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Descrição
Propósito
Compreender que os trabalhadores do setor industrial e o próprio setor transformam a sociedade brasileira.
Objetivos
Módulo 1
Módulo 2
Módulo 3
Introdução
Para introduzir a nossa discussão sobre o processo de industrialização brasileira ao longo do século
XX, vale citar a reflexão de Maria Antonieta Leopoldi, importante pesquisadora desse tema: “Durante
o período 1929-1987 o Brasil foi um dos países que mais cresceram em todo o mundo. Essa onda de
crescimento econômico já vinha desde o início do século XX, mas toma impulso no primeiro governo
Vargas, que realiza a difícil tarefa de responder às turbulências internas e externas e fazer desse
desafio um aprendizado para crescer de forma continuada” (LEOPOLDI, 2003, p. 243).
Eli Diniz segue a mesma direção argumentativa ao propor que “Podemos considerar os anos trinta
como importante etapa na definição dos rumos do capitalismo industrial no país, conservando-se, no
plano econômico, o deslocamento do eixo da economia do polo agroexportador para o polo urbano-
industrial e, no plano político, o esvaziamento da influência e do poder dos interesses ligados à
preservação da preponderância do setor externo no conjunto da economia” (DINIZ, 1981, p. 89).
Leopoldi e Diniz destacam a centralidade da Era Vargas (pós-1930) na construção de uma agenda
para o Estado brasileiro ao longo do século XX, no sentido de induzir um processo de
industrialização. É esse percurso que pretendemos desenvolver aqui.
1 - A industrialização em perspectiva
histórica
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer as características
da industrialização entre a Primeira República e a Era Vargas.
A conjuntura internacional adversa dificulta o ingresso de investimentos externos e reforça um giro para
dentro nacional, baseado na acumulação interna e na ação do Estado. Esse movimento, que impulsionou o
processo de industrialização, realizou-se por meio da conciliação de interesses de classe, em que a
exportação de produtos agrícolas, estimulada pelo Estado, garantiu o ingresso de divisas estrangeiras e a
aquisição de máquinas e equipamentos no exterior para implantação, manutenção e ampliação do parque
industrial.
Entre 1930 e 1954 ― a era Vargas ―, procurou-se estabelecer as determinações internas do processo
de industrialização, com a implantação pelo Estado do setor industrial de bens de produção e tendo
como base desse modelo a legislação sindical e trabalhista.
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Agroexportação
Por outro lado, atendia aos interesses dos setores agroexportadores mediante a construção e
ampliação dos transportes, vias de acesso e comunicação. E, politicamente, o Estado garantia a
manutenção da estrutura fundiária e das relações de produção no campo.
Na Ditadura Militar, o crescimento da economia, sustentado pelos elevados investimentos externos e pela
política de contenção salarial, não promoveu um processo de desenvolvimento autônomo em relação ao
capital externo e levou a uma intensa concentração de renda.
O quadro de profunda crise da economia brasileira nos anos 1980, marcado pelo fracasso dos planos
econômicos (Cruzado, Cruzado II, Verão e Bresser), abriu espaço para a vitória eleitoral de Fernando Collor,
em 1989, e, por consequência, do projeto que propunha a introdução da agenda conhecida como “Consenso
de Washington” no Brasil, ancorada em princípios neoliberais de enfraquecimento do papel do Estado na
economia.
Apesar do fracasso político de Collor, o que gerou seu impeachment, a posse de seu vice-presidente Itamar
Franco e a posterior vitória de seu ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, nas eleições para
presidente em 1994, não impuseram barreiras ao desenvolvimento do programa neoliberal.
Em síntese, pensando em uma perspectiva histórica, que teremos oportunidade de aprofundar nos próximos
módulos: enquanto a década de 1920 e a primeira metade da década de 1930, ainda marcada pelo modelo
agrário-exportador centrado no café, foram caracterizadas pelo predomínio do setor privado nos
investimentos da economia nacional, a ampliação da participação governamental no processo de
desenvolvimento industrial teve início a partir da Era Vargas, permanecendo com força até a década de
1970, durante o governo Geisel. A década de 1980, porém, foi marcada pela reversão de tal tendência: as
eleições de Collor, em 1989, e depois de Fernando Henrique Cardoso, em 1994, levaram à implementação
das reformas neoliberais no Brasil, cujo eixo girava em torno da redução da atuação estatal na
industrialização e no processo econômico como um todo.
O café e a indústria
Até a década de 1920, os interesses da cafeicultura e do Estado brasileiro pareciam se confundir. Em 1922,
com a inflação em alta, o país foi atingido por uma crise fiscal, e as contas públicas não apresentavam saldo
positivo. Essa conjuntura econômica desfavorável repercutiu nas exportações do café. Diante do
desequilíbrio financeiro, o Estado brasileiro contraiu empréstimos no exterior para equilibrar seu orçamento.
Todavia, o déficit persistia, e o Estado brasileiro precisou recorrer a medidas como a emissão de moeda ou,
ainda, a colocação de títulos da dívida pública no mercado. Os estados cafeicultores saíram em defesa do
seu produto, entretanto, para garantir o preço do café diante da ameaça de superprodução, era necessário
que os estoques excedentes fossem comprados, o que, na prática, significava mais gastos públicos. A
manutenção desse patamar de produção levou à superprodução, agravada com a crise mundial de 1929. As
políticas econômicas do governo Vargas, após a Revolução de 1930, responderam a esse contexto.
Sacas de café.
Déficit
Quando as despesas são maiores que a receita.
Assim, os trabalhadores procuraram se organizar, sendo a greve seu principal instrumento de ação política,
com a realização de comícios e a formação de entidades que defendessem seus interesses.
A expectativa positiva com que o regime republicano brasileiro foi recebido pelo movimento operário foi
rapidamente transformada em desilusão, uma vez que a República Oligárquica se mostrou incapaz de
responder às demandas por igualdade de direitos. Ao longo da Primeira República, esse desencantamento
suscitou variadas propostas e ações voltadas para o reconhecimento de direitos vinculados à condição
operária: organização em sindicatos, ligas e associações; manifestação das suas ideias e dos seus valores
por meio da imprensa; constituição de espaços de sociabilidade e educação, como teatro e escola próprios;
e, principalmente, a luta pelo estabelecimento de um conjunto de leis que garantisse condições dignas de
trabalho.
Saiba mais
A despeito das divergências de métodos, o movimento priorizou a luta pelos direitos sociais:
estabelecimento de jornada máxima de trabalho semanal, férias remuneradas, regulamentação do trabalho
feminino e infantil e salários dignos eram as suas principais reivindicações. Durante boa parte da Primeira
República, essas reivindicações foram, em grande medida, desconsideradas pelo empresariado e pelo
governo. Greves e manifestações dos trabalhadores foram duramente reprimidas: prisões arbitrárias,
fechamento de associações, deportação dos estrangeiros e desterro dos nacionais para a Amazônia eram
medidas usuais dos governantes.
Em 1920, o valor da produção industrial chegou a um quarto do valor da produção agrícola e o operariado já
se constituía como um grupo social relevante para a sociedade brasileira. Os estabelecimentos industriais
concentravam-se no Rio de Janeiro e em São Paulo, mas já se espalhavam pelo país afora. Nesse quadro,
com o crescimento, a diversificação e o fortalecimento do movimento operário, o empresariado e o governo
não podiam simplesmente ignorar as suas demandas. Mesmo recusando atender às reivindicações, as
lideranças empresariais passaram a discuti-las. E isso repercutiu no programa de organizações partidárias
como a Reação Republicana e a Aliança Liberal.
O Congresso Nacional debateu e aprovou, em 1925, a Lei de Férias, que estabelecia 15 dias de férias anuais,
e o Código de Menores, em 1927. Essas duas leis trabalhistas seguiram-se à aprovação de uma medida
previdenciária, a Lei das Caixas de Aposentadorias e Pensões, em 1923. Apesar de votadas, aprovadas e até
mesmo regulamentadas, essas duas leis trabalhistas não foram efetivamente cumpridas pelos
estabelecimentos comerciais e industriais até 1930.
Crianças trabalhando em fábrica de sapato no início do século XX.
Era Vargas
O Conselho Nacional de Café (CNC), criado em 1931, e o Departamento Nacional do Café (DNC), seu
substituto dois anos mais tarde, fizeram valer a direção centralizadora em relação à política cafeeira, com
um grau significativo de autonomia do governo em relação aos grupos diretamente interessados. No médio
prazo, a política foi bem-sucedida: a produção foi normalizada em 1937, e o café brasileiro tornou-se
competitivo em relação ao colombiano, principal competidor internacional. Nessa ocasião, o governo
resolveu liberar os controles estabelecidos tanto para a produção como para as taxas de câmbio e os
impostos. As medidas de liberalização, porém, duraram pouco tempo, pois o início da Segunda Guerra
Mundial, em 1939, ensejou novas restrições.
Tal como ocorreu com o café, o governo Vargas criou agências voltadas para a regulamentação e o controle
de várias atividades agrícolas e extrativas, em suas diferentes fases de produção e comercialização. Alguns
desses órgãos seguiam um padrão corporativo, isto é, admitiam em suas composições representantes dos
grupos privados diretamente interessados, ao lado dos técnicos e funcionários do Estado; outros não.
Destacaram-se o Instituto do Açúcar e do Álcool, criado em 1933, o Instituto do Mate, em 1938, o Instituto
do Sal, em 1940, e o Instituto do Pinho, em 1941 (DINIZ, 1981).
É possível identificar nesse contexto um processo de diversificação industrial motivada por incentivos
estatais. O dinamismo da industrialização na década de 1930 é tributário de uma base industrial
preexistente, constituída ao longo da Primeira República. Entretanto, a expansão nos anos 1930 não tinha
precedentes: dos quase 50 mil estabelecimentos industriais existentes no país, segundo o Censo Industrial
de 1940, cerca de 35 mil foram fundados depois de 1930, ou seja, 70% dos estabelecimentos eram recentes.
Saiba mais
A exemplo do sucedido com o setor agrícola, a concessão de incentivos à indústria privada e a criação de
condições infraestruturais para a industrialização ficaram a cargo de um conjunto de agências estatais
como a Comissão de Similares, criada em 1934, o Conselho Técnico de Economia e Finanças, em 1937, o
Conselho Nacional de Petróleo, em 1938, o Conselho de Águas e Energia, em 1939, a Comissão Executiva do
Plano Siderúrgico Nacional, em 1940, a Comissão de Combustíveis e Lubrificantes e o Conselho Nacional de
Ferrovias, ambos em 1941, além da constituição, durante o Estado Novo, das estatais Companhia
Siderúrgica Nacional (1941), Companhia Vale do Rio Doce (1942) e Companhia Nacional de Álcalis (1943).
A partir dessas experiências, suscitadas originalmente com a Crise de 1929 e a recessão internacional nos
anos 1930, iniciou-se um debate sobre planejamento econômico e planificação nacional. Em 1934, foi criado
o Conselho Federal de Comércio Exterior (CFCE), primeiro órgão do país voltado para o planejamento
estatal; em 1943, o Conselho Nacional de Política Industrial e Comercial (CNPIC); e, no ano seguinte, a
Comissão de Planejamento Econômico (CPE). Ao longo de todo o período do governo Vargas, no interior
desses órgãos ocorreram acirrados debates envolvendo representantes do empresariado agrícola,
comercial e industrial, consultores técnicos e funcionários ministeriais.
Governo Vargas
Durante todo o período e, especialmente, no Estado Novo (1937-1945), o Estado foi permeável às pressões dos
grupos sociais organizados — empresários, militares, sindicalistas, diplomacia internacional — que disputaram
entre si para o atendimento de suas demandas. Em particular, cabe ressaltar a consolidação de uma geração de
industriais que soube tirar proveito a partir dos novos arranjos políticos corporativos. A exploração dos recursos
naturais extraídos do solo brasileiro e a produção industrial em larga em escala faziam parte da meta
econômica de desenvolvimento, incorporando interesses de diversas classes, como empresários e
trabalhadores, atuando sob a mediação do Estado.
Filinto Müller, Góes Monteiro, Getúlio Vargas, Valdemar Falcão, Benedito Valadares e Israel Pinheiro (da esquerda para a direita), 1938. São
Lourenço (MG).
No intuito de viabilizar a expansão industrial, o Estado manteve os produtos industriais nacionais protegidos
da livre concorrência por meio do controle de importações. A desvalorização da moeda, o mil-réis, resultou
no redirecionamento da demanda nacional para a produção doméstica. Os setores industriais mais
dinâmicos foram o têxtil, o químico, bem como os de papel, cimento, aço e pneus. No ano de 1939, 99% do
ferro gusa consumido no Brasil eram da indústria nacional, assim como 85% do cimento.
Burguesia industrial
A participação na defesa e organização de seus interesses já vinha se pavimentando desde os anos 1920,
em resposta às novas demandas sociais oriundas da complexificação política e econômica.
A partir dessas ações específicas, seria possível a elaboração de um discurso próprio, servindo de base para
um programa industrialista a ser implementado pelo Estado.
Nos anos 1930, edificou-se um modelo de atuação do Estado em face da industrialização: ação
regulamentadora do Estado sobre a atividade econômica e o estabelecimento de um padrão de
financiamento público. Em outras palavras, o Estado é convocado para construir as condições básicas para
o crescimento industrial, no que tange ao estabelecimento de uma indústria pesada (na qual o capital
privado nacional não tinha condições de alocar recursos próprios em função dos altos custos) e de uma
infraestrutura basilar para esse desenvolvimento. É nesse contexto que a discussão sobre o petróleo, a
siderurgia e a energia elétrica emerge como primaz na agenda política brasileira.
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A industrialização brasileira até os anos
1930
Neste vídeo, o doutor Daniel Pinha traz esclarecimentos sobre características da industrialização entre a
Primeira República e a Era Vargas, fala acerca da centralidade do café e da classe operária e, ainda, aborda
os impactos percebidos atualmente pelas escolhas do modelo de industrialização dos anos 1930.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Questão 1
(PELÁEZ, C. M.; SUZIGAN, W. História monetária do Brasil. Brasília, DF: Universidade de Brasília, 1981.
Adaptado.)
D o domínio da política por setores sociais ligados aos padrões da economia colonial.
O Brasil é um país historicamente agroexportador, tendo ainda hoje fortes características herdeiras
dessa questão. Nossa industrialização veio a reboque de ações e dinâmicas internacionais. O comando
é reconhecer as particularidades da industrialização brasileira, dessa forma, o controle imperialista era
da industrialização e não das matérias-primas. Em um país de tradição escravocrata e vocação de
receber imigrantes, a mão de obra nunca foi um problema, mercados emergentes não têm padrões de
luxo, e a economia já não era colonial há muito tempo.
Questão 2
(FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1997. Adaptado.)
Outra característica a ser reconhecida são as ações do Estado brasileiro em meio às crises
internacionais, aos quadros de guerra e à crise da produção industrial em 1929. Destaca-se no governo
de Vargas a organização de uma política industrial, dirigida e trabalhada para o fim. Não somos
mercados, não revimos nossas estruturas aristocráticas, e mão de obra imigrante não responde à
questão, e é de fato parte da política dirigida que é tratada.
2 - Industrialização - motor do
desenvolvimento: de Vargas a JK
Ao final deste módulo, você será capaz de analisar o programa nacional
industrializante de desenvolvimento no contexto político entre os anos
1930 e 1950.
Segundo Leopoldi (2003), o crescimento industrial registrado principalmente no triênio 1933-1936 se daria
basicamente pelo resultado da conjugação de alguns fatores, veja quais foram:
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Ampliação do processo de substituição de
importações
O primeiro deles é motivado pela conjuntura externa de crise e brusca desaceleração da economia mundial
no imediato pós-1929.
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Reação das políticas governamentais
Em segundo lugar, a pronta resposta dada pelas políticas governamentais ao choque externo sofrido pela
economia brasileira.
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Necessidades setoriais ganham espaço na cena
política
E, por fim, a existência de demandas setoriais que ganhavam espaço na cena política brasileira e que
gradativamente foram incorporadas pelo Estado.
Além de um programa industrialista sendo gerido por lideranças desses segmentos, merece destaque
também o papel dos militares, que passaram a postular a criação de uma infraestrutura mínima no país,
para servir de base ao desenvolvimento industrial em curso e vista como condição elementar para
manutenção da soberania nacional.
O debate acerca dessas questões ultrapassaria os limites da mera discussão técnica e ganharia contornos
eminentemente políticos. Em outras palavras, era preciso construir um consenso na sociedade brasileira e
na base política do Estado para que essas questões pudessem se transformar em políticas públicas efetivas
(LEOPOLDI, 2003).
A demanda crescente por aço esbarrava na incapacidade de o setor privado supri-la. Os militares, nesse
sentido, viriam a adquirir papel de protagonistas na elaboração de uma efetiva proposta que demandasse
uma atuação estatal nessa atividade.
Em 1940, ao mesmo tempo em que Vargas tentava estabelecer acordos com os EUA (país que possuía uma
crescente demanda por minério de ferro e aço) para possíveis parcerias com o capital estrangeiro, foi criada,
pelo Decreto-Lei nº 2.054, a Comissão Executiva do Plano Siderúrgico, encarregada de fazer os estudos e
organizar uma companhia nacional de siderurgia.
Veja o cenário:
Por outro lado, mostrava a capacidade de influência desses segmentos perante o establishment
varguista, tendo em vista a efetiva participação de figuras proeminentes, lideranças intelectuais
orgânicas desses dois setores.
Sem dúvida, o ano divisor de águas para a definição das políticas para o setor foi o de 1940. No bojo das
discussões realizadas por essa comissão e a partir dos entendimentos entre o governo brasileiro e o
governo americano (por meio do Eximbank – Banco de Exportação e Importação), surgiu a decisão de se
construir uma usina siderúrgica estatal de grande porte.
Comentário
O governo americano abriria uma linha de crédito de 20 milhões de dólares, e a contrapartida brasileira seria
de 25 milhões, provenientes de várias fontes — depósitos das cadernetas de poupança em bancos públicos,
fundos de pensão e aposentadoria e ações do Tesouro (LEOPOLDI, 2003; MARTINS, 1976). O local escolhido
para a instalação da usina, a cidade de Volta Redonda (RJ), ocorrera pela necessidade de se estabelecer um
complexo de indústrias de base no eixo Rio–São Paulo, principal polo urbano-industrial do país.
A consolidação do acordo para a construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em março de 1942,
deu-se no contexto de imediata definição da entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial (após o ataque
japonês à base naval de Pearl Harbor, no Pacífico). Nesse sentido, a diplomacia econômica brasileira soube
explorar as condições que levaram à entrada dos EUA no conflito, explorando os interesses econômicos e
militares americanos no campo de batalha. A promessa de um fornecimento constante de minerais
estratégicos para os EUA e a autorização para estabelecimento de bases militares no Nordeste brasileiro
foram condições colocadas pelo governo dos EUA e prontamente aceitas.
Construída ao longo da Segunda Guerra Mundial, a Siderúrgica Nacional só passou a operar no máximo da
sua capacidade produtiva em 1948. A CSN foi o último empreendimento significativo do primeiro período
Vargas e o símbolo de um projeto nacional desenvolvimentista que incluiu uma tácita aliança entre Estado,
industriais e militares. De fato, consolidava-se um modelo de acumulação capitalista que, malgrado a
atuação do capital privado nacional em diversos setores, consolidava o Estado como grande agente indutor
das opções de desenvolvimento adotadas no período.
Posse de Juscelino Kubitschek como presidente da República e de João Goulart como vice, em 1956.
Apesar dos percalços atravessados entre a vitória eleitoral e a efetiva posse, o governo JK foi, certamente,
um período de estabilidade política, combinada a um processo de crescimento econômico. A partir de um
quadro social e político tenso e com interesses divergentes, conciliou o processo democrático e a
intensificação do desenvolvimento do tipo capitalista e industrial.
Não é por mero acaso, portanto, que a Era JK tenha recebido, posteriormente, o adjetivo de "anos dourados",
servindo, dessa forma, de modelo para vários políticos, defensores da ordem política e democrática no
Brasil — ainda que não tenha conseguido superar ou mitigar assimetrias sociais e incorporar amplos
segmentos sociais à cidadania (MOREIRA, 2003).
Em linhas gerais, o governo JK fez-se sob o signo do binômio
crescimento/desenvolvimento industrial. Embora tal objetivo fosse consensual
entre os diversos atores sociais e políticos que compunham a cena brasileira, a
forma como o desenvolvimento nacional deveria ser alcançado era o que estava
efetivamente em disputa.
Todo esse desenvolvimento foi definido a partir do Plano de Metas, que priorizou a substituição de
importações nos setores de bens de capitais e, principalmente, bens de consumo duráveis.O Estado,
especialmente por meio do BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico), continuou a financiar
grande parte das indústrias de base, por meio de novas emissões de moedas ou de empréstimos externos.
Já o setor de bens de consumo duráveis desenvolveu-se a partir da internacionalização da economia, e para
isso utilizou a Instrução 113 da Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC), baixada no início de
1955, no curto governo Café Filho (1954-1955), que garantia a importação de máquinas e equipamentos no
exterior, sem impostos ou cobertura cambial, desde que os empresários estrangeiros tivessem sócio
nacional.
Dessa maneira, realizou-se a abertura do mercado nacional para as grandes empresas estrangeiras, que
passaram a investir maciçamente no Brasil com a disponibilidade de capitais. Assim, os EUA e as nações
europeias retomavam a expansão imperialista. A Europa Ocidental e o Japão recuperavam-se dos prejuízos
causados pela Segunda Guerra Mundial, como resultado do Plano Marshall e outros investimentos
realizados pelos EUA. O governo Kubitschek soube aproveitar a nova conjuntura econômica internacional,
com maior disponibilidade de capitais e a retomada da disputa por mercados pelas empresas das
economias centrais. Assim, as reticências e as condições impostas pelos americanos à cooperação para o
desenvolvimento industrial brasileiro podiam ser agora contornadas com essas novas parcerias, ávidas por
oportunidades de investimentos rentáveis.
Tendo como base a política econômica construída por Getúlio Vargas e a massa crítica da Comissão
Econômica das Nações Unidas para a América Latina (Cepal), Juscelino Kubitschek inovou no
gerenciamento da economia brasileira, lançando seu Plano de Metas. Um plano que deveria realizar “50
anos em 5”, e cuja meta síntese era a construção da nova capital no planalto central ― Brasília. O maior
dinamismo da economia brasileira no período pode ser constatado por meio de alguns números:
Produção de cimento
Foram produzidas 914 mil toneladas em 1947 e 4,6 mihões de toneladas em 1961,
alcançando-se a autossuficiência.
Produção de aço
A produção em lingotes passou de 1,4 milhão de toneladas em 1956 para 2,7 milhões de
toneladas em 1962.
Política desenvolvimentista
lightbulb
Energia
train
Transportes
food_bank
Alimentação
construction
Indústria de base
Seus objetivos principais eram enfrentar os pontos de estrangulamento da economia por meio de
investimentos do Estado em infraestrutura, expandir a indústria de base, bem como desenvolver a indústria
automobilística, incentivando investimentos privados nacionais e estrangeiros, principalmente.
A inflação voltou a crescer e, apesar dos investimentos públicos no setor de serviços, as cidades não
estavam preparadas para o crescimento, pois atraíam milhares de migrantes.
A política para o setor agrário caracterizou-se pela manutenção do modelo tradicional. A concentração
fundiária manteve-se e foi menos questionada, uma vez que toda a discussão econômica passou a se
basear no desenvolvimento industrial.
Dessa maneira, os financiamentos tradicionais garantiram a manutenção do latifúndio, ao mesmo tempo em
que a não existência de uma nova política para o campo garantia o fluxo constante de mão de obra barata,
expulsa do campo e atraída pelas novas oportunidades nas grandes cidades.
Para conduzir sua política econômica, Juscelino implantou a administração paralela. Esta consistia em
órgãos vinculados diretamente à presidência que agiam com mais independência e agilidade, contornando
as dificuldades do processo legislativo. Dentre eles, assumiram destaque o Grupo Executivo de Maquinaria
Pesada (Geimape), o Grupo Executivo para a Indústria Automobilística (Geia) e o Grupo Executivo para a
Construção Naval (Geicon). O conhecimento técnico desses agentes era aliado à representação de
interesses empresariais, constituindo uma interlocução privilegiada com o Executivo e a implementação de
seus projetos.
Atenção!
A partir de 1956, com o modelo de desenvolvimento sugerido pelo Plano de Metas de JK, houve um evidente
deslocamento na ênfase desse debate, uma vez que a participação do capital estrangeiro se tornou uma
realidade concreta. A questão da participação do capital estrangeiro na promoção do desenvolvimento
nacional ocupava, naquele momento, papel de destaque.
Nacionalismo e desenvolvimento
Não havia, nos anos 1950, somente um, mas vários nacionalismos, pluralidade esta que se devia às
diferentes elaborações intelectuais, assim como às práticas políticas específicas dos vários segmentos
sociais e seus interesses particulares (FONTES; MENDONÇA, 1988). A “corrente vitoriosa” dentre essas
diversas elaborações, no governo JK, foi aquela que girava em torno do chamado “nacional-
desenvolvimentismo”, que apregoava a participação do capital estrangeiro na economia brasileira,
submetido, entretanto, aos marcos regulatórios estabelecidos pelo Estado. Nesse contexto, foram
importantes os diagnósticos oferecidos pelo pensamento econômico estruturalista da Cepal acerca do
problema do subdesenvolvimento brasileiro, além da atuação do Iseb para elaboração de uma ideologia
orientadora da perspectiva de desenvolvimento que se tornara predominante.
Cepal
Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe. “A Cepal é uma das cinco comissões regionais das
Nações Unidas e sua sede está em Santiago do Chile. Foi fundada para contribuir ao desenvolvimento
econômico da América Latina, coordenar as ações encaminhadas à sua promoção e reforçar as relações
econômicas dos países entre si e com as outras nações do mundo. Posteriormente, seu trabalho foi ampliado
aos países do Caribe e se incorporou o objetivo de promover o desenvolvimento social.” (CEPAL, 2021, n. p.).
seb
Instituto Superior de Estudos Brasileiros. “Instituição cultural criada pelo Decreto nº 37.608, de 14 de julho de
1955, como órgão do Ministério da Educação e Cultura. Gozando de autonomia administrativa e de plena
liberdade de pesquisa, de opinião e de cátedra, destinava-se ao estudo, ao ensino e à divulgação das ciências
sociais, cujos dados e categorias seriam aplicados à análise e à compreensão crítica da realidade brasileira e à
elaboração de instrumentos teóricos que permitissem o incentivo e a promoção do desenvolvimento nacional.
Desapareceu em 1964.” (ABREU, s. d., n. p.).
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Industrialização motor do
desenvolvimento: de Vargas a JK
Neste vídeo, o doutor Daniel Pinha fala sobre os impactos atuais das decisões tomadas ao longo das
políticas de soberania nacional, CSN, Anos JK e 50 anos em 5.
Questão 1
O processo de JK tem relação direta com a influência das grandes empresas internacionais, reduzindo a
ação governamental e focando a infraestrutura para difundir os novos valores.
Questão 2
(Fuvest - SP/2017) O período que vai de 1956 a 1967 é considerado como a primeira fase da
industrialização pesada no Brasil.
Sobre as características da industrialização brasileira no período de 1956 a 1967, é correto afirmar que
partiu do Estado brasileiro, de caráter fortemente centralizador e nacionalista, a criação
A das condições para a nascente indústria têxtil que se instalava no país, por meio de
diversos incentivos e isenções fiscais.
trata-se de uma fase marcada pela política de “substituição de importações”, uma vez
D
que se deu um incremento da indústria nacional, pela abundância de mão de obra.
A lógica estrutural é de formular um ideal de novo Brasil mais plural e tentar que os movimentos Rio-
São Paulo possam se expandir para demais eixos.
3 - A política industrial: da Ditadura
Militar aos anos 1990
Ao final deste módulo, você será capaz de examinar as variações
econômicas brasileiras e sua relação com a industrialização dos anos
1970 até 1990.
Milagre econômico
Um segundo, no início do governo Médici, sob o comando do ministro Delfim Neto, alterou
profundamente a condução da política econômica, por meio do chamado “milagre
econômico”. Em que pese a prosperidade do período 1968-1973, as frágeis bases do
desenvolvimento abriram espaço para a crise, desencadeada no governo Geisel.
Década perdida
Anos 1980
Um terceiro momento tinha início, assim caracterizado pela grave crise da economia brasileira
que deixou como herança o descontrole dos anos 1980, em outras palavras, a “década
perdida”.
Logo após o golpe, iniciou-se o programa de estabilização e reformas pelo ministro do Planejamento,
Roberto Campos, e pelo ministro da Fazenda, Octavio Gouvêa de Bulhões, que lançou as bases para um
novo ciclo de acumulação capitalista no Brasil. Algumas dessas reformas fizeram parte do Plano de Ação
Econômica do Governo (Paeg), que havia sido discutido e elaborado em parte nos círculos do Ipes antes do
golpe. O Paeg pretendia devolver ao país o crescimento da segunda metade dos anos 1950; pôr fim à
inflação anual de três dígitos; corrigir o déficit externo; equilibrar as contas públicas; reduzir desigualdades
regionais e sociais; e gerar empregos.
O Paeg incluiu uma reforma tributária, que criou impostos sobre valor agregado (ICM e IPI) e universalizou o
imposto de renda. O aumento dos impostos reduziu substancialmente o déficit público de 1964 a 1966.
Outras medidas foram a unificação da Previdência, com a criação do Instituto Nacional de Previdência
Social (INPS); a criação de um mercado para títulos da dívida pública e da correção monetária; a criação do
Banco Central (inicialmente com independência, depois retirada pelo presidente Costa e Silva); o fim da
estabilidade de emprego aos 10 anos de trabalho, substituída, como “mecanismo de proteção ao
trabalhador”, pelo Fundo de Garantia do Tempo de Trabalho (FGTS); e o lançamento das cadernetas de
poupança e do financiamento da casa própria em larga escala, com a fundação do Banco Nacional da
Habitação (BNH) e o Sistema Financeiro da Habitação (SFH).
Logomarca do INPS.
Essas medidas resultaram em forte capitalização do Estado, na alavancagem das empresas e numa intensa
rotatividade de mão de obra, e ainda viabilizaram o período de acelerado crescimento econômico a partir de
1968, conhecido como “milagre econômico”.
Entre 1968 e 1973, sobretudo no governo Médici, ainda com Delfim à frente da
economia, o país cresceu em média 12% ao ano. Houve o estímulo à atividade
econômica, como a expansão do crédito — incluindo, especificamente, o crédito ao
consumidor —, baixas taxas de juros e redução de compulsórios.
Destaca-se o desempenho do setor de bens de consumo duráveis, como eletrodomésticos e carros, que
cresciam de 20% a 25% ao ano. Uma iniciativa importante do governo foi a criação da Embrapa e as
medidas de apoio ao setor agrícola, que acompanharam a fase inicial do plantio de soja no Brasil,
modernizando setores agrícolas tradicionais e lançando as bases dos complexos agroindustriais (CAIs).
Além disso, ocorreram grandes obras para o “Brasil Grande”: a Transamazônica e a Ponte Rio-Niterói. Apesar
da economia aquecida, a inflação caiu no período, saindo de 25% em 1968 para 16% em 1973.
Delfim Netto.
"É preciso fazer o bolo crescer para depois dividi-lo". A frase do então ministro da Fazenda Delfim Netto é,
até hoje, uma das mais lembradas da Ditadura Militar. O bolo cresceu, mas não foi dividido: entre 1968 e
1973, o Brasil cresceu acima de 10% ao ano, mas, em contrapartida, o salário mínimo ― que vinha
recuperando o poder de compra nos anos 1960 ― perdeu com o golpe.
PND
Indústrias básicas
Grande ênfase nas indústrias básicas, notadamente no setor de bens de capital, e de eletrônica pesada,
assim como no campo dos insumos básicos, a fim de substituir importações e, se possível, abrir novas
frentes de exportação.
Setor energético
No setor energético, optou-se por uma aceleração dos investimentos de prospecção, principalmente na
bacia de Campos (RJ), e na execução de um programa de elevação de 60% da capacidade geradora de
energia hidroelétrica, que viabilizaria a expansão da produção e da exportação de bens, como o alumínio,
produzidos com intenso consumo de energia.
Tecnologia termonuclear
Os órgãos de implementação dessa política foram o Conselho de Desenvolvimento Industrial (CDI), o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), o Conselho de Política Aduaneira, a Carteira de Comércio
Exterior (CACEX) do Banco do Brasil e o Conselho Interministerial de Preços (CIP).
Sede do BNDES, Rio de Janeiro.
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Exportações
Atenção!
A economia brasileira experimentou, após longo período de crescimento, uma profunda recessão no início
dos anos 1980, que culminou com uma queda de cerca de 10% no produto industrial em 1981. Pela primeira
vez após a Segunda Guerra Mundial o PIB teve um declínio real de 4,3%.
A nova configuração que as políticas públicas irão assumir, desde então, toma como elementar ponto de
referência as diretrizes elaboradas pelo economista John Williamson na reunião na cidade de Washington,
no ano de 1989, na qual foram traçados os caminhos que os países da América Latina deveriam trilhar.
Segundo o próprio economista, o grande consenso pode ser sistematizado em três planos:
Ordem macroeconômica
É requerido um rigoroso esforço fiscal que passa por um programa de reformas
administrativas, previdenciárias e fiscais, além de um corte violento nos gastos públicos.
Ordem microeconômica
Passa pela necessidade de desonerar fiscalmente o capital (desoneração fiscal, flexibilização
dos mercados de trabalho, diminuição da carga social com os trabalhadores, diminuição dos
salários) para que ele possa aumentar sua competitividade no mercado internacional,
desregulado e aberto.
Novo modelo
Desmonte radical do modelo anterior (Estado interventor).
Assim, nos anos 1980 e começo dos anos 1990, a conjuntura brasileira constituiu-se em um fértil terreno
para a pregação do ideário neoliberal. A crise econômica, a crise de legitimidade e os movimentos de massa
deram a tônica à chamada “abertura”. Estavam desenhadas, então, as condições para que a agenda
neoliberal apresentada fosse vista como a única solução para a crise. Segundo Francisco de Oliveira (1996),
o processo de dilapidação do Estado brasileiro que teve início ainda durante a Ditadura e prosseguiu sem
interrupções no governo Sarney terá papel decisivo para a consolidação do cenário para a penetração da
ideologia neoliberal: o binômio hiperinflação/desqualificação da ação política e dos espaços públicos como
agentes promotores do bem-estar social.
Programa neoliberal
Assim que toma posse no dia 15 de março de 1990, Collor põe em marcha um conjunto de reformas que
tem origem na constatação do esgotamento financeiro do Estado e na necessidade de redução do déficit
público. O “enxugamento” da máquina estatal a partir da redução de um número significativo de órgãos e a
diminuição de custos constituíram-se em objetivos de reforma administrativa.
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Fiscal
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Patrimonial
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Administrativa
No dia seguinte à posse, medidas de choque para tentar controlar a inflação são tomadas: o cruzeiro retoma
sua posição de moeda oficial; os saques da poupança, do overnight e das contas correntes são reduzidos ao
máximo de Cr$ 50 mil, ficando o saldo restante retido pelo Banco Central pelo prazo de dezoito meses; os
aumentos dos preços são proibidos; é adotado o câmbio flutuante; foram extintos 24 organismos estatais e
autárquicos, destacando-se entre eles, a Siderúrgica Brasileira (Siderbrás), o Instituto do Açúcar e do Álcool
(IAA) e o Instituto Brasileiro do Café (IBC).
A despeito do confisco da poupança, os preços de alguns produtos congelados começam a ser liberados já
a partir de maio, mesmo momento em que o governo anuncia a meta de 360 mil demissões no
funcionalismo público — das quais efetivamente somente em torno de 10 mil ocorreram. Esse pacote ficou
conhecido como Plano Collor.
O projeto político-econômico, apresentado por Fernando Collor de Mello em seu discurso de posse no
Congresso Nacional, tinha como ponto central a ideia de “reconstrução nacional”.
Para tal, o então eleito presidente propunha a redução das áreas de atuação do Estado, o controle sobre a
inflação, a defesa da economia de mercado, a redução dos gastos públicos e o equilíbrio orçamentário.
No discurso de posse, em 15 de março de 1990, Fernando Collor já deixou clara a sua orientação
econômica:
Entendendo assim o Estado não como produtor, mas como promotor do bem-
estar coletivo. Daí a convicção de que a economia de mercado é a forma
comprovadamente superior de geração de riqueza, de desenvolvimento
intensivo e sustentado. [...] Não abrigamos, a propósito, nenhum preconceito
colonial ante o capital estrangeiro. Ao contrário: tornaremos o Brasil, uma vez
mais, hospitaleiro em relação a ele […] Não nos anima a ideia de discriminar
nem contra nem a favor dos capitais externos, mas esperamos que não falte
seu concurso para a diversificação da indústria, a ampliação do emprego e a
transferência de tecnologia em proveito do Brasil. Em síntese, essa proposta de
modernização econômica pela privatização [...] é a esperança de completar a
liberdade política, reconquistada com a transição democrática, com a mais
ampla e efetiva liberdade econômica.
Governo FHC
Assim como Collor, Cardoso também configura seu programa de governo em torno do diagnóstico da
falência do modelo de Estado nacional-desenvolvimentista. Embora constate ter havido o crescimento da
economia, a estruturação de um importante parque industrial e o aumento da capacidade competitiva das
exportações brasileiras no período que se estendeu entre 1930 e 1980, para Fernando Henrique Cardoso o
nacional-desenvolvimentismo deixou profundas sequelas para a sociedade brasileira:
A partir desse diagnóstico, as principais propostas de governo de Fernando Henrique Cardoso giravam em
torno da implementação do projeto de um novo modelo de desenvolvimento que tem como pontos centrais:
a reconstituição do esquema de financiamento do desenvolvimento, a eleição da geração de empregos
como a forma mais efetiva e duradoura de distribuição de renda, e o fortalecimento do poder político
decisório.
Marcaram esse período os embates em torno do processo de privatização,
principalmente da Companhia Vale do Rio Doce e do sistema de Telecomunicações,
as disputas internas ao grupo responsável pela condução da política econômica e,
principalmente, os embates em torno da aprovação das emendas constitucionais
que viabilizariam a implementação das propostas governamentais.
Enviado ao Congresso em fevereiro de 1995, o pacote foi aprovado em 15 de agosto. Tomando como ponto
de partida a redefinição do conceito de empresa nacional e tendo como prioridade reordenar o Estado,
nessa primeira rodada de reformas “abria-se a exploração de gás natural aos capitais privados, mediante
concessão; quebrava-se o monopólio estatal das telecomunicações; permitia-se a navegação de cabotagem
por navios de qualquer bandeira e propunha-se o que eu chamei de ‘flexibilização’ do monopólio do petróleo,
ou seja, sem privatizar a Petrobras, promover a concorrência da estatal com outras empresas, nacionais e
estrangeiras, nas atividades de exploração, importação e refino” (CARDOSO, 2006, p. 452-453).
Desse pacote, somente o item referido à “flexibilização do monopólio do petróleo” teve sua aprovação
postergada. Os problemas e as crises ocorridas no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso não
inviabilizaram o projeto de sua reeleição, que acabou por ser vitorioso, dando-lhe a possibilidade de outro
quadriênio na condução política do governo brasileiro.
Analisando documentos
Leia, atentamente, a “Carta Testamento” publicada na ocasião do suicídio de Getúlio Vargas em 1954.
Voltei nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais
aliou-se à dos grupos nacionais [...] Quis criar a liberdade nacional na
potencialização de nossas riquezas através da Petrobras; mal ela começa a
funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobras foi obstaculada até o
desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo
seja independente.
Réplica da Carta Testamento de Getúlio Vargas na Praça Julio de Castilhos, em São Jerônimo, Rio Grande do Sul.
E o discurso de posse de Fernando Henrique Cardoso na ocasião de sua reeleição presidencial em 1999.
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Industrialização e política nas décadas de
70, 80 e 90
Neste vídeo, o doutor Daniel Pinha traz esclarecimentos sobre a industrialização brasileira e a política entre
os anos 1970 e 1990.
Questão 1
(FEI - SP/2000) A Ditadura Militar no Brasil começou a ser abalada quando o modelo de
desenvolvimento econômico começou a dar sinais de esgotamento. Além de problemas inerentes ao
modelo, um fator externo foi fundamental para a crise. Esse fator foi
A a Guerra do Vietnã.
B a Guerra Fria.
Partindo de uma divisão histórica das funções no mercado e nos empréstimos estrangeiros para a
industrialização, a Ditadura sofre um duro golpe com a questão do petróleo pela dificuldade brasileira
de prospecção e refino. Os demais conflitos ou se relacionam de forma genérica, como a Revolução
Islâmica e a Guerra Fria, ou são posteriores, como a invasão do Kuwait.
Questão 2
Não é novidade que, a partir do momento em que a neoliberalização foi violenta e repentinamente
imposta em partes do sul global, nas décadas de 1970 e 1980, seja por conquista imperial, golpes de
Estado internos, exigência do Fundo Monetário Internacional (FMI) ou alguma combinação destes, o
trabalho foi amordaçado e o capital, posto à solta. [...] De um lado, as indústrias estatais são
privatizadas, proprietários estrangeiros são atraídos, a retenção de lucros é assegurada; de outro, as
greves são criminalizadas e os sindicatos, limitados, por vezes até declarados ilegais.
A lógica de não intervenção e valorização de livre mercado contra as barreiras de proteção levam à
discussão sobre o papel do Estado e sua necessidade de se retirar das questões de mercado, por isso,
a lógica não é de defesa, direitos, criminalizações, mas a simples lógica de que o Estado precisa
diminuir para ser autossuficiente e não atrapalhar ou fragilizar o que é uma definição de mercado.
Considerações finais
A industrialização brasileira é tardia, tendo sido o Brasil um premente fornecedor de produtos naturais ou
agrícolas. Ainda que surtos industriais tenham aparecido no século XIX, a industrialização brasileira é fruto
da República.
Diante do contexto internacional, o Brasil posicionou-se com uma forte atuação do Estado durante o
governo Vargas, Kubitschek e a Ditadura, que apesar das divergências apontam para o papel do Estado,
mudando quem são os parceiros.
Com a redemocratização e a mudança da ótica do mercado mundial, nossa indústria entrou em forte crise e,
considerando seus potenciais e suas dificuldades, pode-se dizer que se encontra abalada até os dias atuais.
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Podcast
Neste podcast, o doutor Rodrigo Santos Rainha faz uma revisão sobre os tópicos mais importantes do tema.
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Assista aos seguintes filmes:
Leia:
O discurso de posse de Getúlio Vargas em 1930, disponível no site da Biblioteca da Presidência da
República.
A entrevista de Shoshana Zuboff, filósofa e professora emérita da Harvard Business School, intitulada
Shoshana Zuboff: “O neoliberalismo destroçou tudo. Temos que começar do zero”, disponível no site El
País Brasil.
Acesse:
Referências
ABREU, A. A. de. Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB). In: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Acervo
CPDOC. Rio de Janeiro: FGV; CPDOC, s. d. Consultado na internet em: 2 fev. 2022.
CASTRO, A. B. de; SOUZA, F. A economia brasileira em marcha forçada. São Paulo: Paz e Terra, 1985.
DINIZ, E. O Estado Novo: estrutura de poder. Relações de classe. In: FAUSTO, B. História Geral da Civilização
Brasileira. São Paulo: DIFEL, 1981, p. 77-120.
FONTES, V. M.; MENDONÇA, S. R. de. História do Brasil recente: 1964-1980. São Paulo: Ática, 1988.
MARTINS, L. A expansão recente do Estado no Brasil: seus problemas e seus atores. Rio de Janeiro: IUPERJ;
Paris: CNRS, 1976, p. 217.
MELO, F. C. Discurso pronunciado por Sua Excelência, o senhor Fernando Collor, presidente da República
Federativa do Brasil na cerimônia de posse no Congresso Nacional em 15 de março de 1990. Consultado
na internet em: 5 dez. 2021.
OLIVEIRA, F. O primeiro ano do governo Fernando Henrique Cardoso (debate). Novos Estudos CEBRAP, n.
44, mar. 1996.
VARGAS, G. Carta Testamento. Rio de Janeiro, 23 ago. 1954. Consultado na internet em: 1 dez. 2021.
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