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Universidade Católica do Salvador

Instituto de Filosofia e Ciências Humanas


Curso: História com Habilitação em Patrimônio Cultural
Disciplina: História da América Latina
Docente: Vilma Maria do Nascimento
Discente: Danielle Nascimento Santos
Data: 29/11/2007

Fichamento
Tema: Revolução Sandinista

 O ano de 1979 foi marcado por algo de realmente novo no cenário latino-
americano: a Revolução Sandinista, na Nicarágua, ao mesmo tempo luta de
libertação nacional e tentativa de construção de uma nova sociedade socialista.

 A Nicarágua era mais um país com regime ditatorial apoiados pelos Estados
Unidos e tinha completa dependência de suas economias ao capitalismo norte-
americano que controlava diversos setores da produção desse país. O caráter
antiimperialista desse movimento revolucionário tem a existência de um líder
muito importante para a história do povo latino, Augusto César Sandino.

 A partir da década de 1930, a Nicarágua transformou-se numa espécie de feudo


da família Somoza, cujo patriarca Anastácio Somoza, graças ao apoio dos EUA
e contando com a ajuda da temível Guarda Nacional, implantou uma sanguinária
e brutal ditadura no país. Diga-se de passagem, que foi a Guarda Nacional: braço
armado do somozismo e treinada e equipada pelos EUA foi ela quem assassinou
o líder patriótico Sandino, em 1934. A partir de então, Sandino passou a ser
símbolo da luta de libertação nacional e da resistência nicaragüense contra o
imperialismo norte-americano.

 O pai e os dois filhos, Luis e Anastácio II, governaram o país a sangue e fogo: a
custa da miséria de 2 milhões de pessoas acumularam uma fortuna estimada em
600 milhões de dólares; apoderam-se de 20.000 km² das melhores terras, uma
sexta parte do território nacional, nas quais se produzia café para exportação e se
criava gado. Exploraram cassinos, luxuosas casas de prostituição e controlavam
o tráfico de drogas. "Grande parte da imensa fortuna obteve pelo roubo puro e
simples do dinheiro público conseguido por meio de empréstimos do exterior e
destinado à construção de obras de infra-estrutura, como estradas, canais de
irrigação, eletrificação, etc."

 É dentro deste contexto que, a partir dos anos 70, sob o lema "Sandino Vive",
iniciou-se a luta da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN). Tratava-
se de uma frente ampla que reunia operários, camponeses, estudantes,
intelectuais e, inclusive, parte da burguesia industrial insatisfeita com o
monopólio político da família Somoza. Ao mesmo tempo a FSLN assumiu a
liderança de uma guerra revolucionária contra o regime. Fazendo de Sandino
uma bandeira de luta, a FSLN intensificou a ação guerrilheira contra o governo,
apelando para os camponeses e contando com o apoio dos operários nas cidades.
 Sua ideologia pode ser resumida nas palavras de um dos líderes, Humberto
Ortega: "Nossa ideologia baseia-se em três componentes fundamentais; o
elemento histórico, o doutrinário e o político. Do ponto de vista doutrinário
seguimos fundamentalmente a teoria científica do marxismo. Mas do ponto de
vista histórico, alimentamo-nos de nossas tradições, o que significa que o
impulso que dirige hoje nossa luta não provém da doutrina que adquirimos a fim
de analisar a realidade, mas antes da experiência de mais de um século de luta
pela independência. E no que se refere à componente política, é o objetivo de
libertação nacional que devemos buscar nesse momento."

 Após diversas ações vitoriosas contra a Guarda Nacional e tendo sob seu
controle inúmeras cidades em julho de 1979 os guerrilheiros da FSLN ocupavam
a capital Manágua, enquanto o ditador Somoza fugia para Miami. A partir de
então se instalou uma Junta de Governo de Reconstrução Nacional, presidida por
Daniel Ortega.

 Objetivando a reconstrução econômica do país, estabeleceu-se uma aliança entre


os sandinistas e a burguesia anti-somozista e implantou-se uma economia mista,
em que o setor privado controla cerca de 70% da produção industrial, da
produção agrícola e do comércio exterior. Paralelamente, o setor público
controla a exploração de minérios, a produção de cimento e de material de
construção, etc. Em 1984, ano em que se realizaram as eleições dos deputados
que formariam a Assembléia Constituinte e também do presidente e vice-
presidente da República, os sandinistas conseguiram 67,25% dos votos, além de
elegerem Daniel Ortega à presidência.

 As dificuldades à implantação do novo regime sandinista, de orientação


socialista, foram uma constante, em especial devido às pressões norte-
americanas. As agressões dos Estados Unidos e sua ajuda militar, material e
financeira aos "contras" (grupos que lutaram contra o governo sandinista)
deveram-se à compreensão de que a Revolução Sandinista promoveria
profundas transformações nas estruturas sócio-econômicas do país. A título de
exemplo, pode-se destacar:
1. Reforma agrária e eliminação do latifúndio;
2. Desapropriação de quase 2 milhões de hectares de terras até então
pertencentes à família Somoza;
3. Alfabetização em massa e crescente conscientização política;
4. Controle por parte do Estado de setores essenciais da economia;
5. Caráter nacionalista e antiimperialista do movimento revolucionário;
6. Resistência armada à luta contra-revolucionária empreendida pelos
"contras";
7. Estreitamento dos laços diplomáticos e econômicos com a União
Soviética;
8. Participação organizada faz massas populares em todos os setores da
sociedade (saúde, defesa, educação, administração da justiça, condições
de trabalho, etc.);
9. Desenvolvimento do cooperativismo no campo, apesar da
preponderância da pequena propriedade rural.
 Essas são apenas algumas transformações que a revolução promoveria. Os
elementos acima relacionados, apesar de fazerem parte de um projeto de
libertação nacional e transição para o socialismo, eram considerados
inadmissíveis para o governo norte-americano, preocupado com a teoria do
dominó, segundo a qual a implantação de mais um regime "marxista-lenista" na
América Latina não apenas se constituía em perigoso exemplo, mas era
entendida também como uma ameaça à segurança dos Estados Unidos.

 É dentro deste contexto que se inseriu a escala da ajuda militar, diplomática e


econômica norte-americana aos "contras" durante os anos 80, quando Reagan
esteve à frente do governo dos Estados Unidos. Esta situação já podia ser
prevista ainda em 1979, logo após a tomada do poder pelos sandinistas.

 A solução negociada para o conflito entre os sandinista e os "contras" foi


particularmente difícil, já que os Estados Unidos recusavam-se a aceitar o
governo sandinista como legítimo representante do povo nicaragüense. Assim,
os Estados Unidos forneceram apoio aos "contras", por meio de bases instaladas
na Costa Rica e em Honduras.

 A luta só teve fim quando das eleições, em 1990, que aprontaram a vitória de
Violeta Chamorro, da União Nacional Opositora (UNO). A partir daí, os
"contras" depuseram as armas, os Estados Unidos cancelaram o embargo
comercial e até mesmo o FMI concedeu empréstimos à Nicarágua. A vitória de
Chamorro não significou o afastamento dos sandinistas, uma vez que eles
continuaram a controlar o exército e a polícia nacionais. Um dos maiores
problemas enfrentados pelos nicaragüenses é o da reconstrução nacional em
virtude da insuficiência de recursos. Desemprego e paralisação da atividade
econômica constituem em reflexo do longo período de sanções econômicas e de
guerra civil.

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