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Geografia

Material de apoio
para estudos sobre a
industrialização
brasileira
2024
Sumário
INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA ................................................................................................................................. 2

1A FASE: DA COLÔNIA À INDUSTRIALIZAÇÃO INCIPIENTE .......................................................................................... 3

OS FATORES DO ATRASO INDUSTRIAL NO BRASIL ...................................................................................................... 3

2A FASE: ARRANCADA INDUSTRIAL ............................................................................................................................ 6

3A FASE: INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA (1955 ATÉ 1989). ....................................................................... 11

4ª FASE: DÉCADA DE 1990: AS REFORMAS ESTRUTURAIS DA ECONOMIA X A INDÚSTRIA BRASILEIRA (A FASE


NEOLIBERAL) ............................................................................................................................................................ 19

O comportamento da indústria brasileira no período recente (2000-2022) ............................................................ 27


INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA
O Brasil é considerado um país emergente ou em desenvolvimento. Apesar disso, está quase um século atrasado
industrialmente e tecnologicamente em relação às nações que ingressaram no processo de industrialização no
momento em que a Primeira Revolução Industrial entrou em vigor, como Inglaterra, Alemanha, França, Estados
Unidos, Japão e outros.
A maioria dos países do mundo não é industrializada. A economia desses países é baseada em atividades primárias,
como a agricultura, a pecuária, a pesca e o extrativismo mineral. Já os países industrializados podem ser
agrupados em três categorias:

a) Países de industrialização clássica→ lideraram a Revolução Industrial e se industrializaram apartir do século


XVIII ou XIX, tendo a Inglaterra sido a pioneira. Passaram, ao longo da história, pelos diferentes processos de
produção de uma mercadoria: artesanato, manufatura e indústria.Hoje são países de elevado desenvolvimento
econômico, como os Estados Unidos, a Alemanhae o Japão.

b) Países de industrialização tardia→ sofreram um grande atraso em relação aos países de industrialização clássica
e tiveram forte dependência de capitais e tecnologias importados (até hoje). A indústria cresceu com base na
substituição de importações, isto é, os bens que antes eram importados passaram a ser produzidos
internamente. O Brasil e os se encontra nessa categoria de países.

c) Países de industrialização planificada→ são aqueles que se industrializaram sob a planificação econômica do
Estado, ou seja, que atravessaram, no século XX, a experiência socialista. Nesses países, durante décadas, houve
um maior desempenho da indústria de base (metalurgia, siderurgia, petroquímica, material de transporte etc),
já que era o ramo da indústria mais valorizado pelas políticas estatais. É o caso, por exemplo, da Rússia, que se
industrializou durante a fase socialista.

As indústrias no Brasil se desenvolveram a partir de mudanças estruturais de caráter econômico, social e político,
que ocorreram principalmente nos últimos trinta anos do século XIX. O conjunto de mudanças aconteceu
especialmente nas relações de trabalho, com a expansão do emprego remunerado que resultou em aumento
do consumo de mercadorias, a abolição do trabalho escravo e o ingresso de estrangeiros no Brasil como
italianos, alemães, japoneses, dentre muitas outras nacionalidades, que vieram para compor a mão de obra,
além de contribuir no povoamento do país, como ocorreu na região Sul. Um dos maiores acontecimentos no
campo político foi a proclamação da República. Diante desses acontecimentos históricos, o processo industrial
brasileiro passou por quatro etapas.
1A FASE: DA COLÔNIA À INDUSTRIALIZAÇÃO INCIPIENTE

Pré-industrialização → Ocorreu entre 1500 e 1808, quando o país ainda era colônia. Dessa forma, a metrópole
não aceitava a implantação de indústrias (salvo em casos especiais, como os engenhos) e a produção tinha regime
artesanal.

A coroa portuguesa proibia a instalação do comércio manufatureiro no Brasil para justamente impedir o
crescimento de sua colônia, para que ela continuasse somente fornecendo produtos agrícolas para o mercado
externo.

OS FATORES DO ATRASO INDUSTRIAL NO BRASIL

O Brasil teve, em relação à Inglaterra, um atraso de pelo menos um século para o surgimento dasprimeiras
indústrias. Isso só teve início na virada do século XIX para o século XX, quando fábricas têxteis foram instaladas
nas principais cidades brasileiras, sobretudo no Rio de Janeiro e São Paulo. Contribuíram para o atraso da
industrialização os seguintes fatores:

a) O Alvará de 1785, expedido por D. Maria I, rainha de Portugal, que proibia a instalação demanufaturas e
fábricas no Brasil.
b) O mercado consumidor interno muito restrito, já que a sociedade brasileira era composta
majoritariamente de pessoas muito pobres, escravos (até 1888) e trabalhadores livres sem renda.
c) A concorrência dos produtos importados, notadamente ingleses, o que era facilitado pelaausência de
uma política protecionista.
d) A opção pelo modelo agroexportador por parte das elites nacionais, as quais tinham uma
influência muito grande sobre a política durante o Segundo Reinado e a República Velha.

Industrialização incipiente→ corresponde a uma fase que se desenvolveu entre 1808 a 1930, que ficou
marcada pela chegada da família real portuguesa em 1808. Nesse período foi concedida a permissão para a
implantação de indústria no país a partir de vários requisitos, dentre muitos, a criação, em 1828, de um tributo com
taxas de 15% para mercadorias importadas e, em 1844, a taxa tributária foi para 60%, denominada de tarifa Alves
Branco. Outro fator determinante nesse sentido foi o declínio do café, momento em que muitos fazendeiros
deixaram as atividades do campo e, com seus recursos, entraram no setor industrial, que prometia grandes
perspectivas de prosperidade. As primeiras empresas limitavam-se à produção de alimentos, de tecidos, além de
velas e sabão. Em suma, tratava-se de produtos sem grandes tecnologias empregadas.

Foi a partir do processo de independência do Brasil que iniciaram pequenas mudanças econômicas,
principalmente, na metade do século XIX, com o desenvolvimento da economia cafeeira em que os altos lucros
propiciaram investimentos em outras atividades econômicas, como a indústria.
Foi nesse cenário dos grandes lucros da economia cafeeira que surgiram empresários como Irineu
Evangelista de Souza (o Barão de Mauá), preocupados com o desenvolvimento das estradas de ferro, das cidades e
de toda infraestrutura necessária para o crescimento do país. Contudo, as primeiras indústrias foram surgindo de
maneira paulatina, no final do século XIX e início do XX, elas representavam ainda uma baixa participação na
economia nacional.

A ERA MAUÁ

Na segunda metade do século XIX surgiu a figura de um importante empresário


brasileiro, Irineu Evangelista de Souza, mais conhecido como Barão de Mauá. O ambiente
econômico havia sido favorecido pela criação da Tarifa Alves Branco (1844), que impôs um
aumento das tarifas alfandegárias para os produtos importados que tinham similares no
Brasil. Dentre os empreendimentos do Barão de Mauá, citamos: a criação de um estaleiro e
de fundições, ferrovias, companhias de transporte, a implantação de linhas telegráficas,
iluminação a gás e a fundação de bancos (no Brasil e no Uruguai).
Embora Mauá tenha construído um verdadeiro império econômico para a época, seu
empreendedorismo incomodava bastante a elite rural escravista e os países concorrentes,
sobretudo a Inglaterra, que tinha o Brasil como fiel importador de seus produtos. Desse
modo, não tardou muito a começar um processo que levaria o Barão à falência.

Mediante a isso, o Brasil importava praticamente todos os produtos industrializados, pois suas indústrias
não haviam desenvolvido o suficiente. A Europa, como a região do globo que mais se industrializava, não queria o
desenvolvimento industrial brasileiro, pois perderia mercado consumidor. O Brasil, portanto, dependeu
exclusivamente da economia agrícola até a metade do século XX e, por isso, enfrentou sérios problemas
econômicos e políticos.

Emergindo em meio a um modelo de desenvolvimento agrário-exportador que tornava a economia


brasileira bastante dependente da exportação de produtos primários e da importação de manufaturas, foi a partir
do início das décadas de 1870 e 1890 que, via processo de substituição de importações (PSI), se verificaram no
Brasil os primeiros passos de importância rumo à industrialização (VERSIANI e SUZIGAN, 1990).

Entretanto, foi a partir de 1930 que o processo de industrialização brasileiro passou a ganhar maior
dinamismo, chegando a completar os elos da sua cadeia na década de 1970. A crise de 1929 foi um exemplo da
fragilidade da economia brasileira e também um aviso de que o país necessitava diversificar sua produção.

A ECONOMIA CAFEEIRA E AS ORIGENS DA INDÚSTRIA EM SÃO PAULO

A expansão do café no Planalto Paulista gerou, a partir do final do século XIX, mais do que um
simples aumento na produção agrícola. Ela formou o que podemos chamar de complexo cafeeiro
paulista, ou seja, um conjunto de atividades modernizadoras que favoreceram o desenvolvimento
industrial na cidade de São Paulo.
1) ACÚMULO DE CAPITAL→ os capitais obtidos com as exportações de Rua 15 de Novembro no início do
século XX , onde ficava a Bolsa Livre
café foram investidos em atividades diversificadas, dentre as quais / SP

a atividade industrial. Os bancos passaram a financiar as indústrias


nascentes, e uma nova classe de empresários crescia na cidade de
São Paulo. Portanto, é muito importante relacionarmos a origem
da industrialização no Brasil com o capital agroexportador.

2) GRANDE CONTINGENTE IMIGRANTE→


a mão de obra atraída pela economia
cafeeira foi empregada também em
atividades urbanas, tanto no comércio
como no setor industrial nascente. No
“chão” das fábricas paulistas era comum
se comunicar em italiano.

3) FORMAÇÃO DE UM MERCADO CONSUMIDOR →

o assalariamento da força de trabalho e o


crescimento populacional foram a base de um
mercado consumidor em expansão em São Paulo.
Os imigrantes italianos, portugueses e japoneses
foram peça-chave desse novo mercado
consumidor. Figura 1: Comércio de rua em expansão no centro de São Paulo
(1908).

4) IMPLANTAÇÃO DE UMA REDE DE FERROVIAS- no


estado de São Paulo foi construída a maior rede de
ferrovias do país. Os trens carregavam o café do Planalto
Paulista até o porto de Santos, passando pelacidade de
São Paulo, que se transformou no “porto seco” do café.
No itinerário de volta, os vagões levavam manufaturas
para serem vendidas nas cidades do interior. Figura 2: A importante Estação da Luz no início do século XX.
AS CARACTERÍSTICAS DA INDÚSTRIA NA FASE INICIAL

Até 1930, o setor industrial nascente no Brasil apresentou as seguintes características principais:
a) SUBORDINAÇÃO AO CAPITAL CAFEEIRO - como já foi dito, a indústria paulista foi “filha” do café.

b) PREDOMÍNIO DE INDÚSTRIAS DE BENS DE CONSUMO NÃO-DURÁVEIS as fábricas têxteis eram


majoritárias, mas também havia fábricas de calçados, sabão, ceras e velas, metalúrgicas etc.
c) INEXISTÊNCIA DA INDÚSTRIA DE BASE - os investimentos para esse setor eram muito altos,e o

Brasil não dispunha de uma política industrializante ainda.


d) PRODUÇÃO VOLTADA PARA O MERCADO LOCAL- o Brasil não tinha condições de exportarprodutos
industrializados naquela época, concorrendo com as potências industriais (Inglaterra, Alemanha,
França, Estados Unidos).

2A FASE: ARRANCADA INDUSTRIAL

Essa fase da industrialização brasileira se inicia com a crise do setor agroexportador e com a
entrada do Estado no cenário econômico. A Crise de 1929 atingiu o principal produto da economia
brasileira, derrubando o preço do café. A partir de então, a indústria assumiu o papel de personagem
central da recuperação e expansão da economia brasileira. Observe a tabela abaixo.

Esse período que ocorreu entre 1930 e 1955, representou um momento em que a indústria recebeu muitos
investimentos dos ex-cafeicultores e também em logística. Assim, houve a construção de vias de circulação de
mercadorias, matérias-primas e pessoas, proveniente das evoluções nos meios de transporte que facilitaram
a distribuição de produtos para várias regiões do país (muitas ferrovias que anteriormente transportavam café,
nessa etapa passaram a servir os interesses industriais).
O NOVO PAPEL DO ESTADO BRASILEIRO

A figura central da política brasileira entre as décadas de 1930 a


1950 foi, sem dúvida, Getúlio Vargas, que empreendeu uma
política industrializante no país. Foi com a entrada de Getúlio
Vargas em 1930 que o processo de industrialização se tornou o
eixo norteador das discussões e medidas políticas. Foi também
na Era Vargas que importantes medidas aconteceram para o
desenvolvimento industrial brasileiro.

A partir de Vargas o Estado brasileiro se interessava de forma


mais estrutural pelo setor industrial. Um exemplo disso foi a
criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em 1941, e da
Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), em 1942. Figura 3: Vargas com as mãos no petróleo (1952)

O projeto para o país do segundo governo de Getúlio Vargas (1951-54) foi pautado pelo ideário do nacional-
desenvolvimentismo, principalmente a defesa da intervenção do Estado em áreas consideradas de interesse
nacional. A criação do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), em 1952, e da Petrobrás, em 1953, são
grandes exemplos desse projeto.

Um exemplo da política varguista foi a instalação no país da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), construída
entre os anos de 1942 e 1947, empresa de extrema importância no sistema produtivo industrial, uma vez que
abastecia as indústrias com matéria-prima, principalmente metais, em Volta Redonda (RJ). Também as
construções da Companhia Vale do Rio Doce, destinada à exploração do minério de ferro em Minas Gerais, e
da Petrobrás em 1953, que contribuíram bastante para o aceleramento do crescimento industrial. Além disso,
Vargas criou as leis trabalhistas preparando o país para a organização no crescimento das indústrias, como foi
o caso da CLT – Consolidação das Leis do Trabalho.
CARACTERÍSTICAS DA INDUSTRIALIZAÇÃO PÓS -1930

Podemos alinhavar cinco características essenciais da economia brasileira no período 1930-55.

a) O ESTADO COMO INVESTIDOR INDUSTRIAL - essa é a ideia do “Estado-empresário”, no qual desempenha


o papel de proprietário e gerenciador das empresas consideradas estratégicas para o desenvolvimento
nacional.

b) SURGIMENTO DE NOVOS SETORES PRODUTIVOS - é implantada no Brasil a indústria de base, muitas vezes
chamada de indústria pesada ou de bens de produção.

c) PROTECIONISMO E SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES - o projeto nacionalista de Vargas também


restringiu a importação de produtos que havia similares no País.

d) CONSOLIDAÇÃO DE SÃO PAULO COMO PALCO DA CONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL - a cidade de São Paulo
já havia, na década de 1920, ultrapassado o Rio de Janeiro no número de estabelecimentos industriais e se
consolida cada vez mais como “locomotiva” industrial brasileira.

e) INDUSTRIALIZAÇÃO RESTRINGIDA - os setores de tecnologia mais avançada, como a indústria de


máquinas e equipamentos, continuaram com uma grande lacuna no Brasil.

A LOCALIZAÇÃO DA CSN

O local escolhido, em 1941, para a instalação da


primeira grande siderúrgica brasileira foi Volta
Redonda, no Vale do Paraíba. Sua construção durou
cinco anos e atraiu migrantes de vários estados
brasileiros. Situada a aproximadamente 130
quilômetros do Rio e 350 quilômetros de São Paulo,
Volta Redonda era o local onde as matérias-primas
poderiam ser reunidas a um custo baixo e a partir do
qual os produtos acabados poderiam ser facilmente
enviados aos dois principais mercados consumidores.
Figura 4: LOCALIZAÇÃO SIDERÚRGICA NO SUDESTE
A siderurgia necessita de duas matérias- primas principais: minério de ferro e carvão mineral. No
caso da CSN, o ferro é proveniente do Quadrilátero Ferrífero (MG), sendo transportado por ferrovia.
Já o carvão mineral é, em grande parte, importado, já que as reservas no sul do Brasil (SC e RS) são
insuficientes. Outro recurso essencial utilizado no processo siderúrgico é a água, utilizada para resfriar
os produtos siderúrgicos ao longo do processo produtivo. Por causa disso, a CSN está localizada às
margens do rio Paraíba do Sul. Observe no mapa ao lado a localização de três importantes usinas
siderúrgicas no Sudeste.

QUADRILÁTERO FERRÍFERO

Trata-se da mais importante área produtora de minério de ferro do Brasil, situada entre
os municípios mineiros de Sabará, Santa Bárbara, Congonhas e Mariana. Parte da sua
produção atente ao mercado siderúrgico do Sudeste, incluindo as usinas do Vale do Aço
(MG), e outra parte é destina à exportação. Nesse caso, o minério é transportado pela
ferrovia Vitória-Minas e escoado pelo Porto de Tubarão, em Vitória (ES).

OS BAIRROS OPERÁRIOS

Em São Paulo, houve a formação de bairros industriais com forte concentração de mão de obra imigrante e
servidos por ramais ferroviários, como a Mooca, o Brás, e Belém. Cumpre lembrar que no período da 1ª
Guerra Mundial (1914-18), durante o governo de Venceslau Brás, houve um “surtoindustrial” nesses bairros,
favorecido pela dificuldade de importação de produtos manufaturados.

BAIRROS SURGIDOS A PARTIR DE VILAS OPERÁRIAS LIGADAS A FÁBRICAS DE


TECIDOS

Cidade/ Bairro Cidade/ Bairro


Estado Estado
Rio de Del Castilho, São Paulo/ SP Lapa, Água Branca, Casa
Janeiro / RJ Bangu, Vila Isabel e Verde, Vila Prudente, Brás,
Gávea Moóca e Belenzinho.
Recife / PE Jaboatão, São José Santos/SP Quartéis
e Afogados
Campinas / Campinas/SP Vila Industrial
Vila Arens
SP

Já no Rio de Janeiro, destacava-se a atividade fabril em bairros como Bangu, São Cristóvão, Jardim
Botânico e Laranjeiras, todos ligados ao setor têxtil. É bom lembrar que no caso de São Cristóvão a
proximidade portuária foi um fator geográfico também importante para a atividade industrial que ali
se desenvolveu.
A FORMAÇÃO DO PADRÃO CENTRO-PERIFERIA

Você já estudou que o Brasil teve, durante os quatro séculos iniciais, um padrão territorial que se
assemelhava a um grande arquipélago econômico, pois o território estava desarticulado e as regiões
se voltavam, principalmente, para o mercado externo. Os fluxos internos de mercadorias e pessoas até
existiam, mas eram para suprir as necessidades de alimentos e/ou mão de obra das atividades
agroexportadoras. Com a industrialização, entretanto, esse padrão começou a mudar.

A partir da década de 1930, a região Sudeste, sobretudo o estado de São Paulo, consolida-se como a
locomotiva da indústria brasileira, o centro econômico ou core area nacional. Ocorreu de forma
progressiva a concentração do parque industrial no Sudeste, que chegou a responder por 80% do valor
da atividade industrial do país. Na medida em que avançava a integração (mesmo que de forma
precária) do território brasileiro, papel desempenhado crescentemente pelo transporte rodoviário,
aumentavam os fluxos internos de mão de obra e mercadorias. Com isso, o Sudeste passou a
subordinar as demais regiões, que dependiam de seus produtos industrializados.
O processo de industrialização ao longo do século XX dissolveu, portanto, o antigo padrão do
arquipélago econômico e passou a desenhar um outro padrão territorial baseado no centro-periferia.
O Sudeste desempenhando o papel de polo/centro (produtor de produtos industrializados) e as demais
regiões no papel de periferia (produtora de matérias-primas e fornecedora de mão de obra). Alguns
autores chegaram a tratar essa relação regional desigual como um caso de colonialismo interno,
embora esse termo seja questionável. O sociólogo Jacques Lambert preferiu denominar essa dualidade
como “os dois brasis”, mas esse termo também merece cuidado.
3A FASE: INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA (1955 ATÉ 1989).

Essa fase foi promovida inicialmente pelo presidente Juscelino Kubitschek, que promoveu a abertura da
economia e das fronteiras produtivas, permitindo a entrada de recursos em forma de empréstimos e
também em investimentos com a instalação de empresas multinacionais.

Com o ingresso dos militares no governo do país, a partir do golpe de 1964, as medidas produtivas
tiveram novos rumos, como a intensificação da entrada de empresas e capitais de origem estrangeira
comprometendo o crescimento autônomo do país, que resultou no incremento da dependência econômica,
industrial e tecnológica em relação aos países de economias consolidadas.

Podemos destacar como principais características da industrialização brasileira durante a 3ª fase:

1. DESENVOLVIMENTO DO SETOR DE BENS DE CONSUMO DURÁVEIS - A substituição de importações


foi a base do modelo brasileiro de industrialização ao longo de quase todo o século XX. Os bens de
consumo não-duráveis já eram produzidos no país, assim como os bens intermediários. Faltava
impulsionar a implantação desse novo setor, que era visto como símbolo do crescimento econômico
do pós-2ª Guerra nos países desenvolvidos (automóveis, eletrodomésticos, aparelhos eletrônicos
etc).

2. INCENTIVOS À PARTICIPAÇÃO DO CAPITAL ESTRANGEIRO - Tornou-se quase unanimidade no


pensamento econômico latino-americano a ideia de que o atraso e o subdesenvolvimento só seriam
corrigidos através da industrialização. Caberia ao Estado liderar as bases para a industrialização e a
modernização do país. Também caberia ao Estado permitir a estrada de investimentos estrangeiros
diretos (IEDs) para impulsionar o desenvolvimento de novos setores, cujas tecnologias e know-how
estavam no exterior, fora do alcance do capital nacional. Desta forma, as empresas estrangeiras
multinacionais passam a ser “convidadas” a investir no Brasil, abrindo filiais para a produção de bens
duráveis, principalmente.

3. FORMAÇÃO DE UM TRIPÉ QUE PASSA A SUSTENTAR A INDÚSTRIA BRASILEIRA - O capital estatal, o


capital privado nacional e o capital estrangeiro formaram um tripé ou aliança que foi a base da
indústria brasileira até o final dos anos 1980. A figura a seguir esquematiza o funcionamento desse
tripé, embora houvesse exceções.
TIPOS DE INDÚSTRIAS SEGUNDO OS BENS PRODUZIDOS

• INDÚSTRIA DE BENS DE CONSUMO → produz bens consumidos diretamente pela população, podendo ser
duráveis (automóveis), não-duráveis (farmacêuticos) ou semiduráveis (roupas).

• INDÚSTRIA DE BENS INTERMEDIÁRIOS → produz insumos industriais para outras indústrias(aço,


produtos químicos). É também chamada de indústria de base.

• INDÚSTRIA DE BENS DE CAPITAL → produz máquinas e equipamentos para serem usados poroutras
indústrias ou empresas.

DESENVOLVIMENTISMO E MODERNIDADE

Há uma segunda vertente de autores que acredita que


Brasíliafoi o resultado de um projeto desenvolvimentista para
o país, ou seja, um projeto de natureza econômica. A
construção da nova capital iria gerar um volume monumental
de obras de infraestruturano Centro-Oeste e conectá-lo, por
rodovias, às demais regiões brasileiras. Além de gerar milhares
de empregos, o projeto induziria o povoamento e o
crescimento dessa região, até então desconectada do restante
do território.
Além disso, a indústria automobilística, símbolo maior da
industrialização brasileira no período JK, iria se beneficiar da
abertura de estradas estimulada pelo governo federal – as
Rodovias de Integração Nacional, também conhecida como a
Política do Rodoviarismo. Brasília, dessa forma, constituía-se
na “meta-síntese” do projeto desenvolvimentista de Juscelino
Kubitschek.
Finalmente inaugurada em 1960, é mais provável que Brasília tenha sido o resultado da
sobreposição das duas perspectivas, a geopolítica e a econômica. É difícil apontar uma separação
exata entre essas duas vertentes, tendo em vista que a ocupação do Centro-Oeste foi uma
condição para a integração do território nacional, tanto quanto para o desenvolvimento
econômico.
Texto elaborado com base em ARBEX JÚNIOR, J. Rumo ao Centro-Oeste. São Paulo: Moderna, 1996

O MODELO ECONÔMICO DA DITADURA

Após o golpe civil-militar de 1964, esse modelo de


desenvolvimento foi aprofundado, permitindo a
continuidade da industrialização baseada na substituição
de importações. O setor de bens de consumo duráveis se
desenvolveu no país assim como parte do setor de bens de
capital, principalmente no tocante à produção de
máquinas agrícolas. Pode-se, portanto, afirmar que
durante os anos da Ditadura Militar (1964-85), o Brasil
vivenciou o auge do seu processo de industrialização. É
bom lembrar que todo esse processo foi acompanhado de
grandes investimentos públicos em infraestrutura e
Propaganda da Honda de 1974.
construção civil (rodovias, portos, aeroportos, usinas
hidrelétricas), o que beneficiou mais ainda o forte
crescimento econômico desse período da história
brasileira.
O MILAGRE BRASILEIRO (1968 -73)

De 1968 a 1973 (final do Governo Costa e Silva e Governo Médici), o Brasil alcançou taxas médias de
crescimento muito elevadas e sem precedentes na história brasileira. Em 1973, por exemplo, o PIB
brasileiro chegou a alcançar um crescimento de 14% ao ano. Esse período passou a ser conhecido como o
do “milagre econômico brasileiro”, uma terminologia anteriormente aplicada ao rápido crescimento
econômico do Japão e Alemanha nos anos 1950/60.

Esse crescimento foi consequência da política econômica adotada no período, mas também de uma
conjuntura econômica internacional muito favorável, pois os países europeus, os Estados Unidos e o Japão
cresciam de vento em popa. O “milagre econômico” foi, portanto, fruto de alguns fatores, a saber:

a) Grandes investimentos públicos em obras de infraestrutura, as chamadas “obras faraônicas” do


regime militar, sobretudo rodovias e gigantescas usinas hidrelétricas. Os investimentos públicos
geraram empregos e crescimento das empresas fornecedoras de insumos e de engenharia.

b) Forte entrada de capitais privados estrangeiros provenientes das empresas multinacionais


europeias, japonesas e norte-americanas. Tais empresas visavam abocanhar uma expressiva fatia
do mercado consumidor brasileiro, em franca expansão nos anos 1960-70.

c) Política de controle inflacionário com base no arrocho salarial. Embora no período do milagre tenha
havido a expansão do mercado interno e a geração de empregos, houve grandes perdas salarias
para a classe trabalhadora, o que aprofundou a concentração de renda no país.

Inaugurada em 1974, a Ponte Rio-Niterói é “obra faraônica” e símbolo do “milagre brasileiro”.


A CRISE DO PETRÓLEO

Na década de 1970, houve dois choques do petróleo


que impulsionaram o preço internacional do barril,
como se observa no gráfico ao lado. Esses dois
choques estiveram relacionados à instabilidade
política no Oriente Médio, resultante da eclosão da
Guerra do Yom Kippur (1973) e da Crise Iraniana
(1979), bem como da ação mais incisiva do cartel da
Organização dos Países Exportadores de Petróleo
(OPEP).

Até os anos 1970, o Brasil importava praticamente


todo o petróleo que utilizava. O preço do petróleo
importado era baixo e a produção nacional estava limitada à Bahia e a poucos barris. Com os dois choques do
petróleo (1973 e 1979), o custo das importações brasileiras quadruplicou, ocasionando um grande déficit na
balança comercial e aumentando a inflação. A fim de minimizar esses problemas, o governo lançou duas novas
estratégias no campo energético nacional, a saber:

A CRIAÇÃO DO PROÁLCOOL

Em 14 de novembro de 1975, o Presidente


Ernesto Geisel instituiu o Programa Nacional do
Álcool (Proálcool). O governo passou a incentivar a
produção de cana-de-açúcar para a produção de
álcool combustível (etanol). Devido aos incentivos
do governo, o álcool passou a ser bem mais
vantajoso que a gasolina nos postos de
Figura 5: O Fiat modelo 147 foi o primeiro carro a álcool
abastecimento. A indústria automobilística no Brasil.
multiplicou sua produção de carros com motores a
álcool, que, chegaram, na década de 1989, a compor
90% da frota nacional.

O Proálcool recebeu inúmeras críticas. Além de o etanol ter um custo alto de produção, as
fazendas de cana ocuparam solos que antes eram destinados à produção de alimentos baratos.
Entretanto, a substituição da gasolina pelo álcool representou, no período 1974-2004, uma
economia de US$ 61 bilhões para o país. Além disso, o uso do álcool permitiu a redução das
emissões de monóxido de carbono nas cidades.
A EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO NA PLATAFORMA CONTINENTAL

Outra ação
governamental para
fazer frente à Crise do
Petróleo dos anos 190
está relacionada à
Petrobras. A empresa
passou a investir
pesadamente em
pesquisa e prospecção
de petróleo na Bacia de
Campos, que se estende
do litoral do Espírito
Santo até Cabo Frio (RJ). Em 1977, a Petrobras deu início à sua produção comercial offshore no
campo de Enchova. situado em lâmina d’água de 124 metros. Com o passar do tempo, a
profundidade dos novos poços de petróleo da camada pós-sal foi

aumentando até chegar a 2.000 metros. Em 2007, a Petrobras anunciou a descoberta de petróleo
na camada pré-sal. Hoje, o Brasil se tornou exportador de petróleo bruto, embora tenha que
importar derivados de petróleo devido a nossa baixa capacidade de refino.

A BALANÇA COMERCIAL DURANTE A DITADURA MILITAR

É interessante notar que até 1974 nossa balança comercial era estável, pois o valor das exportações de bens
primários compensava o valor das importações, sobretudo de máquinas e equipamentos. A partir dessa data,
entretanto, abre-se um enorme déficit, que chegou a 4,5 bilhões de dólares, como mostra o gráfico. Esse saldo
negativo só seria revertido a partir do início da década de 1980, em função da política econômica adotada no
período, que gerou, por um lado, superávit na balança comercial e, por outro, o agravamento de nossos
problemas econômicos e sociais.
A ECONOMIA BRASILEIRA NOS ANOS 1980 – A DÉCADA PERDIDA

Os anos 1980 colocaram o Brasil em uma situação de recessão econômica, que agravou nossos problemas
econômicos e sociais, como o arroxo salarial, aumento da pobreza e do desemprego e a crise habitacional nos
grandes centros urbanos. Por isso, dizemos que a década de 1980 foi uma “década perdida”. Entretanto, os
problemas econômicos dessa década, que abarca o governo militar de João Figueiredo (1979-85) e o governo
de José Sarney (1985-89), devem ser entendidos levando-se também em consideração a conjuntura
internacional do período. Vejamos alguns fatores da crise:

a) CRISE DA DÍVIDA EXTERNA - Com a eleição de Ronald Reagan,


em 1980, e o aumento da taxa de juros por parte do Banco
Central dos Estados Unidos, o Brasil e muitos outros países
latino-americanos se viram numa difícil condição de honrar
seus compromissos de quitar juros e amortizações da dívida
junto com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Como se
observa no gráfico ao lado, essa dívida cresceu como uma
bola de neve ao longo da Ditadura Militar, e boa parte dela foi
produzida pelos vultosos empréstimos que os governos
brasileiros tomaram paraa construção das “obras faraônicas”
do período e para sustentar o milagre econômico brasileiro.
Fonte: Folha de São Paulo/UOL
b) A DESVALORIZAÇÃO DA MOEDA - O FMI impôs às economias latino-americanas a condição de desvalorização de
suas moedas a fim de aumentar as exportações. No Brasil, além da depreciação do câmbio, o governo passou a
incentivar as exportações de commodities, criando programas de financiamentos para grandes produtores rurais
e investindo na infraestrutura viária dos “corredores de exportação”. Esses fatores explicam o superávit comercial
que você observa no primeiro gráfico.

CÂMBIO

Moeda DESVALORIZADA = aumentam as exportações

Moeda VALORIZADA aumentam as importações

É muito importante não confundir balança comercial com balança de pagamentos. A primeira registra apenas o
saldo referente às exportações e importações. A segunda registra o saldo da entrada e saída de capitais
(empréstimos e pagamento de dívidas, entrada de investimentos estrangeiros, remessa de lucros das empresas
multinacionais, dinheiro gasto por turistas etc) e inclui também o saldo comercial. Ainda que a balança comercial
brasileira tenha sido superavitária na década de 1980, nossa
balançade pagamentos permaneceu deficitária. Ou seja, não havia
o que comemorar em termos macroeconômicos.

c) A ESPIRAL INFLACIONÁRIA → A desvalorização da moeda trouxe


como consequência o aumento do preço de diversos produtos que
estavam atrelados ao dólar. Quando os preços subiam, os salários
perdiam poder de compra. Os sindicatos reivindicavam reajustes,
que acabavam concedidos pelos empregadores. O aumento dos custos da produção era repassado ao consumidor
na forma de mais aumento de preços. E assim por diante. Com o tempo, a cultura do aumento provocava reajustes
preventivos, gerando um descontrole inflacionário. Com isso, investimentos que iriam para a indústria e o comércio
eram redirecionados para a ciranda financeira (bancos e aplicações na bolsa de
valores). O desemprego crescia e o país se afogava na recessão.

O Plano Cruzado

O Plano Cruzado foi um plano de estabilização econômica criado em 1986


com o objetivo de conter a inflação galopante. Sua principal estratégia consistiu na
criação de uma nova moeda, o Cruzado, e o congelamento dos preços no varejo e
dos salários. O plano teve o apoio de muitos economistas respeitados da época e
conseguiu derrubar a inflação nos primeiros meses. Entretanto, os gastos públicos
continuaram elevados e criou-se uma situação de desequilíbrio entre a oferta e a demanda de produtos. Já no
primeiro ano de vigência o Plano Cruzado começou a demonstrar falhas e a inflação voltou a pressionar.
Revista Veja, 05/03/1986

Outros Planos e Mais uma Moeda

Com a persistência da hiperinflação, falta de produtos e saques nos supermercados, greves generalizadas e
grande insatisfação popular, o governo foi obrigado a lançar outros planos de estabilização, que não passaram
de “remendos” do plano inicial. Assim apareceram o Plano Cruzado II (1986), o Plano Bresser (1987) e o Plano
Verão (1989), sendo, neste último, criada uma nova moeda, o Cruzado Novo. Todos os planos adotaram novos
congelamentos de preços e, a cabo de poucos meses, fracassavam com o retorno da inflação. Sarney terminou
o governo com recessão econômica e grande insatisfação do povo.

O Fim do Modelo de Substituição de Importações

Se nos anos 1970 já havia sinais de esgotamento do modelo de desenvolvimento apoiado na substituição
de importações, a década de 1980 representou o seu fim. A recessão econômica e as perdas salariais
comprimiram o mercado consumidor interno, que era o motor desse modelo de desenvolvimento. Além disso,
dentro do pacote de medidas adotado pelos próximos governos, mais alinhados aos interesses do Banco
Mundial e FMI, diminuindo o longo protecionismo adotado desde a Era Vargas. Ate então o mesmo
protecionismo livrou a indústria nacional da competição externa, mas a deixou numa tal zona de conforto, que
desestimulou a inovação tecnológica. Vimos surgirem grandes oligopólios em diversos ramos da economia e a
formação de cartel não era exceção. O resultado foi uma indústria “enferrujada”, pouco dinâmica e nada
competitiva, que em nada condizia com o cenário globalizante que estava a ser descortinado na década
seguinte. A substituição de importações, que já estava moribunda, foi enterrada ali mesmo.

4ª FASE: DÉCADA DE 1990: AS REFORMAS ESTRUTURAIS DA ECONOMIA X A


INDÚSTRIA BRASILEIRA (A FASE NEOLIBERAL)

Dentro de um novo modelo liberal de desenvolvimento neste período as políticas se baseiam na visão de
que a maior abertura e as privatizações na economia, ao mesmo tempo que levaria a uma maior concorrência
nos mercados internos, também promoveria a eficiência não só do setor bancário do país mas também do setor
industrial.

Ao longo da década de 1990, e, sobretudo a partir de 1994, o Brasil passou por um rápido e acentuado
grau de abertura comercial da economia, sob a justificativa de promover a modernização, a eficiência produtiva
e tecnológica e a competitividade da indústria do país. Para se ter uma ideia, logo nos primeiros anos da década
de 1990 foram inteiramente eliminadas as barreiras não tarifárias de proteção à indústria. Conforme Carneiro
(2002, p. 313, grifo nosso) chamou atenção, no que tange às tarifas, entre 1990 e 1994 a proteção à indústria foi
drasticamente reduzida. “Em termos efetivos, a proteção da indústria em 1994 já havia alcançado patamares
acordados no âmbito do Mercosul e que teoricamente deveriam ser atingidos em 2006.” Na realidade, apoiada
no suposto central de que as empresas mais aptas sobreviveriam ao desafio da competitividade e seriam
premiadas com a integração competitiva aos mercados globais, a premissa que de fato de vigorou na década de
1990 foi, nas palavras de Cano e Silva (2010, p. 4), a de que “[...] a melhor política industrial é não ter política
industrial.” Constituindo-se uma política industrial às avessas. (CANO e SILVA, 2010).

O Plano Collor

O governo de Fernando Collor de Mello ficou registrado como o primeiro eleito diretamente após o final da
Ditadura Militar. .Collor defendia uma agenda neoliberal e o enxugamento do Estado. Mas seu governo
também foi marcado pelo fracasso no combate à crise econômica, e, após ser denunciado por envolvimento
direto em esquema de corrupção, sofreu impeachment.

Como mencionado anteriormente, o Brasil vivia, no final dos anos 1980, uma intensa crise econômica e a
população sofria com uma inflação astronômica (1972,91% em 1989). No dia seguinte a posse de Collor, lançou
um plano econômico que ficou gravado na memória da população.

O Plano Collor procurava solucionar os problemas da economia brasileira e trouxe medidas


extremas. A mais importante delas foi o confisco dos valores depositados nas cadernetas de poupança acima
de 50 mil cruzados novos. Pelo plano, esse valor só seria devolvido a partir de setembro de 1991. Essa medida
gerou pânico e filas nos bancos, uma vez que todos queriam sacar suas economias. Foram confiscados também
os fundos do overnight, um investimento bancário usado, principalmente pela classe média, para diminuir os
impactos da inflação sobre o salário. Houve também o retorno do Cruzeiro como moeda (mais uma troca de
moeda). Inicialmente o plano conseguiu reduzir a inflação, já que freou o consumo, mas, com o passar dos
meses, acabou fracassando, e a inflação voltou a crescer.

O governo Collor deu início ao PND – Programa Nacional de Desestatização - às privatizações de empresas
estatais, além do enxugamento ministerial e a demissão de funcionários públicos (o que não tornou
necessariamente a administração pública mais eficiente). Além disso, houve a abertura do mercado brasileiro
ao exterior, e o país começou a importar de tudo, desde brinquedos e calçados até automóveis e jet-skis.

As Privatizações Ganham Força na Década de 90

Foi no governo Collor (1990-1992) que o Brasil viu nascer seu primeiro programa de desestatização. As
privatizações refletiam também uma tendência dos anos 1990 de abertura econômica estabelecida pelo
chamado Consenso de Washington, sendo suas diretrizes formuladas por instituições como o FMI e o Banco
Mundial. Tais instituições pregavam o ajustamento macroeconômico dos países em desenvolvimento, que
atravessam um longo período (sobretudo a “década perdida”) de dificuldades para o crescimento de suas
economias.
A criação do Plano Collor, idealizado pela ministra Zélia Cardoso de Mello, adotou o modelo mais liberal de
ampla abertura às importações, modernização industrial e tecnológica e preparou o país para a série de
desestatizações que viriam nos governos seguintes.
Um dos pilares industriais do país, as estatais siderúrgicas começaram a ser privatizadas. A primeira foi a
Usiminas, em 1991, considerada a joia da coroa e uma das mais lucrativas do sistema, o que gerou uma grande
polêmica à época. O Grupo Gerdau, que arrematou a usina, foi um dos grandes beneficiários das privatizações
no setor.
Já no governo de Itamar Franco (1992-1994), que substituiu Collor após o processo de impeachment, a
Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), foi adquirida em 1993 pelo empresário Benjamin Steinbruch, do Grupo
Vicunha, que mais tarde iria adquirir também a Companhia Vale do Rio Doce, hoje Vale. A CSN foi arrematada
por R$ 1,2 bilhão em um longo processo que envolveu batalhas jurídicas e provocou polêmicas entre
defensores e críticos da privatização. (Adaptado de O GLOBO 21/10/2013)

O Plano Real

Três fatos mais importantes marcaram o governo Collor: o Plano Collor, o início
das privatizações e o impeachment, que o afastou da presidência após dois anos
de governo. Seu vice, Itamar Franco (1993- 94), assumiu com o compromisso de
dar continuidade à política de desestatização e de controle da inflação, que tinha
voltado a disparar. Desta forma, a equipe econômica colocou em ação o Plano Real
(1994), um plano de estabilização que criou uma nova moeda e tomou medidas
efetivas de controle inflacionário. Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), então
ministro economia, tornou-se candidato a presidente como “pai” do Plano Real e
foi eleito. Figura 6: Revista Manchete,
fev./1995
Além da criação de uma nova moeda, o Plano Real estava alicerçado em duas
medidas fundamentais:
A valorização do câmbio permitiu que o país aumentasse as importações, aumentando a oferta de produtos
no mercado interno e ajudando no combate à inflação. Já a adoção de uma elevada taxa básica de juros
produziu efeitos favoráveis no controle inflacionário, pois impediu que houvesse umaumento forte da
demanda no mercado interno. Por outro lado, uma taxa de juros alta também ajuda a atrair capital financeiro
para o país, o que contribui para manter o câmbio valorizado.

Em pouco tempo, o governo conseguiu domar o “dragão da inflação”, que corroía o salário dos brasileiros,
e criar um ambiente de confiança e de estabilidade econômica, necessária para gerar investimentos privados
e atrair capital externo para o país. Produtos como frango e iogurte tornaram-se símbolos do consumo popular
e as viagens internacionais passaram de sonho à realidade para a classe média. O aparente sucesso do Plano
Real alicerçou, em 1998, a eleição de FHC ao segundo mandato presidencial.

Entretanto, após alguns anos de estabilidade econômica, alguns “efeitos colaterais” do Plano Real
passaram a aparecer, como a persistência de déficit na balança comercial, o baixo crescimento econômico e o
desemprego elevado. Além disso, alguns setores da indústria nacional foram duramente atingidos pelo
crescimento das importações (sobretudo da Ásia), como o setor de calçados, vestuário, peças e equipamentos
e brinquedos. Muitas fábricas fecharam nesse
período, diminuindo a empregabilidade.

Além dos problemas citados, o Brasil também


sofreu um abalo provocado pela crise financeira
nos mercados asiáticos (1997) e em outros países
emergentes, como a Rússia (1998). Em janeiro de
1999, o governo brasileiro foi obrigado a
abandonar com o câmbio fixo, adotar o chamado
câmbio flutuante e promover uma desvalorização
do real.

Repare no gráfico ao lado que o déficit na balança comercial


durante o período 1995-2000 está diretamente relacionado
com a valorização do câmbio. Em seus primeiros anos de
existência, 1 real chegou a valer 1 dólar. Nossa vizinha
Argentina, sob o comando do presidente Carlos Menem,
também adotou a mesma política cambial.
O governo de FHC deu continuidade ao programa de desestatização dos governos anteriores. Em 1997, a
Companhia Vale do Rio Doce, símbolo do nacionalismo de Vargas, foi privatizada. Além dela, outras estatais
também foram vendidas, o que gerou protestos por uma parte da sociedade brasileira.

Como vimos anteriormente, a segunda metade da década de 1990 foi marcada pela estabilização da economia
com o Plano Real e a continuidade do projeto neoliberal de desestatização no governo FHC. No seu segundo
mandato, entretanto, a estabilidade da moeda conviveu com forte turbulência internacional (crise russa, crise
argentina, desaceleração da economia mundial, ataques de 11
Figura 7:Em 2007, manifestações a favor da anulação da
venda da Companhia Vale do Rio Doce. de setembro) e o Brasil precisou recorrer novamente (três
vezes) aos empréstimos do FMI. A disputada eleição de 2002 foi ganha pelo ex-operário e sindicalista Luís
Inácio Lula da Silva.

A EXPANSÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA

O Governo Lula correspondeu ao período que se iniciou em 1º de janeiro de 2003, quando Luiz Inácio Lula
da Silva assumiu a presidência do Brasil, e encerrou-se no dia 1º de janeiro de 2011, quando a presidência foi
transmitida para Dilma Rousseff. A economia durante o governo Lula (2003-2010).

Durante os anos do governo Lula, o PIB brasileiro teve um crescimento médio de 4% ao ano. Esse cenário
de crescimento econômico, conforme citado, ancorou-se, sobretudo, no crescimento das exportações de
matérias-primas e commodities do Brasil para nações em vertiginoso crescimento, como a China.

O fortalecimento da nossa economia durante esse período (2003-2007) foi o grande responsável pelo fato
de os impactos da crise econômica de 2008 terem sido reduzidos no Brasil em comparação com o cenário
internacional. Impactos na economia fizeram-se sentir no PIB, por exemplo. Esses impactos não foram mais
bruscos porque o governo tomou medidas que incentivaram o consumo interno.

Outras questões relacionadas diretamente à economia que tiveram resultados positivos durante o governo
de Lula foram a criação de empregos e a melhoria da condição econômica de grande parte da população. A
respeito disso, destaca-se a criação de cerca de 10 milhões de empregos formais, além do crescimento da
classe C, que esteve diretamente ligado com o crescimento do salário-mínimo no período em cerca de 60% (o
dado leva em consideração o período 2000-2013) e com o aumento da disponibilização de crédito.
As políticas sociais contribuíram para a expansão do mercado consumidor interno. O governo expandiu a
política de renda mínima através do Bolsa-Família e houve a
valorização do salário-mínimo, o que contribuiu sobremaneira
para impulsionar o consumo da população e ascender um grande
contingente de pobres à chamada “classe C” ou classe média
baixa. Isso se refletiu num aumento inédito da venda de bens e
serviços, expansão de micronegócios, crescimento do setor aéreo
nacional etc.

O crescimento do consumo e da produção e a consequente


geração de emprego formal (com carteira assinada) permitiram o
aumento da arrecadação por parte do Governo e a formação de
Figura 8: A ferrovia permite o escoamento de grãos
caixa para realizar o terceiro ponto fundamental da expansão do do cerrado através do Porto de Itaqui (MA). O trecho
até Anápolis está concluído.
PIB: as obras públicas. Criado em 2007 o Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC) executou grandes obras de infraestrutura e teve importância fundamental para manter
ativa a economia nacional durante a crise financeira mundial de 2008 e 2009. São exemplos das obras do PAC
a retomada da construção da Ferrovia Norte-Sul, a transposição do Rio São Francisco e o programa Minha Casa,
Minha Vida.

Vê-se, portanto, que a expansão do PIB na primeira década do século XX foi motivada por um cenário
econômico internacional favorável juntamente com a adoção de políticas sociais e desenvolvimentistas por
parte do Governo.

A Recessão Econômica de 2015-2016


A crise mundial de 2008-2009 atingiu inicialmente os países
desenvolvidos e foi muito dura nos países do sul da Europa, os
chamados PIIGS (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha),
provocando endividamento e aumento do desemprego. Seus
efeitos sobre os países emergentes demoraram um pouco mais,
mas atingiram o Brasil a partir de 2013, durante o governo de
Dilma Rousseff.

O Brasil foi impactado pela desvalorização das commodities,


provocada, por sua vez, pela queda da demanda internacional. Soja, petróleo e minério de ferro, que disputam
o topo da nossa pauta de exportações, sofreram um tombo nas suas cotações, diminuindo o saldo da balança
comercial. A diminuição da atividade
econômica e o crescente déficit nas contas
públicas (governo gastando mais do que
arrecada) foram os ingredientes da recessão de
2015-2016.

As supostas pedaladas fiscais, tornou-se,


então, o pretexto que faltava para o
impeachment da presidente por atores
politicos e econômicos que tinham interesse em realizar uma reforma trabalhista, com a “flexibilização nos
contratos e salários”, retirando o papel do Estado na mediação das relações Capita/Trabalho e empreender
uma agenda Neoliberal que se encontrava estagnada.
Desemprego e Informalidade

Os dois anos de decréscimo do PIB foram seguidos por mais três anos de baixo crescimento da economia,
alta do desemprego e crescimento da informalidade. A reforma trabalhista aprovada durante o governo
Temer (2017) foi criada com o propósito de diminuir custos de produção e gerar empregos, mas esse último
propósito nunca surtiu o efeito prometido. O Governo Bolsonaro se elegeu a reboque da popularidade de
uma extrema-direita apoiada pelo grande capital econômico, com o fim de aprofundar políticas neoliberais.
Suas medidas até 2022 não melhoraram o cenário do emprego, e terminaram “resgatando” altos índices
inflacionários e um forte empobrecimento da população em geral, com perda do poder aquisitivo. O governo
Bolsonaro, também ficou marcado pela forma negacionista com que lidou com a Pandemia da COVID/19,
que atingiu o Brasil a partir de 2020.

A reestruturação do setor industrial no contexto de ampla abertura da economia

A realização de uma análise detalhada dos movimentos de mudança realizados na indústria nacional
ao longo da década de 1990 aponta para um processo de reestruturação industrial onde o aumento da
eficiência produtiva alcançada revelou-se muito mais em função das melhorias produtivas em termos de
custos (“enxugamento” da produção e/ ou ajuste defensivo) do que pela capacitação tecnológica da estrutura
produtiva industrial brasileira.

Os ganhos de produtividade (dada pela relação produção física/pessoal ocupado) da indústria geral
brasileira ao longo da década de 1990 implicaram fortes ajustes nos processos produtivos que se mostraram
grandes poupadores de mão de obra.

Além disso, é importante mencionar que, a partir de 1995, a entrada de capitais internacionais no país
triplicou. Entretanto, sendo basicamente estimulada pelo processo interno de privatizações, a mesma – ao
contrário do que se pensou–, não se materializou, conforme Lamonica e Feijó (2011), numa elevação da taxa
de investimento da economia.

O resultado geral das mudanças produzidas pela abertura da economia foi o de uma especialização
regressiva da estrutura produtiva industrial brasileira em direção a bens menos intensivos em capital e
tecnologia. Acontecimento este que representava “[...] um antagonismo claro com o processo histórico de
crescimento da economia brasileira cuja trajetória, até os anos 80, havia sido a diversificação e a redução da
dependência de importações, incluindo os setores de meios de produção.”

Nesse sentido, conforme expôs Bertolli e Medeiros (2002), o movimento de modernização tecnológica
da indústria brasileira – emparelhamento tecnológico – deu-se muito eminentemente a partir da importação
de tecnologia criada no exterior. Não havendo, portanto, um desenvolvimento e fortalecimento das
capacitações tecnológicas no interior do país.

O comportamento da indústria brasileira no período recente (2000-2022)


DESINDUSTRIALIZAÇÃO: DEFINIÇÕES E CAUSAS APONTADAS PELA LITERATURA ECONÔMICA

A partir de meados da década de 1980, em detrimento da perda de participação relativa do setor


industrial, o setor de serviços vem apresentando significativos ganhos de participação tanto no emprego
total como no Produto Interno Bruto (PIB) da economia, ao longo dos últimos anos vem se desenvolvendo
um acalorado debate sobre a possibilidade de o Brasil estar passando ou não por um processo de
desindustrialização. Fenômeno este que, na visão de uma grande parte da literatura heterodoxa brasileira
sobre o assunto, além de vir constituindo-se, no caso brasileiro, um fato nocivo para o desenvolvimento de
longo prazo da economia, estaria associado a um retorno da economia a uma pauta exportadora intensiva em
produtos-primários, de baixo valor agregado e com um perfil de demanda pouco dinâmica no mercado
mundial, dada a deterioração dos termos de troca desses produtos em relação àqueles produtos industriais
com maior conteúdo tecnológico e, assim, maior valor agregado.

O conceito clássico de desindustrialização foi definido por Rowthorn e Ramaswany (1999) como sendo
uma redução persistente – a partir de um certo elevado nível de renda per capita – da participação do emprego
industrial no emprego total do país ou região. Entretanto, mais recentemente, Tregenna (2009) redefiniu mais
amplamente o conceito de desindustrialização, colocando que a mesma seria uma situação na qual tanto o
emprego industrial como o valor adicionado da indústria se reduzem como proporção do emprego e do PIB
total da economia, respectivamente.

Nessa perspectiva, conforme coloca Rowthorn e Ramaswany (1999), a desindustrialização em


economias avançadas não necessariamente constitui um fenômeno negativo, sinônimo de destruição da
indústria ou de alguns dos seus setores mais importantes. Mas sim uma consequência “natural” do processo
de desenvolvimento exibido por seus países. Nesse contexto, dois fatores internos desempenham papel
fundamental no surgimento do processo de desindustrialização: a mudança na relação entre a elasticidade
renda da demanda por produtos manufaturados e serviços e o crescimento mais rápido da produtividade na
indústria do que no setor de serviços.

Deve-se frisar que a desindustrialização pode estar associada à chamada “doença holandesa”.
Considerando que este termo passou a ser utilizado pela literatura econômica para se referir à perda de
competitividade e regressão da diversificação industrial (em ramos intensivos em trabalho, capital e
tecnologia) da Holanda, em decorrência da apreciação cambial trazida, na década de 1970, pela descoberta e
exportação de gás natural explorado no Mar do Norte, Palma (2005) mostra que a abundância de recursos
naturais, por exemplo, numa determinada região ou país pode induzir a uma redução da participação da
indústria no emprego e no valor adicionado por intermédio da apreciação cambial, a qual resulta em perda de
competitividade da indústria e déficit comercial crescente da mesma.

Nesse sentido, conforme enfatizou Bresser Pereira e Marconi (2008), quando nos referimos a este
fenômeno, estamos falando de uma desindustrialização precoce e que, portanto, se apresenta como negativa
para o processo de crescimento e desenvolvimento econômico em sua totalidade, pois acaba estimulando
apenas os setores de menor conteúdo tecnológico.

A desindustrialização e o caso do Brasil

Conforme Oreiro e Feijó (2010), um dos primeiros estudos a apontar para a desindustrialização da
economia brasileira foi o de Marquetti (2002)7. Segundo este autor, como consequência do baixo
investimento realizado na economia e principalmente na indústria, o Brasil teria passado por um processo de
desindustrialização nas décadas de 1980 e 1990 tanto em termos da participação do emprego como da
participação no valor adicionado.

Fato este que, na visão de Marquetti (2002), seria essencialmente negativo sobre os prospectos de
crescimento da economia brasileira no longo prazo, haja vista que estaria associado à transferência de
recursos e de trabalho da indústria para setores com menor produtividade do trabalho.

Outro estudo que aponta a ocorrência de desindustrialização no Brasil é o de Palma (2005). Em vez de
um processo desencadeado pela descoberta de recursos naturais (como no caso clássico que afetou a Holanda
nos anos 1970), o Brasil e outros países da América Latina têm sido atingidos por uma nova “doença
holandesa” em decorrência de uma drástica mudança do velho regime de substituição de importações por
outro que, a partir da década de 1990, combinou liberalização comercial e financeira da economia com
políticas macroeconômicas que, em geral, mantém a taxa de câmbio real muito baixa.

Palma (2005) enfatizou que, como os países da América Latina foram atingidos pelas novas políticas
em um nível muito baixo de renda per capita, essas novas políticas também obstruíram a sua transição rumo
a uma forma de industrialização mais madura em termos de desenvolvimento tecnológico e, em
consequência, de exportações, por exemplo.
Cano (2012), também argumenta que o Brasil, ao longo dos últimos vinte anos, vem passando por uma
desindustrialização associado à presença de uma doença holandesa e, assim, a uma re-primarização da pauta
exportadora brasileira.

Essa tendência reflete também uma mudança de longo prazo na estrutura de consumo para o setor
de serviços, o que o sociólogo Domenico de Massi denominou sociedade pós- industrial. Além disso, é
verdadeira a afirmação de que o deslocamento da produção industrial para outras partes do mundo é uma
característica da atual fase do capitalismo globalizado.

No caso brasileiro, entretanto, o que chama a atenção é a ocorrência de uma desindustrialização


precoce, pois ela começou a ocorrer antes do país atingir a plenitude do seu desenvolvimento industrial.
Repare no gráfico que o auge da participação da indústria de transformação no PIB foi em meados da década
de 1980 (27,3%), quando vivíamos o ocaso do modelo de substituição de importações. A abertura comercial
e financeira dos anos 1990 iniciou o que se costuma chamar de fase neoliberal da economia brasileira,
reorganizando nossa produção industrial e alçando o setor financeiro-rentista como nova coalização
econômica dominante.

Quando ocorre uma diminuição contínua e por um longo tempo da participação da atividade industrial
no PIB de um país damos o nome de desindustrialização. Esse fenômeno também pode ser medido pela
participação do emprego industrial no total do
mercado de trabalho. No caso brasileiro, o país vem
se desindustrializando desde os anos 1990, como se
pode observar no gráfico a seguir.

É importante sublinhar que a desindustrialização


não é um fenômeno tipicamente brasileiro, pois ele
também é verificado nas economias centrais, como
a Inglaterra, França, Alemanha, Espanha e Estados
Unidos. No caso estadunidense, por exemplo, a
proporção do PIB gerado pela indústria de transformação caiu de 26% em 1960 para 19% em 1980 e 11%
em 2007.

Causas e Consequências da Desindustrialização

Apesar de ser uma tendência verificada nos demais países industrializados, como vimo acima, podemos
elencar alguns fatores que aceleraram a desindustrialização precoce brasileira, a saber:

• A abertura comercial com base na valorização monetária que vigorou por mais de vinte anos desde a

criação do Plano Real (1994). Setores mais frágeis da indústria, como têxtil, calçados, brinquedos,
eletrodomésticos e de peças e equipamentos foram expostos a um volume crescente de importados
(sobretudo asiáticos), o que provocou sérios prejuízos e falências.
• A política de estabilização econômica também contou com a elevação da taxa de juros, que dificultou

os investimentos na produção industrial. Os juros altos, como falado anteriormente, dificulta um


maior crescimento da economia.
• O Brasil sofre há décadas como problemas estruturais que encarecem a produção industrial, como a

elevada carga tributária sobre as empresas e a deficiente infraestrutura logística de transportes e


portuária. É o chamado “custo Brasil”, que torna nossa economia menos competitiva.

Como consequências da desindustrialização podemos citar o encolhimento do mercado de trabalho,


visto que há eliminação de empregos também nas atividades acima e abaixo na cadeia produtiva. Além disso,
boa parte da tecnologia produzida no setor industrial é difundida para outros setores da sociedade,o que
nos leva a crer que haja um prejuízo nos avanços tecnológicos. Temos também a reprimarização da economia
brasileira, que volta a ser quase exclusivamente baseada na exportação de commodities.

Material adaptado a partir das seguintes r eferências bibliográficas:

Freitas, Eduardo. A industrialização brasileira. Disponível em: <https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/>.


Acesso em 23/08/2019.

Rodrigues, Cryslãine Flavia da Silva Rodrigues; Filho, Ricardo Schmidt Filho. O Processo de Industrialização
Brasileiro: Repercussões e Perspectivas. XI Congresso Brasileiro de História Econômica.

Santos, Fabrício. O início da industrialização brasileira. Disponível em: < https://brasilescola.uol.com.br>.


Acesso em 23/08/2019.

Material didático “Geografia na Quarentena”. Colégio Pedro II – Campus Humaitá II. Atividades 5 a 8.
Professores: Scheuenstyhl, Bruno; Adiala, Cristiana; Amante, Fernanda e Vilela, Carolina. Disponível em:
http://www.cp2.g12.br/blog/humaitaii. Acesso em 14/04/2022.

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