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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO

1 - A EUROPA NOS PRIMEIROS ANOS DO PÓS-GUERRA


Ao contrário do que aconteceu com o fim da Primeira Guerra Mundial, após 1945, as grandes potências não só
conservaram os seus exércitos, mas desenvolveram ainda mais a indústria bélica. Dessa vez, o mundo se organizava sobre
novas bases, destituindo a Europa da posição de eixo do poder mundial e elegendo Washington e Moscou como novos
centros, o que reativou o confronto entre capitalismo e socialismo.
Os países tendiam a alinhar-se a um ou outro pólo de poder, fixando a bipolarização do mundo, marcada pela
tensão internacional e alimentada pelo conflito ideológico e político dos Estados Unidos e da União Soviética.
Os Estados Unidos despontaram como um Estado superior a qualquer outro em recursos materiais, financeiros e
tecnológicos, como a nação detentora da bomba atômica, do domínio nuclear, com a vantagem de não ter sofrido a
devastação e a exaustão da guerra em seu território. Para a União Soviética era vital igualar-se belicamente aos norte-
americanos a fim de que o socialismo pudesse sobreviver.
Assim, embora tivesse saído da guerra com um saldo catastrófico, a União Soviética dirigida por Stálin tinha
como metas prioritárias a reconstrução nacional e a corrida nuclear. Em 1949, alcançava parte de seus objetivos, ao
dominar a tecnologia bélica nuclear. A partir daí, a conjuntura internacional reconhecia como potências as que
possuíssem o domínio bélico atômico. Vinte anos depois do final da Segunda Guerra Mundial, 25 nações já possuíam
essa condição.
A Europa, embora devastada, aderiu à nova ordem bipolar. Na França, após o final da guerra, organizou-se a
Quarta República, formada por uma aliança entre os seguidores de Charles De Gaulle, o líder do governo no exílio,
e membros dos movimentos da Resistência. O novo governo caracterizou-se pela busca contínua da recuperação
econômico-financeira e pela divisão e instabilidade interna, produto da diversidade ideológica de seus membros,
desde liberais da democracia cristã e social-democratas, defensores de uma ordem capitalista com justiça social, até
socialistas e comunistas. Os primeiros alinhavam-se a favor de uma evolução gradual ao socialismo e os outros a
favor de uma revolução nos moldes bolcheviques.
A instabilidade da Quarta República, porém, não evitou que a França se preparasse para transformar-se em
potência mundial, sobrevivendo às crises internas e também externas da Guerra Fria.
A Inglaterra emergiu da Segunda Guerra Mundial com grande prestígio, mas econômica e politicamente
debilitada. Na política interna predominou o confronto entre o governo conservador de Winston Churchill e os
movimentos trabalhistas, que defendiam avanços sociais. Em 1945, os trabalhistas conseguiram maioria parlamentar
absoluta e a eleição de seu representante, Clement Attllee, como primeiro-ministro.
A gestão de Attllee destacou-se pela política nacionalista, com a estatização de setores de base, e pela
implantação de garantias trabalhistas, como a gratuidade dos serviços médicos, espelhando uma posição social
reformista. Em 1951, Churchill foi reeleito e os conservadores voltaram ao poder.
Na Itália, o regime republicano foi ratificado em 1946, dividido entre democratas-cristãos, socialistas e
comunitas, com a supremacia dos primeiros.
Na Polônia, entretanto, arrasada pela guerra e nutrindo ainda forte sentimento anti-soviético, a instalação do
socialismo foi difícil e muito tensa, em razão do passado histórico de lutas contra o domínio russo, bem como do
pacto germano-soviético de 1939. Mesmo antes do final da guerra, Estados Unidos e Inglaterra reconheceram o
governo polonês, ideologicamente a favor do Ocidente, acusando a União Soviética de potência ameaçadora, desejosa
de conquistar toda a Europa. Membros comunistas da Resistência (o chamado grupo de Lublin), ao contrário, eram
simpatizantes da União Soviética.
Quando, em 1944, os soviéticos avançaram par ao Ocidente em direção a Berlim, os poloneses do grupo Pró-
Ocidente tentaram sublevar-se (levante de Varsóvia), porém sem sucesso. Stálin, que viu o movimento como uma
manobra ocidental, estruturou e instalou um governo de pró-soviéticos com o Partido dos Trabalhadores Poloneses do
grupo de Lublin. Esse processo, entretanto, desencadeou sérias tensões entre o Leste e o Oeste europeus.
A Tchecoslováquia, de 1945 a 1948, caminhou progressivamente para um regime de democracia popular
comunista, alinhando-se completamente à União Soviética. Num processo semelhante, instaurou-se na Hungria a
supremacia comunista em 1947. Nos outros Estados do Leste, como Bulgária, Albânia e Romênia, os partidos
comunistas ocuparam o poder sob a interferência direta soviética.
Na Iugoslávia, ao contrário, a hegemonia soviética acabou sendo contestada: foi o primeiro país a optar por um
regime democrático popular (comunista) sob o comando de Josip Broz Tito, o líder guerrilheiro da resistência aos
italianos, alemães e colaboradores locais nazi-fascistas. Tendo vencido as tropas de ocupação nazista, sem ajuda do
exército soviético, tencionava formar a Federação dos Bálcãs, composta por Albânia, Bulgária, Grécia, Hungria,
Iugoslávia e Romênia, com Estados livres e unidos buscando o desenvolvimento regional autônomo.
Stálin opôs-se ao movimento e, em 1948, o Kremlin — sede do governo soviético — condenou publicamente o
regime de Tito, rompendo definitivamente com a Iugoslávia, em 1950. A partir de então, a Iugoslávia assumiu uma
posição neutra no conflito Leste-Oeste, aproximando-se dos países não-alinhados do Terceiro Mundo.

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Governante de origem croata, Tito estabeleceu o centralismo estatal sob o controle de um partido único e conseguiu
harmonizar a convivência das diversas etnias do país, estabelecendo mais tarde, em 1970, a presidência rotativa entre as
seis repúblicas iugoslavas: Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Sérvia, Montenegro e Macedônia.
Com sua morte, em 1980, emergiam várias manifestações de descontentamento ampliadas com as
transformações que ocorriam no Leste europeu, na crise do “socialismo real”. No início dos anos 1990, os
desentendimentos entre diferentes grupos étnicos acentuaram-se e desembocaram em sangrenta guerra civil e em
conflitos entre as repúblicas antes formadoras da Iugoslávia.
A Conferência de Potsdam definiu as zonas de ocupação das quatro potências para a Alemanha e sua capital.
A parte sob controle soviético foi transformada em democracia popular — República Democrática Alemã — e a parte
sob tutela capitalista, que se reunificou pouco depois, formando a República Federal da Alemanha (Alemanha
Ocidental), recebeu forte ajuda econômica norte-americana, que foi decisiva para o ressurgimento de uma Alemanha
potente. Os soviéticos ficariam no lado leste; os ingleses, norte-americanos e franceses ocuparam e dividiram as
demais áreas.
A recuperação alemã contou com o Plano Marshall, um plano econômico-social anunciado em 5 de junho de
1947, pelo secretário de Estado norte-americano, George Marshall, cujo objetivo era recuperar a devastada Europa
ocidental com maciços investimentos.
Do outro lado, além da Alemanha Oriental, a União Soviética dominava sete países do Leste: Tchecoslováquia,
Bulgária, Romênia, Polônia, Hungria, Iugoslávia (até 1948) e Albânia, o que significava um território de quase um
milhão de quilômetros quadrados e aproximadamente setenta milhões de pessoas.
No Extremo Oriente, o Japão, derrotado na guerra, além dos prejuízos materiais e humanos, sofreu ainda a
ocupação norte-americana (1945-1952). Os zaibatsu — fortes grupos econômicos — foram dissolvidos, juntamente
com a grande propriedade e as indústrias bélicas, estabelecendo a desmilitarização. Foi imposta também uma
constituição parlamentar em 1947, limitando os poderes do imperador Hiroito.
Em função do avanço socialista que ocorreu no Extremo Oriente a partir da década de 50, a política de ocupação
do Japão foi alterada, visando á reabilitação do país, que passou a aliado dos Estados Unidos, especialmente diante da
Revolução Chinesa (1949) e da Guerra da Coréia (1950-1953). O seu desenvolvimento econômico quase ininterrupto
— entre 1955 e 1956 o índice de produção industrial dobrou em relação ao anterior à guerra — consolidou a
economia japonesa como uma das mais fortes do mundo capitalista no final do século XX.
Assim, a reconstrução do pós-guerra e a adesão à ordem bipolar nas relações internacionais firmaram as
estruturas da Guerra Fria, quadro que predominaria até o final dos anos 1980.

2 – A INGLATERRA NO SÉCULO XX (ALTE CAMINHA)


A partir de 1897, von Tirpitz, apoiado pelo Kaiser, deu início ao grandioso programa naval alemão. O alto nível
alcançado pela indústria germânica bem cedo fez ver que uma nova potência ia surgir nos mares. A Inglaterra se
alarmou ante essa possibilidade e começou a grande corrida armamentista naval entre as duas nações. Ao deflagrar a
Primeira Guerra Mundial, a Alemanha dispunha da segunda Marinha de Guerra do mundo, e sua frota de comércio
crescia cada ano mais, levando os produtos germânicos a lodos os cantos da Terra. A Alemanha manteve-se, contudo,
na defensiva nos mares ante a superioridade da Marinha Real aliada às Marinhas francesa, russa e italiana. A
supremacia gozada na superfície dos mares pela Grã-Bretanha e seus aliados se deu realmente desde o princípio mais
absoluta do que fora em qualquer guerra precedente. Ao romperem as hostilidades, a Alemanha tinha para mais de
dois mil navios-vapor e cerca de três mil navios a vela empregados no comércio. Em poucas semanas, cada um deles
fora capturado ou internado, e durante o decorrer dos quatro anos de guerra nenhum voltou a navegar como navio
mercante. O imenso e lucrativo comércio exterior da Alemanha foi inteiramente eliminado. A Alemanha teve, é
verdade, um novo e poderoso poder no submarino. O submarino era, porém - e é - um mero instrumento de
destruição. Ele foi completamente incapaz de fazer qualquer coisa para reviver o extinto tráfego da Alemanha.
Comparadas ao bloqueio inglês dos Impérios Centrais e à campanha submarina alemã, as outras operações navais
de guerra foram relativamente insignificantes, pouco ou nada contribuindo para o desenrolar do conflito. A Frota
Alemã de Alto-Mar nunca se atreveu a um teste decisivo e perdeu oportunidade após oportunidade para influir
decisivamente nos acontecimentos. A fuga do Goeben e do Breslau no Mediterrâneo, a escaramuça ao largo de
Heligoland (agosto de 1914), a batalha de Coronel (novembro de 1914) com a sua sequência ao largo das Ilhas
Falklands (dezembro de 1914), a caça ao largo de Dogger Bank (janeiro de 19151, a longa e penosa aventura dos
Dardanelos (abril de 1915-janeiro de 1916), todos foram meros episódios dramáticos e espetaculares, custosos, mas
indecisos. A batalha da Jutlândia (31.5.1916), de longe a mais considerável ação naval da guerra, poderia bem ter
sido decisiva, mas não o foi. Na verdade, Jutlândia foi seguida por dois anos e meio de agonia desnecessária. No fim,
porém, o poderio naval teve sua parte decisiva, derrotando a campanha submarina, assegurando o trânsito seguro das
forças inglesas e americanas, conservando abertas todas as comunicações aliadas.
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Em 11 de novembro de 1918, a Grande Guerra acabou, e, pouco depois, toda a frota alemã se rendeu; dezenove
encouraçados, cinco cruzadores de batalha, dezesseis cruzadores ligeiros, noventa e dois contratorpedeiros, cinquenta
torpedeiros e cento e cinquenta e oito submarinos. Nessa mesma época, a Grã-Bretanha dispunha de quarenta e nove
navios de linha, oitenta e oito cruzadores de vários tipos e para mais de trezentos contratorpedeiros. Nunca antes fora
tão esmagador o domínio dos mares pela Inglaterra, como em fins de 1918.
Rapidamente, após a guerra, a Grã-Bretanha recuperou a primazia da Marinha Mercante que perdera, por efeito
da campanha submarina, para a crescente frota de comércio dos Estados Unidos. A Inglaterra, que perdera na guerra
mundial 7.923.023 das 21.445.439 toneladas possuídas por sua frota mercante antes das hostilidades, já em 1921
dispunha de 19.288.000 toneladas. Em 1925, a Grã-Bretanha já estava com sua frota mercante inteiramente
restaurada e voltou a participar do tráfego mundial mais ou menos na mesma proporção de antes da guerra. Além de
atender às permutas do vasto Império, a Marinha de comércio inglesa cobria deficiências de transporte em regiões
afastadas de todo o mundo. Nos portos brasileiros, argentinos, chilenos, chineses etc. era a bandeira do Reino Unido a
mais vista; 35% das exportações americanas eram feitas em porões ingleses. Já não era, entretanto, a Grã-Bretanha a
única potência marítima, nem permitiam mais seus recursos financeiros manter a supremacia absoluta, conservada
por cerca de duzentos anos. Entre as duas guerras, ela procurou nas conferências de desarmamento salvaguardar sua
posição, mas foi obrigada a aceitar a paridade naval com os Estados Unidos.
A par disso, outras potências navais surgiram ameaçadoras: a Itália, no Mediterrâneo, e o Japão, no Extremo
Oriente, se bem que contrabalançados pelas Marinhas americana e francesa, respectivamente.
Desde que começou a Segunda Guerra Mundial, o principal esforço de Alemanha no mar foi orientado no
sentido de cortar as ligações oceânicas do Império Britânico, recorrendo principalmente à arma submarina e à
aviação. A batalha do Atlântico, que começou no primeiro dia da guerra, foi assim a campanha naval chave de todo o
conflito. Seu desenrolar não pôde ser determinado pelos resultados de um encontro decisivo, mas pelas listas
anotados numa folha onde figuravam navios perdidos em face de navios construídos, navios afundados em face de
submarinos alemães destruídos. Referindo-se à batalha do Atlântico, assim se expressou Winston Churchill: "A única
coisa que sempre me atemorizou realmente durante a guerra foi o perigo dos submarinos. A nossa linha vital mesmo
através dos amplos oceanos e particularmente nas entradas para a Ilha estava em perigo. Sentia-me ainda mais
ansioso a respeito dessa batalha do que me sentira a respeito da gloriosa luta aérea chamada Batalha da Grã-
Bretanha."
A conservação da supremacia do Atlântico pelos britânicos, a despeito das forças aéreas e marítimas do Eixo,
durante os dois terríveis primeiros anos de guerra, conta-se entre os feitos mais extraordinários da História. O
principal problema naval das nações unidas na Segunda Guerra Mundial foi, até pelo menos o meio do ano de 1943, o
de achar um número de navios de guerra para assegurar a proteção conveniente da navegação comercial. Ante a
destruição gigantesca sofrida pelas marinhas de comércio aliadas, as disponibilidades de navios de transporte
tornaram-se o fundamento da estratégia de guerra aliada. Os aliados perderam quatro milhões de toneladas de barcos
mercantes em 1940 e mais de quatro milhões em 1941. Em 1942, foram postos a pique quase 8 milhões de toneladas
da navegação aliada, então já aumentada depois que os Estados Unidos se tinham tornado aliados. Até fins de 1942,
os submarinos afundaram navios mais depressa do que os aliados podiam construí-los. Em começos de 1943, o nível
das novas tonelagens foi subindo nitidamente, e as perdas diminuíram. Antes do fim daquele ano, a nova tonelagem
havia finalmente ultrapassado as perdas marítimas oriundas de causas diversas. O segundo semestre presenciou, pela
primeira vez, as perdas de submarinos excederem a sua capacidade de poderem ser substituídos. Logo viria o tempo
em que seriam afundados no Atlântico mais submarinos do que navios mercantes. "A batalha do Atlântico", afirmou
ainda Winston Churchill, "foi o fator dominante durante toda a guerra. Jamais podíamos esquecer que tudo que
acontecesse algures, em terra, no mar ou no ar, dependia em última instância do resultado daquela batalha, e, em
meio a todas as outras preocupações, considerávamos os seus altos e baixos, dia a dia presos de esperança ou
apreensão.”.
Quando terminou a Segunda Guerra Mundial, a Grã-Bretanha havia sido ultrapassada nos mares pelos Estados
Unidos. Entretanto, enquanto os Estados Unidos encostavam uma grande parte de seus navios mercantes construídos
em regime de urgência durante a guerra, a Inglaterra mantinha seus estaleiros em plena atividade. Tendo perdido 12
milhões de toneladas de navios de comércio durante o conflito, já estava em 1946 com 90% da tonelagem de 1939 e
três anos depois com 100%. Mais uma vez voltou assim a recuperar sua posição a frota de comércio inglesa, mas em
quase todos os mares encontrou a concorrência de novas bandeiras.
O período de pós-guerra viu a Grã-Bretanha perder a posição que ocupara no cenário marítimo durante três
séculos.
Ao mesmo tempo que diminuía a percentagem da participação da Marinha Mercante inglesa no tráfego marítimo,
era perdida a supremacia naval para os Estados Unidos e União Soviética, e desmembrava-se o antigo Império
Colonial.

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3 - ALEMANHA NO SÉCULO XX (ALTE CAMINHA)


Entre todas as potências mercantis foi a Alemanha a que relativamente acusou o mais grandioso desenvolvimento
até a Primeira Guerra Mundial.
A indústria metalúrgica, que já na primeira metade do século avançava com sucesso, no fim dos oitocentos e no
primeiro decênio do século XX, prosperou a passos gigantescos, graças à descoberta de jazidas de minério de ferro no
subsolo da Alemanha. Em 1871, a produção de ferro alemã não superava 1.563.000 toneladas e mantinha 23 mil
operários, e em 1904, a produção passava a 10 milhões de toneladas e ocupava 35 mil pessoas. A produção de aço
aumentou da mesma maneira. Em 1912, ela era avaliada em 17 milhões de toneladas contra 1.100 mil em 1887.
Desse modo, se antes de 1880 a Alemanha ocupava o quarto lugar no comércio mundial, em 1914 ocupava o
segundo. De 1898 a 1914 o comércio externo da Alemanha aumentou em 100%, dos quais três quartos eram de
comércio maritimo cuja escala era em Roterdam e Antuérpia.
As cidades costeiras do mar do Norte e do Báltico beneficiaram-se amplamente do cuidado incessante dado à
Marinha e da expansão comercial alemã no ultramar. Hamburgo, na embocadura do Elba, agigantou-se. Porto Franco
desde 1881, possuia em 1914, 1.087 navios que deslocavam l.362.oootoneladas. Todo ano entravam e freqüentavam
seu porto mais de 30 mil navios. A importação subia a 12 milhões de toneladas, e a exportação a nove. Naturalmente
as companhias maritimas de Hamburgo cresceram em número e como entidade, de modo extraordinário. A partir de
1885, Bismarck começou a autorizar fortes subvenções do Governo Imperial à Marinha Mercante germânica.
Em 1870, uma só companhia existia, a Hamburg Amerika Line; em 1914, depois de quarenta anos, portanto,
havia nlio menos de quarenta companhias orgulhosas. S6 a Hamburg dispunha de um capital não inferior a 125
milhões de marcos, sendo proprietária de 388 navios com uma tonelagem que, em 1910, subia a 1.021.963 toneladas.
Nas vésperas da Primeira Guerra Mundial, a frota mercante alemli era a segunda do mundo. Ela compreendia
mais de quatro mil navios com mais de cinco milhões de toneladas. Oitenta mil marinheiros guarneciam esta frota. A
percentagem da Alemanha na frota mercante mundial que era em 1874-75 somente 5,2%, elevou-se até o começo da
guerra a 10,8%.
Estimulados pelo desenvolvimento da Marinha Mercante e amparados por uma sólida indústria siderúrgica os
estaleiros alemãs proliferaram. Em 1870, havia no país apenas sete estaleiros. Esse número elevou-se a 107 em 1912.
Enquanto até o nono decênio do século passado os grandes navios transatlânticos só procediam da Inglaterra as
conhecidas firmas de armadores de Hamburgo e Bremen fizeram dai por diante suas encomendas aos estaleiros
alemães estimulando-os com isso a desenvolverem uma capacidade de produção cada vez mais elevada. Em poucos
anos, converteram-se essas estaleiros em empresas construtoras de primeira categoria, e a contínua ampliação de suas
explorações demonstrou o desenvolvimento crescente dessa indústria.
O aumento do comércio alemão depois de 1871 e o crescimento da Marinha Mercante mostraram a necessidade
de uma Marinha de Guerra. Essa necessidade foi posteriormente acentuada pelo estabelecimento do Império
Colonial. Contudo, somente quando o jovem Kaiser (Guilherme 11) subiu ao trono é que a construção de uma forte
Marinha foi encarada. A impotência da Alemanha devido à falta de Marinha foi amplamente demonstrada em 1896
quando o Kaiser foi incapaz de sustentar seu telegrama ao Presidente Kruger, do Transwaal com outro meio que não
mais telegramas. Ainda mais efetivamente foi demonstrada em 1889, quando começou a guerra Anglo-Boer. O
Kaiser se enfurecia quando os navios mercantes alemães, carregados de armas e munições para os Boers, eram
detidos pelos cruzadores ingleses e condenados ao confisco por tribunais britânicos. Usando a experiência sul-
africana como um meio para inflamar a opinião pública alemã (que é altamente inflamável), ele conseguiu as duas
primeiras das quatro Ligas Navais sob as quais foi construída a grande frota que custou ao povo alemão 200 milhões
de libras. O zelo do Kaiser pela construção naval foi posteriormente estimulado pela Guerra Hispano-Americana de
1898, na qual a influência decisiva do poderio naval foi demonstrada conspicuamente. Depois de 1896, o Kaiser
passou a contar com o concurso, na pasta da Marinha, do Almirante Von Tirpitz, que foi a alma do desenvolvimento
naval da Alemanha.
Ao raiar o século XX a Alemanha reunia as condições fundamentais necessárias a uma potência naval: comércio,
atividade industrial, sentido militar, aptidão para a organização, amor ao trabalho, poderio do Estado e patriotismo.
Bem cedo os programas modestos das duas primeiras Ligas Navais foram abandonados (1898 e 1900). O segundo ato
naval acelerou e quase dobrou o programa de 1898, procurando criar uma frota de combate com 34 encouraçados. 3B
grandes cruzadores e 106 pequenos cruzadores. A Inglaterra evidentemente não deixou de considerar o
desenvolvimento da Marinha alemã e, sob o. pulso firme de Lord Fisher, ampliou por seu turno o programa de cons-
trução naval. As duas grandes potências européias iniciaram então uma corrida armamentista que durou até o inicio
da Primeira Guerra Mundial.
Em agosto de 1914 a Alemanha tinha a segunda Marinha de Guerra do mundo. Sua esquadra compunha-se de 13
encouraçados modernos, 30 encouraçados antiquados, 5 cruzadores de batalha, 60 cruzadores pesados, 12 cruzadores
ligeiros, 152 contratorpedeiros. 45 torpedeiros e 40 submarinos. O emprego dessa formidável força naval no conflito
de 1914-18 presta-se até hoje a controvérsias. A Marinha alemã bateu-se com denodo, e a alta qualidade de seus
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navios foi comprovada por mais de uma vez. Ela não impediu contudo, que a Marinha Mercante alemã abandonasse
todos os mares, com exceção do Báltico.
A supressão do comércio germânico no além-mar teve conseqüências funestas para as armas do Kaiser. Ao
contrário da guerra de 1870, relativamente curta, o domínio das rotas oceânicas foi adquirindo, com o correr dos
meses cada vez maior importância uma vez perdido o elã inicial do avanço dos exércitos alemães na França. Com a
estabilização dos exércitos beligerantes na luta de trincheiras, a guerra assumiu um aspecto de desgaste que tornava
problemática a vitória da Alemanha, cortada das principais fontes de suprimento do mundo. A guerra de corso
começou a ser considerada, por certo círculos na Alemanha, como o único recurso capaz de quebrar o esforço da
guerra aliada. O submarino tinha-se revelado capaz de ameaçar a vida econômíca da Inglaterra malgrado a proteção
de sua esquadra. A Intima dependência que a Inglaterra se achava de sua Marinha Mercante permitia a esperança de
ver o Estado insular tão profundamente atingido que não pudesse prosseguir na luta. Quatro quintos dos viveres e das
matérias-primas que consumia, com exceção do carvão e da metade do minério de ferro, procediam do além-mar.
Levou muito tempo, porém, para felicidade dos aliados, antes que a Alemanha se empregasse a fundo na guerra de
corso submarina. Todo o esforço naval do país, antes da guerra, tinha sido consagrado a Forças de Alto-Mar e
relativamente pouca atenção se tinha dado à Força de Submarinos. Além do mais, havia os problemas poHticos, que
eram os principais. A guerra submarina irrestrita fatalmente arrastaria para o campo aliado outras potências.
No decorrer de 1915, a média mensal de afundamento de navios mercantes por submarinos foi de 120 mil
toneladas. Antes de iniciada a guerra submarina, o comércio marltimo procedente da Inglaterra ou a ela destinado não
tinha sofrido apreciavelmente. O encarecimento do frete mantinha-se em limites razoáveis, e o povo inglês, em suma,
sofria pouco. Não havia carência, e o encarecimento da vida era suportável. A guerra submarina, ao contrário,
modificou sensivelmente as condições de vida na Inglaterra. O frete se elevou notavelmente. De janeiro a maio de
1915, dobrou; em janeiro de 1916, era em média dez vezes mais elevado' que antes da guerra (janeiro de 1914). Os
preços do comércio, grosso modo, seguiram a ascensllo antes mesmo que as importações tivessem sofrido reduções
bastantes para se falar em penúria de mercadorias. No fim de 1916, a perda de tonelagem tornara-se já sensível. Era
evicl\lnte que o problema da guerra submarina reduzia-se a uma questlio de tonelagem. Os argumentos a favor da
campanha submarina irrestrita eram fortes em face dos resultados já alcançados com a campanha moderada empreen-
dida até entllo. No entender de von Tirpitz e von Scheer "nlio se poderia atingir a Inglaterra senão no seu comércio
maritimo. O meio para se alcançar o objetivo era a guerra submarina sem restrições à qual a Inglaterra nlio poderia
sustentar por mais de seis a oito meses, considerando os recursos de que os aliados dispunham então".
Os estaleiros tinham estado bastante ativos em 1915 pa fornecer um número de submarinos satisfatório, mas
tinha-se perdido um ano precioso. Durante o ano de 1916 a Inglaterra teve tempo para tomar, metodicamente, as
contrarpedidas. O resto do ano de 1916 se passou em discussões entre o Estado-Maior Geral, a Marinha e o Governo
do Império; o Chefe do Estado-Maior Gerai procurando forçar o Governo a empreender a guerra submarina sem
restrições, enquanto tentava fazer o Comandante-Chefe recomeçar a guerra comercial restrita.
A guerra submarina sem restrições começou enfim aI? de fevereiro de 1917. Tratava-se de quebrar a resistência
da Inglaterra, destruindo seu comércio maritimo, malgrado a superioridade de sua esquadra. Dois anos e meio de
guerra se tinham passado sem ter sido iniciada essa tarefa, até que as autoridades responsáveis se viram na obrigação
de utilizar os meios de que dispunham para evitar o desastre ameaçador. Começou então a fase crucial da guerra
maritima, e todas as nações beligerantes compreenderam que o seu resultado seria talvez mais importante ainda que a
decisão da batalha do Mame. Nunca potência alguma colocou tal empenho e tantos recursos em cortar as vias marí-
timas da nação inimiga como fez a Alemanha em relação à I nglaterra em 1917 e 1918. Esforço semelhante s6 viria a
ser empreendido em idênticas circunstâncias na Segunda Guerra Mundial. Nenhuma campanha mobilizou tantos
recursos no mundo todo quanto essa primeira batalha do Atlântico. Enquanto a guerra de corso, realizada pelos
franceses nos conflitos dos séculos XVII, XVIII e XIX, não chegou a impedir o crescimento da Marinha Mercante
inglesa, a campanha submarina irrestrita em poucos meses causou uma diminuição senslvel na tonelagem mundial.
O número de submarinos cresceu sempre, malgrado as contramedidas aliadas. No começo do ano de 1915, o
número de unidades consagradas à guerra no comércio era de 24. A tonelagem afundada durante o ano de 1915 não
atingiu o número de seis semanas de guerra sem restrições. Em 1916, o número de submarinos foi acrescido para 87
entre os vários tipos, mais 14 estavam em experiência e 151 em construção. Trinta e cinco submarinos não haviam
regressado às bases desde o início das hostilidades. No primeiro dia de guerra submarina sem restrições havia já no
mar do Norte 57 submarinos, no Báltico, oito, em Flandres, 38, e as bases do Mediterrâneo dispunham de 31. A to-
nelagem afundada aumentou brutalmente, atingindo a mais de um milhão de toneladas nos meses de abril a junho de
1917, fato não registrado em nenhum mês na Segunda Guerra Mundial. As potências aliadas tomaram uma série de
contramedidas eficazes não só organizando comboios de navios mercantes fortemente escoltados como também
aperfeiçoando a técnica do combate ao submarino e realizando, em todos os pafses posslveis, principalmente nos
Estados Unidos, um programa de construção naval em massa capaz de compensar as perdas experimentadas. Tais
medidas lograram sucesso, e os submarinos alemães pagaram pesado tributo. Durante a guerra foram utilizados ao
todo 360 submarinos; 184 não regressaram.

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Em meados de 1918, a tonelagem aliada afundada mensalmente orçava em média por 500 mil toneladas. O
sucesso da campanha submarina achava-se comprometido. Os alemães procuraram reunir todos os seus recursos
industriais para aumentar a produção de submarinos. Cento e vinte haviam sido encomendados em dezembro de 1917
e mais duzentos e vinte em janeiro de 1918, mas destes, até setembro de 1918, apenas 74 haviam sido entregues.
Enquanto isso a poderosa frota alemã poucas saldas realizara depois da batalha de Jutlândia em maio de 1916. Os
navios parados nas bases, em contato com as forças desmoralizantes que grassavam na retaguarda, acabaram
contaminados, e já em 1917 os primeiros indícios de indisciplina surgiram nos encouraçados.
Ante a ameaça do colapso na Frente Ocidental, o Alto Comando Alemão decidiu realizar uma surtida
desesperada com toda a esquadra, mas a 29 de outubro de 1918, ao ser conhecida a ordem, explodiram desordens em
vários navios, sobretudo nos encouraçados. A surtida teve que ser suspensa.
Com o fim da guerra, a frota alemã foi enviada para Scapa Flow onde se auto-afundou ao se difundir a suspeita
de que os navios seriam entregues aos vencedores. Em águas inglesas, foram dessa forma afundados 19
encouraçados, 5 cruzadores de batalha, 16 cruzadores, 92 contratorpedeiros, 50 torpedeiros e 152 submarinos.
Sem' frota de guerra e com a Marinha Mercante reduzida a 600 mil toneladas, assim terminou a primeira fase da
expansão alemã nos mares.
Embora derrotada de forma esmagadora e malgrado as dificuldades sem conta surgidas em conseqüência do
conflito, revolução, inflação, indenização etc, a estrutura sólida da economia alemã permitiu uma rápida volta do país
às transações comerciais. O renascimento do comércio acarretou, logicamente, o incremento da Marinha Mercante.
Em -1923, só a Companhia Norddenstcher L10yd tinha já em construção 28 novos navios com 232 mil toneladas, e
34 grandes transatlânticos de outras companhias estavam sendo construidos numa série de estaleiros. A Marinha de
Guerra, porém, não pôde acompanhar o crescimento da frota de comércio em virtude de cláusulas do Tratado de Ver-
sailles e permaneceu reduzida até o advento do nazismo.
No começo da terceira década do século, a Alemanha já era novamente uma das três importantes nações
comerciais do mundo. Sua Marinha Mercante ultrapassava cinco milhões de toneladas. Com a subida dos nazistas ao
poder, a Alemanha iniciou febrilmente seus preparativos para a guerra. Todavia Hitler e seus auxiliares imediatos não
encararam o aspecto naval do futuro conflito com grande zelo. Faltou à Alemanha a firme vontade de um von Tirpitz,
bem como a megalomania de Guilherme 11. Em confronto com o rápido desenvolvimento do Exército e da Força
Aérea, a Marinha germânica aumentou pouco. Também nâo foi considerada no começo pelo Alto-Comando a
eventualidade de uma guerra contra a Inglaterra. O Almirante Raeder, contudo, não aceitou esses pontos de vista e,
apontando a Von Blomberg a expansão da Marinha francesa, conseguiu maiores verbas. Com esses fundos ele iniciou
os fundamentos de uma pequena e equilibrada esquadra.
O Tratado de Londres, assinado em 1935, permitiu à Alemanha possuir uma esquadra equivalente a trinta e cinco
por cento da frota de superffcie inglesa, e acordos posteriores estipularam que a força de submarinos germânicos
poderia ser igual à britânica. A Alemanha podia construir, pelos tratados, cinco navios de linha, dois porta-aviões,
vinte e um cruzadores e sessenta e quatro destróieres. Na verdade, porém, tudo o que possuiam por ocasião do
começo da guerra eram 2 encouraçados, 11 cruzadores e 25 destróieres. Cinqüenta e sete submarinos estavam já
construidos quando a guerra começou.
Em 1937, Hitler alterou os planos da expansão alemã, tornando a guerra com a Inglaterra quase uma certeza.
Para a Marinha alemã tornou-se preciso uma revisão dos planos estabelecidos noutras hipóteses. Era necessário
tempo, e Hitler prometeu que não haveria guerra contra' a Inglaterra até 1944 ou 1945. Foi elaborado, então, com
base nessa hipótese, um plano para aumentar o poderio naval tanto quanto possível. Esse plano, conhecido como
Plano Z, foi baseado na capacidade total dos estaleiros alemães e no tipo de guerra a ser engajada. A concepção do
Almirante Raader da guerra naval contra a Inglaterra visava evitar grandes ações e concentrar os ataques contra a
Marinha Mercante. Submarinos e rápidos e poderosos navios de superficie, operando independentemente ou com
porta-aviões, eram encarados como os melhores meios de levar adiante essa linha de ação. O desenvolvimento da
Aviação Naval, também cogitado, foi fortemente combatido por Goering.
Na primavera de 1939, a anexação da Tcheco-Eslováquia e as ordens preliminares para a invasão da Polônia
tornaram claro a Raedere ao Estado-Maior da Armada que a, guerra com a Inglaterra teria lugar muito antes do
previsto. Raeder mostrou a Hitler a falta de preparo naval da Alemanha, mas a invasllo da Polônia não foi adiada,
deflagrando o conflito.
No mesmo dia da declaração de guerra foi afundado o primeiro navio mercante inglês, dando inicio à campanha
que, conhecida como batalha do Atlântico, tornou-se a maior, mais importante e mais monótona batalha da guerra.
Em essência, foi ela uma luta entre a Alemanha e os Aliados, visando cada qual estrangular a linha de suprimento do
inimigo. Começada no dia da abertura das hostilidades ela durou até dois dias antes do armisticio, cinco anos e oito
meses mais tarde, mas antes de chegar ao fim, 4.783 navios mercantes com mais de 21 milhões de toneladas e 635
submarinos foram afundados.
Em linhas gerais, a guerra no Atlântico foi repetição da do Primeiro Conflito Mundial. Em poucos dias, a
bandeira de comércio germânica desapareceu dos mares exceto no Báltico. A frota de superfície alemã empreendeu
algumas investidas sem grandes resultados, a não ser na Campanha da Noruega, onde, à custa de pesadas perdas,
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atingiu plenamente seu objetívo. Pouco a pouco os navios de superfície alemães deixaram de constituir preocupação
séria, e o submarino cresceu cada vez mais em importância.
A orientação seguida pelos dirigentes alemães na guerra naval também foi a repetição da politica obedecida pelo
Governo do Kaiser na Primeira Guerra Mundial. No começo, durante mais de um ano, confiança ilimitada nos
resultados das fulminantes campanhas terrestres. Com o prolongamento da guerra, maior atenção à guerra naval, e,
por fim, concentração angustiosa dos recursos disponíveis no ataque às comunicações aliadas, visando a uma decisão
já impossível.
Nos oito primeiros meses da guerra, a Alemanha, dispondo de menos de sessenta submarinos, não causou
grandes danos à navegação aliada. As perdas sofridas foram compensadas pelas novas construções e pelos navios do
Eixo capturados.
Depois da queda da França e com a entrada em serviço de um número crescente de submarinos, a devastação das
frotas mercantes atingiu ritmo alarmante. Em maio de 1942 havia, operando nos oceanos, 124 submarinos alemães e
mais 114 estavam em experiência no Báltico. No decorrer de 1942, o pior ano da batalha do Atlântico, foram
afundados 1.570 navios mercantes com quase oito milhões de toneladas. A Alemanha estava vencendo a batalha,
tendo perdido, até agosto de 1942, 105 submarinos, ou seja, uma perda mensal de 4,9% das unidades em operação.
Todavia, em fevereiro de 1943, foram afundados 19 U Boats, em março, 15 e em abril, 16. Essas perdas já eram
elevadas, mas, em maio, uma série de ataques aeronavais no golfo de Gasconha afundou 37 submarinos. ou seja,
aproximadamente 30% de todos os submarinos no mar. A batalha do Atlântico assumiu aspecto mais animador para
os aliados que no decorrer desse ano de 1943 perderam menos da metade dos navios afundados no ano anterior. A
Alemanha procurou elevar a produção de submarinos de 30 para 40 por mês com sacriffcio da produção numa série
de setores importantes. O número de submarinos em operação cresceu sempre, mas as escoltas aliadas eram cada vez
mais eficientes. Em dezembro de 1943, a frota submarina consistia em 419 unidades, das quais 161 para operações,
168 em experiência e 90 usadas para treinamen10. Em junho de 1944, havia 181 U Boats em atividade, número que
caiu para 140 em dezembro, em virtude de perdas no mar e dos bombardeios aéreos dos estaleiros. Entretanto, a
produção de submarinos fez uma recuperação espetacular apesar de todas as dificuldades, e, em fevereiro de 1945,
Doenitz informou a Hitler que 237 U Boats estavam sendo preparados. O total de 450 submarinos em comissão foi o
máximo que a Alemanha possuiu, mas esse máximo, coincidiu justamente com um dos mínimos na destruição de
navios aliados. Na última ofensiva submarina, em abril de 1945, 57 submarinos foram destruidos, 33 no mar e 24 nos
portos, por bombardeio aéreo, ao passo que apenas 13 navios mercantes aliados foram afundados.
A frota de superficie alemã durante todo o conflito viu o número de seus navios diminuir. Uma a uma as
principais unidades foram sendo destruídas: primeiro o Graf Spee, ainda em 1939, depois a campanha da Noruega
desfalcou a esquadra de vários cruzadores e de mais de uma dezena de contratorpedeiros. Em 1941, o Bismarck foi
afundado; em 1943 o Schanhorst; em 1944 o von Tirpitz. No final da guerra, os bombardeios aéreos afundaram ou
danificaram outros navios mais. As perdas não foram substituídas, em virtude de a Alemanha ter consagrado aos
navios de superficie baixa prioridade no esforço de guerra, depois de 1942. Dessa forma, a construção do navio-
aeródromo Graf Zepelin foi suspensa, e depois do fracasso de um ataque de cruzadores germânicos a um comboio
inglês escoltado por contratorpedeiros por ordem de Hitler, não se cogítou mais da construção de navios de superfície
de porte alentado. Hitler chegou mesmo, na sua ira, a determinar a retirada dos canhões de grosso calibre dos navios
maiores, para utilizá-los como artilharia de campanha.
No fínal da guerra, os marinheiros dos navios de superficie alemães foram reunidos em divisões especiais e
marcharam para lutar nas trincheiras em defesa do solo ameaçado, tal como os franceses haviam feito em 1870, e os
russos em 1854.
Ao terminar a guerra, 156 submarinos germânicos renderamse aos aliados e 221 foram destruídos pelas próprias
guarnições. Os poucos navios da Marinha de Guerra alemã, encontrados nos portos ocupados, foram distribuidos
pelas nações vencedoras. Da Marinha Mercante também restava pouca coisa.
Assim, pela segunda vez, em menos de trinta anos, a Alemanha perdeu a expressão como país marítimo; como
depois da Primeira Guerra Mundial, a vitalidade da economia germânica iria permitir em poucos anos o renascimento
da Marinha Mercante.

4 - A FRANÇA NO SÉCULO XX (ALTE CAMINHA)


A política imperialista de Napoleão III e a revolução industrial processada pouco mais ou menos no mesmo
período favoreceram o desenvolvimento da Marinha francesa. Com efeito, depois da Grã-Bretanha, era a França a
maior potência industrial da época, seguida de perto pela Alemanha e pelos Estados Unidos. Em 1864, contavam-se
430 altos-fornos em 56 departamentos que produziam 1.213.000 toneladas de ferro. A França compreendeu que se
apresentava uma oportunidade única para alcançar a supremacia marítima, já que as antigas esquadras de madeira não
poderiam subsistir na era do ferro e do vapor. Sob a orientação de hábeis técnicos, como Depuy de Lome, foi a Fran-
ça em muitos aspectos a vanguardeira da evolução marítima. De seus estaleiros saiu o primeiro navio encouraçado, o
Gloire. Todavia a Grã-Bretanha, nação também tecnicamente evoluída, enfrentou a corrida armamentista,
conseguindo manter a sua supremacia, malgrado a ameaça francesa.
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A Corrida armamentista anglo-francesa sofreu um hiato com a Guerra Franco-Prussiana em 1870-71. Poucos serviços
relativamente prestou a Marinha francesa nessa guerra, apesar de seu imenso aparato bélico. A Prússia, nação continental
por excelência, dispondo de pequena Marinha, não disputou o domínio dos mares à sua inimiga. A guerra se decidiu
totalmente em terra, e, ante a ameaça cada vez maior dos exércitos invasores prussianos, os marinheiros franceses muitas
vezes desembarcaram de seus magníficos navios, para lutar em trincheiras na defesa do solo pátrio.
Depois do conflito, uma só questão dominava todas as outras: retomar as províncias perdidas a revanche. Não se tinha
em absoluta necessidade da Marinha para isso e convinha reduzi-la para não desperdiçar créditos que eram necessários
noutros lugares. Como a França não tinha interesses no mar para justificar a existência da Marinha, uma vez ainda,
conforme a frase de seu ministro, o Almirante Pothuan, a Marinha deveria sacrificar-se no altar da pátria. De novo
desabava a grandeza da Marinha, grandeza toda artificial, criada por um regime de prestígio e ligada à sorte deste. O
programa de 1872 fixou os destinos da Marinha Republicana. Dos 400 navios do Império, foram conservados apenas 217.
A Marinha foi, portanto, sacrificada no altar da pátria. Thiers reduziu brutalmente seu orçamento, qualificando-a de arma
de luxo. O próprio Ministro da Marinha, Almirante Pothuam, declarou do alto da tribuna: "Todos os esforços devem ser
feitos do lado da terra. De que nos serviria agora uma marinha?" Perguntava ele.
A partir da oitava década do século passado, a França começou a perder a sua posição privilegiada de grande potência
econômica. Foi ultrapassada em produção industrial e desenvolvimento comercial, pela Alemanha e pelos Estados Unidos.
As causas desse fenômeno eram a paralisação, acusada desde vários anos, do processo demográfico, assim como da falta
de suficientes reservas carboníferas, circunstâncias que dificultavam o crescimento da grande indústria. O tráfego
ultramarino francês mostrou crescente empenho em se servir das companhias de navegação de outros países, mas baratas e
rápidas, em vez de navegar sob o pavilhão nacional. Foi essa a causa da navegação na França não participar do
florescimento da frota mundial. De 1866 a 1900, ela permaneceu quase estacionária em um milhão de toneladas, e a
construção naval chegou quase à paralisação durante o último decênio anterior à Primeira Grande Guerra.
Em oposição, a França retornou aos empreendimentos coloniais paralisados desde a conquista da Argélia a e da
aventura no México. A primeira das grandes operações coloniais foi a conquista da Tunísia em 1881. Seguiu-se a da
Indochina em 1884-85 e a de Madagascar em 1893, sem falar noutras menores levadas a cabo em vários pontos da África
e da Oceania. Em todos esses empreendimentos, a Marinha de Guerra francesa teve atuação de primeira plana, ou
destruindo as forças navais inimigas, ou reduzindo as fortificações terrestres, ou, enfim, apoiando as tropas de
desembarque.
Data também do final do século XIX o movimento chamado de "Jovem Escola" o qual causou não pequenos prejuízos
ao desenvolvimento da Marinha de Guerra francesa. A Jovem Escola defendia a construção de uma esquadra numerosa de
pequenos navios, sobretudo torpedeiros. A aparição do torpedo e da mina perturbou os espíritos e o debate veio a público.
Bem menos que por uma reforma administrativa das instituições, uma opinião incompetente mal esclarecida apaixonou-se
por uma reforma de concepções da guerra naval. Uma grave crise de ideias se declarou e em consequência a Marinha
francesa viu sua força profundamente abalada. Agradava ao espírito francês mal avisado das realidades navais, desprezar
uma força que achava brutal, substituindo-a pelos recursos de um espírito inovador e fecundo. A França que nunca antes se
tinha interessado pela Marinha ficou com febre. Dessa falta de uniformidade de vistas e das continuas mudanças de
governo resultou uma armada numerosa, mas heterogênea. Malgrado os sacrifícios consentidos pelos país, a Marinha
francesa, nas vésperas da Primeira Grande Guerra, havia caldo para o quinto lugar, se bem que seu Império Colonial fosse
o segundo do mundo. A razão básica dessa queda devia de novo ser procurada na fraqueza da Marinha Mercante que,
malgrado todos os esforços frequentemente grandes do Governo, não conseguiu acordar de seu longo sono. Tivesse
tido a França uma Marinha Mercante florescente, rica e poderosa, com numerosos interesses no mar, não haveria lugar
para discussões bizantinas como a da Jovem Escola. A voz dos interesses ameaçados faria prevalecer a verdadeira doutrina
de que, numa questão de força como a guerra, deve-se ter poder. Mas a Marinha Mercante francesa em 1914 era menos da
metade da alemã e apenas um décimo da britânica. Tendo perdido cerca de 920 mil toneladas durante a guerra, graças ao
tratado de paz, a Marinha Mercante francesa recuperou a tonelagem afundada, alcançando, em 1921, a 2 milhões e
trezentas mil toneladas. Entre os dois conflitos mundiais, pouco progresso realizou. Enquanto a Inglaterra voltava a ter nos
mares mais de 20 milhões de toneladas de navios mercantes e a Alemanha, partindo novamente do zero, ultrapassava os
cinco milhões, a França, em vinte anos, aumentava sua Marinha de comércio de 2 milhões e trezentas mil para dois
milhões e setecentas mil toneladas.
A Marinha de Guerra, em contraste, tendo adotado linhas seguras para sua evolução, e se beneficiando da longa conti-
nuidade ministerial de Georges Leygues, passou a ocupar o quarto lugar na tonelagem. As forças navais francesas
perderam seu antigo aspecto heterogêneo, e a qualidade do material ganhou reputação. Todavia, quase toda sua magnífica
obra de mais de vinte anos desapareceu com a Segunda Guerra Mundial.
Depois do término do conflito, a França tem mantido uma frota de guerra bem inferior à de 1939, mas mesmo assim
conserva-se entre 3S mais importantes potências navais do mundo.
Entretanto, da mesma forma que a sua antiga rival, a Grã-Bretanha, a França viu sua presença nos mares ofuscar-se ao
mesmo tempo que desaparecia seu antigo Império Colonial.

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