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ESTATUTO DA CRIANÇA E DO

Por Bruna Daronch


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SUMÁRIO

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS.........................................................................................................................3
2 SISTEMAS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS DAS CRIANÇAS E DOCUMENTOS INTERNACIONAIS....5
2.1 DOCUMENTOS INTERNACIONAIS:...........................................................................................................6
2.1.1 Convenções da OIT de 1919 (02 Convenções):......................................................................................6
2.1.2 Declaração de Genebra de 1924 (Carta da Liga):...................................................................................6
2.1.3 Declaração dos Direitos da Criança de 1959:........................................................................................7
2.1.4 Convenção Sobre Direitos da Criança de 1989 (Nova Iorque):...............................................................7
2.2 DOCUMENTOS NACIONAIS:....................................................................................................................8
2.2.1 Código de Melo Matos de 1927:...........................................................................................................8
2.2.2 Código de Menores de 1979:................................................................................................................8
2.2.3 Constituição Federal de 1988:..............................................................................................................8
2.2.4 Estatuto da Criança e do Adolescente:...............................................................................................12
3 DISPOSIÇÕES PRELIMINARES DO ECA..........................................................................................................13
3.1 DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL:...................................................................................................14
3.2 DEFINIÇÃO DE CRIANÇA E ADOLESCENTE:.............................................................................................14
3.3 DIFERENÇA DE TRATAMENTO ENTRE CRIANÇA E ADOLESCENTE:...........................................................14
3.3.1 Colocação em Família Substituta:.......................................................................................................14
3.3.2 Consequências pela Prática de Atos Infracionais:...............................................................................14
3.3.3 Viagens Nacionais:.............................................................................................................................15
4. PRINCÍPIOS NORTEADORES DO ECA:...........................................................................................................15
2.1 PRINCÍPIO DA PRIORIDADE ABSOLUTA:...........................................................................................15
2.2 PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL:...............................................................................................16
2.3 PRINCÍPIO DO SUPERIOR INTERESSE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE:...........................................16
2.4 PRINCÍPIO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE COMO PESSOAS EM DESENVOLVIMENTO:..................18
5. DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO...............................................................................................18
6. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA...........................................................................................................................18
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ATUALIZADO EM 23/10/2022

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O direito da criança e do adolescente é um direito misto, porque ele não é só público e nem é só
privado. É ramo que tem autonomia, porquanto tem sua principiologia própria.

O direito da criança e do adolescente foi introduzido no Brasil a partir da Constituição Federal de 1988.
Com o ECA, o direito da criança e do adolescente se consolidou, mas não foi o ECA o seu marco inicial, tendo em
vista que foi a partir da CF/88 que se adotou a doutrina da proteção integral.

Antes da CF/88 não tínhamos o direito da criança e do adolescente, o que havia era o chamado direito
menorista (direito do menor infrator/abandonado, figura estigmatizada).

A doutrina da proteção integral é o atual paradigma legislativo (CF/88 e ECA). Nesse paradigma as
crianças e adolescente são sujeitos de direitos. A doutrina da proteção integral, considerando a qualidade de
pessoas em desenvolvimento, confere prioridade absoluta à criança e ao adolescente. A regra de ouro é o
superior interesse da criança e do adolescente, que é encarado como um metaprincípio ou postulado normativo
do ECA.

Antigamente, o paradigma legislativo que vigorava no Brasil era o da doutrina da situação irregular.
Nesse paradigma as crianças e adolescentes eram tratados como objeto de proteção (e não necessariamente
sujeito de direitos). Havia uma centralização das medidas socioeducativas na figura do Juiz, bem como
discriminação (estigmatização) do “protegido”. O Estado podia privar a liberdade desses infantes sem um devido
processo legal, fundamentando-se, apenas, na “situação irregular”.

Atualmente temos que quando os direitos da criança e do adolescente são inobservados, não se pode
dizer que a criança ou o adolescente se encontra em situação irregular. Quem estará em situação irregular será
a família, a sociedade ou o Estado.

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As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de
diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos,
porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do
material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas
jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos
eventos anteriormente citados.
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#SELIGANATABELA
DIREITO DO MENOR DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
 Doutrina da situação irregular.  Doutrina da proteção integral.
 O menor era objeto de proteção (recipiente  A criança e o adolescente são sujeitos de direitos.
passivo). Têm os mesmos direitos dos adultos, além de outros
 Código de Menores de 1979. específicos.
 Pessoas em condição de desenvolvimento, fazendo
jus a uma prioridade absoluta, necessitando-se
observar em relação a elas o superior interesse.
 Constituição Federal de 1988 e, posteriormente, a
Lei nº 8.069/1990 (ECA).

Portanto, o direito da criança e do adolescente é a disciplina das relações jurídicas entre crianças e
adolescente de um lado e do outro a família, a sociedade e o Estado.

Família

CRIANÇAS E
Sociedade
ADOLESCENTES

Estado

Nesse sentido clara é a leitura do art. 227 da CF/88.

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura,
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

O art. 227 da CF contém verdadeiros deveres jurídicos atribuídos à família, à sociedade e ao Estado.

#IMPORTANTE: A absoluta prioridade tem que refletir nas decisões judiciais, administrativas e políticas. Desse
modo, a teoria da reserva do possível não pode ser oposta contra direitos das crianças e adolescentes, tendo em
vista que por expressa previsão constitucional, o Estado deve tratar tais direitos com absoluta prioridade
(prioridade das prioridades).
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O conceito de criança e de adolescente foi dado pelo ECA, levando-se em consideração um critério
etário. Assim, criança é a pessoa que tem de 0 a 12 anos incompletos. Já o adolescente é a pessoa que tenha
entre 12 e 18 anos.

No entanto, o ECA é aplicado excepcionalmente às pessoas que tenham entre 18 e 21 anos de idade.
São apenas 2 aplicações excepcionais, quais sejam:

A) aplicação e execução de medidas socioeducativas, desde que tenha praticado ato infracional
enquanto ainda era adolescente.

#IMPORTANTE: Conforme decisão proferida em sede de Proposta de Afetação ao Rito dos Recursos Repetitivos
no Recurso Especial de nº 1.705.149, do Rio de Janeiro, o Superior Tribunal de Justiça suspendeu o curso de
todos os processos pendentes que versem sobre cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto por
maior de 18 (dezoito) anos.

*#ATENÇÃO: Esse repetitivo, firmado sob o Tema 992 2, teve julgamento finalizado, sendo firmada a seguinte
tese: A superveniência da maioridade penal não interfere na apuração de ato infracional nem na
aplicabilidade de medida socioeducativa em curso, inclusive na liberdade assistida, enquanto não atingida a
idade de 21 anos.

* #SELIGANASÚMULA: Súmula 605-STJ: A superveniência da maioridade penal não interfere na apuração de ato
infracional nem na aplicabilidade de medida socioeducativa em curso, inclusive na liberdade assistida, enquanto
não atingida a idade de 21 anos. STJ. 3ª Seção. Aprovada em 14/03/2018, DJe 19/03/2018.

B) A competência na ação de adoção, quando o adotando já estava sob a tutela ou a guarda legal do
adotante. Isso porque o processo de adoção de crianças e adolescentes é da competência da vara da infância e
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CASO CONCRETO DO JULGADO: A despeito da maioridade civil (18 anos) adquirida posteriormente, o agente
era menor de idade na data em que cometeu o ato infracional análogo ao delito tipificado nos arts. 35, caput,
c/c o 40, IV, ambos da Lei n. 11.343/2016, portanto se faz possível o cumprimento da liberdade assistida
cumulada com prestação de serviços à comunidade até os 21 anos de idade nos termos da Lei n. 8.069/1990
(Súmula 605/STJ). 4. Recurso especial provido para, ao cassar o acórdão a quo, determinar o imediato
prosseguimento da execução da medida protetiva em desfavor do recorrido - medida socioeducativa de
liberdade assistida cumulada com prestação de serviços à comunidade - ou até que seja realizada a audiência de
reavaliação da medida, consoante o disposto neste voto. Acórdão submetido ao regime do art. 1.036 e
seguintes do Código de Processo Civil/2015 e da Resolução STJ n. 8/2008. (REsp 1717022/RJ, Rel. Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/06/2018, DJe 13/08/2018)
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da juventude, enquanto que o processo de adoção de adulto é da competência da vara de família, mas
tratando-se de processo de adoção de adulto (entre 18 e 21 anos de idade) que já estava sob a tutela ou guarda
legal do adotante, a competência será mantida na vara da infância e da juventude.

#VALELEMBRAR: A CF/88 também confere a absoluta prioridade ao jovem, e, no ano de 2013, foi aprovado o
Estatuto da Juventude (LEI Nº 12.852, DE 5 DE AGOSTO DE 2013). Jovem é a pessoa que tenha entre 15 e 29
anos de idade. Portanto, temos o jovem adolescente (dos 15 aos 18 anos incompletos) e o jovem adulto (dos 18
aos 29 anos).

2 SISTEMAS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS DAS CRIANÇAS E DOCUMENTOS INTERNACIONAIS

O caso da menina americana Mary Ellen Wilson (EUA – 1874), que é uma triste história de maus tratos,
foi o marco que despertou para a necessidade de desenvolvimento de sistemas de proteção dos direitos
humanos das crianças.

Mary Ellen foi encontrada por assistentes sociais amarrada a sua cama, doente, desnutrida, e com
queimaduras e cicatrizes aparentes. Nessa época vigia a realidade da “situação irregular” que conferia totais
poderes aos pais para que fizessem com os filhos o que bem entendessem. Diante disso, foram utilizados os
direitos dos animais para mostrar que se até mesmo os animais fazem jus a proteção, não devendo ser mau
tratados, com maior razão ainda não se poderiam aceitar maus tratos às crianças e adolescentes, como seres
humanos.

Os sistemas de proteção dos direitos humanos das crianças se classificam em:

A) homogêneo → documentos internacionais gerais que fazem referência à criança como faz de igual
forma para vários outros grupos (ex.: declaração universal dos direitos humanos que é direcionada a todo ser
humano, e faz remissão às crianças de forma geral, e não específica), sendo, assim, um sistema marcado pela
universalidade.

B) heterogêneo → documentos internacionais que são direcionados especificamente à criança (ou a


uma determinada minoria). Trata-se de proteção diferenciada/específica (ex.: convenção de Nova Iorque –
1989, também chamada de convenção da ONU sobre os direitos da criança).

Os documentos aqui estudados serão os ligados ao sistema heterogêneo, voltados especificamente à


minoria formada pelos sujeitos criança e adolescentes. Quando se fala em minoria não se está falando em
pequena parcela (“pouca gente”), mas sim em um grupo de pessoas que precisa de uma atenção especializada
(ou proteção diferenciada).
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2.1 DOCUMENTOS INTERNACIONAIS:

2.1.1 Convenções da OIT de 1919 (02 Convenções):

Foram aprovadas 06 convenções, sendo 02 direcionadas aos direitos trabalhistas das crianças:

 Convenção sobre a idade mínima para trabalho.


 Convenção sobre o horário de trabalho e proibição de exercício de algumas atividades por crianças.

Essas duas convenções da OIT foram os primeiros documentos internacionais específicos sobre direitos
da criança.

2.1.2 Declaração de Genebra de 1924 (Carta da Liga):

Foi redigida pela associação inglesa “salve as crianças” no pós 1ª guerra mundial, no contexto da
preocupação com os órfãos da guerra. Em seguida foi aprovada pela liga das nações, tendo sido a proposta
apresentada pela delegação chilena. Contexto dos horrores da 1ª guerra mundial.

Documento que já reconhecia a vulnerabilidade das crianças, embora ainda as considerasse como
objeto de proteção.

2.1.3 Declaração dos Direitos da Criança de 1959:

Buscando maior especificação dos direitos das crianças, após o advento da declaração universal dos
direitos do homem.

Ratificou o reconhecimento da vulnerabilidade e inovou trazendo as crianças como sujeitos de direitos,


mas foi uma mera declaração, portanto não era exigível. Faltava coercibilidade (possibilidade de exigir o
cumprimento).

Lamentavelmente, o Brasil não adotou a declaração dos direitos da criança (1959), uma vez que em
1979 lançou o código de menores mantendo a doutrina da situação irregular.

2.1.4 Convenção Sobre Direitos da Criança de 1989 (Nova Iorque):


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Não faz distinção entre criança e adolescente. Trata todos como crianças. Até 18 anos é criança,
deixando ressalvada a legislação de cada País.

Reafirma os termos da declaração dos direitos da criança (1959), pregando que elas são sujeitos de
direitos e já traz a possibilidade de exigir o cumprimento dos termos, devendo os Estados remeterem relatórios
à ONU.

Atente-se para o fato de que o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) teve por inspiração o texto
da convenção sobre os direitos da criança de 1989 e a Constituição Federal de 1988.

É o documento de maior relevância acerca do assunto, vez que além de reconhecer a criança como
sujeito de direito, possui força cogente em relação aos Estados que aderirem ao seu texto. Também é o
documento com o maior número de adesões e ratificações dentre todos os demais textos internacionais.

O Comitê sobre os direitos da criança, que tem por função o recebimento de relatórios encaminhados
pelos Estados, a cada 5 (cinco) anos, relatando os casos de cumprimento e de descumprimento dos termos da
Convenção.

Por meio da ratificação se dá a adesão ao documento no plano internacional e, a partir da promulgação,


o Brasil se obriga internamente ao cumprimento do seu conteúdo.

Como convenção de direitos humanos, submete-se ao § 3º do artigo 5º, da Constituição Federal. Porém,
considerando que sua promulgação ocorreu em data anterior ao texto acrescentado ao referido parágrafo 3º,
conforme entendimento pacífico do STF, tem o status supralegal. Portanto, essa convenção sobre os direitos da
criança tem status de supralegalidade.

O art. 3º traz a regra de ouro consistente no princípio do superior interesse da criança (prioridade
absoluta). Assim, qualquer decisão judicial, administrativa ou legislativa passa a ter a obrigatoriedade de levar
em consideração o superior interesse da criança.

O Brasil ratificou a Convenção sobre os Direitos da Criança em 24/09/1990 e foi promulgada pelo
Decreto 99.710/90, em 21/11/1990. O Estatuto de Criança e do Adolescente é de 13/07/90. Portanto, a
ratificação da Convenção foi depois da promulgação do ECA.
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2.1.5 Protocolo Facultativo sobre a Venda de Crianças, Prostituição e Pornografia Infantil - 2002
(Decreto n. 5.007/2004)

O Protocolo costuma abordar temas mais polêmicos e específicos, de menor adesão, como forma de
não prejudicar a adesão dos países ao texto da Convenção. O Protocolo tem uma relativa autonomia em
relação ao Tratado ou à Convenção.
O Brasil promulgou esse Protocolo por meio do Decreto 5.007/2004. Então, o Brasil está obrigado
internamente e também no plano internacional a cumprir o conteúdo desse protocolo facultativo sobre a
Venda de Crianças, Prostituição e Pornografia Internacional. Por esse Protocolo, exige que os Estados
trabalhem em cooperação internacional, coibindo a venda de crianças, a prostituição e pornografia infantil,
notadamente pela internet.

2.1.6 Protocolo Facultativo sobre o Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados - 2002 (Decreto
n. 5.006/2004).

O Brasil também ratificou esse Protocolo Facultativo, através do Dec. 5.006/2004.

2.1.7 Protocolo Facultativo das Comunicações, Denúncias ou Petições Individuais - 2011

Esse Protocolo Facultativo é revolucionário, porque permite que a própria criança faça uma
comunicação ao Comitê dos Direitos da Criança quando da ocorrência de violações aos seus direitos no seu
Estado, isto é, o descumprimento da Convenção sobre os seus direitos.
*(Atualizado em 23/10/2022) No Brasil, ainda não houve a incorporação deste Protocolo. Já temos o
Decreto Legislativo nº 85/2017, por intermédio do qual o Congresso Nacional aprovou o texto. Contudo, ainda
faltam a ratificação e Decreto Presidencial

#RECORDARÉVIVER #OLHAOGANCHO: Nesse sentido, Flávia Piovesan afirma que “basta o ato de ratificação
(antecedido da assinatura do tratado e de sua aprovação pelo Poder Legislativo) para que o tratado de direitos
humanos tenha aplicabilidade nos âmbitos internacional e interno”.

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: Essa é a posição do STF? NÃO!!!! Decerto, a dispensa do Decreto


presidencial está em consonância com princípios como o da máxima efetividade das normas constitucionais e
o da interpretação sistemática. Entretanto, essa não é a posição acolhida pelo STF, que continua entendendo
que a emissão do Decreto Presidencial é o ato final do processo de incorporação do tratado. No julgamento da
CR-AgR 8.279/AT, o STF não reconheceu nem o PRINCÍPIO DO EFEITO DIRETO (aptidão de a norma
internacional repercutir desde logo na esfera de particulares) nem o da APLICABILIDADE IMEDIATA (diz
respeito à vigência automática da norma na ordem interna).
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2.1.8 Doutrina das Nações Unidas de Proteção Integral à Infância

Temos três documentos internacionais importantes, que se chamam de documentos da “Doutrina da


Proteção Integral à Infância”.
Por que recebe o nome de “doutrina”? Porque são regras, diretrizes, isto é, são quase como
declarações, que não geram força cogente. Têm um papel de inspirar as legislações e as políticas públicas.

a) Regras de Beijing – São Regras Mínimas para a Administração da Justiça da Infância e Juventude - 1995
Incluem-se entre as regras mínimas da Justiça da Infância e Juventude: devido processo legal,
presunção de inocência, defesa técnica, assistência judiciária, etc.

b) Diretrizes de Riad - Prevenção da Delinquência Juvenil - 1990


Estabelecem diretrizes aos Estados com o fito de impedir a delinquência juvenil.

c) Regras Mínimas para a Proteção de Jovens Privados de Liberdade - 1990


Preconiza o respeito aos direitos fundamentais básicos dos jovens privados de liberdade, em função da
condição peculiar de pessoas em desenvolvimento, tais como acesso à educação, cultura, liberdade de crença,
a profissionalização, a participação política etc.
De acordo com as perspectivas fundamentais deste diploma, o sistema de justiça da infância e da
juventude não deve economizar esforços para abolir, na medida do possível, a prisão de jovens.

2.2 DOCUMENTOS NACIONAIS:

2.2.1 Código Mello Matos de 1927:

Até o início do século XVI, vigia a Fase da Absoluta Indiferença, onde não havia normas tutelares dos
direitos de crianças ou adolescentes. Em seguida veio a Fase da Mera Imputação Penal, em que as leis tinham o
único propósito de coibir a pratica de ilícitos por aquelas pessoas (Ordenações Afonsinas e Filipinas, Código
Criminal do Império de 1830, Código Penal de 1890).

Com a edição do Código Mello Matos, inicia-se a Fase Tutelar, mantida pelo Código de Menores de 79.
A ideia era que o Estado pudesse tutelar o menor. Adotou-se a teoria da "situação irregular". Surge a expressão
"menor", que identifica o abandonado com o delinquente. Juiz atuava como um "pai de família" com poderes
amplos.

2.2.2 Código de Menores de 1979:


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O objetivo primordial do Código de 1979 foi promover a proteção de crianças e adolescentes em
situação irregular, assistencialismo e práticas segregatórias. Manteve-se a fase tutelar.
Adotou (retrogradamente) a doutrina da situação irregular. A doutrina amplamente majoritária
considera que o código de menores de 1979 foi uma infeliz opção do legislador, haja vista que já existia desde
1959 uma declaração dos direitos da criança que as reconhecia como sujeitos de direitos.

2.2.3 Constituição Federal de 1988:

#VALEALEITURA #COLANARETINA: Arts. 227 e 228.

O art. 227 se trata de uma declaração nacional de direitos da criança, do adolescente e do jovem. Desse
artigo emana o dever jurídico da família, sociedade e Estado de assegurar às crianças (0 a 12 anos incompletos)
e adolescentes (12 a 18 anos), com absoluta prioridade, a observância dos seus direitos fundamentais.

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura,
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Por sua vez, o art. 228 trata da garantia da inimputabilidade penal das crianças e adolescentes.

Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial.

#CUIDADO: Prevalece na doutrina o entendimento de que a inimputabilidade penal dos menores de 18 anos se
trata de direito fundamental, portanto, cláusula pétrea, sendo, assim, imodificável.

#APROFUNDANDO #INDOALÉM: Temos aqui um tema de extrema importância, principalmente para a sua
prova dissertativa: possibilidade ou não de redução da maioridade penal.

Ao abordar o tema, você deverá ressaltar a existência de posição contrária e posição favorável à redução da
maioridade penal.

A primeira problemática sobre o assunto refere-se à divergência de se considerar ou não o art. 228 como
cláusula pétrea. O art. 60, § 4º, IV, da Constituição, prevê que não será objeto de deliberação a proposta de
emenda tendente a abolir os direitos e garantias individuais.

Apesar de posições em contrário, o melhor entendimento para provas de Defensoria Pública que a norma se
trata de cláusula pétrea, não podendo ser abolida do texto constitucional. Assim, eventual redução da
12
maioridade penal iria violar o art. 60, § 4º, IV, da Constituição Federal, a qual prevê que não será objeto de
deliberação a proposta de emenda tendente a abolir os direitos e garantias individuais, ferindo-se, inclusive, o
princípio da vedação do retrocesso social.

Levando-se em consideração as diretrizes internacionais e constitucionais abordadas até o presente momento,


analisando-se a doutrina da proteção integral e a condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, toda
interpretação constitucional deveria levar em consideração o superior interesse da criança e do adolescente.

Já se comprovou cientificamente que, antes dos dezoito anos de idade, ainda não há completa formação das
estruturas físico-químicas cerebrais responsáveis pela formação plena da razão. Consequentemente, o
indivíduo, que se encontra em uma etapa da vida de grande turbulência hormonal, embora conheça da
tipicidade da conduta e saiba das consequências de sua prática, age por impulso, tendo dificuldades para se
autodeterminar diante do comportamento proibido.3

#AGRADEOEXAMINADOR:

Em questões dissertativas vale aprofundar um pouco mais o tema, relacionando-o ao Direito Penal Simbólico,
Direito Penal de Emergência e ao Direito Penal Promocional. A introdução do argumento é muito bem exposto
por Rogério Greco: A mídia, no final do século passado e início do atual, foi a grande propagadora e divulgadora
do movimento de Lei e Ordem. Profissionais não habilitados (jornalistas, repórteres, apresentadores de
programas de entretenimento etc.) chamaram para si a responsabilidade de criticar as leis penais, fazendo a
sociedade acreditar que, mediante o recrudescimento das penas, a criação de novos tipos penais incriminadores
e o afastamento de determinadas garantias processuais, a sociedade ficaria livre daquela parcela de indivíduos
não adaptados.4

Nesse mesmo sentido, aduz nossa doutrina que predomina, após a Constituição Federal de 1988, um
movimento punitivista. Um dos motivos refere-se à potencialização da violência social por parte da mídia, o que
incentiva um estado de insegurança, de medo e de terror. Consequentemente, “cria-se a falsa ideia de ser o
direito penal um instrumento eficaz de combate à violência”5

Continua a referida doutrina aduzindo que o Brasil segue uma tendência de utilizar o direito penal com uma
função simbólica (direito penal simbólico) e promocional (direito penal promocional). Assim, usa-se um Direito
Penal de Emergência, “em que o Estado faz uso da legislação para limitar ou derrogar garantias penais e
processuais penais em busca do controle da alta criminalidade”.

3
BARBOSA, Danielle Rinaldi; SOUZA, Thiago Santos de. Direito da criança e do adolescente. Proteção, punição e garantismo.
Curitiba:Juruá, 2013, p. 22.
43
GRECO, Rogério. Direito penal do equilíbrio. Uma visão minimalista do direito penal. 6. ed. Niterói: Impetus, 2011, p. 12 e
13.
5
AZEVEDO, Marcelo André de. Direito penal – Parte Geral. GARCIA, Leonardo de Medeiros (Coord.). 2. ed. (Coleção
Sinopses para Concursos). Salvador: JusPodivm, 2011, p. 38.
13
Seguindo essa linha de raciocínio, essa função surge com sua pretensão de dar uma rápida resposta aos anseios
sociais e, com isso, muitas vezes, criminaliza condutas sem qualquer fundamento criminológico e de política
criminal, criando a ilusão de que resolverá o problema por meio da utilização da tutela penal. Se a criação da lei
penal não afeta a realidade, o direito penal acaba cumprindo apenas uma função simbólica, acarretando o nome
direito penal simbólico.

Assim, é importante defender que o combate à violência não deve partir do direito penal, mas sim de políticas
públicas eficientes e políticas criminais adequadas.

Deve-se levar em consideração a doutrina da proteção integral e o princípio da prioridade absoluta, garantindo-
se direitos fundamentais (mínimo existencial), e políticas públicas eficazes em prol das crianças e adolescentes,
possibilitando, por exemplo, o direito fundamental à educação (acesso a creches e escolas), o direito à saúde
(tratamento médico, alimentação), bem como o direito fundamental à moradia e ao lazer.

Porém, devemos ir além da vaga garantia de políticas públicas e direitos fundamentais. As políticas públicas
devem ser estratégicas e precisam considerar os grupos de vulneráveis. O ideal são políticas com base em
estudos sólidos, incluindo e promovendo as crianças e os adolescentes na vida social.

Como prelecionam as Diretrizes de RIAD, é necessário que se reconheça a importância da aplicação de políticas
e medidas progressistas de prevenção da delinquência que evitem criminalizar e penalizar a criança por uma
conduta que não cause grandes prejuízos ao seu desenvolvimento e que nem prejudique os demais.

Ademais, deverão ser elaborados planos de prevenção, em todos os níveis de governo, que favoreçam à
socialização e à integração eficazes de todas as crianças e jovens, particularmente através da família, da
comunidade, dos grupos de jovens nas mesmas condições, da escola, da formação profissional e do meio
trabalhista, como também mediante a ação de organizações voluntárias.

Todo esse processo de socialização deve contar com o apoio de alguns atores e medidas: a) da família, que é a
unidade central encarregada da integração social primária da criança; b) do governo para facilitar o acesso ao
ensino público para todos os jovens; c) o estabelecimento de serviços e programas de caráter comunitário,
adotando e reforçando medidas de apoio baseadas na comunidade; d) os meios de comunicação, além de
garantir o acesso à informação, deverão ser incentivados a divulgar a contribuição positiva dos jovens à
sociedade.

Portanto, o que irá minimizar a criminalidade não é o direito penal. Pelo contrário, submeter um adolescente
(entre 16 e 18 anos) ao controle social formal – inclusive em penitenciárias – poderá prejudicar sua
ressocialização e desenvolvimento, estigmatizando-o e colocando-o nas misérias do processo penal.

#OLHAOGANCHO¹: De acordo com o art. 24, XV da CF, a competência para legislar sobre a proteção aos direitos
da criança e do adolescente é concorrente entre a União (norma geral), Estados (normas específicas) e
14
Municípios (interesse local). Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: XV - proteção à infância e à juventude.

#OLHAOGANCHO²: A lei que instituiu o SINASE, Lei 12.594/2012, trouxe de forma detalhada as competências de
cada ente. E permitiu que as unidades de internação fixassem, em seu regimento interno, as faltas graves,
médias e leves. Parte da doutrina entende que esta parte da lei seria inconstitucional, uma vez que não respeita
o paralelismo com a LEP, pois esta exige a edição de lei federal para a fixação de falta grave.

#OLHAOGANCHO³: O caput do art. 6º da CF consagra como um direito social a proteção à infância ( Art. 6º São
direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição).
Ressalta-se que a proteção à infância, por estar inserida nos direitos sociais, é um direito fundamental de
segunda geração, portanto, impõe ao Estado uma obrigação de fazer – direitos prestacionais. Sua
implementação deve ocorrer através das políticas públicas.

#RECORDARÉVIVER: Sempre que se falar em concretização dos direitos sociais Destacam-se três institutos:

a) Teoria da reserva do possível: atua como uma limitação à plena realização dos direitos prestacionais, tendo
em vista o custo especialmente oneroso para a realização dos direitos sociais aliado à escassez de recursos
orçamentários. Não pode ser utilizada em relação à proteção à infância;

b) Mínimo existencial: dentre os direitos sociais pode ser destacado um subgrupo menor e mais preciso de
direitos imprescindíveis a uma vida humana digna. Por ter caráter absoluto, não se sujeita à reserva do possível;

c) Vedação ao retrocesso: as medidas legais concretizadoras de direitos sociais devem ser elevadas a nível
constitucional como direitos fundamentais dos indivíduos, de modo a assegurar o nível de realização já
conquistado. Não pode haver um retrocesso, ou seja, retirar um direito que já foi consagrado.

Ainda como direito social, importante destacar o art. 7º, XXXIII da CF, que proíbe o trabalho noturno e insalubre
aos menores de 18 anos, bem como proíbe o trabalho aos menores de 16 anos e permite, na condição de
aprendiz o trabalho aos menores entre 14 e 16 anos. Veja a tabela abaixo:

#DEOLHONATABELA:
Menor de 18 anos Menor de 16 anos, a partir de 14 Menor de 14 anos
anos
Proibido trabalho insalubre e Não pode trabalhar, salvo como Não pode trabalhar, em
noturno. aprendiz. nenhuma hipótese.
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2.2.4 Estatuto da Criança e do Adolescente:

Dividido em 2 livros. A parte geral vai do art. 1º ao 85. A parte especial vai do art. 86 em diante.

Critérios de interpretação do estatuto: Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins
sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a
condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento.

Logo no art. 1º resta estampado o atual paradigma da doutrina da proteção integral. Vejamos: Art. 1º
Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente.

O art. 2º define, legalmente, a criança e o adolescente. Vejamos: Art. 2º Considera-se criança, para os
efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos
de idade.

Na sequência, os arts. 3º e 4º reiteram ser a criança e o adolescente sujeitos de direitos.

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem
prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social,
em condições de liberdade e de dignidade.
Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e adolescentes, sem
discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência,
condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e local de
moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem.

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta
prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.

Ainda merece destacar que os arts. 5º e 6º funcionam como balizas para decisões e interpretações.
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Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão,
aos seus direitos fundamentais.

Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem
comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como
pessoas em desenvolvimento.

3 DISPOSIÇÕES PRELIMINARES DO ECA

3.1 DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL:

Segundo essa doutrina, crianças e adolescentes gozam dos mesmos direitos destinados aos adultos e
tantos outros em função do estágio peculiar de pessoas em desenvolvimento físico, psíquico e moral.

3.2 DEFINIÇÃO DE CRIANÇA E ADOLESCENTE:

Criança - pessoa com até 12 (doze) anos incompletos.

Adolescente - pessoa entre 12 (doze) anos completos e 18 (dezoito) anos incompletos.

Para o Estatuto da Juventude, temos o jovem como sendo a pessoa que tem entre 15 (quinze) anos
completos e 29 (vinte e nove) anos completos (30 incompletos).

Assim, denomina-se jovem adolescente ou adolescente jovem a pessoa entre 15 (quinze) anos
completos e 18 (dezoito) incompletos, para os quais há aplicação concomitante do ECA e do Estatuto da
Juventude. Portanto, há uma dupla proteção.

Noutro quadrante, quem tem entre 18 (dezoito) anos e 29 (vinte e nove) anos será jovem ou jovem
adulto. A partir de 30 (trinta) anos, é só adulto.

3.3 DIFERENÇA DE TRATAMENTO ENTRE CRIANÇA E ADOLESCENTE:

Importante notar que na legislação internacional não existe essa distinção, considerando-se criança toda
pessoa menor de 18 (dezoito) anos de idade, como regra. Assim, não há referência a adolescente.

No entanto, o Direito Brasileiro, na própria CF/88, estabelece a distinção entre criança e adolescente.
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3.3.1 Colocação em Família Substituta:

São modalidades de família substituta - guarda, tutela e adoção. Deve a criança ser ouvida e ter sua
opinião considerada. O adolescente, por sua vez, além de ouvido e ter a opinião considerada, deve também
consentir - forma especial de capacidade civil concedida ao adolescente para tomada de decisão acerca da
colocação em família substituta.

3.3.2 Consequências pela Prática de Atos Infracionais:

Quando praticado por adolescente, o ato infracional – conduta descrita em lei como crime ou
contravenção penal – sujeita-se a regramento especial, podendo haver tanto a aplicação de medida de proteção
quanto de medida socioeducativa.

A prática de ato infracional por criança impõe a aplicação tão somente de medida de proteção.

3.3.3 Viagens Nacionais:

*Com a redação dada pela Lei. 13.812/20196, adolescentes, a partir dos 16 anos, em viagens domésticas
podem circular livremente dentro do território nacional, desacompanhadas e sem necessidade de expressa
autorização. Porém, os pais podem proibir que o adolescente viaje, comunicando as autoridades. Isso faz parte
do exercício do poder familiar.
Adolescentes menores de 16 anos, deverão obter expressa autorização judicial, salvo quando se tratar
de comarca contígua à de sua residência se na mesma unidade da Federação, ou incluída na mesma região
metropolitana ou se estiver acompanhado.

*#ATENÇÃO #NOVIDADELEGISLATIVA: Alteração do art. 83 do ECA:

Art. 83. Nenhuma criança poderá viajar para fora da comarca onde reside, desacompanhada dos pais ou
responsável, sem expressa autorização judicial.
§ 1º A autorização não será exigida quando:
a) tratar-se de comarca contígua à da residência da criança, se na mesma unidade da Federação, ou incluída na
mesma região metropolitana;
b) a criança estiver acompanhada:
1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau, comprovado documentalmente o parentesco;

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Para mais comentários sobre a lei, vide: https://www.dizerodireito.com.br/2019/03/ola-amigos-do-dizer-o-direito-
foi.html
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2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, mãe ou responsável.
§ 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais ou responsável, conceder autorização válida por dois
anos.

Lei nº 13.812, de 16.3.2019 - Institui a Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas, cria o Cadastro
Nacional de Pessoas Desaparecidas e altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do
Adolescente):
Art. 14. O art. 83 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), passa a
vigorar com as seguintes alterações:
“Art. 83. Nenhuma criança ou adolescente menor de 16 (dezesseis) anos poderá viajar para fora da comarca
onde reside desacompanhado dos pais ou dos responsáveis sem expressa autorização judicial.
§ 1º A autorização não será exigida quando:
a) tratar-se de comarca contígua à da residência da criança ou do adolescente menor de 16 (dezesseis) anos, se
na mesma unidade da Federação, ou incluída na mesma região metropolitana;
b) a criança ou o adolescente menor de 16 (dezesseis) anos estiver acompanhado:
...........................................................................................................” (NR)

#SELIGANATABELA
DIFERENÇAS DE TRATAMENTO CRIANÇA ADOLESCENTE
Colocação em Família Substituta Ser ouvida e ter sua opinião Além de ser ouvido e ter a sua
considerada. opinião considerada, deve haver
consentimento.
Consequências pela Prática de Ato Sujeita-se a medida de Sujeito à medida de proteção e a
Infracional proteção. medida socioeducativa.
Viagens Nacionais Em regra, a criança não viaja Menor de 16 anos não poderá
sozinha. viajar sozinho.

4. PRINCÍPIOS NORTEADORES DO ECA:

2.1 PRINCÍPIO DA PRIORIDADE ABSOLUTA:

É previsto no art. 227 da CF e também no art. 4º do ECA. Significa que a criança e o adolescente devem
ter primazia, quanto às ações da família, comunidade, sociedade em geral e Poder Público, na concretização dos
direitos à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Lembre-se que a garantia da
prioridade absoluta compreende: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b)
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precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na
execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas
com a proteção à infância e à juventude.

#AGRADEOEXAMINADOR: A Lei nº 10.048/2000 confere prioridade de atendimento às pessoas com deficiência,


idosos com idade superior a 60 anos, gestantes, lactantes, pessoas com crianças de colo e obesos. O
atendimento prioritário trazido nessa lei abrange repartições públicas, empresas concessionárias de serviços
públicos e instituições financeiras. O atendimento prioritário compreende não só o direito a uma fila separada.
Ele é mais amplo. Lembre-se da fórmula: TRATAMENTO PRIORITÁRIO = TRATAMENTO IMEDIATO +
TRATAMENTO DIFERENCIADO (art. 6º do Decreto nº 5.296/2004, que regulamenta a Lei nº 10.048/2000).

ATENDIMENTO PRIORITÁRIO EM SERVIÇOS DE SAÚDE DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA: atende-se à escala de


risco. Deve ser feita uma triagem prévia antes do atendimento, para saber qual paciente se encontra numa
situação de maior risco à vida e à saúde. Por exemplo: na urgência de um Hospital Público estão presentes: uma
criança com diarreia, uma pessoa com deficiência com febre e um adulto com um ataque cardíaco. Mesmo
existindo normas sobre a prioridade absoluta no atendimento da criança e do adolescente, bem como normas
tratando da prioridade de atendimento da pessoa com deficiência, é proporcional que o adulto seja atendido
primeiro.

2.2 PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL:

Na vigência do Código de Menores, vigia o a doutrina da situação irregular. O “menor” estava inserido no
binômio carência/delinquência, como subcategoria do universo infância, pois o Código de Menores marcou uma
fase de criminalização da infância pobre. Com o advento da CF/1988 e do ECA, passou a vigorar o princípio da
proteção integral. Por ele, a proteção normativa é direcionada a todas as crianças e adolescentes
indistintamente, e não apenas àqueles taxados como “em situação irregular”. Esse modelo de proteção integral
deve ser levado em consideração pela família, sociedade e Poder Público. O art. 1º do ECA prevê que o Estatuto
dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente.

2.3 PRINCÍPIO DO SUPERIOR INTERESSE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE:

Orienta o legislador e o aplicador do Direito a conferirem primazia das necessidades da criança e do


adolescente como critério de interpretação da lei, deslinde de conflitos ou mesmo para elaboração de futuras
normas.
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#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: conheça decisões judiciais em que esse princípio foi aplicado. Vejamos um
exemplo:

PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO. (1) IMPETRAÇÃO COMO SUCEDÂNEO RECURSAL,
APRESENTADA DEPOIS DA INTERPOSIÇÃO DE TODOS OS RECURSOS CABÍVEIS. IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA.
(2) QUESTÕES DIVERSAS DAQUELAS JÁ ASSENTADAS EM ARESP E RHC POR ESTA CORTE. PATENTE ILEGALIDADE.
RECONHECIMENTO. (3) LIBERDADE RELIGIOSA. ÂMBITO DE EXERCÍCIO. BIOÉTICA E BIODIREITO: PRINCÍPIO DA
AUTONOMIA. RELEVÂNCIA DO CONSENTIMENTO ATINENTE À SITUAÇÃO DE RISCO DE VIDA DE ADOLESCENTE.
DEVER MÉDICO DE INTERVENÇÃO. ATIPICIDADE DA CONDUTA. RECONHECIMENTO. ORDEM CONCEDIDA DE
OFÍCIO. 1. É imperiosa a necessidade de racionalização do emprego do habeas corpus, em prestígio ao âmbito
de cognição da garantia constitucional, e, em louvor à lógica do sistema recursal. In casu, foi impetrada
indevidamente a ordem depois de interpostos todos os recursos cabíveis, no âmbito infraconstitucional, contra
a pronúncia, após ter sido aqui decidido o AResp interposto na mesma causa. Impetração com feições de
sucedâneo recursal inominado. 2. Não há ofensa ao quanto assentado por esta Corte, quando da apreciação de
agravo em recurso especial e em recurso em habeas corpus, na medida em que são trazidos a debate aspectos
distintos dos que outrora cuidados. 3. Na espécie, como já assinalado nos votos vencidos, proferidos na origem,
em sede de recurso em sentido estrito e embargos infringentes, tem-se como decisivo, para o desate da
responsabilização criminal, a aferição do relevo do consentimento dos pacientes para o advento do resultado
tido como delitivo. Em verdade, como inexistem direitos absolutos em nossa ordem constitucional, de igual
forma a liberdade religiosa também se sujeita ao concerto axiológico, acomodando-se diante das demais
condicionantes valorativas. Desta maneira, no caso em foco, ter-se-ia que aquilatar, a fim de bem se equacionar
a expressão penal da conduta dos envolvidos, em que medida teria impacto a manifestação de vontade,
religiosamente inspirada, dos pacientes. No juízo de ponderação, o peso dos bens jurídicos, de um lado, a vida e
o superior interesse do adolescente, que ainda não teria discernimento suficiente (ao menos em termos legais)
para deliberar sobre os rumos de seu tratamento médico, sobrepairam sobre, de outro lado, a convicção
religiosa dos pais, que teriam se manifestado contrariamente à transfusão de sangue. Nesse panorama, tem-se
como inócua a negativa de concordância para a providência terapêutica, agigantando-se, ademais, a omissão do
hospital, que, entendendo que seria imperiosa a intervenção, deveria, independentemente de qualquer posição
dos pais, ter avançado pelo tratamento que entendiam ser o imprescindível para evitar a morte. Portanto, não
há falar em tipicidade da conduta dos pais que, tendo levado sua filha para o hospital, mostrando que com ela
se preocupavam, por convicção religiosa, não ofereceram consentimento para transfusão de sangue - pois, tal
manifestação era indiferente para os médicos, que, nesse cenário, tinham o dever de salvar a vida. Contudo, os
médicos do hospital, crendo que se tratava de medida indispensável para se evitar a morte, não poderiam privar
a adolescente de qualquer procedimento, mas, antes, a eles cumpria avançar no cumprimento de seu dever
profissional. 4. Ordem não conhecida, expedido habeas corpus de ofício para, reconhecida a atipicidade do
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comportamento irrogado, extinguir a ação penal em razão da atipicidade do comportamento irrogado aos
pacientes. (STJ, HC 268459 / SP).

#CUIDADO: Muito cuidado com a má aplicação do princípio do superior interesse! Tal princípio não integrou a
versão originária do ECA. Foi inserido apenas com a Lei nº 12.010/2009. Essa omissão foi intencional e teve
como objetivo inibir o mau uso desse princípio que, dada a sua natureza vaga, prestava-se a justificar tudo o que
era dirigido em face da infância. Por exemplo, em nome de uma visão distorcida do superior interesse, tirava-se
a criança de sua família em razão da pobreza ou internavam-se os adolescentes por tempo indeterminado, sem
o apropriado direito de defesa.

2.4 PRINCÍPIO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE COMO PESSOAS EM DESENVOLVIMENTO :

Está previsto no art. 6º do ECA, o qual aduz: “Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os
fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a
condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento.”. A noção do infante como
pessoa em desenvolvimento justifica que esse grupo obtenha um tratamento diferenciado, tanto no âmbito
internacional quanto no âmbito interno, seja em relação a medidas administrativas ou mesmo em relação a
medidas legislativas. É decorrência da maior vulnerabilidade das crianças e adolescentes e da necessidade de
lhes conferir igualdade material.

5. DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO

DIPLOMA DISPOSITIVO
Constituição Federal Arts. 227 e 228
Lei 8.069/1990 Art. 1º ao 6º
#DICA: Os documentos internacionais mencionados nesta FUC tem como objetivo dar uma visão geral sobre
o assunto. Caso você precise aprofundar, recomendamos a leitura dos diplomas mencionados no seu Edital.

6. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

Materiais das Turmas Especiais do Ciclosr3.

Zapata, Fabiana Botelho; Frasseto, Flávio Américo; Gomes, Marcos Vinicius Manso Lopes, Coleção
Defensoria Pública Ponto a Ponto Direitos da criança e do adolescente, 2016.
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Cavalcante, Márcio André Lopes, Informativos esquematizados do Dizer o Direito.

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