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Material de apoio
para estudos sobre a
industrialização
brasileira
2024
Sumário
INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA ................................................................................................................................. 2
b) Países de industrialização tardia→ sofreram um grande atraso em relação aos países de industrialização clássica
e tiveram forte dependência de capitais e tecnologias importados (até hoje). A indústria cresceu com base na
substituição de importações, isto é, os bens que antes eram importados passaram a ser produzidos
internamente. O Brasil e os se encontra nessa categoria de países.
c) Países de industrialização planificada→ são aqueles que se industrializaram sob a planificação econômica do
Estado, ou seja, que atravessaram, no século XX, a experiência socialista. Nesses países, durante décadas, houve
um maior desempenho da indústria de base (metalurgia, siderurgia, petroquímica, material de transporte etc),
já que era o ramo da indústria mais valorizado pelas políticas estatais. É o caso, por exemplo, da Rússia, que se
industrializou durante a fase socialista.
As indústrias no Brasil se desenvolveram a partir de mudanças estruturais de caráter econômico, social e político,
que ocorreram principalmente nos últimos trinta anos do século XIX. O conjunto de mudanças aconteceu
especialmente nas relações de trabalho, com a expansão do emprego remunerado que resultou em aumento
do consumo de mercadorias, a abolição do trabalho escravo e o ingresso de estrangeiros no Brasil como
italianos, alemães, japoneses, dentre muitas outras nacionalidades, que vieram para compor a mão de obra,
além de contribuir no povoamento do país, como ocorreu na região Sul. Um dos maiores acontecimentos no
campo político foi a proclamação da República. Diante desses acontecimentos históricos, o processo industrial
brasileiro passou por quatro etapas.
1A FASE: DA COLÔNIA À INDUSTRIALIZAÇÃO INCIPIENTE
Pré-industrialização → Ocorreu entre 1500 e 1808, quando o país ainda era colônia. Dessa forma, a metrópole
não aceitava a implantação de indústrias (salvo em casos especiais, como os engenhos) e a produção tinha regime
artesanal.
A coroa portuguesa proibia a instalação do comércio manufatureiro no Brasil para justamente impedir o
crescimento de sua colônia, para que ela continuasse somente fornecendo produtos agrícolas para o mercado
externo.
O Brasil teve, em relação à Inglaterra, um atraso de pelo menos um século para o surgimento dasprimeiras
indústrias. Isso só teve início na virada do século XIX para o século XX, quando fábricas têxteis foram instaladas
nas principais cidades brasileiras, sobretudo no Rio de Janeiro e São Paulo. Contribuíram para o atraso da
industrialização os seguintes fatores:
a) O Alvará de 1785, expedido por D. Maria I, rainha de Portugal, que proibia a instalação demanufaturas e
fábricas no Brasil.
b) O mercado consumidor interno muito restrito, já que a sociedade brasileira era composta
majoritariamente de pessoas muito pobres, escravos (até 1888) e trabalhadores livres sem renda.
c) A concorrência dos produtos importados, notadamente ingleses, o que era facilitado pelaausência de
uma política protecionista.
d) A opção pelo modelo agroexportador por parte das elites nacionais, as quais tinham uma
influência muito grande sobre a política durante o Segundo Reinado e a República Velha.
Industrialização incipiente→ corresponde a uma fase que se desenvolveu entre 1808 a 1930, que ficou
marcada pela chegada da família real portuguesa em 1808. Nesse período foi concedida a permissão para a
implantação de indústria no país a partir de vários requisitos, dentre muitos, a criação, em 1828, de um tributo com
taxas de 15% para mercadorias importadas e, em 1844, a taxa tributária foi para 60%, denominada de tarifa Alves
Branco. Outro fator determinante nesse sentido foi o declínio do café, momento em que muitos fazendeiros
deixaram as atividades do campo e, com seus recursos, entraram no setor industrial, que prometia grandes
perspectivas de prosperidade. As primeiras empresas limitavam-se à produção de alimentos, de tecidos, além de
velas e sabão. Em suma, tratava-se de produtos sem grandes tecnologias empregadas.
Foi a partir do processo de independência do Brasil que iniciaram pequenas mudanças econômicas,
principalmente, na metade do século XIX, com o desenvolvimento da economia cafeeira em que os altos lucros
propiciaram investimentos em outras atividades econômicas, como a indústria.
Foi nesse cenário dos grandes lucros da economia cafeeira que surgiram empresários como Irineu
Evangelista de Souza (o Barão de Mauá), preocupados com o desenvolvimento das estradas de ferro, das cidades e
de toda infraestrutura necessária para o crescimento do país. Contudo, as primeiras indústrias foram surgindo de
maneira paulatina, no final do século XIX e início do XX, elas representavam ainda uma baixa participação na
economia nacional.
A ERA MAUÁ
Mediante a isso, o Brasil importava praticamente todos os produtos industrializados, pois suas indústrias
não haviam desenvolvido o suficiente. A Europa, como a região do globo que mais se industrializava, não queria o
desenvolvimento industrial brasileiro, pois perderia mercado consumidor. O Brasil, portanto, dependeu
exclusivamente da economia agrícola até a metade do século XX e, por isso, enfrentou sérios problemas
econômicos e políticos.
Entretanto, foi a partir de 1930 que o processo de industrialização brasileiro passou a ganhar maior
dinamismo, chegando a completar os elos da sua cadeia na década de 1970. A crise de 1929 foi um exemplo da
fragilidade da economia brasileira e também um aviso de que o país necessitava diversificar sua produção.
A expansão do café no Planalto Paulista gerou, a partir do final do século XIX, mais do que um
simples aumento na produção agrícola. Ela formou o que podemos chamar de complexo cafeeiro
paulista, ou seja, um conjunto de atividades modernizadoras que favoreceram o desenvolvimento
industrial na cidade de São Paulo.
1) ACÚMULO DE CAPITAL→ os capitais obtidos com as exportações de Rua 15 de Novembro no início do
século XX , onde ficava a Bolsa Livre
café foram investidos em atividades diversificadas, dentre as quais / SP
Até 1930, o setor industrial nascente no Brasil apresentou as seguintes características principais:
a) SUBORDINAÇÃO AO CAPITAL CAFEEIRO - como já foi dito, a indústria paulista foi “filha” do café.
Essa fase da industrialização brasileira se inicia com a crise do setor agroexportador e com a
entrada do Estado no cenário econômico. A Crise de 1929 atingiu o principal produto da economia
brasileira, derrubando o preço do café. A partir de então, a indústria assumiu o papel de personagem
central da recuperação e expansão da economia brasileira. Observe a tabela abaixo.
Esse período que ocorreu entre 1930 e 1955, representou um momento em que a indústria recebeu muitos
investimentos dos ex-cafeicultores e também em logística. Assim, houve a construção de vias de circulação de
mercadorias, matérias-primas e pessoas, proveniente das evoluções nos meios de transporte que facilitaram
a distribuição de produtos para várias regiões do país (muitas ferrovias que anteriormente transportavam café,
nessa etapa passaram a servir os interesses industriais).
O NOVO PAPEL DO ESTADO BRASILEIRO
O projeto para o país do segundo governo de Getúlio Vargas (1951-54) foi pautado pelo ideário do nacional-
desenvolvimentismo, principalmente a defesa da intervenção do Estado em áreas consideradas de interesse
nacional. A criação do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), em 1952, e da Petrobrás, em 1953, são
grandes exemplos desse projeto.
Um exemplo da política varguista foi a instalação no país da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), construída
entre os anos de 1942 e 1947, empresa de extrema importância no sistema produtivo industrial, uma vez que
abastecia as indústrias com matéria-prima, principalmente metais, em Volta Redonda (RJ). Também as
construções da Companhia Vale do Rio Doce, destinada à exploração do minério de ferro em Minas Gerais, e
da Petrobrás em 1953, que contribuíram bastante para o aceleramento do crescimento industrial. Além disso,
Vargas criou as leis trabalhistas preparando o país para a organização no crescimento das indústrias, como foi
o caso da CLT – Consolidação das Leis do Trabalho.
CARACTERÍSTICAS DA INDUSTRIALIZAÇÃO PÓS -1930
b) SURGIMENTO DE NOVOS SETORES PRODUTIVOS - é implantada no Brasil a indústria de base, muitas vezes
chamada de indústria pesada ou de bens de produção.
d) CONSOLIDAÇÃO DE SÃO PAULO COMO PALCO DA CONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL - a cidade de São Paulo
já havia, na década de 1920, ultrapassado o Rio de Janeiro no número de estabelecimentos industriais e se
consolida cada vez mais como “locomotiva” industrial brasileira.
A LOCALIZAÇÃO DA CSN
QUADRILÁTERO FERRÍFERO
Trata-se da mais importante área produtora de minério de ferro do Brasil, situada entre
os municípios mineiros de Sabará, Santa Bárbara, Congonhas e Mariana. Parte da sua
produção atente ao mercado siderúrgico do Sudeste, incluindo as usinas do Vale do Aço
(MG), e outra parte é destina à exportação. Nesse caso, o minério é transportado pela
ferrovia Vitória-Minas e escoado pelo Porto de Tubarão, em Vitória (ES).
OS BAIRROS OPERÁRIOS
Em São Paulo, houve a formação de bairros industriais com forte concentração de mão de obra imigrante e
servidos por ramais ferroviários, como a Mooca, o Brás, e Belém. Cumpre lembrar que no período da 1ª
Guerra Mundial (1914-18), durante o governo de Venceslau Brás, houve um “surtoindustrial” nesses bairros,
favorecido pela dificuldade de importação de produtos manufaturados.
Já no Rio de Janeiro, destacava-se a atividade fabril em bairros como Bangu, São Cristóvão, Jardim
Botânico e Laranjeiras, todos ligados ao setor têxtil. É bom lembrar que no caso de São Cristóvão a
proximidade portuária foi um fator geográfico também importante para a atividade industrial que ali
se desenvolveu.
A FORMAÇÃO DO PADRÃO CENTRO-PERIFERIA
Você já estudou que o Brasil teve, durante os quatro séculos iniciais, um padrão territorial que se
assemelhava a um grande arquipélago econômico, pois o território estava desarticulado e as regiões
se voltavam, principalmente, para o mercado externo. Os fluxos internos de mercadorias e pessoas até
existiam, mas eram para suprir as necessidades de alimentos e/ou mão de obra das atividades
agroexportadoras. Com a industrialização, entretanto, esse padrão começou a mudar.
A partir da década de 1930, a região Sudeste, sobretudo o estado de São Paulo, consolida-se como a
locomotiva da indústria brasileira, o centro econômico ou core area nacional. Ocorreu de forma
progressiva a concentração do parque industrial no Sudeste, que chegou a responder por 80% do valor
da atividade industrial do país. Na medida em que avançava a integração (mesmo que de forma
precária) do território brasileiro, papel desempenhado crescentemente pelo transporte rodoviário,
aumentavam os fluxos internos de mão de obra e mercadorias. Com isso, o Sudeste passou a
subordinar as demais regiões, que dependiam de seus produtos industrializados.
O processo de industrialização ao longo do século XX dissolveu, portanto, o antigo padrão do
arquipélago econômico e passou a desenhar um outro padrão territorial baseado no centro-periferia.
O Sudeste desempenhando o papel de polo/centro (produtor de produtos industrializados) e as demais
regiões no papel de periferia (produtora de matérias-primas e fornecedora de mão de obra). Alguns
autores chegaram a tratar essa relação regional desigual como um caso de colonialismo interno,
embora esse termo seja questionável. O sociólogo Jacques Lambert preferiu denominar essa dualidade
como “os dois brasis”, mas esse termo também merece cuidado.
3A FASE: INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA (1955 ATÉ 1989).
Essa fase foi promovida inicialmente pelo presidente Juscelino Kubitschek, que promoveu a abertura da
economia e das fronteiras produtivas, permitindo a entrada de recursos em forma de empréstimos e
também em investimentos com a instalação de empresas multinacionais.
Com o ingresso dos militares no governo do país, a partir do golpe de 1964, as medidas produtivas
tiveram novos rumos, como a intensificação da entrada de empresas e capitais de origem estrangeira
comprometendo o crescimento autônomo do país, que resultou no incremento da dependência econômica,
industrial e tecnológica em relação aos países de economias consolidadas.
• INDÚSTRIA DE BENS DE CONSUMO → produz bens consumidos diretamente pela população, podendo ser
duráveis (automóveis), não-duráveis (farmacêuticos) ou semiduráveis (roupas).
• INDÚSTRIA DE BENS DE CAPITAL → produz máquinas e equipamentos para serem usados poroutras
indústrias ou empresas.
DESENVOLVIMENTISMO E MODERNIDADE
De 1968 a 1973 (final do Governo Costa e Silva e Governo Médici), o Brasil alcançou taxas médias de
crescimento muito elevadas e sem precedentes na história brasileira. Em 1973, por exemplo, o PIB
brasileiro chegou a alcançar um crescimento de 14% ao ano. Esse período passou a ser conhecido como o
do “milagre econômico brasileiro”, uma terminologia anteriormente aplicada ao rápido crescimento
econômico do Japão e Alemanha nos anos 1950/60.
Esse crescimento foi consequência da política econômica adotada no período, mas também de uma
conjuntura econômica internacional muito favorável, pois os países europeus, os Estados Unidos e o Japão
cresciam de vento em popa. O “milagre econômico” foi, portanto, fruto de alguns fatores, a saber:
c) Política de controle inflacionário com base no arrocho salarial. Embora no período do milagre tenha
havido a expansão do mercado interno e a geração de empregos, houve grandes perdas salarias
para a classe trabalhadora, o que aprofundou a concentração de renda no país.
A CRIAÇÃO DO PROÁLCOOL
O Proálcool recebeu inúmeras críticas. Além de o etanol ter um custo alto de produção, as
fazendas de cana ocuparam solos que antes eram destinados à produção de alimentos baratos.
Entretanto, a substituição da gasolina pelo álcool representou, no período 1974-2004, uma
economia de US$ 61 bilhões para o país. Além disso, o uso do álcool permitiu a redução das
emissões de monóxido de carbono nas cidades.
A EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO NA PLATAFORMA CONTINENTAL
Outra ação
governamental para
fazer frente à Crise do
Petróleo dos anos 190
está relacionada à
Petrobras. A empresa
passou a investir
pesadamente em
pesquisa e prospecção
de petróleo na Bacia de
Campos, que se estende
do litoral do Espírito
Santo até Cabo Frio (RJ). Em 1977, a Petrobras deu início à sua produção comercial offshore no
campo de Enchova. situado em lâmina d’água de 124 metros. Com o passar do tempo, a
profundidade dos novos poços de petróleo da camada pós-sal foi
aumentando até chegar a 2.000 metros. Em 2007, a Petrobras anunciou a descoberta de petróleo
na camada pré-sal. Hoje, o Brasil se tornou exportador de petróleo bruto, embora tenha que
importar derivados de petróleo devido a nossa baixa capacidade de refino.
É interessante notar que até 1974 nossa balança comercial era estável, pois o valor das exportações de bens
primários compensava o valor das importações, sobretudo de máquinas e equipamentos. A partir dessa data,
entretanto, abre-se um enorme déficit, que chegou a 4,5 bilhões de dólares, como mostra o gráfico. Esse saldo
negativo só seria revertido a partir do início da década de 1980, em função da política econômica adotada no
período, que gerou, por um lado, superávit na balança comercial e, por outro, o agravamento de nossos
problemas econômicos e sociais.
A ECONOMIA BRASILEIRA NOS ANOS 1980 – A DÉCADA PERDIDA
Os anos 1980 colocaram o Brasil em uma situação de recessão econômica, que agravou nossos problemas
econômicos e sociais, como o arroxo salarial, aumento da pobreza e do desemprego e a crise habitacional nos
grandes centros urbanos. Por isso, dizemos que a década de 1980 foi uma “década perdida”. Entretanto, os
problemas econômicos dessa década, que abarca o governo militar de João Figueiredo (1979-85) e o governo
de José Sarney (1985-89), devem ser entendidos levando-se também em consideração a conjuntura
internacional do período. Vejamos alguns fatores da crise:
CÂMBIO
É muito importante não confundir balança comercial com balança de pagamentos. A primeira registra apenas o
saldo referente às exportações e importações. A segunda registra o saldo da entrada e saída de capitais
(empréstimos e pagamento de dívidas, entrada de investimentos estrangeiros, remessa de lucros das empresas
multinacionais, dinheiro gasto por turistas etc) e inclui também o saldo comercial. Ainda que a balança comercial
brasileira tenha sido superavitária na década de 1980, nossa
balançade pagamentos permaneceu deficitária. Ou seja, não havia
o que comemorar em termos macroeconômicos.
O Plano Cruzado
Com a persistência da hiperinflação, falta de produtos e saques nos supermercados, greves generalizadas e
grande insatisfação popular, o governo foi obrigado a lançar outros planos de estabilização, que não passaram
de “remendos” do plano inicial. Assim apareceram o Plano Cruzado II (1986), o Plano Bresser (1987) e o Plano
Verão (1989), sendo, neste último, criada uma nova moeda, o Cruzado Novo. Todos os planos adotaram novos
congelamentos de preços e, a cabo de poucos meses, fracassavam com o retorno da inflação. Sarney terminou
o governo com recessão econômica e grande insatisfação do povo.
Se nos anos 1970 já havia sinais de esgotamento do modelo de desenvolvimento apoiado na substituição
de importações, a década de 1980 representou o seu fim. A recessão econômica e as perdas salariais
comprimiram o mercado consumidor interno, que era o motor desse modelo de desenvolvimento. Além disso,
dentro do pacote de medidas adotado pelos próximos governos, mais alinhados aos interesses do Banco
Mundial e FMI, diminuindo o longo protecionismo adotado desde a Era Vargas. Ate então o mesmo
protecionismo livrou a indústria nacional da competição externa, mas a deixou numa tal zona de conforto, que
desestimulou a inovação tecnológica. Vimos surgirem grandes oligopólios em diversos ramos da economia e a
formação de cartel não era exceção. O resultado foi uma indústria “enferrujada”, pouco dinâmica e nada
competitiva, que em nada condizia com o cenário globalizante que estava a ser descortinado na década
seguinte. A substituição de importações, que já estava moribunda, foi enterrada ali mesmo.
Dentro de um novo modelo liberal de desenvolvimento neste período as políticas se baseiam na visão de
que a maior abertura e as privatizações na economia, ao mesmo tempo que levaria a uma maior concorrência
nos mercados internos, também promoveria a eficiência não só do setor bancário do país mas também do setor
industrial.
Ao longo da década de 1990, e, sobretudo a partir de 1994, o Brasil passou por um rápido e acentuado
grau de abertura comercial da economia, sob a justificativa de promover a modernização, a eficiência produtiva
e tecnológica e a competitividade da indústria do país. Para se ter uma ideia, logo nos primeiros anos da década
de 1990 foram inteiramente eliminadas as barreiras não tarifárias de proteção à indústria. Conforme Carneiro
(2002, p. 313, grifo nosso) chamou atenção, no que tange às tarifas, entre 1990 e 1994 a proteção à indústria foi
drasticamente reduzida. “Em termos efetivos, a proteção da indústria em 1994 já havia alcançado patamares
acordados no âmbito do Mercosul e que teoricamente deveriam ser atingidos em 2006.” Na realidade, apoiada
no suposto central de que as empresas mais aptas sobreviveriam ao desafio da competitividade e seriam
premiadas com a integração competitiva aos mercados globais, a premissa que de fato de vigorou na década de
1990 foi, nas palavras de Cano e Silva (2010, p. 4), a de que “[...] a melhor política industrial é não ter política
industrial.” Constituindo-se uma política industrial às avessas. (CANO e SILVA, 2010).
O Plano Collor
O governo de Fernando Collor de Mello ficou registrado como o primeiro eleito diretamente após o final da
Ditadura Militar. .Collor defendia uma agenda neoliberal e o enxugamento do Estado. Mas seu governo
também foi marcado pelo fracasso no combate à crise econômica, e, após ser denunciado por envolvimento
direto em esquema de corrupção, sofreu impeachment.
Como mencionado anteriormente, o Brasil vivia, no final dos anos 1980, uma intensa crise econômica e a
população sofria com uma inflação astronômica (1972,91% em 1989). No dia seguinte a posse de Collor, lançou
um plano econômico que ficou gravado na memória da população.
O governo Collor deu início ao PND – Programa Nacional de Desestatização - às privatizações de empresas
estatais, além do enxugamento ministerial e a demissão de funcionários públicos (o que não tornou
necessariamente a administração pública mais eficiente). Além disso, houve a abertura do mercado brasileiro
ao exterior, e o país começou a importar de tudo, desde brinquedos e calçados até automóveis e jet-skis.
Foi no governo Collor (1990-1992) que o Brasil viu nascer seu primeiro programa de desestatização. As
privatizações refletiam também uma tendência dos anos 1990 de abertura econômica estabelecida pelo
chamado Consenso de Washington, sendo suas diretrizes formuladas por instituições como o FMI e o Banco
Mundial. Tais instituições pregavam o ajustamento macroeconômico dos países em desenvolvimento, que
atravessam um longo período (sobretudo a “década perdida”) de dificuldades para o crescimento de suas
economias.
A criação do Plano Collor, idealizado pela ministra Zélia Cardoso de Mello, adotou o modelo mais liberal de
ampla abertura às importações, modernização industrial e tecnológica e preparou o país para a série de
desestatizações que viriam nos governos seguintes.
Um dos pilares industriais do país, as estatais siderúrgicas começaram a ser privatizadas. A primeira foi a
Usiminas, em 1991, considerada a joia da coroa e uma das mais lucrativas do sistema, o que gerou uma grande
polêmica à época. O Grupo Gerdau, que arrematou a usina, foi um dos grandes beneficiários das privatizações
no setor.
Já no governo de Itamar Franco (1992-1994), que substituiu Collor após o processo de impeachment, a
Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), foi adquirida em 1993 pelo empresário Benjamin Steinbruch, do Grupo
Vicunha, que mais tarde iria adquirir também a Companhia Vale do Rio Doce, hoje Vale. A CSN foi arrematada
por R$ 1,2 bilhão em um longo processo que envolveu batalhas jurídicas e provocou polêmicas entre
defensores e críticos da privatização. (Adaptado de O GLOBO 21/10/2013)
O Plano Real
Três fatos mais importantes marcaram o governo Collor: o Plano Collor, o início
das privatizações e o impeachment, que o afastou da presidência após dois anos
de governo. Seu vice, Itamar Franco (1993- 94), assumiu com o compromisso de
dar continuidade à política de desestatização e de controle da inflação, que tinha
voltado a disparar. Desta forma, a equipe econômica colocou em ação o Plano Real
(1994), um plano de estabilização que criou uma nova moeda e tomou medidas
efetivas de controle inflacionário. Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), então
ministro economia, tornou-se candidato a presidente como “pai” do Plano Real e
foi eleito. Figura 6: Revista Manchete,
fev./1995
Além da criação de uma nova moeda, o Plano Real estava alicerçado em duas
medidas fundamentais:
A valorização do câmbio permitiu que o país aumentasse as importações, aumentando a oferta de produtos
no mercado interno e ajudando no combate à inflação. Já a adoção de uma elevada taxa básica de juros
produziu efeitos favoráveis no controle inflacionário, pois impediu que houvesse umaumento forte da
demanda no mercado interno. Por outro lado, uma taxa de juros alta também ajuda a atrair capital financeiro
para o país, o que contribui para manter o câmbio valorizado.
Em pouco tempo, o governo conseguiu domar o “dragão da inflação”, que corroía o salário dos brasileiros,
e criar um ambiente de confiança e de estabilidade econômica, necessária para gerar investimentos privados
e atrair capital externo para o país. Produtos como frango e iogurte tornaram-se símbolos do consumo popular
e as viagens internacionais passaram de sonho à realidade para a classe média. O aparente sucesso do Plano
Real alicerçou, em 1998, a eleição de FHC ao segundo mandato presidencial.
Entretanto, após alguns anos de estabilidade econômica, alguns “efeitos colaterais” do Plano Real
passaram a aparecer, como a persistência de déficit na balança comercial, o baixo crescimento econômico e o
desemprego elevado. Além disso, alguns setores da indústria nacional foram duramente atingidos pelo
crescimento das importações (sobretudo da Ásia), como o setor de calçados, vestuário, peças e equipamentos
e brinquedos. Muitas fábricas fecharam nesse
período, diminuindo a empregabilidade.
Como vimos anteriormente, a segunda metade da década de 1990 foi marcada pela estabilização da economia
com o Plano Real e a continuidade do projeto neoliberal de desestatização no governo FHC. No seu segundo
mandato, entretanto, a estabilidade da moeda conviveu com forte turbulência internacional (crise russa, crise
argentina, desaceleração da economia mundial, ataques de 11
Figura 7:Em 2007, manifestações a favor da anulação da
venda da Companhia Vale do Rio Doce. de setembro) e o Brasil precisou recorrer novamente (três
vezes) aos empréstimos do FMI. A disputada eleição de 2002 foi ganha pelo ex-operário e sindicalista Luís
Inácio Lula da Silva.
O Governo Lula correspondeu ao período que se iniciou em 1º de janeiro de 2003, quando Luiz Inácio Lula
da Silva assumiu a presidência do Brasil, e encerrou-se no dia 1º de janeiro de 2011, quando a presidência foi
transmitida para Dilma Rousseff. A economia durante o governo Lula (2003-2010).
Durante os anos do governo Lula, o PIB brasileiro teve um crescimento médio de 4% ao ano. Esse cenário
de crescimento econômico, conforme citado, ancorou-se, sobretudo, no crescimento das exportações de
matérias-primas e commodities do Brasil para nações em vertiginoso crescimento, como a China.
O fortalecimento da nossa economia durante esse período (2003-2007) foi o grande responsável pelo fato
de os impactos da crise econômica de 2008 terem sido reduzidos no Brasil em comparação com o cenário
internacional. Impactos na economia fizeram-se sentir no PIB, por exemplo. Esses impactos não foram mais
bruscos porque o governo tomou medidas que incentivaram o consumo interno.
Outras questões relacionadas diretamente à economia que tiveram resultados positivos durante o governo
de Lula foram a criação de empregos e a melhoria da condição econômica de grande parte da população. A
respeito disso, destaca-se a criação de cerca de 10 milhões de empregos formais, além do crescimento da
classe C, que esteve diretamente ligado com o crescimento do salário-mínimo no período em cerca de 60% (o
dado leva em consideração o período 2000-2013) e com o aumento da disponibilização de crédito.
As políticas sociais contribuíram para a expansão do mercado consumidor interno. O governo expandiu a
política de renda mínima através do Bolsa-Família e houve a
valorização do salário-mínimo, o que contribuiu sobremaneira
para impulsionar o consumo da população e ascender um grande
contingente de pobres à chamada “classe C” ou classe média
baixa. Isso se refletiu num aumento inédito da venda de bens e
serviços, expansão de micronegócios, crescimento do setor aéreo
nacional etc.
Vê-se, portanto, que a expansão do PIB na primeira década do século XX foi motivada por um cenário
econômico internacional favorável juntamente com a adoção de políticas sociais e desenvolvimentistas por
parte do Governo.
Os dois anos de decréscimo do PIB foram seguidos por mais três anos de baixo crescimento da economia,
alta do desemprego e crescimento da informalidade. A reforma trabalhista aprovada durante o governo
Temer (2017) foi criada com o propósito de diminuir custos de produção e gerar empregos, mas esse último
propósito nunca surtiu o efeito prometido. O Governo Bolsonaro se elegeu a reboque da popularidade de
uma extrema-direita apoiada pelo grande capital econômico, com o fim de aprofundar políticas neoliberais.
Suas medidas até 2022 não melhoraram o cenário do emprego, e terminaram “resgatando” altos índices
inflacionários e um forte empobrecimento da população em geral, com perda do poder aquisitivo. O governo
Bolsonaro, também ficou marcado pela forma negacionista com que lidou com a Pandemia da COVID/19,
que atingiu o Brasil a partir de 2020.
A realização de uma análise detalhada dos movimentos de mudança realizados na indústria nacional
ao longo da década de 1990 aponta para um processo de reestruturação industrial onde o aumento da
eficiência produtiva alcançada revelou-se muito mais em função das melhorias produtivas em termos de
custos (“enxugamento” da produção e/ ou ajuste defensivo) do que pela capacitação tecnológica da estrutura
produtiva industrial brasileira.
Os ganhos de produtividade (dada pela relação produção física/pessoal ocupado) da indústria geral
brasileira ao longo da década de 1990 implicaram fortes ajustes nos processos produtivos que se mostraram
grandes poupadores de mão de obra.
Além disso, é importante mencionar que, a partir de 1995, a entrada de capitais internacionais no país
triplicou. Entretanto, sendo basicamente estimulada pelo processo interno de privatizações, a mesma – ao
contrário do que se pensou–, não se materializou, conforme Lamonica e Feijó (2011), numa elevação da taxa
de investimento da economia.
O resultado geral das mudanças produzidas pela abertura da economia foi o de uma especialização
regressiva da estrutura produtiva industrial brasileira em direção a bens menos intensivos em capital e
tecnologia. Acontecimento este que representava “[...] um antagonismo claro com o processo histórico de
crescimento da economia brasileira cuja trajetória, até os anos 80, havia sido a diversificação e a redução da
dependência de importações, incluindo os setores de meios de produção.”
Nesse sentido, conforme expôs Bertolli e Medeiros (2002), o movimento de modernização tecnológica
da indústria brasileira – emparelhamento tecnológico – deu-se muito eminentemente a partir da importação
de tecnologia criada no exterior. Não havendo, portanto, um desenvolvimento e fortalecimento das
capacitações tecnológicas no interior do país.
O conceito clássico de desindustrialização foi definido por Rowthorn e Ramaswany (1999) como sendo
uma redução persistente – a partir de um certo elevado nível de renda per capita – da participação do emprego
industrial no emprego total do país ou região. Entretanto, mais recentemente, Tregenna (2009) redefiniu mais
amplamente o conceito de desindustrialização, colocando que a mesma seria uma situação na qual tanto o
emprego industrial como o valor adicionado da indústria se reduzem como proporção do emprego e do PIB
total da economia, respectivamente.
Deve-se frisar que a desindustrialização pode estar associada à chamada “doença holandesa”.
Considerando que este termo passou a ser utilizado pela literatura econômica para se referir à perda de
competitividade e regressão da diversificação industrial (em ramos intensivos em trabalho, capital e
tecnologia) da Holanda, em decorrência da apreciação cambial trazida, na década de 1970, pela descoberta e
exportação de gás natural explorado no Mar do Norte, Palma (2005) mostra que a abundância de recursos
naturais, por exemplo, numa determinada região ou país pode induzir a uma redução da participação da
indústria no emprego e no valor adicionado por intermédio da apreciação cambial, a qual resulta em perda de
competitividade da indústria e déficit comercial crescente da mesma.
Nesse sentido, conforme enfatizou Bresser Pereira e Marconi (2008), quando nos referimos a este
fenômeno, estamos falando de uma desindustrialização precoce e que, portanto, se apresenta como negativa
para o processo de crescimento e desenvolvimento econômico em sua totalidade, pois acaba estimulando
apenas os setores de menor conteúdo tecnológico.
Conforme Oreiro e Feijó (2010), um dos primeiros estudos a apontar para a desindustrialização da
economia brasileira foi o de Marquetti (2002)7. Segundo este autor, como consequência do baixo
investimento realizado na economia e principalmente na indústria, o Brasil teria passado por um processo de
desindustrialização nas décadas de 1980 e 1990 tanto em termos da participação do emprego como da
participação no valor adicionado.
Fato este que, na visão de Marquetti (2002), seria essencialmente negativo sobre os prospectos de
crescimento da economia brasileira no longo prazo, haja vista que estaria associado à transferência de
recursos e de trabalho da indústria para setores com menor produtividade do trabalho.
Outro estudo que aponta a ocorrência de desindustrialização no Brasil é o de Palma (2005). Em vez de
um processo desencadeado pela descoberta de recursos naturais (como no caso clássico que afetou a Holanda
nos anos 1970), o Brasil e outros países da América Latina têm sido atingidos por uma nova “doença
holandesa” em decorrência de uma drástica mudança do velho regime de substituição de importações por
outro que, a partir da década de 1990, combinou liberalização comercial e financeira da economia com
políticas macroeconômicas que, em geral, mantém a taxa de câmbio real muito baixa.
Palma (2005) enfatizou que, como os países da América Latina foram atingidos pelas novas políticas
em um nível muito baixo de renda per capita, essas novas políticas também obstruíram a sua transição rumo
a uma forma de industrialização mais madura em termos de desenvolvimento tecnológico e, em
consequência, de exportações, por exemplo.
Cano (2012), também argumenta que o Brasil, ao longo dos últimos vinte anos, vem passando por uma
desindustrialização associado à presença de uma doença holandesa e, assim, a uma re-primarização da pauta
exportadora brasileira.
Essa tendência reflete também uma mudança de longo prazo na estrutura de consumo para o setor
de serviços, o que o sociólogo Domenico de Massi denominou sociedade pós- industrial. Além disso, é
verdadeira a afirmação de que o deslocamento da produção industrial para outras partes do mundo é uma
característica da atual fase do capitalismo globalizado.
Quando ocorre uma diminuição contínua e por um longo tempo da participação da atividade industrial
no PIB de um país damos o nome de desindustrialização. Esse fenômeno também pode ser medido pela
participação do emprego industrial no total do
mercado de trabalho. No caso brasileiro, o país vem
se desindustrializando desde os anos 1990, como se
pode observar no gráfico a seguir.
Apesar de ser uma tendência verificada nos demais países industrializados, como vimo acima, podemos
elencar alguns fatores que aceleraram a desindustrialização precoce brasileira, a saber:
• A abertura comercial com base na valorização monetária que vigorou por mais de vinte anos desde a
criação do Plano Real (1994). Setores mais frágeis da indústria, como têxtil, calçados, brinquedos,
eletrodomésticos e de peças e equipamentos foram expostos a um volume crescente de importados
(sobretudo asiáticos), o que provocou sérios prejuízos e falências.
• A política de estabilização econômica também contou com a elevação da taxa de juros, que dificultou
Rodrigues, Cryslãine Flavia da Silva Rodrigues; Filho, Ricardo Schmidt Filho. O Processo de Industrialização
Brasileiro: Repercussões e Perspectivas. XI Congresso Brasileiro de História Econômica.
Material didático “Geografia na Quarentena”. Colégio Pedro II – Campus Humaitá II. Atividades 5 a 8.
Professores: Scheuenstyhl, Bruno; Adiala, Cristiana; Amante, Fernanda e Vilela, Carolina. Disponível em:
http://www.cp2.g12.br/blog/humaitaii. Acesso em 14/04/2022.