidade destas características e ção, a Ciência e a Cultura (UNESCO), ao Fundo
necessidades, das Nações Unidas para a Infância, (UNICEF), ao
 as crianças e jovens com necessidades educati- Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas
vas especiais devem ter acesso às escolas regulares, (PNUD), e ao Banco Mundial:
que a elas se devem adequar através duma pedago-
- a que sancionem a perspectiva da escolaridade
gia centrada na criança, capaz de ir ao encontro
inclusiva e apoiem o desenvolvimento da educação
destas necessidades,
de alunos com necessidades especiais, como parte
 as escolas regulares, seguindo esta orientação integrante de todos os programas educativos;
inclusiva, constituem os meios mais capazes para
 às Nações Unidas e às suas agências especializa-
combater as atitudes discriminatórias, criando
comunidades abertas e solidárias, construindo das, em particular à Organização Internacional do
uma sociedade inclusiva e atingindo a educação Trabalho (OIT), à Organização Mundial de Saúde
para todos; além disso, proporcionam uma educa- (OMS), UNESCO e UNICEF:
ção adequada à maioria das crianças e promovem - a que fortaleçam a sua cooperação técnica, assim
a eficiência, numa óptima relação custo-qualidade, como reforcem a cooperação e trabalho conjunto,
de todo o sistema educativo. tendo em vista um apoio mais eficiente às respos-
tas integradas e abertas às necessidades educativas
O item 2 estabelece, em síntese, que toda criança especiais;
que possui alguma dificuldade de aprendizagem pode
ser considerada com uma necessidade educativa espe-  às organizações não-governamentais envolvidas
cial. Além disso, não são os alunos que devem se adap- no planeamento dos países e na organização dos
serviços:
tar às especificidades das escolas, mas sim as escolas
- a que fortaleçam a sua colaboração com as enti-
que devem se adaptar às especificidades dos alunos.
dades oficiais e que intensifiquem o seu crescente
envolvimento no planejamento, implementação e
3. Apelamos a todos os governos e incitamo-los a:
avaliação das respostas inclusivas às necessidades
 conceder a maior prioridade, através das medi-
educativas especiais;
das de política e através das medidas orçamen-
tais, ao desenvolvimento dos respectivos sistemas  à UNESCO, enquanto agência das Nações Unidas
educativos, de modo a que possam incluir todas para a educação:
as crianças, independentemente das diferenças ou
dificuldades individuais, - a que assegure que a educação das pessoas com
necessidades educativas especiais faça parte de
 adotar como matéria de lei ou como política o cada discussão relacionada com a educação para
princípio da educação inclusiva, admitindo todas todos, realizada nos diferentes fóruns;
as crianças nas escolas regulares, a não ser que
haja razões que obriguem a proceder de outro - a que mobilize o apoio das organizações relacio-
modo, nadas com o ensino, de forma a promover a forma-
ção de professores, tendo em vista as respostas às
 desenvolver projetos demonstrativos e encorajar necessidades educativas especiais;
o intercâmbio com países que têm experiência de
escolas inclusivas, - a que estimule a comunidade académica a for-
talecer a investigação e o trabalho conjunto e a
 estabelecer mecanismos de planeamento, super-
estabelecer centros regionais de informação e de
visão e avaliação educacional para crianças e
documentação; igualmente, a que seja um ponto de
adultos com necessidades educativas especiais, de
encontro destas atividades e um motor de divulga-
modo descentralizado e participativo,
ção dos resultados e do progresso atingido em cada
 encorajar e facilitar a participação dos pais, país, no prosseguimento desta Declaração;
comunidades e organizações de pessoas com defi-
ciência no planeamento e na tomada de decisões - a que mobilize fundos, no âmbito do próximo
sobre os serviços na área das necessidades educa- Plano a Médio Prazo (1996-2000), através da cria-
tivas especiais, ção de um programa extensivo de apoio à escola
inclusiva e de programas comunitários, os quais
 investir um maior esforço na identificação e nas permitirão o lançamento de projetos-piloto que
estratégias de intervenção precoce, assim como nos demonstrem e divulguem novas perspectivas e pro-
aspectos vocacionais da educação inclusiva, movam o desenvolvimento de indicadores relativos
 garantir que, no contexto duma mudança sisté- às carências no sector das necessidades educativas
mica, os programas de formação de professores, especiais e aos serviços que a elas respondem.
tanto a nível inicial como em-serviço, incluam as
respostas às necessidades educativas especiais nas Complementando o item anterior, o item 4 traz um
78 escolas inclusivas. apelo para toda a comunidade internacional.
5. Finalmente, expressamos o nosso caloroso reco- e) Encaminhamento de advertência aos pais e/ou res-
nhecimento ao Governo de Espanha e à UNESCO ponsáveis pela Polícia Militar.
pela organização desta Conferência e solicitamo-
-los a que empreendam todos os esforços no sen- 4. (FGV — 2014) Sobre a matrícula de uma criança de
tido de levar esta Declaração e o Enquadramento 6 anos de idade em uma escola da rede estadual, de
da Ação que a acompanha ao conhecimento da acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente –
comunidade mundial, especialmente a fóruns tão
ECA, os pais ou os responsáveis:
importantes como a Conferência Mundial para o
Desenvolvimento Social (Copenhaga, 1995) e a Con-
ferência Mundial das Mulheres (Beijing, 1995). a) têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos
na rede regular de ensino.
b) devem optar se desejam ou não matricular seus filhos
Por fim, o item 5 faz o pedido de que a Declara-
ou pupilos na rede regular de ensino.
ção seja levada a conhecimento de toda comunida-
c) têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos
de internacional nos eventos agendados para o ano
na rede pública de ensino.
seguinte da aprovação da declaração.
d) têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos
na rede privada de ensino.
e) devem garantir a educação escolar para seus filhos ou
HORA DE PRATICAR! pupilos independentemente da matrícula na rede regu-
lar de ensino.
1. (FGV — 2018) A Constituição Federal de 1988 abre
5. (FGV — 2023) Embora a proclamação da Declaração
caminho para a promulgação do Estatuto da Criança
Universal dos Direitos Humanos (DH) tenha ocorrido
e do Adolescente (ECA), que dá um novo entendimen-
há mais de meio século, uma educação que busque
to à atuação do Judiciário em relação aos direitos de
trazer os princípios dos DH para uma realidade con-
crianças e adolescentes.
creta deve considerar tanto a promoção quanto a
garantia desses direitos no espaço urbano da comuni-
Assim, o ECA é o instrumento legal de defesa dos
dade escolar. Segundo David Harvey, “A liberdade para
direitos e de indicação de deveres voltados para:
nos fazermos e nos refazermos, assim como nossas
cidades, é um dos mais preciosos, ainda que dos
a) o conjunto da população infanto-juvenil.
mais negligenciados, dos nossos direitos humanos. A
b) os menores em situação irregular.
questão sobre qual tipo de cidade queremos não pode
c) as famílias consideradas vulneráveis.
estar divorciada da questão sobre qual tipo de pes-
d) o adolescente delinquente.
soas desejamos ser, quais tipos de relações sociais
e) as crianças e adolescentes abandonadas.
buscamos, qual relação nutrimos com a natureza, qual
modo de vida desejamos”.
2. (FGV — 2017) Assegurar o direito à saúde e à educa-
Adaptado de HARVEY, David. A liberdade da cidade, GEOUSP Espaço
ção ao sujeito menor de 18 anos, de acordo com o e Tempo (v. 13, n. 2, 2009, p. 9.
Estatuto da Criança e do Adolescente, é:
Com base no trecho citado, analise as afirmativas a
a) uma questão não prioritária. seguir a respeito de pensar a cidade como um direito.
b) de responsabilidade exclusiva da família e da
comunidade. I. O direito à cidade deve ultrapassar o direito ao aces-
c) dever exclusivo do poder público e da sociedade. so do que já está disponível, permitindo transformar a
d) de responsabilidade prioritária da comunidade e exclu- cidade em algo que esteja de acordo com os interes-
siva do poder público. ses de seus cidadãos.
e) dever da família, da comunidade, da sociedade e do II. O direito à cidade se expressa em duas demandas
poder público. recorrentes na metrópole paulistana: a ocupação
democrática dos espaços urbanos e o fortalecimento
3. (FGV — 2019) Em caso de os pais, os integrantes da da cultura de participação política.
família ampliada, os responsáveis, os agentes públi- III. O direito à cidade opera como um conceito agluti-
cos executores de medidas socioeducativas ou qual- nador, na medida em que alinha uma série de outras
quer pessoa encarregada de cuidar de crianças e de políticas de inclusão, participação e uso dos espaços
adolescentes aplicarem castigo físico ou tratamento públicos urbanos.
cruel ou degradante como forma de correção, estão
previstas medidas a serem aplicadas. Está correto o que se afirma em:

Assinale a opção que apresenta corretamente uma


DIREITOS HUMANOS

a) I, apenas.
dessas medidas. b) I e II, apenas.
c) I e III, apenas.
a) Encaminhamento da criança a tratamento especializa- d) II e III, apenas.
do pelo setor de psicologia da escola. e) I, II e III.
b) Encaminhamento a tratamento psicológico ou psi-
quiátrico pela Clínica da Família. 6. (FGV — 2023) A Declaração Universal dos Direitos
c) Encaminhamento a programa oficial ou comunitário Humanos tem como um dos seus objetivos o reconhe-
de proteção à família pelo Ministério Público. cimento da dignidade inerente a todos os membros da
d) Encaminhamento a cursos ou programas de orienta- família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis
ção pelo Conselho Tutelar. sendo o fundamento da liberdade, da justiça e da paz
no mundo. 79
Considerando o texto aprovado pela Assembleia Geral 9. (FGV — 2014) De acordo com o Estatuto do Idoso (Lei
das Nações Unidas (Resolução nº 217-A, III), em 10 de 10.741/03), considera-se idosa a pessoa com idade:
dezembro de 1948, é correto afirmar que:
a) igual ou superior a 60 (sessenta) anos;
a) as férias remuneradas e periódicas não fazem parte b) igual ou superior a 65 (sessenta e cinco) anos;
do direito ao repouso e ao lazer; c) igual ou superior a 70 (setenta) anos;
b) poderá haver casamento válido sem o consentimento d) superior a 60 (sessenta) anos;
livre dos nubentes, desde que previsto em norma legal; e) superior a 65 (sessenta e cinco) anos.
c) caberá ao Estado a prioridade de direito na escolha do
gênero de instrução que será ministrada a seus filhos; 10. (FGV — 2019) Segundo o Estatuto do Idoso, as insti-
d) todo ser humano tem direito a receber dos tribunais tuições de educação superior ofertarão às pessoas
nacionais competentes remédio efetivo para os atos idosas, na perspectiva da educação ao longo da vida,
que violem os direitos fundamentais que lhe sejam cursos e programas de:
reconhecidos pela Constituição ou pela lei;
e) todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito a) profissionalização;
de procurar e de gozar asilo em outros países, mesmo b) graduação;
em caso de perseguição legitimamente motivada por c) aperfeiçoamento;
crimes de direito comum ou por atos contrários aos d) especialização;
objetivos e princípios das Nações Unidas. e) extensão.

7. (FGV — 2022) Após a Segunda Guerra Mundial, mais pre- 11. (FGV — 2015) Segundo preceito contido no Estatuto
cisamente em 10 de dezembro de 1948, foi proclamada do Idoso (Lei nº 10.741, de 2003), fica assegurada a
a Declaração Universal dos Direitos Humanos, reconhe- gratuidade dos transportes coletivos públicos urbanos
cendo a dignidade como direito a toda categoria humana, e semiurbanos, exceto nos serviços seletivos e espe-
além de outros direitos iguais e inalienáveis cujo funda- ciais, quando prestados paralelamente aos serviços
mento é a liberdade e a justiça. Assim sendo, tendo por regulares aos maiores de:
norte a aludida Declaração e a nossa Constituição da
República de 1988, analise os tópicos a seguir. a) 55 (cinquenta e cinco) anos;
b) 60 (sessenta) anos;
I. Segundo prescreve a Declaração Universal dos Direi- c) 65 (sessenta e cinco) anos;
tos Humanos, de 1948, todos os homens nascem d) 70 (setenta) anos;
livres e iguais em dignidade e direito. Dotados de razão e) 75 (setenta e cinco) anos.
e consciência, devem agir uns para com os outros em
espírito de fraternidade. 12. (FGV — 2014) Sebastiana Camargo, 66 (sessenta e
II. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seis) anos, ajuizou ação de indenização em face de
determinado dispositivo, estabelece que ninguém AUTO ÔNIBUS ALVORECER LTDA, empresa de trans-
pode ser exilado. porte urbano, aduzindo, em resumo, que foi impedida
III. No ordenamento constitucional brasileiro vigente, o prin- de embarcar no coletivo da Ré por não portar identifi-
cípio do primado do trabalho é a base da ordem social. A cação do RIOCARD, embora tenha apresentado a sua
falta de trabalho (direito social) afeta a igualdade entre os carteira de identidade, a qual, no seu entender, seria
homens, dando azo às desigualdades sociais. suficiente para demonstrar a sua condição de idosa e
IV. A Declaração Universal prevê a possibilidade de que autorizar o ingresso gratuito no veículo.
toda pessoa tem o direito de abandonar o país em que Contestou a empresa ré o pedido, argumentando que
se encontra e o direito de retornar ao seu país. não haveria ilegalidade na exigência de apresentação
V. Toda pessoa individual tem direito à propriedade, a do cartão RIOCARD, porque este procedimento bus-
coletiva não, conforme consta da Declaração Univer- ca racionalizar o sistema e evitar fraudes, sem ferir o
sal dos Direitos Humanos. direito à gratuidade dos idosos.

Está correto somente o que se afirma em: Considerando o caso acima exposto, é correto afirmar
que:
a) I, II e IV;
b) I, II e V; a) aos maiores de 65 anos fica assegurada a gratuidade
c) I, III e IV; dos transportes coletivos públicos urbanos, semiurba-
d) II, III e IV; nos, nos serviços seletivos e especiais;
e) II, III e V. b) aos maiores de 65 anos fica assegurada a gratuidade
nos transportes coletivos públicos de qualquer natu-
8. (FGV — 2015) O Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003) reza, mediante apresentação do cartão de gratuidade,
destina-se a regular os direitos assegurados às pes- que servirá de prova de sua condição de idoso;
soas com idade igual ou superior a: c) considerando que o intuito do legislador foi a facilita-
ção e a promoção do acesso aos meios de transporte
a) 55 (cinquenta e cinco) anos; aos idosos portadores de doenças crônicas, é lícito
b) 60 (sessenta) anos; que deles se exija a apresentação do cartão RIOCARD,
c) 65 (sessenta e cinco) anos; com vistas a evitar fraudes;
d) 70 (setenta) anos; d) é garantida aos maiores de 65 anos a gratuidade nos
e) 75 (setenta e cinco) anos. transportes coletivos públicos urbanos e semiurba-
nos, condicionada apenas à apresentação de docu-
mento pessoal que comprove a idade do passageiro;
80
e) é garantida aos maiores de 65 anos a gratuidade nos 15. (FGV — 2019) O Estatuto da Pessoa com Deficiência
transportes coletivos públicos urbanos e semiurba- (Lei nº 13.146, de 15), ao tratar da questão da igualda-
nos, limitado o seu exercício a 60 viagens ao mês, que de e da não discriminação, estabelece que:
são fiscalizadas a partir da apresentação do cartão
RIOCARD. a) a deficiência afeta a plena capacidade civil da pessoa,
inclusive para exercer direitos sexuais e reprodutivos;
13. (FGV — 2022) “Considera-se pessoa com deficiência b) a pessoa com deficiência não está obrigada à fruição
aquela que tem impedimento de longo prazo de natu- de benefícios decorrentes de ação afirmativa;
reza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em c) a pessoa com deficiência não pode exercer diretamen-
interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir te o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção;
sua participação plena e efetiva na sociedade em d) os profissionais da área de saúde devem promover a
igualdade de condições com as demais pessoas”. esterilização compulsória da pessoa com deficiência;
e) a deficiência não compromete a plena capacidade
(Art. 2 da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, civil da pessoa, exceto para casar-se e constituir união
2015.) estável.

Com base no conceito de “pessoa com deficiência” 16. (FGV — 2019) As afirmativas a seguir exemplificam
referido acima, leia as práticas descritas a seguir: corretamente iniciativas adotadas para tornar o
1. Providenciar rampas, banheiros adaptados, platafor- ambiente escolar um espaço inclusivo, de acordo com
mas elevatórias, piso tátil, entre outros. as orientações da Lei nº 13.146/2015, à exceção de
2. Implantar processos de diversificação curricular, flexi- uma. Assinale-a.
bilização do tempo e formas de conceber a aprendiza-
gem e a avaliação. a) O aluno surdo precisa ser incluído em uma classe com
seus pares, para treinar a linguagem dos sinais.
Essas práticas atendem, respectivamente, aos seguin- b) O aluno cego precisa de material em Braille, além de
tes tipos de acessibilidade: marcações no piso para seu percurso.
c) O aluno com síndrome de Down necessita de ativida-
a) instrumental e atitudinal. des multissensoriais e que ativem a motricidade.
b) arquitetônica e metodológica. d) O aluno hiperativo precisa de atendimento individuali-
c) pedagógica e programática. zado com regras claras.
d) comunicacional e instrumental. e) O aluno com paralisia cerebral necessita de recursos
e) física e tecnológica. pedagógicos adaptados para suas capacidades.

14. (FGV — 2019) O adolescente Pedro, pessoa com defi- 17. (FGV — 2017) Em 2018, Ana cursará o 1º período da
ciência, acompanhado de seus pais, compareceu à graduação em nutrição em uma universidade privada.
Secretaria de Educação do Município Alfa e solicitou Ana é surda e necessita de tradutor e intérprete da
a concessão de certos mecanismos de tecnologia LIBRAS para o acompanhamento das aulas.
assistiva. Esses mecanismos se mostravam neces-
sários para a superação de algumas barreiras que Diante da situação e de acordo com a Lei nº 13.146/2015,
se apresentavam para o desenvolvimento do pleno a universidade em que Ana estudará, deverá:
aprendizado de Pedro no âmbito da escola pública
municipal em que se encontrava matriculado. a) contratar um intérprete e tradutor da LIBRAS, aumen-
tando em 20% do valor da mensalidade da escola;
À luz da ordem jurídica vigente, é correto afirmar que b) contratar profissional titulado em nível superior com habi-
Pedro: litação em tradução e interpretação em LIBRAS, repas-
sando 20% dos gastos com a contratação para Ana;
a) não tem direito à obtenção de mecanismos dessa c) contratar intérprete e tradutor da LIBRAS que possua
natureza, já que a encampação, pela Administração nível superior, com habilitação, prioritariamente, em
Pública, de evoluções tecnológicas, configura faculda- Tradução e Interpretação em LIBRAS, sendo vedada
de, não obrigação, sendo matéria estranha à proteção qualquer cobrança adicional à Ana;
das pessoas com deficiência. d) contratar intérprete e tradutor da LIBRAS que possua
b) não tem direito à obtenção de mecanismos des- o ensino médio concluído, e curso de Tradução e Inter-
sa natureza, pois a Administração Pública somente pretação em LIBRAS, sendo vedada qualquer cobran-
tem a obrigação de afastar as barreiras urbanísticas, ça adicional à Ana;
arquitetônicas, nos transportes, nas comunicações e e) solicitar que Ana e sua família providenciem o tradutor
atitudinais. e intérprete da LIBRAS para o acompanhamento das
c) tem direito à obtenção de mecanismos dessa nature-
DIREITOS HUMANOS

aulas.
za, se necessários à ampliação de suas habilidades
funcionais, sendo que a recusa de fornecimento é con- 18. (FGV — 2019) A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
siderada discriminação em razão da deficiência. com Deficiência estabelece que em todas as áreas de
d) não tem direito à obtenção de mecanismos dessa estacionamento aberto ao público, de uso público ou
natureza, pois a Administração Pública somente tem privado de uso coletivo e em vias públicas, devem ser
a obrigação de afastar as barreiras urbanísticas, arqui- reservadas vagas próximas aos acessos de circulação
tetônicas e negacionistas. de pedestres, devidamente sinalizadas, para veículos
e) tem direito à obtenção de tecnologias assistivas, que que transportem pessoa com deficiência com com-
abrangem as adaptações e as modificações em cons- prometimento de mobilidade, desde que devidamente
truções e estruturas, as quais ostentam caráter inclu- identificados.
sivo da pessoa com deficiência.
81
Nesse contexto, a mencionada lei dispõe que: Após visitar as salas de aula, com a ajuda dos alunos,
foi produzida uma cartilha com a ilustração a seguir.
a) os veículos estacionados nas vagas reservadas não
Ressaltos, desníveis ou
podem ser obrigados a exibir, em local de ampla visi- 1 2 obstáculos (palco) no piso
Portas e portões estreitos
bilidade, a credencial de beneficiário, a ser confeccio- das salas onde funcionam
as seções eleitorais
nada e fornecida pelos órgãos de trânsito, para não
serem estereotipados;
b) as citadas vagas devem equivaler a 2% (dois por cen- 1
to) do total, garantida, no mínimo, 1 (uma) vaga devida-
mente sinalizada e com as especificações de desenho
e traçado de acordo com as normas técnicas vigentes 3
de acessibilidade;
c) as frotas de empresas de táxi devem reservar 1% (um 2
por cento) de seus veículos acessíveis à pessoa com
Fios da urna
deficiência e os veículos que estejam efetivamente 3 eletrônica não
transportando pessoa com deficiência terão priorida- fixados

de nas citadas vagas;


d) a cobrança diferenciada de tarifas ou de valores adi-
Sobre os direitos da pessoa com deficiência, de acor-
cionais pelo serviço de táxi prestado à pessoa com
do com os princípios básicos da Lei nº 13.146, de 15,
deficiência é permitida, com o escopo de assegurar e
assinale a opção que apresenta a sugestão dos alu-
custear as adaptações tecnológicas necessárias nos
nos que está correta.
veículos;
e) o poder público deve fomentar o aumento do núme-
a) A cadeira de rodas não passa pela porta, então é melhor
ro dos veículos acessíveis à pessoa com deficiência
orientar o eleitor cadeirante a votar em outra escola.
nas frotas de empresas de táxi, mas não pode insti-
b) A sala deve ser modificada, porque o acesso com
tuir incentivos fiscais com vistas a possibilitar tal
autonomia à urna é fundamental para o eleitor cadei-
acessibilidade.
rante exercer a cidadania.
c) Os degraus ou desníveis impedem o eleitor com mobi-
19. (FGV — 2022) O Estatuto da Pessoa com Deficiência
lidade reduzida acessar a urna, o que os obriga a justi-
estabelece que a acessibilidade é direito que garante
ficar o voto.
à pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida
d) Os mesários devem levantar o cadeirante para ele che-
viver de forma independente e exercer seus direitos de
gar até a mesa da urna, porque a urna ficou fora do seu
cidadania e de participação social.
alcance.
e) A cadeira de rodas, devido ao degrau, ficou muito afas-
Sobre as normas e critérios aplicáveis às zonas urba- tada da urna eletrônica, o que obriga o eleitor cadeiran-
nas visando à promoção da acessibilidade, assinale te a trazer de casa uma rampa para alcançá-la.
(V) para a afirmativa verdadeira e (F) para a falsa.

( ) Os semáforos para pedestres instalados em vias 9 GABARITO


públicas de grande circulação devem estar equipados
com mecanismo que emita sinal sonoro suave para 1 A
orientação do pedestre.
( ) Na concepção e implantação de projetos que tratem 2 E
do meio físico urbano em que a adaptação razoável
não possa ser empreendida, deve ser adotado o dese- 3 D
nho universal. 4 A
( ) Na construção de edifícios públicos, pelo menos um
dos acessos ao interior da edificação deverá estar 5 E
livre de barreiras arquitetônicas que dificultem a aces-
sibilidade de pessoa portadora de deficiência. 6 D

7 C
As afirmativas são, respectivamente,
8 B
a) F, V e F.
b) V, V e V. 9 A
c) V, F e V. 10 E
d) V, F e F.
e) F, F e V. 11 C

20. (FGV — 2019) A diretora de uma escola aproveitou as 12 D


eleições municipais para convidar a mãe de um aluno 13 B
cadeirante para conversar com os alunos do 9º ano
sobre o direito à acessibilidade e a dificuldade que as 14 C
pessoas com deficiência têm de exercê-lo.
15 B

16 D

82
17 C

18 B

19 C

20 B

ANOTAÇÕES

DIREITOS HUMANOS

83
ANOTAÇÕES

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