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Resumo: O presente estudo trata de uma pesquisa qualitativa, com utilização do método
descritivo, a partir de artigos publicados e normas inseridas no ordenamento jurídico, que
versam sobre o direito à origem, ponderando-o como condição para o desenvolvimento
humano de crianças e adolescentes em contexto de adoção. A Lei n.º 8.069/90 - Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), em seu artigo 48, prevê expressamente o direito de o
adotado conhecer sua origem biológica, reconhecendo a importância de tal informação para
construir a identidade. Tal questão estaria intrinsecamente relacionada ao direito da
personalidade, a partir da concepção da pessoa como ser integral, que passa, necessariamente,
pela ciência de suas origens. Ocorre, p1orém, que o dispositivo mencionado enfatiza a
possibilidade de tal acesso a partir dos 18 anos, ou seja, quando já adulto, sendo o acesso
ainda na infância até permitido, desde que solicitado pelo adotado e mediante orientação e
assistência jurídica e psicológica. Diante disso, emerge a questão pertinente à relevância de
crianças e adolescentes em contexto de adoção conhecerem suas origens como condição para
o próprio desenvolvimento humano, averiguando quais os empecilhos para que essa
informação seja viabilizada. Com essa finalidade, incialmente se fará uma abordagem sobre o
contexto da adoção no Brasil, para em seguida revelar a importância do conhecimento sobre
as origens e sua relevância para o desenvolvimento humano, enfrentando os possíveis
entraves ao exercício desse direito que, como regra, deve ser garantido desde a infância, em
atenção ao princípio do melhor interesse da criança e do adolescente.
Palavras-chave: Adoção. Direito à origem. Desenvolvimento Humano.
Abstract: The present study is a qualitative research, using the descriptive method, based on
published articles and norms inserted in the legal system, which deal with the right to origin,
considering it as a condition for the human development of children and adolescents in the
context of adoption. Article 48 of Law No. 8,069/90 - Statute of the Child and Adolescent
(ECA) expressly provides for the right of the adoptee to know his or her biological origin,
recognizing the importance of such information to construct identity. Such an issue would be
intrinsically related to the right of personality, based on the conception of the person as an
integral being, which necessarily passes through the knowledge of his origins. It happens,
however, that the aforementioned provision emphasizes the possibility of such access from
the age of 18, that is, when already an adult, with access still in childhood being allowed, as
long as requested by the adoptee and with guidance and legal and psychological assistance. In
view of this, the question emerges regarding the relevance of children and adolescents in the
context of adoption knowing their origins as a condition for their own human development,
ascertaining what are the obstacles for this information to be made viable. To this end, it will
initially be approached about the context of adoption in Brazil, and then reveal the importance
of knowledge about the origins and its relevance to human development, facing the possible
obstacles to the exercise of this right that, as a rule, should be guaranteed from childhood, in
attention to the principle of the best interest of the child and adolescent.
1
Mestranda do Programa de Pós Graduação em Direitos Humanos, Universidade Tiradentes-UNIT, Aracaju,
Sergipe, Brasil. Lattes: http://lattes.cnpq.br/4058662190372685 Orcid: https://orcid.org/0009-0008-9058-1107
Email: mestrado_anajara@souunit.com.br
Keywords: Adoption. Right of origin. Human Development.
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS:
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dez 2023
4
Plano Nacional Pela Primeira Infância - Elaborado pela Rede Nacional Primeira Infância Aprovado pelo
CONANDA em dezembro de 2010. Revisado e atualizado em 2020. Disponível em:
https://andi.org.br/publicacoes/plano-nacional-pela-primeira-infancia/. Acesso em 05 dez 2023
adoção de crianças mais velhas, com condições de saúde adversas ou pertencentes a
grupos de irmãos que não podem ser separados. (PNPI, p. 93)
Quer dizer, em que pese o citado artigo 48, do ECA, ser enfático quanto à viabilidade
do direito à origem positivado dever ser conferido após o adotado completar 18 (dezoito) anos
e apenas excepcionalmente antes disso, já se via no âmbito internacional o movimento no
sentido de abrigar esse direito desde a infância.
5
Declaração sobre os princípios sociais e jurídicos relativos à proteção e ao bem-estar das crianças, com
particular referência à colocação em lares de guarda, nos planos nacional e internacional. Adotada pela
Assembleia Geral das Nações Unidas de 3 de dezembro de 1986. Disponível em:
http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/c_a/dec86.htm. Acesso em: 12 dez 2023
Isso porque é na infância que se inicia o desenvolvimento humano que precisa
observar o ciclo de vida individual, afinal, “Cada fase do ciclo de vida estabelece as condições
para as fases seguintes” (SACHS, 2017, p. 272), de modo que o sucesso ou não das próximas
fases da vida de uma criança pode depender das escolhas que são feitas na fase anterior.
Assim sendo, convém trazer a lume a compreensão de que, para que esses sujeitos
em desenvolvimento realmente possam crescer de forma saudável, há que se garantir a
construção da sua identidade e da sua personalidade livre de entraves, proporcionando a maior
quantidade de informações que for possível para o desabrochar das suas capacidades e,
consequentemente, das suas liberdades substantivas, sendo que no contexto da adoção
conhecer a sua origem surge como fator primordial nesse processo.
É preciso ter em conta que a perspectiva com que se observa na prática o arremate
dos processos de adoção no Brasil, como salientado acima, visa muito mais satisfazer os
interesses dos adotantes de ter um filho, do que o interesse da criança e do adolescente, o que
conduz a uma pretensão de exclusividade, com consequente apagamento da vida anterior do
adotado (MELO, 2021), havendo preferência pelo silêncio ou relatos evasivos sobre a sua
origem.
De acordo com o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 41, a
adoção promove o desligamento de qualquer vínculo com os pais e parentes, porém, é preciso
ter a sensibilidade para o fato de que esse rompimento é pertinente aos vínculos jurídicos, pois
os demais estreitamentos, sejam afetivos, sejam apenas de ancestralidade, se perpetuam,
afinal, fazem parte da história que constitui aquele ser em desenvolvimento.
Oportuno perceber que o adiantamento cognitivo de uma criança começa muito cedo,
mormente nos primeiros três anos, de modo que se ela cresce em um ambiente que não é
seguro seu desenvolvimento subsequente fica comprometido, o que irá refletir na vida adulta
(SACHS, 2017), revelando a importância em permear a vida desses sujeitos com o máximo de
acolhimento e atenção às suas necessidades.
Isso porque ser informado sobre a família em que foi gerado e as circunstâncias que
o levaram a adoção vão lhes permitir preencher a lacuna experimentada entre o afastamento
da família biológica e a inserção na família adotiva, enquanto a ausência dessa informação
pode tornar-se empecilho ao desenvolvimento como “instrumento de defesa contra o inusitado
que possa encontrar no futuro por não se ter encontrado convenientemente com o seu
passado” (SCHETTINI FILHO, 2019)
É importante mencionar ainda que ao viabilizar o acesso a sua história se “reafirma
os laços com a família adotiva, pois afasta os fantasmas de uma história camuflada”
(LADVOCAT, 2021, p. 71), não dando espaço para confusão entre fantasia e realidade
(MACHADO, 2019), de modo que o direito à origem não consubstancia uma mera
curiosidade, afinal, sua não observância pode trazer prejuízos ao desenvolvimento do adotado,
como bem elucida Mariana Lamassa da Fonseca:
O conhecimento das origens por pessoas adotadas não integra meramente o campo
da vontade, mas constitui-se um direito fundamental com repercussão ainda em
outros dois direitos: de integridade física e psíquica e livre desenvolvimento da
personalidade. A efetivação dessas garantias, quando consideradas na perspectiva da
infância e adolescência torna-se ainda mais urgente, tendo em vista a prioridade
assumida por esse público ante a condição de pessoa em desenvolvimento de que
desfrutam. (FONSECA, 2022, p. 80)
6
Aprova o fluxo de recebimento e processamento dos pedidos de acesso às informações de origem biológica de
que trata o artigo 48 da Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990, e o artigo 30 da Convenção Relativa à Proteção das
Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, concluída na Haia, em 29 de maio de 1993,
encaminhados por pessoas adotadas em território nacional por residentes no exterior. Disponível em:
https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/sua-protecao/cooperacao-internacional/adocao-internacional/arquivos/
resolucoes/resolucao-19_2019_portugues.pdf.
processo de adoção e correlatos em atendimento ao pedido de informação sobre a origem
encaminhados por pessoas adotadas em território nacional por residentes no exterior.
Há ainda a Resolução 485, de 18 de janeiro de 2023, do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ)7, pertinente à entrega voluntária para adoção, que impõe o dever de informar à
gestante ou parturiente sobre o direito da criança ao conhecimento da origem biológica e de
deixar informações ou registros que favoreçam a preservação da identidade da criança.
Apesar disso, não se observam regras pertinentes ao atendimento às solicitações de
acesso à localização da família de origem nas adoções nacionais, de modo que os “pedidos
recebidos dependerão da disponibilidade de informações, bem como de recursos humanos e
tecnológicos dos Tribunais de Justiça brasileiros.” (PINHO; MACHADO, 2022), deixando
clara a necessidade de mediação do judiciário para alcançar essa finalidade de forma a não
acarretar danos ao adotado.
Igualmente não se observam normas no sentido de conferir expressamente aos pais
adotivos o dever de preservar a história da criança e do adolescente, dando a esses a
oportunidade de conhecer sua origem e construir sua identidade, afinal, “são preceitos básicos
e que devem estar presentes no horizonte de qualquer processo, especialmente àqueles que
versam sobre a colocação em família substituta por meio da adoção.” (LEAL, 2023, p. 70)
Não se pode esquecer que a criança ou adolescente que é retirado do convívio com
sua família original para ser inserido em uma família substituta já apresenta uma biografia
naturalmente mais desafiadora que muitos outros, sendo que a partir dessa inserção é que
novos laços afetivos podem se formar, competindo aos pais adotivos a educação e orientação
desses sujeitos em um ambiente que lhes proporcione a segurança necessária e que vai,
inclusive, estabelecer laços afetivos mais firmes com a própria família que o acolhe.
Significa dizer que os pretendentes à adoção precisam estar cientes de que é uma
escolha cautelosa revelar a origem da criança e do adolescente desde os primeiros momentos
de convivência, pois isso será “crucial para que ela possa explorar seu momento presente e
planejar seu futuro, desejando fazer, ser e construir, livre de impedimentos ou bloqueios.”
(CUPOLILLO, 2017, p. 195-196)
Registre-se, pois oportuno, que para os cadastros de pretendentes à adoção diversos
critérios são avaliados, a exemplo da história da vida, características pessoais, relações sociais
e familiares e motivação (SILVA, 2021), sendo que nos cursos de preparação psicossocial
promovidos para esses pelo judiciário são abordadas diversas questões, dentre elas o processo
7
Dispõe sobre o adequado atendimento de gestante ou parturiente que manifeste desejo de entregar o filho para
adoção e a proteção integral da criança. Disponível em:
https://atos.cnj.jus.br/files/original1451502023012663d29386eee18.pdf.
de adaptação nos momentos iniciais da chegada da criança/adolescente e o nome e a revelação
da história da origem para a criança (DA LUZ PELISOLI; LEITE; ROMERO, 2020.)
Apesar disso, não se pode negar que a questão das origens está imbricada entre a
necessidade de filhos adotivos em conhecerem suas histórias, no interesse ou não das famílias
de origem em terem suas identidades resguardadas e nas decisões das famílias adotivas sobre
como lidar com essas informações (FINAMORI, 2020), restando patente a carência quanto à
ausência de uma verdadeira política pública que possa viabilizar a consecução do direito à
origem, sobretudo para crianças e adolescentes, posto que sujeitos em formação e que também
possuem o direito ao desenvolvimento, que é um direito humano inalienável, como bem
elucida Flávia Piovesan:
Neste cenário, é fundamental consolidar, fortalecer e ampliar o processo de
afirmação do direito ao desenvolvimento como um direito humano inalienável, bem
como dos direitos econômicos, sociais e culturais como direitos humanos.
Incorporar o enfoque de gênero, raça e etnia na concepção do direito ao
desenvolvimento, bem como criar políticas específicas para a tutela dos direitos
econômicos, sociais e culturais em virtude da especificação de sujeitos de direitos. A
efetiva proteção do direito ao desenvolvimento e dos direitos econômicos, sociais e
culturais demanda não apenas políticas universalistas, mas específicas em favor de
grupos socialmente vulneráveis. (PIOVESAN, 2002)
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como visto, a adoção é uma forma de inserir em família substituta uma criança ou
adolescente que foi retirado do convívio com sua família de origem, seja por imposição ou ato
volitivo, por meio da qual são rompidos os vínculos jurídicos com essa família, para que
sejam formados novos vínculos com a família adotante.
Apesar de ser certa a preocupação legislativa quanto ao melhor interesse da criança e
do adolescente em contexto de adoção, o que na prática se observa é a necessidade da
mudança de perspectiva quanto à materialização dessas normas, eis que se mostra muito mais
centrada nos interesses de quem adota do que de quem é adotado.
Aliás, tal perspectiva se mostra ainda mais evidente quando se trata da consecução
do direito à origem, que se revela fundamental para a percepção da identidade e construção da
personalidade, permitindo o livre desenvolvimento humano desses sujeitos de direitos, com a
promoção das suas capacidades humanas e das liberdades substantivas.
Isso porque há em torno da adoção uma atmosfera de medos e preconceitos que de
certa forma clamam pelo afastamento completo com qualquer vínculo anterior, havendo até o
desejo de apagamento da história pregressa do adotado, como se a criança ou adolescentes
nascessem a partir do momento em que é adotado, sem atentar para imprescindibilidade de
permear a vida desse com as informações suficientes e necessárias para compreender de onde
vem e, então, poder saber para onde vai.
Não se pode esquecer o não conhecimento sobre a origem da criança ou do
adolescente, pode levá-las a fantasias e distorções da realidade, acarretando dúvidas, medos,
ansiedades e muito stress, que podem impactar o crescimento e liberdade nas fases da vida,
comprometendo diretamente o seu desenvolvimento físico e psíquico.
Assim sendo, o que se observa é a necessidade de criar mecanismos que em verdade
promovam o direito à origem, não apenas com o fornecimento de acesso aos processos que
culminaram na adoção, geralmente, aos maiores de 18 anos, mas o fazendo ainda na infância,
mediante a assistência que se faça necessária para a tríade adotiva.
Portanto, verifica-se que apesar de existir no ordenamento jurídico previsão expressa
quanto ao direito à origem, bem como inserções sobre procedimentos que possam viabilizá-lo,
o fato é que não há uma política pública verdadeiramente voltada para esse fim, sobretudo
para permitir esse acesso ainda na infância, carecendo de uniformização de procedimentos e
continuidade no atendimento psicossocial para crianças e adolescentes em contexto de
adoção.
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nos 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, 8.560, de 29 de
dezembro de 1992; revoga dispositivos da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código
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BRASIL. Lei nº 13.509, de 22 de novembro de 2017. Dispõe sobre adoção e altera a Lei nº
8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), a Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e a Lei
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