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PERÍODO DEMOCRÁTICO
O PANORAMA ATUAL E A
AS IDEIAS NEOLIBERAIS E A NOVA DESINDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA
Durante a maior parte do século XX, assistimos a um aumento
CONCEPÇÃO SOBRE O ESTADO da participação da indústria no PIB brasileiro, com destaque para
O neoliberalismo é uma releitura da doutrina econômica o período de substituição de importações, que ocorreu de 1930 a
liberal, que considera que o mercado deve servir de base para 1985. Aproveitando-se do cenário externo do pós-Segunda Guerra
a organização da sociedade. Esta ideologia nasce como uma Mundial (1939-1945), marcado pelo forte crescimento da indústria
crítica teórica e política às ideias keynesianas e aos defensores da e da economia no mundo, o país implementou duas grandes
intervenção do Estado na economia. Um dos textos precursores políticas industriais capazes de alterar a estrutura fabril doméstica:
da ideologia neoliberal foi Friedrich Hayek, que em 1944 escreveu o Plano de Metas (1956-1961) e o II PND (1974-1979). Assim, o
“O caminho da servidão”, livro com fortes críticas ao Partido processo de industrialização ganhou força com a instalação das
Trabalhista inglês. fábricas de bens de consumo duráveis, bens de capital, insumos
Contudo, a disseminação das ideias neoliberais se fortalece básicos e energia. Em consequência disso, entre 1952 e 1985
apenas a partir dos anos 1970, através do economista Milton o peso da indústria na economia brasileira saiu de 11,4% para
Friedman e dos demais teóricos da Escola Monetarista de 21,8%, muito por conta das intensas transformações estruturais
Chicago, que defendiam o livre funcionamento do mercado, sem planejadas e fomentadas pelo Estado.
controles inibidores do Estado, como um caminho para superar No entanto, após esse período de pujança, a economia mundial
a crise de 1973. Segundo eles, isso promoveria o aumento da passou por turbulências que influenciaram negativamente o
produção, geração de emprego e de renda, proporcionando efeitos crescimento da indústria, incluindo a segunda crise do petróleo
socioeconômicos positivos. (1979), o aumento das taxas de juros dos EUA, a escassez de
O neoliberalismo propõe uma valorização da competição entre créditos baratos no mercado internacional, a crise de endividamento
pessoas e da liberdade de comércio, ao mesmo tempo em que defende externo e hiperinflação dos países latino-americanos, bem como
a desregulamentação da economia (controles públicos menos rígidos as crises financeiras nos países emergentes nos anos 1990.
das atividades econômicas) e a privatização das empresas estatais Logo, pode-se dizer que a década de 1980 marca uma mudança
como as usinas de energia, as indústrias de base, a construção e de características na economia mundial, que dentre outras
consequências, reduziu o peso e a participação da atividade Dessa forma, a indústria brasileira experimentou uma sutil
industrial não apenas na economia brasileira, mas no mundo retomada do crescimento da década de 2000 graças à combinação
inteiro, num processo conhecido como desindustrialização. de quatro fatores:”
Não à toa, a partir de 1985 observa-se uma queda da indústria • Cenário externo favorável (ligado ao crescimento da
de transformação na economia nacional perante outros setores, economia chinesa e ao superciclo das commodities).
tendo atingido o patamar de apenas 11,4% do PIB em 2015. Ainda • Ambiente político interno estável.
que considerada a indústria total, constituída pela indústria de
transformação, pela indústria extrativa mineral e pelos serviços • Políticas de incentivo à indústria.
industriais de utilidade pública (SIUP, formado pelos fornecimentos • Ampliação do mercado doméstico (influenciado pelas
de água, eletricidade etc.), o índice atinge apenas 19,9% do PIB. políticas de transferência de renda; pelos baixos índices de
desemprego; e pela estabilidade da moeda).
Fonte: Panorama da Indústria de Transformação Brasileira. 11ª edição, 28 de setembro de 2016. Elaboração: DEPECON/FIESP
Nota: Neste gráfico, produzido pela FIESP, o ano de 1964 é destacado como sendo o do início do “Regime Militar”, que deu início a um “Período Militar” que durou até 1985. Contudo,
em gráfico idêntico publicado no ano anterior (com dados de 2014), a FIESP havia chamado esses dois momentos de “Golpe Militar” e “Ditadura Militar”. Logo, nota-se que, por alguma
razão, a FIESP escolheu mudar os termos utilizados para se referir ao período imediatamente posterior à derrubada do governo de João Goulart, em 1964.
e aprofundada em 2009, na Europa, atingiram em cheio a indústria, encarecido os produtos brasileiros no exterior e facilitado a entrada
cuja participação na economia passou a cair vertiginosamente. de produtos estrangeiros, além de dificultar um planejamento de
O frágil desempenho do setor ficou evidente após a crise, pois longo prazo por parte dos empresários industriais. Por fim, mas
a demanda por produtos manufaturados brasileiros diminuiu não menos importante, vale a pena destacar que a elevada taxa
nos principais mercados de exportação, como Europa e Estados de juros no país desestimula projetos de expansão e melhorias de
Unidos, afetados diretamente pela turbulência internacional. eficiência, já que capitais que poderiam ir para o setor produtivo
Na época, o câmbio também se valorizou e elevou a perda de acabam sendo injetados no mercado financeiro, em busca de uma
competitividade do setor, pois com o real valorizado, não só as rentabilidade mais alta.
exportações foram prejudicadas, como também os produtos
importados (principalmente os chineses) passaram a invadir o país
e a competir deslealmente com os produtos nacionais. ESTRUTURA E DISTRIBUIÇÃO
Com efeito, nos últimos sete anos (2011-2017), a indústria DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
brasileira passou por um forte declínio, mesmo com os A abertura do mercado brasileiro iniciada entre o fim dos
investimentos e as políticas de incentivo realizadas pelo governo. anos 1980 e o início dos anos 1990 promoveu um ganho de
Os problemas do setor se aprofundaram ainda mais a partir de produtividade para empresas brasileiras, através da entrada de
2015, em virtude da crise que atingiu quase todas as atividades máquinas modernas e do aumento da capacidade de competição
da economia nacional e promoveu uma brusca queda na demanda no mercado internacional. Além disso, a concorrência estrangeira
doméstica. Causada principalmente pela piora no cenário induziu à melhora da qualidade dos produtos brasileiros e permitiu
econômico internacional, pelo alto endividamento do setor público a redução de preços em determinados bens de consumo.
e por uma grave crise política que afetou o nível de confiança e
Contudo, o custo desta medida foi elevado, já que ainda que
de investimentos privados na economia, a crise brasileira veio
tenha forçado as empresas a produzir melhor, a rápida abertura
acompanhada de uma desvalorização da moeda nacional – o que
eliminou as menos eficientes e que não estavam preparadas
pode, entretanto, incentivar as exportações e ajudar na recuperação
para concorrência externa, promovendo uma grande expansão
do mercado exterior para a indústria brasileira.
do desemprego e levando à diminuição do peso da indústria
Sendo assim, dentre os principais fatores que dificultam o na economia nacional – ou seja, a uma desindustrialização. A
crescimento da indústria nacional, destacam-se: quebradeira de fábricas nacionais ocorreu principalmente nos
• Infraestrutura deficiente. setores de calçados, têxteis e brinquedos, que se viram incapazes
• Câmbio excessivamente valorizado (principalmente entre de concorrer com os produtos oriundos da China, cujos custos de
2011 e 2014). produção são muito menores em virtude dos elevados subsídios
do governo local à exportação e aos salários extremamente baixos.
• Entraves burocráticos.
A indústria automobilística foi outra a sofrer grandes mudanças
• Elevada carga tributária. com a abertura econômica brasileira. Até o fim dos anos 1980,
• Juros acima da média mundial. apenas os estados de São Paulo e Minas Gerais possuíam fábricas
Tais fores diminuem a competitividade da indústria de de automóveis. A partir dos anos 1990 e 2000, houve uma grande
transformação instalada no país, que, ao ser exposta a uma ampliação do número de fábricas, acompanhada de uma dispersão
concorrência cada vez mais intensa com as empresas do exterior, espacial. Diversas montadoras estrangeiras abriram filiais de
acaba reduzindo sua produção, geração de emprego e renda. empresas no Brasil, dentre as quais podem ser citadas: Honda,
Toyota, Renault, Peugeot, Citroën, Mercedes-Benz, Mitsubishi,
Nissan, Suzuki e Chery, o que ajudou o Brasil a, em 2015, alcançar
PONTOS POSITIVOS E NEGATIVOS a 8ª posição entre os maiores fabricantes de veículos no mundo.
Houve também a expansão fabril de empresas que já atuavam no
PARA A INDÚSTRIA BRASILEIRA Brasil, exemplificada pela construção das novas fábricas da Ford
Dentre os fatores que têm alavancado a indústria nacional, em Camaçari (BA) e da GM em Gravataí (RS).
destaca-se a expansão do mercado consumidor interno, o que
foi intensificado principalmente nos anos 2000, em virtude do Estados com presença de indústrias
crescimento da economia brasileira e das políticas de transferência automobilísticas (2015)
de renda que aumentaram o poder de consumo da população
brasileira. Cabe citar também o aumento do volume de produtos
industrializados na pauta de exportações, ainda que em ritmo
mais baixo que o dos produtos primários. Além disso, a melhora
na qualidade dos produtos e o aumento da produtividade industrial
são aspectos que se destacam positivamente. Por sua vez, é
preciso saber que os desafios enfrentados pelo setor industrial
incluem a baixa produtividade, resultado de uma série de fatores.
Em primeiro lugar, destacam-se negativamente os problemas de
logística, já que o precário sistema de transportes nacional provoca
alto custo no deslocamento de mercadorias. Logo, com ferrovias
insuficientes e rodovias em más condições,
mesmo que haja eficiência dentro da fábrica, a mesma será
atrapalhada pelos custos logísticos.
Ademais, a baixa qualificação da força de trabalho, a
elevada e complexa carga tributária e o insuficiente investimento
público e privado em ciência e tecnologia também prejudicam a
competitividade de nossos produtos, tanto no mercado interno
quanto no exterior. Pode-se apontar também a existência de
barreiras tarifárias e não tarifárias impostas por outros países,
principalmente desenvolvidos, à importação de produtos
brasileiros. As variações do câmbio nacional também têm
Até 1990, somente dois estados possuíam fábricas de nas estratégias de sobrevivência, não mais restritos aos grandes
automóveis. Atualmente, a indústria está presente em todas as aglomerados urbanos.
regiões do país – Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte. Em OLIVEIRA, L. A. P.; OLIVEIRA, A. T. R. Reflexões sobre os deslocamentos populacionais
2015, 11 estados (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2011 (adaptada).
Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Ceará, Amazonas
e Pernambuco) e 40 municípios contavam com fábricas do setor, A redefinição dos fluxos migratórios internos no Brasil, no período
sendo muitas delas fora do tradicional eixo SP-RJ-MG. apontado no texto, tem como causa a intensificação do processo de
a) descapitalização do setor primário.
Guerra Fiscal - Disputa entre os estados e municípios b) ampliação da economia informal.
na busca por atração de indústrias através da oferta de c) tributação da área residencial citadina.
incentivos fiscais como isenção ou redução de impostos d) desconcentração da atividade industrial.
para atrair grandes empresas que buscam locais com mão
de obra mais barata, sindicatos menos organizados e solo e) saturação da empregabilidade no setor terciário.
urbano mais barato. Essas características que visam baratear
o custo de produção são encontradas geralmente distantes 02. (USP) A desconcentração industrial verificada no Brasil, na
das regiões industriais tradicionais. última década, decorre, entre outros fatores, da
a) Ação do Estado, por meio de políticas de desenvolvimento
regional, a exemplo da Zona Franca de Manaus.
Portanto, pode-se afirmar que a desconcentração industrial b) Elevação da escolaridade dos trabalhadores, o que torna
brasileira é uma realidade, uma vez que há unidades fabris de todo território nacional atraente para os novos investimentos
grande porte em todas as regiões do país. Contudo, é importante industriais.
saber que o eixo industrial da região Sudeste continua a ser o
c) Presença de sindicatos fortes nos estados das regiões Sul e
mais importante. Como exemplo, cabe citar que das 65 unidades
Sudeste, o que impede novos investimentos nessas regiões.
industriais do setor de automóveis registradas no país, 24 se
concentram no estado de São Paulo. Assim, pode-se falar de uma d) Isenção fiscal oferecida por vários Estados, associada à baixa
desconcentração industrial concentrada. remuneração da mão de obra local.
e) Globalização da economia que, por meio das privatizações,
Desconcentração espacialmente concentrada - Diversos induz o desenvolvimento da atividade industrial em todo
autores afirmam que a desconcentração produtiva observada território.
na Região Metropolitana de São Paulo desde os anos 1980
estaria ocorrendo fundamentalmente para áreas próximas, 03. (USP) Considere as afirmações abaixo sobre os polos
com fábricas se deslocando em direção a municípios do tecnológicos no Brasil.
interior do Estado. Ademais, afirma-se que a desconcentração I. Os polos tecnológicos concentram as atividades de pesquisa e
seria setorialmente limitada, insuficiente para alterar os desenvolvimento de tecnologias de ponta.
padrões nacionais de distribuição das atividades produtivas,
II. Os polos tecnológicos concentram atividades industriais que
e que haveria uma tendência de reconcentração de outros
independem de outros setores da economia.
setores. Dessa forma, haveria uma desconcentração
espacialmente concentrada, na qual São Paulo manteria as III. O principal polo tecnológico do país é a Zona Franca de Manaus,
atividades intensivas em conteúdo tecnológico e financeiro, devido à presença de várias incubadoras tecnológicas.
se fortalecendo como centro de comando e de serviços. IV. Os principais polos tecnológicos do Estado de São Paulo se
Desconcentração Industrial no Brasil - A tendência localizam na Capital, em São José dos Campos, Campinas e
vista no Brasil, comum em outros países durante a segunda São Carlos.
metade do século XX, é a de migração de fábricas em Está correto o que se afirma em:
direção a cidades médias que apresentam boa condição
a) I e II. c) I e IV. e) II e IV.
de infraestrutura. O resultado desse processo é de que em
tais localidades ocorre um crescimento populacional e b) I e III. d) II e III.
econômico muitas vezes superiores ao de áreas industriais
tradicionais, como a Região Metropolitana de São Paulo 04. (USP) Desempenho industrial estadual - Taxas anuais reais de
(Desmetropolização). Todas essas mudanças possibilitam a crescimento
produção industrial espacialmente fragmentadas.
EXERCÍCIOS
PROPOSTOS
01. (ENEM) O fenômeno da mobilidade populacional vem, desde
as últimas décadas do século XX, apresentando transformações
significativas no seu comportamento, não só no Brasil como (Fonte: IBGE, 2007.)
também em outras partes do mundo. Esses novos processos
se materializam, entre outros aspectos, na dimensão interna, Com o auxílio do gráfico e considerando seus conhecimentos, é
pelo redirecionamento dos fluxos migratórios para as cidades possível afirmar que, no período representado,
médias, em detrimento dos grandes centros urbanos; pelos a) A região Sul mostra sensível decréscimo das taxas de produção
deslocamentos de curta duração e a distâncias menores; pelos industrial, fato que provoca êxodo da população em busca de
movimentos pendulares, que passam a assumir maior relevância emprego nas atividades agrárias.
GABARITO
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
01. D 03. C 05. C 07. D 09. B
02. D 04. E 06. B 08. B 10. E
ANOTAÇÕES