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2 A CRIAÇÃO DO CONSELHO TUTELAR NO CONTEXTO DA DOUTRINA DA


PROTEÇÃO INTEGRAL E A EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS.

As crianças e os adolescente como é sabido, são titulares de direitos como qualquer


outro ser humano, observa se ainda que em razão de sua condição peculiar de
desenvolvimento, fazem jus a um tratamento diferenciado devendo ser desprendido a estes
sujeitos uma atenção. Direitos que foram frutos de uma evolução histórica social.

Antes de adentrar no cerne deste tópico, é preciso fazer uma breve, mas necessária
contextualização histórica, uma vez que a proteção integral não foi uma a primeira doutrina
existente no âmbito do direito da criança e do adolescente. É essencial o conhecimento do que
antecedeu a doutrina da proteção integral para compreender todos fatores sociais e jurídicos
que levaram o seu surgimento.

2.1 A doutrina da proteção integral e os princípios do Direito da criança e do adolescente à luz


da Constituição Federal e do Estatuto da Criança e do Adolescente

Para antes da atual doutrina adotado pela Constituição Federal de 1988 e posteriormente
pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, existiu a doutrina da situação irregular era
imediatista, na medida em que não garantia direitos que se consideravam inerentes a toda
criança e adolescente, pois agiam seguindo a dualidade das formas ao interagir com os
“menor infrator”1 das seguintes formas “internação – proteção (aplicável a crianças
desamparadas) e “internação – repressão (reservada a jovens infratores)” 2 , essa doutrina nas
palavras de Andréa Rodrigues Amim era algo que “Agia-se apenas na consequência e não na
causa do problema, apagando-se incêndios.”3

1
Termo amplamente utilizado pelos intelectuais e pelos juristas à época da vigência do código de menores,
sendo posteriormente banido da legislação com a revogação do referido código.
2
MACHADO, Antônio Claudio da Costa: Livro I parte geral In: MACHADO, Antônio Claudio da
Costa(Coord.). Estatuto da criança e do adolescente interpretado: artigo por artigo, parágrafo por parágrafo.
São Paulo: Manole, 2012, p.1.
3
AMIM, Andréa Rodrigues: Doutrina da Proteção Integral In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade
(Coord.). Curso de direito da criança e do adolescente: aspectos teóricos e práticos. São Paulo: Saraiva, 2014,
p.55.
7

Eis que com o advento da Constituição Federal de 1988 nasce a doutrina da proteção
integral que elencada no artigo 227 da CF/88 disciplina:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao


adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão.

Rompendo absolutamente com a antiga doutrina vigente, a doutrina da situação


irregular, o legislador de forma acertada e lógica estipulou como diretriz básica o atendimento
de crianças e adolescentes, abordando pela primeira vez o paradigma da prioridade absoluta
estabelecendo que incumbe a família, a sociedade e o estado o zelo desses sujeitos. 4

Portanto a doutrina da proteção integral passa desde logo garantir o fornecimento de


toda a assistência necessária para o pleno desenvolvimento da criança e do adolescente no que
tange a sua personalidade, essa assistência vai desde a material com insumos alimentares,
vestimentas, medicação, habitação dentre outros, passando pela assistência moral
relacionando se com sua formação de identidade ética e vai até a assistência jurídica, pois lhe
falta em alguns momentos da sua vida capacidade de postular em causa própria e se faz
necessário uma representação de seus genitores ou responsáveis.5

Passando a ser vista como uma doutrina garantista, pois traz em um texto constitucional
e, portanto, vinculante a demais normas uma série de direitos e prerrogativas destinadas às
crianças e aos adolescentes que agora eram vistas não como indivíduos objetos de
manipulação jurídica por adultos, mas como sujeitos detentores de direitos em virtude sua
condição peculiar de desenvolvimento.6

Superada essa contextualização no que diz respeito ao direito da criança e do


adolescente, é necessário também explanar os aspectos principiológicos que regem a
legislação voltada aos infantes e aos adolescentes, sendo estes princípios desdobramentos e
4
SILVA, Antônio Fernando do Amaral e Silva, Munir Cury, Luciano Mendes de Almeida In: Livro I – parte
geral, Cury Munir (Coord.). Estatuto da Criança e do Adolescente comentado: comentários jurídicos e
sociais. São Paulo: Malheiros, 2013, p.17.
5
ELIAS, Roberto João: Direitos fundamentais da criança e do adolescente. São Paulo: Saraiva.2005,p.2.
6
AMIM,Andréa Rodrigues: Doutrina da Proteção Integral In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade
(Coord.). Curso de direito da criança e do adolescente: aspectos teóricos e práticos. São Paulo: Saraiva, 2014,
p.56.
8

consequências da adoção da doutrina da proteção integral.

O texto constitucional é basilar para qualquer ordenamento jurídico e, além de normas


vinculantes, existem uma série de princípios que servem de norte para a elaboração de leis,
com o estatuto da criança e do adolescente não foi diferente este conjunto de leis e
prerrogativas jurídicas, redigido de forma especifica para regulação de direitos, deveres e
garantias fundamentais, está totalmente pautado em princípios que derivaram do advento da
nova doutrina da proteção integral, como: Princípio da prioridade absoluta; Principio do
melhor interesse ou do interesse superior da criança e do adolescente; princípio da
municipalização.

O princípio da prioridade absoluta é uma primazia elencada em nossa Constituição


Federal em seu artigo 227, o qual, de forma clara, explicita que em todos os campos da
sociedade a criança e ao adolescente devem ser vistos como sujeitos primeiros no quando se
fala na efetivação dos seus direitos fundamentais, direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária. Este princípio é abordado ainda de forma mais específica
no artigo 4º do Estatuto que traz em seu corpo normativo alguns aspectos do texto legal
Constituição, mas abrange outros aspectos no que tange aos agentes garantidores dos direitos
fundamentais, como mostra a seguinte redação:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público


assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Observa se que o Estatuto faz referência as garantias de prioridades, que abordam as


políticas públicas em geral, como a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer
circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação
privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à
juventude.7

Portanto, aufere-se que, em eventuais conflitos de interesses entre parcelas integrantes


da sociedade, nos quais um desses agentes sejam crianças ou adolescentes, deve- se priorizar
as demandas referentes aos infanto-juvenis. Se existir, por exemplo, um conflito entre a
7
Isso é de um artigo do IBDFAM, não sei fazer a referência.
9

construção de um centro de educação infantil ou a construção de uma unidade prisional, o


administrador deve optar pela construção do Centro de educação infantil, tudo isso porque a
nova doutrina da proteção integral passa a enxergar os infanto-juvenis como indivíduos
detentores de direitos e como tais em situação de desenvolvimento peculiar merecem ser

vistos como prioridades, uma vez que são construtores do futuro da sociedade.8

O princípio do melhor interesse ou do interesse superior da criança e do adolescente,


assim como os demais princípios apresentados, serve como norte tanto para a criação de leis
no que tange à competência do legislador como para quem de fato a aplica no cotidiano das
decisões judiciais, servindo para este de paradigma de interpretação.9

Há de ficar bem claro que o melhor interesse não é o que se entende de forma subjetiva
tanto para o legislador que elabora as leis como para o órgão julgador que decide as lides
advindas, mas deve basear se no que de fato está positivado e que na prática atenda suas reais
necessidades como criança ou adolescente.10

É mister ainda dizer que, embora estes princípios devam ser respeitados e observados,
não se deve fazer isso de forma onímoda não obedecendo por exemplo o princípio do
contraditório e da ampla defesa salvaguardado no princípio em tela, pois segundo Canotilho:

[...] os princípios, ao constituírem ‘exigência de optimização’, permitem o


balanceamento de valores e interesses (não obedecem, como as regras, à lógica d o
‘tudo ou nada’), consoante seu ‘peso’ e a ponderação de outros princípios
eventualmente conflitantes. [...]11

O que se mostra indispensável nesse princípio é que os agentes que atuam na área

8
AMIM,Andréa Rodrigues: Principios orientadores do direito da criança e do adolescente.In: MACIEL, Kátia
Regina Ferreira Lobo Andrade (Coord.). Curso de direito da criança e do adolescente: aspectos teóricos e
práticos. São Paulo: Saraiva, 2014, p.60.
9
AMIM,Andréa Rodrigues: Principios orientadores do direito da criança e do adolescente.In: MACIEL, Kátia
Regina Ferreira Lobo Andrade (Coord.). Curso de direito da criança e do adolescente: aspectos teóricos e
práticos. São Paulo: Saraiva, 2014, p.65.
10
AMIM,Andréa Rodrigues: Princípios orientadores do direito da criança e do adolescente.In: MACIEL, Kátia
Regina Ferreira Lobo Andrade (Coord.). Curso de direito da criança e do adolescente: aspectos teóricos e
práticos. São Paulo: Saraiva, 2014, p.69.
11
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. Coimbra: Almediana, 1998, p.
1034.
10

infanto-juvenil, saibam a quem de fato se destinam a sua atuação tais sejam, as crianças e
adolescentes, sendo estes quem possuem direitos e garantias fundamentais
constitucionalmente assegurados, devem gozar da primazia e da prioridade absoluta ainda que
colidam com outras esferas do direito positivado ou de outros agentes sociais.

Em suma, o princípio do melhor interesse é, pois o ponto de partida que orienta todos
aqueles que se defrontam com as exigências naturais da infância e da juventude. 12 E
acrescenta o imperativo: “materializá-lo é dever de todos”.13

O princípio da municipalização, por sua vez, traz consigo o escopo de alcançar a real
efetividade do que propõe a doutrina da proteção integral. Com a promulgação da
Constituição Federal de 1988, ocorreu o que chamamos de descentralização e ampliação das
políticas assistências trazido pelo artigo 204, vejamos:

Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com
recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art. 195, além de outras
fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes:

I - descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas


gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às
esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência
social;

Ao refere se a descentralização política, a Constituição Federal fala que não será


somente da união mas também de outros entes da federação como estados-membros,
municípios e o distrito federal a titularidade das decisões de criação e aplicação de políticas
assistencialistas.14

A realidade deste princípio se mostra quando é reconhecida a relevância do poder


público municipal por meio do artigo 88 do Estatuto da Criança e do Adolescente: “Art. 88.
São diretrizes da política de atendimento: I - municipalização do atendimento.”

12
AMIM,Andréa Rodrigues: Princípios orientadores do direito da criança e do adolescente.In: MACIEL, Kátia
Regina Ferreira Lobo Andrade (Coord.). Curso de direito da criança e do adolescente: aspectos teóricos e
práticos. São Paulo: Saraiva, 2014, p.70.
13
AMIM,Andréa Rodrigues: Princípios orientadores do direito da criança e do adolescente.In: MACIEL, Kátia
Regina Ferreira Lobo Andrade (Coord.). Curso de direito da criança e do adolescente: aspectos teóricos e
práticos. São Paulo: Saraiva, 2014, p.70.
14
DONIZETI, Wilson Liberati: Conselhos e Fundos no estatuto da criança e do adolescente. São
Paulo,2003,p.71.
11

É preciso entender que, ao falar em descentralização, não devemos isolar os entes


federados para que sua atuação seja autônoma e independente, muito pelo contrário, embora
exista a municipalização, os demais entes federados têm por obrigação legal o zelo de
solidarizar-se na atuação do combate às violações de direitos das crianças e dos adolescentes e
na busca primordial pela efetivação das garantias fundamentais, estando tal ideia amparada
pela força de lei quando trazida pelo artigo 100, inciso III, do Estatuto:

III - responsabilidade primária e solidária do poder público: a plena efetivação dos


direitos assegurados a crianças e a adolescentes por esta Lei e pela Constituição
Federal, salvo nos casos por esta expressamente ressalvados, é de responsabilidade
primária e solidária das 3 (três) esferas de governo, sem prejuízo da municipalização
do atendimento e da possibilidade da execução de programas por entidades não
governamentais.

Portanto, no que diz respeito à doutrina da proteção integral e aos princípios do Direito
da criança e do adolescente à luz da Constituição Federal e do Estatuto da Criança e do
Adolescente, podemos auferir que a instituição desta doutrina foi de fato um marco para os
direitos da criança e do adolescente, pois, a partir deste pensamento que enxerga os infanto-
juvenis como sujeitos de direitos, é que podemos dar a melhor assistência a esses indivíduos.

Entenda também a condição de se desenvolver em que estes sujeitos se encontram é que


podemos de forma coletiva com a junção das ações impetradas seja família, pela sociedade,
ou pelo estado construir um ambiente saudável proporcionando o melhor crescimento e
desenvolvimento possível aos que um dia serão o futuro da sociedade.

Apreender e, acima de tudo, aplicar os princípios explanados é garantir que, além da


efetivação das leis e das garantias fundamentais elencadas nos textos normativos, crie-se um
ambiente saudável para um pleno desenvolvimento dos infanto-juvenis, formando estes por
sua vez, um caráter integro e sendo cidadãos plenamente capazes de mudar a realidade da
sociedade em que vivem sempre de forma positiva.

2.2 Os direitos e garantias fundamentais.

É necessário antes de adentrar nas espécies de direitos fundamentais a serem abordados


12

neste estudo, fazer uma conceituação geral do que se entende por direitos fundamentais.
Canotilho entende que “[...] são os direitos do homem, jurídico- institucionalmente garantidos
e limitados espacio-temporal [...] direitos fundamentais seriam os direitos objetivamente
vigentes numa ordem jurídica concreta”.15 Pode ainda conceituar direitos fundamentais como
valores principais para a concretização e uma vida digna em sociedade e não podem ser esses
direitos fundamentais nem por um momento apartados da dignidade da pessoa humana,
trazido pelo Art. 1,III º16 da Constituição Federal vigente, e da delimitação do poder estatal e
individual, haja vista não ser concebido uma vida digna pautada em opressão.17

Direitos e garantias fundamentais são o mínimo assegurados ao ser humano que apesar
de tais garantias serem mutáveis ao longo do tempo, não perdem seu caráter protetivo e
garantista, nas palavras de Ionilton Pereira os direitos fundamentais “[...] prerrogativas
fundamentalmente importantes e iguais para todos [...] cujo escopo principal é assegurar uma
convivência social digna, baseada nos ideais de igualdade, liberdade e fraternidade”. 18Temos
na Constituição Federal de 1988 inúmeros artigos que trazem esse aparato da proteção aos
direitos fundamentais, e o artigo 5º, de forma mais explícita, normatiza uma série de
prerrogativas que estabelecem parâmetros para que se possam buscar a efetivação dos direitos
e fundamentais uma vez que essas garantias são impostas ao estado e a todo custo devem ser
observadas e concretizadas.

Feita essa conceituação deve se ter em mente também qual a função destes direitos no
ordenamento jurídico e na vida prática dos indivíduos haja vista sua importância. Para
Alexandre de Moraes “[...] garantias do ser humano tem por finalidade básica o respeito a sua
dignidade, por meio de sua proteção contra o arbítrio do poder estatal, e o estabelecimento de
condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana[...]”19

Direcionando a temática abordada neste tópico para o direito da criança e do


adolescente, observa se que o legislador buscou elencar os direitos fundamentais que se
mostram essenciais ao pleno desenvolvimento dos indivíduos ainda em formação, estando
dispostas tais prerrogativas fundamentais no artigo 227 da Carta Magna de 1988. São eles
15
CANOTILHO, J. J .Gomes. Direito Constitucional e teoria da Constituição. Coimbra: Almedina,1998, p.
359.
16
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da
pessoa humana.
17
MARMELSTEIN, George. Curso de direitos fundamentais. São Paulo: Atlas, 2014, p.16.
18
VALE, Ionilton Pereira. As Dimensões dos Direitos Humanos Fundamentais. Fortaleza: ABC editora, 2006,
p.13.
19
MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais. 10. Ed. São Paulo: Atlas. 2013. P.20.
13

direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à


dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar.20

Tais direitos fundamentais também são assegurados pela Lei nº 8.069, de 13 de julho de
1990 que, de forma mais específica e direcionada, traz em seu corpo normativo, no artigo 4º, a
reafirmação dos direitos fundamentais elencados na CF/88. Confirmando assim a necessidade
de ser assegurado o pleno e satisfativo desenvolvimento dos infanto-juvenis, vejamos:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder


público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes
à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária.

É mister, ainda, deixar claro que o objeto de estudo deste trabalho não são os direitos
fundamentais em sua amplitude haja vista a sua extensa gama de prerrogativas, mas tão
somente alguns desses direitos que vão de encontro com os objetivos e com a pertinência
deste trabalho.

2.3 A criação do conselho tutelar

Como já mencionado, tem se que, os princípios, formam a exigência de


otimização, e toleram o balanceamento de valores e interesses jurídicos e sociais 21, com o
princípio da municipalização não é diferente pois trata se de um princípio que busca
descentralizar e ampliar as políticas assistências previstas no artigo 204 da CF/88. Existem
órgãos que têm a função precípua de zelar e garantir a materialização de normas que
asseguram os direitos postos e relacionados aos infantes e juvenis, com o intuito de cumprir as
diretrizes estabelecidas no artigo 227 da Constituição Federal Brasileira de 1988, foi criado o
Conselho Tutelar, Valter Ishida fala que “a criação dos conselhos tutelares segue a tendência
da democracia participativa prevista no artigo 227, §7º, da CF, com a participação direta da
20
AMIM,Andréa Rodrigues: Dos direitos fundamentais.In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade
(Coord.). Curso de direito da criança e do adolescente: aspectos teóricos e práticos. São Paulo: Saraiva, 2014,
p.74.
21
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. Coimbra: Almediana, 1998, p.
1034.
14

população em assuntos que lhe dizem diretamente respeito.” 22

O estatuto da Criança e do Adolescente foi o primeiro dispositivo legal a criar os


conselhos tutelares no sentido de ampliar a gama de agentes na defesa pelos direitos dos
infantes e dos adolescentes. O idealizador dessa ideia foi o Desembargador Amaral do
Tribunal de Justiça de Santa Catarina que pensou neste órgão como integrante da democracia
participativa dos conselhos.23Partindo desta premissa, instituem-se os conselhos tutelares
como mecanismo jurídico e social no luta para a efetivação e proteção integral das
prerrogativas postas constitucionalmente e em normas infraconstitucionais no trato das
crianças e adolescentes que buscam, primordialmente, atender às necessidades locais
municipais e efetivar as garantias e direitos fundamentais que são asseguradas ás crianças e
aos jovens.24

O CONANDA Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente em


sua resolução de número 139, artigo 3º diz que:

Art. 3º Em cada Município e no Distrito Federal haverá, no mínimo, um Conselho


Tutelar como órgão da administração pública local.

§ 1º Para assegurar a equidade de acesso, caberá aos Municípios e ao Distrito


Federal criar e manter Conselhos Tutelares, observada, preferencialmente, a
proporção mínima de um Conselho para cada cem mil habitantes.

§ 2º Quando houver mais de um Conselho Tutelar em um Município, caberá a este


distribuí-los conforme a configuração geográfica e administrativa da localidade, a
população de crianças e adolescentes e a incidência de violações a seus direitos,
assim como os indicadores sociais.

§ 3º Cabe à legislação local a definição da área de atuação de cada Conselho Tutelar,


devendo ser, preferencialmente, criado um Conselho Tutelar para cada região,
circunscrição administrativa ou microrregião, observados os parâmetros indicados
no § 1º e no § 2º.

Demonstrado fica a sua importância na sociedade e o quão se mostra necessário


dar a devida importância e o devido respeito a este órgão.

2.3.1 Definições e características

22
ISHIDA,Válter kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: Doutrina e Jurisprudência. Salvador:
JusPODIVM,2018. P.432.
23
ISHIDA,Válter kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: Doutrina e Jurisprudência. Salvador:
JusPODIVM,2018. P.432.
24
ROSSATO, Luciano Alves. Estatuto da criança e do adolescente comentando artigo por artigo. São Paulo:
Revistas dos Tribunais, 2014. P.400.
15

O conselho tutelar tem sua previsão legal no artigo 131 do Estatuto da Criança
e do Adolescente quando traz o referido artigo a definição legal do que vem a ser esse
Conselho, vejamos: “O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não
jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança
e do adolescente, definidos nesta Lei”. Fazendo uma análise mais detalhada temos três
palavras chaves que são fundamentais para o entendimento do que vem a ser o referido
órgão conselho tutelar são elas “PERMANENTE, AUTÔNOMO E NÃO
JURISDICIONAL”.
No que tange a permanência deste órgão pode se destacar a sua característica
perene ao passo que é vedada a sua extinção ao falar de autonomia o legislador quis
atribuir a esta instituição a não subordinação a qualquer outro órgão, estando portanto
limitada apenas nos textos legais, por fim a não jurisdicionariedade deste ente implica dizer
que trata se de um órgão eminentemente administrativo, tendo que ser levado ao juiz
competente qualquer questão que envolva matéria jurisdicional.25
De modo mais sistemático podemos entender que a permanência dos conselhos
tutelares está ligada à sua estabilidade na administração pública, já que é um órgão
integrante desta, é uma instituição que não pode ser extinguida já que possuem funções
personalíssimas não podendo ser delegado a nenhum outro órgão. Cabe ressaltar que o
caráter de estabilidade está ligado apenas ao conselho tutelar e não aos seus conselheiros
que o integram, pois estes deixarão o referido órgão ao final de cada mandato.26
Quando pensamos em autonomia temos em mente que trata se do não
comprometimento, da não dependência do conselho tutelar com nenhum da administração
pública restando assim a sua liberdade de exercício baseando sempre nos princípios
constitucionais asseguradores de direitos aos infantes e aos adolescentes e de modo mais
especifico nos princípios eu compõem o manual de trabalho do conselho tutelar, qual seja o
estatuto da Criança e do Adolescente.27
Luciano Rossato diz que o conselho tutelar “ è livre para expressar as suas
opiniões e tomar as medidas legais cabíveis, muito embora esteja sujeito à fiscalização da
sociedade, do ministério público, dos conselhos de direito e do próprio poder judiciário. ” 28
25
ISHIDA,Válter kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: Doutrina e Jurisprudência. Salvador:
JusPODIVM,2018. P.432.
26
ROSSATO, Luciano Alves. Estatuto da criança e do adolescente comentando artigo por artigo. São Paulo:
Revistas dos Tribunais, 2014. P.401.
27
ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2010.
P.181.
28
ROSSATO, Luciano Alves. Estatuto da criança e do adolescente comentando artigo por artigo. São Paulo:
Revistas dos Tribunais, 2014. P.401.
16

Nesta última parte mostrando que embora seja autônomo o conselho tutelar precisa ser
fiscalizado e monitorado, uma vez que representa a sociedade e diretamente seus interesses.
Em sequência de analise a não jurisdicionariedade do conselho tutelar está
ligado ao sentido de que uma vez surgido conflitos de interesses no que tange os direitos
dos infanto-juvenis, tais conflitos devem ser levados ao juízo especializado, tal seja o juízo
da vara de infância e da juventude, para que então possam ser resolvidos 29, ficando o
entendimento de que o órgão em tela não é investido de poder jurisdicional, mas é
competente para acionar o poder judiciário e atuar em conjunto com escopo sempre no
melhor interesse da criança e do adolescente.
Desse modo fica evidente a importância de compreender o que de fato é este
órgão, conselho tutelar, uma vez compreendido ficará mais suave a apreensão de suas
prerrogativas de suas funções e de seus objetivos, junto a sociedade civil a qual o constituiu
e que ele representa.
A partir desta conceituação, podemos destacar a missão a que se dispõe a instituição do
conselho tutelar que, segundo Patrícia Silveira Tavares, é de “[...] representar a sociedade na
salvaguarda dos direitos da criança e do adolescente, naquelas questões que demandem
medidas de cunho não jurisdicional”.30 Portanto cabe destacar o que a ação do conselho tutelar
não é feita em nome do município, em nome do poder judiciário ou em nome do Ministério
Público, mas em nome da sociedade e principalmente em seu favor.

Rossato explica que “ como não é possível a participação de todos os indivíduos, a


sociedade encarrega algumas pessoas de representa lá diretamente a observância e
fiscalização desses interesses, além da deliberação sobre políticas públicas.” 31 Tal conselho é
uma extensão da sociedade já que os conselheiros são escolhidos de forma democrática para
representar os anseios sociais relacionados aos jovens e às crianças de dada coletividade,
escolha esta que se deve se dá acerca das contribuições feitas principalmente para as crianças
e adolescentes.

O Promotor de Justiça no Estado do Paraná, Murillo José Digiácomo, discorre sobre a


importância dos conselhos tutelares para a sociedade civil:

29
ROSSATO, Luciano Alves. Estatuto da criança e do adolescente comentando artigo por artigo. São Paulo:
Revistas dos Tribunais, 2014. P.403
30
TAVARES, Silveira: O conselho tutelar. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade (Coord.). Curso
de direito da criança e do adolescente: aspectos teóricos e práticos. São Paulo: Saraiva, 2014. P. 466.
31
ROSSATO, Luciano Alves. Estatuto da criança e do adolescente comentando artigo por artigo. São Paulo:
Revistas dos Tribunais, 2014. P.403.
17

Com o advento da Lei nº 8.069/90, por intermédio do Conselho Tutelar, de mera


espectadora passiva a sociedade passou a desempenhar um papel decisivo na defesa
dos direitos de crianças e adolescentes, sendo que para o exercício desse
fundamental mister, o legislador conferiu àquele órgão verdadeira parcela da
soberania estatal, traduzida em poderes e atribuições próprias, que erigem o
conselheiro tutelar à condição de autoridade pública, investida de função
considerada pela lei como "serviço público relevante" (cf. art. 135 do citado
Diploma Legal).32

O conselho tutelar também tem critérios objetivos a serem respeitados quanto à sua
formação, na sequência, o artigo 132 também do Estatuto da Criança e do Adolescente traz
regras quanto à quantidade de conselhos existentes e como deve ser sua composição:

Art. 132. Em cada Município e em cada Região Administrativa do Distrito Federal


haverá, no mínimo, 1 (um) Conselho Tutelar como órgão integrante da
administração pública local, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos pela
população local para mandato de 4 (quatro) anos, permitida 1 (uma) recondução,
mediante novo processo de escolha.

2.3.2 Função

Em relação ao seu papel, o Conselho Tutelar não é um pronto-socorro de atendimento


de direitos no sentido de ser procurado apenas quando há indícios de violações de tais
garantias ou quando estas já se apresentam latentes na sociedade, o Conselho Tutelar vela
pelo implemento dos direitos definidos nas leis que versem sobre direitos da criança e do
adolescente. Ishida fala das funções do conselho tutelar e mostra que:

O conselho Tutelar possui, uma gama de funções, com poder de aplicação de


medida de proteção, podendo requisitar serviços na área de saúde, educação, serviço
social, previdência, trabalho e segurança. Isso significa que as entidades devem
atender às requisições do conselho tutelar, exceto na impossibilidade justificada. 33

O artigo 136 do Estatuto da Criança e do Adolescente traz de forma exemplificativa


quais seriam as atribuições desse órgão bem como de seus conselheiros, que uma vez
cumprindo estas atribuições, estará este órgão contribuindo de modo significante para a
diminuição das violações ao passo que buscam a concretização dos direitos que são
32
DIGIÁCOMO, Maurilio José. O Conselho Tutelar: poderes e deveres face a lei nº 8.069/90. Ministério Público
do Paraná, Curitiba. Disponivel em http://www.criança.mppr.br/pagina-1557.html. Acesso em: 12 jun.2018.
33
ISHIDA,Válter kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: Doutrina e Jurisprudência. Salvador:
JusPODIVM,2018. P.136.
18

assegurados aos infantes e aos adolescentes, vejamos:

Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:


I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e 105,
aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII;
II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas previstas no
art. 129, I a VII;
III - promover a execução de suas decisões, podendo para tanto:
a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social,
previdência, trabalho e segurança;
b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de descumprimento
injustificado de suas deliberações.
IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração
administrativa ou penal contra os direitos da criança ou adolescente;
V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência;
VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre as
previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de ato infracional;
VII - expedir notificações;
VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou adolescente
quando necessário;
IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentária para
planos e programas de atendimento dos direitos da criança e do adolescente;
X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos direitos
previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da Constituição Federal;
XI - representar ao Ministério Público, para efeito das ações de perda ou suspensão
do pátrio poder.

Uma vez expostas a definição bem como as atribuições do conselho tutelar, o Estatuto
também normatiza as prerrogativas que um conselheiro deve ter bem como explica a forma
que se dá o processo eleitoral desses membros.

Ao abrir o leque no que diz respeito a responsabilidade sobre a garantia dos direitos das
crianças e adolescentes a Constituição Federal em seu artigo 227 deu razão a participação da
sociedade na nobre tarefa já mencionada 34, posto isso o estatuto da criança e do adolescente
normatizou prerrogativas as quais os indivíduos deverão possuir para pleitear tal cargo de
conselheiro, a lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 em seu artigo 133 traz que “para a
candidatura a membro do Conselho Tutelar, serão exigidos os seguintes requisitos:
reconhecida idoneidade moral; idade superior a vinte e um anos; residir no município”.

Mostrado os requisitos mínimos para que os indivíduos da sociedade civil possam


pleitear uma vaga no conselho tutelar municipal, é posto ainda em seu artigo 139 que:

Art. 139. O processo para a escolha dos membros do Conselho Tutelar será
estabelecido em lei municipal e realizado sob a responsabilidade do Conselho
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, e a fiscalização do Ministério
Público. (Redação dada pela Lei nº 8.242, de 12.10.1991)

34
ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2010.
P.181.
19

§ 1o O processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar ocorrerá em data


unificada em todo o território nacional a cada 4 (quatro) anos, no primeiro domingo
do mês de outubro do ano subsequente ao da eleição presidencial. (Incluído pela Lei
nº 12.696, de 2012)
§ 2o A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no dia 10 de janeiro do ano
subsequente ao processo de escolha. (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)
§ 3o No processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar, é vedado ao
candidato doar, oferecer, prometer ou entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal
de qualquer natureza, inclusive brindes de pequeno valor. (Incluído pela Lei nº
12.696, de 2012)

Ficando explicitado neste artigo o modo como procedem os órgãos responsáveis


pela organização e fiscalização do pleito que elege os conselheiros tutelares, bem como o
período de vigência e atuação dos conselheiros, por mandado em exercício. Vale ressaltar que
todo esse processo de eleição dos membros tutelares deve se dar sob a encargo do conselho
municipal dos direitos da criança e do adolescente previamente escolhidos e ainda sobre a fiel
fiscalização do Ministério Público35.

Em relação ao esse processo de eleição é importante deixar claro que muito além
das formalidades e dos procedimentos elencados neste artigo que devem ser observados, os
membros escolhidos para a composição deste conselho preencham os requisitos do artigo 133
e que acima de tudo tenham em mente a importância e a responsabilidade das atividades que
irão desempenhar, pois como já foi exaustivamente dito tais membros estão incumbidos de
representar a sociedade como um todo e de modo especial os interesses das crianças e dos
adolescentes.

Em sequência ao texto normativo no artigo 140 do estatuto em tela fala dos


impedimentos que são impostos para ocupação do cargo de conselheiro tutelar são eles:

Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conselho marido e mulher,


ascendentes e descendentes, sogro e genro ou nora, irmãos, cunhados, durante o
cunhado, tio e sobrinho, padrasto ou madrasta e enteado.
Parágrafo único. Estende-se o impedimento do conselheiro, na forma deste artigo,
em relação à autoridade judiciária e ao representante do Ministério Público com
atuação na Justiça da Infância e da Juventude, em exercício na comarca, foro
regional ou distrital.

Verifica-se que neste artigo se buscou evitar a formação de uma espécie de


“clube familiar” e que isso viesse prejudicar e deturpar as finalidades pelas quais o conselho
tutelar foi criado, tendo em vista que o modo que elegerá representantes da sociedade não

35
ISHIDA,Válter kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: Doutrina e Jurisprudência. Salvador:
JusPODIVM,2018. P.444.
20

pode se dá de forma inconsistente em resumo a seriedade da função faz nascer a exigência de


que não reste nenhuma dúvida acerca das pessoas que estão exercendo a função de
conselheiro tutelar.36
Depois de tudo o que foi demonstrado, sobre o conselho tutelar desde sua gênese,
perpassando por suas funções, suas características, as pessoas que o compõe e o método para
escolha desses membros as palavras de Judá Jesse de Bragança Soares ao falar sobre a
instituição do conselho tutelar retratam bem o que aqui foi dito e a ideia que se pretende
transmitir.

Conselho Tutelar não apenas uma experiência, mas uma imposição constitucional
decorrente da forma de associação política adotada, que é a democracia
participativa. [...] O estatuto, como lei tutelar específica, concretiza, define e
personifica, na instituição do conselho tutelar, o dever abstratamente imposto, na
Constituição Federal, à sociedade. O conselho deve ser como mandatário da
sociedade, o braço forte que zelará pelos direitos da criança e do adolescente. 37

Tais palavras reafirmam a importância e a pertinência da criação, manutenção e


sobretudo a ação do órgão municipal, conselho tutelar no combate as violações de direitos e
garantias fundamentais aos infanto-juvenis. Vê-se, então, que tal instituição tem como escopo
principal a vigilância dos direitos individuais do grupo infanto-juvenil, buscando garantir,
assim, a eficácias das normas postas no Estatuto38

36
ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2010.
P.140.
37
SOARES, Judá Jessé de Bragança. Comentários ao artigo 136 do ECA. In: CURY, Munir (Org). Estatuto da
Criança e do Adolescente comentado. São Paulo. Mallheiros. 2002 p. 455.
38
NUCCI, Guilherme de Souza. Estatuto da Criança e do Adolescente comentado. Rio de Janeiro: Forense,
2018. P.571.
21

3 O CONSELHO TUTELAR NO MUNICÍPIO DE BATURITÉ

Com Objetivo de atender a normatização advinda da Constituição Federal de 1998 em


seu Art. 22739 bem como ao princípio do melhor interesse ou do interesse superior da criança
e do adolescente é que foi criado o órgão que conhecemos como Conselho Tutelar. E em
atendimento ao principio da municipalização é que houve a obrigatoriedade da constituição
desse órgão em cada município da Federação. Exercendo portando um função especifica de
cuidado dos direitos das crianças e adolescentes, funções que integram a administração
pública, mas que não vinculam os seus conselheiros a regimes estatutários ou celetistas.40

Tendo essas premissas como base e tantas outras já demonstradas neste trabalho, é que
pode se então adentrar na criação, estruturação e organização do Conselho tutelar do
município de Baturité, saindo em então do cenário geral, para entender as peculiaridades deste
órgão e sua aplicação prática.

3.1 Estruturação organizacional do conselho tutelar municipal

Já é sabido de como se deu a criação do conselho tutelar, é sabido também como


deve atuar os conselhos tutelares, qual o perfil deve ter uma pessoa para atuar junto ao

39
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura,
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
40
PEREIRA, Tânia. Direito da Criança e do Adolescente uma proposta interdisciplinar. São Paulo:
Renovar, 2008, p.1045.
22

conselho tutelar, a partir de agora será mostrado como se dispõe a legislação acerca da
estruturação do conselho tutelar nos municípios, fazendo o recorte espacial do conselho
tutelar no município de Baturité, foco deste trabalho.

O CONANDA Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente


como já foi mostrado, traz que deve existir minimante um conselho tutelar por município e
que a existência desse órgão independe do número de habitantes. A instauração desse
município deve ser dada por lei municipal e dentre outras coisas deve dispor sobre:

a) a estrutura administrativa e institucional necessária ao seu adequado


funcionamento;
b) a remuneração, cobertura previdenciária, gozo de férias anuais remuneradas ,
acrescidas de 1/3(um terço) do valor da remuneração mensal, licença- maternidade,
licença- paternidade e gratificação natalina para os conselheiros tutelares;
c) a respeito de outras condições de elegibilidade dos conselheiros;
d) acerca da suspensão ou cassação do mandado do conselheiro.41

Ficando ainda a cargo da legislação municipal que instituir o conselho tutelar


dispor sobre horários de funcionamento e de trabalhos de seus membros sendo que em relação
a jornada de trabalho deverá ser igual para todos assim como os regimes de plantão.

Por ser um órgão municipal a administração pública disporá de local para


funcionamento do conselho tutelar, recursos humanos, materiais que deverão ser colocados a
disposição do órgão para seu perfeito funcionamento, como custeio com mobiliário, água,
luz, telefone fixo e móvel, internet, computadores, fax e outros; formação continuada para os
membros do Conselho Tutelar; Custeio de despesas dos conselheiros inerentes ao exercício de
suas atribuições; horário de funcionamento, regime de plantão, em suma deverá criar os meios
estruturais e organizacionais para a implementação do conselho tutelar municipal e seu pleno
desenvolvimento, tudo isso falado traduz o disposto no artigo 4º do capitulo que fala da
criação e manutenção dos conselhos tutelares da Resolução Nº - 139, de 17 de Março De
2010.

Este artigo também fala da previsão orçamentaria na legislação municipal a fim de


garantir recursos suficientes para a manutenção dos conselhos tutelares, para a remuneração
dos conselheiros em exercício, bem como o custeio de suas atividades ligadas a função de
conselheiro tutelar.

41
ROSSATO, Luciano Alves. Estatuto da criança e do adolescente comentando artigo por artigo. São Paulo:
Revistas dos Tribunais, 2014. P.403.
23

O capítulo III da mesma resolução traz de forma bem clara disposições quanto ao
funcionamento do conselho tutelar, de modo inicial traz orientações em relação a localização
geográfica do conselho tutelar enquanto local de atendimento, o artigo 16 fala que deve ser de
fácil acesso assim como os artigos seguintes a esse fala da sinalização indicando a localização
da sede do conselho; espaços reservados na própria sede, para atendimento do público,
espaços para a apropriados para os conselheiros; espaços para os atendimentos dos casos
respeitando sempre a individualidade o sigilo e a imagem das crianças e adolescentes que são
acolhidos naquele ambiente e para o desempenho das atividades administrativas.

Art. 16. O Conselho Tutelar funcionará em local de fácil acesso, preferencialmente


já constituído como referência de atendimento à população.

§ 1º A sede do Conselho Tutelar deverá oferecer espaço físico e instalações que


permitam o adequado desempenho das atribuições e competências dos conselheiros
e o acolhimento digno ao público, contendo, no mínimo:

I - placa indicativa da sede do Conselho;

II - sala reservada para o atendimento e recepção ao público;

III - sala reservada para o atendimento dos casos;


23

IV - sala reservada para os serviços administrativos;

V - sala reservada para os Conselheiros Tutelares.

Deve ser posto em conhecimento que as decisões do conselho tutelar obedecerão a regra
de seu regime interno que a cada órgão municipal elaborar e pôr em prática e devem ainda ser
decididas de forma colegiada. Em relação ao seu regimento interno deverá ser aprovado pelo
conselho municipal dos direitos da criança e dos adolescentes após aprovação deverá ser
publicado e posto em local visível na sede do conselho tutelar municipal.

Note que é de suma importância as disposições aqui comentadas, pois verifica se que
sem essa estruturação organizacional interna será muito difícil estabelecer se enquanto órgão
e mais difícil será tutelar os direitos das crianças e dos adolescentes.

Feito essa introdução partimos agora para analise da legislação do município de Baturité
que trata do conselho tutelar. A principio é válido destacar que a criação do conselho tutelar
municipal só se deu 7 anos após a promulgação da lei Federal nº 8.069 de 13 de julho de
1990, sendo esta criada em 05 de novembro de 1997 e aquela em 12 de dezembro de 1990,
dispondo então o município de Baturité há 21 anos de conselho tutelar no trato dos direitos da
criança e do adolescentes.

Desde sua promulgação, a lei que cria o conselho tutelar em Baturité foi alterada por
duas vezes uma em 05 de julho de 2002, cinco anos após sua criação pela lei nº 1.082 e
posteriormente alterada pela lei nº 1.317 de 25 de maio de 2007, 10 anos a sua criação.

O dispositivo que cria o órgão conselho tutelar é o artigo 2º, inciso III que ao passo eu
cria o órgão, o coloca como membro integrante das políticas municipais de atendimento dos
diretos da criança e do adolescente.42 Em seguida o artigo 9º da mesma lei traz a conceituação
deste órgão, espelhada no ECA, vejamos “ Art. 9º. Fica criado o conselho tutelar da criança e
do adolescente, como órgão autônomo e permanente, não jurisdicional, encarregado de zelar
pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, no âmbito do município de
Baturité.43

42
BATURITÉ. Lei nº 1.081 de 05 de novembro de 1997. Estabelece diretrizes para a política de atendimento
integral a criança e adolescentes do município de Baturité e outras providencias. Baturité: Câmara Municipal 05
nov. 1997.
43
BATURITÉ. Lei nº 1.081 de 05 de novembro de 1997. Estabelece diretrizes para a política de atendimento
integral a criança e adolescentes do município de Baturité e outras providencias. Baturité: Câmara Municipal 05
nov. 1997.
24

O mesmo dispositivo ainda em seus parágrafos 1º, 2º dispões sobre a quantidade dos
conselheiros que integrarão o órgão, “O conselho tutelar ora criado será composto de
05(cinco) membros escolhidos pelo voto facultativo dos eleitores do município de Baturité.”
O modo como se dá está escolha e também o tempo de mandato para cada exercício” [...] para
um mandato de 03(três) anos, permitindo a única recondução subsequente” e sobre o
processo de eleição desses conselheiros “ O processo de escolha se será realizado sob a
responsabilidade do conselho municipal e a devida fiscalização do representante do ministério
Público Estadual”44.

Ao fazer o comparativo com a legislação Federal, nota se até o momento grande


semelhança uma vez que está serviu de base, junto com a Constituição Federal, para a criação
de todas as legislações pertinentes aos direitos das crianças e adolescentes. Para fins de
otimizar a pesquisa aqui fica demonstrado os dispositivos que possuem uma redação mais
originais, como por exemplo o artigo que trata da remuneração dos conselheiros, vejamos:

Art. 10º. O exercício da função de conselheiro tutelar será remunerado, constituindo


– se serviço público relevante, com presunção de idoneidade moral.

§1º. Os conselheiros tutelares eleitos perceberão mensalmente, uma gratificação


equivalente ao nível DAI-2, do poder executivo municipal, estabelecida como
parâmetro e não terão vínculo empregatício com a municipalidade.

§2º. Os conselheiros serão assegurados, enquanto exercício de suas funções, os


benefícios de seguro de vida e de saúde, nas formas e condições estabelecidas pelo
prefeito municipal.

§3º. A jornada de trabalho dos membros do conselho Tutelar será de 08 (oito) horas
diárias, com expediente intercalado de 4 (quatro) horas ou 6 (seis) horas
interruptas.45

No que tange as alterações sofridas pelas leis posteriores temos que a mais significativa
mudança foi a reorganização e funcionamento do conselho tutelar e o regime jurídico dos
conselheiros tutelares, trazidas pela lei nº 1.589 de 12 de junho de 2013, está lei reestrutura
todo o conselho tutelar e atualiza os dispositivos em vários sentidos.

Traz de forma mais especifica as atribuições do conselho tutelar municipal, sempre


espelhada na lei Federal, ECA; sua competência geográfica de atuação; a adição de mais um
ano de mandato para os conselheiros tutelares, passando de 3 (três) para 4 (quatro) anos de
44
BATURITÉ. Lei nº 1.081 de 05 de novembro de 1997. Estabelece diretrizes para a política de atendimento
integral a criança e adolescentes do município de Baturité e outras providencias. Baturité: Câmara Municipal 05
nov. 1997.
45
BATURITÉ. Lei nº 1.081 de 05 de novembro de 1997. Estabelece diretrizes para a política de atendimento
integral a criança e adolescentes do município de Baturité e outras providencias. Baturité: Câmara Municipal 05
nov. 1997.
25

exercício; das prerrogativas de que goza o conselho tutelar para apuração de fatos; dos
requisitos para candidatar se a um mandato de membro do conselho tutelar; dos direitos
trabalhistas que gozam os conselheiros tutelares; a implantação do Sistema de Informação
para a Infância e Adolescência (SIPIA), cabendo o poder público garantir todos os meios
necessários; das sanções disciplinares a que estão sujeitos os conselheiros tutelares.46

Em comparação com a lei que criou o conselho tutelar e a atual legislação, observa se
grandes e significativas mudanças que incrementaram e deram um melhor aparato para a
permanência, autonomia e livre atuação deste órgão na busca pela promoção, manutenção e
combate aos direitos das crianças e adolescentes.

3.2 Competência e delimitação de atuação do conselho tutelar municipal

Com a promulgação da lei nº 1.589 de junho de 2013, além de trazer pontos e abordar
questões que ainda estavam em vacância, esta lei traz também a competência atribuída ao
conselho tutelar e a delimitação de atuação do conselho tutelar.

Em relação a delimitação, podemos falar primeiro da geográfica que é trazida no artigo


4º “Ao território do município de Baturité corresponderá um conselho tutelar, com atribuições
sobre esse território geográfico”47, podemos então auferir que a delimitação do conselho
tutelar geograficamente corresponde a 308,581 km² que é a área total da cidade
compreendendo sua zona urbana e zona rural.48

Em relação a competência do órgão em analise o artigo 3º traz as suas atribuições e


competências de atuação que são:

Art. 3º. São atribuições do Conselho Tutelar:

I. Atender inicialmente crianças, adolescentes, pais ou responsável legal, quando


houver qualquer suspeita de ameaça ou violação dos seus direitos, previstos na
constituição Federal, no estatuto da Criança e do adolescente ou em qualquer outra
46
BATURITÉ. Lei nº 1.589 de 12 de junho de 2013.Dispõe sobre a reorganização e funcionamento do conselho
tutelar e do regime jurídico dos conselheiros tutelares, e dá outras providências. Baturité: Câmara Municipal. 12
jun. 2013.
47
BATURITÉ. Lei nº 1.589 de 12 de junho de 2013.Dispõe sobre a reorganização e funcionamento do conselho
tutelar e do regime jurídico dos conselheiros tutelares, e dá outras providências. Baturité: Câmara Municipal. 12
jun. 2013.
48
Área da unidade territorial: Área territorial brasileira. Rio de Janeiro: IBGE, 2018.
26

lei;

II. Aconselhar os pais ou responsável legal, quando houver qualquer suspeita de


ameaça ou violação dos direitos de seus filhos, pupilos e dependentes, previstos na
Constituição Federal, no Estatuto da Criança e do Adolescente ou qualquer outra
lei;

III. Aplicar as medidas de proteção especial a crianças e adolescentes estabelecidas


no artigo 101, I a VII da lei Federal nº 8.069 de 13 de julho de 1990, em caso
comprovado de ameaça ou violação dos seus direitos. (artigo 98 da lei citada);

IV. Aplicar as medidas de proteção especial a crianças, estabelecidas no artigo 101, I


a VII da lei Federal nº 8.069 de 13 de julho de 1990, em caso comprovado prática de
ato infracional. (artigo 105 da lei citada);

V. Aplicar as medidas pertinentes a pais e responsável legal, estabelecidas no artigo


129, I a VII da lei Federal nº 8.069/90 de 13 de julho;

VI. Providenciar a medida especifica de proteção especial aplicada cumulativamente


por juiz da infância e juventude em favor de adolescente autor de ato infracional,
dentre as previstas nos incisos I a Vi do artigo 101, da lei Federal nº 8.069/90, de 13
de julho de 1990.49

O parágrafo único do mesmo artigo também acrescenta uma atribuição para o conselho
tutelar “Além dessas atribuições de proteção especial, o Conselho tutelar deverá assessorar o
poder executivo local na elaboração da proposta orçamentária, informando quanto à
necessidade de criação ou fortalecimento especialmente de serviços e programas de proteção
especial.”50 Dispositivo que reflete a observância ao princípio do melhor interesse ou do
interesse superior da criança e do adolescente trazido pela Constituição Federal e reforçado
pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.

Ainda em análise sobre as competências do conselho tutelar municipal tem se que uma
vez tomado conhecimento de fatos que atentem contra o direito das crianças e adolescentes
para a melhor apuração desses fatos o conselho tem a faculdade dentre outras medidas,
notificar os pais ou responsáveis, além de pessoas que estejam envolvidas para serem
ouvidas; requisitar certidões seja de nascimento ou óbito para fins de instruir seus processos
de apuração; realizar visitas domiciliares; requisitar laudos, pareceres, pericias, que sejam de
competência de profissionais de categoria regulamentada por lei, quando julgar necessário;
além de praticar todos atos no âmbito administrativo que julguem necessários à apuração dos

49
BATURITÉ. Lei nº 1.589 de 12 de junho de 2013.Dispõe sobre a reorganização e funcionamento do conselho
tutelar e do regime jurídico dos conselheiros tutelares, e dá outras providências. Baturité: Câmara Municipal. 12
jun. 2013.
50
BATURITÉ. Lei nº 1.589 de 12 de junho de 2013.Dispõe sobre a reorganização e funcionamento do conselho
tutelar e do regime jurídico dos conselheiros tutelares, e dá outras providências. Baturité: Câmara Municipal. 12
jun. 2013.
27

fatos.51

Agora, constatada a violação e eleitas as medidas protetivas a serem aplicados, ao


conselho tutelar compete:

Art. 15. [...]

a) Requisitar serviços dos poderes públicos e dos serviços de relevância públicas,


nas áreas da saúde, educação, assistência social, trânsito, previdência e segurança,
quando aplicar medida de proteção especial a crianças e adolescentes ou medidas
pertinentes a pais ou responsável legal;

b) Representar formalmente junto ao juiz da infância e da juventude, quando


houver descumprimento injustificado de suas decisões, para responsabilização dos
agentes públicos faltosos e para garantia da efetividade dessas decisões; 52

Demostrado ficou através da analise dos dispositivos legais quais são as atribuições e as
delimitações de atuação do conselho tutelar municipal, observando sempre a legislação
municipal vigente, mas sem esquecer de seguir os preceitos superiores elencados na
Constituição Federal, que em momentos não foram contemplados pelas leis
infraconstitucionais.

É de suma importância conhecer as suas atribuições e mais ainda suas prerrogativas e


campo de atuação para que se possa desenvolver um trabalho com maestria, mais eficiente e
eficaz possível uma vez que são a porta de entrada para a sociedade civil no que diz respeito a
promoção e zelo dos direitos das crianças e adolescentes e o combate as violações existentes.

51
BATURITÉ. Lei nº 1.589 de 12 de junho de 2013.Dispõe sobre a reorganização e funcionamento do conselho
tutelar e do regime jurídico dos conselheiros tutelares, e dá outras providências. Baturité: Câmara Municipal. 12
jun. 2013.
52
BATURITÉ. Lei nº 1.589 de 12 de junho de 2013.Dispõe sobre a reorganização e funcionamento do conselho
tutelar e do regime jurídico dos conselheiros tutelares, e dá outras providências. Baturité: Câmara Municipal. 12
jun. 2013.
28

4 ATUAÇÃO DO CONSELHO TUTELAR MUNUCIPAL: AÇÕES E IMPASSES NA


EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTES.

Uma vez conhecido como se deu sua criação e sua formação, parte se para uma analise
do seu funcionamento, de como este órgão desenvolve as atividades que a ele são inerentes na
prática, criando uma comparação com o que se mostra ideal, por tudo que já foi dito, no que
tange a suas funções e atribuições, com o que se mostra real.

Entendo o desenvolvimento fático do órgão, as suas limitações, as suas nuances, para


que compreendido como se dá sua atuação possam surgir modelos de aperfeiçoamento e
melhorias que contribuam não só para o modo operante do órgão, mas para toda o publico
alvo ao qual esse órgão é destinado, qual seja criança e adolescentes, refletindo claro na
comunidade civil local, reflexos esses sempre de modo positivo.

4.1 A pesquisa desenvolvida.

A pesquisa realizada foi baseada nos métodos qualitativos que consiste na busca por
uma explicação do porquê ser de determinado objeto de pesquisa, mas sem quantificações de
valores, já que esses dados que são analisados não são numéricos 53. Ao desenvolver esta
pesquisa buscou se fomento para a elaboração e desenvolvimento da hipótese levantada e
chegada a uma resposta plausível e concreta a pergunta de partida suscitada no início desta
tese.

Foi realizado um estudo teórico, analisando as doutrinas existentes e pertinentes a


temática abordada qual seja os direitos das crianças e adolescentes e o órgão conselho tutelar,
além das legislações vigentes que normatizam o ramo do direito posto neste trabalho que é
Estatutos da Criança e do Adolescente além de leis vigentes do Município de Baturité que
criam e regulam a existência do órgão em analise, Conselho Tutelar.

Após feito todo o embasamento teórico acerca do tema escolhido, foi proposto ainda a
realização de uma pesquisa de campo, através de uma entrevista, que serviria como fonte de
dados, sobre o conselho tutelar municipal.

O modelo de entrevista utilizado foi a semiestruturada que é caracterizada “por uma


53
GERHARDT, Tatiana Engel. Métodos de pesquisa. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009,p.32.
29

série de perguntas abertas, feitas verbalmente em ordem prevista, mas na qual o entrevistador
pode acrescentar perguntas de “esclarecimentos”54, com objetivo de extrair o máximo de
informações possíveis sobre o funcionamento, a estruturação, delimitação, competencias de
atuação, ações desenvolvidas e limitações que o órgão possui dentre outros dados que fossem
julgados pertinentes à pesquisa.

Para a realização desta entrevista foi elaborado um realizado um roteiro prévio de


perguntas, que encontra se no apêndice deste trabalho, e que servirá como norte para iniciar a
conversa e a obtenção dos dados já mencionados. Essas perguntas foram aplicadas aos
4(quatro) dos 5(cinco) membros do Conselho Tutelar do município de Baturité, no qual todos
os entrevistados assinaram termos de consentimento e, portanto, concordaram com a referida
entrevista. Vale ressaltar que não foi possível submeter o rol de perguntas a todos os membros
por motivos de oportunidade e disponibilidade dos alvos da pesquisa.

Feita as entrevistas iniciou se o processo de degravação, sistematização e extração dos


dados pertinentes ao exame e que serão ao longo desde capítulo elencados e analisados
conforme o escopo desta tese.

4.2 Atuação do conselho tutelar municipal: a sistemática das ações de combate as violações e
promoção dos direitos das crianças e adolescentes.

Uma vez demonstrado as competências e a delimitação de atuação do conselho tutelar


municipal, podemos analisar a atuação do órgão em apreço no sentido de garantir a máxima
concretização dos direitos fundamentais. Com base nas entrevistas realizadas pode se auferir
quais são os eixos mais atuantes no que diz respeito a promoção e zelo pelos direitos
fundamentais.

Antes de adentrar no cerne deste tópico temos que relembrar o que vem a ser os direitos
fundamentais, nas palavras de Roberto João Elias “são prerrogativas que o indivíduo tem em
face do estado”55, ou seja é algo que toda pessoa possui e que deve ser observado e garantido
pelo estado tanto na constituição como em leis ordinárias que venham a ser criadas.

54
QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. Metodologia Jurídica: um roteiro pratico para trabalhos de conclusão de
curso/ Rafael Mafei Rabelo Queiroz, Marina Feferbaum – Coordenadores. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 220.
55
ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2010.
p.7.
30

No âmbito dos direitos dos infanto-juvenis o Estatuto da Criança e do Adolescente em


seu Título II, que trata dos direitos fundamentais, normatiza em seu artigo 7º, que “A criança
e ao adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas
sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em
condições dignas de existência”.

Passados esta prévia do que vem a ser os direitos fundamentais e como ele é trazido no
estatuto podemos agora observar como estes direitos são assegurados no município de
Baturité através da atuação do conselho tutelar.

Ao questionar os conselheiros sobre a atuação no sentido de promoção dos direitos das


crianças e adolescentes, percebeu se que as palestras em escolas e comunidades são as
principais formas de acesso e disseminação dos direitos inerente aos infanto-juvenis, foi
observado também que as campanhas de nível nacionais também acabam sendo também uma
fonte de conhecimento dos direitos fundamentais, que são levados a sociedade civil como um
todo, “Durante todo o ano além das campanhas que elas ocorrem a nível Nacional comum em
maio que é o mês que a gente trabalhar contra a exploração sexual de crianças e adolescentes
em junho a gente trabalha também contra o trabalho infantil né, mas além disso é feito um
circuito de palestras nas escolas pelos conselheiros56”

No que tange a atuação dos conselheiros tutelares em palestras foi notado que o
“circuito” de palestras, mencionado pelos entrevistados não obedece a um cronograma pré-
definido e nem eixos temáticos pré-estabelecidos, notou se que eles atuam de acordo com a
demanda e a realidade de cada escola ou comunidade ao qual são solicitados, variando entre
temas como direito e acesso a educação, direito a saúde, direito a segurança no sentido de
preservação a integridade de crianças e adolescentes, mas foi constados outros temas como
indisciplina, evasão escolar e uso de drogas.

Existe ainda outra linha de atuação do conselho tutelar, atuante quando o direito já
chega violado no órgão, tendo em vista que até agora foi falado apenas em direitos
fundamentais sendo promovidos, mas quando partimos para a violação destes direitos temos
uma outra linda de ações desenvolvidas pelos conselheiros, sendo sempre essas ações voltadas
a garantia dos direitos fundamentais.
Ao serem interrogados os entrevistados expuseram que quando a violação chega ao

56
Entrevistado 1 will
31

conselho, através de denúncias, pelo disque 100, pelo próprio telefone do conselho municipal,
por atendimentos presenciais na sede do conselho ou em residências, escolas e comunidades,
o órgão passa atuar da seguinte forma, aplicando as medidas protetivas elencadas no próprio
estatuto em seus artigos 98º,101º, 136º. “Nós vamos aplicando as medidas de acordo com o
artigo 136, 101, e 98 do Estatuto da Criança adolescente”57.
Sendo que atribuem a essa atuação um nível bom de resolução, segundo os conselheiros
“quando a medida é aplicada que por nós mesmo, uma violação simples que careça só mais de
um aconselhamento, esclarecimentos, e assinatura de um termo de compromisso, dificilmente
é reincidente dificilmente ocorre de novo”58 e complementam dizendo que:

[...] “tudo depende da violação, a gente também vai encaminhar para outro setor que
tá ali ligado à rede de proteção que pode ser o CREAS, ou em parcerias com o
CRAS, ou em parceria com o MP ou em parceria com a defensoria pública a gente
faz os devidos encaminhamentos dependendo do grau da violação”.59

É verificado que existe ainda um fator determinante para a atuação do conselho tutelar
na busca pela promoção e zelo dos direitos fundamentais, os conselheiros que foram
submetidos a entrevista abordaram sem exceção, que a visão errônea da sociedade civil para
órgão dificulta muita o trabalho dos agentes, a percepção dos conselheiros é que está
enraizado o estigma de que o conselho tutelar municipal personificado pelos conselheiros tem
por obrigação estarem fazendo ronda nas praças, avenidas, bares buscando e conduzindo as
crianças e os adolescentes para suas residências uma vez constatada as má conduta destes.
Nas palavras de um dos entrevistados, “a dificuldade que nos encontramos é que a
sociedade, as famílias não tem conhecimento devido do papel do Conselho Tutelar elas acham
que conselho tutelar é para dar “carão” em criança adolescente em menino danado, menino
Rebelde”60 está fala trata se de uma queixe que foi recorrente entre os entrevistados, alegando
que a falta de apoio social, se dá pela ignorância da população em não conhecer as
atribuições dos conselheiros tutelares e que acabam subjugando as ações praticadas pelos
conselheiros.
Os conselheiros esclarecem que:

[...]muito pelo contrário do que pensam, os conselheiros estão para garantir e


defender os direitos justamente dessa criança e do adolescente e até mesmo dos
57
Entrevistado 1 will
58
Entrevistado 2 evani
59
Entrevistado 2 evani
60
Entrevistado 3 reginaldo
32

próprios adolescentes por que a maioria dos violadores desses direitos fora o Estado
que é número um nas violações, são os próprios adolescentes eles mesmos violam os
próprios direito deles[...]61.

Exposto fica que, uma vez a população em geral não compreendendo as atribuições e
competências do conselho tutelar, fica mais difícil a atuação do órgão pois além de
combaterem a ação dos violadores de tais direitos, têm que também combater os estigmas
entranhados na sociedade hora pela ignorância da população, hora pelo próprio costume de
antigos conselheiros de exercerem as suas atribuições de forma errada. Daí um dos grandes
impasses enfrentados pelos membros do conselho tutelar no exercício de suas atribuições.
Ainda no que diz respeito às atuações dos conselhos é observado uma fala que se
destacou dentre as demais foi a de atuação em cooperação, ou seja, atuação em conjunto do
órgão conselho tutelar com uma rede denominada “rede de proteção”, que é composta por
Centro de Referência da Assistência Social (CRAS); Centro de Referência Especializado de
Assistência Social (CREAS); Centros de Atenção Psicossocial – (CAPs); Núcleo de Apoio à
Saúde da Família (NASF);Secretária de Educação; Secretária de Saúde; Defensoria Pública e
Promotoria; Delegacia Regional de Baturité dentre outros órgão.
Foi notado que reconhecida as limitações do órgão, este busca amparo e subsídio
naquilo que lhe falta em outros órgãos, ficando observado o verdadeiro comprometimento do
conselho em efetivar os direitos garantidos e restaurar aqueles direitos que foram por ventura
violados, isso se mostrou também muito eficaz numa campanha realizada em 2017 62 “ a
campanha de 2017 foi feito uma campanha muito intensa nas escolas nas comunidades nas
redes sociais nas rádios dentro das secretarias, nós fomentamos a intersetorialidade e deu
certo então na semana seguinte da campanha a gente recebeu inúmeras denúncias e na maioria
delas é verdade.”63
Nessa fala comtemplou se a importância da Cooperatividade e mais, a de se fazer para
os demais órgãos, pois segundo os entrevistados os órgãos parceiros as vezes desconhecem
também as atividades inerentes ao conselho, o que acarreta além de um desgaste na
cooperação uma certa confusão nos procedimentos adotados por estes órgãos parceiros em
relação ao conselho tutelar.

Digamos, a delegacia de Baturité é Regional, ela atende os casos de adolescente


autor de ato infracional do maciço de Baturité, mas o Conselho Tutelar de Baturité
ele atende os adolescentes de Baturité porque cada Conselho Tutelar é jurisdicional

61
Entrevistado 3 reginaldo
62
Campanha a nível nacional, de combate a exploração sexual de crianças e adolescentes.
63
Entrevistado 1 will
33

atende a comarca de seu município. Então quando se há uma violação de Direito de


adolescente por exemplo de Ocara como aconteceu a semana passada tem que ser
acionado o Conselho Tutelar do Município Ocara, onde reside o adolescente, aí a
gente não tem atribuição e a delegacia acaba ligando para o conselho para fazer o
translado de devolver esse adolescente aos pais não é, o que que acontece ele ficam
chateados porque o conselho não vai. Ou seja, eles não têm conhecimento e dificulta
a parceria.64

Nota se que um dos princípios que contemplam a doutrina da proteção integral é o


Princípio da Municipalização, que além de descentralizar política e administrativamente as
ações para efetivação da doutrina de proteção integral, delimita à atuação, geograficamente,
de órgãos, como por exemplo o conselho tutelar.
Como foi exposto não são respeitados ou muitas vezes nem conhecidos as delimitações
de atribuições, funções e competências, acarretando por vezes um errôneo acionamento de
órgãos como conselho tutelar.

4.3 Propostas para o melhor desenvolvimento do conselho tutelar municipal, na busca


pelos direitos da criança e do adolescente.

Uma vez demonstrada, a composição do conselho tutelar, as ações que são


desenvolvidas no sentido de promoção de direitos fundamentais bem como as ações concretas
na busca pela reparação dos direitos uma vez violado e também as reais e as mais latentes
dificuldades enfrentados pelo conselho tutelar no exercício de suas atribuições.

É trazido agora propostas, indicações e sugestões para o melhor funcionamento do


conselho tutelar municipal, seja na forma estrutural ou na forma de atuação dos membros
conselheiros, visando sempre a busca precípua pela efetivação dos direitos das crianças e
adolescentes.

O conselho tutelar municipal atualmente conta com uma boa estrutura física como sede,
que garante tanto aos conselheiros como ao público alvo do órgão, crianças e adolescentes,
um ambiente sadio, seguro e acolhedor para quem os procuram, contam com salas individuais
de atendimento, que é muito importante pois assegura a privacidade e a intimidade dos
atendidos, haja vista a complexidade de algumas atendimentos, carro particular para
atendimento e acompanhamentos externos contam também com um satisfatório estoque de
material de expediente e ainda uma secretária para as funções administrativas.

64
Entrevistado 4 reginaldo
34

No entanto nota se a carência no que diz respeito ao conhecimento do órgão pela


sociedade civil, e aqui não entende se como conhecimento de suas funções e prerrogativas,
mas conhecimento no sentido de existência, pois embora trate se uma cidade com pouco mais
de 35 mil habitantes65 não existe uma ampla divulgação da existência do conselho tutelar, nem
como se tem o acesso até o órgão.

Seria razoável a adoção de medidas mais eficazes no que diz respeito a divulgação de
atuação do órgão, como por exemplo a criação de uma cartilha que contivesse endereço,
telefone para contato, nomes dos conselheiros, dias e horários de atendimentos e plantões bem
como atribuições básicas do conselho tutelar. Tudo isso para facilitar o acesso e daí garantir a
segurança dos direitos de crianças e jovens que por ventura necessitem dos serviços prestados
pelo conselho.

Uma demanda que se mostrou bastante pertinente, foi a necessidade de uma equipe
multidisciplinar, pois atualmente existe a disposição profissionais que fazem parte do Centro
de Referência da Assistência Social (CRAS), tal necessidade inclusive tem previsão legal no
estatuto da criança e do adolescente em seus artigos 15066 e 15167.

Uma vez esse preceito legal sendo efetivado garantiria ao conselho municipal a
existência de no mínimo de um(a) assistente social, um(a) psicólogo(a) para atuar de modo
efetivo, diário e a inteira disposição, já que a ausência desses profissionais acaba acarretando
na prestação de assistência inadequada ou de forma deficiente pois os conselheiros locais não
possuem expertise, para lidar com determinadas demandas a eles apresentadas.

Agora partindo para o conhecimento tangenciando as prerrogativas de atuação do órgão,


foi unânime nas falas dos entrevistados que um dos principais, se não o principal obstáculo
enfrentado pelos conselheiros é a falta de conhecimento de esclarecimento por parte da
sociedade civil sobre as atribuições do conselho tutelar trazidas pelo artigo 136 do Estatuto da
Criança e do Adolescente68.
65
IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Estimativas da população
residente com data de referência 1o de julho de 2017.
66
Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de sua proposta orçamentária, prever recursos para
manutenção de equipe interprofissional, destinada a assessorar a Justiça da Infância e da Juventude.
67
Art. 151. Compete à equipe interprofissional dentre outras atribuições que lhe forem reservadas pela legislação
local, fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou verbalmente, na audiência, e bem assim desenvolver
trabalhos de aconselhamento, orientação, encaminhamento, prevenção e outros, tudo sob a imediata
subordinação à autoridade judiciária, assegurada a livre manifestação do ponto de vista técnico.
68
Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:
I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas
no art. 101, I a VII;
35

Já foi dito em capítulos anteriores que muitos agentes da sociedade civil, acham que o
Conselho tutelar deve está fazendo ronda de forma ostensiva em praças, bares, avenidas e
casas noturnas para direcionarem os menores em eminente conflito ou violação direitos para
suas residências como se os conselheiros fossem tão somente uma espécie de patrulha infanto-
juvenil.

Ora está função ostensiva não é, e nunca foi atribuição do órgão conselho tutelar.
Portanto verifica se a urgente necessidade de esclarecimento do que vem a ser o Conselho
Tutelar e quais suas reais funções para que a sociedade como todo possa entender e portanto
facilitar a ação dos conselheiros que são taxados como os que menos trabalham, uma vez que
se recusam a prestar os serviços de “conselho ostensivo” que tanto são demandados.

Tais esclarecimentos poderiam integrar a rotina de palestras as quais são feitas pelos
conselheiros em escolas e comunidades da zona urbana e rural do Município de Baturité,
resgatando ainda a indicação anterior, a elaboração da cartilha, que exemplificando e
abordando de modo bem didático e objetivo as prerrogativas e atribuições inerentes ao
conselho tutelar e portanto aos conselheiros, elucidando portanto os civis que desconhecem ou
que tem uma visão deturpada do que realmente é o conselho tutelar, e a representação desde
órgão para a sociedade.

Buscou se modelos referenciais para elaboração de tais cartilhas ou guias, mas nos
órgãos de referência nacional, Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e

II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas previstas no art. 129, I a VII;
III - promover a execução de suas decisões, podendo para tanto:
a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social, previdência, trabalho e segurança;
b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de descumprimento injustificado de suas deliberações.
IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração administrativa ou penal contra os
direitos da criança ou adolescente;
V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência;
VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para
o adolescente autor de ato infracional;
VII - expedir notificações;
VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou adolescente quando necessário;
IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentária para planos e programas de
atendimento dos direitos da criança e do adolescente;
X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso
II, da Constituição Federal;
XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou suspensão do poder familiar, após
esgotadas as possibilidades de manutenção da criança ou do adolescente junto à família natural.
XII - promover e incentivar, na comunidade e nos grupos profissionais, ações de divulgação e treinamento para
o reconhecimento de sintomas de maus-tratos em crianças e adolescentes.
Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do
convívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao Ministério Público, prestando-lhe informações sobre os
motivos de tal entendimento e as providências tomadas para a orientação, o apoio e a promoção social da
família.
36

referência estadual, Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude – CAOPIJ e


Defensoria do Estado no Ceará, mas não foram localizados nenhuma cartilha ou guia mesmo
que de modo geral pudesse servir de alusão para elaboração de uma Cartilha local.

Abrangendo as parcerias e os órgãos que compõem a “rede de proteção”, constatou se


que existe uma cooperatividade muito positiva no sentido de assistência dos órgãos que
compõem esta rede69 para com o conselho tutelar. Muito embora exista questões que precisam
ser avaliadas e melhoradas. Foi relatado por nossos entrevistados a falta de diligência de
alguns desses órgãos quando acionados por membros do Conselho Tutelar, foi suscitado por
um dos entrevistados a prerrogativa de arbitração de prazo para resposta e ou esclarecimentos
solicitados pelo órgão Conselho tutelar, prerrogativas essas que são desrespeitadas pela falta
de credibilidade atribuída ao órgão local, sendo atendidas tão somente quando acionados
órgãos do judiciário, tudo isso se dá, fruto da já falada ignorância dos demais órgãos e
pessoas do que vem a ser o conselho tutelar. Daí a importância de uma intensa e frequente
difusão do que é o conselho tutelar e o que ele representa para a sociedade em geral.

É observado que existe um fluxo de palestras que são realizadas em comunidades e


escolas tanto da rede pública como da privada, o que é muito positivo, mas existem uma
fragilidade nessas palestras que foi observado a partir da fala dos entrevistados, tais palestras
não obedecem um cronograma, nem de temas, nem de periodicidades, sendo essas realizadas
apenas quando solicitadas pelos entes mencionados, merecendo portanto uma reavaliação,
haja vista que o atual método, por não ter pré-estabelecido um fluxo temático acaba não
construindo uma sequência de ideias que facilitaria a melhor obtenção de informações por
aqueles que estão participando desses eventos.

Cabe ressaltar a louvável ação de através de palestras disseminar o verdadeiro conceito


e a real função do órgão em apreço, mas como dito seria algo muito mais eficaz e eficiente se
estas ações fossem planejadas seguindo uma ordem tanto de ideais, quanto cronológica,
facilitando a apreensão de todos aqueles que são o público alvo, pais, mestres, e sobre tudo
crianças e adolescentes.

Podendo ser ministrados essas palestras de forma conceitual e objetiva que partiria da
conceituação do órgão, passando por funções e prerrogativas, exposição do rol de direitos e

69
Centro de Referência da Assistência Social (CRAS); Centro de Referência Especializado de Assistência
Social (CREAS); Centros de Atenção Psicossocial – (CAPs); Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF);
Secretária de Educação; Secretária de Saúde; Defensoria Pública e Promotoria; Delegacia Regional de Baturité.
37

deveres dos infanto juvenis e acima de tudo medidas protetivas e garantidoras dos direitos
fundamentais destes, além de conscientização pelo zelo e investimento que deve ser adotado
pela sociedade civil e pela administração pública para com as crianças e os jovens que
encontram se em fase de desenvolvimento atípica, dada a suas condições peculiares.

Outro ponto suscitado pelos entrevistados no que diz respeito a promoção dos direitos
fundamentais foi o desenvolvimento de campanhas, idealizadas á nível nacional, e que são
redimensionadas paras todos os municípios do país, Campanhas que abordam temas de
importância relevância social e de muito impacto a nível local.

O que ficou observado é que poderia ser adotado as experiências positivas destas
campanhas que refletem uma realidade nacional e ser idealizados ciclos de campanhas a
níveis locais.

Campanhas que poderiam ser pensadas e executadas em conjunto com as secretárias


municipais retratando de modo bem mais especifico a realidade de crianças e adolescentes do
município de Baturité, sendo a propositura feita de modo trimestral, tempo que se mostra
suficiente para elaboração e execução dos planos propostos para cada temática, e como falado
a eleição dessas temáticas se dariam de acordo com a demanda que se mostrar mais latente.

Tudo isso para reforçar as ideias trazidas por aquelas campanhas de nível nacional no
qual essas serviriam de ponto de partida para a propositura dessas á níveis municipais,
conseguindo contemplar muito melhor a realidade dos problemas locais, fazendo ainda uma
trabalho muito mais efetivo e eficaz, que é de criar um alerta para os problemas, ao passo que
instrui a sociedade civil (onde serão desenvolvidas as campanhas) para combate direito a
esses violadores de direitos, tendo uma visão futurista o desenvolvimento desses métodos
seriam referências mais que positivas aos demais municípios do Maciço de Baturité.

Um importante questionamento a ser aqui discutido é o que diz respeito a remuneração


dos conselheiros que encontra se atualmente sem reajuste desde muito tempo. Segundo os
entrevistados isso acaba sendo um grande desestimulador tendo em vista a dedicação, o
comprometimento e o tempo diário que a função exige, para os conselheiros é quase que
impossível dedicar se única e exclusivamente a função de conselheiro, haja vista que as
percepções pecuniárias não são satisfatórias e nenhum pouco compatível com o desempenho
da função.
38

Foi exposto também pelos conselheiros que atualmente o Conselho Tutelar do


Município de Baturité é atualmente o órgão com a menor remuneração, mostrando a gritante
discrepância com situação fática da sociedade daquela cidade, haja vista ser um dos maiores
Municípios do maciço, com área territorial aproximada de 308,581 km² 70 e população em
torno de 35,575 habitantes71. Não querendo aqui demonstrar que a remuneração seja baseada
no contingente populacional, mas que dado o número de habitantes, pode se supor que
maiores serão as demandas trazidas para o conselho tutelar.

Foi observado a partir da fala dos entrevistados que, a falta de incentivo pecuniário
reflete no desempenho da função uma vez que a maioria dos entrevistados suscitou esse fator
como um dos principais impasses para o pleno desenvolvimento da função, falaram ainda,
disseram que nos estigmas que sofrem, pois culturalmente o conselho tutelar da cidade de
Baturité tem a má fama de não trabalhar de modo correto, pelas razões que já foram
abordadas em tópicos anteriores.

Acredita se que o levantamento documental de que falou se nos parágrafos anteriores,


sobre a defasagem do salário do conselheiro e mais a comparação com os demais conselhos
dos Municípios vizinhos, possam instruir uma solicitação de reajusto junto ao Conselho
municipal de Defesa da Criança e do Adolescente, que por sua tem maior força organizacional
e política para pleitear junto ao chefe do poder executivo local uma oportuno e digno reajuste
salarial de modo a melhor amparar o desempenho da importante e honrosa função que é o
conselheiro Tutelar.

70
Área territorial brasileira. Rio de Janeiro: IBGE, 2018.
71
IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Estimativas da população
residente com data de referência 1o de julho de 2017.
39

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