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a sonhar com a posse efetiva dos territórios africanos, agora ameaçados pelo
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origem grega - 1856-1910). O título "Oaristos" é inspirado em Paul Ver- sismo que defendia era uma forma de religiosidade mística. O saudosismo
laine (1844-1896), assim como a técnica impressionista de composição: serviu de aproximação entre o Simbolismo e o Modernismo português,
representado pelo movimento da revista Orpheu, isto é, o orfismo.
"Na messe, que enlourece, estremece a quermesse . . . Os principais escritores do decadentismo-simboiismo português foram,
O Sol, o celestial girassol, esmorece . . .
E as cantilenas de serenos sons amenos
entretanto, Camilo Pessanha, na poesia, e Raul Brandão, na prosa de ficção.
Fogem fluidas, fluindo à fina flor dos fenos. . .
Camilo Pessanha
A essa atmosfera crepuscular, soma-se uma visão infantil do poeta: ele
vê o mundo de acordo com uma perspectiva aparentemente mais ingénua. O decadentismo português tem em Camilo de Almeida Pessanha
A seleção de palavras mais simples indica-nos uma aproximação do (1867-1926) o seu maior poeta. É também o mais autenticamente simbolista
povo; está, nesse sentido, mais próximo dele do que o poeta socialista e um grande inovador da escrita poética de seu país. Seu trabalho artístico
Antero de Quental. E o pessimismo de seus versos não é propriamente indi- influenciou os poetas modernistas, sobretudo Fernando Pessoa.
vidual: a situação de miséria que apresenta tem na verdade um sentido Camilo Pessanha conseguiu afastar-se do discursivismo neo-romântico
nacional — é de todo o país. dos escritores de seu tempo. Inova a escrita poética ao incorporar procedi-
A visão nostálgica do poeta volta-se também para a tradição literária mentos estéticos similares aos do decadentismo de Verlaine, em especial no
portuguesa. Seu principal referente é Garrett, como podemos observar no que se refere à aproximação entre a palavra e a música.
poema "Viagens na Minha Terra": Sua percepção do mundo é fragmentária. Apresenta-o através de sen-
sações que considera sem sentido. A articulação entre elas não se consuma.
"Ora, às ocultas, eu trazia.
Resta então à escrita poética a desagregação (desagregação formal e desagre-
No seio, um livro e lia, lia,
Garrett da minha paixão. . .
gação do próprio poeta).
Daí a pouco a mesma reza: Os poemas de Camilo Pessanha aproximam-se de um rigor formal de
— Não vás dormir de luz acesa. Mallarmé, mas está bastante distante de seu intelectualismo. Ao contrário,
Apaga a l u z l . . . (E eu ainda. . . nãol)
apresenta uma visão melancólica que o afasta da determinação intelectual
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que encontramos no poeta francês. Testa-nos o pessimismo de imagens "humildes". A solução desses problemas seria encontrada, para o escritor,
crepusculares: em uma espécie de socialismo cristão, onde coexistiriam seus ideais anár-
quicos com o seu idealismo místico.
As primeiras produções de Raul Brandão seguiram os postulados natu-
ralistas (Impressões e paisagens, 1890), onde já aparecem personagens popu-
" A s tuas mãos tão brancas d'anemia.. .
Os teus olhos tão meigos de tristeza...
— É este enlanguescer da natureza. lares. Colaborou no folheto Nefelibatas (1893), já dentro do Simbolismo.
Este vago sofrer do fim do dia".
A visão que apresenta nos artigos do Correio da Manhã dessa época, onde
denuncia a miséria da população marginal de Lisboa, segue a técnica deca-
A dor é uma constante nos poemas de Camilo Pessanha. Ela vem do dentista.
pessimismo, afim do decadentismo francês e do budismo que o poeta conhe- A denúncia social de Raul Brandâja obedece a razões morais. A vida
ceu em Macau (China), onde trabalhou para o governo português. Via o mostra-se trágica e grotesca, situação que deveria ser avaliada criticamente
mundo como que formado apenas por ilusão e dor: pela consciência de cada um. Raul Brandão evolui de um pessimismo deca-
dente de História de um palhaço - Vida e diário de K. Mauríc
texto refundido posteriormente com o título A morte do palhaço e o mis-
" A dor, deserto imenso. tério da árvore (1926), para produções de maior criticidade.
Branco deserto imenso,
Resplandecente e imenso. Entre elas estão A farsa (1903), Os pobres (1906), Húmus (1917)
Foi um deslumbramento. e O pobre de pedir (1931). A decadência de valores da civilização burguesa
Todo o meu ser supremo, leva, nessas narrativas, ao mascaramento da realidade mais autêntica do
Não sinto já, não penso. ser, que deve manifestar-se.
Pairo na luz, suspenso
Num doce esvaimento". A ternura de Raul Brandão por suas personagens motiva-o a desmas-
carar a hipocrisia social. A dor existencial que percorre suas narrativas apa-
rece também nas peças de teatro que escreveu: O gebo e a sombra (1923),
A intelectualização dos poemas de Camilo Pessanha veio de sua forma- O rei imaginário (1923), O doido e a morte (1923) e O avejão.
ção universitária. Talvez pelo fato de ser filho natural e viver em uma socie- O humanismo de Raul Brandão alarga a crítica social dos escritores
dade que lhe parecia em degenerescência, a adesão à estética decadentista- realistas para as camadas mais abrangentes da população. Essa perspectiva,
-simbolista não vai ser para ele simples modismo - era interior. Parecia que inicialmente desenvolvida na prosa de ficção por Fialho de Almeida, será
ele cumpria um fado existencial, um destino triste. Sentia-se um exilado do também retomada por Aquilino Ribeiro. A produção desses três Accio-
mundo, desintegrando-se como o mundo que observava e vivenciava. nistas marca a continuidade de uma perspectiva de ênfase social em períodos
A obra poética de Camilo Pessanha foi reunida em Qépsidra (1920). de predominância de literatura mais psicológica ou metafísica. Constitui
Numa edição posterior (Qépsidra e outros poemas, 1969), temos uma também um traço de união entre o "velho" realismo do século passado e o
recolha mais completa. O autor deixou ainda obra em prosa e ensaios "novo" realismo, a iniciar-se em fins da década de 1930.
(China, 1944).
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1.
Síntese - Decadentismo-simboiismo
Três momentos do decadentismo-simboiismo
Ô zMõderrúsmo
OOrfismo (1915-1927);
a) revistas Boémia Nova e Os Insubmissos
A introdução:
I Intuicionismo
Monismo
tentes do exército e da marinha, a maioria dos estudantes univer-
sitários e alguns pequenos e médios proprietários rurais. Desejoso
de ocupar um 'lugar ao sol' na governação e na direção económica,
genuinamente preocupado com o futuro das colónias e o atraso do
Neo-romantismo
país, imbuído de ideologias francesas, era anticlerical e antimonár-
— Coexistência quico, assim como geralmente se mostrava anti-socialista e nacio-
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Edição SUMÁRIO
Historia Social da
dissociadas da situação social que as
modelou. Definir, assim, o sentido de
desenvolvimento de uma literatura
Literatura Portuguesa
significa relacionar criticamente suas
formas com o modo de pensar a
realidade de cada período histórico. Este é o objetivo
deste manual destinado àqueles que se iniciam no
estudo da Literatura Portuguesa no Brasil.
A História Social da Literatura Portuguesa possui
uma função didática. Apresenta, de forma concisa, as
linhas básicas da situação político-social para
caracterizar os traços estético-ideológicos dos
movimentos literários dela decorrentes. Seguem um
estudo objetivo dos principais escritores dessa
literatura, esquemas para facilitar a visualização dos
períodos, sugestões para leituras complementares e
bibliografia. Em apêndice, foi incluído um capítulo
sobre as modernas literaturas africanas de língua
portuguesa, que se inserem estreitamente no contexto
sócio-cultural luso-brasileiro.
Para permitir ao leitor maior aproximação da
atmosfera de cada época, foi preparado um cuidadoso
levantamento iconográfico.