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Quem o visita hoje não imagina que ali já foi um dos lugares mais importantes da Bahia, pois ali
viveu e morreu um homem conhecido por Luís Pé de Serra, grande chefe sertanejo, aliado de
Horácio de Matos em muitas e muitas batalhas.
Comecemos por uma de nível Nacional e Mundial – A Coluna Prestes (Luiz Carlos Prestes se
casou com Olga Benário, aquela do filme Olga), que foi a maior marcha de um exercito na
história da humanidade, conhecida na Chapada Diamantina como REVOLTOSOS, só que como
sempre no Brasil, o governo conseguiu enganar muita gente, dizendo que a revolta deles era
contra a população, quando na verdade era contra os desmandos do governo, desse modo o
Presidente Artur Bernardes, consegue o apoio de vários chefes sertanejos para a criação de
batalhões patrióticos, cuja função era combater a Coluna Prestes. Luiz Pé de Serra, como aliado
e amigo de Horácio participou desse batalhão.
Lourenço Moreira Lima foi o secretário da Coluna, e no seu livro ‘’A Coluna Prestes”, descreve
como se deu a marcha, narrando os acontecimentos mais importantes, em que um deles se dá
quando o Coluna intercepta um bilhete de Horácio de matos à José Bernardo:
Saudações.
Do Am.° Ob.°
Horácio Mattos.”
LUI
Z
Figura 1Vê-se, ao centro, com a farda branca Horácio de Matos, e à sua direita Luís Pé de Serra
Como se vê, Pé de Serra foi um ponto estratégico para os acontecimentos da época e Luís fez
parte do Batalhão Patriótico que perseguiu a Coluna até a Bolívia.
Assim, o sertanejo aprendeu a viver criando suas próprias leis, o Estado já existia, é claro, mas
era algo muito vago, praticamente era só uma cadeia pública, um coletor, um intendente, um
delegado nomeado por algum político e uma ou duas praças (policiais). Nada de Escola.
Com esse cenário, o homem da terra era rude, valente e honrado. Não admitia ofensas, e fazia
a própria defesa das suas posses. Com Mocós, comblains, mausers, e espingardas,sem falar do
inseparável punhal, que não servia nem para descascar laranja, era feito para matar. Com isso,
o pai de família para defender os seus podia agir de qualquer forma, e dificilmente uma ofensa
era resolvida com diálogo.
Isso gerou um clima de guerra, onde ninguém perdoava ninguém. A família de um morto sempre
vingava o falecido, ou então tinha um destino pior do que a morte, a fama de covarde. Mas nisso
tudo existia uma lei, que era ditada por quem tivesse mais dinheiro, mais jagunços e mais fama,
os chamados Chefes. Eram eles que, no seu reduto, garantia a ordem, utilizando de mais
violência que os comuns.
Desse modo, como podemos julgar as atrocidades que eram cometidas naquela época? A lei da
sobrevivência é mais forte. Por isso, mesmo após muitas guerras e mortes, depois do
desarmamento dos sertões, em 1931, aqueles combatentes e sobreviventes buscaram uma vida
de paz, muitas vezes evitando até falar do que viram e do que fizeram, pois eles haviam visto a
face da morte, e não desejavam para as gerações futuras aquilo por que foram obrigados a
passar. O meu avô contava muitas histórias, mas não os detalhes. Eu via nos seus olhos a tristeza
por ter assistido a tantas injustiças, por isso se tornara uma pessoa doce, que buscava aconselhar
a todos e evitar qualquer desentendimento.
Por isso, não cabe a nós julgar o que passou, pois como disse um governador da época “ são
feras, que se matem”. Na verdade não eram feras, mas haviam sido deixados como se feras
fossem pelo Estado. Bastou serem tratados como seres humanos, que logo a paz reinou.
BARULHOS DA BARRA
Em dezembro de 1918, deu-se início a um combate que durou, segundo Américo Chagas,no seu
livro “ O chefe Horácio de Matos”, 4 meses e 28 dias, entre o Coronel Militão Rodrigues Coelho,
de Barra do Mendes e o próprio Horácio. Com a ajuda de Lúís Pé de Serra, Eusébio Gaspar de
Souza, de Pau Ferro, os mandiocas tomaram a cidade da Barra do Mendes e expulsaram Militão.
Nesta batalha foram cavadas trincheiras, túneis, explodiu-se dinamites, usaram cercas de
quiabento como proteção bem como muito tiro.
O coronel Militão não aceitou a derrota e pediu auxílio ao governo para retornar, sendo
auxiliado por mais de 500 homens.
Pisa Macio chegou para resolver de vez o problema, porém usou de tanta violência, que segundo
o artigo Conflagração Sertaneja: os cauaçus enfrentam a força policial e os coronéis da Bahia no
sertão de Jequié” de Domingos Ailton Ribeiro de Carvalho, acabou por assassinar muitos
inocentes com requintes de crueldade, o que fez com que o Jornal A Tarde, entre outros,
denunciassem a ação de Pisa Macio.
Em julho de 1919, Pisa Macio era designado para atuar a favor de Militão, e recebera ordens de
sair de Campestre para Descoberto, que fica no município de Canarana. Ele deveria passar pela
Estrada Real, que passa por Parnaíba de Iraquara, ou seja deveria dar uma volta, mais ou menos
por Zabelê de Iraquara ou pelo Cochó do Malheiro, mas ele decidiu cortar caminho por Pé de
Serra, com a intenção de andar mais rápido. Porém, os soldados começaram a destruir e colocar
fogo nos ranchos dos moradores, que ao ver a fumaça se prepararam para o combate, quando
os soldados apareceram em uma curva os moradores os receberam à bala e o primeiro a ser
atingido foi o tenente Pisa Macio, os soldados se desesperaram e fugiram, largando bonés,
espadas, armas e munições, que depois foram recolhidas pelos moradores. Inclusive há pouco
tempo foram encontrados fuzis e uma Espada, que segundo relatos foram entregues a uma
pessoa em Tabuleirinho.
O povo de Pé de Serra se salvava assim de um triste fim, pois Luís pé de Serra era aliado de
Horácio de Matos e adversário de Militão, e Pisa Macio não brincava em serviço.
INTERVENÇÃO NA BAHIA
No ano de 1920 houve a Reação Sertaneja, movimento liderado por Rui Barbosa, para depor o
governo de José Joaquim Seabra do governo do estado da Bahia. O plano era que os chefes de
Jagunços do interior marchassem para a capital Salvador para tirá-lo à força do poder, pois
consideravam que havia um acordo entre este e o governo anterior de não saírem do poder, um
indicando o outro sucessivamente.
Luis pé de Serra participou com os seus combatentes, ficando acampado em Lençóis até o
momento de ocupar outras comunidades e, por fim, o plano deu certo. Mesmo sem chegar à
Capital, o Presidente Epitácio Pessoa decretou intervenção na Bahia no dia 23 de fevereiro de
1920, tendo como interventor o general Cardoso de Aguiar.
CERCO DE LENÇÓIS
Em Setembro de 1924, Horácio de matos retornava de salvador para Lençóis, ao fim do seu
mandato de Senador Estadual, cargo à época existente.
Neste período, como é comum até hoje, a cidade era dividida entre duas ideologias políticas, à
favor de Horácio de Matos e à favor da família Sá. Assim o chefe do telégrafo (era como o
telefone da época), que era contra Horácio, começou a falsificar mensagens, incitando o
governador contra ele, e à partir daí o Governador enviou tropas para as circunvizinhanças de
Lençóis, até cercá-la por todos os lados, menos a parte do rio Serrano.
O cerco de Lençóis durou muitos dias e o Governo tinha como certa a sua queda, porém,ao
pensar assim, o Major Mota Coelho, resolveu com mais ou menos 10 homens, se aproximar do
centro de Lençóis, foi quando,em combate direto com Horácio de Matos, o Major foi atingido e
morto, o que fez com que as Tropas do governo recuassem e Lençóis resistisse sem ser
derrotada.
CONQUISTA DE DESCOBERTO
Descoberto, povoado de Canarana, era o reduto de João Pedro Souza Santos, inimigo dos
Mandiocas (como eram chamados os aliados de Horácio de Matos), e após invasões deste à
Estiva, dentre outras coisas, organizou Horácio os Jagunços para derrotá-lo, com a Ajuda de
Eusébio de Pau Ferro e Luís Pé de Serra, sendo que no dia 27 de março de 1921, morria o valente
João Pedro de arma na mão. João Pedro era neto de José Pedro, chefe de Cercado.
Luís foi enterrado no Cemitério de Pé de Serra, no dia 16 de Setembro de 1947, conta Dainha
que no mesmo dia em que um irmão seu nasceu, pois ainda na viajem de volta do enterro, sua
mãe se “incomodou”.
Figura 3 Local onde foi enterrado Luís Pé de Serra, segundo seu Valdinho (o cemitério encontra-se sem muro, o
que precisa ser corrigido pelas autoridades do município)
PÉ DE SERRA HOJE
O padroeiro de Pé de Serra é Santo Antônio e lá se encontra uma antiga Igreja, que segundo
relatam é da mesma época da Igreja de Campestre, em Seabra. A imagem de Santo Antônio,
belíssimo trabalho em madeira, segundo consta, é a original da primeira Igreja, que foi
reformada, construindo-se a atual sobre parte da sua estrutura, inclusive duas linhas do telhado
são da antiga. As famílias de Pé de Serra hoje vivem basicamente da agricultura, tendo a
mandioca como principal cultura.
Figura 5 Vista de cima da Serra, onde se encontram pinturas rupestres e uma pequena cachoeira temporária
DESCENDENTES
O trabalho de identificação de todos os descendentes de Luis Pé de Serra,ainda precisa ser feito,
pois não faz tanto tempo que o seu último filho faleceu, restando assim grande número de
parentes em Souto Soares, Salobro e Barra do Mendes.
Irmãos: José Alves Martins, Valdetino Alves Martins, Zenália Alves Martins, Maria Alves
Martins, João Alves Martins, Miguel Alves Martins,Edna Alves Martins.
Luis tinha dois filhos que viveram em Salobro, de nomes Lormino e João
HISTÓRIA ORAL
Um relato interessante foi dado por Dona Dainha, quando disse que o seu pai nasceu no dia em
que seu avô foi morto na batalha de Barra do Mendes, e que neste dia, por algum motivo,
colocaram o caixão embaixo da cama da sua Avó. Conta também que durante a batalha da Barra,
os sitiantes usavam os corpos dos mortos em cima das cercas de quiabento para poderem pisar
e passar por cima da cerca.
Bibliografia pesquisada:
http://www.adourado.com.br
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
https://www.facebook.com/ChapadaVelha/