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IMOBILISMO x MODERNIZAÇÃO

Contexto Histórico
O momento histórico
brasileiro interferiu na
produção literária,

Imagem: Brazil Blank Map / Felipe Menegaz /


marcando a transição
dos valores éticos do

GNU Free Documentation License


século XIX para uma
nova realidade que se
desenhava,
essencialmente pautada
por uma série de conflitos.
Pontos de conflito no Brasil
pré-modernista.
o
o

selheiro
e de
fanatismo

no Nordeste.
Padre Cícer
religioso do

e o cangaço,
Antônio Con
Imagem: Padre Cícero. 1934 / Autor Desconhecido / Domínio público

Imagem: Alegoria de Canudos / André Koehne / GNU Free Documentation license


Continuação sobre o contexto da época

Imagem: retratos do cangaço, 1936-37 / Domínio público


Imagem: Revista da semana 1904 / Domínio público

 As revoltas da Vacina e da Chibata, no


Rio de Janeiro.
As greves operárias
em São Paulo.

Foto da
primeira greve
no Brasil na
Imagem: Greve geral de 1917 / autor desconhecido/ Domínio Público

cidade de São
Paulo
Imagem: Contestado / Edson L. Pedrassani / GNU Free Documentation License

A Guerra do Contestado (na fronteira


entre Paraná e Santa Catarina).
 política dirigida pela

Oligarquia
rural.

Imagem: Eleições de cabresto / Revista Careta / Domínio Público


Língua Portuguesa - 3ª Série
A literatura Pré-modernista

 O nascimento da burguesia
urbana, a industrialização

Imagem: Woman factory worker at the 40s /


e o surgimento do
proletariado.

Howard R. Hollem / Public Domain


Imagem: Basf Werk 1886 / Public Domain

Imagem: Mill Children/ Lewis Hine / Public Domain


Segregação dos
negros pós-
abolição.

Imagem: Jack, 1850 / J.T. Zealy / Public Domain



A imigração.

Imagem: Familia de imigrantes japoneses no Brasil, 1930 / Museu histórico


da Imigração Japonesa / Brazilian Copyright Law / Dominio Publico.
 Disputas

provincianas
como as
existentes no
Rio Grande do
Sul
entre
Imagem: Heróis da Lapa / autor desconhecido / Domínio Público

maragatos e
republicanos.
Uma Radiografia Crítica do Brasil:

 No geral, o Pré-Modernismo é uma literatura de


Crítica Social;

Mostra o Brasil real, com seus Conflitos Político-


Sociais;

Desmistifica o romantismo e seu Nacionalismo


Ufanista.

Portanto, um Nacionalismo
Crítico-Amargo.
 ORIGENS:

 Mudanças políticas (Abolição da Escravatura e a


Proclamação da República) não provocam
alterações significativas na estrutura econômica do
país :
 café = base da economia brasileira
 política do café com leite (SP + MG).
 ORIGENS:
 Mudanças que começavam a modificar a fisionomia

da sociedade brasileira: urbanização das


metrópoles + a imigração + o crescimento
industrial + a emergência de uma classe média
reformista
 e uma nova geração de militares influenciados

pelo ideário positivista + massa popular


insatisfeita.
 CONCLUSÃO:

 CONTEXTO = CONFLITO ENTRE AS FORÇAS


CONSERVADORAS (O PASSADO) E AS NOVAS
FORÇAS SOCIAIS (NECESSIDADE DE MUDANÇA)
 Pré-modernismo = época eclética (de mistura de
tendências, estilos e visões) = chocam-se várias
correntes e estilos, indefinidos entre o
academicismo e a inovação.
 Imobilismo x modernização.
 Resquícios culturais do século XIX x busca de

novas formas de expressão.


 Desejo de uma redescoberta crítica do Brasil.
 Parnasianos = influentes, com idéias formalistas e
uma concepção da literatura como “sorriso da
sociedade” (estilo artificial). Destaques: Olavo Bilac
(na poesia) – Coelho Neto (na prosa).
 Simbolistas = Inexpressivos, pouca ressonância
de sua arte, fortemente vinculados à matriz
européia do movimento. Destaques = Cruz e
Sousa e Alphonsus de Guimaraens.
 Realistas = Utilizam uma técnica literária
marcada pela objetividade, verossimilhança,
crítica social, análise psicológica. Destaques:
Monteiro Lobato = com a reabilitação do caboclo
paulista – Lima Barreto = fixação do universo
suburbano carioca – Simões Lopes Neto =
incorporou à ficção brasileira o vaqueano sul-
rio-grandense, além de registrar-lhe a fala
regional.
 Pré-Modernista = o único pré-modernista
propriamente dito, no sentido de empregar
recursos técnicos ou temas inovadores, antes da
Semana de Arte Moderna é, até certo ponto, o
poeta Augusto dos Anjos.

 Em sua obra, apesar das influências cientificistas,


parnasianas e simbolistas, há também um
inesperado gosto pelo coloquial e pela “sujeira da
vida”, o que permite incluí-lo entre os
precursores de uma das correntes da poesia
moderna.
 Intérpretes do Brasil
 Os Sertões , de Euclides da Cunha, tornou-se
um divisor de águas na imagem que a
intelectualidade nacional tinha a respeito de país
e de seu povo.
 Principais obras: Os Sertões (1902); Contrastes e
confrontos (1907); À margem da história (1909).
 Em 1897, graças a artigos publicados no jornal O
Estado de São Paulo, recebe um convite para ir ao
front de Canudos (no sertão baiano), como
correspondente de guerra. Assistiu aos últimos
dias da resistência do arraial sertanejo e escreveu
suas reportagens ainda dentro de uma ótica
republicana radical. Nos anos seguintes, refletiu
melhor sobre o que havia presenciado e o
resultado = um livro monumental cheio de
paixão, ciência e amargura: Os Sertões (1902).
 “Quem volta da região assustadora
 De onde eu venho, revendo inda na mente,
 Muitas cenas do drama comovente
 Da guerra despiedada e aterradora.”

[Euclides da Cunha]
 Proposta: explicar racionalmente a “grande
tragédia nacional” que observara. Pede ajuda à
ciência da época. Estuda geografia, botânica,
antropologia, sociologia, etc. Fontes
exclusivamente européias, impregnadas da
perspectiva colonialista (Europa imperialista).
Resultado = erros interpretativos do autor,
sobretudo nas duas primeiras partes de sua obra.
 VISÃO DETERMINISTA
 Determinismo geográfico
 O homem é produto do meio natural.
 O clima desempenha papel preponderante na

formação do meio.
 Existe a impossibilidade de se constituir uma

verdadeira civilização em zonas tórridas como o


sertão.
 Determinismo racial:
 Os cruzamentos raciais enfraquecem a espécie.
 O sertanejo é caso típico de hibridismo racial

(composto de elementos de origem diversa).


 A miscigenação induz os homens à bestialidade

e a toda espécie de impulsos criminosos.


 Conclusão = Contradição: as observações
eram justas e brilhantes ; as teorias,
medíocres (teorismo vazio – digressão
subjetiva – tese desprovida de
demonstração).
 Situa-se entre o ensaio, a narração e a poesia
lírica.
 Obedecendo a um típico esquema

determinista divide-se a obra em três partes:


 A TERRA – O HOMEM – A LUTA
 Predominância da visão cientificista e naturalista.
 Leitura difícil = informação científica & estilo

barroco.
 Descrição do meio físico opressivo feita com

detalhes: a vegetação pobre, o chão calcinado, a


imobilidade e a repetição da paisagem árida.
 A linguagem é poderosamente retórica e
transforma a natureza em elemento dramático:
 “Ajusta-se sobre os sertões o cautério das secas;
esterilizam-se os ares urentes, empedra-se o
chão, gretado, recrestado; ruge o Nordeste nos
ermos; e, como um cilício dilacerador, a caatinga
estende sobre a terra as ramagens de
espinhos...”
 Visão determinista = formação racial do sertanejo
e os males da mestiçagem.
 Mistura de raças = retrocesso:
 “De sorte que o mestiço – traço de união entre as
raças – é quase sempre um desequilibrado (...)
sem a energia física dos ascendentes selvagens,
sem a altitude intelectual dos ancestrais
superiores.”
 Entretanto, contrastando com essa incapacidade
do mestiço para a civilização moderna, os
sertanejos nordestinos seriam diferentes por ter
há muito se isolado no amplo interior do país.
Abandonados há três séculos, sem contatos
maiores com o litoral desenvolvido, os sertanejos
– ao contrário do que ocorrera com os mestiços
urbanos – não haviam sido corrompidos.
 Por isso, apesar de seu atraso mental, o sertanejo
surge como um titã:
 “O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem
o raquitismo exaustivo dos mestiços
neurastênicos do litoral. A sua aparência,
entretanto, ao primeiro lance de vista revela o
contrário. (...) É desgracioso, desengonçado,
torto. Hércules-Quasímodo.”
 O isolamento do sertanejo o mantém preso a
valores arcaicos como o messianismo. A “tutela
do sobrenatural” rege a vida cotidiana, e as
vicissitudes do meio intensificam a religiosidade
e a consciência mágica do mundo. Um mundo de
profetas, de iluminados, de místicos que se
tornam líderes naturais, expressando os valores
da comunidade.
 Antônio Conselheiro = “A sua biografia
compendia e resume a existência da sociedade
sertaneja”. O chefe dos fanáticos é um
personagem-síntese: figura bizarra para os
padrões urbanos, com uma oratória
impressionante. Para Euclides, Canudos era
apenas o produto previsível do fanatismo
religioso e do arcaísmo do pensamento sertanejo,
que o Conselheiro traduzia.
 É a parte mais importante e dramática da obra.
Euclides não esconde a comoção diante da
violência de parte a parte, que gera banhos
diários de sangue. Não consegue deixar de
admirar a tenaz resistência de uma cidade
(“Jerusalém de taipa”), que logo se transforma
em uma “Tróia de taipa”. Passa a ver os “titãs de
cobre” que a defendem o “cerne rijo da
nacionalidade”.
 Percebe que o meio é o principal aliado do
sertanejo: “As caatingas não o escondem apenas,
amparam-no”. Compreende a inutilidade dos
métodos clássicos de combate, usados pelo
Exército, diante da mobilidade e da luta não-
convencional dos inimigos. Espanta-se diante da
guerrilha sertaneja e das sucessivas derrotas que
ela impõe às tropas legais, superiormente
armadas.
 Emociona-se ao ouvir as rezas e os cânticos que
emergem do arraial bombardeado, ao anoitecer,
quando todo o Alto-Comando julgava Canudos já
sem resistência. A obra adquire então uma
grandeza sombria e os últimos momentos do
confronto apresentam uma terrível dramaticidade.
Com dinamite, os soldados atacam os casebres
ainda em pé, explodindo e queimando seus
moradores.
Imagem: Ruínas de Igreja em
Canudos , 1897 / Flávio de
barros / Domínio Público
 “Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda
a História, resistiu até o esgotamento completo.
(...) caiu no dia cinco, ao entardecer, quando
caíram os seus últimos defensores, que todos
morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois
homens feitos e uma criança, na frente dos quais
rugiam raivosamente cinco mil soldados.”
 Conjunto de equívocos, demências e crueldades.
Uma pungente (dolorosa) guerra civil e não um
conflito entre a reação e o progresso, entre a
Monarquia e a República, como as elites
intelectuais, políticas e militares, bem como a
opinião pública do país, acreditavam.
 Tragédia de erros resultantes de uma profunda
cegueira de ambos os lados. Para os adeptos de
Conselheiro, os soldados eram agentes do
demônio e deveriam ser destruídos. Para o
Exército, os sertanejos eram jagunços primitivos a
serviço da causa monárquica e tinham de ser
exterminados.
 Na verdade, os guerrilheiros de Canudos eram
uns pobres-diabos, filhos da ignorância e das
crendices de uma civilização parada no tempo há
três séculos. Precisavam de professores, não de
tiros de canhão. Já as tropas do governo, que
representavam a civilização moderna do país,
foram incapazes de perceber a verdadeira
natureza dos inimigos e trataram de destruí-los
com barbárie e horror.
 Os Sertões adquire, assim, um caráter de
denúncia. Trata-se de um “grito de aviso à
consciência nacional”. Tal perspectiva é anunciada
na nota preliminar que abre o livro:
 “Aquela campanha lembra um refluxo para o
passado. E foi, na significação integral da palavra,
um crime. Denunciemo-lo.”
 Contradição:
 Fervor patriótico com a vitória do Exército x

Trágico fim do povoado de Canudos.

 Confronto = divisão estrutural do país.


 Conclusão:

 Há dois Brasis completamente estranhos entre


si, o do litoral e o do sertão.

 O Brasil do sertão jazia ignorado ou esquecido


pela consciência culta nacional.
 Ponto de vista:
 Para a civilização litorânea, os jagunços (o povo

de Canudos) eram facínoras (bandidos).

 Para Euclides, eram irmãos (compatriotas) que


deveriam ser integrados à nacionalidade.
 Para Euclides, as duas sociedades brasileiras,
separadas pela raça, pelo meio e pela história,
deveriam se aproximar e se integrar pacífica e
lentamente. Sob esse prisma, a perspectiva de
aproximação entre os dois Brasis, defendida pelo
escritor na sua obra-prima, se tornaria, depois de
1930, o projeto político nuclear da nação.
 Os Sertões é uma combinação única de ensaio
sociológico, estudo científico, reabilitação
histórica, panfleto, reportagem de guerra e
literatura, o que torna impossível enquadrá-lo
nos limites de um gênero qualquer.
 Senso do dramático.
 Confere às ações uma plasticidade vigorosa e
assustadora, buscando sempre o contraste
violento, o êxtase e a agonia, a situação-limite do
ser humano.
 Efeito persuasivo (exemplos individuais para
reforçar uma idéia geral).
 Traduz o horror da guerra, a exemplo de Tolstói e
Stendhal.
 Gosto pelo ornamental e pelo excesso vocabular.
 Léxico (vocabulário) arcaico.
 Presença contínua de antíteses, paradoxos,
comparações e metáforas.
 Jogo binário entre períodos extensos e períodos
curtíssimos e a insistência na frase de efeito,
sentenciosa e escultural.
 Linguagem com ritmo poético.
 “Escrevi este livro para o futuro” (Euclides da
Cunha) = Pôs em xeque todas as concepções
que a intelectualidade brasileira tinha a respeito
de seu próprio país, passando a influenciar
decisivamente a discussão política sobre os
destinos da nação. Influencia, de forma
marcante, o chamado “Romance de 30”.

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