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1- INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA
Nessa época, as atividades terciárias da economia (como serviços, comércio, energia, transportes e sistema
bancário) apontavam índices de crescimento econômico superiores aos das atividades agrícolas e industriais. É no
comércio e nos serviços que circula toda a produção agrária e industrial. A agricultura cafeeira - principal atividade
econômica nacional até então - exigia a implantação de uma eficiente rede de transportes, e assim as ferrovias foram
se desenvolvendo no país para escoar a produção do interior para os portos. Também se estabeleceu um sistema
bancário integrado à economia mundial.
Em 1919, as fábricas de tecidos, roupas, alimentos, bebidas e fumo eram responsáveis por 70% da produção
industrial brasileira: em 1939, no início da Segunda Guerra Mundial, essa porcentagem havia se reduzido para 58%
por causa do aumento da participação de outros produtos, como aço, máquinas e material elétrico. Contudo, a
industrialização brasileira ainda contava, predominantemente, com indústrias de bens de consumo não duráveis e
investimentos de capital privado nacional.
Na execução desse plano, 73% dos investimentos dirigiram-se aos setores de energia e transportes. Isso permitiu
grande aumento da produção de hidreletricidade e de carvão mineral, forneceu o impulso inicial ao programa nuclear,
elevou a capacidade de prospecção e refino de petróleo, pavimentação e construção de rodovias (14970 km), além de
melhorias nas instalações e serviços portuários, aeroviários e reaparelhamento e construção de pequena extensão de
ferrovias (827 km).
Paralelamente, por causa dos investimentos estatais em obras de infraestrutura e incentivos do governo, houve
expressivo ingresso de capital estrangeiro, responsável por grande crescimento da produção industrial, principalmente
nos setores automobilístico, químico-farmacêutico e de eletrodomésticos. O parque industrial brasileiro passou,
assim, a contar com significativa produção de bens de consumo duráveis, o que sustentou e deu continuidade à
política de substituição de importações.
Ao longo do governo JK consolidou-se o tripé da produção industrial nacional, formado pelas indústrias de bens
de consumo não duráveis, que desde a segunda metade do século XIX estavam se implantando, com amplo
predomínio do capital privado nacional; de bens de produção e bens de capital, que contaram com investimento
estatal nos governos de Getúlio Vargas; e de bens de consumo duráveis, com forte participação de capital estrangeiro,
como vimos.
O sucesso do Plano de Metas resultou num significativo aumento da inflação e da dívida externa. O afastamento
da capital federal do centro econômico e populacional do país e a opção pelo transporte rodoviário, sistema não
recomendável em países territorialmente extensos, como o nosso, marcaram economicamente o Brasil de forma
duradoura. Esses problemas estruturais, que diminuíram a competitividade dos produtos brasileiros no mercado
internacional e influenciaram negativamente a nossa economia, foram identificados já a partir de meados da década
de 1960 e têm consequências até os dias atuais.
Apesar da transferência da capital para o Centro-Oeste, a política do Plano de Metas acentuou a concentração do
parque industrial na região Sudeste, agravando os contrastes regionais. Com isso, as migrações internas
intensificaram-se, provocando o crescimento desordenado dos grandes centros urbanos, principalmente São Paulo e
Rio de Janeiro. Com isso, criou-se a necessidade de melhorar a infraestrutura nas regiões metropolitanas,
especialmente nas maiores. Como isso não foi feito, os problemas foram se acumulando e até hoje estão presentes nas
paisagens urbanas.
A concentração do parque industrial no Sudeste determinou a implementação de uma política federal de
planejamento econômico para o desenvolvimento das demais regiões. Em 1959, foi criada a Sudene
(Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste) e, nos anos seguintes, dezenas de outros órgãos, como a Sudam
(Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia), a Sudeco (Superintendência de Desenvolvimento do Centro-
Oeste), a Sudesul (Superintendência de Desenvolvimento do Sul) e a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento do
Vale do São Francisco), entre outras que foram extintas ou transformadas em agências de desenvolvimento a partir do
início da década de 1990.
Entre 1968 e 1973, período conhecido como “milagre econômico”, a economia brasileira desenvolveu-se em
ritmo acelerado. No gráfico abaixo é possível verificarmos o crescimento anual do PIB brasileiro entre 1967 e 1975.
BRASIL: EVOLUÇÃO
ANUAL DO PIB (1967-1975)
1967 4.2%
1968 9.8%
1969 9.5%
1970 10.4%
1971 11.3%
1972 11.9%
1973 14.0%
1974 8.2%
1975 5.2%
Esse ritmo de crescimento foi sustentado por grandes investimentos governamentais que promoveram grande
expansão na oferta de alguns serviços prestados por empresas estatais, como energia e comunicações. No entanto,
várias obras tinham necessidade, rentabilidade ou eficiência questionáveis, como as rodovias Transamazônica e
Perimetral Norte e o acordo nuclear entre Brasil e Alemanha. O setor de comunicações também foi beneficiado nesse
período. Os investimentos foram feitos graças à grande captação de recursos no exterior, o que elevou a dívida
externa, pois boa parte desse capital foi investido em setores não rentáveis da economia. Como pagar a parcela da
dívida contraída com a construção de rodovias na Amazônia?
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GEOGRAFIA CURSO ASCENSÃO
Outro aspecto importante na questão do crescimento econômico no período militar foi o dos investimentos
externos. O capital estrangeiro penetrou em vários setores da economia, principalmente na extração de minerais
metálicos (projetas Carajás, Trombetas e Jari), na expansão das áreas agrícolas (monoculturas de exportação), nas
indústrias química e farmacêutica e na fabricação de bens de capital (máquinas e equipamentos) utilizados pelas
indústrias de bens de consumo.
A taxa de lucro dos empresários foi ampliada com a diminuição dos salários reais, ou seja, reduzindo-se o poder
aquisitivo dos trabalhadores. Aumentava-se, assim, a taxa de reinvestimento dos lucros em setores que geravam
empregos principalmente para os trabalhadores qualificados e excluindo os pobres, o que deu continuidade ao
processo histórico de concentração da renda nacional. Ficou famosa a frase do então ministro da Fazenda Delfim
Netto, em resposta à inquietação dos trabalhadores ao verem seus salários arrochados: “É necessário fazer o bolo
crescer para depois repartí-lo”. O bolo (a economia) cresceu - o Brasil chegou a ser a 9ª maior do mundo capitalista
(em 2008, segundo o Banco Mundial, o Brasil era a 10ª- economia do mundo) e, até hoje, a renda está muito
concentrada (em 2007, segundo a mesma instituição, os 20% mais ricos se apropriavam de 58,7% da renda nacional).
Nesse contexto, as pessoas da classe média que tinham qualificação profissional viram seu poder de compra
ampliado, quer pela elevação dos salários em cargos que exigiam formação técnica, quer pela ampliação do sistema
de crédito bancário, permitindo maior financiamento do consumo. Enquanto isso, os trabalhadores sem qualificação
tiveram seu poder de compra diminuído e ainda foram prejudicados com a degradação dos serviços públicos,
sobretudo os de educação e saúde,
No final da década de 1970, os Estados Unidos promoveram a elevação das taxas de juros no mercado
internacional, reduzindo os investimentos destinados aos países em desenvolvimento. Além de assistir a essa redução,
a economia brasileira teve de arcar com o pagamento crescente dos juros da dívida externa, contraída com taxas
flutuantes.
Diante dessa nova realidade, a saída imposta pelo governo para obter recursos que permitissem honrar os
compromissos da dívida se resumiu na frase: “Exportar é o que importa”. Porém, como tornar os produtos brasileiros
internacionalmente competitivos? Tanto em qualidade como em preço, as mercadorias produzidas em um país em
desenvolvimento como o Brasil, que quase não investia em tecnologia, enfrentavam grandes obstáculos.
As soluções encontradas foram desastrosas para o mercado interno de consumo:
• arrocho salarial;
• subsídios fiscais para exportação (cobrava-se menos imposto por um produto exportado que por um similar
vendido no mercado interno);
• negligência com o meio ambiente;
• desvalorização cambial (a valorização do dólar em relação ao cruzeiro, moeda da época, facilitava as
exportações e dificultava as importações);
• combate à inflação por meio da diminuição do poder aquisitivo.
Essas medidas, adotadas em conjunto, favoreceram a colocação de produtos no mercado externo, mas
prejudicaram o mercado interno, reduzindo o poder de compra do brasileiro. Assim se explica o aparente paradoxo: a
economia cresce, mas o povo empobrece.
Na busca de um maior superávit na balança comercial, o governo aumentou os impostos de importação, não
apenas para bens de consumo como para os bens de capital e bens intermediários. A conseqüência dessa medida foi a
redução da competitividade do parque industrial brasileiro diante do exterior ao longo dos anos 1980. Os industriais
não tinham capacidade financeira para importar novas máquinas e, por causa da falta de competição com produtos
importados, não havia incentivos à busca de maior produtividade e qualidade dos produtos. Com isso, as indústrias,
com raras exceções, foram perdendo a competitividade no mercado internacional, e as mercadorias comercializadas
internamente tornaram-se caras e tecnologicamente defasadas em relação às estrangeiras.
Os efeitos sociais dessa política econômica se agravaram com a crise mundial, que se iniciou em 1979. As taxas
de juros da dívida externa atingiram, em 1982, o recorde histórico de 14% ao ano. A partir de então, a economia
brasileira passou por um período em que se alternavam anos de recessão e outros de baixo crescimento. Isso se
arrastou por toda a década de 1980 e início da de 1990, período que se caracterizou pela chamada ciranda financeira:
o governo emitia títulos públicos para captar o dinheiro depositado pela população nos bancos. Como as taxas de
juros oferecidas internamente eram muito altas, muitos empresários deixavam de investir no setor produtivo - o que
aumentaria o PIB, geraria empregos e ativaria a economia - para investir no mercado financeiro. Na época, essa
“ciranda” criava a necessidade de emissão de moeda em excesso, o que elevou os índices de inflação.
Outro aspecto negativo da política econômica do período militar merece destaque: se as medidas adotadas tinham
como objetivo o crescimento do PIB a qualquer custo, o que fazer com as empresas ineficientes, à beira da falência?
A solução encontrada para esse problema foI a estatização. O Estado brasileiro adquiriu empresas em quase todos os
setores da economia utilizando recursos públicos, em parte acumulados com o pagamento de impostos por toda a
população. O crescimento da participação do Estado na economia, de 1964 a 1985, foi muito grande. Em 1985, cerca
de 20% do PIB era obtido em empresas estatais, enquanto os serviços tradicionalmente públicos, como saúde e
2. 1 - O PLANO CRUZADO
Tancredo Neves, eleito indiretamente em 1985, não chegou a ser empossado porque faleceu. Nessa eleição, os
eleitores foram os parlamentares – deputados federais e senadores - e representantes dos partidos políticos que
formavam o Colégio Eleitoral. Seu vice, José Sarney, que apoiou o regime militar desde seu início, assumiu o cargo
de presidente em 15 de março do mesmo ano. Durante seu mandato ele preocupou-se em implementar reformas,
visando estabilizar a economia e obter apoio popular.
Embora tenha implantado posteriormente outros três pacotes tentando estabilizar a moeda, seu governo ficou
marcado pelo primeiro deles, o Plano Cruzado, lançado em 28 de fevereiro de 1986. Entre as principais medidas
destacavam-se a troca da moeda nacional - mil cruzeiros passaram a valer um cruzado - e o congelamento de preços e
dos salários. Com exceção do mínimo (que subiu 16%), todos os salários foram definidos com base no poder de
compra médio dos últimos seis meses e acrescidos de um abono de 8%. As medidas, associadas à manutenção das
datas de reajuste das categorias profissionais, ao aumento dos prazos de financiamento dos crediários para a compra
de bens de consumo e ao controle da taxa de câmbio, promoveram rápido aumento no poder de compra dos
assalariados.
O plano contou com grande apoio da população e de parcela expressiva de economistas dos partidos de oposição.
A população foi estimulada a denunciar os estabelecimentos comerciais, principalmente supermercados que
aumentavam os preços de suas mercadorias desobedecendo ao congelamento imposto pelo plano. As taxas de
inflação tiveram uma queda vertiginosa, mantendo-se baixas até outubro de 1986, e levaram o PMDB, partido do
presidente, a eleger os governadores de 22 das 24 unidades da federação (estados e distrito federal) então existentes
(atualmente são 27).
Com o aumento da demanda, rapidamente começaram a sumir produtos das prateleiras, e a escassez - que em
alguns casos era real, mas em outros era provocada por fabricantes e comerciantes que se recusavam a vender seus
produtos pelo preço congelado - levou à cobrança de ágio na comercialização.
Nessa época, como o Brasil possuía uma das economias mais fechadas do mundo ocidental (nossa abertura
comercial se iniciou em 1990), não havia possibilidade de o governo liberar a importação de bens de consumo para
combater o aumento dos preços. No caso da carne, os pecuaristas se recusavam a abater o gado e a escassez do
produto criou um mercado paralelo, com a carne sendo vendida a preços muito superiores aos definidos pelo
congelamento.
O retorno dos reajustes de preços ocorre com rapidez e, consequentemente, a inflação voltou a subir, em
decorrência da:
• cobrança de ágio na comercialização de produtos;
• falta de concorrência dos produtos importados;
• contínua elevação nas cotações do dólar em relação à moeda nacional - que provocava a elevação de preços em
todos os produtos importados, como petróleo, trigo e máquinas;
• manutenção do déficit público, que alimentava novamente a ciranda financeira.
Logo após as eleições de outubro de 1986 (para a escolha de novos governadores, senadores, deputados federais
e estaduais), foi lançado o Plano Cruzado II, com grandes reajustes nas tarifas públicas e forte aumento nos impostos
indiretos, reduzindo o poder de compra da população. Em fevereiro de 1987 foi abolido o controle oficial de
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preços e a correção monetária voltou a ser mensal, para acompanhar o descontrole inflacionário, cuja consequência é
a diminuição dos salários reais. Também foi decretada a moratória do pagamento da dívida externa, o que bloqueou
imediatamente o ingresso de capital estrangeiro no país e criou grandes dificuldades de negociação no mercado
internacional.
Nos anos seguintes, o governo José Sarney se caracterizou por perda de popularidade e o lançamento de outros
dois planos econômicos (Plano Bresser e Plano Verão), todos com sérios problemas para serem postos cm prática.
Apesar das sucessivas tentativas de controle, uma das principais heranças do governo Sarney foi uma altíssima
inflação: 53% em dezembro de 1989, atingindo 85,12% em março de 1990, quando o mandato se encerrou.
Ao longo da década de 1980, a ciranda financeira e as altas taxas de inflação, com a consequente perda do poder
de compra dos salários, foram responsáveis por um período de estagnação na produção industrial e de baixo
crescimento econômico (segundo o Banco Mundial, o PIB brasileiro cresceu em média 2,7% nos anos 1980). A
necessidade de controlar a inflação e ajustar as contas externas – fortemente comprometidas com o aumento do preço
do petróleo e das taxas de juros no mercado internacional - havia levado o governo de Figueiredo, o último do regime
militar, a se preocupar com ajustes de curto prazo na política econômica. O mesmo ocorreu na gestão de Sarney. Essa
prioridade significou uma década inteira sem planejamento econômico de longo prazo, com exceção de alguns
setores (política de reserva de mercado para informática e incentivo à exportação de celulose, por exemplo). Houve,
nesse período, uma queda de 5% na participação da produção industrial no PIB brasileiro.
No campo da política econômica e do papel do Estado, o governo Sarney foi responsável por um incipiente
processo de privatização de empresas estatais, começando a retirar o Estado do setor produtivo para concentrar sua
ação na fiscalização e na regulamentação. Foram vendidas 17 empresas estatais, das quais as mais importantes foram
a Aracruz Celulose, a Caraíba Metais e a Eletrossiderúrgica Brasileira (Sibra). A seguir estudaremos esse tema mais
detalhadamente.
Ao longo da campanha eleitoral de 1998, o Brasil sofreu um forte ataque especulativo, o que levou o governo a
abandonar o compromisso de manutenção das taxas de câmbio da época (aproximadamente R$ 1,30 por dólar). Em
janeiro de 1999 houve uma maxidesvalorização do real: subiu de cerca de R$ 1,60 para R$ 2,20. Essa nova cotação
deu início a um aumento nas exportações e uma redução no volume de bens importados.
A maxidesvalorização cambial do início de 1999 só permitiu saldos positivos na balança comercial brasileira a
partir de 2001, pois as empresas precisam de um tempo relativamente longo para conquistar mercados, vender seus
produtos e receber pelas vendas. Além da desvalorização cambial, não podemos esquecer que a modernização da
economia contribuiu para o aumento da competitividade das empresas brasileiras.
Num primeiro momento, essa desvalorização cambial provocou aumento da inflação, uma vez que produtos
importados (como trigo, petróleo e equipamentos de comunicação e informática) ficaram mais caros e a população
em geral, novamente, teve perda em seu poder aquisitivo. Depois que esse aumento foi repassado ao preço dos
produtos, entretanto, a desvalorização cambial permitiu que vários setores industriais aumentassem sua produção,
porque muitos bens de consumo e de capital, anteriormente importados, ficaram mais caros no mercado interno.
Embora involuntária, esta foi uma prática de protecionismo.