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Século XX

O Século XX foi um século permeado por guerras, em todas as suas


décadas, mas as duas guerras mundiais marcaram-no profundamente.

No século XX, a guerra mais catastrófica foi a Segunda Guerra Mundial


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Tópicos deste artigo


 1 - Primeira Guerra Mundial: o real “início” do século XX
 2 - O período entreguerras
 3 - Desencadeamento da Segunda Guerra
 4 - Do dia “D” às bombas atômicas
 5 - Guerra Fria
 6 - Conflitos na Ásia e no Oriente Médio
 7 - Corrida espacial e corrida armamentista
 8 - Situação no fim do século
Primeira Guerra Mundial: o real “início” do século
XX
Certos autores dizem que, a despeito do calendário comum, o século
XX começou, de fato, em 1914. Essa afirmação explicita o impacto
histórico da Primeira Guerra Mundial.Até 1914, o mundo ainda vivia
um eco da “Belle Époque” (Bela Época), isto é, a fase do progresso e
do otimismo vivida na Europa dos grandes Impérios desde o fim da
década de 1870. A “inauguração” do século XX com uma guerra de
proporções catastróficas (chamada por muitos de seus
contemporâneos de “apocalíptica”) parecia ser um prenúncio da
sucessão de guerras sangrentas que se alastrariam ao longo do século.

Contudo, antes mesmo de o primeiro conflito mundial acontecer,


algumas guerras setoriais estouraram. Duas merecem destaque:
a Guerra Russo-Japonesa(1904-1905) e a Guerra dos Bálcãs(1912-
1913). Essas guerras, sobretudo a dos Bálcãs, delineavam um pouco do
que aconteceria em 1914, haja vista que foi na Bósnia (um dos países
da Península Balcânica) que o arquiduque austríaco Francisco
Ferdinando foi assassinado. Como sabemos, a sua morte foi tida como
o estopim da guerra.

A grande máquina de guerra da Primeira Guerra Mundial pertencia ao


então II Reich (Segundo Império) alemão, que havia modernizado sua
infraestrutura e seu arcabouço militar após a unificação, ocorrida em
1870. O II Reich, comando por Guilherme II, era uma das nações mais
poderosas da época e, assim como outras, tinha pretensões
expansionistas. As dimensões da guerra logo se tornaram evidentes
com a quantidade de soldados, armamento, munições, bombas e
veículos utilizados só no primeiro ano. O uso de armas químicas,
como gases tóxicos que matavam instantaneamente, também revelou
uma face terrível da guerra.

O Império Alemão, mesmo tendo entrado na guerra com o exército


mais moderno, acabou perdendo e sendo obrigado a se submeter às
sanções instituídas pelos seus inimigos, sobretudo pela França,
prescritas no Tratado de Versalhes.Vale ressaltar que uma das
consequências diretas da guerra foi a Revolução Bolchevique, levada
a cabo na Rússia, em outubro de 1917. Os revolucionários russos,
liderados por Lenin, aproveitaram-se do enfraquecimento que o
Império do Czar Nicolau II sofreu durante a Primeira Guera para
empreender a ação revolucionária.

Soldados ingleses
entrincheirados durante a Primeira Guerra Mundial.
O período entreguerras
As décadas de 1920 e 1930 foram marcadas pelas tentativas de
reestruturação dos países europeus afetados pela devastação da
guerra. O mais afetado deles, a Alemanha, viu seu império ser
desmanchado e o regime republicano conhecido como República de
Weimar ser instalado.

A situação política e econômica dos alemães estava tão caótica nesse


período que muitos movimentos políticos radicais ganharam adesão
popular, como o movimento espartaquista – facção comunista da
Alemanha –, que tentou um golpe revolucionário em 1919, e
o movimento nacional socialista dos trabalhadores alemães, que
fundou o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães,
que ficaria conhecido como Partido Nazista. Adolf Hitler entrou para
esse partido em 1921, dando um novo formato para ele.

Ao mesmo tempo, a Itália, no início da década de 1920, viu a tomada


do poder pelos fascistas, liderados por Benito Mussolini. A Rússia,
que havia sofrido a ação revolucionária bolchevique, incorporou ao seu
domínio outras nações eslavas, criando a União Soviética. Com a
morte de Lenin, o primeiro líder soviético, em 1924, Stalin tornou-se o
comandante do império soviético. Todo esse cenário é conhecido em
História como o “Período entreguerras”, haja vista que foi
o totalitarismo desenvolvido pelos Estados descritos acima que
montou o cenário para a Segunda Guerra Mundial.

Se as guerras entre o Japão e Rússia e nos Bálcãs introduziram


a Primeira Guerra Mundial, a Segunda Guerra Sino-
Japonesa (iniciada em 1937 e só finalizada em 1945) e a Guerra Civil
Espanhola (1936-1939) foram o prefácio da Segunda. O segundo
conflito entre China e Japão acabou incorporando-se, em 1939, à
Segunda Guerra europeia, quando os japoneses aliaram-se à Alemanha
nazista e à Itália fascista. Francisco Franco, general espanhol, por sua
vez, comandou a revolução nacionalista com viés fascista na Espanha,
tendo recebido forte auxílio dos nazistas. Quando a Alemanha invadiu
a Polônia em setembro de 1939, o cenário da guerra já estava
montado.

Desencadeamento da Segunda Guerra


A Segunda Guerra, como postulam alguns historiadores, foi, de
certa forma, uma continuação da Primeira, haja vista que alguns dos
motivos eram similares, como o desejo de expansão imperialista da
Alemanha, que, sob o jugo de Hitler, declarou-se como o III
Reich (terceiro império). Porém, a devastação e o morticínio dessa
guerra foram inigualáveis, sem contar as atrocidades que foram
cometidas fora da zona de combate, como o holocausto nazista e
os gulags soviéticos, já que tanto nazistas quanto comunistas desejam
levar a cabo a construção de um império global, como diz o
historiador Timothy Snider, em seu livro Terras de Sangue – A Europa
entre Hitler e Stalin:

“Stalin, não menos que Hitler, falava em eliminações e limpezas.


Assim mesmo, o raciocínio stalinista para a eliminação sempre
estava relacionado com a defesa do Estado soviético ou com o
avanço do socialismo. No stalinismo, o extermínio em massa nunca
seria mais do que uma bem-sucedida defesa do socialismo, ou um
elemento na história do progresso rumo ao socialismo; nunca a
vitória política em si. O stalinismo era um projeto de
autocolonização, expandindo-se quando as circunstâncias o
permitissem. A colonização nazista, ao contrário, dependia
totalmente da conquista imediata e absoluta de um novo e vasto
império no Leste, que teria impedido o desenvolvimento da
Alemanha pré-guerra. Ele entendia a destruição de dezenas de
milhões de civis como pré-requisito para seu empobrecimento. Na
prática, os alemães geralmente matavam pessoas que eram
cidadãos soviéticos.”[1]

A União Soviética, que desde 1939 havia firmado um pacto de não


agressão com os nazistas, rompeu com estes em 1941, tornando-se a
inimiga do “eixo” na Frente Leste. Nos anos seguintes, os aliados
ocidentais articularam-se com a URSS em prol de combater o inimigo
em comum. A entrada dos Estados Unidos na guerra, que ocorreu
também em 1941, em razão do ataque japonês à base naval de Pearl
Harbor, fez com que a guerra se acelerasse e que tivesse dois grandes
polos: o continental (europeu) e o do Pacífico (batalhas travadas no
Oceano Pacífico, em especial nas ilhas japonesas). A partir desse
evento, houve o início da formação da aliança entre Inglaterra, Estados
Unidos e outros países a eles associados contra as chamadas
“Potências do Eixo” (Alemanha, Itália e Japão).

Do dia “D” às bombas atômicas


A articulação dos aliados teve o seu cume no chamado Dia D, isto é,
uma gigantesca operação militar realizada em 06 de junho de 1944
que consistia em um projeto de libertação da Europa a partir do litoral
francês. O objetivo dessa operação era liberar a França, a Holanda, a
Bélgica e os demais países da Europa Ocidental ocupados pelos
nazistas e chegar até a Alemanha.

Do lado oriental, os soviéticos fizeram também um processo de avanço


sobre o espaço nazista até chegar à Alemanha. Aos poucos, as forças
alemãs foram minguando e, em abril de 1945, foi noticiado o suicídio
de Adolf Hitler. Em agosto desse mesmo ano, a guerra chegou ao fim
em solo europeu, mas prosseguiu no Pacífico contra o Japão. Foi nesse
país que foram lançadas as duas bombas atômicas, nas cidades de
Hiroshima e Nagasaki, em 06 e 09 de agosto, respectivamente, por
um bombardeiro dos Estados Unidos, provocando a morte instantânea
de dezenas de milhares de pessoas. Após essa catástrofe nuclear, a
guerra finalmente chegou ao fim com a rendição do Japão em 02 de
setembro de 1945.

Guerra Fria
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, começaram a aparecer as
divergências entre as potências vencedoras em razão das diferentes
visões de mundo e dos diferentes projetos políticos. No mundo
ocidental, prevaleceu o modelo da economia de mercado e do sistema
democrático de direito. Na Europa Oriental e em grande parte da Ásia,
prevaleceu a economia estatal planificada, regida pelo sistema
comunista.

Houve, portanto, paulatinamente, um delineamento geopolítico entre


uma zona de influência encabeçada pelos Estados Unidos, que
abrangia a Europa Ocidental, o continente americano e a Oceania, e
uma zona de influência soviética, que se assenhorava da Europa
Oriental e de quase toda a Ásia. No começo dos anos 1950, essas
divergências passaram a ficar explícitas e temerosas com o estouro
da Guerra das Coreias – em que havia um núcleo apoiado pelos
soviéticos (o norte-coreano) e outro apoiado pelos ocidentais (o lado
Sul da Coreia). Essa atmosfera de rivalidade entre superpotências ficou
conhecida como Guerra Fria, que durou até o fim dos anos 1980.

Conflitos na Ásia e no Oriente Médio


Além da Guerra da Coreia, outras guerras que estouraram na Ásia,
como a Guerra do Vietnã, tiveram suas fontes nessas divergências
ideológicas entre ocidentais e soviéticos. Além desses conflitos
setoriais com motivações político-ideológicas, outros também tiveram
destaque nos primeiros anos da Guerra Fria. Foi o caso
dos Conflitos Árabe-Israelenses, que tinham motivação político-
religiosa.

Esses conflitos começaram após o reconhecimento do Estado de


Israel, pela ONU, em 1948. Países de orientação muçulmana, como
Egito, Transjordânia, Iraque, Síria e Líbano, não reconheceram a
legitimidade da existência do Estado de Israel e entraram em guerra
contra esse país. Muitos outros conflitos ocorreram, no período da
Guerra Fria, na região do Oriente Médio envolvendo o Estado
israelense, como a chamada Guerra do Yom Kippur, ocorrida em
outubro de 1973. Muitos outros ocorreram entre os próprios
muçulmanos, como a Guerra Irã-Iraque.
Avião B-
52 lançando bombas durante a Guerra do Vietnã.
No continente africano, nesse mesmo período de Guerra Fria,
houve as guerras pela descolonização. Muitos países que ainda eram
colônias de potências europeias passaram a reivindicar sua
independência, como a Argélia, que era colônia da França. Já no
mundo ocidental, os conflitos não tiveram a intensidade vivida nas
regiões descritas acima, mas consistiram, grosso modo, em golpes de
Estado, sobretudo na América Latina.

Esses golpes de Estado, ao contrário do que muitos pensam, eram


menos coordenados pelo “imperialismo dos EUA” do que
empreendidos por instituições civis-militares altamente nacionalistas e
anticomunistas. As justificativas para esses golpes (como o que houve
no Brasil em 1964) tiveram, em suma, o argumento de refrear as
possíveis revoluções comunistas que poderiam entrar em curso,
estimuladas e fomentadas pelos cubanos (que haviam feito a sua
revolução em 1959) e pelos soviéticos. Essas tentativas revolucionárias
eram coordenadas por focos de guerrilha armada urbana e rural.
A Guerrilha do Araguaia foi um exemplo de guerrilha rural.

Corrida espacial e corrida armamentista


A despeito de toda essa gama de conflitos regionais descritos acima, a
Guerra Fria também se caracterizou por outras formas de “guerra”,
além da convencional. A rivalidade estendeu-se para outros domínios,
como a guerra por informação, contrainformação e espionagem,
protagonizadas pelas agências secretas americana e
soviética, CIA e KGB, respectivamente; a “corrida armamentista”, na
qual as duas superpotências procuravam desenvolver as melhores
tecnologias bélicas e os melhores armamentos, incluindo armas
nucleares; e, por fim, a “corrida espacial”, que consistiu na busca
acirrada pelo desenvolvimento de tecnologia aeroespacial, como
satélites artificiais e espaçonaves, com o objetivo de conquistar o
espaço fora da atmosfera terrestre. O período de maior tensão da
Guerra Fria ocorreu em outubro de 1962, quando houve a chamada
“Crise dos Misseis”, em decorrência da descoberta de uma base para
instalações de ogivas nucleares soviéticas em Cuba.

Situação no fim do século


Com o esfacelamento da URSS, em 1991, a Guerra Fria teve,
definitivamente, fim. Todavia, em decorrência desse fim, novos
conflitos setoriais desencadearam-se nos anos 1990, como as guerras
na região dos Bálcãs – a Guerra Civil Iugoslava, por exemplo – e na
região do Cáucaso, cujo exemplo mais significativo foi o conflito entre
russos e chechenos na Primeira Guerra da Chechênia. Vale destacar
também que foi na última década do século XX que houve a Guerra
do Golfo contra a presença iraquiana (liderada pelo ditador Saddan
Hussein) no Kwait. Essa guerra marcou a tentativa de estabelecimento
da hegemonia estadunidense no Oriente Médio.

NOTAS

[1] SNIDER, Timothy. Terras de Sangue – A Europa entre Hitler e Stalin. Rio de Janeiro:


Record, 2012. p. 468.

Por Me. Cláudio Fernandes

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