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Rio de Janeiro - RJ
2023
RESUMO
Este trabalho crítico tem como objetivo analisar os impactos da intervenção da Missão das
Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH) em 2004 devido ao momento de
instabilidade política, social e econômica que o país convivia há tempos e se intensificou à
época. A intervenção militar, ainda que tenha obtido alguns indícios de sucesso, foi usada
para ocultar abusos de poder, abusos sexuais por parte das tropas para com a população, e
a postergação do firmamento do Estado Democrático de Direito no país que foi a primeira
colônia latino-americana a conquistar a independência junto do fim do regime escravocrata
mas, ainda assim, ao longo de sua história continuou a ser dominado por países
imperialistas que, por interesse econômico, continuaram a intervir no território haitiano para
impedir a estabilidade da nação a ponto de não ser mais explorada por terceiros. Assim, o
trabalho busca resgatar desde a conjuntura que levou o Haiti à tamanha fragilidade até os
efeitos decorrentes de mais uma intervenção de terceiros no controle da nação.
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...............................................................................................................3
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS…………………………………………………13
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1. INTRODUÇÃO
Ao longo das décadas, o Haiti enfrentou desafios estruturais, desde golpes de estado
a desastres naturais devastadores, exacerbando a pobreza e a instabilidade política. A criação
da missão em 2004 marcou um ponto crucial na história do país, representando um esforço
internacional para restaurar a ordem e promover a estabilidade.
Por meio desta análise crítica, busca-se oferecer uma compreensão mais abrangente da
intervenção no Haiti, avaliando seu papel no contexto haitiano.
A nação, que se encontra na mesma ilha caribenha que a república dominicana, tem
um histórico conturbado desde sua formação desde sua colonização iniciada pela Espanha e
depois seguida pela França, no fim do século XVII, após isso a colônia passou por um
processo de revolução em busca da independência do país e o fim da escravatura que era a
base da forte economia açucareira da colônia de São Domingos, como era chamado à época,
sendo a primeira das Américas que conquistou tal feito.
O processo, inspirado no que havia recentemente acontecido nos Estados Unidos, foi
iniciado pela burguesia branca que buscava não estar mais sujeita às taxas e decretos vindos
do continente europeu visto que a produção de açúcar prosperava cada vez mais e eles queria
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aumentar seus lucros. No entanto, ao ver os senhores se rebelando, os escravizados viram
uma oportunidade de liberdade, e tomaram a frente do movimento em busca também do fim
da escravidão no país, o que levou á primeira insurreição ainda em 1791. Já em 1793, em
meio ao conflito entre França e Inglaterra, São Domingos foi invadida, e, assim para
aumentar as tropas de defesa, houve o primeiro decreto de abolição da escravidão, que ainda
assim não foi suficiente para realmente abolir a população negra.
Assim, a partir do século 19 a luta da nação passou a ser tentar ter sua soberania
reconhecida, frustrar tentativas de invasão por países imperialistas que buscavam se
estabelecer a fim de lucrar recursos do território e criar um ambiente socioeconômico
próspero após a destruição causada por anos de lutas pela independência
A primeira ocupação foi pelos Estados Unidos em 1915, após seis presidentes terem
passado no poder em quatro anos e a hegemonia da comunidade alemã sobre domínio de
grande parte da economia local incomodar, uma vez que o momento era em que a 1º Guerra
Mundial acontecia e os EUA estava em lado contrário à Alemanha. Assim, o domínio
americano começou em 1915 e teve fim apenas em 1947.
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segunda maior cidade, e já buscavam tomar a capital Porto Príncipe quando em 29 de
fevereiro de 2004 Aristides renunciou ao cargo e saiu do país.
4. COALIZAÇÃO DE FORÇAS
Sua trajetória no poder ocorreu de forma instável, pois com o início do confronto
armado na cidade de Gonaïves e sua disseminação no território haitiano, Aristide assinou
então uma carta de renúncia e solicitou asilo na África do Sul, sendo substituído por Boniface
Alexander, que anteriormente havia sido Chefe de Justiça do país. O presidente interino
apelou às Nações Unidas por assistência imediata. O Conselho de Segurança das Nações
Unidas realizou, portanto, uma sessão extraordinária para discutir medidas a tomar à luz da
deterioração da situação política e da violência generalizada no país. Como resultado, a
Resolução 1529 (2004) previu o estabelecimento de uma força multinacional provisória de
manutenção da paz a ser enviada ao território haitiano no dia seguinte. A força de
manutenção da paz, composta pelos Estados Unidos, França, Chile e Canadá, pretendia
garantir que Bonifácio tivesse uma capacidade mínima de governação e preparar a chegada
de tropas de uma nova operação de paz, a MINUSTAH, que mais tarde seria autorizada pela
resolução 1542 (2004).
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Com a Resolução 1542 (2004), a missão de paz MINUSTAH ficou responsável
realizar a manutenção do processo político e constitucional haitiano. Nesse sentido, a missão
não visava criar a paz no Haiti, mas reintegrar a paz que já existia através do apoio à
mediação e à conciliação dos partidos políticos já existentes, do auxílio nas questões
logísticas e administrativas que eram demandadas pelas eleições e pelo auxílio na governança
do país. Entretanto, não foi um papel fácil, pois o cenário político do Haiti possuía
complexidades que dificultaram a atuação da MINUSTAH no que tange a reconciliação
partidária. Houve a necessidade de ser criado, em conjunto com programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento, o projeto de Diálogo Nacional, que possuía o objetivo fornecer
uma visão geral da situação política no Haiti e, ao reconhecer os atores políticos existentes,
permitir o início de um diálogo entre eles, sendo constituído por 12 membros de diversos
setores da sociedade e de grupos políticos (TORCHIARO, 2007).
Por fim, é válido ressaltar a forma com que a missão vem impactando a situação
econômica e financeira do Haiti em conjunto com o Poder Executivo do país. Os esforços da
Missão nesse sentido incluem projetos de alto impacto, como aquele em que os atores
financeiros locais receberam oito semanas de treinamento no Ministério da Economia e
Finanças (TORCHIARO, 2007, p. 59). Através destes projectos, a MINUSTAH contribuiu
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para a expansão do poder nacional. No domínio legislativo, esta missão apoia o Presidente da
Câmara dos Deputados e o Presidente do Senado no seu trabalho diário. Também coordena a
ajuda internacional e facilita reuniões regulares a nível técnico e político entre doadores e
autoridades nacionais.
5. A INTERVENÇÃO DA MINUSTAH
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Há de se destacar o “Core Group”, grupo de países centrais e determinantes na
condução da MINUSTAH, o qual o Brasil pertenceu. O exército brasileiro foi inserido na
missão posteriormente e junto com Argentina e Chile, formou o chamado “ABC”, o qual,
inicialmente, ansiava pela manutenção da segurança e estabilidade no território. No entanto, a
atuação dos referidos países ganhou destaque pelos programas de reformulação da estrutura,
saúde pública e construção civil. Inclusive, a participação dos países do Cone Sul foi
determinante para a MINUSTAH, principalmente, na fase posterior da missão, época na qual
essas nações possuíram, conjuntamente, mais de três mil militares.
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Em outro trecho, neste mesmo documento (S/2004/300:35), o
Secretário-Geral, reforçando o discurso, que se apóia sobre a
conturbada história haitiana, uma vez mais se lamenta pela ineficácia
das intervenções anteriores, mas concomitantemente apresenta esse
momento, de ocupação da MINUSTAH, como uma nova
oportunidade para a comunidade internacional se redimir de seus
fracassos, deixando também evidente que o ônus de um outro
fracasso recairá, em última instância, sobre o Haiti:
A citação deixa claro ainda que, em eventual falha na intervenção, essa deve ser
atribuída diretamente a nação, transmitindo a ideia que o Haiti em momento algum conseguiu
se firmar politicamente ou sequer enquanto sociedade, e sempre teve a necessidade de
recorrer a ajudas de outros Estados, principalmente os de histórico imperialista, que
altruisticamente sempre se dispuseram a ajudar, não sendo a nação haitiana capaz o suficiente
de estar alinhada com a intenção externa e aceitar o que é melhor para ela. Essa ideia de
considerar a nação haitiana seres incapazes de manter a ordem é uma visão já criticada por
outros autores. Vasconcelos, por exemplo:
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Talvez por ser o primeiro país das Américas a conquistar sua
independência por escravos insurretos (1791-1804) – em um continente no
qual os países tinham por base econômica a utilização da mão-de-obra
escrava -, o Haiti passou a ser o arquétipo da perturbação da ordem. Talvez
por ter criado uma religião amalgamada em ritos pagãos, passou a ser o
reino da desordem. Sabe-se, porém, que, até os dias de hoje, aos haitianos
não foi concedida a entrada – de forma cabal – à condição humana.
Acreditamos que, muito embora o considerável distanciamento temporal,
como indica a autora supracitada, o haitiano, ou melhor, as representações,
bem como as identidades haitianas são, ainda hoje, indissociavelmente
ligadas a essas experiências revolucionárias e religiosas, utilizadas, quer na
historiografia, quer na literatura, para localizá-los à margem da ‘condição
humana’, tornando-os, por este viés, incapazes/impossibilitados portanto, de
exercer sua soberania política...
Com base nos aspectos citados, por óbvio verifica-se que a preocupação maior da
ONU não era solucionar os problemas políticos de maneira ratificada pela nação, e sim tentar
implementar um modelo de intervenção que, dando certo, serviria de modelo para novas
possíveis intervenções, a fim de manter os parâmetros de civilização ocidental, e que dando
errado, seria justificado com o argumento de que a nação não é suficientemente preparada
para implementação de tal modelo civilizatório.
De acordo com Braga e Toledo, o abuso sexual no Haiti à época da intervenção, teve
inúmeros desdobramentos, não se resumindo ao abuso físico de forma direta e coercitiva.
Para além disso, em razão do estado de vulnerabilidade em que se encontrava o país,
aumentou substancialmente o número de abusos sexuais em troca favores, dinheiro,
alimentos, etc., e como resultado, a ONU redefiniu seu significado de abuso sexual,
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Desse modo, a organização define abuso sexual como “qualquer abuso ou
tentativa real que se comete tendo como fundamento uma posição de
vulnerabilidade, diferença de poder ou situação de confiança entre as
pessoas, para se obter vantagens sexuais. Isto inclui, porém não se limita a,
benefícios monetários, sociais ou políticos da exploração sexual de uma
pessoa” (ONU, 2003 [tradução nossa]).
Além disso, alegam também os autores, que o número de exploração sexual com a
cafetinagem, tráfico e escravização sexual na chamada “Economia de Peacekeeping”, termo
usado para se referir justamente a esse aumento na exploração sexual, devido a crescente de
demanda por serviços de prostituição com a chegada de militares estrangeiros. Em razão
disso, os autores apontam que houveram inúmeros casos de tráfico de pessoas que eram
seduzidas com ofertas enganosas de empregos, e eram, no fim, exploradas sexualmente.
Além disso, tais crimes eram pouco mencionados, maquiados talvez pelo cenário que
compunha a situação, e pela distribuição das relações de poder.
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Portanto, a análise crítica ressalta a necessidade de abordar essas questões não apenas
como desafios operacionais, mas como imperativos éticos e morais que demandam uma
abordagem abrangente e comprometida com o bem-estar humano e a justiça social.
A Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH) teve efeitos
significativos para a economia e a segurança da população haitiana, bem como para o mundo
em geral. A Missão promoveu o investimento estrangeiro no Haiti, estabelecendo um
ambiente seguro e estável, o que atraiu investidores estrangeiros. Isso contribuiu para o
crescimento econômico do Haiti, pois os investimentos estrangeiros são capazes de trazer
capital, conhecimento e habilidades para o país. Além disso, a assistência técnica oferecida
pela Missão para os agricultores haitianos, ajudando-os a melhorar suas técnicas de cultivo e
a aumentar a produtividade, contribuíram para o crescimento da agricultura no Haiti, que é
uma das principais fontes de renda para a população. Em suma, a missão trabalhou para
promover o desenvolvimento inclusivo e envolver a inclusão de todos os membros da
sociedade na participação econômica, implicando na redução da pobreza e da desigualdade
no Haiti.
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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Marvin, George (1916). «Assassination And Intervention In Haiti: Why The United States
Government Landed Marines On The Island And Why It Keeps Them There
Estratégia brasileira para o Haiti passava por manter Aristide fora do país;. Folha de S.Paulo.
12 de fevereiro de 2007. Consultado em 15 de dezembro de 2023
MARVIN, George (1916).Assassination And Intervention In Haiti: Why The United States
Government Landed Marines On The Island And Why It Keeps Them There
Estratégia brasileira para o Haiti passava por manter Aristide fora do país;. Folha de S.Paulo.
12 de fevereiro de 2007. Consultado em 15 de dezembro de 2023
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TOLEDO, Aureo.; BRAGA, Lorraine M. Abuso e exploração sexual em operações de paz: o
caso da MINUSTAH. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 28, n. 3, 2020. Disponível
em: https://www.scielo.br/j/ref/a/RDnBBGSDCQHczJ4XRzpx9nL/?format=pdf&lang=pt
Acesso em: 13 dez. 2023.
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