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Pré-Modernismo
1. Euclides da Cunha
1. A Terra
Dados biográficos do autor
Levantamento geomorfológico, que começa por um
apanhado geral do Sul, indo em direção do Nordeste e
Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha nasceu em
parando, em particular, na região Monte Santo ( Canudos),
Cantagalo, Rio de janeiro, no dia 20 de janeiro de 1866.
nos vales dos rios Vasa- Baris e Itapicurus, no Nordeste
Morreu num duelo no Rio de janeiro em 15 de agosto de
baiano. Com extremo rigor técnico, descreve o local da
1909. Desde cedo, foi abolicionista e republicano, como se
Guerra de Canudos, resgatando a fauna, a flora, o clima, o
pode perceber pela leitura de seus poemas adolescentes.
relevo, etc. destaca o papel do homem como “agente
Cursou Engenharia na Escola Militar de Praia Vermelha, de
geológico de destruição” que, através do uso e prática
onde foi expulso em 1888, por ter ofendido o ministro da
indevida de exploração, arrasa com a paisagem regional. O
Guerra do Império, numa comemoração cívica. Foi para São
apurado estilo do escritor consegue conferir vida à
Paulo, onde passou a escrever para o jornal A Província de
natureza, mesmo nos momentos mais árduos de descrição
São Paulo ( que se chamaria O Estado de São Paulo a partir
técnico-científica. Ela se transforma, assim em uma
de 1889). Após a Proclamação da República, foi reintegrado
personagem da história. Essa natureza, ferida pelo homem,
ao exército e cursou Artilharia e Engenharia na Escola
parece preparar o cenário da luta que ali se travaria.
Superior de Guerra. Em 1896 desligou-se da vida militar. No
ano seguinte, quando o confronto entre as tropas federais e
2. O Homem
os sertanejos de Canudos se tornou mais agudo, Euclides
Dissertação sobre o sertanejo, iniciada com o
publicou dois artigos em O Estado de São Paulo,
estabelecimento dos três componentes étnicos formadores
expressando sua adesão à crença então disseminada de
do mestiço brasileiro ( índio, branco e negro, originando o
que havia no sertão baiano um levante pelo
mameluco, o cafuzo, o mulato). A particularização do euclidiano. Até mesmo o uso das antíteses e paradoxos,
sertanejo leva o escritor a criar uma definição que ficou muito frequentes no livro, visa a essa intensificação: afinal o
famosa: “O sertanejo é antes de tudo um forte”. Assim contraste é uma forma de destacar, de acentuar. Usa uma
tentava dar conta de um aspecto intrigante da figura do adjetivação enfática, que é um elemento fundamental na
homem nordestino: a respeito de seu raquitismo e de seu construção do sentimento de dramaticidade que o texto
atraso, conseguiu transformar sua fraqueza em força. Dessa consegue transmitir: o livro convence-nos de que há um
forma Euclides explicava a arraigada resistência dos grande acontecimento histórico em pleno desenvolvimento,
habitantes de Canudos às investidas militares. conferindo-lhe uma dimensão épica.
A representação do nordestino é dada a partir dos
moradores de Canudos. Mas o livro particulariza a figura de 2. Augusto dos Anjos
Antônio Mendes Maciel, o Antônio Conselheiro, líder dos
revoltosos. Considerado um homem santo por seus 4
seguidores, é descrito por Euclides da Cunha como um
místico que conseguiu congregar os anseios daquela
população miserável, prometendo-lhes um paraíso.
3. A Luta
Esta é a parte mis importante do livro. As duas
anteriores funcionam como preparação para a narração da
batalha envolvendo os habitantes do arraial de Canudos e
as autoridades militares, temerosas daquilo que viam como Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu
um “foco monarquista”. no Engenho Pau d’Arco, município de Cruz do Espírito
O escritor, que fora até a Bahia, convencido pela Santo, Paraíba, em 20 de abril de 1884. Faleceu em
propaganda oficial de que a revolta não passava de um Leopoldina, Minas Gerais, em i2 de novembro de 1914. Foi
levante monarquista, percebeu que as causas mais inicialmente educado pelo pai bacharel. Cursou Direito em
profundas da Guerra estavam relacionadas ao descaso com Recife. Publicou várias obras em jornais da Paraíba. Com a
que os governos tinham tratado aquela população, cujas ruína financeira e posterior venda do engenho, mudou-se
necessidades básicas de sobrevivência jamais tinham sido para a capital paraibana e depois para o Rio de Janeiro,
satisfeitas. vivendo sempre como professor de Literatura. Em 1914 foi
Na narrativa, transparece o espanto do autor com a nomeado diretor de um grupo escolar em Leopoldina, onde
grandiosidade do arraial de canudos, que chegou a ter cerca veio a falecer poucos meses depois de assumir o cargo.
de 30.000 habitantes, todos eles ( inclusive velhos e Augusto dos Anjos em parceria com o irmão Odilon,
crianças) empenhados na defesa da terra e de seu santo. A custeou a primeira edição de seu livro de poemas Eu, em
resistência às sucessivas expedições militares para sufocar 1912. Posteriormente, a obra foi publicada com o acréscimo
a revolta também impressionou Euclides da Cunha. É com de outros textos.
indignação que o escritor registra o massacre final da Poeta original de grande vigor expressivo, cujo
população, finalmente submetida a um número avassalador ecletismo permite classificá-lo como um poeta de
e muito superior de combatentes militares. Ao longo da confluências, ou ainda de transição, entre o estilo
narrativa, além disso, suas críticas às falhas estratégicas do oitocentista e a modernidade.
Exército são frequentes.
O livro é, acima de tudo, uma denúncia ao Um poeta sincrético
subdesenvolvimento brasileiro. Euclides da Cunha opõe o
litoral superdesenvolvido e progressista ao sertão atrasado e O livro, Eu, vai contra todos os parâmetros artísticos
sem perspectivas. Para ele, este último representa a face aceitos na época, mesmo dentro do Pré-Modernismo, cujos
mais genuína do Brasil, já que teria escapado das autores guardam como aspecto comum de suas obras a
influências estrangeiras sofridas pelas populações tematização dos problemas nacionais, feita de forma crítica,
litorâneas. O fim de Canudos é visto como um verdadeiro denunciando o subdesenvolvimento, quase sempre
suicídio da nação brasileira. colocando em contraste com uma imagem de modernização
Seu estilo reflete sua erudição: aproxima vocábulos que tentava se imprimir ao país, e particularmente a cidades
populares com uma terminologia especializada. A linguagem do porte de São Paulo e Rio de Janeiro.
grandiloquente permite tratar a obra como uma epopeia Augusto dos Anjos destoa desse quadro. Em
brasileira. Seu estilo tortuoso e rebuscado recebeu da crítica primeiro lugar, por ser poeta, quando todos os outros
a classificação de “barroco científico”. trabalhavam basicamente com a prosa. Em segundo lugar,
por não apresentar a mesma temática nacionalista. Em sua
obra, o tema da humanidade, é focalizado em sua
O contraste entre as duas realidades era tão violento que os
decadência e podridão.
soldados, oriundos das regiões mais desenvolvidas do país,
Mas o que chama a atenção em sua poesia é a
experimentavam a sensação de estar num território
forma de tratamento desse tema. Associando a decadência
estrangeiro.
moral e espiritual à degenerescência material e física.
Augusto dos Anjos trata do corpo em putrefação. Seus
temas mórbidos passam por retratos de pessoas mortas,
Estilo do autor visões minuciosas de vermes em atividade, ações
destruidoras de doenças, a angústia, o medo, a solidão, o
• Vocabulário farto e raro e muitas vezes proveniente determinismo biológico, etc.
da linguagem científica; A linguagem, inusitada e surpreendente, mistura
• Utilização magistral das diversas possibilidades termos coloquiais a um vocabulário técnico, arrancado às
sintáticas da língua- Euclides constrói frases que oscilam da ciências naturais, criando uma expressividade que desperta
brevidade jornalística à complexidade barroca. no leitor um misto de estranheza e encantamento.
• Tendência à intensificação, ao engrandecimento do Pode-se falar em um estilo sincrético, porque ele
que se descreve ou narra – Este é o principal traço do estilo dialoga muito particularmente com diversas concepções
artísticas, adotando alguns e rejeitando outros. Do “Vou mandar levantar outra parede...
Parnasianismo, por exemplo, recusa a ideia de que alguns Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
assuntos não merecem tratamento artístico; mas segue E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
o rigor formal típico da escola (dando preferência ao soneto, Circularmente sobre minha rede!
e explorando rimas raras). Absorve a musicalidade do Pego de um pau. Esforços faço. Chego
Simbolismo, mas não aceita a espiritualidade e a temática A tocá-lo. Minh’alma se concentra.
abstrata deste. Mesmo em relação aos pré-modernistas, Que ventre produziu tão feio parto?!
seus contemporâneos, apresenta diferenças: busca novos
parâmetros literários, como eles, mas não vai buscá-los na A Consciência Humana é esse morcego!
crítica social e na literatura de denúncia. Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Diante de tal sincretismo, fica difícil a classificação Imperceptivelmente em nosso quarto!
estilística de Augusto dos Anjos. Acrescente-se mais um 5
elemento complicador: suas imagens grotescas e suas Versos Íntimos
descrições deformadoras aproximam-no do Expressionismo,
concepção artística originalmente ligada à pintura, mas que Vês! Ninguém assistiu ao formidável
se manifestou ocasionalmente em literatura. Enterro de tua última quimera.
somente a ingratidão - essa pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Leitura e análise
Acostuma-te à lama que te espera!
Psicologia de um Vencido O homem, que, nesta terra miserável,
Eu, filho do carbono e do amoníaco, Mora, entre feras, sente inevitável
Monstro de escuridão e rutilância, Necessidade de também ser fera.
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
Profundissimamente hipocondríaco, A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Que escapa da boca de um cardíaco. Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!”
Já o verme - este operário das ruínas- (Augusto dos Anjo)
Que o sangue podre das carnificinas
Come e a vida em geral declara guerra, 3. Monteiro lobato
Vítima do Dualismo