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CURSO DE DIREITO

DISCIPLINA DE DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

PROFª. MESTRA GLÁUCIA BORGES

APOSTILA II
APLICAÇÃO DO ESTATUTO;
DIREITO À VIDA E À SAÚDE;
DIREITO À LIBERDADE AO RESPEITO E À DIGNIDADE;
DIREITO À EDUCAÇÃO, AO ESPORTE, À CULTURA E AO LAZER;
DIREITO À PROFISSIONALIZAÇÃO E AO TRABALHO PROTEGIDO.
APLICAÇÃO DO ESTATUTO

CARÁTER UNIVERSAL DO ECA

Ressalte-se o caráter universal do Sistema de Garantia de Direitos


fundamentais estabelecido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, evidenciado pelo
seu art. 3º.
O Estatuto levou-se em conta o critério biológico: objetivo, igualitário e mais
seguro. Estudos demonstram que a formação do cérebro se completa apenas com o
alcance da vida adulta.
ADOLESCENTE - O art. 2º da Lei
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ÂMBITO DE APLICAÇÃO DO

Criança a pessoa até 12 anos de idade


incompletos;
nº. 8.069/90

Adolescente aquela entre 12 e 18 anos


de idade;

Por exceção e apenas nos casos


expressos na lei especial, permite-se
sua aplicação a pessoas entre 18 e 21
anos de idade

Para os efeitos da Lei n. 13.257/2016, que dispõe sobre políticas públicas para
a primeira infância, considera-se primeira infância o período que abrange os primeiros 6
(seis) anos completos ou 72 (setenta e dois) meses de vida da criança.
Essa lei trouxe mais uma subdivisão de idade. Tutela MAIS especial.

EMANCIPAÇÃO

A emancipação, instituto pelo qual a pessoa atinge a capacidade civil: por


concessão dos pais, no exercício do poder familiar; ou em hipóteses previamente
elencadas na lei como causas emancipatórias (art. 5º, parágrafo único, CC), não altera a
proteção ao adolescente.
A emancipação põe fim ao poder familiar, permite ao emancipado a prática de
atos negociais, sem assistência. Assim, seus efeitos no âmbito infanto-juvenil restringem-
se às hipóteses que dependam de autorização em razão do exercício do poder familiar.
Direitos fundamentais e normas de garantia à formação até o alcance de sua
maturidade fisiológica continuam aplicáveis ao adolescente emancipado. Exemplo: art.
247, do ECA.

PESSOAS ENTRE 18 E 21 E O ECA

Art. 2º, parágrafo único, do ECA + STJ - Sumula 605 – “A superveniência da


maioridade penal não interfere na apuração de ato infracional nem na aplicabilidade de
medida socioeducativa em curso, inclusive na liberdade assistida, enquanto não atingida
a idade de 21 anos”.
O enunciado é um reflexo do art. 2º, § único – aplicação até 21 anos em caso
de ato infracional anterior. Reforça que, o fato de completar 18 anos não interfere na
apuração do fato praticado antes e nem na impossibilidade de aplicação de medida
socioeducativa, enquanto não atingida a idade de 21 (prescrição socioeducativa).
Isso porque, a inimputabilidade penal se dá no momento do crime (art. 27, CP).
Se praticou antes dos 18 anos, não tem nenhuma chance de o código penal atingi-lo.
Mesmo que a apuração seja depois, vai responder como adolescente que era no tempo
do crime.

DIREITOS FUNDAMENTAIS

Conforme art. 227, da CF.


Capítulo I – Do direito à vida e à
saúde

Capítulo II - Do Direito à Liberdade,


ao Respeito e à Dignidade

ESTATUTO DA TITULO II Capítulo III - Do Direito à Convivência


CRIANÇA E DO Dos Direitos Familiar e Comunitária
ADOLESCENTE Fundamentais
Capítulo IV - Do Direito à Educação, à
Cultura, ao Esporte e ao Lazer

Capítulo V - Do Direito à
Profissionalização e à Proteção no
Trabalho

Direitos Fundamentais das crianças e adolescentes – garantidos pela CF (art.


227):
• DIREITO - Criança e adolescente;
• DEVER - Tríplice responsabilidade

DIREITO À VIDA E À SAÚDE

Art. 7º à 14, ECA. O Direito à Vida está previsto principalmente no art. 6º da


Convenção sobre os Direitos das Crianças e, o Direito à Saúde, em diversos dispositivos.
O direito à vida e à saúde são direitos sociais que originam obrigações de
fazer. Diferentemente do Estado Liberal, o Estado Social possui a incumbência de
melhorar as condições do cidadão (no caso, a criança e o adolescente).
*Políticas Públicas: conjunto de ações desencadeadas pelo Estado, nas
esferas federal, estadual e municipal, com vistas ao atendimento do bem coletivo. Elas
podem ser desenvolvidas em parcerias com organizações não governamentais (ONG’s)
e, como se verifica mais recentemente, com a iniciativa privada (parceria público-privada;
incentivos fiscais etc.). Responsabilidade: PODER EXECUTIVO.

DIREITO À VIDA

O direito à vida é o mais elementar e absoluto dos direitos, sendo


indispensável para o exercício dos demais. Distingue-se de “sobreviver”, pois o atual
estágio evolutivo exige “viver com dignidade”.
Exemplo: à uma criança sem as duas pernas, é indigno que se arraste pelo
chão a fim de se locomover. Cabe aos atores da rede protetiva assegurar dignidade
nessa forma de viver, providenciando uma cadeira de rodas, eventual cirurgia para
colocação de prótese, transporte escolar e todo o necessário para resguardar o sadio
desenvolvimento da criança.
Desde a vida intrauterina, já se inicia o processo de construção de sua
personalidade – TEORIA CONCEPCIONISTA. Vide art. 2º, do CC. Exemplo: caso
Wanessa Camargo.
O Estatuto não impõe o marco “zero” para proteção integral.
Esse direito, portanto, inclui uma fase anterior que é a gestação e o parto,
constituindo-se em próprio direito da criança a nascer, o atendimento pré-natal e
perinatal, ou seja, antes, durante e depois do nascimento.

 PRINCIPAIS ASPECTOS DO DIREITO À VIDA

Direitos do nascituro:
- Proibição do aborto: criança e o adolescente possuem direito à vida, incluindo
o direito ao nascimento, como preceito constitucional (art. 227 da CF). Todavia, existe
norma infraconstitucional (o art. 128 do CP) permitindo em duas hipóteses o aborto.
Haveria inconstitucionalidade da norma permissiva?
 Aborto necessário ou terapêutico: em decorrência do perigo de vida da
gestante - estado de necessidade - conflito de bens jurídicos, a vida da
gestante e a vida intrauterina.
 Aborto sentimental, não existe propriamente o chamado estado de
necessidade a justificar a supressão da vida intrauterina. Não existiria uma
proporção entre o bem suprimido (vida intrauterina) e o bem sobrevivente
(dignidade da gestante). Nesse aspecto, a falta de proporcionalidade levaria
ao entendimento da inconstitucionalidade da norma do art. 128, II, do
Código Penal.
 Aborto de anencéfalo – ADPF 54 – teoria natalista.
- Alimentos gravídicos: Lei nº. 11.804/2008 – custeados pelo suposto pai,
desde que hajam indícios de paternidade - A finalidade da norma é clara: tutelar o direito
à vida e à saúde do nascituro desde a sua concepção.

Aumento de pena nos crime contra a vida:


- CP, Art. 121, § 4º. Homicídio.
- CP, Art. 122, §§§ 3º, 6º, 7º. Suicídio.

Infanticídio:
- CP, Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho,
durante o parto ou logo após: Pena - detenção, de dois a seis anos.

DIREITO À SAÚDE

Segundo a Organização Mundial de Saúde-OMS, saúde “é um estado de


completo bem-estar físico, mental e social, não apenas ausência de doenças”.
No sistema de garantias cabe à família, comunidade e Poder Público
assegurar esse direito fundamental estreitamente vinculado ao direito à vida.
Principalmente na primeira infância, fase em que a saúde é mais frágil e inspira maiores
cuidados.
O direito abrange todas as classes econômicas no país e a universalização
desse direito deve ser garantido pelo SUS.

 PRINCIPAIS ASPECTOS DO DIREITO À SAÚDE

Proteção à mulher de maneira geral, à gestante, à puérpera, a lactante...


Art. 8º, 9º e 10.
- Dá acesso à mulher às políticas de saúde da mulher e do planejamento
reprodutivo.
- Às gestantes: nutrição adequada, atenção humanizada à gravidez, ao parto
e ao puerpério e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no âmbito do SUS.
• Vai do momento da fecundação
Período pré-natal e se estende durante o tempo Colaboram com a
de gravidez (40 semanas). diminuição da mortalidade
infantil. Exemplo:
diagnóstico precoce de
doenças e a possibilidade
Período perinatal • Vai do trabalho de parto até as de tratamento.
imediato primeiras 48 horas.

É crítico para a saúde e a


• Primeiras seis semanas após o sobrevivência das mães e
Período pós-natal
parto. dos seus filhos recém-
nascidos.

- Vinculação dos profissionais que atenderam a gestante nos últimos 03 meses


para realizar o parto.
- Direito a 01 acompanhante de sua preferência durante o período do pré-natal,
do trabalho de parto e do pós-parto imediato.
- Direito à cesariana e a outras intervenções médicas se necessário.
- Assistência psicológica:
 No período pré e pós-natal, inclusive para minorar os efeitos do
puerpério. O CP prevê como elementar do crime do infanticídio (art. 123),
o estado puerperal.
 Para as mães que desejam entregar filho para adoção (“entrega legal”).
*Não deve ser feita de modo impulsivo – Vontade consciente.
*Evita abandono de crianças – Art. 133 e 134, do CP: crime de abandono
de incapaz e de abandono de recém-nascido.
*Há todo um procedimento antes da efetivação da entrega para adoção.
 Para as mães que estiverem em privação de liberdade (política de
humanização).
- Alta hospitalar responsável (com condições favoráveis às mulheres e aos
filhos recém-nascidos) e contrarreferência na atenção primária (encaminhamento à
unidade de menor complexidade), bem como o acesso a outros serviços e a grupos de
apoio à amamentação.
- Orientação sobre aleitamento materno, alimentação complementar saudável
e crescimento e desenvolvimento infantil.
- Condições adequadas ao aleitamento materno: propiciado pelo Poder
Público, instituições e empregadores.
- UTI neonatal deve conter bancos de leite.
- Vedação do uso de algemas durante o parto – Decreto nº. 8.858/2016. Desde
o trajeto da unidade e em todo período que se encontrar hospitalizada.
- Licença-maternidade e licença-paternidade – art. 7º, incs. XVIII e XIX, CF;
art. 392, CLT; Lei nº. 11.770/2008 – Empresa Cidadã. Inclusive para adotantes.
- Afastamento da gestante e da lactante de atividades insalubres – art. 394-A,
CLT.
**AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER CONTRA A GESTANTE: Os
tratamentos pré-natais-natais e perinatais se constituem em verdadeiro direito do
nascituro. Há gestantes em verdadeira situação de risco, exemplos o uso de drogas e a
pessoa portadora de HIV. Os agentes de saúde acompanham a evolução da gestante e
no caso de omissão da mesma, devem comunicar ao Conselho Tutelar. Este órgão
realiza o contato e na continuação da omissão no tratamento, deve levar o caso ao órgão
ministerial. Alguns promotores da infância e da juventude, tem ofertado ação de
obrigação de fazer contra a gestante, sendo essa obrigação a de comparecer ao serviço
hospitalar. Deferido o pedido pelo magistrado, incumbe ao oficial de justiça, com toda
cautela e conhecimento, levar a gestante ao referido tratamento.
** Omissão do governo do estado ao art. 8º do ECA - Cabe ação civil pública
de obrigação de fazer.

Obrigações específicas aos hospitais e demais estabelecimentos de


atenção à saúde de gestantes (públicos e particulares). Art. 10.
Exemplos: manter registros; identificação do recém-nascido e vinculação à
mãe (evita a troca de bebês); proceder exames (como o teste do pezinho...); fazer a
declaração de nascido vivo - DNV; entre outros.
A desobediência da referida norma implica no delito previsto nos arts. 228 e
229.
*Esses artigos são os únicos que aceitam modalidade culposa. Os demais
crimes do Estatuto, são dolosas.

Direito à alimentação
- Promover uma nutrição adequada significa prevenir doenças decorrentes de
desnutrição, carência de algum nutriente ou obesidade infantil, hoje, um dos grandes
males da infância.
- Amamentação.
- Merendas: as escolas públicas e particulares das cidades mais
desenvolvidas adotam cardápio elaborado por nutricionistas e já incluíram no conteúdo
curricular noções básicas de nutrição.

Prevenção à gravidez na adolescência


- Medidas preventivas e educativas que contribuam para a redução da
incidência da gravidez na adolescência.

Proteção à saúde mental de crianças e adolescentes


- Enfermidades psicológicas. Necessidade de tratamento da saúde psíquica.
Exemplo: em caso de drogadição; transtornos psicológicos inerentes ao ser
humano, como ansiedade; em casos de violência (como alienação, bullying)...
Acredita-se que 7% a 12,5% da população formada por crianças e
adolescentes sofra de transtornos mentais, com prevalência de deficiência mental,
autismo, psicose infantil e transtornos de ansiedade. Preocupa, contudo, o aumento do
uso de substâncias psicoativas, bem como de medicamentos utilizados de forma
desproporcional.
O CONANDA publicou a Resolução n. 177/2015, que dispõe sobre o direito da
criança e do adolescente de não serem submetidos à excessiva medicalização.
Recomenda uma abordagem multiprofissional e intersetorial das questões de
aprendizagem, comportamento e disciplina, com o intuito de diminuir a medicalização.
Já no âmbito do SINASE, determina que o adolescente em cumprimento de
medida socioeducativa com sinais de transtorno mental, deficiência ou associados,
deverá ser avaliado por equipe técnica multidisciplinar, com elaboração e execução da
terapêutica a ser adotada, tudo devidamente registrado no PIA (Plano Individual de
Atendimento) do adolescente.

*Lei nº. 13.431/2017 – É a Lei da escuta especializada e do depoimento


especial. Normatiza e organiza o sistema de garantia de direitos da criança e do
adolescente vítima ou testemunha de violência, cria mecanismos para prevenir e coibir a
violência. Essa lei define o que é violência psicológica e institucional contra a criança e o
adolescente: art. 4º.
*Lei da Alienação Parental – nº. 12.318/2010.

- Medidas de proteção: art. 101. Incisos V e VI.

Proteção à criança e ao adolescente com deficiência ou com problemas


de saúde
- As crianças e adolescentes com deficiência serão atendidos em suas
necessidades gerais de saúde e específicas de habilitação e reabilitação;
Incumbe ao poder público* fornecer gratuitamente, àqueles que
necessitarem**: medicamentos, órteses, próteses e outras tecnologias assistivas
relativas ao tratamento, habilitação ou reabilitação para crianças e adolescentes, de
acordo com as linhas de cuidado voltadas às suas necessidades específicas.
MP – Ato administrativo ou ação civil pública.
*Poder Executivo municipal, estadual e federal (dever solidário). Transporte:
municipal - STJ.
**Necessidade = hipossuficiência.

Assistência odontológica
- Função educativa protetiva. Será prestada, inicialmente, antes de o bebê
nascer, por meio de aconselhamento pré-natal e, posteriormente, no sexto e no décimo
segundo anos de vida, com orientações sobre saúde bucal. A criança com necessidade
de cuidados odontológicos especiais será atendida pelo Sistema Único de Saúde.
Direito de ter os pais ou responsáveis como acompanhantes em tempo
integral em caso de internação
- Em caso de internação hospitalar, inclusive em UTI’s. Devem ser propiciadas
as condições para permanência.

Vacinação obrigatória
- Nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias.
*Movimento antivacina.

DIREITO À LIBERDADE, AO RESPEITO E À DIGNIDADE

Art. 15 ao 18-B, ECA.


A vulnerabilidade infanto-juvenil – física e psicológica – enseja um abuso da
condição de pessoa em desenvolvimento. O estigma do “menor” como objeto parece
conceder o direito de tratar a criança e o adolescente como bem se entende, sem
enxergá-los como pessoas, carecedoras de tratamento digno e resguardo à sua
integridade física, psíquica e intelectual. Indispensável que crianças e adolescentes
tenham o direito de serem tratadas como o que são: pessoas ainda em peculiar estado
de desenvolvimento.

DIREITO À LIBERDADE

Liberdade é escolha, faculdade. Um indivíduo é livre para fazer tudo o que a


lei não proíbe. O direito à liberdade está no art. 16, do Estatuto, sendo um rol
exemplificativo.

 PRINCIPAIS ASPECTOS DO DIREITO À LIBERDADE

Liberdade de ir e vir
- A liberdade de ir e vir envolve também o estar e permanecer, mas não se
traduz na absoluta autodeterminação de crianças e adolescentes decidirem seu destino,
pois a lei ressalva as restrições legais. Logradouro público é a denominação genérica de
qualquer via, rua, avenida. Já espaço comunitário possui o sentido de utilização
institucional, inclui igrejas, escolas etc. Quanto aos lugares privados, estes dependem do
consentimento do titular do bem. Esse direito também não é ilimitado, ficando sujeito à
autorização dos pais ou responsável e também no que concerne à disciplina do Poder
Público quanto às diversões públicas.
- Acolhimento institucional não pode ser confundido com ambientes privativos
de liberdade.
- Direito de não ser privado da liberdade senão em flagrante de ato infracional
ou por ordem escrita e fundamentada do juiz: art. 106, do Estatuto.

Direito ao refúgio, ao auxílio e à orientação


- Refúgio significa local seguro. Isso permite que a criança e o adolescente
saiam até da sua família em caso de necessidade. Exemplo: violência física.
- Já o auxílio e orientação constituem-se em direito de amparo tanto no âmbito
familiar, como no da comunidade e da sociedade.

DIREITO AO RESPEITO

Art. 17. Direito ao respeito, visa à manutenção da integridade física, psíquica


e moral.

DIREITO À DIGNIDADE

Art. 18. A dignidade é um atributo da pessoa, no caso específico, da pessoa


em desenvolvimento: a criança e o adolescente.

 PRINCIPAIS ASPECTOS DO DIREITO AO RESPEITO E À DIGNIDADE


Direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de
tratamento cruel ou degradante
- Art. 18-A. Seja como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer
outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis,
pelos agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa
encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los.
Lei nº 13.010/2014 (incluiu artigos e modificou outros), estendeu o rol, não só
prevendo os maus-tratos, mas outras formas de castigo físico e de tratamento cruel ou
degradante. Chamada antes de LEI DA PALMADA, modificada para LEI DO MENINO
BERNARDO. *Ela não proíbe palmada, mas castigo físico e tratamento cruel e
degradante.
Denúncia obrigatória! Deve ser comunicado ao Conselho Tutelar.
O art. 245 do ECA elenca as pessoas que têm a obrigação de efetivar a
referida comunicação: médicos, professores, responsáveis por estabelecimentos
voltados à saúde, ensino fundamental, pré-escola ou creche, incidindo nas sanções
administrativas no caso de descumprimento, sem prejuízo de outras sanções (civis ou
penais).
Os agressores podem incorrer nas medidas do art. 18-B, que devem ser
aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo das medidas legais cabíveis.
Podem sujeitar-se ainda às medidas descritas no art. 129, à sanção por
infração administrativa (art. 249), ou ainda responder pela prática de crime, como, por
exemplo, os descritos no art. 232, todos do Estatuto; ou arts. 129, § 9º (lesão corporal),
e 136 do CP (maus-tratos).
Genitores autores de maus-tratos podem perder o poder familiar (“outras
providências”): art. 1.638, inc. I, do CC; arts. 129, inc. X, 155, ainda o art. 24, do Estatuto.

Preservação da imagem
- Exemplo: na hipótese de proibição de fotografias de adolescentes
apreendidos por ato infracional.
Utilização de algemas
- Mesma ideia que é aplicada ao adulto, de modo geral, não se deve utilizar.
Súmula vinculante nº. 11, STF.

DIREITO À EDUCAÇÃO, AO ESPORTE, À CULTURA E AO LAZER

Art. 53 ao 59, ECA.


A educação, a cultura, o esporte e o lazer fazem parte do eixo de
desenvolvimento social e pessoal da criança e do adolescente.

DIREITO À EDUCAÇÃO

O direito à educação visa o pleno desenvolvimento da criança e do


adolescente, preparo para o exercício da cidadania (efetivação de direitos civis, sociais e
políticos) e qualificação para o trabalho (art. 53, do Estatuto).
Assim, quanto mais educação à criança e ao adolescente, mais os mesmos
serão capazes de lutar e exigir os seus direitos e cumprir os seus deveres. É um dos
mais importantes direitos para o desenvolvimento integral da criança e do adolescente e
do próprio desenvolvimento do país.
A Lei nº. 9.394/1996 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – diz
que a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar,
na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos
movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.
Segundo a Constituição Federal, a educação é direito de todos, dever do
Estado e da família, e será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade
(art. 205).

 PRINCIPAIS ASPECTOS DO DIREITO À EDUCAÇÃO


Direito à educação formal
- Inclui a garantia da educação básica e o provimento gratuito pelo Poder
Público de todas as condições necessárias para que este direito se efetive e possibilite a
permanência da criança e do adolescente na escola.
A educação básica se divide em três etapas (que atualmente só podem ser
prestadas nos estabelecimentos de ensino – impossibilidade de homeschooling), cuja
responsabilidade de fornecimento pelo Poder Público é obrigatória e gratuita:
• É a primeira etapa de ensino da educação básica ofertada até os cinco
anos de idade, em creches (até os três anos de idade) e pré-escolas (dos
Educação quatro até cinco anos de idade).
Infantil • A obrigação de matrícula dos genitores só inicia na pré-escola, aos quatro
anos de idade da criança, sendo a creche facultativa aos pais ou
responsáveis (art. 54, inc. IV, do Estatuto e art. 208, incs. I e IV, da CF).

• É a segunda etapa de ensino da educação básica.


Ensino • Possui duração de nove anos, iniciando-se aos seis anos de idade.
Fundamental • É obrigatória a matrícula e frequência da criança e do adolescente (art. 54,
inciso I, do Estatuto e art. 32, da lei nº. 9.394/1996).

• É a terceira e última etapa de ensino da educação básica.


Ensino • Possui duração mínima de três anos e é ofertada em instituições de ensino.
Médio • São obrigatórias a matrícula e a frequência do adolescente (art. 208, inc. II,
da CF; art. 54, inciso II, do Estatuto e art. 35, da lei nº. 9.394/1996).

Provimento gratuito das demais condições (art. 208, da Constituição


Federal e arts. 53, 58 e 59, do Estatuto da Criança e do Adolescente):
- Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
- O fornecimento de local adequado, seguro e próximo* à residência para o
funcionamento da escola, garantindo-se vagas no mesmo estabelecimento a irmãos que
frequentem a mesma etapa ou ciclo de ensino da educação básica.
- Acesso para as pessoas com deficiência e atendimento especializado
(preferencialmente na rede regular de ensino);
- Vagas escolares disponíveis;
- Professores qualificados;
- Material didático;
- Alimentação - merenda;
- Transporte gratuito (na falta de escola próxima);
- Assistência à saúde;
- Ensino noturno (ao adolescente trabalhador);
- Organização e participação em entidades estudantis;
- Direito de ser respeitado por seus educadores e contestar critérios
avaliativos;
- Respeito aos valores culturais, artísticos e históricos do contexto cultural da
criança e do adolescente;
- Liberdade de criação;
- Pesquisa;
- Acesso às fontes de cultura, programas esportivos e de lazer;
- Entre outros que se fizerem necessários.

Matrícula obrigatória
- Os pais ou responsável(is) têm a obrigação de matricular seus filhos ou
pupilos na rede regular de ensino (art. 55). Deixar, sem justa causa, de prover a instrução
primaria do filho em idade escolar é crime de abandono intelectual (art. 246, do CP).

Passe escolar
- A concessão do passe escolar é dever para qualquer aluno matriculado tanto
na rede pública como particular. Essa obrigação é da permissionária de serviço de
transporte, bastando que resida a mais de um km do estabelecimento escolar.

Obediência aos regimentos internos


- Criança ou adolescente não podem comporta-se de forma contrária às regras
de convivência estabelecidas no regimento escolar, prejudicando ou impedindo o regular
exercício do mesmo direito pelos demais estudantes. Poderá sofrer sanções disciplinares
como advertência, suspensão e mesmo expulsão, de acordo com o regimento.

Licença maternidade para a estudante gestante


- Lei n. 6.202/1975, autorizando seu afastamento da sala de aula e assistência
pelo regime de exercícios domiciliares a partir do 8º mês de gestação, pelo prazo de 3
meses. Esse prazo pode ser estendido para período anterior ou posterior ao parto
mediante atestado médico a ser apresentado à direção da escola, assegurando-se, em
qualquer caso, o direito à prestação dos exames finais.

Adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa


- Também devem ter assegurado o direito à educação, como parte integrante
do processo de socioeducação. O período da execução da medida não pode ser motivo
para interromper a formação do adolescente.

DIREITO À CULTURA, AO ESPORTE E AO LAZER

Vide art. 59, ECA.


O DIREITO À CULTURA é a garantia a todos do pleno exercício de direitos
culturais e acesso às fontes da cultura nacional (art. 215, da CF) e está diretamente ligado
ao direito ao respeito, especialmente à própria identidade cultural.

O LAZER é um direito social, colocado como forma de promoção social (arts.


6º e 217, § 3º, da CF). É o direito ao descanso e ao divertimento, entretenimento e/ou
recreação.

O DIREITO AO ESPORTE inclui o direito à prática (como lazer ou profissão)


e ao acesso (tanto à informação quanto aos locais que permitam assistir ou praticar).
Criança e adolescente têm direito à informação, cultura, lazer, esportes,
diversões, espetáculos e produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de
pessoa em desenvolvimento (arts. 71 e 75, do Estatuto).

DIREITO À PROFISSIONALIZAÇÃO E AO TRABALHO PROTEGIDO

Art. 60 ao 69, ECA.


O trabalho protegido é aquele que ocorre com base nos limites legais
relacionados à criança e ao adolescente.
 Constituição Federal – arts. 227 e 7º, XXXIII;
 Estatuto da Criança e do Adolescente – arts. 60 a 69;
 Consolidação das Leis do Trabalho – arts. 402 e seguintes;
 Convenção nº 138 da Organização Internacional do Trabalho – sobre os
limites da idade mínima;
 Convenção nº 182 da Organização Internacional do Trabalho – sobre as
piores formas de trabalho infantil.
 Entre outras.

A profissionalização integra o processo de formação do adolescente e, por


isso, lhe é assegurada. Contudo, sua peculiar condição de pessoa em desenvolvimento
exige um regime especial de trabalho, com direitos e restrições. Em linha de princípio, a
vedação ao trabalho infantil tem a finalidade de evitar desgastes indesejados e
prejudiciais à formação e à necessidade de escolarização, guardando harmonia com a
teoria da proteção integral.

Até 14 anos: Proibição de qualquer trabalho ou aprendizagem.


LIMITES

Entre 14 e 16 anos: REGRA - Proibição de qualquer trabalho.


EXCEÇÃO: salvo na condição de aprendiz.

Até 18 anos: Proibição dos trabalhos noturnos, perigosos,


insalubres, penosos, prejudiciais à moralidade, realizados em
horários e locais que prejudiquem a frequência à escola,
prejudiciais ao desenvolvimento físico e psicológico.

Ou seja, é proibido a qualquer criança e a adolescente entre 12 e 14 anos.


ESTATUTO

CONSTITUIÇÃO
Art. 60. É proibido Art. 7º. XXXIII - proibição de
qualquer trabalho a trabalho noturno, perigoso ou
menores de quatorze anos insalubre a menores de dezoito
de idade, salvo na e de qualquer trabalho a
condição de aprendiz. menores de dezesseis anos,
salvo na condição de
aprendiz, a partir de quatorze
anos;

O art. 60, do Estatuto está revogado tacitamente, pois não está de acordo
ainda com a regra Constitucional – DESATUALIZADO DESDE 1998. CLT está de acordo
– art. 404.
O artigo 7º da CF é uma Cláusula Pétrea.

 PRINCIPAIS ASPECTOS DO DIREITO À PROFISSIONALIZAÇÃO

Proibição de trabalho noturno


- Constituição Federal (art. 7º, XXXIII), Estatuto (art. 67) e CLT (art. 404)
vedam o trabalho noturno, considerando aquele praticado entre as 22 e 5 horas.
Não confundir com ensino noturno.

Proibição de trabalho perigoso


- É o trabalho que expõe o trabalhador a contato com explosivo, eletricidade,
substâncias radioativas, material inflamável, ionizante, em condições de acentuado risco.

Proibição de trabalho insalubre


- Atividades ou operações que expõem o empregado a agentes nocivos à
saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza, da intensidade do
agente e o tempo de exposição aos seus efeitos.

Proibição de trabalho penoso


- Tipo de trabalho que, por si ou pelas condições em que exercido, expõe o
trabalhador a um esforço além do normal para as demais atividades e provoca desgaste
acentuado no organismo humano.
Proibição de trabalho contrário à sua moralidade
- Art. 405, CLT. Ex.: boates, cassinos, cabarés, dancings, venda de bebidas
alcoólicas...

Garantia de direitos previdenciários e trabalhistas


- Inocorrência de qualquer prescrição contra pessoas com menos de 18
(dezoito) anos: Art. 440.
- Férias coincidentes com as férias escolares: (arts. 134 e 136 da CLT).

APRENDIZAGEM

Arts. 424 a 433, da CLT.


É a formação técnico-profissional ministrada segundo as diretrizes e bases da
legislação de educação em vigor. A aprendizagem evita o trabalho infantil, auxilia na
manutenção do adolescente na escola e concede a oportunidade de preparação para o
mercado de trabalho, mas de maneira protegida.
Trata-se de: contrato de trabalho especial, com prazo determinado (máximo
dois anos), possível ao maior de 14 e menor de 24 anos de idade, inscrito em programas
de aprendizagem. Deve ter anotação na carteira.
Àqueles que possuem entre 14 e 16 anos de idade somente é possível o
trabalho através dos programas de aprendizagem. PRECISA TER FREQUENCIA NA
ESCOLA para participar dos programas de aprendizagem.
Art. 429, CLT - Os estabelecimentos de qualquer natureza são obrigados a
empregar e matricular nos cursos dos Serviços Nacionais de Aprendizagem número de
aprendizes equivalente a 5%, no mínimo, e 15%, no máximo, dos trabalhadores
existentes em cada estabelecimento, cujas funções demandem formação profissional.
Possibilidade aos adolescentes usuários do Sistema Nacional de Atendimento
Socioeducativo (Sinase) e usuários do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre
Drogas – SISNAD.
TRABALHO INFANTIL

É toda forma de trabalho da criança ou do adolescente entre doze e quatorze


anos de idade; Ou a forma de trabalho do adolescente entre quatorze e dezesseis anos
de idade, que não na condição de aprendiz; Ou toda forma de trabalho fora dos limites
legais estabelecidos para o trabalho protegido do adolescente de maneira geral, ou seja,
trabalho noturno, perigoso ou insalubre, entre outras violações legais.
O conceito de trabalho aqui empregado é o de atividade laboral, independente
se lícita ou ilícita / regular ou irregular. Ex.: Tráfico de drogas.

Piores formas de trabalho infantil


Trata-se de uma classificação com as atividades que mais oferecem riscos às
crianças e aos adolescentes, elaborada pela Organização Internacional do Trabalho na
Convenção nº. 182 e a Recomendação nº. 190 e ratificada pelo Brasil através do Decreto
nº. 3.597/2000, posteriormente substituído pelo Decreto nº. 10.088/2019 (lista no Decreto
6481/2008).
A expressão “as piores formas de trabalho infantil” abrange: todas as formas
de escravidão ou práticas análogas à escravidão, tais como a venda e tráfico de crianças,
a servidão por dívidas e a condição de servo, e o trabalho forçado ou obrigatório, inclusive
o recrutamento forçado ou obrigatório de crianças para serem utilizadas em conflitos
armados; a utilização, o recrutamento ou a oferta de crianças para a prostituição, a
produção de pornografia ou atuações pornográficas; a utilização, recrutamento ou a
oferta de crianças para a realização de atividades ilícitas, em particular a produção e o
tráfico de entorpecentes, tais com definidos nos tratados internacionais pertinentes; e, o
trabalho que, por sua natureza ou pelas condições em que é realizado, é suscetível de
prejudicar a saúde, a segurança ou a moral das crianças.
Fica proibido o trabalho do menor de dezoito anos nas atividades descritas na
Lista TIP, salvo nas hipóteses previstas no Decreto 6481/2008. Exemplo: trabalho
doméstico! Acesse em: https://www.chegadetrabalhoinfantil.org.br/trabalho-
infantil/piores-formas/
Obs.: Trabalho x Tarefa.
ARTISTAS MIRINS

Não se trata de um contrato de trabalho regido pela CLT, pois o trabalho infantil
é proibido constitucionalmente. Trata-se de um contrato de participação em obra
televisiva, teatral ou cinematográfica, dependente de autorização judicial e sujeito a um
regime especial, de acordo com a portaria do juízo da infância e juventude.
Ainda não expressamente regulado por lei.

ATLETAS MIRINS

Lei n. 9.615, de 24 de março de 1998, mais conhecida como Lei Pelé,


estabelece as normas gerais sobre desportos. Viola o preceito constitucional a
manutenção de crianças e adolescentes com menos de 14 anos nos centros de formação
das categorias de base.
A atividade esportiva para essa faixa etária deverá ser realizada apenas na
modalidade desporto educacional, em escolinhas de futebol, com finalidade lúdica,
recreativa, educacional.

BIBLIOGRAFIA COMPILADA E ESQUEMATIZADA

AMIM, Andréa Rodrigues; MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade (coords.).
Curso de Direito da Criança e do Adolescente: aspectos teóricos e práticos, 11. ed.
São Paulo: Saraiva Educação, 2018.

VERONESE, Josiane Rose Petry; ROSSATO, Luciano Alves; LÉPORE, Paulo Eduardo.
Estatuto da criança e do adolescente: 25 anos de desafios e conquistas. São Paulo:
Saraiva, 2015.

VERONESE, Josiane Rose Petry; VERONESE, Valdemar P. da Luz (Coord.). Direito da


criança e do adolescente, v. 5. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2006. P. 9-10.

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