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Unificação italiana e alemã: um projeto liberal 

Danielle Nascimento1
Lidiane Castro2
Unificação da Itália

As transformações ocorridas, tanto sociais como econômicas que atingiram


a Europa Ocidental durante o século XIX, também atingiram a Itália. Em 1850, a
Itália permanecia como uma simples “expressão geográfica”. Além da ocupação
austríaca, a Itália continuava agrária e atrasada. O Reino de Piemonte passou por
um processo de modernização, transformando-se no mais poderoso dos
pequenos Estados italianos. A ascensão de Cavour ao posto de primeiro-ministro,
apoiado pelos partidários da unificação, estimulou a luta pela unidade italiana.
Cavour firmou também com Napoleão III da França uma aliança franco-
piemontesa organizando um pacto militar antiaustríaco, o que possibilitou ao
Piemonte iniciar em 1859 a luta pela unificação.
A alta burguesia desejava a unificação o que garantiria a continuidade do
desenvolvimento interno e lhe daria a possibilidade de concorrência no mercado
externo, liberando a circulação de mercadorias dentro da península itálica,
favorecendo as exportações e impedindo as importações concorrentes. Para a
burguesia a unificação da península itálica tinha um significado apenas liberal e o
nacionalismo não passou de um instrumento para levantar a massa populacional
na luta pela unidade do território.
Na guerra contra a Áustria, as tropas franco-piemontesas venceram os
austríacos nas batalhas de Magenta e Solferino. Mas a ameaça de uma
intervenção militar da Prússia levou a França a retirar-se da guerra obrigando os
piemonteses a concluir com a Áustria o Tratado de Zurique.
Paralelamente a guerra conta a Áustria, Garibaldi promovia várias
insurreições patrióticas na Itália central. As tropas de Garibaldi conquistaram os
ducados de Toscana, Parma, e Módena, assim como a região da Romanha,


Este tema fora escolhido para fins avaliativos da disciplina Era Contemporânea, ministrada pelo Prof. Fábio
Paes.
1
Estudante de graduação do curso de História com Habilitação em Patrimônio Cultural da Universidade
Católica do Salvador.
2
Estudante de graduação do curso de História com Habilitação em Patrimônio Cultural da Universidade
Católica do Salvador.

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pertencentes aos Estados Pontifícios. Em 1860, após a realização de plebiscito
estes territórios foram incorporados ao Piemonte originando o Reino da Alta Itália.
A conquista de Nápoles, os Estados Pontifícios e o estabelecimento da
ligação terrestre entre o norte e o sul da península formaram o Reino da Itália.
Para a conclusão da unidade do país, faltava ainda a incorporação de Veneza e
de Roma, onde Napoleão III mantinha tropas francesas na proteção do papa.
A guerra austro-prussiana, implodida em 1866, acelerou a unidade italiana.
A aliança ítlo-prussiana venceu os austríacos que foram obrigados a ceder à Itália
o domínio de Veneza, tendo os italianos que renunciar às províncias do Tirol,
Trentino e Ístria. Já a incorporação de Roma só foi possível com a derrota da
França.
Para o pleno êxito da unificação italiana restava ainda a resolução de duas
pendências: o “irredentismo” e a Questão Romana. Desde 1866, algumas
províncias como Trentino, Tirol Meridional, Trieste, e Ístria, continuavam sob
domínio austríaco, sendo chamadas de províncias irredentas, isto é, não
libertadas. Nessas regiões, irrompeu um movimento de caráter nacionalista: o
Irredentismo. Ao final da Primeira Guerra Mundial, partes dessas regiões foram
incorporadas à Itália.
A inexistência de relações políticas e diplomáticas entre a Igreja e o Estado
na Itália se prorrogou até 1929 e ficou conhecida como Questão Romana quando
o ditador fascista Benito Mussolini, necessitando de apoio da Igreja e dos
católicos, assinou com o Papa Pio XI a Concordata de São João Latrão. Por esse
tratado, firmou-se um acordo pelo qual se criava o Estado do Vaticano, o Sumo
Pontífice recebia indenização monetária pelas perdas territoriais, o ensino
religioso era obrigatório nas escolas italianas e se proibia a admissão em cargos
públicos dos sacerdotes que abandonassem a batina.

Unificação da Alemanha

“O ano de 1848 é marcado pelo avanço das idéias liberais e nacionalistas,


pela consolidação da burguesia no poder e pela entrada no cenário político do
proletariado industrial...”. 3 Este parecia um ano maravilhoso, pois representava a
vitória do liberalismo burguês sobre o conservadorismo aristocrático. Fora
3
MELLO, Leonel Itaussu & COSTA, Luís César Amud. História Moderna e Contemporânea, p. 171.

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também neste mesmo ano que se iniciou nos Estados germânicos o projeto de
unificação que daria origem à Alemanha. Contudo, em 1848, a unificação não fora
adiante pela rivalidade existente entre Áustria e Prússia. Ambos os Estados
representavam a força da Europa centro-oriental e a unificação teria que ser feita
com a proeminência de um destes Estados. “A Prússia queria formar a pequena
Alemanha sem a participação da Áusrtria. Esta, por sua vez, pretendia formar a
grande Alemanha sob a sua direção”.4 Outro fator que retardou a unificação
projetada em 1848 foi a impossibilidade deste pela via constitucional e
parlamentar. O estabelecimento de um governo constitucional recaia sobre a
oposição entre Áustria e Prússia, já que ambos os Estados possuiam diferentes
estratégias para a futura Alemanha. Vinculada a esta oposição, está a burguesia
germanica que, em 1848, não fora suficientemente capaz de aprofundar a
revolução liberal nem consolidar seu poder. O conservadorismo aristocrático
ainda se fazia presente na Europa centro-oriental, sustentada pelos principios
politicos do Congresso de Viena. Mas até mesmo esta burguesia, que empunhava
a bandeira do liberalismo, tinha um quê de conservadora.
Passada a “primavera dos povos”, o projeto de unificação volta a
“assombrar” os Estados germânicos. Desta vez, prevalece a proeminência
prussiana, que se dedicou a seu fortalecimento para então realizar uma unificação
política alemã. O Zollverein fora o principal instrumento para o fortalecimento
econômico prussiano. Esta união aduaneira, que não contava com a participação
austríaca, possibilitou a unidade econômica alemã e o conseqüênte
desenvolvimento das nações participantes. A aliança política entre a burguesia
“liberal” e os junkers (aristocracia prussiana) também teve importante papel na
unificação. Juntas, representavam a classe dominante responsável pela política,
economia e militarização de toda Alemanha. Este tripé representa a própria
transformação que a Europa sofrera no século XIX: século de fortalecimento e
afirmação das nacionalidades.
A aliança entre burguesia e aristocracia evidencia o caráter conservador da
unificação alemã em tempos de liberalismo. Não houve liberalismo político, pois a
formulação das leis e o poder continuaram sob o comando das classes
dominantes. A igualdade de que tanto falara a Declaração dos Direitos do Homem
e do Cidadão não estava presente na sociedade alemã da época. Na verdade
4
CÉCERES, Florival. História Geral, p. 327.

1
houve apenas o liberalismo econômico que se manifestou através da liberdade de
comércio e produção. O liberalismo econômico se adequava ao capitalismo
industrial e ao desenvolvimento econômico pelo qual estva passando os Estdos
germânicos durante a unificação.
Dando continuidade ao fortalecimento da Prússia e conseqüênte unificação
alemã, é impressindível destacar a figura de Otto von Bismarck. Este nobre
prussiano antiliberal sobe ao poder em 1862 como chanceler da Prússia. Teve
atuação decisiva na luta pela unificação alemã. O projeto bismarckiano de
unidade ficou evidente em um de seus pronunciamentos: “Os grandes
problemas da época não se resolvem com discursos nem com votação de
maiorias, mas a ferro e sangue. A Alemanha não deposita esperanças no
liberalismo da Prússia e sim em seu armamento”. Ou seja, Bismarck achava
que a unificação só seria possível por meio da força, que fora realizada através de
três guerras. A Guerra dos Ducados (1864), contra a Dinamarca, foi o pontapé
inicial à luta pela unificação. A Guerra Austro-Prussiana (1866) possibilitou a
criação da Confederação Germânica do Norte. A Guerra Fraco-Prussiana (1870)
possibilitou a anexação dos Estados do sul da Alemanha culminando, assim, com
o processo de unificação e fundação do II Reich com a coroação de Guilherme I.
Entre as conseqüências desta unificação destacam-se o fim do equilíbrio
europeu criado em 1815 pelo Congresso de Viena, o desenvolvimento do
revanchismo francês, a transformação da Alemanha na primeira potência
econômica e militar da Europa e o desenvolvimento da política de alianças
(Tríplice Aliança e Tríplice Entente), que iria desenbocar em 1914 na Primeira
Guerra Mundial.

Considerações finais

Tanto a unificação alemã com a italiana foram realizadas “de cima para
baixo”. Encabeçadas pela Prússia e pelo Reino Piemontês, respectivamente, as
classes dominantes ascendem ao poder sob a forma de monarquias
constitucionais e se utilizaram do liberalismo para desarticular qualquer
possibilidade de retrocesso econômico, tendo em vista que, tanto a Alemanha e a
Itália são, neste momento, nações agrárias e atrasadas em processo de
adaptação ao capitalismo, o que mantinha a aristocracia como sócia-participante

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do processo de unificação. Por esta razão se diz que não houve liberalismo
político, mas sim econômico, já que tais idéias permitiram, mesmo tardiamente
para estas nações, o desenvolvimento de suas indústrias e comércio, financiadas
também pelo novo colonialismo.
Fazendo um contraponto à história política brasileira da mesma época, os
mesmos liberais “moderados” do Brasil podem ser obdervados na europa,
principalmente nestas duas nações. Atitude moderada explicada pela linguagem
dual que o liberalismo carrega consigo no que diz respeito a liberdade, igualdade
e fraternidade, porém sem dizer para quem e para quê.
O que permitiu a unidade destas nações fora então a presença de uma
burguesia e seu eterno desejo por lucro. O fato de todos falarem uma mesma
língua e terem a mesma base cultural, tanto na Alemanha como na Itália, são
fatores importantes na construção de uma nação, mas sozinhas não explicam por
si só e nem levariam adiante o processo de unificação de ambas as nações.

Referências bibliográficas

 ARRUDA, José Jobson & PILETTI, Nelson. Toda a História. 6ª ed. São
Paulo, Editora Ática, 1997.
 CÁCERES, Florival. História Geral. 4ª ed. São Paulo, Editora Moderna,
1996.
 MELLO, Leonel Itaussu & COSTA, Luís César Amud. História Moderna e
Contemporânea. 2ª ed. São Paulo, Editora Scipione, 1993.

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