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Industrialização brasileira

A industrialização do Brasil teve início no século XIX, com as indústrias têxteis,


que foram impulsionadas pela abertura dos portos e o aumento da produção de
algodão, devido à Guerra de Secessão dos Estados Unidos. É importante
ressaltar que, nesse século, a atividade agrária predominava com a produção
do café. Apenas no século XX, de fato, esse processo industrial se concretiza,
provocando de vez a Revolução Industrial do Brasil, transformando essa
atividade na mais importante no país até os dias atuais.
Cronologicamente, a história da indústria no Brasil pode ser dividida em quatro
fases.
Primeira fase (1500-1808)
Durante o período Colonial, Portugal impôs uma série de restrições à
implantação de atividades transformadoras no Brasil. Nesse período,
instalaram-se pequenas indústrias domésticas (fiação, calçados, vasilhames
etc.) e outras mais complexas, como as têxteis e de ferro. Esse processo
sofreu certa expansão até que, em 1785, D. Maria lhe assinou a Carta Régia,
proibindo a indústria têxtil no Brasil e desativando as já existentes. A partir
desse período, só foi possível o surgimento da agroindústria da
cana-de-açúcar, para que a atividade industrial no Brasil não concorra
diretamente com Portugal.
Segunda fase (1808-1930)
Em 1808, com a vinda da Família Real para o Brasil e a abertura dos portos,
foram revogadas as proibições coloniais relativas às atividades industriais no
Brasil. Entretanto, durante todo o século XIX, um conjunto de obstáculos
impediu o crescimento da indústria no país, enquanto a Inglaterra - a potência
da época - desenvolvia sua industrialização e buscava fontes de
matérias-primas e novos mercados consumidores para seus produtos
manufaturados sobretudo nos países colonizados ou dependentes, entre os
quais se incluía o Brasil. Além disso, a base escravista restringia o mercado
consumidor interno e a hegemonia política dos proprietários rurais determinava
uma política industrial muito tímida.
Assim sendo, a industrialização limitou-se a surtos promovidos por algumas
medidas isoladas. Em 1828, o Brasil começou a taxar em 15% as mercadorias
estrangeiras que entravam no país, e, em 1844, a Lei Alves Branco ampliou a
taxação para 30% e, em certos casos, para até 60%. Em 1850, com a proibição
do tráfico de escravos (Lei Eusébio de Queirós), parte dos capitais até então
investidos na compra de escravos tornam-se disponíveis e são parcialmente
aplicados em atividades industriais. Finalmente, a Guerra de Secessão nos
Estados Unidos (1861-1865) desorganizou a economia daquele país, abrindo
espaços para a ampliação da cultura do algodão e da indústria têxtil doméstica
no Nordeste do Brasil.
A economia cafeeira, que se consolidava em meados do século XIX,
proporciona novas condições para o desenvolvimento industrial, com a
ampliação do mercado interno (imigração e urbanização), a liberação de
capitais anteriormente imobilizados na compra de escravos, a integração de
mercados (ferrovias) e a ampliação da capacidade de importar equipamento
industrial (saldos comerciais).
Esse primeiro momento de expressiva industrialização inaugurou o processo
de substituição de importações. Desenvolveram-se, destacadamente, os ramos
ligados à produção de bens de consumo não duráveis - especialmente têxteis -
produtos alimentícios anteriormente importados.

Dentro dessa fase, o surto mais significativo de industrialização coincidiu com


os anos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Com a guerra, caíram
simultaneamente as exportações cafeeiras e as importações de bens não
duráveis e de maquinaria, pois os países produtores desviaram sua capacidade
de produção para armamentos e artigos de guerra. Os capitais em
disponibilidade foram atraídos para o investimento industrial, em uma
conjuntura marcada pela quase completa ausência da concorrência de
produtos estrangeiros.
Terceira fase (1931-1955)
A década de 1930 marcou uma passagem decisiva na história industrial
brasileira. De um lado, a depressão internacional aberta pela crise da Bolsa de
Valores de Nova Iorque, em 1929, proporcionou, internamente, condições
inéditas para a substituição de importações de bens não duráveis, e mesmo de
certos semimanufaturados, por produções nacionais. De outro, a Revolução de
30 operou uma mudança decisiva no plano da política interna, afastando do
poder do Estado as oligarquias tradicionais, representantes dos interesses
agrários e comerciais que emperravam a industrialização. O governo de Getúlio
Vargas adotou uma clara política industrializante, regulamentando o mercado
de trabalho urbano, limitando determinadas importações e, posteriormente,
dirigindo investimentos estatais para a indústria de base.
Esse período, considerado por muitos como a verdadeira Revolução Industrial
brasileira, assistiu à substituição da mão de obra imigrante pela nacional: o
êxodo rural do interior de São Paulo, provocado pela decadência cafeeira,
combinado com a chegada dos primeiros contingentes de nordestinos ao Rio
de Janeiro e a São Paulo, formou as bases de um mercado de trabalho
industrial realmente nacional.

Para prosseguir a substituição de importações de bens de consumo, tornava-se


indispensável que o país criasse um complexo de indústrias de base até então
quase inexistentes.
Em 1942, Vargas criou oficialmente a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e
um ano depois complementou aquela iniciativa com a formação da Companhia
Vale do Rio Doce, que iniciaria as explorações de minério voltadas ao parque
siderúrgico no Quadrilátero Ferrífero. Na década de 1950, foram criadas ainda
a Companhia Siderúrgica Paulista (COSIPA), em Cubatão, e a Usina
Siderúrgica de Minas Gerais (USIMINAS), em Ipatinga. Por meio do então
recém-constituído Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), o
Estado funcionava como financiador e sócio majoritário dessas empresas
mistas.
No setor energético, o intervencionismo estatal teve como marco a criação da
Petrobrás, em 1953, quinze anos depois da constituição do Conselho Nacional
do Petróleo. Com o estabelecimento do monopólio do setor de refino, a nova
empresa iniciou a montagem de um amplo parque de refinarias em diferentes
pontos do país. Também a produção de energia elétrica passou a preocupar o
Estado após a década de 1940, com a criação das Centrais Hidrelétricas do
São Francisco (CHESF) em substituição a diversas empresas estrangeiras
atuantes no setor. Nos anos 1950, foram criadas em Minas Gerais as
companhias Furnas e Centrais Elétricas de Minas Gerais (CEMIG) e, início da
década de 1960, foi construída em São Paulo a Companhia Energética de São
Paulo (CESP) e, em nível nacional, a Eletrobras, que atua como controladora
da produção energética no país. Quarta fase (1956-)
Com a instalação do governo Juscelino Kubitschek (1956-1960), consolidou-se
o desenvolvimento dos setores de energia, transportes, alimentação, educação
e indústria.
O Plano de Metas do governo JK tinha por finalidade acelerar o crescimento
econômico do país, implantando estabelecimentos industriais de grande porte
para gerar muitos empregos e, assim, dinamizando todo o processo.
O recurso empregado pelo governo de Kubitschek foi o de abrir as fronteiras à
livre entrada de capitais estrangeiros, criando incentivos cambiais, tarifários,
fiscais e creditícios que atraíram os investimentos, tanto sob a forma de
implantação industrial como de empréstimos financeiros.
No setor de bens duráveis, os investimentos voltaram-se principalmente para a
indústria automobilística, concentrada na região do ABCD paulista, e para a
indústria de equipamentos elétricos e eletrônicos. No setor de bens não
duráveis, os investimentos foram dirigidos para a indústria farmacêutica,
enquanto no setor de bens de produção, eles abrangeram desde a siderurgia
até a indústria química e a construção naval, implantada no Rio de Janeiro, a
partir de 1958, com a criação do Grupo Executivo da Indústria de Construção
Naval (GEICON).
Com a alteração política ocorrida em 1964 no Brasil, a internacionalização do
processo industrial se acentuou. A entrada cada vez mais numerosa de
empresas estrangeiras introduz no país novos hábitos de consumo,
intensificando a dependência econômica e tecnológica do Brasil em relação às
grandes potências.
A partir da década de 1990, ocorreram privatizações em vários setores, que
intensificaram a internacionalização da indústria brasileira.
Indústria nas regiões do Brasil
Região Sudeste
A industrialização do principal pólo do Sudeste, os estados de São Paulo,
desenvolveu-se a partir do maior polo industrial do país - a Grande São Paulo -
sobre quatro grandes eixos viários.
O eixo servido pelo sistema Anchieta-Imigrantes prolongou-se desde o ABCD -
formado pelos municípios de Santo André, São Bernardo do Campo, São
Caetano do Sul e Diadema, na Grande São Paulo - até os centros industriais
de Cubatão e Santos, na Baixada Santista. O ABCD é um centro poli-industrial,
onde se destacam a metalurgia, a indústria automobilística e de autopeças,
além da indústria de móveis.
Comparada com a indústria metalúrgica da cidade de São Paulo, a do ABCD
apresenta maior concentração de operários por estabelecimento,
principalmente em função da presença das grandes montadoras de
automóveis, núcleo do forte movimento sindical, característico da região.
A industrialização da Baixada Santista beneficiou-se da função portuária que
exerce e dos investimentos estatais ali aplicados. A hidrelétrica Henry Borden,
a refinaria Presidente Bernardes e a COSIPA funcionam como alavancas para
o desenvolvimento do forte setor químico e de fertilizantes (altamente
poluidores), além de inúmeras metalúrgicas.
Um segundo eixo industrial desenvolveu-se ao longo da Via Dutra, no Vale do
Paraíba, envolvendo centros como Mogi das Cruzes, Jacareí, São José dos
Campos e Taubaté. Pela localização, ligada aos mercados consumidores da
Grande São Paulo e Grande Rio, e, também, da proximidade com a
Companhia Siderúrgica Nacional (no Vale do Paraíba fluminense), foram
implantadas indústrias modernas e de alta capitalização. É o caso, por
exemplo, das montadoras de automóveis e das indústrias bélicas, situadas em
torno de São José dos Campos, que deram à região a alcunha de "Vale da
Morte".
O terceiro eixo de industrialização estende-se pela Via Anhanguera, hoje
complementada pela Rodovia dos Bandeirantes no trecho que vai até
Campinas. Nessa região, encontram-se centros poli-industriais de destaque,
como Jundiaí, Campinas e Ribeirão Preto, e alguns centros monoindustriais,
entre eles o de Franca (calçados) e o de Itu (cerâmica). Também nesse eixo
localizam-se as principais agroindústrias do estado, como as de cítricos e as de
álcool e açúcar.
O quarto eixo é formado pela Via Castelo Branco, cujo destaque é o centro
têxtil de Sorocaba.
No Rio de Janeiro, destacam-se as regiões industriais da Baixada Fluminense,
na Grande Rio, e da zona serrana, em cidades como Petrópolis e Nova
Friburgo. A primeira é um centro poli-industrial que abrange importante
aglomeração operária e onde se situa a refinaria de Duque de Caxias. Já a
segunda constitui um centro têxtil tradicional.
Em Minas Gerais, a industrialização beneficiou-se da estratégia seguida pelos
sucessivos governos estaduais de concessão de incentivos diversos para a
atração de investimentos industriais. Em torno da capital, implantaram-se
distritos industriais como Contagem e Betim.
Região Sul
Segunda região mais desenvolvida do país, a industrialização do Sul foi
bastante favorecida pela estrutura agrícola diferenciada da região e pela
imigração européia, que trouxe artífices e elementos qualificados. O maior
exemplo desse tipo de industrialização ocorreu no Vale do Itajaí (Santa
Catarina), onde se desenvolveu uma indústria têxtil inicialmente rudimentar,
mas que logo se capitalizou e expandiu suas atividades para todo o mercado
nacional. Joinville, Blumenau e Brusque são os principais centros têxteis aí
localizados.
Outros exemplos desse estilo de industrialização são a zona vinícola do Rio
Grande do Sul, formada pelas cidades de Caxias do Sul, Garibaldi e Bento
Gonçalves, e, também, as cidades de imigração alemã de São Leopoldo e
Novo Hamburgo, próximas a Porto Alegre, que constituem uma importante área
produtora de artefatos de couro e calçados.
Região Nordeste
O Nordeste possui indústrias modernas como resultado do planejamento
econômico governamental ou, mais diretamente, da estratégia de subsídios e
incentivos, apesar de ser uma região com grandes problemas econômicos e
sociais. Sua produção industrial foi inaugurada com a criação da
Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), em 1959. A
implantação de um setor hidrelétrico de porte na Bacia do Rio São Francisco e
a presença de mão de obra abundante e extremamente barata ajudaram a
atrair capitais do Centro-Sul, que se concentraram em atividades nas três
metrópoles: Recife, Salvador e Fortaleza.
No Nordeste, podem ser encontradas indústrias têxteis, mecânicas, elétricas,
automobilísticas, de informática, de papel e papelão, atendendo ao mercado da
própria região e à exportação, sendo o maior polo industrial o da Bahia, que
possui "ligação direta com o mercado consumidor da Região Sudeste.
Regiões Norte e Centro-Oeste
As duas regiões não têm participação marcante na indústria nacional e
caracterizam-se por apresentarem economias de base primária, como
extrativismo e agropecuária.
Na Região Norte, o processo industrial limita-se às indústrias de extração
mineral e à Zona Franca de Manaus. O processamento de minerais é feito
próximo a Belém, em Barcarena, onde se instalou uma unidade de produção
de alumina e outra de alumínio, do projeto Alunorte. Em Manaus, a criação da
Zona Franca provocou uma industrialização fundada em capitais internacionais
e unidades de montagem de eletroeletrônicos destinados a mercados
extrarregionais.
Na Região Centro-Oeste, os principais centros industriais são Goiânia, Brasília,
Anápolis, Corumbá e Campo Grande. A indústria extrativa está representada
em Corumbá, no Pantanal, com as explorações de ferro e manganês do
Maciço de Urucum. Nos demais centros, o processo industrial limita-se aos
bens de consumo, especialmente os bens não duráveis.
Veja a seguir as 50 empresas brasileiras mais valiosas até 2011:

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