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A PRODUÇÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO

1 – A FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO NACIONAL


O Brasil é grande e diverso. Com território de 8.547.403 km2, o Brasil é considerado um “país-continente”. De
fato, sua extensão territorial é das maiores do mundo (quinto lugar) e inclui-se, entre os seis países que possuem mais
de 7 milhões de km2. O extenso território apresenta grande variedade de climas, relevos e tipos de vegetação. A
miscigenação entre índos, negros, trazidos como escravos e imigrantes resultou na multiplicidade de tipos físicos. A
mistura de culturas forjou a arte, a culinária e outros aspectos que formam a identidade brasileira.
O Brasil também é um país de grandes diferenças, onde, de uma forma geral, porém não totalmente, o Sul e o
Sudeste industrializados e com indicadores sociais relativamente bons contrastam com o Norte, o Nordeste e o
Centro-Oeste, onde a economia é pouco desenvolvida e há muita pobreza e sérias carências sociais. Mas, mesmo
dentro das regiões mais desenvolvidas, existem bolsões de pobreza, que revelam, de maneira dramática, a
desigualdade que marca a sociedade brasileira.

A expressão “país-continente” advém do fato de que o menor de todos os continentes, a Austrália (alicerce da
Oceania), possui cerca de 7,6 milhões de quilômetros quadrados.
Para termos uma idéia do imenso tamanho de nosso país, podemos lembrar que toda a Europa, a ocidental e a
oriental (excluindo a parte européia da Rússia), possui apenas cerca de 5,2 milhões de km2.
Alguns Estados do Brasil — como Amazonas, Pará, Mato
Grosso e Minas Gerais — possuem cada um, área territorial
superior à de inúmeros países europeus reunidos.
Observando um mapa de densidades demográficas ou
povoamento do Brasil, nota-se que a população se concentra no
litoral, ou melhor, em uma estreita faixa de terra que vai do
oceano Atlântico até cerca de 150 km para o interior. As
cidades mais populosas aí se localizam: São Paulo, Rio de
Janeiro, Salvador, Recife, Porto Alegre, Curitiba, Fortaleza,
Belém entre outras. As únicas exceções —- grandes áreas
metropolitanas com mais de 1 milhão de habitantes situadas a
mais de 150 km do litoral são Belo Horizonte, Brasília, Goiânia
e Manaus.
A regra geral é a concentração litorânea, principalmente no
Sudeste do país (entre São Paulo e Rio de Janeiro) e próxima do
litoral do Nordeste (Zona da Mata nordestina). A parte

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ocidental do país, principalmente a Amazônia, ainda permanece com baixas densidades demográficas, embora isso
venha se alterando nas últimas décadas com o deslocamento de contingentes populacionais do Sudeste, do Nordeste e
do Sul do país para a região, principalmente para Mato Grosso, Rondônia e Roraima.
A formação do Brasil enquanto um Estado nacional ocorreu de forma bastante particular. Primeiro, podemos
lembrar que antes de 1500 não existia Brasil, mas sim o espaço físico e várias nações indígenas. A chegada dos
colonizadores portugueses determinou a ocupação das áreas existentes e conhecidas, que com o tempo foram sendo
alargadas, dando origem a um território e uma sociedade. O povoamento então, resultou de um processo histórico em
que o elemento fundamental foi o fato de o Brasil ter sido colônia de Portugal até início da terceira década do século
XIX.
Comparando o território atual com a área de colonização portuguesa no século XVI, delimitada pelo Tratado de
Tordesilhas, assinado em 1494 por Portugal e Espanha, percebe-se que aquela área praticamente triplicou, pois mal
chegava a um terço dos atuais 8,5 milhões de km2. Essa expansão do território da colônia e do país independente, em
detrimento das áreas de colonização espanhola ou de países sul-americanos (Paraguai, Peru, Bolívia, etc.), ocorreu
por conta dos deslocamentos de portugueses ou brasileiros para essas áreas, da implantação de habitações e atividades
econômicas e da anexação dessas terras pelo princípio do uti possidetis.

Uti possidetis: tratado que conferia a um Estado o direito de apropriar-se de um novo território com base na
ocupação, na posse efetiva da área, e não em títulos anteriores de propriedade.

Os contornos do território colonial flutuaram ao longo do tempo num processo gradativo, submetido às
estratégias de administração da metrópole. Nos séculos XVI e XVII, a colonização baseou-se no regime de capitanias
hereditárias, instituído em 1543. Os donatários tinham amplos poderes nas suas capitanias, inclusive o de distribuir
sesmarias, de modo a estimular a exploração econômica das terras através da grande lavoura e da criação de gado.
Por outro lado, a expansão comercial européia e o intenso crescimento das cidades e da população estimularam a
busca de novos produtos para incrementar a atividade comercial (ouro, prata, açúcar, tabaco, algodão, certos tipos de
madeira, frutos diversos, etc.) e de novas áreas a serem incorporadas ao raio de ação dos comerciantes europeus. Foi
essa a principal motivação da expansão marítimo-comercial da Europa e da colonização do continente americano.

2 – UNIÃO IBÉRICA
Em 1621, no período da União Ibérica, a América portuguesa foi dividida em Estado do Brasil, com sede em
Salvador, e em Estado do Maranhão, com sede cm São Luis. O novo Estado, subordinado apenas à Coroa, destinava-
se a garantir a defesa do litoral setentrional, sujeito a ataques e ocupação dos franceses. Em 1751, afastadas as
ameaças francesas, a atenção da Coroa concentrou-se na consolidação da soberania sobre a bacia amazônica,
mudando o nome da entidade para Estado do Grão-Pará e transferindo sua sede para Belém.
Após o fim da União Ibérica, a Coroa portuguesa empreendeu esforço de reorganização das suas colônias
americanas. Esse empreendimento visava fortalecer o controle metropolitano sobre as rendas coloniais e garantir a
ocupação estratégica de áreas limítrofes às terras espanholas.
O traço marcante da colonização de todo o continente americano e, por extensão, do Brasil, com exceção apenas
de partes da América do Norte, foi servir para o enriquecimento das metrópoles, ou seja, as nações européias.
De fato, o que alguns historiadores chamam de “sentido” da nossa colonização está nisto: ela foi organizada para
fornecer ao comércio europeu açúcar, tabaco e outros gêneros; mais tarde, ouro e diamantes; depois, algodão e, em
seguida, café. E isso acarretou algumas marcas na economia e na sociedade brasileiras que, em alguns casos,
permanecem até hoje:
 Povoamento mais intenso na fachada atlântica (onde se localizam os portos);
 Utilização dos melhores solos para a produção de gêneros de exportação e não de alimentos para a
população;
 Formação de uma sociedade constituída principalmente por uma minoria de altíssima renda (que
mantém ligações econômicas com o exterior) e uma maioria com baixa renda, que serve como força de
trabalho barata;
 Dependência econômica em relação aos centros mundiais do capitalismo.
Assim, a colonização do Brasil teve um caráter de colônia de exploração, e significa que foi inserida na política
mercantilista da época, servindo como uma das condições indispensáveis para que ocorresse a Primeira Revolução
Industrial, de meados do século XVIII até o final do século XIX. Esse acontecimento marcou a passagem do
Capitalismo Comercial, típico da época moderna, em que o comércio era o setor-chave da economia, para o
Capitalismo Industrial.
É importante lembrar que Portugal, na época moderna, tornou-se uma potência de segunda categoria (ele havia
sido uma importante potência mundial no século XV), que procurou manter a integridade territorial de suas colônias,
em especial do Brasil, a partir de alianças com aquela que pouco a pouco se tornou a grande potência internacional do

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período, a Inglaterra. Mas, para merecer a proteção da Inglaterra — principalmente em relação à Espanha e à França
—, Portugal viu-se obrigado a oferecer-lhe algo em troca: generosas vantagens comerciais no Brasil colônia.
Esse é um dos fatores que explicam por que a maior parte do ouro brasileiro do século XVIII foi para a
Inglaterra. E esse ouro contribuiu — embora não tenha sido a razão mais importante — para que a Revolução
industrial e o capitalismo se tenham desenvolvido com mais intensidade naquele Estado.

3 – A DINÂMICA DAS FRONTEIRAS E POLÍTICAS NACIONAIS


O território brasileiro atual tem 7.367 km de contorno marítimo e 15.719 km de contorno terrestre de fronteiras
com os nossos vizinhos sul-americanos (todos os países deste subcontinente, com exceção do Equador e do Chile
possuem fronteiras com o Brasil).
Os últimos acertos importantes para delimitar esse contorno terrestre foram realizados no final do século XIX
(1895-1900) e no início do século XX (1903-1904).
A questão de Palmas, território situado entre o sudoeste do Brasil e o nordeste da Argentina (que hoje constituí o
oeste do Paraná e de Santa Catarina, também conhecido como Iguaçu), foi solucionada em 1895. Os dois países
disputavam esse território de 35.431 km2 rico em ervais (a planta da erva-mate) e que começou a ser mais
imensamente explorado na segunda metade do século XIX.
Para sorte do Brasil, na época a Argentina vivia enorme crise política (de 1889 a 1895 ocorreram quatro
mudanças de presidente do país e dos seus ministérios) e, ao mesmo tempo, confrontava o Chile por causa de uma
disputa de fronteiras muito mais problemática. Assim, a opinião pública e as tropas argentinas estavam mobilizadas
contra o Chile. Brasil e Argentina decidiram recorrer à arbitragem do presidente dos Estados Unidos, que, após
estudar os reclames de ambos os lados (e também os argumentos do Chile, que intercedeu a favor do Brasil), acabou
decidindo que o território de Palmas deveria pertencer ao Brasil.
A questão do Amapá, que opôs o Brasil à Guiana Francesa (colonizada pela França), também foi resolvida por
meio de arbitragem internacional, desta vez realizada pela Suíça. As autoridades Suíças, escolhidas de comum acordo
pelos dois lados em litígio, decidiram em 1900 que essa área, que corresponde aproximadamente a metade do atual
estado do Amapá, deveria continuar a fazer parte do Brasil.
Quanto ao Acre, a disputa principal foi com a Bolívia, que reclamou da invasão da parte leste do seu território
por seringalistas brasileiros. Durante alguns anos as tropas bolivianas e brasileiras, em ação conjunta, tentaram
expulsar dessa área os seringalistas, mas após muitas lutas eles se rebelaram e declararam a independência do Acre
em 1902. Brasil e Bolívia - e também o Peru, que teve um pequeno trecho do seu território invadido pelos
seringalistas reuniram-se em 1903 e assinaram o Tratado de Petrópolis, segundo o qual essa área passou a fazer
parte do território brasileiro. O Brasil indenizou a Bolívia e o Peru em cerca de 2 milhões de libras esterlinas, a
moeda internacional mais valorizada na época, e se comprometeu a construir a Ferrovia Madeira-Mamoré, para
escoamento e exportação da borracha através dos portos de Manaus e Belém.
O último grave problema fronteiriço no contorno terrestre foi a questão do Pirara, que opôs o Brasil à Guiana
Inglesa, na época colônia do Reino Unido e hoje país independente denominado Guiana. Ocorreu uma disputa sobre
uma área de 22.015 km2 ao redor do lago de Pirara, na Amazônia, e uma arbitragem internacional, realizada pelo
governo italiano, decidiu que a maior parte desse território (12.950 km) ficaria sob domínio da Guiana Inglesa e outra
parte (9.065 km), com o Brasil.
Por fim, existem outras duas zonas de fronteiras que talvez ainda sejam rediscutidas neste novo século nas
organizações internacionais: a marítima e a aérea. Quanto às fronteiras marítimas, o Brasil possui duas faixas ou
zonas de domínio: mar territorial e zona econômica exclusiva.
O mar territorial é a faixa de 12 milhas (mais ou menos 22 km) a partir da costa sobre a qual o Estado brasileiro
tem soberania plena, o que significa que aí ele decide sozinho sobre navegação, pesca, comunicações, uso dos
recursos, etc. E a zona econômica exclusiva é a área que vai até 200 milhas (370 km) da costa, ou 188 milhas depois
do mar territorial Nessa zona o Brasil, assim como os demais países - pois isso resultou de um tratado internacional, a
Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, em vigor desde 1994 -, possui soberania limitada, que vale
exclusivamente para a exploração econômica e a gestão dos recursos naturais. Depois das 200 milhas da costa inicia-
se o alto-mar, considerado área internacional.
Quanto à zona aérea, o Brasil, e também os demais Estados, possui soberania na atmosfera acima do seu solo,
que vai até mais ou menos 90 km de altitude. Claro que a soberania sobre esse espaço aéreo não é rígida, por causa de
tratados internacionais que facilitam o transporte aéreo. Se assim não fosse, a aviação mundial ficaria muito
prejudicada, pois, por um lado, existem inúmeros países (Bolívia, Paraguai e Suíça, por exemplo, que não têm saída
para o mar e estão cercados de vizinhos) que necessitam usar o espaço aéreo de outras nações para as suas linhas
aéreas, e, por outro, certas rotas de aviação ficariam mais longas se não passassem pelo espaço aéreo de alguns países
que estão no seu caminho. Mas existe, ou deveria existir, um constante monitoramento do espaço aéreo nacional de
cada país, com o objetivo de cercear os vôos não autorizados de aviões que servem ao tráfico de drogas, por exemplo,
que costumam usar com freqüência o espaço aéreo brasileiro, especialmente na Amazônia.

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Nos Estados Unidos, as antigas colônias inglesas constituíram, após a independência, urna confederação, que em
seguida transformou-se numa federação. Os novos territórios adquiridos ou conquistados no Oeste aderiram à
federação. O Brasil percorreu trajetória muito diferente. O Império amalgamou as capitanias que funcionavam
praticamente corno colônias distintas, num Estado unitário. A República adotou o sistema federativo, transformando
as províncias em estados. Ao mesmo tempo, adotou a expressão norte-americana, assumindo a denominação de
Estados Unidos do Brasil.
A configuração atual das unidades da federação guarda, muito nítidas, as marcas do passado. As capitanias do
Vice-Reino do Brasil tornaram-se as províncias imperiais. A única adição foi Alagoas, que se tornou capitania
subordinada a Pernambuco antes da independência. Em 1853, a província do Paraná desmembrou-se de São Paulo.
No período republicano, as mudanças nos limites político-administrativos decorreram dos processos de criação
de territórios federais e de desmembramento de estados. O Acre foi o primeiro território federal, criado em 1903
como produto da incorporação da área adquirida à Bolívia no Tratado de Petrópolis. Depois, durante a Segunda
Guerra Mundial (1939-1945), foram criados, por desmembramento, os territórios do Rio Branco (atual Roraima),
Amapá, Guaporé (atual Rondônia), Ponta Porã, Iguaçu e Fernando de Noronha.
Os territórios não dispunham de autonomia política. Não tinham assembléias legislativas ou representação no
Senado e seus governadores eram nomeados pelo governo federal. Situados em faixas de fronteiras pouco povoadas
ou, no caso de Fernando de Noronha, em rota estratégica do Atlântico Sul, destinavam-se a garantir a segurança
externa do país. A influência, real ou potencial, do Eixo sobre os Estados e colônias vizinhos do Brasil justificou a
sua criação, quase concomitante à entrada do país na Segunda Guerra Mundial. A Constituição de 1946 extinguiu os
territórios de Ponta Porã e Iguaçu. Mais tarde, os demais territórios foram elevados a estados, ganhando autonomia
política. A Constituição de 1988 extinguiu o território de Fernando de Noronha, anexando-o a Pernambuco.
A área da capital federal — o Rio de Janeiro — tornou-se Distrito Federal desde a proclamação da República.
Em 1960, com a inauguração de Brasília, o Distrito Federal foi transferido para o Brasil central. O antigo Distrito
Federal foi transformado no Estado da Guanabara, até fundir-se com o do Rio de Janeiro, em 1974.
O Brasil central conheceu dois desmembramentos de estados. A criação do Estado do Mato Grosso do Sul, em
1977, resultou da bipartição do Mato Grosso. Tocantins nasceu, em 1988, pela bipartição de Goiás. A República
Federativa do Brasil passou a ser formada por 26 estados e o Distrito Federal.
O processo de desmembramento de estados é
justificado pelo povoamento e pela valorização das
regiões interiores do país. A autonomia política e a
instalação de administrações estaduais funcionam como
fundamentos para o planejamento econômico e social,
Mas a criação de novas unidades da federação também
é uma resposta a demandas regionais de certos grupos
sociais, que adquirem por essa via maior poder político,
novos instrumentos de pressão sobre o governo central
e uma rede de cargos públicos sobre os quais se armam
máquinas eleitorais.
A noção de planejamento do desenvolvimento
econômico consolidou-se no Brasil durante a Segunda
Guerra Mundial. Essa noção tem um claro significado
territorial: para planejar, é preciso conhecer as
características de cada área do país e as diferenças
socioeconômicas e naturais entre elas. Assim, surgiu a
idéia de estabelecer uma regionalização oficial do
território nacional. O fundamento da atual divisão
regional do IBGE, estabelecida em 1988, é o conceito
de macrorregiões, definidas segundo uma combinação de características econômicas, demográficas e naturais. As
formas de organização da economia e as características gerais do espaço geográfico serviram como bases para a
divisão em cinco grandes regiões, que agregam as unidades da federação.
A divisão em macrorregiões tem finalidades estatísticas, mas é muito genérica para as necessidades de
planejamento. Por isso, o 1BGE procedeu a um detalhamento da divisão regional, identificando mesorregiões
geográficas que se distinguem pela estrutura produtiva e por características marcantes do espaço natural. São Paulo
tem 15 mesorregiões e Minas Gerais tem 12, a Bahia e o Rio Grande do Sul 7, Goiás tem 5 e Roraima apenas 2. No
conjunto, o Brasil foi dividido em 136 mesorregiões.
Partindo dessas regiões intermediárias, procedeu-se a urna análise mais detalhada do território, com a
identificação das microrregiões geográficas, que se diferenciam basicamente pela influência dos centros urbanos e
pelos tipos dominantes de uso do solo. O Estado de Minas Gerais, que mais abriga municípios, está dividido em
maior número de microrregiões: 66, Roraima, em contraste, apresenta apenas 4. No conjunto, o Brasil foi dividido em
547 microrregiões.
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As subdivisões em meso e microrregiões relacionam-se essencialmente com a complexidade da economia e,
portanto, com a diversidade geográfica gerada pelas atividades produtivas. Quanto mais profunda e extensa é a
transformação do espaço pela sociedade, mais numerosas são as subdivisões regionais.
O planejamento requer acumulação de dados estatísticos e a sua aplicação depende dos aparelhos administrativos
do Estado. Por isso, na divisão do IBGE, as unidades da federação foram “encaixadas” inteiras nas macrorregiões,
Pelo mesmo motivo, os municípios inserem-se, na sua totalidade, nas microrregiões.
A divisão regional, como um todo, é fruto das teorias e dos métodos utilizados para a regionalização. E, também,
uma “fotografia” de determinado estágio da organização do espaço geográfico nacional, tomada pelas lentes dessas
teorias e desses métodos. As mudanças da divisão regional, que ocorrem periodicamente, podem ser resultado de um
novo modo de interpretar o espaço geográfico ou das próprias transformações na sua organização derivadas da
dinâmica social.

4 – APROPRIAÇÃO E VALORIZAÇÃO DO TERRITÓRIO NACIONAL


A cisão entre o litoral e o interior, entre o mar e o sertão, marcou a formação territorial da América portuguesa,
desde os primórdios. Revela-se então o litoral como um espaço conhecido e nomeado, e o interior um espaço
inóspito, desconhecido e assustador.
Durante todo este processo de construção do território, os fatores de expansão econômica tornam-se importantes,
figurando como forma legítima de ocupação de tais espaços. O desenvolvimento das atividades econômicas é uma
peça chave na ocupação de um território. É assim no Brasil de hoje e era assim desde os tempos da colônia.
Historiadores dividem a trajetória econômica do Brasil em ciclos definidos pela exploração de um produto principal.
O primeiro foi a extração do pau-brasil. A madeira era abundante no litoral, região que os portugueses explorariam
antes de chegar ao interior. Exceção foi a coleta de produtos denominados drogas do sertão (especiarias como canela,
castanha e cravo), que levou os portugueses à Amazônia, ainda no século XVI.
A produção de açúcar foi a primeira atividade não-extrativista no Brasil. O açúcar sustentou a economia colonial
do fim do século XVI até o fim do século XVIII. A pecuária teve peso relativamente pequeno na economia da
colônia, mas levou à ocupação de grandes porções do sertão, a partir do século XVII. Nesse mesmo período, a
descoberta de pedras e metais preciosos favoreceu o povoamento das áreas do interior. A partir de meados do século
XIX, o norte do Brasil assistiria ao ciclo da borracha, que durou até as primeiras décadas do século XX. Também na
primeira metade do século XIX teve início a agricultura de café, que iniciou o processo de concentração populacional
e econômica no Sul e no Sudeste, que ainda persiste. A partir daí a indústria passa a assumir seu destaque.
A economia canavieira, implantada ainda no século XVI, valorizou sobretudo o litoral nordeste da colônia. O
clima quente e úmido da região, bem como a topografia suave e a existência de solos férteis ofereciam condições
ideais para o plantio de cana. Vastas terras monocultoras canavieiras, cultivadas por mão-de-obra escrava e dotadas
de engenho de produção de açúcar, eram a unidade básica desta empresa.
O sucesso comercial do açúcar nos mercados europeus estimulou o aumento da área canavieira da Zona da Mata
nordestina. No século XVII, o gado foi expulso das terras litorâneas, e o agreste e os sertões entraram no mapa
econômico. Surgiram inúmeros povoados com a pecuária desenvolvida fora do limite do litoral, embriões de cidades
sertanejas conhecidas do nordeste brasileiro. A expansão das atividades em direção ao sertão nordestino foi o
primeiro surto de apropriação e ocupação do território nacional.
A empresa açucareira se instalou também na Capitania de São Vicente. Entretanto, a restrição que a Serra do Mar
impunha, comprimindo a faixa litorânea, dificultava tal expansão. A predominância de solos rasos e pantanosos e a
maior distância em relação aos portos europeus desestimularam a ampliação da atividade açucareira nessa região. O
fracasso da empresa agrícola exportadora no litoral vicentino contribuiu para a instalação de um núcleo de
povoamento em direção aos planaltos da Serra do Mar, ainda no século XVI. Os colonos organizaram as expedições
bandeirantes que de certa forma provocou o aumento do povoamento da vila de São Paulo de Piratininga.
O segundo surto de ocupação e apropriação do território ocorreu em virtude da existência de metais preciosos na
região das Minas Gerais, principalmente, Mato Grosso e Goiás. Levas de imigrantes portugueses atraídos pelo ouro e
lotes de mão-de-obra escrava destinados ao trabalho nas minas se instalaram na região dando origem a cidades como
Ouro Preto, Mariana, Sabará e outras. A economia do ouro também provocou a mudança da sede administrativa de
Salvador para o Rio de Janeiro.
Na Amazônia, a colonização foi um empreendimento realizado em conjunto com a Igreja Católica,
principalmente no período da União Ibérica. A Igreja foi encarregada de estabelecer missões ao longo do Rio
Amazonas e do baixo curso de seus afluentes, onde seria organizada a coleta das drogas do sertão, plantas nativas tais
como a salsaparrilha, o guaraná, a castanha-do-pará. As drogas do sertão eram exportadas pra mercados europeus. As
antigas missões e as fortificações portuguesas estabelecidas após restauração da soberania do Império deram origem a
muitas das cidades do vale amazônico.

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5 – O ESPAÇO BRASILEIRO E A INDUSTRIALIZAÇÃO
Com o processo de industrialização do Brasil e sua concentração geográfica no Centro-Sul, especialmente em
São Paulo, surge uma nova forma de organização do espaço. A partir do momento em que a indústria se converteu no
setor chave da economia do país, o que só ocorreu em meados do século XX, o espaço geográfico brasileiro tornou-se
cada vez mais integrado, com maior interdependência entre todas as suas áreas.
No período pré-industrial, quando a economia brasileira era basicamente ligada às atividades primárias, não
havia ainda um espaço nacional unificado. Existiam diversas economias regionais, áreas relativamente isoladas e
fundadas na agricultura, mineração ou na pecuária, configurando “arquipélagos econômicos”.
As áreas mais ricas e mais povoadas eram aquelas que tinham seus produtos valorizados no mercado
internacional, corno a Zona da Mata nordestina (açúcar), o litoral do Maranhão (algodão), algumas zonas mineiras no
centro do país (ouro e diamantes), partes da Amazônia (borracha), bem como o Vale do Paraíba e a parte oeste do
estado de São Paulo (café). Outras áreas onde havia algum povoamento, embora de menor importância, eram
subordinadas àquelas: o sertão nordestino e o vale do São Francisco, com a pecuária para abastecer a Zona da Mata,
as charqueadas e fazendas do Rio Grande do Sul, que forneciam charque para a área de mineração e até para São
Paulo e Rio de Janeiro durante boa parte da época colonial.
Cada uma dessas áreas conheceu um período de apogeu, ligado à maior procura de seu principal produto de
exportação. Assim, a Zona da Mata nordestina teve seu progresso máximo nos séculos XVI e XVII, embora continue
a produzir e exportar açúcar até hoje.
No século XVII., viveram seu auge as áreas mineiras de Goiás e Minas Gerais, que estagnaram após esse
período. Foi ainda nesse século que o Maranhão conheceu seu esplendor econômico, graças às exportações de
algodão, decaindo depois com a diminuição da procura desse produto por causa da concorrência de outros países e
pelo esgotamento dos solos.
A fase áurea da Amazônia, propiciada pela borracha, com notável crescimento de Manaus e Belém, ocorreu no
final do século XIX e início do século XX, decaindo com as plantações de seringueiras na Malásia e Indonésia. O
golpe final foi o aparecimento da borracha sintética, que atualmente domina o mercado.
E até o Vale do Paraíba sofreu uma estagnação econômica após as primeiras décadas do século XX, quando o
café se deslocou para áreas mais propícias.
Dessa forma, existiam vários “bolsões” ou áreas isoladas (à imagem de um arquipélago), mas não havia de fato
espaço nacional, um espaço geográfico integrado. As próprias redes de transporte serviam principalmente para ligar
essas áreas aos portos de exportação, mas não para fazer a interligação entre elas.
Com o avanço da industrialização, passou a haver uma integração cada vez maior do espaço geográfico. Houve
uma expansão das redes de transporte, de início ferrovias (século XIX) e depois rodovias, que ligavam as diversas
áreas do Brasil às duas principais metrópoles: São Paulo e Rio de Janeiro. Os bens industrializados produzidos em
São Paulo passaram a ser comercializados em todos os recantos do país. substituindo os produtos importados ou
provocando, às vezes, a falência de algumas indústrias regionais, corno ocorreu no Nordeste no inicio do século XX.
Passou a haver, então, interdependência das diversas regiões, com uma divisão territorial do trabalho, em que o
Centro-Sul (em especial São Paulo) fornecia bens industrializados às demais, das quais recebia matérias-primas e
produtos agrícolas. Em suma, o espaço nacional integrado passou a se orientar segundo um esquema de centro e
periferias.

6 – A MARCHA PARA O OESTE


O Brasil herdou da América portuguesa um padrão marcadamente litorâneo de povoamento. Se formaram
verdadeiros vazios demográficos no interior do país. A ocupação desses imensos espaços foi uma das prioridades do
governo de Getúlio Vargas.
Na década de 1940, seriam implantados os primeiros projetos de colonização oficial na região do interior. Os
principais foram a Colônia Agrícola Nacional de Goiás, no município de Ceres, e a Colônia Agrícola Nacional de
Dourados, no atual Estado do Mato Grosso do Sul. Neles, o governo federal distribuía lotes de 30 hectares, que
seriam regularizados depois de comprovados dez anos de ocupação. Somente para a Colônia de Dourados afluíram
cerca de 150 mil pessoas, em sua maioria mineiros, nordestinos e paulistas. O milho e o arroz eram os principais
produtos cultivados.
Até hoje, a estrutura fundiária da região guarda marcas do tempo das colônias agrícolas. A maioria das fazendas
dos municípios de Douradina e Glória de Dourados, por exemplo, possui área em torno de 600 hectares, que
corresponde a 20 lotes antigos unificados pela concentração fundiária. Em muitos casos, os grandes fazendeiros
conservam cada um dos lotes-padrão da colônia — com 250 metros de frente e 1.200 de fundo — como propriedades
autônomas, com escrituras separadas.
A ocupação do Centro-Oeste reproduziu mecanismos já antigos na história da ocupação produtiva do território
brasileiro. Primeiro chegaram as frentes de expansão, nas quais trabalhadores agrícolas expulsos pela modernização
da agricultura do Sudeste ou pela estagnação econômica do Nordeste estabeleciam-se como posseiros e abriam sítios
e roçados voltados essencialmente para a subsistência, em terras ainda virgens.
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Depois, a partir da década de 1950, com as iniciativas oficiais e particulares de colonização dessas novas áreas,
abriam-se as frentes pioneiras: nelas, os agricultores tornavam-se proprietários da terra e, via de regra, produziam
para o mercado. Nas frentes pioneiras, a terra transformava-se em uma mercadoria ferozmente disputada. Com elas, a
especulação e os mecanismos de valorização fundiária, típicos do mercado de terras capitalista, chegaram ao Brasil
central.
No governo Juscelino Kubitschek (1956-1961), o sonho acalentado pelos ideólogos da unidade nacional desde os
tempos do Império pôde se concretizar, e a capital finalmente se transferiu para os planaltos interiores do país. A
construção de Brasília contribuiu decisivamente para o incremento do fluxo migratório em direção ao Centro-Oeste.
Entre 1956, quando começaram as obras, até 1970, o Distrito Federal recebeu cerca de 250 mil trabalhadores vindos
de todas as regiões do país, em especial do Nordeste.
Em 1960, os efeitos da “marcha para o oeste” já se faziam sentir no mapa das densidades demográficas. Novas
manchas de densidade demográfica superiores a 2 hab./km2 já apareciam no Estado de Goiás e no sul do antigo
Estado do Mato Grosso. Ainda assim, permaneceu sobretudo, a constituição de um grande pólo demográfico no
Sudeste do país, efeito de um padrão industrial fortemente concentrado nessa região.

7 – A AMAZÔNIA E A INTEGRAÇÃO NACIONAL


A ocupação da Amazônia foi marcada por programas oficiais de incentivo a migração como o Projeto de
integração Nacional (PIN), com o objetivo de aliviar as pressões demográficas no Nordeste e povoar uma região com
baixas densidades populacionais.
A Região Norte foi a que apresentou as maiores taxas de incremento demográfico nos decênios 1970 – 1980 e
1980 – 1991. Enquanto no Centro-Oeste a agricultura conhecia um amplo processo de modernização, acompanhado
pela concentração da propriedade da terra e pela expulsão de trabalhadores rurais, a região Norte transformava-se na
nova fronteira agrícola do país.
Em grande parte, esse incremento demográfico da região Norte resultou de intensa migração de trabalhadores
rurais do sul do país, expulsos pela modernização da agricultura e pela concentração fundiária, e do Nordeste,
marcado pelo domínio dos latifúndios e pele fragmentação das propriedades camponesas.
Entre 1940 e 1970 a Região Sul comportou-se como uma área de atração populacional. Os fluxos migratórios
alimentaram o acelerado crescimento demográfico da região. Em grande parte, esse crescimento reflete as
transformações ocorridas na dinâmica populacional do estado do Paraná.
A corrida rumo ao Paraná começou na década de 1920, com a chegada das culturas de café e de algodão no norte
do estado, nas frentes pioneiras polarizadas por Londrina. Em 1940, já havia uma ampla oferta de emprego rural nas
pequenas e médias propriedades do estado. Milhares de migrantes chegavam anualmente: entre 1950 e 1960, a
população paranaense cresceu mais de 100%, um recorde entre os estados brasileiros.
A partir de 1970, porém, a introdução do cultivo intensivo da soja alterou substancialmente a estrutura agrária de
vastas proporções do estado. O crescimento do tamanho médio das propriedades e a mecanização tiveram como
resultados a expulsão dos pequenos proprietários e dos trabalhadores rurais. Em conseqüência, entre 1970 e 1980 o
Paraná voltou a quebrar um recorde, só que desta vez negativo: sua população cresceu apenas 11%, o menor índice
entre os estados brasileiros. No mesmo intervalo, o estado registrou um saldo migratório negativo decenal de 820 mil
pessoas. Milhares de trabalhadores agrícolas paranaenses integraram, junto com nordestinos, capixabas e mineiros,
um grande fluxo em direção as fronteiras agrícolas.
A maior parte dos migrantes sulista dirigiu-se para Rondônia, que na década de 1970 recebeu recursos do Banco
Mundial e do governo federal.
Os nordestinos dirigiram-se principalmente para Amazônia oriental, em especial para a Zona Bragantina do Pará
e o norte do atual Estado do Tocantins regiões marcadas por violentos conflitos fundiários.
Desde o final da década de 1980, a intensidade dos fluxos migratórios inter-regionais vem diminuindo
sistematicamente. O esgotamento da oferta de empregos nos centros industriais e a concentração fundiária nas antigas
fronteiras agrícolas do Centro Oeste produziram um assentamento demográfico inédito na história do país: cada vez
mais, a busca de oportunidades de terra e trabalho se realiza dentro dos limites da região de origem da população
A continuidade desse novo padrão depende das estratégias futuras de ocupação da Amazônia. Os fluxos
migratórios recentes transformaram profundamente a paisagem de Rondônia, do sul e leste do Pará e do norte do
Mato Grosso. Entretanto, o povoamento permanece escasso no conjunto da região.

8 – OS COMPLEXOS REGIONAIS
Em 1967, o geógrafo Pedro Pinchas Geiger elaborou uma proposta de divisão do país em grandes complexos
regionais. Essa proposta foi baseada em critérios diferentes daqueles que haviam orientado os técnicos do IBGE na
delimitação das cinco macrorregiões brasileiras. Mais do que características econômicas individuais, os complexos
regionais revelam o resultado da integração econômica promovida pela industrialização no plano espacial. Assim,
abrangem regiões produtivas com características desiguais, mas que foram soldadas pela emergência de um mercado
interno unificado.

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Ao contrário da divisão regional proposta pelo IBGE, a
delimitação dos complexos regionais não considera as
fronteiras entre os estados: o norte semi-árido de Minas Ge-
rais, por exemplo, integra o Complexo Regional Nordestino;
metade do território do Maranhão integra o Complexo
Amazônico, a outra metade pertence ao Complexo Nordesti-
no. No final da década de 1960, o Centro-Sul já se destacava
como o coração econômico do Brasil, concentrando 70% da
população nacional, a maior parte da produção industrial e
agropecuária do país e funcionando como a fonte dos capitais
que dinamizam toda a economia nacional. O Centro-Sul ex-
pressa a integração econômica do Sudeste industrial com a
indústria e a agropecuária do Sul e com a agricultura
modernizada das regiões meridionais do Centro-Oeste.
O Nordeste dos “usineiros” e dos “coronéis” havia se
cristalizado como região de economia deprimida e como
fonte de fluxos migratórios intensos dirigidos para o Centro-
Sul. Desde a década de 1950, a “questão nordestina” era
sinônimo de crise social e bolsão de miséria, originando
debates acirrados em torno das soluções para o problema dos “desníveis regionais” de desenvolvimento. A
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) foi criada nesse contexto.
A Amazônia aparecia como imensa reserva fracamente povoada e como futura fronteira de expansão da
economia nacional. A fronteira agrícola estava avançando sobre o norte dos estados de Goiás e do Mato Grosso; a
agropecuária do sul desses estados, porém, já estava plenamente soldada aos mercados do Centro-Sul. Não por acaso,
ambos seriam desmembrados: Mato Grosso do Sul, fortemente polarizado por São Paulo, nasceu em 1977; Tocantins
foi criado em 1988.

ANEXO: LEI Nº 8.617, DE 4 DE JANEIRO DE 1993.


Dispõe sobre o mar territorial, a zona contígua, a
zona econômica exclusiva e a plataforma continental
brasileiros, e dá outras providências.
CAPÍTULO I
Do Mar Territorial
Art. 1º O mar territorial brasileiro compreende uma faixa de doze milhas marítima de largura, medidas a partir da
linha de baixa-mar do litoral continental e insular, tal como indicada nas cartas náuticas de grande escala, reconhecidas
oficialmente no Brasil.
Parágrafo único. Nos locais em que a costa apresente recorte profundos e reentrâncias ou em que exista uma franja de
ilhas ao longo da costa na sua proximidade imediata, será adotado o método das linhas de base retas, ligando pontos
apropriados, para o traçado da linha de base, a partir da qual será medida a extensão do mar territorial.
Art. 2º A soberania do Brasil estende-se ao mar territorial, ao espaço aéreo sobrejacente, bem como ao seu leito e
subsolo.
Art. 3º É reconhecido aos navios de todas as nacionalidades o direito de passagem inocente no mar territorial
brasileiro.
§ 1º A passagem será considerada inocente desde que não seja prejudicial à paz, à boa ordem ou à segurança do
Brasil, devendo ser contínua e rápida.
§ 2º A passagem inocente poderá compreender o parar e o fundear, mas apenas na medida em que tais procedimentos
constituam incidentes comuns de navegação ou sejam impostos por motivos de força ou por dificuldade grave, ou tenham
por fim prestar auxílio a pessoas a navios ou aeronaves em perigo ou em dificuldade grave.
§ 3º Os navios estrangeiros no mar territorial brasileiro estarão sujeitos aos regulamentos estabelecidos pelo Governo
brasileiro.
CAPÍTULO II
Da Zona Contígua
Art. 4º A zona contígua brasileira compreende uma faixa que se estende das doze às vinte e quatro milhas marítimas,
contadas a partir das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial.
Art. 5º Na zona contígua, o Brasil poderá tomar as medidas de fiscalização necessárias para:
I - evitar as infrações às leis e aos regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração ou sanitários, no seu territórios, ou
no seu mar territorial;
II - reprimir as infrações às leis e aos regulamentos, no seu território ou no seu mar territorial.
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CAPÍTULO III
Da Zona Econômica Exclusiva
Art. 6º A zona econômica exclusiva brasileira compreende uma faixa que se estende das doze às duzentas milhas
marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial.
Art. 7º Na zona econômica exclusiva, o Brasil tem direitos de soberania para fins de exploração e aproveitamento,
conservação e gestão dos recursos naturais, vivos ou não-vivos, das águas sobrejacentes ao leito do mar, do leito do mar e
seu subsolo, e no que se refere a outras atividades com vistas à exploração e ao aproveitamento da zona para fins
econômicos.
Art. 8º Na zona econômica exclusiva, o Brasil, no exercício de sua jurisdição, tem o direito exclusivo de regulamentar
a investigação científica marinha, a proteção e preservação do meio marítimo, bem como a construção, operação e uso de
todos os tipos de ilhas artificiais, instalações e estruturas.
Parágrafo único. A investigação científica marinha na zona econômica exclusiva só poderá ser conduzida por outros
Estados com o consentimento prévio do Governo brasileiro, nos termos da legislação em vigor que regula a matéria.
Art. 9º A realização por outros Estados, na zona econômica exclusiva, de exercícios ou manobras militares, em
particular as que impliquem o uso de armas ou explosivas, somente poderá ocorrer com o consentimento do Governo
brasileiro.
Art. 10. É reconhecido a todos os Estados o gozo, na zona econômica exclusiva, das liberdades de navegação e
sobrevôo, bem como de outros usos do mar internacionalmente lícitos, relacionados com as referidas liberdades, tais como
os ligados à operação de navios e aeronaves.
CAPÍTULO IV
Da Plataforma Continental
Art. 11. A plataforma continental do Brasil compreende o leito e o subsolo das áreas submarinas que se estendem
além do seu mar territorial, em toda a extensão do prolongamento natural de seu território terrestre, até o bordo exterior da
margem continental, ou até uma distância de duzentas milhas marítimas das linhas de base, a partir das quais se mede a
largura do mar territorial, nos casos em que o bordo exterior da margem continental não atinja essa distância.
Parágrafo único. O limite exterior da plataforma continental será fixado de conformidade com os critérios
estabelecidos no art. 76 da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, celebrada em Montego Bay, em 10 de
dezembro de 1982.
Art. 12. O Brasil exerce direitos de soberania sobre a plataforma continental, para efeitos de exploração dos recursos
naturais.
Parágrafo único. Os recursos naturais a que se refere o caput são os recursos minerais e outros não-vivos do leito do
mar e subsolo, bem como os organismos vivos pertencentes a espécies sedentárias, isto é, àquelas que no período de
captura estão imóveis no leito do mar ou no seu subsolo, ou que só podem mover-se em constante contato físico com esse
leito ou subsolo.
Art. 13. Na plataforma continental, o Brasil, no exercício de sua jurisdição, tem o direito exclusivo de regulamentar a
investigação científica marinha, a proteção e preservação do meio marinho, bem como a construção, operação e o uso de
todos os tipos de ilhas artificiais, instalações e estruturas.
§ 1º A investigação científica marinha, na plataforma continental, só poderá ser conduzida por outros Estados com o
consentimento prévio do Governo brasileiro, nos termos da legislação em vigor que regula a matéria.
§ 2º O Governo brasileiro tem o direito exclusivo de autorizar e regulamentar as perfurações na plataforma
continental, quaisquer que sejam os seus fins.
Art. 14. É reconhecido a todos os Estados o direito de colocar cabos e dutos na plataforma continental.
§ 1º O traçado da linha para a colocação de tais cabos e dutos na plataforma continental dependerá do consentimento
do Governo brasileiro.
§ 2º O Governo brasileiro poderá estabelecer condições para a colocação dos cabos e dutos que penetrem seu
território ou seu mar territorial.
Art. 15. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 16. Revogam-se o Decreto-Lei nº 1.098, de 25 de março de 1970, e as demais disposições em contrário.
Brasília, 4 de janeiro de 1993; 172º da Independência e 105º da República

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