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OPERAÇÕES UNITÁRIAS

PARA TÉCNICOS EM
PETRÓLEO
OPERAÇÕES UNITÁRIAS PARA TÉCNICOS EM
PETRÓLEO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA

SETOR DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

ORGANIZAÇÃO:
Alberto Tadeu Martins Cardoso
AUTORIA:
Diego Rafael Santos
Guilherme Vaz da Silva
João Augusto Cruz
Kimberly Pasqualin
COLABORAÇÃO:
Giselle Munhoz Alves
Guilherme Vaz da Silva
Isabel Romero Grova Wutkiewicz
REVISÃO E ATUALIZAÇÃO:
Alexandre Soloviev
André Henrique da Rocha Moreira
Andréia Tavares Espenchitt
Annelorie Mattar Knesebeck
Bruna Ricetti Margarida
Daniel Biacchi Pereira
Frederico Augusto Schmidlin
Gabriel Souza Bonaroski
Isadora Caroline Sebben
Lais Caroline Hatsumi Tamada
Leticia Gonçalves
Luis Felipe Mendes Bússola
Luiza Pivatto
Luana Izidio Flores
Mariana Marques da Cunha
Mateus Oltramari Toledo
Thales Schmitt Kovara
Yuri Farion

CURITIBA
2020

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GLOSSÁRIO
𝜶𝑨𝑩 Volatilidade relativa
𝒙 Fração molar
 densidade 𝒙 Fração molar líquidos
 viscosidade 𝒚 Fração molar gases
𝝂𝒊 Coeficiente estequiométrico da espécie química 𝑖 𝒀(𝑷/𝑨) Rendimento do produto desejado 𝑃
𝚫 Variação com relação ao reagente 𝐴
D diâmetro 𝒁 altura (cota)
𝒇𝒊 Fração de conversão da espécie química 𝑖
g aceleração da gravidade
g fase gasosa (gás)
𝑯 Entalpia
𝑯 head da bomba
𝑳 Calor latente de vaporização
𝒍 fase líquida (líquido)
𝒍𝒘 perda de carga
𝑴 𝒐𝒖 𝒎 Massa
𝒎̇ Vazão mássica
𝒏𝒊 número de mols da espécie química 𝑖
𝒏̇ 𝒊 Vazão molar da espécie química 𝑖
𝑷 Pressão
PV ou 𝑷𝒔𝒂𝒕 Pressão de vapor
𝑸 Calor
𝑸̇ vazão volumétrica
Re Númeo de Reynolds
s fase sólida (sólido)
𝑺(𝑷/𝑽) Seletividade do produto desejado 𝑃 com relação ao indesejado 𝑉
𝑻 Temperatura
𝑻𝑹 ponto triplo
𝒕 Tempo
𝒗 velocidade
V volume
𝒘 Fração mássica
𝑾 Trabalho

3
SUMÁRIO
AULA 1: Introdução às operações unitárias................................................................................................4

AULAS 2 e 3: Balanço de massa......................................................................................................................10

AULA 4: Sistemas de reatores.........................................................................................................................16

AULA 5: Fluidos.....................................................................................................................................................26

AULA 6: Balanço de energia em tubulações e bombas.........................................................................33

AULA 7: Separação gás/gás..............................................................................................................................40

AULA 8: Operações com sólidos.....................................................................................................................44

AULA 9: Separação de sólidos de líquido/gases.....................................................................................50

AULA 10: Separação líquido/líquido...........................................................................................................58

AULA 11: Noções de termodinâmica...........................................................................................................62

AULA 12: Troca térmica....................................................................................................................................72

AULA 13: Destilação simples...........................................................................................................................82

AULA 14: Destilação fracionada.....................................................................................................................88

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AULA 1
INTRODUÇÃO ÀS OPERAÇÕES UNITÁRIAS

INTRODUÇÃO química nas substâncias envolvidas, até que se atinja a


qualidade do produto final.
Nesta aula você aprenderá o que são os Os processos industriais são representados em
processos industriais e as operações unitárias, será esquemas chamados fluxogramas de processo. Nestes
apresentado aos fluxogramas de processo e conhecerá a esquemas, cada operação unitária é representada por
diferença entre operação em processo contínuo e um desenho simplificado do equipamento que a realiza,
descontínuo. Na segunda parte da aula, será abordada a tornando fácil a sua identificação.
conversão de base mássica para molar, sendo definidos Um exemplo de processo muito importante para
os conceitos de fração mássica e molar e também sua profissão é o refino de petróleo. Este processo
teremos uma revisão sobre conversão de unidades ocorre em unidades chamadas refinarias, que são
simples e compostas. plantas muito grandes onde o petróleo bruto é
convertido em uma grande quantidade de produtos:
O QUE SÃO AS OPERAÇÕES UNITÁRIAS? GLP, gasolina, diesel, querosene, nafta, gasóleo,
lubrificantes, asfalto e ainda outros. Muitas operações
Neste curso estudaremos as operações unitárias unitárias estão envolvidas nesta transformação, das
que compõe os processos industriais, portanto, quais as principais são: dessalinização (isto é, remoção da
precisamos primeiro saber o que são os processos água e de sais), aquecimento e destilação. Muitas
industriais e as operações unitárias. reações também são conduzidas nesta indústria, como o
Basicamente, um processo é um encadeamento craqueamento catalítico e o hidrotratamento. Você
de operações que serve para transformar uma estudará estas operações e reações a fundo mais para
determinada matéria-prima, que é a base do processo frente em seu curso. Na Figura 1.1 você pode ver um
produtivo, em um produto, que tem maior valor fluxograma da destilação de petróleo (destilação em três
agregado do que a matéria-prima inicial, e que será estágios); note como os fornos e destiladoras são
utilizado em outro processo ou consumido diretamente representados e que as correntes de processo são
por nós. Um processo industrial ocorre em uma planta representadas por retas que interligam os
industrial (fábrica, indústria) e as operações de equipamentos. Fisicamente, estas retas são as
modificação das matérias-primas são realizadas em uma tubulações por onde os fluídos são movimentados.
grande gama de equipamentos.
Neste momento você deve ter uma visão
abstrata de um processo. Vamos tentar tornar as coisas
mais claras. Por exemplo, se você já fez um suco de
laranja em sua casa, você já realizou um processo.
Primeiro, porque nesta atividade você transformou uma
matéria-prima, a laranja, em um produto, o suco, que
será consumido por você. Segundo, porque para chegar
ao seu objetivo você teve que passar por várias
operações: catar as laranjas, verificar se estavam boas,
lavá-las, cortá-las, espremê-las, diluir o suco adicionando
água e adoçar. O suco de laranja também é produzido
industrialmente, porém em escala muito maior, com as Figura 1.1 - Fluxograma da destilação de petróleo. VAZ, G.
operações sendo feitas por equipamentos e com a
adição de algumas outras etapas. Processo Descontínuo, Semibatelada e
Cada uma destas etapas isoladamente é
Contínuo
chamada de uma OPERAÇÃO UNITÁRIA. Todos os
Um processo descontínuo ou em batelada é
processos industriais são feitos de operações unitárias e
usado para processar uma dada quantidade de material
reações, encadeadas entre si, cada uma delas
a cada vez que é operado. Inicialmente o material a ser
respondendo por uma dada transformação física ou

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AULA 1
INTRODUÇÃO ÀS OPERAÇÕES UNITÁRIAS

processado é alimentado ao sistema. Depois que o


processamento do material se completou, os produtos 𝑚𝑖
𝑤𝑖 =
são removidos. Processos em batelada são usados em 𝑚𝑇
pequenas industriais ou para processar, por exemplo,
produtos de química fina, produtos sazonais ou por Exemplo 1. Uma solução contém as espécies A e B, sendo
encomenda, pois o processo permite um maior controle 462 g de A e 750 g de B. Qual a composição mássica desta
de qualidade e permite que a industria produza uma solução?
maior variedade de produtos.
Um exemplo de equipamento com operação em 𝑚𝐴 462 𝑔 𝑔 𝑑𝑒 𝐴
𝑤𝐴 = = = 0,381
batelada são alguns tipos de moinhos (equipamentos 𝑚 𝑇 462 𝑔 + 750 𝑔 𝑔 𝑑𝑒 𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜
que moem partículas sólidas transformando, por
exemplo, pedras britas em pó). Neles, a carga de sólidos 𝑚𝐵 750 𝑔 𝑔 𝑑𝑒 𝐴
𝑤𝐵 = = = 0,619
é alimentada e o equipamento é fechado e ligado. 𝑚 𝑇 462 𝑔 + 750 𝑔 𝑔 𝑑𝑒 𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜
Esperam-se alguns minutos e só então abre-se o
equipamento retirando os sólidos moídos. A solução é composta por 38,1% de A e 61,9% de
Nos processos em semibatelada o material é B, em base mássica.
inserido continuamente na planta, porém não sai. O
produto é retirado apenas ao término do processo. Um • Fração molar (𝒙𝒊 ):
exemplo deste tipo de processo é aquele em que uma Considerando uma espécie 𝑖 em uma solução
massa de líquido é alimentada em um reator e gás é com mais de uma componente, a fração molar de 𝑖 nesta
borbulhado durante certo tempo através do líquido. Ao solução é definida como:
final, a passagem de gás é interrompida e o líquido
retirado do reator. 𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑚𝑜𝑙𝑒𝑠 𝑑𝑒 𝒊
𝑥𝑖 =
Nos processos contínuos o material entra e sai 𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑚𝑜𝑙𝑒𝑠 𝑑𝑎 𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜
do sistema sem interrupção. Processos contínuos são
economicamente vantajosos principalmente em 𝑛𝑖
𝑥𝑖 =
unidades de grande escala. Isto ocorre devido a maior 𝑛𝑇
produtividade do equipamento que opera
continuamente e do consequente menor preço unitário Exemplo 2. Uma solução contém as espécies A, B e C,
do produto. sendo 1 mol de A, 5 mol de B e 3 mol de C. Qual a
As destiladoras que processam petróleo operam composição molar desta solução?
continuamente: petróleo é alimentado continua e
permanente no equipamento ao mesmo tempo em que 𝑛𝐴 1 𝑚𝑜𝑙
𝑥𝐴 = =
os derivados são retirados da unidade. 𝑛 𝑇 1 𝑚𝑜𝑙 + 5 𝑚𝑜𝑙 + 3 𝑚𝑜𝑙

𝑚𝑜𝑙 𝑑𝑒 𝐴
CONVERSÃO DE FRAÇÃO MÁSSICA 𝑥𝐴 = 0,111
𝑚𝑜𝑙 𝑑𝑒 𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜
PARA MOLAR
5 𝑚𝑜𝑙 𝑚𝑜𝑙 𝑑𝑒 𝐵
Definições 𝑥𝐵 = = 0,556
1 𝑚𝑜𝑙 + 5 𝑚𝑜𝑙 + 3 𝑚𝑜𝑙 𝑚𝑜𝑙 𝑑𝑒 𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜
• Fração mássica (𝑤𝑖 ):
Considerando uma espécie 𝑖 em uma solução 3 𝑚𝑜𝑙 𝑚𝑜𝑙 𝑑𝑒 𝐶
com mais de uma componente, a fração mássica de 𝑖 𝑥𝐶 = = 0,333
1 𝑚𝑜𝑙 + 5 𝑚𝑜𝑙 + 3 𝑚𝑜𝑙 𝑚𝑜𝑙 𝑑𝑒 𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜
nesta solução é definida como:
A solução é composta por 11,1% de A, 55,6% de
𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑑𝑒 𝒊 B e 33,3% de C, em base mássica.
𝑤𝑖 =
𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑎 𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜

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AULA 1
INTRODUÇÃO ÀS OPERAÇÕES UNITÁRIAS

Conversão de fração mássica para molar Espécies Massa (g)


Número de Fração
Tendo a fração mássica de uma solução, é mols (mol) molar
possível descobrir sua composição molar. Para isso, A 20 0,40 0,111
serão necessárias duas informações: a massa molar de B 30 0,75 0,208
cada uma das espécies (ou seja, a massa equivalente a C 45 2,25 0,625
um mol da espécie) e definir uma base de cálculo (em D 5 0,20 0,056
massa, neste caso). Total 100 3,60 1,000
A base de cálculo nada mais do que uma amostra
da solução em estudo, podendo ser de qualquer
tamanho. Conversão de fração molar para mássica
O processo de conversão de fração mássica para A conversão de fração molar para fração mássica
fração molar é mostrado no Exemplo 3. segue um procedimento semelhante. Porém, para este
caso, a base de cálculo será em número de mols.
Exemplo 3. Uma solução tem a sua composição descrita O processo de conversão de fração molar para
na Tabela 1.1. Calcule sua composição molar. fração mássica é mostrado no Exemplo 4.
Tabela 1.1 - Composição da solução do Exemplo 3.
Exemplo 4. Uma solução tem a sua composição descrita
Massa molar na Tabela 1.2. Calcule sua composição mássica.
Espécies Fração mássica
(g/mol)
A 0,20 50 Tabela 1.2 - Composição da solução do Exemplo 4.
B 0,30 40 Massa molar
C 0,45 20 Espécies Fração molar
(g/mol)
D 0,05 25 A 0,05 60
Total 1,00 B 0,50 35
C 0,30 42
• Base de cálculo: 𝑚 𝑇 = 100 𝑔 D 0,15 24
Total 1,00
• Massa de cada componente:
𝑚𝑖
𝑤𝑖 = → 𝑚𝑖 = 𝑤𝑖 . 𝑚 𝑇 • Base de cálculo: 𝑛 𝑇 = 100 𝑚𝑜𝑙
𝑚𝑇 • Número de mols:
Para A: 𝑛𝑖
𝑚𝐴 = 0,20.100 𝑔 = 20 𝑔 𝑥𝑖 = → 𝑛𝑖 = 𝑥𝑖 . 𝑛 𝑇
𝑛𝑇
Para A:
• Número de mols: 𝑛𝐴 = 0,05.100 𝑚𝑜𝑙 = 5 𝑚𝑜𝑙
𝑚𝑖 𝑤𝑖 𝑚 𝑇
𝑛𝑖 = =
𝑀𝑀𝑖 𝑀𝑀𝑖 • Massa de cada componente:
Para A:
20 𝑔 𝑚𝑖
𝑛𝐴 = = 0,40 𝑚𝑜𝑙 𝑤𝑖 = → 𝑚𝑖 = 𝑤𝑖 . 𝑚 𝑇
50 𝑔⁄𝑚𝑜𝑙 𝑚𝑇
Para A:
• Fração molar de cada componente: 𝑚𝐴 = 5 𝑚𝑜𝑙. 60 𝑔⁄𝑚𝑜𝑙 = 300 𝑔
𝑛𝑖
𝑥𝑖 =
𝑛𝑇
Para A: • Fração mássica de cada componente:
0,40 𝑚𝑜𝑙 𝑚𝑜𝑙 𝑑𝑒 𝐴
𝑥𝐴 = = 0,111 𝑚𝑖
3,60 𝑚𝑜𝑙 𝑚𝑜𝑙 𝑑𝑒 𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜 𝑤𝑖 =
𝑚𝑇

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AULA 1
INTRODUÇÃO ÀS OPERAÇÕES UNITÁRIAS

Para A:
300 𝑔 𝑔 𝑑𝑒 𝐴
𝑤𝐴 = = 0,082
3670 𝑔 𝑔 𝑑𝑒 𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜

Tabela 1 - Unidades básicas e derivadas no SI.


Número de Fração Unidades Básicas
Espécies Massa (g)
mols (mol) molar Quantidade Unidade Símbolo Definição
A 5 300 0,082 da
B 50 1750 0,477 Unidade
C 30 1260 0,343 Comprimento metro m
D 15 360 0,098 Massa quilograma kg
Total 100 3670 1,000 Tempo segundo s
Temperatura kelvin K
Quantidade
mol mol
de matéria
CONVERSÃO DE UNIDADES SIMPLES E
Unidades Derivadas
COMPOSTAS Energia joule J kg.m².s-2
Força newton N kg.m.s-2
Antes de iniciarmos o curso de operações
Potência watt W kg.m².s-3
unitárias, é importante que não haja dificuldades ou Densidade quilograma
dúvidas sobre a conversão de unidades, tanto simples por metro kg.m-3
quanto compostas. Vamos revisá-las? cúbico
Unidades servem para expressar dimensões. O Velocidade metro por
m.s-1
metro, por exemplo, é uma unidade simples de segundo
comprimento no sistema internacional de medidas (SI), Aceleração metro por
segundo ao m.s-2
mas há várias unidades possíveis para que possamos
quadrado
expressar esse mesmo comprimento. Pressão pascal Pa N.m-2
A seguir, temos uma tabela com as principais Capacidade joule por
medidas e unidades no sistema internacional: Calorífica (quilograma J.kg-1.K-1
kelvin)

Porém, o sistema internacional não é universal,


ou seja, há outras tabelas de medidas que podem ser
usadas em outros países e localidades. Para não gerar
confusão, é importante saber converter essas unidades.
A tabela a seguir, nos mostra os fatores de
conversão para realizar estas conversões:

8
AULA 1
INTRODUÇÃO ÀS OPERAÇÕES UNITÁRIAS

Tabela 2 - Fatores de conversão. TUBULAÇÃO COMPRIMENTO (m)


Grandeza Valores Equivalentes A 6,2
1 kg = 1000 g = 0,001 tonelada B 7,5
métrica = 2,20462 lbm = 35,27392 oz C 8,6
Massa
1 lbm = 16 oz = 5*10-4 t = 453,593 g = D 1,4
0,453593 kg
1 m = 100 cm = 1000 nm = 106 mícrons
SOLUÇÃO
(𝜇m) = 1010 angstroms (Å)
1m = 39,37 in = 3,2808 ft = 1,0936 yd Vamos começar fazendo a conversão para ft. Da
Comprimento tabela 2, sabemos que 1m equivale a 3,2808 ft. Portanto,
= 0,0006214 milha
1 ft = 12 in = 1/3 yd = 0,3048 m = para a tubulação A:
30,48 cm
1 m³ = 1000 L = 106 cm³ = 106 mL 3,28 𝑓𝑡
1 m³ = 35,3145 ft³ = 220,83 galões 6,2 𝑚 . = 20,34 𝑓𝑡
1𝑚
Volume imperiais = 264,17 gal = 1056,68 qt
1 ft³ = 1728 in³ = 7,4805 gal = Observe a posição das unidades e como elas
0,028317 m³ = 28,317 L = 28317 cm ³
foram eliminadas para facilitar a conversão.
1 N = 1kg.m/s² = 105 dinas = 105
Para transformar a unidade da tubulação A em
g.cm/s² =0,22481 lbf
Força polegada, fazemos a mesma coisa, considerando que 1m
1 lbf = 32,174 lbm.ft/s² = 4,4482 N =
4,4482*105 dinas seja equivalente a 39,37”:
1 atm = 1,01325*105 N/m² (Pa) =
101,325 kPa = 1,01325 bar = 39,37"
1,01325*106 dinas/cm² 6,2 𝑚 . = 244,09"
1𝑚
Pressão 1 atm = 760 mmHg a 0°C (torr) =
10,333 m H2O a 4°C = 14,696 lbf/in² Note que, se a conversão de metro para feet
(psia) = 33,9 ft H2O a 4°C
estiver correta, a conversão de feet para polegada dará
1 atm = 29,921 in Hg a 0°C
o mesmo resultado acima (com diferenças de
1 J = 1 N.m = 107 ergs = 107 dina.cm =
Energia 2,778*10-7 kW.h=0,23901 cal = arredondamento, apenas.). Pela nossa tabela, sabemos
0,7376 ft-lbf = 9,486*10-4 Btu que 3,28 ft equivale a 39,37” , logo:
1 W = 1 J/s = 0,23901 cal/s = 0,7376 39,37 "
20,34 𝑓𝑡 . = 244,14"
Potência ft.lbf/s = 9,486*10-4 Btu/s = 1,341*10- 3,28 𝑓𝑡
3
hp
Para verificar seu entendimento, preencha a
Exemplo. Seu projeto de tubulações para uma indústria tabela abaixo com todas as respostas:
de produtos de limpeza foi escolhido para ser usado em
outros países, onde não se usa o sistema Internacional METROS (m) FEET (ft) POLEGADAS (“)
de medidas. Para não causar confusão na construção da A 6,2 20,34 244,09
indústria, você deve converter as medidas em metro da B 7,5
tubulação para pé (feet-ft) e polegadas (inch-in). Dadas C 8,6
as medidas das suas tubulações, faça as devidas D 1,4
conversões:
Algumas dimensões são expressas de forma
composta, por exemplo, a velocidade do seu veículo. Se

9
AULA 1
INTRODUÇÃO ÀS OPERAÇÕES UNITÁRIAS

você está em um automóvel na BR 101 a caminho da a roupa ? Aproveite e conceitue operação contínua e
praia a uma velocidade de 110 Km/h, e como descontínua de um equipamento.
passatempo resolve converter essa velocidade para 3. Cite algumas vantagens e desvantagens de processos
contínuos e de processos em batelada.
metros por minuto, como procederia?
4. Liste os passos necessários para converter fração
Neste problema temos duas unidades para mássica em molar e vice-versa.
analisar: o quilômetro (km) como unidade de 5. A corrente de saída de um forno possui uma
comprimento e a hora (h) como unidade de tempo. De concentração mássica de 25% de O2, 50% de N2, 15%
acordo com as tabelas e nossos conhecimentos, de H2O e o restante de CO2. Qual a fração molar de
sabemos que 1 Km equivale a 1000m e 1h tem 60 CO2?
minutos, portanto:

110 𝐾𝑚 1ℎ 1000𝑚
. . = 1833,3 𝑚/𝑚𝑖𝑛
1ℎ 60 𝑚𝑖𝑛 1𝐾𝑚

Vamos ver outro exemplo?


Em uma visita técnica, você recebe a informação
de que a vazão de tinta em um tanque é de 0,35 ft³/s , e
para compreender melhor essa grandeza, resolve
transformar essa unidade para L/min. Pela tabela,
sabemos que 1000 L equivale a 35,3145 ft³ e pelo nosso
conhecimento de mundo sabemos que 1 minuto tem 60
segundos. Logo:

0,35 𝑓𝑡³ 1000 𝐿 60 𝑠


. . = 594,66 𝐿/𝑚𝑖𝑛
1𝑠 35,3145 𝑓𝑡³ 1 𝑚𝑖𝑛

E quanto isso seria no sistema internacional?

594,66 𝐿 1 𝑚³ 1 𝑚𝑖𝑛
. . = 0,0099 𝑚³/𝑠
1 𝑚𝑖𝑛 1000 𝐿 60 𝑠

Que em notação científica é o mesmo que 9,9.10-3 m³/s.

EXERCÍCIOS
1. Releia os parágrafos sobre processos e, com suas
palavras, conceitue um processo industrial.
2. Uma operação unitária é uma etapa isolada de
transformação física de uma matéria-prima em um
produto num processo. Sendo assim, quais
operações unitárias que você empregaria para lavar

10
AULAS 2 e 3
BALANÇO DE MASSA

INTRODUÇÃO
Processos industriais são compostos por uma
sequência de operações unitárias, cada uma delas
correspondendo a uma determinada transformação
física ou química da matéria prima. Em processos é
necessário saber exatamente as quantidades e
composições de entrada e saída de cada equipamento e
corrente em um processo, para tanto, são feitos balanços
de massa. Mas, o que é um balanço de massa? Figura 2.1 - Conservação da massa para sistemas em batelada.
PASQUALIN, K.
Balanço material é a aplicação direta da Lei de
Conservação de massa: “Na natureza nada se cria, nada Em sistemas contínuos a massa alimentada
se perde tudo se transforma”. Os balanços são à base de durante um determinado intervalo de tempo é igual à
projeto de plantas industriais e, a partir disso, massa que sai, adicionada à massa acumulada. Um
quantidades de matéria prima e de produtos formados esquema de sistema aberto pode ser analisado na Figura
podem ser determinados. 2.2.
Nesta aula serão explorados conceitos
fundamentais do balanço de massa e a sua aplicação em
diferentes unidades.

BALANÇO DE MASSA
O balanço de massa em equipamentos e
unidades de processo está baseado no princípio da Figura 2.2 - Conservação da massa para sistemas contínuos.
conservação da massa, que se apoia nas experiências de PASQUALIN, K.
Lavoisier. Tais experiências demonstraram que as
transformações químicas e físicas não afetam a massa Ao equacionar os fluxos do sistema aberto tem-
total envolvida, ou seja, a soma das massas antes de uma se a equação da conservação da massa:
operação unitária (envolvendo reações ou não) é
exatamente a mesmo que a soma das massas no final do 𝐸𝑛𝑡𝑟𝑎 = 𝐴𝑐ú𝑚𝑢𝑙𝑜 + 𝑆𝑎𝑖
processo. Portanto, balanço de massa é, simplesmente,
O acúmulo é a variação da massa com o tempo:
uma contabilidade dos fluxos e alterações do sistema.
Podemos aplicar esse conceito nos processos em Δ𝑀
regime batelada e contínuo/permanente. Nos processos 𝐴𝑐ú𝑚𝑢𝑙𝑜 =
Δ𝑡
em batelada, a massa total permanece constante
durante todo o processo (com reação química ou não) – Reescrevendo a equação da conservação da
Figura 2.1. massa em função das vazões de entrada e saída temos:

Δ𝑀
𝑚̇𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎 − 𝑚̇𝑠𝑎𝑖 =
Δ𝑡

No regime permanente (estado estacionário)


nenhuma grandeza, do sistema analisado, varia com o
tempo e, portanto, o acúmulo é igual à zero.
No regime transiente há a variação de alguma
grandeza, assim, o acúmulo é diferente de zero.

11
AULAS 2 e 3
BALANÇO DE MASSA

Exemplo 1. Dado o sistema, determine a vazão da


corrente C e fração da corrente B e C.

Figura 2.4 - Esquema referente ao Exemplo 2. PASQUALIN, K.

Como não há acúmulo, nem reação química, a


soma das vazões molares de entrada é igual à vazão de
Figura 2.3 - Esquema referente ao Exemplo 1. PASQUALIN, K. saída do tanque de mistura. Portanto:
𝑛̇ 𝑁2 + 𝑛̇ 𝑂2 + 𝑛̇ 𝐶𝐻4 = 𝑛̇ 𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜
Fazendo o balanço de massa no ponto de
bifurcação das correntes:
Δ𝑀 É possível calcular a vazão de oxigênio a partir da
𝑚̇𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎 − 𝑚̇𝑠𝑎𝑖 = vazão de nitrogênio, de metano e da solução.
Δ𝑡
𝑛̇ 𝑂2 = 𝑛̇ 𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜 − 𝑛̇ 𝐶𝐻4 − 𝑛̇ 𝑁2
Como não há acúmulo de material (tubulações)
à equação da conservação da massa se reduz à:
𝑛̇ 𝑂2 = 120 𝑚𝑜𝑙 ⁄ℎ − 40 𝑚𝑜𝑙⁄ℎ − 30 𝑚𝑜𝑙 ⁄ℎ
𝑚̇𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎 = 𝑚̇𝑠𝑎𝑖
𝑛̇ 𝑂2 = 50 𝑚𝑜𝑙 ⁄ℎ
𝑚̇𝐴 = 𝑚̇𝐵 + 𝑚̇𝐶

𝑚̇𝐶 = 𝑚̇𝐴 − 𝑚̇𝐵 = 100 𝑘𝑔⁄ℎ − 45 𝑘𝑔⁄ℎ Pela definição de fração molar tem-se:

𝑚̇𝐶 = 55 𝑘𝑔⁄ℎ 𝑛̇ 𝑂2 50 𝑚𝑜𝑙 ⁄ℎ


𝑥𝑂2 = = = 0,417
𝑛̇ 𝑂2 + 𝑛̇ 𝑁2 + 𝑛̇ 𝐶𝐻4 120 𝑚𝑜𝑙 ⁄ℎ
Como o sistema descreve apenas uma
bifurcação de uma corrente, a composição da corrente A 𝑛̇ 𝑁2 30 𝑚𝑜𝑙 ⁄ℎ
𝑥𝑁2 = = = 0,250
é a mesma da corrente B e C. Assim, 𝑛̇ 𝑂2 + 𝑛̇ 𝑁2 + 𝑛̇ 𝐶𝐻4 120 𝑚𝑜𝑙 ⁄ℎ

𝑤𝐵 = 𝑤𝐶 = 𝑤𝐴 = 0,30 𝑛̇ 𝐶𝐻4 40 𝑚𝑜𝑙 ⁄ℎ


𝑥𝐶𝐻4 = = = 0,333
𝑛̇ 𝑂2 + 𝑛̇ 𝑁2 + 𝑛̇ 𝐶𝐻4 120 𝑚𝑜𝑙 ⁄ℎ
Exemplo 2. Para um determinado processo industrial, é
necessária uma solução de nitrogênio, oxigênio e
Exemplo 3. Durante um processo industrial, benzeno e
metano. Esta solução deve ser preparada a partir da
tolueno devem ser separados. Em uma destiladora,
junção de três correntes em um tanque de mistura. Para
alimenta-se 2000 kg/h de uma mistura contendo 45% em
o preparo de 120 mol/h dessa solução, a vazão das
massa de benzeno. Na corrente de topo obtém-se
correntes de entrada é 30 mol/h de N2 e 40 mol/h de
benzeno na concentração de 95%. De todo benzeno
CH4. Calcule a vazão da corrente de oxigênio e a
alimentado, 8% é destinado a corrente de fundo.
composição molar de cada substância dessa mistura.
Determine a vazão e a composição de todas as correntes
Antes de qualquer coisa, é necessário fazer um envolvidas no processo.
esquema do processo estudado:
Temos o esquema do sistema:

12
AULAS 2 e 3
BALANÇO DE MASSA

Topo 0,05 do topo → 𝑚̇ 𝑇 𝑇𝑜𝑝𝑜 kg/h de tolueno

Realizando o cálculo da regra de três, tem-se:

𝑚̇ 𝑇 𝑇𝑜𝑝𝑜 = 43,6 𝑘𝑔⁄ℎ


Alimentação

Pela conservação da massa (de tolueno):

𝑚̇ 𝑇 𝐴𝑙𝑖𝑚 = 𝑚̇ 𝑇 𝑇𝑜𝑝𝑜 + 𝑚̇ 𝑇 𝐹𝑢𝑛𝑑𝑜

Fundo 𝑚̇ 𝑇 𝐹𝑢𝑛𝑑𝑜 = 𝑚̇ 𝑇 𝐴𝑙𝑖𝑚 − 𝑚̇ 𝑇 𝑇𝑜𝑝𝑜


Figura 2.5 - Esquema referente ao Exemplo 3. PASQUALIN, K.
𝑚̇ 𝑇 𝐹𝑢𝑛𝑑𝑜 = 1100 𝑘𝑔⁄ℎ − 43,6 𝑘𝑔⁄ℎ
Primeiramente, é preciso calcular a vazão
mássica de cada composto na alimentação a partir da 𝑚̇ 𝑇 𝐹𝑢𝑛𝑑𝑜 = 1056,4 𝑘𝑔⁄ℎ
definição de fração mássica:
Sabendo que:
𝑚̇𝐵 𝐴𝑙𝑖𝑚 = 𝑤𝐵 𝐴𝑙𝑖𝑚 . 𝑚̇ 𝐴𝑙𝑖𝑚 = 0,45 . 2000 𝑘𝑔⁄ℎ
𝑚̇𝑇𝑜𝑝𝑜 = 𝑚̇ 𝑇 𝑇𝑜𝑝𝑜 + 𝑚̇𝐵 𝑇𝑜𝑝𝑜 = 871,6 𝑘𝑔⁄ℎ
𝑚̇𝐵 𝐴𝑙𝑖𝑚 = 900 𝑘𝑔⁄ℎ
𝑚̇𝐹𝑢𝑛𝑑𝑜 = 𝑚̇ 𝑇 𝐹𝑢𝑛𝑑𝑜 + 𝑚̇𝐵 𝐹𝑢𝑛𝑑𝑜 = 1128,4 𝑘𝑔⁄ℎ
𝑚̇ 𝑇 𝐴𝑙𝑖𝑚 = 𝑤𝑇 𝐴𝑙𝑖𝑚 . 𝑚̇ 𝐴𝑙𝑖𝑚 = 0,55 . 2000 𝑘𝑔⁄ℎ E a composição da corrente de fundo é:
𝑚̇ 𝑇 𝐴𝑙𝑖𝑚 = 1100 𝑘𝑔⁄ℎ 𝑤𝑇𝐹𝑢𝑛𝑑𝑜 = 0,936
Sabendo que 8% de todo o benzeno alimentado
𝑤𝐵𝐹𝑢𝑛𝑑𝑜 = 0,064
irá para a corrente de fundo:

𝑚̇𝐵 𝐹𝑢𝑛𝑑𝑜 = 0,08 . 𝑚̇𝐵 𝐴𝑙𝑖𝑚 = 0,08 . 900 𝑘𝑔⁄ℎ


BALANÇO DE MASSA COM REAÇÃO
𝑚̇𝐵 𝐹𝑢𝑛𝑑𝑜
= 72 𝑘𝑔⁄ℎ QUÍMICA
Pela conservação da massa (de benzeno): Da mesma forma que para o balanço de massa
sem reação, a soma das massas de entrada e de saída do
𝑚̇𝐵 𝐴𝑙𝑖𝑚 = 𝑚̇𝐵 𝑇𝑜𝑝𝑜 + 𝑚̇𝐵 𝐹𝑢𝑛𝑑𝑜 sistema com o acúmulo será sempre constante. Porém,
nesse caso, o balanço deverá ser feito em BASE MOLAR,
𝑚̇𝐵 𝑇𝑜𝑝𝑜 = 𝑚̇𝐵 𝐴𝑙𝑖𝑚 − 𝑚̇𝐵 𝐹𝑢𝑛𝑑𝑜 pois existe a dependência de uma reação e de seus
coeficientes estequiométricos para determinar quanto
𝑚̇𝐵 𝑇𝑜𝑝𝑜 = 900 𝑘𝑔⁄ℎ − 72 𝑘𝑔⁄ℎ dos componentes serão consumidos e gerados. Contudo,
é importante frisar que embora a soma das massas de
𝑚̇𝐵 𝑇𝑜𝑝𝑜 = 828 𝑘𝑔⁄ℎ entrada e saída com o acúmulo permaneça constante,
não existe conservação no número de mols. Podendo
95% da corrente de topo é constituída de haver variação desse parâmetro a depender da reação
benzeno e o restante (5%) de tolueno. Portanto, a vazão que se processa. Para cada componente, tem-se:
de tolueno presente no topo pode ser calculada da
seguinte maneira: Δ𝑁
𝑛̇ 𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎 + 𝑛̇ 𝑔𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜 − 𝑛̇ 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑖𝑑𝑜 = + 𝑛̇ 𝑠𝑎𝑖
Δ𝑡
0,95 do topo → 828 kg/h de benzeno

13
AULAS 2 e 3
BALANÇO DE MASSA

Para facilitar sua compreensão a equação será Para o carbono: entra = 12,5 Kmol/h, não tem carbono
invertida: gerado nesta reação e todo carbono alimentado na
caldeira foi consumido (não sobre carbono sem reagir),
Δ𝑁 portanto:
𝑛̇ 𝑠𝑎𝑖 − 𝑛̇ 𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎 + = 𝑛̇ 𝑔𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜 − 𝑛̇ 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑖𝑑𝑜
Δ𝑡
𝑛̇ 𝑠𝑎𝑖 − 12,5 = 0 − 12,5
Exemplo 4. Numa fábrica, a queima de carvão em uma
caldeira pode ser representada pela seguinte equação 𝑛̇ 𝑠𝑎𝑖 = 12,5 − 12,5 = 0
química:
Para o Oxigênio: Entra 12,5 Kmol/h de O2 pois a
𝐶(𝑠) + 𝑂2 (𝑔) → 𝐶𝑂2 (𝑔) alimentação é estequimétrica (segundo o enunciado da
questão), não tem carbono gerado nesta reação e todo
Calcule a massa de 𝐶𝑂2 gerada em um dia, carbono alimentado na caldeira foi consumido (não
sabendo que são alimentados a essa caldeira 150 kg/h de sobra carbono sem reagir), portanto:
carvão e considerando que todo o carvão reage e que o
oxigênio é alimentado estequiometricamente. Considere 𝑛̇ 𝑠𝑎𝑖 − 12,5 = 0 − 12,5
também que a caldeira funciona 24h por dia.
𝑛̇ 𝑠𝑎𝑖 = 12,5 − 12,5 = 0
O esquema para a operação é o seguinte:
Observe que o raciocínio foi o mesmo para os
dois reagentes. Agora veremos o produto formado.

Para o CO2: não tem entrada de CO2, pela estequimetria


(1:1) sabe-se que formou 12,5 Kmol/h e não houve
consumo de CO2 na reação, portanto:

Figura 2.6 – Esquema referente ao Exemplo 4. PEREIRA, D. 𝑛̇ 𝑠𝑎𝑖 − 0 = 12,5 − 0

Primeiramente, como há uma reação, devemos 𝑛̇ 𝑠𝑎𝑖 = 12,5 𝐾𝑚𝑜𝑙/ℎ


transformar a massa de carvão formada para base molar.
Com isso, é possível montar uma tabela para
𝑚̇𝐶 facilitar o raciocínio e, de acordo com a estequiometria
𝑛̇ 𝐶 =
𝑀𝑀𝑐 da reação, podemos preenchê-la:

Sabendo que a massa molar do carbono é 12 𝒏̇ 𝒆𝒏𝒕𝒓𝒂 𝒏̇ 𝒄𝒐𝒏𝒔𝒖𝒎𝒊𝒅𝒐 𝒏̇ 𝒈𝒆𝒓𝒂𝒅𝒐 𝒏̇ 𝒔𝒂𝒊


g/mol, e que do enunciado do exercício a vazão mássica (Kmol/h) (Kmol/h) (Kmol/h) (Kmol/h)
do carbono é de 150 kg/h: C 12,5 12,5 0 0
O2 12,5 12,5 0 0
𝑘𝑔 CO2 0 0 12,5 12,5
150
𝑛̇ 𝐶 = ℎ = 12,5 𝑘𝑚𝑜𝑙
𝑘𝑔 ℎ
12 Conclui-se, então, que serão formados na
𝑘𝑚𝑜𝑙
caldeira 12,5 kmol/h de 𝐶𝑂2 . Entretanto, o problema
Como não há acúmulo no sistema, podemos pede a quantidade mássica diária. Sabendo que a massa
escrever: molar do 𝐶𝑂2 é 44 g/mol, convertemos:

𝑛̇ 𝑠𝑎𝑖 − 𝑛̇ 𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎 = 𝑛̇ 𝑔𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜 − 𝑛̇ 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑖𝑑𝑜 𝑘𝑚𝑜𝑙 44𝑘𝑔 24ℎ 𝑘𝑔


12,5 ∗ ∗ = 13200
ℎ 𝑘𝑚𝑜𝑙 1 𝑑𝑖𝑎 𝑑𝑖𝑎

14
AULAS 2 e 3
BALANÇO DE MASSA

Como visto o balanço molar não fechou, já que a EXERCÍCIOS


caldeira foi alimentada com 25 kmol/h de reagentes
(12,5 kmol/h de cada um deles) e na saída foi obtido 12,5 1. O balanço de massa esta baseado em qual
kmol/h de produto. Mas vamos conferir agora o que princípio? Explique como a conservação da massa é
ocorre com a massa total do sistema. Para a entrada, aplicada a sistemas abertos e sistemas fechados.
temos:
2. No balanço de massa com reação química, é
𝑘𝑚𝑜𝑙 𝑘𝑔 possível que o número de mols total do sistema se
𝑚̇𝐶 = 𝑛̇ 𝐶 ∗ 𝑀𝑀𝑐 = 12,5 ∗ 12
ℎ 𝑘𝑚𝑜𝑙 conserve ou não? Se sim, cite um exemplo de um
processo qualquer em que isso ocorrerá.
𝑘𝑔
𝑚̇𝐶 = 150
ℎ 3. De um reator resulta uma mistura de gases
𝑘𝑚𝑜𝑙 𝑘𝑔 contendo amônia, nitrogênio e hidrogênio. A partir
𝑚̇𝑂2 = 𝑛̇ 𝑂2 ∗ 𝑀𝑀𝑂2 = 12,5 ∗ 32 de análises químicas sabe-se que a corrente de saída
ℎ 𝑘𝑚𝑜𝑙
do reator contém 15 kmol/h de amônia (NH3), 3
𝑘𝑔 kmol/h de nitrogênio (N2) e a fração molar de
𝑚̇𝑂2 = 400 hidrogênio nesta corrente 0,218. Determine a vazão

total e a vazão de hidrogênio na saída do reator.
Então:
4. Determine a vazão e a composição (fração molar de
𝑘𝑔 𝑘𝑔 cada composto) na corrente C, resultante da mistura
𝑚̇𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎 = 𝑚̇𝐶 + 𝑚̇𝑂2 = 150 + 400
ℎ ℎ de A e B (não ocorre reação química).
𝑘𝑔
𝑚̇𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎 = 550

E na saída da caldeira:

𝑘𝑚𝑜𝑙 𝑘𝑔
𝑚̇𝐶𝑂2 = 𝑛̇ 𝐶𝑂2 ∗ 𝑀𝑀𝐶𝑂2 = 12,5 ∗ 44
ℎ 𝑘𝑚𝑜𝑙
𝑘𝑔 5. Qual a vazão e a composição da corrente de saída de
𝑚̇𝐶𝑂2 = 550 um tanque de mistura, dada uma alimentação

composta de duas correntes: A, com 15% em massa
𝑘𝑔 de NaOH e vazão de 50 kg/h; e B, com 70% em massa
𝑚̇𝑠𝑎𝑖 = 550 de NaOH e vazão de 100 kg/h? Obs.: antes de iniciar

o exercício, represente através de um desenho o
𝑘𝑔 sistema e todas as correntes de interesse.
𝑚̇𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎 = 𝑚̇𝑠𝑎𝑖 = 550

6. Etanol é queimado em um motor automotivo a
Como vemos, a massa total que entra no sistema combustão, seguindo a seguinte equação:
é igual à massa total que sai do sistema, comprovando 𝐶2 𝐻5 𝑂𝐻 + 3𝑂2 → 2𝐶𝑂2 + 3𝐻2 𝑂
que a massa total, de fato, nunca será gerada e nem Determine a quantidade mássica de 𝐶𝑂2 formado
consumida. quando é consumido 1 kg de etanol.

7. Durante um processo industrial, butano e


isopentano devem ser separados através da
utilização de uma destiladora (cer equipamento no

15
AULAS 2 e 3
BALANÇO DE MASSA

exemplo 3 pág 13). Alimenta-se 1500 kg/h de uma


mistura contendo 25% em massa de butano. Na
corrente de topo obtém-se butano na concentração
de 80%. De todo butano alimentado, 15% é
destinado a corrente de fundo. Determine a vazão
mássica e a composição de todas as correntes
envolvidas no processo.

8. Uma coluna de destilação é alimentada com 50


kmol/h de uma solução contendo 15% molar de
álcool isopropílico e água. A concentração do álcool
no topo será de 89% (molar) e 96% do álcool
alimentado é destinado ao topo. Desenvolva o
balanço de massa para o sistema.

9. A gasolina, muito utilizada como combustível


automotivo, é um dos principais produtos derivados
do petróleo. É composta, em sua grande maioria, por
hidrocarbonetos, sendo o octano o principal deles.
Sabe-se que um automóvel que utiliza como
combustível a gasolina percorre, em média, 11 km/L
de combustível. Sabe-se que seu dono utiliza esse
automóvel para trabalhar todos os dias, percorrendo
uma distância média de 20 km por dia, durante 5 dias
na semana, sendo o uso do veículo restrito a isso.
(a) Considerando que um mês tem 4 semanas, e
que a gasolina é composta somente por octano,
estime a quantidade de 𝐶𝑂2 emitida por esse
veículo em um mês. Considere a densidade do
octano como sendo 703 kg/m³, a mass molar =
114 g/mol e que todo o octano é convertido em
𝐶𝑂2 (apresente a reação química envolvida).
(b) Caso a gasolina custe 4,05 R$ o litro, qual será o
gasto total ao final de um mês de uso do carro?

16
AULA 4
SISTEMAS DE REATORES
INTRODUÇÃO mais fácil de ser compreendida do que o total da reação.
Algumas vezes torna-se impossível conhecer a natureza
Na grande maioria das indústrias químicas, o de todas as etapas. Mas, o conhecimento de algumas
reator é o sistema responsável por desempenhar o etapas pode simplificar consideravelmente o problema
processo de reação, que geralmente é a peça da compreensão das características da reação total.
fundamental da planta. Assim, evidencia-se a Para que seja possível identificar com que grau
importância do conhecimento detalhado do sistema uma reação química ocorre, isto é, se os produtos estão
reacional com o qual se trabalha. Para realizar o projeto presentes em quantidades significativas ou não, utiliza-
do reator é preciso analisar as características da reação: se uma variável denominada extensão, também
mecanismo e a extensão da reação. Na indústria de conhecida como grau de avanço (𝜉). Podemos definí-la,
petróleo alguns sistemas são extremamente importantes de forma expositiva, como a variação molar de uma dada
para a manufatura do petróleo bruto, podendo-se citar espécie com relação ao seu coeficiente estequiométrico:
como exemplo os processos de: coqueamento
retardado, craqueamento catalítico fluidizado, 𝑛𝑖 − 𝑛𝑖,0
𝜉=
hidrocraqueamento, hidrotratamento, reforma 𝜈𝑖
catalítica, isomerização e alquilação.
Onde: 𝑛𝑖 é o número de mols a espécie química 𝑖 ao final
CONCEITOS DE REAÇÃO QUÍMICA da reação, 𝑛𝑖,0 é o número de mols no início da reação, e
𝜈𝑖 é o coeficiente estequiométrico do composto
Se reação química for considerada como uma analisado (o número que utilizamos antes de cada
transformação que forma ou quebra ligações entre espécie na equação química). Este último deve ter sinal
átomos, então, quase todas as transformações que se positivo para produtos e sinal negativo para reagentes, a
observa envolvem reações químicas. Naturalmente, fim de que o grau de avanço seja sempre positivo.
algumas poucas espécies de reações podem envolver Muito embora a extensão de reação possa ser
somente modificações dentro dos átomos e não a calculada em relação a qualquer composto que participa
formação ou ruptura das ligações entre átomos. Mas se da reação, ela sempre será a mesma para uma mesma
não for considerado esse tipo de processo envolvendo reação, independente de qual composto seja adotado
somente os próprios átomos, ficaremos com a maioria para o cálculo (qualquer um dos reagentes ou qualquer
das transformações, ou seja, as transformações um dos produtos).
químicas. Essa grandeza possui grande aplicação na
A simplificação da questão da ocorrência das realização dos balanços de massa com reação química,
reações é conseguida se for considerado dois aspectos mas por uma questão de tempo não entraremos nesse
de transformação: o mecanismo pelo qual a mérito aqui em nosso curso. Vamos, na prática, utilizar
transformação ocorre e a extensão da transformação. outras grandezas úteis, e de melhor compreensão, que
permitem quantificar com que extensão uma reação se
Mecanismo de Reação e Extensão processa. São elas: a fração de conversão, o rendimento
O mecanismo da reação refere-se à etapa ou e a seletividade.
série de etapas através das quais os reagentes iniciais
interagem no processo de formação dos produtos. Ele Cinética Química e Termodinâmica –
descreve, quimicamente e em escala molecular, qual o Velocidade e Equilíbrio
caminho que a reação toma em determinadas condições Primeiramente, devemos discutir o que são
de processo específicas. reações reversíveis e irreversíveis.
Cada etapa no mecanismo exige o êxito As moléculas dos reagentes colidirão
completo de todas as etapas anteriores antes que possa continuamente de maneira aleatória. Quando uma
ocorrer, sendo que o efeito total ou o resultado líquido é colisão tem uma orientação apropriada e envolve uma
a soma dos efeitos de cada etapa. Cada etapa é, por si só, energia de ativação suficiente, as ligações químicas
uma reação – que denominamos reação elementar. podem se reajustar para formar uma molécula
Assim, cada etapa num mecanismo é ordinariamente

17
AULA 4
SISTEMAS DE REATORES
intermediária. Posteriores reajustes de ligação deixam perturbação no equilíbrio dinâmico. As reações
que a molécula intermediária forme o produto desejado. envolvendo espécies cuja sua concentração é
Mas as moléculas do produto serão também aumentada com o tempo se tornarão mais prováveis.
colidem casualmente com as moléculas reagentes e com Assim, as velocidades das reações envolvendo as
outras moléculas de produtos. Se essa colisão acontecer espécies adicionadas aumentarão, e isto concorrerá para
em uma orientação favorável e com suficiente energia, diminuir a concentração das espécies adicionadas, bem
parece que não haverá nenhuma razão que impeça a como, a concentração de todas as outras espécies com
reformulação da molécula intermediária, a qual poderá as quais ela reage. O aumento das velocidades destas
se decompor nos reagentes iniciais. Se isso acontecer a reações concorrerá para aumentar as concentrações dos
reação ocorre no sentido inverso da original, sendo produtos da reação. Mas, como as concentrações destes
chamada de uma reação reversível. produtos se elevam, elas concorrerão para reagir mais
O conceito de reversibilidade das reações rapidamente. Consequentemente, um novo estado de
químicas conduz a algumas conclusões interessantes equilíbrio será alcançado. O efeito quantitativo de
relativas ao estado que uma reação química poderá adicionar ou remover ingredientes pode ser calculado a
atingir em certo tempo. Quando as moléculas dos partir do conhecimento da estequiometria, ou relação
reagentes se chocam com certa orientação e com molar, das reações com o auxilio da expressão da
suficiente energia de ativação, os produtos podem ser constante de equilíbrio.
formados. Inicialmente poucas moléculas dos produtos
são formadas, mas a sua concentração aumenta com o Velocidade, Equilíbrio e Temperatura
tempo. Quanto maior for a concentração de produtos O estado de equilíbrio é determinado pelo fato
presente na mistura, maior possibilidade destas se que as velocidades de todas as reações que se opõem
chocarem com os reagentes e, portanto, maior a devem ser idênticas. A mudança na temperatura pode
probabilidade dessas retornarem aos compostos iniciais. também afetar as velocidades das reações e, assim,
Por outro lado, a possibilidade de que as moléculas dos afetar o estado de equilíbrio.
reagentes encontrarem outras moléculas de reagente O efeito da temperatura na velocidade da reação
diminuirá. Assim, a velocidade de formação dos produtos (cinética) está atrelado à energia de ativação da reação.
diminuirá com o tempo enquanto a velocidade de Em geral, tal efeito é contabilizado através da chamada
retorno aos produtos aumentará. equação de Arrhenius – ela relaciona a temperatura, a
A um dado valor das concentrações, a velocidade energia de ativação e a constante de velocidade, que
das colisões eficazes entre os reagentes deverá ter caído pode nos indicar quão rápida uma reação se processa.
até igualar a velocidade crescente na qual o produto Por outro lado, a própria termodinâmica nos diz
reage consigo mesmo. Quando as velocidades destas quais as relações entre equilíbrio e temperatura.
duas reações – a reação direta e a inversa – tornam-se Lembre-se que nos casos em que a variação de entalpia
iguais, nenhuma mudança no total ocorrerá. Assim, de uma reação é negativa, dizemos que a reação é
todas as concentrações tornam-se constantes em função exotérmica; caso contrário, podemos classificá-la como
do tempo (mas não necessariamente estas endotérmica. Reações endotérmicas necessitam de
concentrações são iguais). Então, o sistema atingiu o calor para ocorrer, de modo que um aumento de
equilíbrio. Mas, desde que todas as reações estão ainda temperatura favorece sua ocorrência. Portanto, ao
ocorrendo, o sistema é considerado como estando em elevar a temperatura de um sistema que se encontra no
equilíbrio dinâmico. estado de equilíbrio, ocorrerá uma mudança no sentido
endotérmico.
Velocidade, Equilíbrio e Concentração Desta maneira, chega-se a conclusão que o
O princípio de Le Chatelier nos diz que quando se estado de equilíbrio depende da variação total de
exerce uma ação contra um sistema em equilíbrio de energia na reação – a conhecida variação de entalpia
modo a perturbar esse equlíbrio, o sistema deverá reagir reacional, mas que a velocidade só depende da energia
contra essa ação de modo a reestabelecer o equilíbrio. de ativação.
Nesse contexto, sabemos que mudando a concentração
de qualquer uma das espécies que está reagindo haverá

18
AULA 4
SISTEMAS DE REATORES
Catalisadores e o Estado de Equilíbrio volume deve aumentar e, portanto, a formação dos
Experimentalmente os catalisadores nunca reagentes será favorecida.
afetam o estado de equilíbrio. Um catalisador diminuirá Caso a reação ocorra somente no estado sólido
o tempo necessário para atingir o equilíbrio, mas não ou líquido, ou ainda que se tenham essas duas fases
afetará as concentrações presentes no equilíbrio. conjuntamente, a pressão não exercerá efeito
O catalisador fornece um novo mecanismo (uma significativo sobre o equilíbrio. Caso uma dessas duas
nova rota) para a reação, mas não muda o total da fases esteja presente juntamente com a fase gasosa,
energia necessária visto que o estado inicial e final são somente consideramos a fase gasosa nessa análise.
inalterados pelo catalisador. O catalisador, usualmente,
muda a velocidade diminuindo a energia de ativação
requerida, mas a mudança na energia de ativação não TIPOS DE REATORES E REAÇÕES
tem efeito sobre o estado de equilíbrio e, portanto, o
catalisador também não. Dentro do estudo de reações pode-se classificar
Visto que o catalisador não tem efeito sobre o uma reação como homogênea ou heterogênea.
estado de equilíbrio, mas que aumenta a velocidade da Reações homogêneas são aquelas que a reação
reação direta, segue que o catalisador aumentará ocorre no interior de uma fase e reações heterogêneas
também a velocidade da reação inversa de um fator são aquelas que ocorrem na interface entre fases.
exatamente igual àquele que aumenta a velocidade da Dentro das reações heterogêneas incluem-se as
reação direta. Isto implicará que apenas no fato de que o reações catalíticas gás-sólido (obtenção de gasolina
equilíbrio dinâmico será alcançado mais rapidamente, através do craqueamento catalítico), reações não-
mas que esse estado final será ó mesmo. catalíticas gás-sólido (queima do carvão), reações
líquido-sólido (corrosão de um metal por um ácido),
Mudança do Equilíbrio e Pressão reações líquido-líquido (produção de biodiesel) e reações
A pressão, assim como a temperatura, também sólido-sólido (produção de cimento)
afeta o estado de equilíbrio. Esta variável de processo irá Os reatores também são classificados como
interferir de diferentes maneiras em diferentes sistemas. homogêneos e heterogêneos. Para um reator ser
considerado heterogêneo este conter duas ou três fases,
Vamos analisar, por exemplo, a síntese de podendo ter as seguintes combinações de fases: gás-
amônia: líquido, gás-sólido, líquido-sólido, líquido-líquido e gás-
líquido-sólido. Muitas vezes o sólido é um catalisador. Já
3𝐻2(𝑔) + 𝑁2(𝑔) ⇌ 2NH3 (𝑔) os reatores homogêneos são constituídos por apenas
uma fase, que geralmente é líquida ou gasosa.
Esta reação ocorre em fase gasosa e a altas Como já comentado, o reator é considerado o
pressões e temperaturas. Analisando a estequiometria, coração de um processo industrial. É o equipamento que
tem-se que três mols de H2 reagem com 1 mol de N2 proporciona a transformação dos reagentes em
formando dois mols (NH3). Assim, como estamos produtos. Os três principais tipos de reatores ideais são:
trabalhando com um sistema gasoso, ao aumentar a Os dois reatores tanque-agitado (reator de mistura), do
pressão o sistema tenderá a diminuir o seu volume, visto inglês stirred tank reactor (batelada BSTR ou contínuo
que as moléculas estarão cada vez mais próximas. Para CSTR) e o reator tubular de fluxo pistonado (PFR, plug
isso, o sistema tenderá a formar amônia, já que a flow reactor).
formação da amônia diminui o volume do sistema. Isso No reator do tipo batelada os reagentes são
porque no lado dos produtos tem-se apenas 2 mols de despejados em um tanque e misturados, permanecendo
gás, enquanto que nos reagentes tem-se 4 mols no total. dentro do reator por um determinado tempo, no qual
E obviamente quanto menor a quantidade de matéria ocorre a reação. Após o término da reação, o tanque
gasosa, menos volume será ocupado. O contrário para a mistura resultante é então descarregado. Essa é
também acontece. Caso a pressão seja baixa, as uma operação em batelada (descontínua) cuja
moléculas estarão mais distantes umas das outras e o composição varia como tempo.

19
AULA 4
SISTEMAS DE REATORES
Este reator é utilizado em produções de pequena
escala. Entre as suas vantagens podem-se citar a elevada
conversão por unidade de volume, flexibilidade de
operação e fácil limpeza; e as desvantagens o elevado
custo de operação, qualidade do produto pode ser
variada. Dentre suas aplicações encontram-se a
produção de corantes sintéticos, a extração de corantes
naturais, a fabricação de gorduras hidrogenadas (como a
margarina) e a produção de enzimas.

Figura 14.2 - Exemplo de um reator do tipo PFR e a variação da


concentração de um reagente A em função do comprimento do
reator. PASQUALIN, K.

O reator de mistura (tanque-agitado) pode ser


um reator do tipo contínuo, em que todo o conteúdo é
Figura 14.1 - Exemplo de um reator do tipo Tanque-Agitado em agitado, mantendo-se a composição constante ao longo
batelada e a variação típica da concentração de um reagente em do reator. Assim sendo, a mistura na saída tem a mesma
função do tempo. PASQUALIN, K. composição da mistura no interior do tanque. É ideal
para o processamento industrial quando as velocidades
O reator do tipo tubular (PFR) é operado de reação e de produção são bastante elevadas. Na
continuamente, normalmente sem agitação. Este reator Figura 14.3 temos um esquema desse tipo de reator.
possui as configurações físicas próximas a um tubo, que A sua utilização está em plantas onde a produção
se caracteriza por apresentar um escoamento ordenado é em grande escala, quando as reações são conduzidas
dos elementos fluidos. Consequentemente, não haverá na fase líquida ou para reações sólido-líquido e gás
difusão ao longo do percurso nem diferença de líquido. Entre as suas vantagens destaca-se o fácil
velocidade entre dois elementos quaisquer do fluido. controle de temperatura, simplicidade de construção,
Isso é, tudo se passa como se os reagentes caminhassem baixo custo de operação, fácil limpeza e a sua operação
ao longo do reator em uma única fila ordenada, em que contínua. Dentre as desvantagens destaca-se a baixa
a reação de formação dos produtos vai acontecendo ao conversão por unidade de volume. São muito utilizados
longo do comprimento do reator. Este reator é contínuo nas indústrias farmacêutica e de alimentos, em especial
(regime permanente). nos processos fermentativos contínuos e no cultivo
O reator PFR geralmente é utilizado para contínuo de células e microorganismos. Reações de
produções em grande escala, conduzindo reações na esterificação para produção de ésteres e de
fase gasosa e em fase líquida. A elevada conversão por saponificação também podem ser conduzidas em
unidade de volume, o baixo custo de operação e a sua reatores CSTR.
operação contínua são as suas grandes vantagens. Já as
suas desvantagens são o baixo controle de temperatura
e o fato de a sua parada e limpeza serem onerosas. Dois
exemplos comerciais que aplicam reatores PFR são a
síntese de amônia a partir do nitrogênio e do hidrogênio
e a oxidação do dióxido de enxofre à trióxido de enxofre.

20
AULA 4
SISTEMAS DE REATORES
b. Rendimento de um produto (𝑌): Permite avaliar, em
um sistema em que ocorre mais de uma reação, quanto
reagente (𝐴) é efetivamente consumido para formar o
produto de interesse (𝑃).

𝑣𝐴 𝑛𝑃 − 𝑛𝑃,0
𝑌(𝑃/𝐴) = ( )( )
𝜈𝑃 𝑛𝐴 − 𝑛𝐴,0

Sendo, 𝜈 𝑜 coeficiente estequiométrico do


reagente A e do produto P.
Figura 14.3 - Exemplo de um reator do tipo CSTR ou de mistura. Aqui, colocamos entre parênteses 𝑌(𝑃/𝐴) para
PASQUALIN, K. indicar que o redimento do produto 𝑃 se refere ao
reagente 𝐴 . Os coeficientes estequiométricos
Em sistemas de reação, diferentes reatores empregados são aqueles da reação que forma o produto
podem ser associados a fim de conseguir os objetivos 𝑃. Esta também é uma grandeza que varia entre 0 e 1.
dispostos no projeto. Caso infinitos CSTR’s forem
associados em série, o sistema como um todo se b. Seletividade de uma reação (𝑆): ): Avalia a velocidade
comportará como um grande PFR. relativa com que uma reação se processa em detrimento
de outra. Este também é um parâmetro de sistemas em
que ocorrem reações múltiplas (quando as espécies
BALANÇOS DE MASSA COM REAÇÃO envolvidas em uma certa reação podem se combinar e
QUÍMICA – APROFUNDAMENTO dar origem a outras reações simultâneas). Suponha que
temos um produto de interesse 𝑃 e outro indesejável 𝑉
Parâmetros Úteis na Caracterização de sendo formados ao mesmo tempo. Podemos escrever a
Sistemas Reativos seletividade da reação que produz 𝑃, com relação a que
Como comentado anteriormente, existem produz 𝑉 como
outras variáveis mais simples e intuitivas que
contabilizam a extensão de uma reação. Elas são muito 𝑛𝑃 − 𝑛𝑃,0
𝑆(𝑃/𝑉) = ( )
importantes quando queremos avaliar de forma prática 𝑛𝑉 − 𝑛𝑉,0
sistemas reativos. Vejamos:
Novamente, utilizamos a notação 𝑃/𝑉 para
a. Fração de conversão (𝑓): É uma medida intensiva do indicar que a seletividade é de 𝑃 com respeito a 𝑉.
progresso de uma reação, relacionando a variação molar Agora vamos exercitar um pouco os conceitos,
de uma espécie reagente (𝑖). aplicando-os em alguns exemplos práticos.

𝑛𝑖,0 − 𝑛𝑖 Exemplo 1. Um reator produz óxido de etileno (𝐶2 𝐻4 𝑂)


𝑓𝑖 =
𝑛𝑖,0 a partir da oxidação do etileno ( 𝐶2 𝐻4 ). Encontre as
vazões molares (na entrada e na saída) e a fração molar
da alimentação de um reator que produz 44 toneladas
Nesta expressão, 𝑛𝑖 é a quantidade final e 𝑛𝑖,0 a por hora de óxido de etileno (𝑀𝑀 = 44 g/mol). Neste
quantidade inicial de mols. Para que a fração de caso é empregado um excesso molar de 40% de etileno
conversão fique restrita ao intervalo entre 0 e 1, utiliza- e deseja-se que 80% do oxigênio alimentado seja
se sempre o reagente limitante (aquele que está em convertido em óxido de etileno.
menor quantidade relativa, ou ainda que seria a primeira
espécie a ser completamente consumida) como a Reação química (não balanceada):
espécie 𝑖 da expressão acima.
𝐶2 𝐻4 + 𝑂2 → 𝐶2 𝐻4 𝑂

21
AULA 4
SISTEMAS DE REATORES
alimentado, são necessários 2 ∗ (1 + 0.4) = 2.8 mols de
Inicialmente devemos balancear a equação 𝐴:
química e utilizar uma notação que simplifique as
equações: kmol
2.8 ( de 𝐴) 𝑛̇ 𝐴,0 𝑛̇ 𝐴,0
h = =
2𝐶2 𝐻4 + 𝑂2 → 2𝐶2 𝐻4 𝑂 kmol 𝑛̇ 𝐵,0 625 (kmol)
1( de 𝐵)
2𝐴 + 𝐵 → 2𝑃 h h

Portanto,
Agora, vamos organizar os dados que nos foram
fornecidos, utilizando grandezas úteis: kmol
A produção de óxido de etileno permite com que 𝑛̇ 𝐴,0 = 1750
h
encontremos a vazão molar de 𝑃 na saída:
Uma vez que a proporção entre 𝐴 consumido e
kg 𝑃 formado é igual à razão 1:1:
44000 ( ) kmol
h
𝑛̇ 𝑃 = = 1000
kg h kmol kmol
44 ( ) 2( de 𝐴) 𝑛̇ 𝐴 − 𝑛̇ 𝐴,0 𝑛̇ 𝐴 − 1750 ( )
kmol h h
= =
kmol 𝑛̇ 𝑃 kmol
Pela estequiometria da reação, cada dois moles 2( de 𝑃) 1000 ( )
h h
de 𝑃 produzidos necessitam de um mol de 𝐵 combinado
Logo,
a dois moles de 𝐴. No entanto, a fração conversão de 𝐵
(𝑓𝐵 ) é de 80% - de modo que apenas esta porcentagem kmol
reage efetivamente: 𝑛̇ 𝐴 = 750
h
kmol kmol As frações de alimentação são calculadas
2( de 𝑃) 𝑛̇ 𝑃 1000 ( )
h = = h diretamente:
kmol
1( de 𝐵) 𝑓𝐵 𝑛̇ 𝐵,0 0.80 ∗ 𝑛̇ 𝐵,0
h 𝑛̇ 𝐴,0
𝑥𝐴,0 = ≈ 0,74
Logo, a quantidade alimentada de oxigênio (𝐵) é 𝑛̇ 𝐴,0 + 𝑛̇ 𝐵,0
obtida diretamente: 𝑥𝐵,0 ≈ 0,26

kmol Exemplo 2. Em um processo de oxidação do etanol


𝑛̇ 𝐵,0 = 625 (𝐶2 𝐻5 𝑂𝐻 ) para produção de acetaldeído (𝐶2 𝐻4 𝑂 ) as
h
seguintes reações ocorrem:
Utilizando a fração de conversão, encontramos a
quantidade que resta de 𝐵 na saída – ou seja, tudo aquilo 1
𝐶2 𝐻5 𝑂𝐻 + 𝑂2 → 𝐶2 𝐻4 𝑂 + 𝐻2 𝑂
que não reagiu (1 − 𝑓𝐵 ): 2
𝐶2 𝐻5 𝑂𝐻 + 3𝑂2 → 2𝐶𝑂2 + 3𝐻2 𝑂
kmol
𝑛̇ 𝐵 = (1 − 𝑓𝐵 )𝑛̇ 𝐵,0 = 125
h Tabela 14.1 - Dados referentes ao exemplo 2.
Para obtermos as quantidades associadas ao Componente 𝑛̇ 0 (kmol/h) 𝑛̇ (kmol/h)
óxido de etileno (𝐴) vamos utilizar a estequiometria da 𝐶2 𝐻5 𝑂𝐻 (𝐴) 400 15
reação. Sabemos que, para cada mol de 𝐵 alimentado, 𝑂2 (𝐵) 1000 720
são necessários 2 moles de 𝐴 para uma proporção 𝐶2 𝐻4 𝑂 (𝑃) 0 350
estequiométrica. No entanto, utiliza-se um excesso 𝐻2 𝑂 (𝑅) 0 455
molar de 40% de 𝐴 , ou seja, para cada mol de 𝐵 𝐶𝑂2 (𝑉) 0 70

22
AULA 4
SISTEMAS DE REATORES
Responda às seguintes questões, com base nos 1. Todo 𝐴 é consumido, ou seja, 𝑛̇ 𝐴 = 0 e o
dados expostos na Tabela 14.1: reagente limitante seria o próprio 𝐴 .
Neste caso temos:
a. As reações estão balanceadas? 𝑛̇ 𝐴,0 kmol
b. Qual o produto de interesse e o produto 𝑛̇ 𝑃 = ≈ 364
1.1 h
indesejável? kmol
𝑛̇ 𝐵 = 𝑛̇ 𝐵,0 − 0.8 𝑛̇ 𝑃 ≈ 709
c. Qual é a seletividade da reação que forma o h
produto de interesse? 2. Todo 𝐵 é consumido, ou seja, 𝑛̇ 𝐵 = 0 e
d. Quem é o reagente “limitante” e qual é a sua o reagente limitante seria o próprio 𝐵.
fração de conversão? Neste caso temos:
e. Qual é o rendimento do produto de interesse em 𝑛̇ 𝐵,0 kmol
𝑛̇ 𝑃 = = 1250
relação ao reagente “limitante”? 0.8 h
kmol
𝑛̇ 𝐴 = 𝑛̇ 𝐴,0 − 1.1 𝑛𝑃̇ = −975
Respostas h
Este último resultado é coerente? O que
a. Sim. ele diz? Justamente que 𝐵 está em
b. O produto de interesse é o acetaldeído, o excesso, pois seria necessária uma
produto indesejável é o dióxido de carbono. quantidade maior do que a inicial de 𝐴
c. A seletividade é definida como a razão entre o para que todo 𝐵 fosse consumido.
número de moles do produto desejado e do Portanto, o reagente limitante é o etanol
produto indesejado: (𝐴). Sua fração de conversão é obtida
350 diretamente:
𝑆(𝐶2 𝐻4 𝑂/𝐶𝑂2 ) = =5 𝑛𝐴,0 − 𝑛𝐴 400 − 15
70 𝑓𝐴 = = = 0.9625
d. Em reações múltiplas, encontrar o reagente 𝑛𝐴,0 400
limitante não é uma tarefa trivial. Por isso, e. O produto de interesse é 𝑃 e o reagente
vamos fazer uso do seguinte raciocínio: limitante é 𝐴. Assim,
qtde de 𝐴 que reagiu = 𝑛̇ 𝐴,0 − 𝑛̇ 𝐴 −1 𝑛𝑃 − 𝑛𝑃,0
A quantidade total que reage é uma soma das 𝑌(𝑃/𝐴) = ( ) ( )
1 𝑛𝐴 − 𝑛𝐴,0
quantidades que reagiram na 1ª e na 2ª reação. −1 350 − 0
Pela estequiometria de cada uma, sabemos que = ( )( ) ≈ 0.91
1 15 − 400
a quantidade de 𝐴 que reage na 1ª reação é igual
a quantidade de 𝑃 formada, enquanto que a Exemplo 4. Em um processo de alquilação, uma mistura
quantidade de 𝐴 que reage na 2ª reação é igual de isobutileno (A), isobutano (B) e traços de propileno (C)
a metade da quantidade de 𝑉 formada: são alimentados a um reator, onde o catalisador é ácido
𝑛̇ 𝐴,0 − 𝑛̇ 𝐴 = 𝑛̇ 𝑃 + 0.5 𝑛𝑉̇ sulfúrico, a fim de formar 2,2,4-trimetilpentano (P). Uma
Pelo mesmo raciocínio, aplicado ao reagente 𝐵: reação paralela acontece, formando 2,2-dimetilpentano
𝑛̇ 𝐵,0 − 𝑛̇ 𝐵 = 0.5 𝑛̇ 𝑃 + 1.5 𝑛̇ 𝑉 (𝑅):
Utilizando a seletividade, podemos dizer que:
𝑛̇ 𝑃 = 5 𝑛̇ 𝑉 ou 𝑛̇ 𝑉 = 0.2 𝑛̇ 𝑃 𝐴 + 𝐵 → 𝑃 (1)
Logo,
𝑛̇ 𝐴,0 − 𝑛̇ 𝐴 = 1.1 𝑛̇ 𝑃 𝐶 + 𝐵 → 𝑅 (2)
𝑛̇ 𝐵,0 − 𝑛̇ 𝐵 = 0.8 𝑛̇ 𝑃
Sabe-se ocorre uma conversão de 62% (em mols)
Assim, podemos afirmar que para cada mol de 𝐴
de 𝐵, e que a seletividade da reação para a formação de
que reage, são produzidos 1.1 moles de 𝑃; e para
P é de 94%. Desenvolva o balanço de massa para uma
cada mol de 𝐵 que reage são produzidos 0.8
alimentação de 200 kmol/h de 𝐴 250 kmol/h de 𝐵 e 70
moles de 𝑃. Vamos analisar dois casos-limite:
kmol/h de 𝐶.

23
AULA 4
SISTEMAS DE REATORES
Pelos dados, a quantidade total de B que irá 𝐶𝑂 + 2𝐻2 → 𝐶𝐻3 𝑂𝐻
reagir é de: 0,62 X 250 = 155 kmol/h. Desenvolva o balanço material no reator para uma
A seletividade indica que dos 155 Kmol/h que produção de 500 kg/h de metanol, considerando
reagem 94% são na reação 1, ou seja 141 Kmol/h de B alimentação estequiométrica e conversão de 90% do
reagem com 141 kmol/h de A formando 141 Kmol/h de CO alimentado.
P. 7. No processo de recuperação do catalisador, durante
Dos 155 Kmol/h que reagem se 141 Kmol/h são o craqueamento catalítico, 200 kg/mim de
usados na reação 1, 14 Kmol/h reagem na reação 2. catalisador devem ser recuperados. Sabe-se que
Pela estequiometria: nessa massa de catalisador estão impregnados 5
Na reação 1 - 1B:1A, portanto: 141 Kmol/h de A reagem. mol/mim de coque. Realize o balanço material,
Na reação 2 - 1B:1C, portanto: 14 Kmol/h de C reagem. sabendo que 97,5% do coque é queimado, com 40%
Ainda pela estequiometro é possível obter os de excesso de oxigênio, considerando que apenas
valores de P e de R. dióxido de carbono é produzido.
Na Tabela 14.4 todos os resultados estão 𝐶 + 𝑂2 → 𝐶𝑂2
dispostos. 8. No mesmo processo, exercício 7, ocorreram
mudanças na temperatura e agora uma segunda
Tabela 14.4 - Dados e resultados referentes ao exemplo 4. reação está acontecendo:
kmol/h 𝐴 𝐵 𝐶 𝑃 𝑅 𝐶 + 1⁄2 𝑂2 → 𝐶𝑂
Entrada 200,0 250,0 70,0 0 0 Desenvolva o balanço material, sabendo que 97,5%
Reage na do coque é consumido e que para cada mol de coque
141,0 141,0 - - - que reage são alimentados 5 mols de oxigênio. A
reação 1
Reage na velocidade da primeira reação é 20 vezes a
- 14,0 14,0 - - velocidade da segunda.
reação 2
Forma - - - 141,0 14,0 9. Em um processo de oxidação do etanol para
produção de acetaldeído, foram obtidos os seguintes
Saída 59,0 95,0 56 141,0 14,0
resultados na saída do reator:

Componente Vazão (kmol/h)


EXERCÍCIOS
𝐶𝐻3 𝐶𝐻𝑂 9,0
1. O que é uma reação química? Defina mecanismo e 𝐻2 𝑂 9,0
extensão de uma reação. 𝑂2 2,5
2. O que é equilíbrio e como ele pode ser 𝐶𝐻3 𝐶𝐻2 𝑂𝐻 1,0
modificado/deslocado? Como o catalisador
influência o equilíbrio? Comente sobre a variação de Reação:
temperatura e pressão frente ao equilíbrio. 𝐶𝐻3 𝐶𝐻2 𝑂𝐻 + 𝑂2 → 𝐶𝐻3 𝐶𝐻𝑂 + 𝐻2 𝑂
3. Quais são os tipos mais comuns de reatores? Faça Determine o reagente limitante, a conversão obtida
uma breve descrição de cada um. Ilustrações podem e o excesso utilizado no processo.
lhe ajudar.
4. Comente sobre o craqueamento catalítico. Como é 10. Considere as seguintes reações de cloração do
realizada a reação e a recuperação do catalisador. benzeno (𝐶6 𝐻6), em que o produto de interesse é o
Faça um esquema da reação/reator. monoclorobenzeno (𝐶6 𝐻5 𝐶𝑙):
5. Comente sobre o processo de alquilação. Discuta
como é o processo e fale da importância de retirar a 𝐶𝑙2 + 𝐶6 𝐻6 → 𝐶6 𝐻5 𝐶𝑙 + 𝐻𝐶𝑙
água das correntes de alimentação antes de enviá- 𝐶𝑙2 + 𝐶6 𝐻5 𝐶𝑙 → 𝐶6 𝐻4 𝐶𝑙2 + 𝐻𝐶𝑙
las para o processo. 𝐶𝑙2 + 𝐶6 𝐻4 𝐶𝑙2 → 𝐶6 𝐻3 𝐶𝑙3 + 𝐻𝐶𝑙
6. Um reator produz metanol a partir de monóxido de
carbono e gás hidrogênio, segundo a reação: Deseja-se obter um rendimento de 96% na
produção de clorobenzeno, em relação ao benzeno

24
AULA 4
SISTEMAS DE REATORES
alimentado. Para uma produção diária de 11,256 benzeno na corrente de destilado. Assuma que o
toneladas de clorobenzeno, contendo 2% (em mol) bifenilo deixa toda a coluna pela corrente de fundo.
de benzeno e para uma razão de alimentação de gás
cloro:benzeno igual a 7:3 (em base molar) calcule Dicas: Esquematize o processo completo, incluindo
qual deve ser a vazão molar de bezeno (em kmol/h) todas as informações fornecidas – utilize a
para alimentar o processo. Encontre também a simbologia correta.
seletividade do clorobenzeno com relação ao Realize um balanço material nas duas etapas do
diclorobenzeno. Assuma que a cloração do processo de separação.
diclorobenzeno (𝐶6 𝐻4 𝐶𝑙2 ) é insignificante frente à Como proceder? Assuma uma base de cálculo (por
cloração do clorobenzeno (𝐶6 𝐻5 𝐶𝑙). exemplo, 100 kmol/h de tolueno), assim é possível
encontrar a fração de benzeno que sai do 1º reator
Resposta: 111.6 kmol/h de benzeno são e, efetivamente, chega ao 2º (lembre-se de que há
necessários; uma perda de benzeno no processo de
condensação e outra no de destilação).
11. (Desafio) O benzeno (𝐶6 𝐻6) é produzido a partir da
reação entre o gás hidrogênio ( 𝐻2 ) e o tolueno Resposta: 218.7 kmol/h de tolueno devem ser
( 𝐶6 𝐻5 𝐶𝐻3 ), conhecida como hidrodealquilação. alimentados ao primeiro reator;
Entretanto, uma reação secundária acontece, na
qual o benzeno se decompõe em bifenilo (𝐶6 𝐻5 −
𝐶6 𝐻5 ) e gás hidrogênio:

𝐶6 𝐻5 𝐶𝐻3 + 𝐻2 → 𝐶6 𝐻6 + 𝐶𝐻4
2𝐶6 𝐻6 → 𝐻2 + 𝐶6 𝐻5 − 𝐶6 𝐻5

Qual deve ser a vazão de alimentação de tolueno


para suprir a demanda por benzeno do exercício
10? Leve em conta as seguintes informações:

a) Suponha que o rendimento da produção de


benzeno em relação ao tolueno é de 95%. A
alimentação do reator contém apenas gás
hidrogênio e tolueno – em uma proporção de 10:6
(molar).

b) Antes de ser enviado ao reator do exercício 10, a


corrente de saída do reator precisa ser purificada.
Considere que tal processamento ocorre em duas
etapas:
1. Na primeira, todo hidrogênio e metano presentes
são removidos através da diminuição de
temperatura do sistema. No entanto, o vapor
resultante contém traços de benzeno (3.0%) e
tolueno (1.0%). O restante do vapor é composto por
hidrogênio (8.0%) e metano (88.0%).
2. Na segunda, a corrente líquida da primeira etapa,
contendo tolueno, benzeno e bifenilo é enviada a
uma destiladora. Esse equipamento opera com uma
recuperação de 90% e uma pureza de 99% do

25
AULA 5
FLUIDOS
INTRODUÇÃO outras, movem-se com alta velocidade e colidem entre
si.
Nesta aula será abordado o estudo dos princípios Uma substância na fase gasosa possui forma e
básicos dos fluidos e suas principais propriedades. É volume variáveis, adquirindo as características espaciais
possível enumerar diversas aplicações da mecânica dos do recipiente no qual está contido. Por exemplo, um gás
fluidos em projetos de engenharia, como em aeronaves, qualquer colocado dentro de uma garrafa de 2 litros
dispositivos biomédicos, transporte de água, óleo e gás adquire a forma do recipiente ocupando o volume de 2
natural. A indústria petrolífera é um dos ramos que mais litros.
utiliza a mecânica dos fluidos; cabendo ao técnico de
petróleo o domínio do conhecimento básico desta área Fase líquida
para o desenvolvimento de suas atividades. Nesta fase as partículas encontram-se mais
unidas em relação às partículas da fase gasosa, mas não
totalmente unidas como na fase sólida. A energia
FLUIDOS cinética é intermediária entre a fase sólida e gasosa, não
havendo arranjo geométrico definido. Como resultado, o
Intuitivamente, a maioria das pessoas sabe líquido toma a forma do recipiente no qual está contido,
distinguir as diferenças entre um sólido e um fluido. mas o volume permanece relativamente constante
Entretanto, a caracterização dessas substâncias devido às forças de coesão entre as moléculas. O volume
necessita de uma definição mais formal e precisa. Sólidos do líquido não ocupa, necessariamente, o volume do
tendem a se deformar quando interagimos com ele, por recipiente no qual está contido.
exemplo, quando você se deita em uma cama, a espuma
do seu colchão se comprime; fluidos tendem a escoar,
por exemplo, quando você coloca leite em seu café da VISCOSIDADE (µ)
manhã.
A distinção formal entre um sólido e um fluido é A viscosidade é uma propriedade física que
baseada na capacidade da substância resistir à tensão de caracteriza a resistência de escoamento de um fluido.
cisalhamento aplicada, que tende a mudar sua forma. O Considere a situação mostrada na Figura 3.1, em
fluido deforma-se continuamente sob a aplicação de que se tem certa quantidade de fluído entre duas placas
uma tensão de cisalhamento, não importando o quão paralelas.
pequena seja essa força. Já o sólido resiste à tensão de
cisalhamento aplicada, não se deformando
continuamente. Aqui vale lembrar que na estática a
tensão é definida como força por unidade de área e é
determinada dividindo-se a força pela área sobre a qual
ela atua. A componente normal da força que atua sobre
a superfície por unidade de área é chamada de tensão Figura 3.1 - Fluido em repouso.
normal, a componente tangencial da força que atua
sobre uma superfície por unidade de área é chamada de Em um instante qualquer a placa móvel começa
tensão de cisalhamento. a se mover da esquerda para a direita a uma velocidade
Dentre as formas físicas nas quais a matéria constante. A partir desse instante, o fluido que está sob
existe os fluidos compreendem os estados líquido e essa placa também começa a se mover. Ao atingir o
gasoso. Estes diferentes aspectos da matéria são estado estacionário a distribuição de velocidade ao longo
chamados de fases de agregação e dependem da do fluido se torna constante com o tempo, como mostra
temperatura e pressão. a Figura 3.2.

Fase gasosa
Nesta fase as partículas do fluido possuem maior
energia cinética. Elas ficam muito distantes umas das

26
AULA 5
FLUIDOS
T (°C) µ (cp)
20 1
Água
80 0,35
20 0,018
Ar
80 0,020
Figura 3.2 - Distribuição do perfil de velocidade no estado Tabela 3.1 - Valores de viscosidade da água e do ar.
estacionário.
DENSIDADE (ρ)
Como a placa fixa não está em movimento à
camada de fluído sobre ela também se encontra em A densidade de um determinado tipo de matéria
repouso. Ou seja, a velocidade da camada fluída logo é definida como a massa da matéria ocupada por uma
acima da placa fixa é zero. unidade de volume. Por exemplo, a densidade da água á
Quando duas camadas fluidas movem-se uma temperatura ambiente é 1000 Kg/m3, ou seja, um 1m3 de
em relação à outra, uma força de atrito desenvolve-se água possui a massa de 1000 Kg. Já o mercúrio, que é
entre elas e a camada mais lenta tende a reduzir a muito mais denso, tem uma densidade de 13600 kg/m3.
velocidade da camada mais rápida. Esta resistência O cálculo da densidade é determinado pela
interna ao escoamento é quantificada pela propriedade divisão da massa (𝑚) da substância pelo seu volume (𝑉):
do fluido denominada de viscosidade, que é uma medida
𝑚
da aderência interna do fluido. Em um líquido a 𝜌=
viscosidade é causada por forças coesivas entre as 𝑉
moléculas e nos gases por colisões moleculares. Vale ressaltar que no Sistema Internacional (SI) a
A camada que está “grudada” na placa inferior unidade de densidade é kg/m3.
da Figura 3.2 desacelera a camada de fluido adjacente A densidade é uma propriedade que depende da
devido às forças viscosas entre as camadas, que, por sua temperatura e pressão as quais a substância está
vez, desacelera a camada seguinte e assim por diante. submetida. A elevação da temperatura leva a uma
Por isso é possível observar um perfil decrescente de redução da densidade, pois tal fator promove uma
velocidade da placa móvel até a placa fixa. elevação da energia cinética das moléculas e, com isso,
A viscosidade é uma propriedade que depende um aumento da distância entre elas. Ou seja, uma
da temperatura, ou seja, apresenta valores diferentes determinada massa passa a ocupar um maior volume,
para determinadas temperaturas. reduzindo, assim, a densidade da substância. O efeito
Para substâncias na fase líquida a viscosidade oposto é obtido com a redução da temperatura.
diminui com o aumento da temperatura. Pois, com a Entretanto, ressalta-se o efeito da temperatura sobre a
elevação da temperatura acorre uma redução das forças densidade é significativo apenas para os gases, para os
coesivas entre as moléculas do líquido devido ao líquidos é praticamente imperceptível.
aumento da energia cinética entre elas. Com isso ocorre Já a elevação da pressão leva a um aumento da
uma diminuição da resistência interna ao escoamento, densidade dos fluidos, pois as moléculas são
ou seja, da viscosidade. comprimidas, aproximadas, umas das outras. Com isso,
Para substâncias na fase gasosa a viscosidade um determinado volume passa a conter um número
aumenta com o aumento da temperatura, pois com a maior de moléculas. Ou seja, o mesmo volume apresenta
elevação da temperatura ocorre uma ampliação das maior massa, assim, aumentando a densidade da
colisões moleculares. O aumento das colisões faz com substância. O efeito oposto é obtido com a redução da
que ocorra uma elevação da resistência interna ao pressão do sistema.
escoamento, ou seja, da viscosidade. A Tabela 3.1 mostra
valores de viscosidade da água e do ar em função da
temperatura.

27
AULA 5
FLUIDOS
TRANSPORTE DE FLUIDOS de tubulação e o eixo x o diâmetro do tubo. A curva
decrescente representa o custo operacional do sistema,
Em uma indústria os fluidos são transportados, a curva crescente representa o custo da tubulação e a
basicamente, por tubulações. curva superior o custo total do projeto. O vértice desta
Tubos são condutos fechados, geralmente curva determina o diâmetro ótimo da tubulação
rígidos, que transportam um fluído que ocupa toda a utilizada.
área da seção transversal. Além dos tubos, as tubulações
também são formadas por acessórios, como ligações,
curvas, válvulas, derivações, que devem ser instalados
para garantir o transporte adequado do fluido.
Diversos fatores determinam a escolha do
material e dos acessórios da tubulação para cada
aplicação desejada. A natureza do fluido determina as
condições de operação, o sistema de ligação dos
componentes, o diâmetro, o custo dos tubos, bem como
as normas de segurança. Cabe ao técnico de petróleo
conhecer essas condições de operação para o
desenvolvimento de seu trabalho na indústria. Figura 3.3 - Determinação do diâmetro ótimo.
Vale destacar que as tubulações em uma
indústria de processo químico custam dois terços do NÚMERO DE REYNOLDS
valor dos equipamentos e um quinto do investimento
total. O número de Reynolds (Re) é um número
O escoamento de fluidos em tubulações pode adimensional usado para o cálculo do regime de
ser classificado de duas formas, laminar e turbulento. escoamento de determinado fluido dentro de um tubo
No escoamento laminar as camadas fluidas se ou sobre uma superfície. É utilizado, por exemplo, em
deslocam de forma ordenada, não havendo mistura projetos de tubulações industriais e asas de aviões.
interna ao decorrer do processo. Tal escoamento se Para velocidades de escoamento
processa quando as velocidades das camadas fluidas são suficientemente altas, deve ocorrer uma transição do
relativamente baixas. Já no escoamento turbulento as regime laminar para o regime turbulento, caracterizada
camadas fluidas se deslocam de forma desordenada, por mudanças bruscas e aleatórias de propriedades
havendo mistura interna ao decorrer do processo. Este como pressão e densidade. O irlandês Osborne Reynolds
escoamento é caracterizado por elevadas velocidades estudou esta transição entre escoamento laminar e
das camadas fluidas, fator que provoca a turbulência. turbulento no final do século XIX e chegou ao chamado
número de Reynolds. A natureza de um escoamento, isto
Diâmetro econômico
é, se laminar ou turbulento e sua posição relativa numa
A escolha do diâmetro da tubulação deve levar escala de turbulência é indicada pelo número de
em consideração os parâmetros econômicos e a Reynolds (Re), que é a relação entre as forças de inércia
disponibilidade de diâmetros dos tubos comerciais. (numerador) e as forças viscosas (denominador).
Na escolha do diâmetro dois fatores são
importantes. O primeiro é o custo da tubulação a ser 𝜌. 𝑣. 𝐷
instalada, o qual aumenta à medida que se escolhe 𝑅𝑒 =
𝜇
diâmetros maiores. O segundo é o custo operacional do
sistema, ou seja, a energia gasta com o bombeamento do Sendo:
fluido diminui com o aumento do diâmetro da tubulação. 𝒗 = velocidade média do fluido;
A soma do custo fixo mais o operacional apresenta um D = o diâmetro interno do tubo para o fluxo;
valor mínimo que determina o diâmetro econômico do μ = viscosidade dinâmica do fluido;
tubo utilizado. Na Figura 3.3 o eixo y é o custo por metro ρ = massa específica do fluido.

28
AULA 5
FLUIDOS
Para escoamento em dutos com seção circular, FABRICAÇÃO DAS TUBULAÇÕES
verifica-se que, para Re<2100, o escoamento, em geral,
é laminar. Se Re >2500, o escoamento, geralmente, é Os tubos são fabricados basicamente de duas
turbulento. Dessa forma, se estabelece uma faixa de formas, com costura e sem costura.
transição na qual os dois tipos de escoamento podem Os tubos com costura são produzidos soldando
existir, sendo que para 2100<Re<2500 ocorre essa as bordas de uma chapa dobrada longitudinalmente ou
situação de transição, condição que depende de em espiral, de modo a formar um cilindro. Já os tubos
condições ambientes, principalmente de vibrações no sem costura são produzidos através de quatro processos:
sistema. extrusão, laminação, fundição e forja.
Destaca-se que 80% dos tubos utilizados na
indústria de processo são produzidos por laminação ou
solda.

ACESSÓRIOS DE TUBULAÇÕES
Figura 3.4 – Camada Limite sobre uma placa plana. Os acessórios são dispositivos incorporados às
tubulações para garantir sua utilização dentro das
condições do projeto. Destinam-se a unir tubos, alterar
CLASSIFICAÇÃO DAS TUBULAÇÕES direção de escoamento, reduzir vazão, etc.

Diversos critérios são utilizados para classificar Tipos principais de acessório


as tubulações de uma instalação industrial. Dentre eles Existem diversos tipos de acessórios para
destacam-se: tubulações, como luvas, ligação de expansão, três, selas,
• Condições de operação; fechamento, etc. Nesta seção serão destacados apenas
Os tubos podem operar a vácuo ou a altas três, devido sua importância.
pressões, a temperaturas elevadas ou muito baixas, com UNIÕES: empregadas quando se deseja facilitar
fluídos corrosivos ou que explodem com facilidade, a desmontagem da tubulação ou tornar possível o
dentre diversas outras condições. rosqueamento de malhas complexas.
• Material de fabricação: FLANGES: são peças que se apertam uma contra
Podem ser metálicas, não metálicas e com a outra com parafusos e porcas, comprimindo uma junta
revestimento. O material com o qual a tubulação é de vedação. São usadas principalmente para união de
produzida segue uma série de normas internacionais que tubos e acoplagem de acessórios.
determinam, por exemplo, a porcentagem de elementos VÁLVULAS: é um dispositivo que tem como
formadores do material. função bloquear, controlar e regular um fluxo. Elas
• Objetivo da tubulação: podem ser classificadas de acordo com sua função ou
A tubulação pode ter como única finalidade o ainda de acordo com a forma de acionamento:
transporte de material, como os oleodutos de uma automáticas ou manuais.
petrolífera. Além do transporte, a tubulação pode
apresentar o objetivo da troca térmica, como em Classificação das válvulas de acordo com
trocadores de calor, tubos de caldeiras e fornos de sua função
refinaria. Além desses, há outros objetivos para os tubos, • Bloqueio:
como o uso estrutural, a instrumentação, etc. Utilizadas em processos que necessitam
operação de bloqueio ou liberação para a passagem de
fluido. As principais válvulas de bloqueio são a gaveta,
macho, esfera e comporta.

29
AULA 5
FLUIDOS
• Regulagem: ARMAZENAMENTO DE FLUIDOS
Utilizadas para controlar o fluxo do processo. As
principais válvulas de regulagem são a diafragma, Um tanque de armazenamento, também
borboleta, globo, controle e agulha. designado de reservatório, é um recipiente destinado a
• Fluxo em único sentido: armazenar fluidos a diferentes pressões. Na indústria de
Utilizadas para impedir o retorno do fluido para processo, a maior parte dos tanques de armazenamento
o sentido oposto ao do escoamento. As principais é construída de acordo com os requisitos definidos pelo
válvulas são a retenção, retenção e fechamento e pé. código americano API 650. A construção desses tanques
• Controle de pressão a montante: pode ser feita com teto fixo ou flutuante, interno ou
As principais válvulas são a de segurança e alívio, externo, dependendo sempre das características e o tipo
contrapressão e excesso de vazão. de produto armazenado. É de extrema importância
• Controle de pressão a jusante: realizar, periodicamente, a verificação e limpeza das
As principais válvulas são as redutoras e estruturas e equipamentos utilizados para armazenar os
reguladoras de pressão e quebra vácuo. produtos. Desta forma, garante-se que não se alterem as
as características dos compostos, além de evitar
acidentes e a contaminação do meio ambiente por
BOMBAS E COMPRESSORES degradação dos tanques.
Os tanques são classificados de acordo com sua
Para que os fluidos escoem nas condições geometria e o tipo de teto que apresenta.
desejadas é necessário fornecer energia mecânica a eles. Em relação à geometria os tanques podem ser
Tal processo é realizado por máquinas de fluxo cilíndricos e esféricos. Os esféricos são mais vantajosos
denominadas bombas, quando o fluido é um líquido, e por não apresentarem vértices, reduzindo, assim, a
compressores, quando o fluido é um gás. perda de substâncias que ficam nos cantos e, com isso, a
As máquinas de fluxo podem ser classificadas em contaminação por agentes biológicos. Além disso, são
duas categorias: mais recomendado para o armazenamento de gases,
• Deslocamento positivo: visto que sua forma geométrica aumenta a resistência
Nestas máquinas certa porção de fluido é mecânica do equipamento permitindo, assim, o
aprisionada em uma câmara e por ação do movimento armazenamento a elevadas pressões.
de um pistão ou de peças rotativas, é impulsionada para Em relação ao teto, os tanques podem ser
a tubulação. As máquinas com pistão são denominadas classificados de teto fixo e móvel. Os de teto fixo são,
recíprocas ou alternativas, enquanto aquelas com peças geralmente, utilizados para armazenar petróleo e seus
rotativas chamam-se bombas rotativas de deslocamento derivados. Os principais tipos de tetos utilizados na
positivo. indústria são os cônicos, curvo, em umbrela, esferoidal e
• Ação centrífuga: sei-esferoidal. O tipo de teto fixo mais utilizado em
Essas máquinas constam essencialmente de uma refinarias é o cônico, indicado somente para os derivados
carcaça dentro da qual gira um rotor provido de pás. de petróleo mais pesados (asfalto, parafina, óleo
Quando o rotor é posto em movimento, o fluido que combustível, diesel) e para produtos químicos como
preenche a carcaça entra em rotação por ação das pás. A soda cáustica e amônia. Nos tanques de teto móvel o
força centrífuga decorrente da rotação do fluido move-o teto desloca-se de acordo com a pressão exercida
radialmente do centro para a borda do rotor. À pelo vapor. Devido a esses movimentos, é necessária a
proporção que o fluido se afasta do centro do rotor sua existência de dispositivos de segurança, com a finalidade
energia cinética aumenta. Ao escapar do rotor sua de evitar acidentes provocados por um possível excesso
energia cinética é convertida em carga de pressão. de pressão. Para evitar as perdas com a evaporação, usa-
se um vedante entre o teto e a parede do tanque. Há
também o tanque de teto flutuante, onde o teto flutua
sobre o produto armazenado, evitando formação de
espaços de vapor, estes tanques são utilizados para

30
AULA 5
FLUIDOS
armazenamento de produtos com frações leves 3. Explique como a temperatura e pressão afetam o
(petróleo, naftas, gasolinas). valor da densidade de líquido e gases.
4. Calcular o número de Reynolds e identificar se o
escoamento é laminar ou turbulento sabendo-se
CONVERSÃO DE VAZÃO que em uma tubulação, com diâmetro de 4 cm,
escoa água com uma velocidade de 0,05 m/s.
No cálculo de balanço de massa é possível Viscosidade dinâmica da água: µ= 1,0030 x 10¯³
converter vazão volumétrica para mássica ou vice-versa N.s/m².
utilizando a densidade da substância (ou da mistura) em 5. Uma tubulação de uma refinaria da Petrobras está
questão para a conversão. apresentando refluxo de combustível. Que
sugestão o técnico da unidade de transporte daria
Exemplo 1. Um técnico foi designado para medir a vazão ao engenheiro químico responsável para solucionar
mássica de um tubo que transporta água em uma o problema.
refinaria. As únicas informações que o funcionário 6. Você deseja armazenar um fluído volátil em uma
dispunha era que a cada 20 s passava pela tubulação 500 região onde as temperaturas ambientes costumam
m3 de água, além disso, que a densidade da água na ser elevadas. Qual tipo de tanque você escolheria e
temperatura e pressão de operação era de 1000 Kg/m3. por quê?
Determine a vazão mássica obtida pelo técnico da 7. Um técnico foi designado para medir a vazão
empresa. mássica de um tubo que transporta água em uma
refinaria. As únicas informações que o funcionário
Primeiramente, determina-se a vazão dispunha era que a cada 40 s passava pela
volumétrica (Q) do sistema dividindo-se o volume de tubulação 2000 m3 de água, além disso, que a
fluido que passa através do tubo pelo determinado densidade da água na temperatura e pressão de
intervalo de tempo: operação era de 1000 Kg/m3. Determine a vazão
mássica obtida pelo técnico da empresa.
𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 500 𝑚3 𝑚3 8. Água nas condições ambiente é transportada em
𝑄̇ = = = 25
𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜 20 𝑠 𝑠 uma tubulação de PVC a uma vazão de 20 m3/s.
Determine a vazão mássica da corrente de água e
Em seguida, para determinar a vazão mássica quanto tempo seria necessário para encher um
utiliza-se a densidade como fator de conversão: reservatório de 5000 L.
9. Uma corrente de ar a 100 °C e 1 atm é transportada
𝑚3 𝐾𝑔
𝑚̇ = 𝑉. 𝜌 = 25 . 1000 3 por um tubo industrial a uma vazão de 1 m3/s.
𝑠 𝑚 Determine a vazão mássica da corrente de ar
𝑘𝑔 sabendo que a massa molar média do ar é de 28,96
𝑚̇ = 25000 g/mol. Para resolver este exercício utilize a equação
𝑠
dos gases ideais.
10. Em uma instalação industrial medidas preventivas,
EXERCÍCIOS como a instalação de válvulas em único sentido
antes de tanques de retenção, são tomadas para
1. Com base no conceito de tensão de cisalhamento, evitar contratempos como o refluxo de fluido. Uma
defina o que é um fluido comparando suas linha de óleo de uma refinaria contêm duas bombas
diferenças com sólidos. ligadas em paralelo. Quando uma apresenta defeito
2. Com suas palavras defina o que é viscosidade. a outra é acionada e, assim, o processo produtivo
Determine as diferenças dessa propriedade física não para. Qual das duas válvulas a seguir você
para líquidos e gases, esclarecendo como a colocaria antes das bombas e por quê?
temperatura afeta o valor da viscosidade para esses • Válvula de bloqueio
estados da matéria. • Válvula de regulagem

31
AULA 6
BALANÇO DE ENERGIA EM TUBULAÇÕES E BOMBAS

INTRODUÇÃO
Nesta aula será abordado o estudo dos princípios
básicos de escoamento de fluidos em tubulações e
máquinas de fluxo. Primeiramente, será desenvolvida
uma análise das variações energéticas envolvidas no
processo de transporte de substâncias fluidas. Em
seguida, esse estudo será estendido a sistemas de
bombeamento a fim de aprender como calcular a carga
energética oferecia por estes equipamentos. Por fim será
dada atenção ao princípio funcionamento dos principais
medidores de vazão usados na indústria. O
conhecimento dos aspectos abordados nesta aula é de Figura 7.1 - Volume de controle com fronteiras reais e imaginárias.
fundamental importância para a atuação de técnicos da
indústria química.
BALANÇO DE ENERGIA
Como você aprendeu nas aulas de física, em um
VOLUME DE CONTROLE sistema sujeito apenas a forças conservativas a energia
No estudo da mecânica clássica geralmente mecânica total se conserva. Neste caso, podemos dizer
emprega-se o diagrama de corpo livre como enfoque do que a soma das energias cinética e potencial é constante
sistema analisado. Contudo, na mecânica dos fluidos em qualquer intervalo de tempo.
normalmente o interesse está direcionado ao O princípio geral da conservação da energia diz
escoamento de fluidos através de dispositivos como que a energia total de um sistema isolado é sempre
bombas, turbinas, tubulações, etc. Nestes casos, é difícil constante, pois este sistema não troca massa e nem
direcionar a atenção numa quantidade de massa fixa energia com suas vizinhanças.
identificável. É mais conveniente, para análise, Considerando um sistema isolado e partindo do
concentrar a atenção num volume do espaço através do principio geral da conservação da energia é possível fazer
qual o fluido escoa, ou seja, o volume de controle. uma análise do escoamento de fluídos através de
A fronteira geométrica do volume de controle é tubulações e dispositivos como bombas. Esta análise
denominada superfície de controle, a qual pode ser real pode ser feita através da equação de Bernoulli:
ou imaginária. A Figura 7.1 mostra o escoamento em um 𝛥𝑣 2 𝛥𝑃
bocal com uma superfície de controle delimitada pela + 𝛥𝑧 + + 𝑙𝑤 = 0
2𝑔 𝜌𝑔
linha tracejada. Note que as regiões posterior e inferior
da superfície correspondem a limites físicos, enquanto as 𝛥𝑣 2
regiões esquerda e direita correspondem a limites Sendo, 2𝑔
a variação da energia cinética do
imaginários. Para o volume de controle definido é 𝛥𝑃
sistema, 𝛥𝑧 a variação da energia potencial, 𝜌𝑔
a
possível escrever equações para as leis básicas da
variação da energia de pressão e 𝑙𝑤 a perda de carga.
dinâmica dos fluídos a fim de se obter, por exemplo, a
A equação de Bernoulli informa quais os tipos de
velocidade de escoamento na saída do bocal. Vale
energias envolvidas e suas interferências no processo de
destacar que é sempre importante tomar cuidado na
escoamento de fluidos.
seleção do volume de controle, pois a escolha afeta a
Para o desenvolvimento da análise é necessário
formulação matemática do sistema analisado.
determinar o volume de controle do sistema em
questão. Como ponto inicial de estudo será considerado
o volume de controle em uma tubulação horizontal por
onde escoa água, Figura 7.2.

32
AULA 6
BALANÇO DE ENERGIA EM TUBULAÇÕES E BOMBAS

A perda de carga toal de um sistema pode ser


classificada como sendo a soma de dois tipod de perda
de cagra: a distribuída e a localizada.
A perda de carga distribuída ocorre ao longo da
Figura 7.2–Volume de controle em uma tubulação horizontal. tubulação em consequência do atrito entre o fluido e a
parede do tubo. Dessa forma, quanto maior o trecho da
Inicialmente, para o deslocamento da água ela tubulação, maior será esta perda de carga. O diâmetro
necessita de uma determinada quantidade de energia também influencia na perda de carga. Quanto menor o
propulsora, como a energia de pressão, por exemplo. diâmetro, maior o atrito com as paredes da tubulação,
Naturalmente, um fluido se movimenta da região de causando, assim, maior perda de energia.
maior pressão para a região de menor pressão. Esta A perda de carga localizada ocorre devido a
característica pode ser facilmente observada através da mudanças de direção durante o escoamento e devido à
análise dos fenômenos climáticos. Por exemplo, em um presença de acessórios como conexões, válvulas,
dia muito quente em que se aproxima uma frente fria medidores de vazão, etc. Vale destacar que ao mudar de
geralmente tem-se a ocorrência de vendavais, pois há o direção o fluido perde muita energia, pois ele entra em
deslocamento de uma grade massa de ar de uma região choque direto com a parede da curva. Por isso, o projeto
de alta pressão (massa de ar frio) para uma região de de um sistema de tubulações deve ser desenvolvido de
baixa pressão (massa de ar quente). forma a considerar, por exemplo, o menor número
Conforme o volume de controle apresentado possível de cotovelos.
pela Figura 7.2, o fluido em estudo escoa da região 1 O cálculo de perda de carga do sistema deve ser
(maior pressão) para a região 2 (menor pressão). A feito somando as perdas de carga localizada e
variação da energia de pressão sofrida pela água é distribuída. A perda de carga depende, entre outros
caracterizada pela variação de pressão da entrada à saída fatores, do material que compõem a tubulação e
do volume de controle. acessórios, bem como o tipo de fluido a ser transportado.
Durante o escoamento a água adquire Neste aspecto, vale destacar que a densidade do fluido
determinada velocidade que sofre uma pequena afeta consideravelmente a perda de carga do processo.
variação durante o processo. Consequentemente, a Quanto mais densa a substância, maior seu atrito com a
substância apresenta variação de energia cinética. tubulação e, consequentemente, a perda de carga do
A tubulação em estudo não possui variação de sistema é elevada. Este aspecto pode ser observado pela
altura, portanto, o deslocamento do fluido não é análise do termo de energia de pressão na equação de
caracterizado por uma variação de energia potencial. Bernoulli, o qual é função da densidade do fluido
Dessa forma, o segundo termo na equação de Bernoulli transportado. Além disso, outro ponto de destaque
(𝑔𝛥𝑧) possui valor zero. refere-se ao regime de escoamento do sistema. Quanto
mais turbulento o regime, maior a perda de carga, pois a
Perda de carga frequência de choques entre as moléculas do fluido e as
Como o escoamento de fluidos é caracterizado
paredes da tubulação é mais intensa.
pelo deslocamento de uma substância através de uma
superfície sólida há o surgimento de uma força contrária
ao deslocamento. Esta força se deve ao atrito das
BALANÇO DE ENERGIA EM BOMBAS
moléculas do fluido com a superfície da tubulação ou
acessórios componentes do sistema. A força de atrito Como dito anteriormente, para o escoamento de
acarreta perda de energia no processo, pois é contrária fluidos é necessária à atuação de uma força propulsora.
ao movimento. Esta perda energética deve ser Esta força pode ser a gravidade, como no sistema
contabilizada no balaço de energia do sistema e está hidráulico de residências. Neste caso, as caixas de água
representada pelo quarto termo na equação de Bernoulli são colocadas em lugares altos para que o fluido possa
(𝑙𝑤 ). ser distribuído através dos cômodos da residência sem o
uso de uma bomba. Entretanto, em indústrias não é

33
AULA 6
BALANÇO DE ENERGIA EM TUBULAÇÕES E BOMBAS

possível fazer todo o transporte dos fluidos apenas com tanque, a tubulação, a bomba e a entrada da coluna de
a força da gravidade. Para isso é necessária à utilização destilação. Analisando o volume de controle percebe-se
de máquinas de fluxo como bombas e compressores. que todos os termos da equação de Bernoulli devem ser
Para o dimensionamento de uma bomba considerados no balanço de energia. Entre os pontos 1 e
centrífuga é preciso determinar quantitativamente a 2 há variação de energia cinética, energia potencial
energia necessária para transportar o fluido em questão. representada pela variação de altura (ΔZ), energia de
Este parâmetro é obtido através do balanço de energia pressão e perda de carga provocada pela tubulação e
do sistema, o qual também é representado pela equação acessórios. Com a posse do valor numérico desses
de Bernoulli. termos é possível determinar o head da bomba com a
Analisando a equação de Bernoulli como foi aplicação da equação de Bernoulli.
apresentada anteriormente, percebe-se que para o
dimensionamento de bombas é necessário à introdução
de mais um termo para manter o princípio de Exemplo 1. Na linha representada pela Figura 7.4
conservação da energia. O termo refere-se à quantidade deverão escoar 18 m3/h de um fluido com densidade de
de energia que o equipamento fornece ao fluido, o qual 780 Kg/m3. Considerando que os tubos possuem 50 mm
é representado pela letra H e é denominado head da de diâmetro, com área de escoamento de 0,002298 m2 e
bomba. Com mais este termo a equação de Bernoulli que a soma das perdas de carga distribuídas e localizadas
para o balanço de energia em sistemas com máquinas de são de 8 m, determine a carga que a bomba deve
fluxo é representada da seguinte forma: fornecer para transportar o fluido em questão do ponto
1 ao 2.
𝛥𝑣 2 𝛥𝑃
+ 𝛥𝑧 + + 𝑙𝑤 + 𝐻 = 0
2𝑔 𝜌𝑔 P = 200 Kpa
manométrica
2
Assim como em tubulações, o balanço de
energia em sistemas com máquinas de fluxo requer a
determinação de um volume de controle, como mostra 4,5 m
a Figura 7.3. P = atm
1

2,5 m

Figura 7.4 - Esquema representativo do Exemplo 1.

Inicialmente é preciso determinar o volume de


controle do sistema que englobe toda a seção de
transporte. O volume de controle escolhido estende-se
do ponto 1 ao 2.
A próxima etapa é determinar as variações de
energia cinética, potencial e de pressão para serem
Figura 7.3 - Volume de controle para o dimensionamento de aplicadas na equação de Bernoulli.
bombas.
Determinação da variação da energia cinética:
O fluxograma da Figura 7.3 pode representar, No ponto 1, saída do primeiro tanque, a
por exemplo, o esquema de transporte de petróleo de velocidade é zero, pois é a partir desta região que se
um tanque de armazenamento para uma coluna de iniciará o movimento do fluido. No ponto 2, entrada do
destilação. O volume de controle determinado estende- segundo tanque, a velocidade não é zero e pode ser
se do ponto 1 ao 2, ou seja, compreende a saída do

34
AULA 6
BALANÇO DE ENERGIA EM TUBULAÇÕES E BOMBAS

determinada através da vazão volumétrica ( 𝑄 ) do demais. Isto ocorre porque, geralmente, a variação de
sistema. velocidade em sistemas de bombeamento é muito
pequena. Assim, como a variação de energia cinética é
𝑄 irrelevante em comparação com as demais ela pode ser
𝑣 =
𝐴 desprezada na maioria dos casos.
Sendo, A a área de escoamento. Assim:

18 𝑚3 /ℎ CURVA DO SISTEMA
𝑣 = = 2,2 𝑚/𝑠
0,002298 𝑚2 Continuando a análise do sistema da Figura 7.4.
Se nenhuma das condições físicas da linha, como o nível
Com o valor das velocidades na entrada e saído
de fluido, pressão em 1 e 2 e abertura da válvula, forem
do volume de controle é possível determinar a variação
alteradas e por ela passarem vazões variadas, na
de energia cinética:
equação de Bernoulli para bombas os termos que
𝛥𝑣 2 2,22 − 02 representam a energia potencial e de pressão serão
= = 0,25 𝑚 constantes. Com isso, apenas ocorrerá variação da
2. 𝑔 2. 𝑔
energia cinética e perda de carga, ambas funções da
Determinação da energia potencial: velocidade. Esta característica pode ser analisada através
de um gráfico que representa a carga da bomba em
𝛥𝑧 = 𝑍2 − 𝑍1 = 4,5 𝑚 − 2,5 𝑚 = 2 𝑚 função da vazão volumétrica. A curva obtida é
denominada curva do sistema e representa a quantidade
Determinação da energia de pressão: de energia que o sistema deverá receber para manter
O cálculo envolvendo pressão deve ser feito com uma determinada vazão (Figura 7.4).
ambas as pressões na forma manométrica ou absoluta.
O importante é que ambas estejam na mesma categoria.

𝛥𝑃 (200. 103 − 0)
= = 26,2 𝑚
𝜌. 𝑔 780.9,8

Determinação do head da bomba:


Do enunciado tem-se que a perda de carga total
é de 8 m. Com este valor e as energias calculadas
anteriormente obtêm-se a carga da bomba através da
equação de Bernoulli:

𝛥𝑣 2 𝛥𝑃 Figura 7.4 - Curva do sistema.


+ 𝛥𝑧 + + 𝑙𝑤 + 𝐻 = 0
2. 𝑔 𝜌. 𝑔
A curva contínua da Figura 7.4 mostra a variação
0,25 + 2 + 26,2 + 8 + 𝐻 = 0 do head da bomba em função da vazão em um sistema
recém-instalado. Já a curva pontilhada indica um sistema
𝐻 = 36,5 𝑚 operando a um longo período de tempo. A maior
inclinação desta curva mostra que o sistema com maior
A pesar de o valor numérico de H possuir sinal tempo de operação necessita de mais energia para
negativo, adota-se o valor positivo porque a bomba é um manter o fluxo, pois a perda de carga é maior devido a
equipamento que fornece energia ao fluido. incrustações formadas na tubulação com o período
Analisando os valores de energia nota-se que o operação, por exemplo. Além disso, destaca-se que a
termo cinético é muito pequeno em comparação com os interseção das curvas com o eixo das ordenadas refere-

35
AULA 6
BALANÇO DE ENERGIA EM TUBULAÇÕES E BOMBAS

se à carga estática do sistema, ou seja, a soma das


energias potencial e de pressão, as quais são constantes
como mencionado anteriormente.

ASSOCIAÇÃO DE BOMBAS
Há situações em que é impossível encontrar uma
bomba centrífuga que se adapte de modo conveniente Figura 7.5 - Escoamento interno através de um bocal genérico,
mostrando o volume de controle usado para análise, ponto 1 ao 2.
ao serviço. Por exemplo, a alimentação a baixa vazão de
um reator que opera a alta pressão. Para isso, seria A ideia é que a variação de velocidade leva a uma
necessário encontrar uma bomba com alto H e baixo Q, variação de pressão, a qual pode ser medida por um
com eficiência aceitável, o que é raro. Nesses casos medidor de pressão diferencial ou um manômetro. Com
recomenda-se a associação de duas bombas em série. A o valor obtido da variação de pressão é possível obter a
mesma vazão (baixa) passa por duas bombas recebendo vazão do sistema através de uma correlação empírica
o dobro de carga energética. Contudo, se o que deseja é para o medidor de vazão utilizado. A desvantagem de
alta vazão com baixa carga associam-se duas bombas em medidores de vazão de restrição de área é que a variação
paralelo, dividindo a vazão e mantendo a carga de pressão obtida não é linearmente proporcional à
energética igual à de apenas uma bomba. vazão. Já os medidores de vazão lineares apresentam
variação de pressão linearmente proporcional à vazão.
Contudo, não entraremos no mérito destes dispositivos
MEDIDORES DE VAZÃO devido ao seu reduzido uso na indústria. Além disso, os
medidores por restrição de área são mais versáteis a
No estudo desenvolvido até aqui foi abordado diversos tipos de fluidos.
diversas vezes no conceito de vazão, tanto mássica A seguir serão apresentados os principais
quanto volumétrica. A vazão é umas das características medidores de vazão por restrição de área usados na
mais importantes em processos industriais e saber como indústria.
quantificá-la é fundamental para manter uma planta em
condições de operação. Placa de orifício
A maneira mais simples de medir a vazão em um A placa de orifício (Figura 7.5) é uma placa que
tubo é o método direto, que consiste em determinar a pode ser interposta entre flanges e tubos. Devido a sua
quantidade de fluido que acumula em um recipiente geometria simples, é de baixo custo e de fácil instalação
durante um determinado período de tempo. Entretanto, e manutenção. Ao passar pelo orifício da placa o fluido
esse método pode acarretar grandes erros para curtos aumenta sua velocidade acarretando variação de
períodos de tempo, além de incertezas ocasionadas pela pressão. Com a variação de pressão obtêm-se a vazão
manipulação manual do aparato. Por estes motivos os volumétrica através de uma correlação empírica
medidores de vazão mais utilizados nas indústrias são específica para este dispositivo.
baseados em métodos indiretos. Tais métodos consistem
na medição de alguma propriedade relacionada à vazão Venturi
volumétrica ou mássica, como a velocidade, por O medidor venturi (Figura 7.6) é um tubo com
exemplo, a fim de se obter a vazão do sistema. estrangulamento cônico interno que promove a variação
Os medidores de vazão são divididos em dois de velocidade do fluido. Geralmente este dispositivo é
grandes grupos: os medidores de vazão de restrição para pesado, volumoso e caro, mas apresenta menor perda de
escoamentos internos e os medidores de vazão lineares. carga que a placa de orifício. Seu princípio de
Os primeiros baseiam-se no princípio da aceleração der funcionamento segue a mesma ideia da placa de orifício,
uma corrente fluida através de alguma forma de bocal, com uma correlação empírica específica para este
conforme mostra o esquema da Figura 7.5. dispositivo.

36
AULA 6
BALANÇO DE ENERGIA EM TUBULAÇÕES E BOMBAS

3. Defina perda carga e explique porque uma tubulação


com menor diâmetro apresenta maior perda de
carga que uma tubulação com maior diâmetro.
4. Na linha descrita pela Figura 7.8 deverão escoar 20
m3/h de água a 25 °C. Considere que a área de
escoamento dos tubos é de 0,003090 m2 e que a
perda de carga distribuída é de 6 m e a perda de
carga localizada é de 4 m. Determine o volume de
Figura 7.6 - Escoamento interno através de um tubo venturi. controle e a carga da bomba. Para isso, considere
que a pressão no tanque de origem é de 1atm
(manométrica) e que a pressão no tanque de destino
EXERCÍCIOS é de 200 kPa.

1. Defina volume de controle exemplificando com um


desenho esquemático de uma tubulação, indique no
esquema as fronteiras imaginárias e reais.
2. Escreva a equação de Bernoulli para escoamento em
tubulações explicando os quatro termos envolvidos. 6m

Em seguida, determine um volume de controle da


linha da Figura 7.7 e indique quais termos da
equação de Bernoulli são válidos e por quê? Neste
esquema determinada vazão de água é direcionada
de um tanque de um armazenamento a uma coluna
de absorção.
Figura 7.8 - Esquema para o exercício 4.

5. Na linha da Figura 7.9 (tubos de 40 mm, classe


médio), 15 m3/h de água (massa específica de 1000
TANQUE
Kg/m3) deverão ser bombeados da cisterna para o
reservatório elevado. Sabendo que as perdas de
carga na linha serão de 6 m, determine a carga da
h
bomba necessária para o serviço. Considere que
ambos os tanques estão abertos à atmosfera.

Coluna

Figura7.7 - Esquema para o exercício 2.

37
AULA 6
BALANÇO DE ENERGIA EM TUBULAÇÕES E BOMBAS

8m

2m

3m

Figura 7.9 - Esquema para o exercício 5.

6. Explique por que em uma curva do sistema em que


uma bomba opera a inclinação da curva aumenta
com o tempo.
7. Você foi contratado como técnico operador de uma
refinaria. Em seu primeiro dia trabalho você verificou
que a bomba de uma linha não esta dando conta de
direcionar a baixa vazão de óleo a um tanque de
armazenamento. Que sugestão você daria ao
engenheiro químico responsável para solucionar o
problema: a instalação de duas bombas em série ou
em paralelo? Explique os motivos de sua escolha.
8. Explique o princípio de funcionamento dos
medidores de vazão de restrição para escoamento
interno exemplificando com um exemplo.
9. Você adicionaria alguma válvula de retenção na linha
da Figura 7.9? Se a resposta for sim, indique o local
explicando o porquê?

38
AULA 7
SEPARAÇÃO GÁS-GÁS

SEPARAÇÃO GÁS/GÁS • Características físicas e químicas da superfície –


determinante do tipo de interação da superfície
Os principais processos de separação de com o gás;
misturas de dois ou mais gases se resumem, • Porosidade do sólido – influência na área superficial
basicamente, em liquefação, adsorção e absorção. do adsorvente. A porosidade (𝜀) do sólido é definida
como o volume dos poros ( 𝑉𝑃 ), isto é, espaços
Liquefação vazios, que dão passagem para o fluido em questão,
É um processo no qual os gases passam por uma em relação ao volume do sólido (𝑉𝑆 ).
diminuição de temperatura ou aumento de pressão, para 𝑉𝑃
que um ou mais deles seja liquefeito. Caso seja 𝜀=
𝑉𝑆
necessário, posteriormente, podem ser separados por Por isso ocorre o largo emprego de sólidos
destilação. porosos, que possuem uma grande área superficial por
Você pode analisar a influência da temperatura unidade de massa quando comparados aos sólidos
e da pressão na fase de uma substância através do comuns.
diagrama de fases, como o mostrado na Figura 6.4. Um dos primeiros adsorventes conhecidos e
mais usados atualmente é o carvão ativado. Ele é
produzido pela decomposição térmica controlada de
material orgânico (casca madeira, de coco, de arroz,
ossos de animais, etc.), seguida pela ativação, que tem a
finalidade de aumentar a área superficial e/ou conferir
determinadas propriedades, para facilitar a interação
com o fluído a ser adsorvido. O carvão ativado é
caracterizado como de baixo custo, alta porosidade (até
0,85) e alta área superficial (até 1200 m²/g).
Além do carvão ativado existem outros
adsorventes, dependendo da aplicação necessária. Por
exemplo: sílica gel, alumina ativada, peneiras
moleculares (zeólitas), etc.

Equipamentos
Esse processo normalmente é feito em
Figura 6.4 - Diagrama de fases do CO2.
equipamentos chamados de colunas de adsorção (ou
Adsorção adsorvedoras). Essas colunas são equipamentos que
O processo de adsorção consiste na interação possuem um leito de adsorvente pelo qual escoa o fluído
entre um dos gases com um sólido, normalmente que será separado.
poroso. Essa interação se dá no sentido do gás com maior Normalmente elas são colocadas em série, uma
afinidade pelo sólido (adsorvente) ficar aderido na após a outra, para aumentar a eficiência do processo e
superfície do mesmo, enquanto o outro gás continua na diminuir seu tamanho.
corrente. Esses equipamentos podem ser de leito fixo, que
nada mais é do que uma coluna, na qual, os sólidos
Adsorvente permanecem fixos e apresentam os espaços vazios
Como a adsorção é um processo de superfície, (porosidade), na qual o fluido, escoa através. A coluna de
isto é, ocorre apenas na superfície do sólido, é desejável adsorção pode ser também do tipo leito fluidizado, na
que o mesmo possua uma área superficial elevada. qual o sólido é movimentado com a passagem do gás,
Sendo assim, a adsorção depende essencialmente de dando a impressão de que os sólidos fazem parte da
dois fatores: corrente, mas permanecem dentro da coluna e não são
arrastados pelo fluido para fora da coluna.

39
AULA 7
SEPARAÇÃO GÁS-GÁS

Um esquema simplificado destes equipamentos 𝑥𝐹 . 𝐹 = 𝑞 ∗ 𝑚𝑎𝑑𝑠𝑜𝑟𝑣𝑒𝑛𝑡𝑒 + 𝑥𝑆 . 𝑆


é mostrado na Figura 6.5.
Neste balanço de massa q é a quantidade
adsorvida por unidade de tempo (acúmulo).

Exemplo 1. Uma corrente gasosa sai de um forno numa


vazão de 300 L/min (sendo a fração molar de CO nesta
corrente igual a 0,148). Sendo conhecida a eficiência na
queima do combustível, sabe-se que são produzidos
gases com 200 g de CO/m³ de ar. Por lei, é permitida uma
liberação gases com no máximo 10 g de CO/m³ de ar.
Qual a quantidade que um filtro deve adsorver por
minuto para que essas emissões sejam atingidas? Qual o
tempo de vida útil de um filtro com capacidade para
Figura 6.5 - Colunas de recheio de leito fixo e fluidizado. adsorver no máximo 3000 g de CO? Considere a
densidade do CO igual a 1,15 kg/m³.
Balanço de Massa
O fluxograma deste processo pode ser visto na
Sabemos que:
Figura 6.6.
𝑦𝐶𝑂 = 0,148
Portanto:
𝑦 = 1 − 0,148 = 0,852

Para gases a fração molar é aproximadamente


igual a fração volumetrica, a vazão volumetrica de ar livre
de CO é dada por:

𝐿
𝐹 = 300 . 0,852
𝑚𝑖𝑛
𝐿 𝑑𝑒 𝑎𝑟
𝐹 = 255,6
𝑚𝑖𝑛
Figura 6.6 - Fluxograma simplificado de uma coluna adsorvedora.
É possível ser feito o balanço de massa para o
Neste fluxograma F e S são as vazões de entrada CO, tomando o volume constante de ar como referência:
e saída, respectivamente, que podem ser dadas em 𝑥𝐹 . 𝐹 = 𝑞 + 𝑥𝑆 . 𝑆
termos molares, mássicos ou volumetricos.
Uma informação importante é a capacidade A quantidade de CO que entra pode ser
máxima, qmax, quantidade máxima que um determinada por:
determinado adsorvente consegue reter de um
componente da mistura. Normalmente, ela é dada em 𝑔 𝑑𝑒 𝐶𝑂 𝐿 𝑑𝑒 𝑎𝑟 𝑚³
função da massa adsorvida pela massa de adsorvente. 𝑥𝐹 𝐹 = 200 3
. 255,6 . =
𝑚 𝑑𝑒 𝑎𝑟 𝑚𝑖𝑛 1000 𝐿
𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑎𝑑𝑠𝑜𝑟𝑣𝑖𝑑𝑎 𝑥𝐹 𝐹 = 51,1 𝑔 𝑑𝑒 𝐶𝑂/𝑚𝑖𝑛
𝑞𝑚𝑎𝑥 =
𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑑𝑜 𝑎𝑑𝑠𝑜𝑟𝑣𝑒𝑛𝑡𝑒
A quantidade de CO que deve sair:
Com esta informação, considerando que o
sistema já atingiu o equilíbrio, pode-se fazer o balanço de 𝑔 𝑑𝑒 𝐶𝑂 𝐿 𝑑𝑒 𝑎𝑟 𝑚³
massa para o fluído adsorvido: 𝑥𝑆 𝑆 = 10 3
. 255,5 . =
𝑚 𝑑𝑒 𝑎𝑟 𝑚𝑖𝑛 1000 𝐿

40
AULA 7
SEPARAÇÃO GÁS-GÁS

Essas colunas aumentam a área de contato, já


𝑥𝑆 𝑆 = 2,55 𝑔 𝑑𝑒 𝐶𝑂/𝑚𝑖𝑛 que o líquido molha a superfície do recheio e, assim, uma
área superficial adicional é acrescentada.
Portanto a quantidade que o adsorvente deve Os recheios podem ser dos mais diversos tipos,
reter por min: desde lascas de madeira e tijolos até recheios
𝑞 = 51,1 − 2,55 estruturados. As principais características necessárias ao
recheio são: a molhabilidade (o quanto o líquido é capaz
𝑔 𝑑𝑒 𝐶𝑂
𝑞 = 48,55 de molhar o recheio), a área superficial e a resistência
𝑚𝑖𝑛 (química e física) do recheio. Além, é claro, de seu custo.
As colunas de pratos, por outro lado, se
Ou seja, é necessário adsorver 48,55 g de CO por
beneficiam da área adicional das bolhas de gás formadas
minuto para atender as exigências legais.
em cada estágio (ou prato). Esse processo se assemelha
Se isto ocorre, então:
a várias colunas associadas em série.
48,5g → 1 minuto

3000g → tempo útil do adsorvedor Balanço de Massa


Um fluxograma simplificado deste processo
3000 pode ser visto na Figura 6.7.
= 61,77 𝑚𝑖𝑛
48,5

Ou seja, o filtro atenderá a demanda por cerca


de 61,77 minutos, ou aproximadamente uma hora, sem
precisar ser substituído.

Absorção
A absorção se refere a um processo onde se
deseja remover um ou mais gases de uma corrente pelo
contato destes com um líquido no qual são solúveis. O
componente transferido de uma fase para outra é
designado como soluto.
Figura 6.7 - Fluxograma simplificado de uma coluna absorvedora.
Solvente O balanço de massa para o soluto pode ser
A escolha do melhor solvente é determinada
escrito como:
tanto pela maior solubilidade do composto que se deseja
𝑦1 . 𝐺1 + 𝑥1 . 𝐿1 = 𝑦2 . 𝐺2 + 𝑥2 . 𝐿2
separar, como pela seletividade (solubilidade apenas do
soluto que se deseja separar) e pela facilidade de separar Em que 𝐺 é a vazão de gás, 𝐿 a de líquido, 𝑦 é a
o solvente e o soluto. fração molar de soluto na fase gás e 𝑥 na fase líquida. Os
Além disso, é desejável que o solvente não seja índices 1 e 2 se referem à entrada e a saída,
tóxico, nem inflamável, assim como não seja reativo. E, respectivamente.
claro, seja de baixo custo. Observe que agora y e x referem-se a frações
molar de soluto nas fases gás e líquido.
Equipamentos
Esta equação nos diz simplesmente que a soma
Note-se que, similar à adsorção, esse processo
das quantidades de soluto nas correntes de entrada é
depende da área de contato entre o líquido e o gás.
igual a soma das quantidades de soluto nas correntes de
Assim, é comum empregar-se colunas com recheio ou
saída. Ou seja, a massa de soluto permanece constante,
coluna de pratos para aumentar o contato das fases.
não há acúmulo.

41
AULA 7
SEPARAÇÃO GÁS-GÁS

Exemplo 2. Devemos recuperar uma corrente de gás EXERCÍCIOS


contendo 30% do composto A, em base molar, com uma
vazão de 50 mol/s. Para isso, usa-se uma torre de 1. Carvão ativado é usado em uma coluna de adsorção
absorção que opera em contracorrente. A corrente para adsorver uma molécula orgânica de corante.
líquida entra a 190 mol/s e é composta apenas de um Sabe-se que a concentração da solução de entrada é
outro composto B. Sabe-se que a corrente gasosa sai da de 30% em massa do corante. Sabe-se que o carvão
coluna com uma vazão de 100 mol/s de A e que a pode adsorver 5,0 mg de corante por m² de sua área
corrente líquida saí com 10% de A e vazão de 140 mol/s. superficial. Se essa corrente entra com uma vazão de
Calcule a fração de A no gás de saída da coluna. 100 kg/h, determine a quantidade de carvão que
seria necessária para que a coluna operasse por no
mínimo 10 horas. Dado: área superficial do carvão
ativo = 1200 m²/g.

2. Um efluente contendo 0,15% molar de um gás A,


bastante solúvel, é lavado em uma coluna com água
pura. Por questões ambientais sua concentração
deve ser reduzida a 0,01%. Sabendo que a corrente
gasosa possui uma vazão de 600 mol/min, encontre
o fluxo de água necessário para remover este
solvente da corrente. Assuma que a relação de
equilíbrio entre a concentração no gás e no líquido
seja: y=0,5x e que a recuperação de A é de 99%.

Figura 6.8 - Coluna absorvedora do Exemplo 2. 3. É necessário absorver a acetona que há em uma
corrente gasosa de ar (25% molar de acetona). Para
Dados (com relação ao composto A):
isso utiliza-se um óleo puro. 90% da acetona é
𝑚𝑜𝑙
𝐿1 = 190 , 𝑥1 = 0 retirada e o óleo na saída possui 20% molar de
𝑠 acetona. A relação de equilíbrio entre as correntes
𝑚𝑜𝑙
𝐺1 = 50 , 𝑦1 = 0,3 de saída é dada pela relação x=1,9y. Se alimentamos
𝑠
𝑚𝑜𝑙 100 mol/h de gás, qual a vazão mínima de solvente
𝐿2 = 140 , 𝑥2 = 0,1 requerida em kg/h? (Dado: MM óleo = 230 g/mol).
𝑠
𝑚𝑜𝑙
𝐺2 = 100 , 𝑦2 =?
𝑠 4. Um gás entra em uma coluna de absorção com vazão
de 100 kmol/h e composição de 40% de A (molar). O
Balanço molar para A: composto A é retirado utilizando água pura como
solvente, entrando em contra-corrente com vazão
𝐿1. 𝑥1 + 𝐺1. 𝑦1 = 𝐿2. 𝑥2 + 𝐺2. 𝑦2
de 200 kmol/h. Sabe-se que a água consegue retirar
95% de A que entra. Como a recuperação não é total,
190.0 + 50.0,3 = 140.0,1 + 100. 𝑦2
sabe-se que a corrente gasosa de saída possui 0,85%
molar de A. Qual é a vazão e composição da corrente
𝑦2 = 0,01
líquida de saída?
Portanto, tem-se que a corrente de saída do gás
conterá 1% de A.

42
AULA 8
OPERAÇÕES COM SÓLIDOS

INTRODUÇÃO
Nesta aula você conhecerá algumas operações
unitárias relacionadas com partículas sólidas, como a
classificação e a fragmentação. Conhecerá também as
aplicações e características do escoamento de fluidos
por leitos porosos. Verá, por fim, algumas técnicas para
transporte de sólidos.

ANÁLISE GRANULOMÉTRICA
Na análise granulométrica buscamos classificar
uma amostra de partículas sólidas de acordo com seu
tamanho e encontrar o diâmetro médio destas
partículas, que é a sua dimensão característica (uma Figura 4.1 - Conjunto para peneiramento em escala laboratorial.
medida que caracteriza estas partículas). É importante
saber o tamanho das partículas sólidas, pois, em diversas Vamos agora falar um pouco sobre o
operações unitárias usa-se o diâmetro médio para PENEIRAMENTO INDUSTRIAL. A Figura 4.2 mostra as
dimensionar (projetar) o sistema. Quando as partículas correntes de entrada (A) e saída (F e G) de uma peneira.
sólidas são o produto da indústria é geralmente Note que as correntes de saída não podem ser
imperativo padronizá-las. E ainda, certos sistemas com consideradas como classificadas, já que só uma das
sólidos só operam em faixas muito restritas de diâmetro medidas extremas é conhecida. Você concorda com esta
e, portanto, é necessário padronizá-lo com afirmação? Veja a Figura 4.2, só podemos garantir que as
antecedência. partículas de F tem diâmetro inferior a Dc (abertura da
Em escala laboratorial, a classificação peneira) e que G tem diâmetro superior a Dc, logo, não
granulométrica é usualmente feita por peneiramento. temos uma dimensão mínima para F e uma máxima para
Monta-se um conjunto de peneiras como na Figura 4.1; G e não podemos calcular os diâmetros médios das
a peneira de maior abertura fica na parte superior do partículas nestas correntes. Caso se deseje classificar os
conjunto e é seguida por uma de menor abertura. A sólidos de uma corrente, estes deverão passar por uma
última peça do conjunto é uma panela e o conjunto todo segunda peneira. Numa operação ideal, a maior partícula
está ligado a um motor que promove vibração. Uma da fração fina (F) é menor que a menor partícula da
amostra de partículas é colocada na peneira de maior fração grossa (G). Porém, na prática, isto não se verifica,
abertura, inicia-se a vibração. Após certo tempo já que por variados motivos é comum partículas finas
(geralmente de 15 a 20 minutos), desliga-se a vibração. serem carregadas na corrente G e, no caso em que há
Considera-se que a massa de partículas que ficou retida falhas na peneira, é possível partículas grandes irem para
em uma determinada peneira x, tem diâmetro igual à a corrente F.
média simples entre o tamanho das aberturas da peneira
x e da peneira que a antecede, x-1.

Exemplo 1. 2,0g de areia ficaram retidas em uma peneira


com abertura de 0,589 mm. A peneira colocada logo
acima tem diâmetro de 0,833 mm. Qual o diâmetro desta
massa de areia?
Figura 4.2 - Esquema de peneiramento. VAZ, G.
𝐿 + 𝐿𝑖 0,833 + 0,589
̅𝑖 = 𝑖−1
𝐷 = = 0,711 𝑚𝑚
2 2

43
AULA 8
OPERAÇÕES COM SÓLIDOS

Um dos tipos de peneiras empregadas na conduzida sem que a corrente de saída passe por um
indústria são as peneiras rotativas. Estas peneiras são, separador, ela é chamada fragmentação em circuito
basicamente, cilindros levemente inclinados (5 a 10°) e aberto. Se há a passagem por um separador e uma parte
que podem possuir aberturas de diferentes tamanhos, da corrente de saída volta ao fragmentador (corrente G),
possibilitando a separação da alimentação em diversas esta operação é chamada fragmentação em circuito
frações. No entanto, são possíveis muitas formas de fechado.
construção de peneiras industriais. Para conhecer mais
algumas pesquise por peneiras agitadas e peneiras
vibratórias.
Para partículas muito pequenas a separação por
peneiras não é praticável e usam-se outros
equipamentos que trataremos mais a frente no curso,
como ciclones, caixas de poeira e filtros de pano.

FRAGMENTAÇÃO DE SÓLIDOS
Figura 4.3 - Vista interior de um moinho de bolas.
As operações de fragmentação (isto é:
diminuição do diâmetro médio de partículas sólidas) são
muito comuns na indústria. Pode-se moer um sólido para
que este atenda uma especificação de projeto ou de
comercialização. Também pode se desejar aumentar a
área superficial disponibilizada pelos sólidos.
Na fragmentação cede-se energia à estrutura
Figura 4.4 - Associação de moinho e peneira formando um circuito
cristalina do sólido. Se a energia cedida for maior que fechado. VAZ, G.
certo valor crítico o sólido se rompe nos pontos em que
é mais frágil. A fragmentação é uma operação de baixa
eficiência: somente uma fração muito pequena da ESCOAMENTO EM LEITOS POROSOS
energia cedida (de 0,1 a 2% desta) é transferida para a
partícula levando à sua ruptura. Em muitas operações na indústria verifica-se o
Dois tipos de equipamentos são empregados na escoamento de fluidos por leitos com alguma
fragmentação de sólidos: os britadores, que realizam a quantidade de partículas sólidas. Vamos estudar aqui o
fragmentação grosseira, e os moinhos, empregados para escoamento por leitos fixos, fluidizados e leitos de
produtos finos. Muitos tipos de construção são possíveis arraste.
para este tipo de equipamento, utilizando diversos tipos
de mecanismos para realizar a fragmentação. Um • Escoamento em Leitos Fixos:
exemplo de moinho usado na indústria é o moinho de Os leitos porosos fixos são tubos (colunas) cheios
bolas. Estes são cilindros parcialmente carregados com de partículas sólidas. As partículas permanecem fixas
bolas (corpos moedores de alta dureza). O cilindro gira e enquanto o fluido circula pelos espaços vazios entre elas.
as bolas se elevam em seu interior até certa altura. Frequentemente, estes sistemas são chamados de
Posteriormente caem sobre o material a ser moído. Na colunas empacotadas ou colunas de recheio.
Figura 4.3 mostra-se o interior de um moinho de bolas. Ao estudar estes sistemas, a primeira pergunta
Para conhecer mais tipos de fragmentadores pesquise que devemos responder é: quais são as aplicações das
por britador de mandíbulas, britador cônico giratório, colunas de recheio? Elas são muitas e variadas, vamos
moinho de martelos e moinho de rolos. aqui pensar em apenas algumas.
É comum na indústria a associação de Uma importante operação unitária é a adsorção.
fragmentadores, peneiras e correias transportadoras, Na adsorção usamos uma partícula com grande área
como mostrado na Figura 4.4. Se uma fragmentação é superficial (chamada adsorvente) para remover um

44
AULA 8
OPERAÇÕES COM SÓLIDOS

componente de uma mistura líquida ou gasosa (o mesma forma que na adsorção, enche-se uma coluna
adsorvato). Um exemplo de adsorção é a remoção de com o catalisador e uma corrente fluida com os
moléculas com enxofre do diesel (um processo que ainda reagentes escoa no meio das partículas. A reação é então
está em desenvolvimento). Neste caso, enche-se uma promovida no interior dos poros do catalisador.
coluna com carvão ativado e uma corrente de diesel Dos exemplos acima, pode-se concluir que um
passa por esta coluna. As moléculas com enxofre ficam dos principais objetivos do uso de leitos porosos é
ligadas à superfície do carvão e um diesel com baixo teor aumentar a área superficial. Os sólidos usados como
de enxofre pode ser produzido. O carvão ativado é uma recheio pela indústria são muito variados. No início, por
partícula com área superficial muito elevada, de até exemplo, usavam-se sólidos quebrados. Atualmente são
2000 m²/g (quer dizer que um grama de carvão ativado de uso mais corrente os sólidos de forma definida e tem-
pode ter até 2000 m² de área!). Esta grande área se deve se também disponível os recheios estruturados, que são
aos poros presentes na partícula. grades, geralmente de metal, que dão áreas de contato
muito elevadas. Os recheios são produzidos em muitos
materiais (metais, cerâmicas e polímeros) e devem ter
como características a boa resistência química (devem
ser inertes), resistência mecânica (resistir bem à
compressão) e, para sistemas que operam a temperatura
elevada, resistência térmica. Também devem ter alta
molhabilidade, isto é, o fluido deve molhar
apreciavelmente a superfície do recheio.

Figura 4.5 - Esquema de uma coluna de recheio usada para a Figura 4.6 - Exemplo de alguns recheios de forma fixa.
absorção. VAZ, G.
Vamos agora analisar alguns aspectos do
A absorção é uma operação unitária em que se
escoamento de fluidos por leitos porosos. Queremos
faz entrar em contato uma corrente líquida com uma
aqui discutir quais fatores aumentam a perda de carga
corrente gasosa, com o objetivo de retirar algum
no escoamento. A perda de carga corresponde a
componente da corrente gasosa. O sucesso desta
diminuição da energia de pressão do fluido a medida que
operação depende do bom contato entre o filme líquido
este escoa. O fluido perde carga pois existem forças que
e o gasoso e, portanto, é imperativo aumentar a área de
se opõem ao escoamento.
contato entre eles. Isso se faz colocando recheios em
O primeiro fator que analisaremos é, na verdade,
colunas e passando a corrente gasosa em contracorrente
uma propriedade dos leitos porosos: a porosidade (𝜀). A
com a corrente líquida.
porosidade é a fração do volume de um sistema poroso
A catálise heterogênea também faz uso do
ocupada pelo fluido. É chamada fração de vazios. A
escoamento por colunas com recheio. Um catalisador é
fração do volume ocupado pelas partículas sólidas é
uma substância que acelera algumas reações químicas.
então (1 − 𝜀). Matematicamente teremos:
Catalisadores sólidos são produzidos de forma que os
sítios ativos (sítios promotores do aumento da 𝑉𝑓 𝑉𝑓
velocidade da reação) ficam depositados em uma 𝜀= =
𝑉𝑇 𝑉𝑓 + 𝑉𝑠
partícula sólida de grande porosidade (o suporte). Da

45
AULA 8
OPERAÇÕES COM SÓLIDOS

Onde 𝑉𝑓 é o volume ocupado pelo fluido, 𝑉𝑠 é o independente da velocidade do fluido. O segmento D-E é
volume ocupado pelo sólido e 𝑉𝑇 , o volume total do característico do escoamento em leitos fluidizados.
sistema. Quanto menor a porosidade de um leito maior A fluidização ocorre quando o atrito do fluido em
a resistência ao escoamento. Pense ainda nos seguintes movimento é igual ao peso aparente (peso subtraído do
aspectos: diminuindo o tamanho do recheio, menor será empuxo) das partículas sólidas. As partículas são, então,
a porosidade e então maior será a resistência ao sustentadas no fluido.
escoamento; se as partículas não forem homogêneas, Vejamos o que ocorre com a porosidade com o
também será menor a porosidade, pois as partículas aumento da velocidade, acompanhando o gráfico da
pequenas ocuparão os espaços entre as partículas Figura 4.8. Em toda a faixa de velocidade em que persiste
grandes. o leito fixo, a porosidade é constante. Com o início da
A viscosidade e a densidade do fluido que escoa fluidização, o leito expande e a porosidade aumenta. Em
também interferem na perda de carga. Quanto maior a uma larga faixa de velocidades, há o aumento da
viscosidade e/ou a densidade, maior será a resistência ao porosidade que vai da porosidade do leito fixo até a
escoamento. porosidade igual a um.
A velocidade do fluido também é importante. O
aumento da velocidade impõe um aumento da perda de
carga. Isto é, para um aumento da energia cinética
existirá uma diminuição da energia na forma de pressão.
A energia se conserva! Você entenderá melhor esta ideia
daqui a poucas aulas quando falaremos sobre
conservação de energia.
Por fim, vejamos alguns aspectos da construção
de uma coluna de recheio. É comum observarmos neste
equipamento a existência de caminhos preferenciais
(caminhos onde a porosidade é maior e por onde o fluido Figura 4.7 - Relação da perda de carga com a velocidade em leitos
passa preferencialmente). Desejamos aproveitar toda fixos, fluidizados e de arraste.
área disponibilizada pelo recheio, então é necessário
prevenir a passagem por caminhos preferenciais.
Fazemos isso pelo uso de distribuidores e de chicanas. Os
distribuidores são placas perfuradas que distribuem o
fluido igualmente antes da entrada deste no recheio. As
chicanas são colocadas nas paredes da coluna e se
destinam a forçar o fluido a sair de próximo da parede e
circular pelo interior do recheio.

• Escoamento em Leitos Fluidizados:


Trabalhávamos até agora com o leito fixo.
Imagine a situação em que aumentamos continuamente
Figura 4.8 - Relação da porosidade com a perda de carga em leitos
a velocidade de escoamento do fluido pelo leito porosos.
recheado. Acompanhe o raciocínio olhando a Figura 4.7.
Conforme aumentamos a velocidade, aumenta a perda Mas, se há o aumento da velocidade, por que a
de carga imposta pelo sistema, o aumento da perda de perda de carga é aproximadamente constante na faixa
carga é mostrado no segmento A-B. Aumentando ainda correspondente ao leito fluidizado? Há, na realidade, um
mais a velocidade verificamos que a perda de carga passa balanço de fatores. Com o aumento da velocidade,
por um máximo (C) e em seguida diminui ligeiramente e cresce também a porosidade do sistema e assim há mais
atinge um valor aproximadamente constante (D-E), área para o escoamento. Sendo assim, no interior do

46
AULA 8
OPERAÇÕES COM SÓLIDOS

leito, a velocidade é menor. Tem-se então um jogo entre fluidos é uma operação facilitada. Quando em leitos de
velocidade-porosidade-perda de carga. Com o aumento arraste, o sólido se comporta como um fluido.
da velocidade, cresce a porosidade e a perda de carga
fica aproximadamente constante. TRANSPORTE MECÂNICO DE SÓLIDOS
Um exemplo de processo que emprega os leitos
fluidizados é o craqueamento catalítico de Já conhecemos uma forma de transportar
hidrocarbonetos pesados derivados de petróleo (FCC). sólidos: o leito de arraste. Porém muitas outras são
Nestas unidades, partículas de catalisadores são usadas na indústria. Vamos nesta seção somente fazer
fluidizadas pela corrente de hidrocarbonetos. Os menção a algumas delas.
catalisadores promovem o aumento da velocidade de Transportador de Correia: trata-se de uma correia que
reação de quebra dos hidrocarbonetos pesados em se movimenta entre dois tambores, um livre e outro de
frações com pontos de ebulição próximos ao da gasolina. acionamento. Pode chegar a quilômetros.
Os leitos fluidizados permitem o aumento da área de Transportador de Caçamba: os sólidos são conduzidos
contato entre o fluido e as partículas sólidas, promovem em caçambas suspensas em cabos ou que se
uma ótima mistura das correntes e possibilitam um fácil movimentam sobre trilhos. A descarga se dá pela
controle da temperatura. Estas são características inversão da caçamba.
altamente desejáveis no craqueamento catalítico. Transportador Helicoidal: consta de uma canaleta onde
A secagem de sólidos também pode ocorrer em gira um eixo com uma helicoide (parafuso de
leitos fluidizados. Neste sistema, ar quente flui pelos Arquimedes). Serve também como misturador de
sólidos que se pretende secar, geralmente grãos. Este sólidos e seu uso se limita a curtas distâncias.
tipo de secagem é bastante interessante para sólidos que
não podem permanecer muito tempo expostos a altas
temperaturas. EXERCÍCIOS

• Transporte Pneumático e Hidráulico: 1. Faça uma pesquisa sobre os seguintes


Voltemos à Figura 4.7. Vamos novamente elevar equipamentos:
a velocidade, de modo a chegar ao ponto E. Temos nesta a) Peneiras: rotatória, vibratória e agitada. Qual o
situação um leito de arraste: o fluido passa a velocidades objetivo industrial do peneiramento?
tão altas que arrasta as partículas sólidas consigo. A b) Fragmentadores: moinho de bolas, britador de
perda de carga aumenta com a velocidade porque ao mandíbula, britador de martelo, britador de
atrito do fluido com as paredes do conduto somam-se os barras e britador de rolos. Qual o objetivo de
choques de partículas sólidas com as paredes. No leito fragmentar sólidos em uma indústria? Cite um
de arraste, a porosidade é igual à unidade, quer dizer que processo que emprega a moagem largamente.
as partículas sólidas encontram-se muito afastadas umas c) Transportador: de correia, de esteira, de
das outras. O transporte ocorre quando a velocidade do caçambas, vibratório, por gravidade, helicoidal e
fluido é superior à velocidade de arraste elevador de canecas. Qual é uma alternativa
O leito de arraste é usado no transporte de interessante para transporte de sólidos de baixa
sólidos. Chama-se transporte pneumático quando o densidade e não abrasivos?
fluido que transporta o sólido é um gás e hidráulico 2. Proponha um circuito com um moinho, duas
quando o fluido é um líquido. Geralmente emprega-se peneiras e um transportador de correia objetivando
um gás passando a altas velocidades e carregando obter uma fração classificada e recircular ao moinho
partículas de baixa densidade e não abrasiva. O (levar novamente ao moinho) os grossos do
transporte de sólidos é um problema industrial: processo.
geralmente é muito dispendioso, exigindo máquinas 3. Para o leito poroso, diga o que acontece com a perda
grandes e que ocupam bastante espaço. O transporte de carga (aumenta, diminui ou fica constante) se:
pneumático é uma solução inteligente, uma vez que, ao a) Aumentarmos a velocidade de escoamento;
contrário do que se verifica para sólidos, o transporte de b) Diminuirmos a altura do leito;

47
AULA 8
OPERAÇÕES COM SÓLIDOS

c) Diminuirmos o diâmetro das partículas;


d) Usarmos partículas heterogêneas;
e) Aumentarmos a viscosidade do fluido.
4. Num circuito de moagem busca-se obter sólidos com
diâmetro entre 1,168 e 0,589 mm. Os sólidos saem
do moinho tendo 10% (em massa) das partículas com
diâmetro inferior a 0,589 mm e 30% com diâmetro
superior a 1,168 mm. A peneira 1 tem aberturas de
1,168 mm e a peneira 2 tem aberturas de 0,589 mm.
Se a vazão mássica da corrente de entrada (A) é 1500
kg/h, qual a massa de partículas dentro da faixa de
interesse obtida em um dia de produção? Calcule a
vazão mássica de todas as correntes do processo.
Qual o diâmetro médio das partículas da corrente
G2? É possível calcular o diâmetro médio das
correntes G1, F1 e F2?

Figura 4.9 - Exercício 4.

5. Determine a densidade de um leito contendo


partículas sólidas com densidade 2100 kg/m³ e por
onde circula óleo com densidade 860 kg/m³. A
porosidade do leito é 0,35.
6. Você está trabalhando com um leito fluidizado em
expansão. O leito fixo tem porosidade 0,39 e altura
de 2,5 m. Você procede a expansão do leito até que
a porosidade seja 0,65. Qual a altura final do leito?
Dica: a massa de partículas no leio é igual na situação
inicial e no final da operação.

48
AULA 9
SEPARAÇÃO DE SÓLIDOS DE LÍQUIDOS/GASES

INTRODUÇÃO ocupando. É também uma força de resistência à queda


da partícula.
As separações de sólidos de líquidos e sólidos de Quando a soma das forças de empuxo e de
gases estão presentes em quase todos os processos arraste se igualar em módulo à força peso, teremos uma
industriais, seja diretamente ou indiretamente. Estas resultante de forças que atua sobre o corpo igual a zero.
operações unitárias podem ser empregadas dentro da
unidade de processamento de um determinado produto,
como por exemplo, a purificação de um produto ou a
reciclagem de reagentes. Outra forma de emprego
desses processos é no tratamento de efluentes de uma
planta. Podemos citar a separação de resíduos sólidos de
correntes gasosas que serão lançadas na atmosfera e o
tratamento de correntes líquidas em tanques de Figura 5.1 – Diagrama de corpo livre para um corpo caindo com
decantação. Para melhor aprendizado das operações velocidade terminal. Pereira, D.
unitárias atreladas a esses processos de separação,
iremos estudá-los separadamente, iniciando com a Nesse momento a velocidade do corpo se
separação sólido-líquido. tornará constante. A essa velocidade damos o nome de
velocidade terminal, que é a máxima velocidade que um
SEPARAÇÃO SÓLIDO-LÍQUIDO corpo pode atingir ao cair através de um fluido.
A velocidade terminal é função de vários
Pode-se classificar a separação de sólidos de parâmetros: diâmetro, forma e densidade da partícula, e
uma fase líquida de acordo com o movimento relativo densidade e viscosidade do fluido. Essa velocidade é
das fases: decantação e a filtração. ainda afetada pela concentração de partículas no fluido,
pois a interação entre as partículas pode retardar a
Decantação queda.
A decantação ou sedimentação tem como Podemos entender a decantação como uma
objetivo separar as fases empregando a ação da força da queda livre de diversas partículas que estão imersas em
gravidade. Para exemplificar, pesemos em um grão de um fluido. Dessa forma, para efeito de processos
areia sendo abandonado em um tanque contendo água, geralmente desejamos a maior velocidade terminal
deslocando-se para o fundo do tanque por seu peso. A possível, o que fará com que a sedimentação aconteça
aceleração da partícula não chega a 9,8 m/s², pois a água mais rapidamente.
que está em contato direto com a partícula se adere a A sedimentação pode ser natural ou forçada. Na
ela, e para a partícula se mover, deve vencer a resistência forçada ocorre a adição de agentes floculantes, que
da viscosidade do fluido. Além disso, o impacto do fluido possuem a propriedade de aglomerar as partículas.
sobre a partícula representa uma resistência ao seu Assim, ocorre o aumento do tamanho das partículas e,
movimento, denominada força de pressão. consequentemente, o aumento da velocidade de
A soma dessas duas resistências representa uma sedimentação.
força que o fluido exerce contra o movimento da A decantação é muito empregada nos processos
partícula: a força de arraste. A velocidade de queda de industriais pelo seu baixo custo energético. Um
uma partícula no interior de um fluido é dependente do decantador é habitualmente um tanque grande,
peso da partícula (força propulsora), a ação da cilíndrico, de fundo cônico (facilita a retirada do
viscosidade do fluido (resistência) e a forma geométrica espessado ou lodo) e equipado com pás raspadoras. O
(força de pressão). tamanho é função da quantidade de material a ser
Além disso, temos ainda atuando sobre a tratada e do tempo necessário para que este decante. A
partícula a força de empuxo, que é igual ao peso do fluido figura a seguir apresenta um esquema de um
deslocado devido ao espaço que a partícula está decantador. Nesta figura evidencia-se a entrada da
alimentação e a saída do clarificado e do espessado. O

49
AULA 9
SEPARAÇÃO DE SÓLIDOS DE LÍQUIDOS/GASES

clarificado, como já diz o nome, possui a concentração de


sólidos mais baixa, ou seja, é o liquido tratado. Já o
espessado é uma lama que consiste nos sólidos
acumulados no fundo do tanque, que é construído em
um formato cônico para facilitar a retirada do mesmo.
Geralmente, um raspador é utilizado para auxiliar a
remoção do espessado no fundo do tanque.

Figura 5.3 - Esquema referente ao Exemplo 1. PASQUALIN, K.

Pode-se dizer que:


𝜌𝑠𝑢𝑠𝑝𝑒𝑛𝑠ã𝑜 = 𝜌á𝑔𝑢𝑎 = 1000 𝑘𝑔/𝑚³

Assim, o cálculo da fração mássica do sólido nas


correntes se torna mais simples:
𝑚𝑠 300𝑔
𝑤𝐴 = = = 0,231
𝑚 𝑇 1000𝑔 + 300𝑔
𝑚𝑠 50𝑔
𝑤𝐶 = = = 0,0476
𝑚 𝑇 1000𝑔 + 50𝑔

As vazões mássicas podem ser obtidas a partir


Figura 5.2 - Corte de um sedimentador contínuo ilustrando a das vazões volumétricas:
posição de quatro zonas de deposição da lama. PASQUALIN, K.
100000𝐿 1𝑚3 1ℎ 1000𝑘𝑔 𝑘𝑔
𝐴= = 27,80
Os sedimentadores podem ser contínuos ou ℎ 1000𝐿 3600𝑠 𝑚³ 𝑠
3
descontínuos e podem ser classificados de acordo com 70000𝐿 1𝑚 1ℎ 1000𝑘𝑔 𝑘𝑔
𝐶= = 19,44
sua finalidade em clarificadores e espessadores. ℎ 1000𝐿 3600𝑠 𝑚³ 𝑠
Os sedimentadores são encontrados em
estações de tratamento de água e estações de Pelo balanço de massa global:
tratamento de esgoto. É possível também encontrar esse
equipamento nas indústrias químicas, têxtil, de celulose 𝐴 =𝐶+𝐸
e papel, alimentícia, de óleos e derivados, laticínios, 𝑘𝑔 𝑘𝑔 𝑘𝑔
𝐸 = 𝐴 − 𝐶 = 27,80 − 19,44 = 8,36
metalurgia, automobilística, etc. 𝑠 𝑠 𝑠

Exemplo 1. Uma das etapas do tratamento de efluentes Pelo BM por componente (sólido):
de uma indústria química é a decantação. A suspensão
𝐴𝑤𝐴 = 𝐶𝑤𝑐 + 𝐸𝑤𝐸
que alimenta este equipamento possui uma
concentração média de 300g/L. Sabe-se, através de 𝑘𝑔 𝑘𝑔
especificações ambientais, que a concentração máxima 𝐴𝑤𝐴 − 𝐶𝑤𝑐 27,80 𝑠 0,231 − 19,44 𝑠 0,0476
𝑤𝐸 = =
admitida é de 10g/L e que a vazão máxima encaminhada 𝐸 𝑘𝑔
8,36
ao corpo receptor é de 70000L/h. Desenvolva o balanço 𝑠
de massa para uma alimentação de 100000L/h de 𝑤𝐸 = 0,657
suspensão, e verifique se o clarificado que será enviado
ao corpo receptor atende às especificações. Para encontrar a concentração de sólidos no clarificado
𝑆𝐶 , que será encaminhado ao corpo receptor:

50
AULA 9
SEPARAÇÃO DE SÓLIDOS DE LÍQUIDOS/GASES

𝑘𝑔 1000𝑔 Alguns fatores podem influenciar a velocidade


18,44 𝑠 0,0476
1𝑘𝑔 de filtração, como a diferença de pressão entre o fluido
𝑆𝐶 =
𝐿 1ℎ a ser filtrado e o fluido límpido, área da superfície de
70000 3600𝑠
ℎ filtração, viscosidade, resistência da torta e a resistência
do meio filtrante.
𝑆𝐶 = 45,4 𝑔/𝐿
Em alguns processos, auxiliares de filtração são
Pode-se verificar que a concentração do utilizados para melhorar a filtração, como promover uma
clarificado é maior que a concentração máxima admitida. maior velocidade de filtração, melhor retenção de
Logo, essa corrente não pode ser encaminhada partículas sólidas e filtrado mais límpido, reduzindo
diretamente para o corpo receptor. custos. Geralmente utilizados com suspensões de sólidos
finos.
Filtração A ideia do esquema da Figura 5.4 propõe um
De maneira análoga à decantação, o objetivo único estágio de separação. Quando a área de passagem
dessa operação unitária também é separar partículas do fluido não é suficiente pode-se agregar vários estágios
sólidas de um líquido. Dentro desse objetivo, tal idênticos em paralelo, distribuindo assim o fluido. Este
operação pode ter diferentes finalidades: reter sólidos sistema é conhecido como filtro prensa, onde os estágios
grosseiramente, clarificar líquidos, obtenção dos sólidos são comprimidos uns aos outros por um parafuso (placas
ou apenas conduzir uma separação primária. e quadros).
A filtração é conduzida de maneira mecânica
(fluido é bombeado) com auxílio de um meio poroso Exemplo 2. Um lodo proveniente de um decantador de
permeável (meio filtrante). Um exemplo de filtração é o uma estação de tratamento é enviado a um filtro de
processo de coar café: a mistura água mais café é placas e quadros. A torta é constituída de 99,0% de
colocada no coador (meio filtrante) e o peso da mistura sólidos. Realize o balanço de massa nesse equipamento
faz com que as partículas sólidas do café fiquem retidas admitindo que a corrente de espessado do exercício 1
no meio filtrante enquanto o líquido o atravesse. Na alimenta um sistema de cinco filtros em paralelo na ETE.
indústria, os meios filtrantes geralmente são tecidos Sabendo que a capacidade de cada filtro é de 2000 kg,
grossos e resistentes, muitas vezes feitos com fibra calcule o tempo necessário para realizar a filtração.
sintética.
A figura 5.4 esquematiza a operação, sendo que
a camada de sólidos que progressivamente deposita-se
sobre o meio filtrante é denominada de torta ou bolo.
Assim, essa operação é geralmente descontínua: deverá
parar para retirada da torta e posterior limpeza,
periodicamente.
Figura 5.5 - Esquema do Exemplo 2. PASQUALIN, K.

Dados provenientes do Exercício 1:


𝑘𝑔
𝐸 = 8,36 𝑤𝐸 = 0,657 𝑤𝐹 = 0,0476
𝑠

Dados fornecidos pelo Exercício 2:


𝐸 𝑘𝑔
𝐴 = = 1,672 𝑤𝑇 = 0,990
5 𝑠

Figura 5.4 - Desenho esquemático de um filtro. PASQUALIN, K. Balanço de massa global:


𝐸𝑛𝑡𝑟𝑎 (𝐴) − 𝑆𝑎𝑖 (𝐹) = 𝐴𝑐𝑢𝑚𝑢𝑙𝑎 (𝑇)

51
AULA 9
SEPARAÇÃO DE SÓLIDOS DE LÍQUIDOS/GASES

Balanço de massa para o sólido:


𝐸 𝑤𝐸 − 𝐹 𝑤𝐹 = 𝑇 𝑤𝑇

Substituindo os valores nos dois balanços:

𝐹 + 𝑇 = 1,672
0,0476 𝐹 + 0,990 𝑇 = 1,092

Resolução do sistema de equações:

𝑘𝑔 𝑘𝑔
𝐹 = 0,598 𝑇 = 1,074
𝑠 𝑠

Pela restrição do filtro temos que:


Figura 5.6 - Esquema de um filtro rotativo a vácuo
𝐶𝑎𝑝𝑎𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑠𝑢𝑝𝑜𝑟𝑡𝑎𝑑𝑎 𝑑𝑒 𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑜𝑠
𝑡=
𝑉𝑎𝑧ã𝑜 𝑚á𝑠𝑠𝑖𝑐𝑎 𝑑𝑒 𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑎𝑐𝑢𝑚𝑢𝑙𝑎𝑑𝑜𝑠 Toda indústria possui uma estação de
2000 𝑘𝑔 tratamento para os seus efluentes, ou seja, resíduos
𝑡= = 1862,2 𝑠 = 31 𝑚𝑖𝑛 produzidos ao decorrer do processo que devem ser
1,074 𝑘𝑔/𝑠
tratados antes de ser encaminhados aos corpos
Os filtros contínuos são mecanicamente mais receptores (rios ou lagos). Geralmente no tratamento
complexos em relação aos filtros prensa pelo seu sistema preliminar um sistema de decantadores é utilizado a fim
de retirada contínua da torta. O filtro rotativo à vácuo é de retirar as partículas sólidas da fase líquida. Ao se
considerado um filtro contínuo. Ele é constituído de um formar o espessado, este pode ser conduzido a um
tambor metálico de parede dupla que é imerso sistema de filtros para reduzir o teor de água nos sólidos.
parcialmente no fluido contendo as partículas a serem Inúmeras possibilidades para este tratamento existem,
retiradas. Uma bomba de vácuo aspira o ar do espaço mas a separação de sólidos de líquidos é indispensável.
determinado pela parede dupla, sugando o fluido do
exterior para dentro. O meio filtrante é uma fita contínua SEPARAÇÃO SÓLIDO-GÁS
que envolve o tambor. Conforme o fluido é sugado, as
partículas se depositam no meio filtrante espessando A coleta de poeira se refere à remoção, ou ao
progressivamente a torta enquanto o tambor gira. A recolhimento, de dispersóides sólidos de gases, tendo
torta é retirada progressivamente por raspadores. como objetivo o controle da poluição do ar, coleta do
produto sólido, melhoria da qualidade (ar para
medicamentos e filmes fotográficos), redução da
manutenção (evitar entupimentos, corrosão),
recuperação de produtos valiosos ou pulverulentos (leite
em pó, café solúvel, catalisadores), segurança (poluentes
prejudiciais à saúde).
Existem vários mecanismos de coleta de poeira,
que geralmente são classificados de acordo com o
tamanho das partículas sólidas. Algumas informações
são necessárias para o estudo e escolha de
equipamentos de coleta, como a concentração de
sólidos, temperatura, densidade do sólido e do gás,

52
AULA 9
SEPARAÇÃO DE SÓLIDOS DE LÍQUIDOS/GASES

diâmetro, abrasividade, umidade, explosividade e A eficiência desses separadores é maior


viscosidade do gás. comparada à de câmaras de poeira (50 a 70%). Para
Analisaremos alguns equipamentos de aumentar o rendimento podem-se recobrir as chicanas
separação de partículas sólidas de uma corrente gasosa. com óleo não secativo ou água.
A grande vantagem destas unidades esta na
Câmara de poeira maior adaptabilidade aos tubos e condutos que
Também chamada de câmara de sedimentação quaisquer outros tipos de coletores. Podem ser usados
gravitacional. É o tipo mais simples e mais antigo de em temperaturas elevadas, mas não se a poeira ficar
equipamento para coleta de poeira. O seu principio de pegajosa; nesse ultimo caso existe alguns tipos com
funcionamento é de reduzir a velocidade do gás para película circulante de água que operam mantendo
permitir a sedimentação das partículas sólidas pela ação limpos os elementos coletores. As vantagens e
da gravidade. Geralmente utilizada para remoção de desvantagens das câmaras de poeira também podem ser
partículas relativamente grandes (Dp>50μm). O atribuídas aos separadores inerciais.
tamanho da câmara necessário para remover partículas
menores é excessivo.
Os coletores gravitacionais são câmaras
metálicas de grandes dimensões, em relação às do duto
que nela introduz o ar poluído, como fim de reduzir a
velocidade do fluxo, permitindo a deposição de
partículas relativamente grandes pelo seu peso. Figura 5.7 - Esquema de um separador inercial

baixo custo Filtros


pouco desgaste A utilização de filtros na separação sólido-gás é
𝑉𝑎𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑛𝑠 consome pouca energia semelhante aos utilizados na separação sólido-líquido. O
baixa perda de carga seu princípio de funcionamento condiz que o fluxo
{resiste a corrosão e temperatura gasoso, que contem as partículas sólidas, seja forçado
através de um meio poroso (filtro) onde o material
baixa eficiência particulado é retido. A escolha do filtro depende do tipo
𝐷𝑒𝑠𝑣𝑎𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑛𝑠 {
grande espaço requerido de pó e do diâmetro médio das partículas. Os filtros
podem ser de diversas formas: sacos, mangas, painéis
Geralmente utilizados como pré-coletores nas lisos ou painéis ondulados.
indústrias, na coleta de cinzas em caldeiras a carvão e nas
operações de refino de metais. alta eficiência (supera 93%)
perda de carga não excessiva
Separadores inerciais 𝑉𝑎𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑛𝑠 {
resitente a corrosão
A separação em equipamento de impacto retenção de particulas pequenas
baseia-se na grande diferença entre a quantidade de
movimento das partículas sólidas ou gotículas e a do gás. grande espaço requerido
Devido a obstáculos nos equipamentos as partículas não alto custo
seguirão o caminho do gás caso esse mude bruscamente manutenção periódica
𝐷𝑒𝑠𝑣𝑎𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑛𝑠
de direção. A trajetória das partículas será menos baixa resistencia a altas T
curvada do que as linhas de corrente do gás, sendo fácil empastamento
obrigá-las a atingir anteparos como chicanas ou material { entupimento
poroso de enchimento. Dessa forma, por gravidade as
partículas chegarão aos pontos de descarga do
equipamento.

53
AULA 9
SEPARAÇÃO DE SÓLIDOS DE LÍQUIDOS/GASES

seja removido da corrente de gás. Sabe-se que os gases


mistura e pesagem de grãos de entrada possuem uma concentração de 20% em
moagem de pedra, argila e mineirais massa de particulados e vazão de 1500 kg/h. Para melhor
𝐴𝑝𝑙𝑖𝑐𝑎çõ𝑒𝑠 trituração de cimento escoamento, a concentração de sólidos na saída da
captação de poeira de moagem lavadora deve ser menor que 40,0%.
{ limpeza por abrasão
Água (A)

Quando a concentração de sólidos é muito alta, Ar tratado (C)


usa-se, antes do filtro, um separador tipo inercial para
reter as partículas maiores.

Lavadores de Gases Ar + partícula (B)


Os lavadores constituem uma classe de
equipamentos de remoção de poeiras e névoas de gases
Água + partícula (D)
em que um líquido, usualmente a água, é adicionado ou
circula para auxiliar o processo de coleta. Figura 5.8 - Esquema referente ao Exemplo 3. PASQUALIN, K.
Nestes equipamentos, o gás contendo as
partículas sólidas é forçado através de uma aspersão de Balanço de massa global:
gotas, que colidem com o material particulado,
aglomerando as partículas e tornando a coleta facilitada 𝐴+𝐵 =𝐶+𝐷
(gravitacional ou inercial). 𝑘𝑔
O líquido geralmente utilizado é a água, muito 𝐴 = 𝐶 + 𝐷 − 1500

embora óleos minerais sejam empregados em algumas
situações. O sólido a separar deve ser molhável pelo Balanço de massa para o gás:
líquido, porém deve-se verificar com especial cuidado a
eventualidade de se produzirem compostos corrosivos 𝐵 𝑤𝐺 𝐵 = 𝐶 𝑤𝐺 𝐶
durante a lavagem. É o caso da lavagem de gases de 𝑘𝑔
1500 0,80 = 0,98 𝐶
combustão, que sempre vem acompanhada da produção ℎ
de ácido sulfuroso, que ataca o aço, e dos gases 𝑘𝑔
𝐶 = 1224,5
produzido nos fornos de fundição de alumínio, que ℎ
contém Cl2, F2, HCl e NaCl gaseificado. Balanço de massa para o sólido:

coleta de gases e partículas 𝐵 𝑤𝑠 𝐵 = 𝐶 𝑤𝑠 𝐶 + 𝐷 𝑤𝑠 𝐷


𝑉𝑎𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑛𝑠 { baixo custo inicial 𝑘𝑔 𝑘𝑔
ocupação de pequeno espaço 0,20 . 1500 = 0,02 . 1224,5 + 0,40 𝐷
ℎ ℎ
𝑘𝑔
grande consumo de água 𝐷 = 688,8

𝐷𝑒𝑠𝑣𝑎𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑛𝑠 { geração de residuos
posterior separção Balanço de massa para água:
Exemplo 3. Em um processo químico, gases provenientes 𝐴 = 𝐷 𝑤𝐴 𝐷
de um forno devem ser lançados no ar atmosférico. Para
𝐴 = 0,6 . 688,8 = 413,3
que essa corrente atenda as normas, a concentração de
particulados deve ser menor que 2%. Assim, uma
Conferindo no BM global:
lavadora de gases será empregada para a purificação do
ar. Calcule a quantidade de água que deverá ser 413,3 + 1500 = 1224,5 + 688,8 = 1913,3
empregada nesse equipamento para que todo sólido

54
AULA 9
SEPARAÇÃO DE SÓLIDOS DE LÍQUIDOS/GASES

Precipitador eletrostático
A corrente de gás/sólido passa entre dois baixo custo
eletrodos mantidos com ddp entre 10 e 70 kV. As baixa perda de carga
moléculas de CO2, CO, SO2 e H2O são ionizadas e ao resistente a corrosão
simplicidade de projeto
chocarem com as partículas as carregam negativamente, 𝑉𝑎𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑛𝑠
causando a sua migração em direção ao pólo (eletrodo consumo de pouca potência
coletor) de carga contrária. Caso a condutividade seja fácil manutenção e manutenção
baixa, pode-se umedecer a corrente antes do pode operara a altas T e P
precipitador. A retirada das partículas é feita por { concentração de sólidos alta
vibração ou pó injeção de óleo.
desgaste por abrasão
custo baixo de operação e manutenção 𝐷𝑒𝑠𝑣𝑎𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑛𝑠 { possivel entupimento
eficiencia na ordem de 99% baixa eficiência para Dp < 5 𝜇𝑚
𝑉𝑎𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑛𝑠 diâmetros pequenos (0,01μm)
grandes vazões e altas temperaturas
{ baixa queda de pressão

alto custo inicial


requer espaço
𝐷𝑒𝑠𝑣𝑎𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑛𝑠 {
perigo de alta tensão
apenas para material particulado

usinas termoelétricas
fábricas de cimento
𝐴𝑝𝑙𝑖𝑐𝑎çõ𝑒𝑠 aciarias
fundições de metais não ferrosos
{ fabrica de celulose

Ciclones
Nos ciclones o princípio de coleta é a utilização
da força centrífuga, que aplica sobre a partícula uma
aceleração varias vezes mais intensa que a força da
gravidade, empurrando a partícula na direção das
Figura 5.8 - Esquema de um separador tipo ciclone
paredes do ciclone, retirando-a do fluxo gasoso.
O gás entrando tangencialmente no topo do
ciclone cria um fluxo espiral descendente entre a parede
e o duto de saída. Esta, chamada de espiral principal,
EXERCÍCIOS
estende-se até a base do cone e retorna em movimento
1. Diferencia a decantação da filtração.
espiral ascendente interno. É a chamada espiral interna,
2. Explique o conceito de velocidade terminal.
que se estende até o duto de saída, dando descarga ao
3. Relacione o aumento da velocidade de
gás limpo. As partículas sólidas em suspensão no ar,
sedimentação com a concentração de sólidos na
sobre efeito da força centrífuga, tendem a deslocar-se
suspensão a ser decantada, densidade do sólido e do
para a película de ar junto às paredes do ciclone.
líquido, diâmetro de forma das partículas e a
viscosidade do meio. O que você faria para aumentar
tal velocidade?
4. Relacione o aumento da velocidade de filtração com
a diferença de pressão no sistema, área da superfície

55
AULA 9
SEPARAÇÃO DE SÓLIDOS DE LÍQUIDOS/GASES

de filtração, viscosidade, resistência da torta e


resistência do meio filtrante.
5. Explique o sistema de funcionamento dos
equipamentos de separação sólido-gás. Para
facilitar, esboce um esquema dos equipamentos.
6. Estudos recentes estão analisando a possibilidade de
aplicar ciclones para separar a areia do gás natural
oriundos dos poços de petróleo. Nesse contexto,
desenvolva o BM para um ciclone hipotético que
está retirando a areia (SiO2) de uma corrente
composta apenas por metano (CH4). Sabe-se que 100
kg da mistura são alimentados por hora e que essa
corrente possui 20% em massa de sólidos. A corrente
de CH4 efluente do equipamento deve ter no máximo
0,1% de sólidos, pois essa deve ser processada
posteriormente. Admitir que a corrente de saída de
fundo do ciclone seja composta apenas por areia.
Quais os possíveis problemas atribuídos ao posterior
processamento do gás caso a concentração de
sólidos fosse maior que a especificada? Dica:
esquematize o equipamento antes de iniciar o BM.
7. Analisando o mesmo problema do exercício anterior,
verificou-se que o gás extraído possuía muitas
partículas com Dp<5μm e sabe-se que ciclones não
são eficientes para partículas desse tamanho. Assim,
o ciclone será utilizado para uma separação primária.
O gás previamente limpo (5% em sólidos) será
encaminhado para um segundo equipamento onde a
especificação será atingida. Desenvolva o BM para
esse equipamento admitindo que a vazão de entrada
seja à saída de gás do ciclone do ex. 6 (mas com
cncentraçãi diferente) e que a corrente de sólidos
seja isenta de CH4. Qual equipamento você sugere
para essa separação secundária?
8. No processamento de gás natural, uma corrente
gasosa contendo material particulado é enviada a
um filtro de mangas. A corrente tratada deve ter no
máximo 3,0% em massa de sólidos. Realize o balanço
de massa para esse equipamento sabendo que são
alimentados 150 kg/h de uma suspensão que
contem 40% de sólidos. Quando tempo levará para
que o sistema pare para manutenção e limpeza se a
capacidade do filtro é de 300 kg de sólidos.

56
AULA 10
SEPARAÇÃO LÍQUIDO/LÍQUIDO

INTRODUÇÃO no caso da decantação, ou da força centrípeta, para


centrifugação, podem ser separadas as fases. A Figura
Dando continuidade ao estudo de processos de 6.1 mostra de forma simplificada este processo.
separação, nesta aula, serão abordados os processos de
separação líquido/líquido. Serão revisados conceitos de
sistemas homogêneos e heterogêneos, assim como de
soluções bifásicas. Na separação de líquidos será dada
atenção especial ao processo de extração.

TRANSFERÊNCIA DE MASSA
A transferência de massa baseia-se em sistemas,
em que dois ou mais componentes cujas concentrações
variam de ponto a ponto, tendem a sofrer uma
transferência natural de massa minimizando, assim, as
diferenças de concentração entre os sistemas. O
transporte de um constituinte ocorre de uma região de
alta concentração para aquela de menor concentração,
ou seja, a força motriz para o movimento da matéria é o Figure 6.1 - Processo simplificado de Decantação
gradiente de concentração. Este fenômeno denomina-se
“difusão molecular”. O transporte de massa também
pode estar associado à convecção, processo no qual
Destilação
porções do fluído são transportadas de uma região a
O processo de destilação é empregado para
outra do escoamento em escala macroscópica.
misturas de líquidos miscíveis, quando os dois primeiros
Na transferência de massa há diversas
processos não podem ser empregados. Baseia-se, em
contribuições. As mais importantes são:
essência, na diferença entre os pontos de ebulição dos
1. Contribuição difusiva: transporte de matéria devido diferentes líquidos da mistura.
às interações moleculares; A destilação é o principal processo industrial de
separação de dois líquidos miscíveis, tendo importância
2. Contribuição convectiva: auxílio ao transporte de significativa nas mais diversas áreas, em especial, as
matéria como consequência do movimento do meio. ligadas ao petróleo.
Porém, nem sempre é possível empregá-la, já
SEPARAÇÃO LÍQUIDO/LÍQUIDO que muitas misturas acabam por formar pontos onde
ambos os líquidos evaporam à mesma temperatura, os
Os principais processos de separação de chamados pontos de azeotropia. Nestes casos, muitas
misturas de dois ou mais líquidos são: a decantação, a vezes é conveniente aplicar-se a extração por solventes.
centrifugação, a extração por solvente e a destilação Pela sua importância, o processo de destilação
(simples ou fracionada). será mais detalhado em aulas subsequentes.

Decantação e Centrifugação Extração por solvente


A decantação e a centrifugação são processos É um processo complementar à destilação,
usados para líquidos imiscíveis, sendo baseados na também empregado para líquidos miscíveis.
diferença de densidade destes. Consiste, basicamente, em adicionar-se um
Com a diferença de densidade dos dois líquidos líquido estranho à mistura (solvente) que solubilize
há uma separação em duas fases, uma menos densa e preferencialmente um dos componentes (soluto) e que
outra mais densa. Assim, pela simples ação da gravidade, seja pouco solúvel no outro (diluente) de modo a formar

57
AULA 10
SEPARAÇÃO LÍQUIDO/LÍQUIDO

duas fases de líquidos. Nesta mistura bifásica, uma das da solução resultante da mistura de F e S, E é a vazão do
fases, rica no solvente, é definida como Extrato, e a outra extrato e R do rafinado.
rica no diluente de Rafinado. A quantidade de Soluto no
extrato deve ser maior do que a do rafinado. ALIMENTAÇÃO (F) – Solução inicial contendo o soluto
Posteriormente, da mesma forma que a decantação, as SOLVENTE (S) – Solução usada para extrair o soluto
fases são separadas por diferença de densidade. MISTURA (M) – Solução resultante da mistura de F e
S
Solvente EXTRATO (E) – Solução do solvente rico em soluto
Um dos problemas chaves deste processo é a RAFINADO (R) – Solução de diluente pobre em soluto
escolha do solvente, já que ele pode apresentar
propriedades distintas, frente à mistura inicial. Pode ser: A conservação de massa também é válida para
1. Totalmente miscível com a solução, formando cada um dos componentes individualmente, já que eles
uma solução homogênea; não sofrem alterações químicas. Assim:
2. Totalmente imiscível com a solução;
3. Parcialmente imiscível com a solução. 𝑤𝐹 . 𝐹 + 𝑤𝑆 . 𝑆 = 𝑤𝑀 . 𝑀 = 𝑤𝐸 . 𝐸 + 𝑤𝑅 . 𝑅
Essas tendências são determinadas pelo
equilíbrio termodinâmico entre os líquidos. Sendo 𝑤 a fração mássica de um dos compostos
Para facilitar a visualização deste equilíbrio, (soluto, diluente ou solvente) em uma das correntes:
normalmente são usadas ferramentas gráficas, alimentação (𝑤𝐹 ), solvente (𝑤𝑆 ), mistura (𝑤𝑀 ), extrato
conhecidas como diagramas de equilíbrio (𝑤𝐸 ) e rafinado (𝑤𝑅 ).
líquido/líquido. Estes diagramas facilitam visualizar se
existe imiscibilidade entre os pares de compostos. SOLUTO (A) – Líquido que será extraído pelo solvente
DILUENTE (B) – Líquido inicial no qual o soluto está
Balanço de massa diluído
SOLVENTE (S) – Líquido usado para extrair o soluto
O fluxograma simplificado pode ser visto na
Figura 6.2.
Exemplo 1. Deseja-se extrair ácido acético de
uma solução aquosa a 40%, que entra em uma extratora
numa taxa de 200 L/h, mediante adição de acetato de
etila. A concentração de ácido acético deve ser reduzida
a 3% no rafinado efluente. Considerando que a água e o
acetato são imiscíveis, qual será a vazão de solvente
necessária? Sabe-se que a solubilidade máxima do ácido
no acetato, nas condições dadas, é de 10%.
Obs: Considere a densidade da alimentação igual a da
água (1 kg/L) e que o Extrato sai livre de diluente.
Figura 6.2 - Fluxograma simplificado de uma extração líq./líq.

Pela conservação de massa:

𝐸𝑛𝑡𝑟𝑎 = 𝑆𝑎𝑖

𝐹+𝑆 =𝐸+𝑅

Em que F é a vazão de solução alimentada Figura 6.3 - Coluna extratora do Exemplo 1.


(contendo o soluto), S é a vazão do solvente, M é a vazão

58
AULA 10
SEPARAÇÃO LÍQUIDO/LÍQUIDO

Com base nos dados fornecidos e na Figura 6.3,


podemos fazer o balanço de massa para cada 2. INSOLUBILIDADE (β):
componente. Quanto mais insolúvel, melhor, já que é possível
trabalhar em uma faixa maior de composições e não é
• Balanço de massa para a água (H2O): tão susceptível às variações no processo.

𝑤𝐻2 𝑂,𝐹 . 𝐹 = 𝑤𝐻2 𝑂,𝑅 . 𝑅 3. FACILIDADE DE RECUPERAÇÃO:


Facilitar processos de recuperação do solvente
𝑘𝑔 para posterior reuso, com o intuito de diminuir gastos de
0,6.200 = 0,97. 𝑅
ℎ solvente. Evitar a formação de azeótropos, que não
podem ser separados por destilação.
𝑘𝑔
𝑅 = 123,7
ℎ 4. DENSIDADE:
A diferença de densidades é essencial para a
• Balanço de massa para o ácido acético (ác.):
separação das fases. Logo, quanto maior for, mais fácil
𝑤ác,𝐹 . 𝐹 = 𝑤ác,𝑅 . 𝑅 + 𝑤ác,𝐸 . 𝐸 ocorre a separação.

𝑘𝑔 𝑘𝑔 5. OUTRAS PROPRIEDADES:
0,4.200 = 0,03.123,7 + 0,1. 𝐸 Não reativo, baixa viscosidade, alta temperatura
ℎ ℎ
de ebulição, baixo ponto de congelamento, etc.
𝑘𝑔
𝐸 = 762,89 6. SEGURANÇA E CUSTO:

Não inflamável e não toxico.
• Balanço de massa para o solvente (sol.): E, preferencialmente, com baixo custo!

𝑤sol,𝑆 . 𝑆 = 𝑤sol,𝐸 . 𝐸
EXERCÍCIOS
𝑘𝑔
𝑆 = 0,9.762,89
ℎ 1. Pesquise um pouco mais sobre os diagramas de
equilíbrio líquido/líquido e sobre o que representam.
𝑆 = 686,601 𝐿/ℎ
2. Você precisa fazer uma extração com solvente de um
Ou seja, seriam necessários 686,601 L/h de soluto S e possui a disponibilidade de adquirir um
solvente para realizar a extração desejada. dos três solventes abaixo.
Escolha do solvente 𝑲𝑫 𝜷
Outras propriedades também devem ser levadas SOLVENTE A 1,0 4,0
em conta durante a escolha do solvente: SOLVENTE B 2,0 4,0
SOLVENTE C 2,0 13,0
1. COEFICIENTE DE DISTRIBUIÇÃO (𝑲𝑫): Qual destes solventes você selecionaria? Justifique.
Mede a quantidade de soluto no extrato em
relação ao rafinado. Pode ser dado por: 3. Cite exemplos de processos onde cada um dos
𝑥𝐴 𝑛𝑜 𝑒𝑥𝑡𝑟𝑎𝑡𝑜 métodos de separação estudados é aplicado.
𝐾𝐷 =
𝑥𝐴 𝑛𝑜 𝑟𝑎𝑓𝑖𝑛𝑎𝑑𝑜

Quanto maior, menos solvente será necessário.

59
AULA 10
SEPARAÇÃO LÍQUIDO/LÍQUIDO

4. Deseja-se extrair um ácido de uma solução aquosa a


30% que entra em uma extratora numa taxa de 400
L/h, mediante adição um solvente puro. A
concentração de ácido deve ser reduzida a 5% no
rafinado efluente. Considerando que a água e o
solvente são imiscíveis, qual será a vazão de solvente
necessária? Sabe-se que a solubilidade máxima do
ácido no solvente, nas condições dadas, é de 15%

5. Um solvente puro qualquer possui um coeficiente de


partição de 2. Esse solvente é usado para extrair um
soluto de uma corrente de 400 kg/h, com 80% em
massa do soluto. Deseja-se que o rafinado possua
uma concentração máxima de 5% do soluto. Se a
extração for feita em uma única etapa, qual será a
quantidade de solvente necessária?

60
AULA 11
NOÇÕES DE TERMODINÂMICA

• Diagrama PT:
INTRODUÇÃO A Figura 8.1 mostra um exemplo de diagrama
Pressão-Temperatura de uma substância pura.
Nesta aula veremos alguns importantes
conceitos de termodinâmica e de transferência de calor.
Primeiramente, nos dedicaremos a estudar os estados da
matéria e importantes diagramas que nos informam
propriedades das substâncias puras em diferentes
condições. Após isso, estudaremos o calor e o trabalho
como formas de transferir energia, relacionando-os com
grandezas úteis. Por fim, diferenciaremos calor sensível
do calor latente.

A REGRA DAS FASES DE GIBBS


Em 1875, o físico Josiah Willard Gibbs deduziu a
expressão que permite estabelecer o estado intensivo de
Figura 8.1 - Diagrama PT de uma substância pura.
qualquer sistema. Neste momento ela será apresentada
de uma forma mais simples, na qual se desconsidera a
Na figura acima as linhas representam as
ocorrência de reações:
fronteiras entre fases. Tais linhas indicam as condições
ℱ =𝒞−𝒫+2 (01) de pressão e temperatura nas quais duas fases
encontram-se em equilíbrio, isto é, nestas condições as
Na expressão anterior, 𝒞 representa o número duas fases coexistem. A linha 1-2 representa o equilíbrio
de componentes, 𝒫 o número de fases e ℱ o número de entre a fase sólida e a fase vapor e é chamada de curva
graus de liberdade relacionados às grandezas intensivas. de sublimação, esta separa a região do sólido e do vapor.
A linha 2-3 é chamada curva de fusão e representa o
Supondo uma substância pura na forma líquida: equilíbrio sólido-líquido. Por fim, a linha 2-C é a curva de
𝒞 = 𝒫 = 1 , logo ℱ = 2 e são necessárias duas vaporização, a qual representa a condição em que a fase
grandezas intensivas (pressão e temperatura, por líquida e a fase vapor coexistem.
exemplo) para descrever tal estado. O ponto 2 é chamado ponto triplo e mostra a
situação na qual coexistem as três fases: sólido, líquido e
DIAGRAMA DE FASES vapor.
Enquanto as linhas representam o equilíbrio
Os estados de agregação da matéria podem entre duas fases, as áreas delimitadas pelas linhas são
também ser chamados de fases. Uma fase é regiões em que há uma única fase. No diagrama PT,
caracterizada por possuir estrutura molecular transformações de fases podem ser representadas por
homogênea através de toda sua massa e por estar linhas. Transformações isotérmicas (com temperatura
separada das outras fases por fronteiras bem definidas. constante) são representadas por linhas verticais e
Uma das maneiras mais interessantes de transformações isobáricas (a pressão constante) por
representar as fases e as variáveis físicas que linhas horizontais. Ao atravessar uma fronteira entre
caracterizam um sistema é através dos diagramas fases ocorre uma brusca variação das propriedades do
Pressão-Volume-Temperatura (PVT). Os diagramas de fluido a pressão e temperatura constante.
fases que trataremos aqui são os diagramas de O ponto C é chamado ponto crítico e suas
substâncias puras. Substância pura é aquela que tem coordenadas, Pc e Tc, indicam a maior pressão e
composição química invariável e homogênea em todas as temperatura na qual se observa o equilíbrio líquido-
fases. vapor. Acima do ponto crítico a fase líquida tem

61
AULA 11
NOÇÕES DE TERMODINÂMICA
propriedades idênticas à fase vapor. Isto quer dizer que,
nesta situação, não existe uma fronteira entre a fase
líquida e a fase gás. Disto decorre que é possível fazer temperatura constante ou a pressão constante. Tome
uma transição da fase líquida à fase vapor sem cruzar a como exemplo a chaleira em que você aquece água em
curva de vaporização. Um exemplo de trajetória deste sua casa. Imagine que você aquecerá água até a fervura.
tipo é a curva A-B. Nesta situação, a transição de líquido Neste caso tem-se um processo a pressão constante
para gás é gradual, não incluindo uma etapa de (pressão atmosférica). O sistema é aquecido até um
vaporização. ponto onde inicia-se o processo de vaporização. Deste
No gráfico da Figura 8.1, a linha vertical instante em diante temos um sistema composto por uma
pontilhada mostra a divisão da região do gás. Um gás à fase líquida em equilíbrio com o seu vapor. Tanto o
esquerda da linha é chamado de vapor. Chamamos vapor líquido quanto o vapor estão saturados. Durante todo o
o gás que pode ser condensado por compressão a processo de vaporização a temperatura permanece
temperatura constante ou por resfriamento a pressão constante (temperatura de saturação Tsat).
constante. O gás a temperatura superior a Tc é dito Agora imagine que você realizará a vaporização
supercrítico. de água líquida mantendo a temperatura constante e
variando a pressão. Isto poderia ser feito em um êmbolo
• Diagrama PV: isolado. O sistema é submetido a uma diminuição de
A Figura 8.2 dá-nos uma nova informação: o pressão. É possível verificar que, a uma dada pressão, a
volume. Nesta figura, o equilíbrio entre fases, que no mudança de fase tem início. A pressão permanece
diagrama PT era dado por linhas, é agora representado constante até que se complete a mudança de fase. A essa
por regiões nas quais duas fases (sólido/vapor, pressão dá-se o nome de pressão de vapor (Pvap) ou
sólido/líquido, líquido/vapor) coexistem em equilíbrio a pressão de saturação (Psat).
uma dada temperatura e pressão. O volume específico A pressão de vapor é uma propriedade das
(ou molar) depende das quantidades relativas das fases substâncias puras e o seu valor é uma função das forças
presentes. As linhas representam fases únicas. O ponto intermoleculares e da energia cinética das moléculas,
triplo é agora dado por uma linha horizontal na qual que, por sua vez, é função da temperatura. O ponto de
coexistem as três fases em uma única temperatura e ebulição de um composto é definido como sendo a
pressão. temperatura na qual a pressão de vapor do líquido se
iguala a pressão do sistema.
Conhecendo a temperatura na qual se encontra
uma substância pura é possível se determinar a
temperatura de saturação desta ou vice-versa bastando
para tanto que se tenha à disposição um gráfico como o
da Figura 8.1 ou uma equação que correlacione a pressão
e temperatura de saturação. Uma das equações mais
utilizadas para este fim é a Equação de Antoine, a qual
possui a forma:

𝐵
𝑙𝑛𝑃𝑠𝑎𝑡 = 𝐴 − (02)
𝑇+𝐶
Figura 8.2 - Diagrama PV de uma substância pura.
Com 𝑃𝑠𝑎𝑡 dado em kPa e 𝑇 em °C. A Tabela 9.1
mostra valores das constantes A, B e C para algumas
DADOS DO EQUILÍBRIO LÍQUIDO- substâncias.
VAPOR
Um composto puro pode passar de líquido a
vapor ou de vapor para líquido através de um processo a

62
AULA 11
NOÇÕES DE TERMODINÂMICA

𝐵
Tabela 9.1. Coeficientes para uso da Equação de Antoine.
𝑇= −𝐶
𝐴 − 𝑙𝑛𝑃𝑠𝑎𝑡
Faixa de 3885,70
Nome Fórmula Coef. A Coef. B Coef. C 𝑇= − 230,170
Temp. °C
16,3872 − ln (101,325)
Acetona C3H6O 14,3145 2756,22 228,060 -26 a 77
Benzeno C6H6 13,7819 2726,81 217,572 6 a 104
Iso-butano C4H10 13,8254 2181,79 248,870 -83 a 7
𝑇 = 99,998°𝐶 ≅ 100 °𝐶
n-butano C4H10 13,6608 2154,70 238,789 -73 a 19
1-butanol C4H10O 15,3144 3212,43 182,739 37 a 138
2-butanol C4H10O 15,1989 3026,03 186,500 25 a 120
A previsão pela Eq. de Antoine gera um resultado
Iso-butanol C4H10O 14,6047 2740,95 166,670 30 a 128 aproximadamente igual ao mostrado no gráfico da Figura
Tert-butanol C4H10O 14,8445 2658,29 177,650 10 a 101 8.5. A temperatura de 100°C é chamada de temperatura
Etanol C2H6O 16,8958 3795,17 230,918 3 a 96 normal de ebulição da água.
Água H2O 16,3872 3885,70 230,170 0 a 200 c) A temperatura é 300 °C.
Neste caso não podemos empregar a Eq. de
Exemplo 1. Determine a temperatura ou pressão de Antoine, cujos coeficientes mostrados nesta apostila são
saturação da água nas seguintes condições: utilizáveis somente na faixa de 0 a 200°C para água.
a) A temperatura é 298,15K. Teremos que recorrer ao gráfico da Figura 8. Para 300°C
Usaremos a Eq. de Antoine com os coeficientes a pressão de saturação é de aproximadamente 10 MPa.
da Tabela 8.1. A Eq. de Antoine é usada com a Dados do equilíbrio líquido-vapor para a água
temperatura dada em °C, então precisamos realizar a são encontrados em tabelas conhecidas como tabelas de
conversão: vapor. Uma tabela de vapor pode ser consultada no
𝑇 (°𝐶) = 𝑇(𝐾) − 273,15 Anexo A desta apostila. Nestas tabelas, além da
𝑇 (°𝐶) = 298,15 − 273,15 = 25°𝐶 temperatura e pressão de saturação, encontram-se
informações do volume específico, energia interna,
Agora aplicamos a Eq. de Antoine: entalpia e entropia do líquido e vapor saturado. Neste
curso, faremos uso somente das informações de
𝐵 entalpia. Exemplificaremos o uso destas informações em
𝑙𝑛𝑃𝑠𝑎𝑡 = 𝐴 − um exercício resolvido a frente.
𝑇+𝐶
3885,70
𝑙𝑛𝑃𝑠𝑎𝑡 = 16,3872 −
25 + 230,170 CALOR E TRABALHO
𝑙𝑛𝑃𝑠𝑎𝑡 = 1,159 Calor é uma forma de energia em trânsito, assim
𝑃𝑠𝑎𝑡 = exp (1,1593) como o trabalho. A transferência de calor entre dois
𝑃𝑠𝑎𝑡 = 3,188𝑘𝑃𝑎 = 3188 𝑃𝑎 corpos ocorre devido a uma diferença de temperatura,
com a energia fluindo do corpo mais quente para o corpo
A previsão pela Eq. de Antoine gera um resultado frio.
aproximadamente igual ao mostrado no gráfico da Figura O trabalho está intimamente associado à
8.5. habilidade para causar o deslocamento de uma força. É
b) A pressão é 1 atm. usual classificá-lo de duas formas:
Novamente usaremos a Eq. de Antoine. É preciso • Trabalho 𝑃𝑉 : representa a movimentação da
inicialmente converter a pressão em kPa: fronteira de um sistema, como quando um
pistão é acionado e altera o volume ocupado por
101,325𝑘𝑃𝑎 certo gás dentro de um cilindro;
𝑃 = 1 𝑎𝑡𝑚 ∗ = 101,325 𝑘𝑃𝑎
1 𝑎𝑡𝑚 • Trabalho de eixo: é responsável pela
transmissão de energia para um fluido através
Temos que isolar a temperatura na Eq. de da rotação de um dispositivo, o rotor das
Antoine. Após alguns algebrismos temos: bombas centrífugas é um excelente exemplo.

63
AULA 11
NOÇÕES DE TERMODINÂMICA
CONSERVAÇÃO DE ENERGIA possui temperatura acima de 0 K, as partículas que a
compõem possuem energia. Assim, sempre que há fluxo
O enunciado da Primeira Lei da Termodinâmica de massa há também fluxo de energia e esta parcela
diz: deve ser considerada no balanço. Ao esquentar a água
Embora a energia assuma várias formas, a em uma chaleira o conjunto composto pela chaleira +
quantidade total de energia é constante e, quando água é um sistema aberto. A frente veremos como ficará
energia em uma forma desaparece, ela reaparece um balanço de energia para um sistema com fluxo de
simultaneamente em outras formas. massa.
Isto é, a energia é conservativa! Voltemos ao sistema fechado. Frequentemente
Em geral, no estudo da termodinâmica estamos estes sistemas sofrem processos durante os quais
preocupados com um sistema específico. somente a sua energia interna muda. Assim, a inclusão
Um sistema termodinâmico é definido como de energia no sistema na forma de calor e trabalho causa
uma quantidade com massa e identidade fixas. Um uma variação na energia interna do sistema. Com isso
sistema é uma pequena parcela do Universo sobre a qual podemos escrever:
temos interesse em nossos estudos. Tudo que é externo
ao sistema é denominado vizinhança. ∆U = Q + W (05)
Vimos logo acima que a energia se conserva.
Outra pergunta pode surgir: o que é energia
Sendo assim, uma variação de energia num sistema de
interna? Energia interna (U) é a energia das moléculas
interesse causa igual variação na energia da vizinhança
que compõem um sistema. Faz sentido falarmos em
do sistema. Assim
energia sendo transferida na forma de calor e trabalho,
∆(Energia do Sistema) = ∆(Energia da Vizinhança) porém não faz nenhum sentido falar em energia
armazenada como calor e trabalho. Lembre-se: calor e
Ou trabalho são formas de energia em trânsito! A energia
interna é, digamos assim, a forma na qual um sistema
∆(Energia do Sistema) − ∆(Energia da Vizinhança) = 0 (03) armazena energia. Esta energia é a soma da energia
cinética translacional, rotacional e vibracional das
Basicamente, podemos classificar um sistema partículas que compõem um sistema. Também entra na
em três categorias: isolado, fechado ou aberto; de energia interna a energia potencial que se deve às forças
acordo com os fluxos de massa e energia que atravessam intermoleculares, às forças que mantém os átomos
(ou não) suas fronteiras. agrupados como moléculas e às forças que mantém os
Denominamos sistema isolado aquele em que elétrons ligados ao núcleo dos átomos.
não ocorre fluxo de energia nem de massa ao longo de Da equação para sistemas fechados e
suas fronteiras, um bom exemplo cotidiano seria a considerando um processo reversível chega-se a uma
garrafa térmica. função termodinâmica que é muito comumente
Já o sistema fechado é aquele no qual não há encontrada nos cálculos, a entalpia. A entalpia é
fluxo de massa por meio das fronteiras do sistema. DEFINIDA como sendo:
Assim, em sistemas fechados não há nenhuma corrente
de entrada ou de saída de matéria. Podemos considerar H ≡ U + PV (06)
um pacote de carne que é retirado do freezer para
descongelar como um sistema fechado. A palavra “definida” aparece destacada pois a
Nesta situação toda energia que entra ou que sai entalpia não é uma grandeza física, mas sim uma
do sistema é transportada por calor ou trabalho. Assim: propriedade definida por comodidade. É útil porque o
grupo U+PV aparece frequentemente nos cálculos.
∆(Energia do Sistema) = Q + W (04) Para processos em regime permanente, com
escoamento e com uma única entrada e uma única saída,
Por fim, no caso de sistemas abertos, há fluxo de o balanço de energia pode ser escrito como:
massa pelas fronteiras do sistema. Como esta massa

64
AULA 11
NOÇÕES DE TERMODINÂMICA
2
∆𝑣 Já vimos as condições nas quais pode-se chegar
∆𝐻 + + 𝑔∆𝑍 = 𝑄 + 𝑊𝑒 (07)
2 a Equação
𝑄 = ∆𝐻
Na qual 𝑣 é a velocidade média do fluído
escoando, 𝑔 a aceleração da gravidade, 𝑍 a altura e 𝑊𝑒 o No caso da vaporização, ∆𝐻 será ∆𝐻𝑣𝑎𝑝 (calor
trabalho de eixo. Usaremos esta equação, com as latente de vaporização) e teremos:
simplificações que forem necessárias, nos balanços de
energia que fizermos adiante. 𝑄 = ∆𝐻𝑣𝑎𝑝
Ou:
CALOR SENSÍVEL E LATENTE 𝑄̇ = 𝑚̇∆𝐻𝑣𝑎𝑝 (09)
Que também é sua velha conhecida, porém,
• Calor Sensível: geralmente usa-se a letra L para representar o calor
Partindo da Equação de Bernoulli, e latente de vaporização.
considerando processo à pressão constante,
mecanicamente reversível, sem trabalho de eixo e com • Análise Gráfica:
variação de energia potencial e cinética desprezível Já vimos nesta aula que, durante uma mudança
chega-se a: de fase, a temperatura se mantém constante. Porém, ao
transferirmos calor a um sistema, sem que haja mudança
𝑄 = ∆𝐻 de fase, a temperatura aumenta. Podemos representar
estas observações por meio de um gráfico da
Das relações termodinâmicas temos que ∆𝐻, a temperatura versus entalpia.
pressão constante, é função da capacidade calorífica a
pressão constante (𝐶𝑃 ) e da temperatura. 𝐶𝑃 também
varia com a temperatura, porém, neste curso, por
simplicidade, consideraremos 𝐶𝑃 constante e, com isso,
teremos:
𝑄 = ∆𝐻 = 𝐶𝑃 ∆𝑇
Ou:
𝑄̇ = 𝑚̇∆𝐻 = 𝑚̇𝐶𝑃 ∆𝑇 (08)

Esta equação é sua velha conhecida e é


empregada para quantificar a energia necessária para
aquecer um sistema quando não há mudança de fase, Figura 8.3 - Variação da temperatura com a entalpia para uma
reações químicas e mudanças na composição. substância pura.
A capacidade calorífica a pressão constante ou
calor específico depende da substância com a qual se Este conhecimento é frequentemente
está trabalhando e é uma medida da capacidade do empregado na indústria. Muitas vezes, quando se deseja
material armazenar energia térmica. É dada em kJ/kg.°C. aquecer uma determinada corrente, emprega-se como
fluido de aquecimento vapor de água saturado. Este é
• Calor Latente: preferível pois permite bom controle de temperatura
Quando uma substância pura é liquefeita a partir (lembre-se que a condensação ocorre a temperatura
do estado sólido ou vaporizada a partir do estado líquido, constante) e porque a condensação do vapor de água
a pressão constante, não ocorre variação da libera muita energia (540 kcal/kg a pressão de 1 atm) se
temperatura, contudo o processo requer uma comparada ao resfriamento do vapor superaquecido (0,5
quantidade finita de calor para a substância mudar de kcal/kg a cada 1°C de resfriamento) ou da água (1 kcal/kg
fase. Esses efeitos térmicos são chamados de calor a cada 1 °C de resfriamento)
latente de fusão e calor latente de vaporização.

65
AULA 11
NOÇÕES DE TERMODINÂMICA
Exemplo 2. O esquema da Figura 8.4 mostra um sistema No chuveiro a velocidade é:
de bombeamento e aquecimento de água para a ducha
de um apartamento. A água, em uma temperatura de 10 𝑉̇ 𝑉̇
𝑣2 = =
ºC, é bombeada de um reservatório com nível a 5 m do 𝐴1 𝜋 ∗ 𝐷2 2
chão a uma vazão de 0,152 L/s. O motor da bomba 4
fornece 0,04 hp. A água atravessa um aquecedor onde 𝑙 1𝑚³
0,152 ∗ 𝑚
𝑣2 = 𝑠 1000𝑙
2 = 0,53329 𝑠
recebe calor a uma taxa de 25,4 kW, sendo então
descarregada em um chuveiro a 25 metros do chão. O 0,0254𝑚
(3/4" ∗ )
sujeito tomando banho vai passar frio? 𝜋∗ 1"
4

Assim, a contribuição da variação de velocidade


será:

∆𝑣² 𝑣2 2 − 𝑣1 2
=
2 2
∆𝑣² 𝑚2
= 0,097207 2
2 𝑠
Antes de continuar a resolução do exemplo veja
a seguinte análise dimensional:

𝐽 𝑁∗𝑚 𝑚 𝑚 𝑚2
= = 𝑘𝑔 ∗ 2 ∗ =
Figura 8.4. Exemplo 2. 𝑘𝑔 𝑘𝑔 𝑠 𝑘𝑔 𝑠 2

Para sabermos se o rapaz tomando banho vai Assim, a contribuição associada à variação de
passar frio, é necessário encontrarmos a temperatura da velocidade no balanço de energia pode ser escrita em
água no chuveiro. outras unidades:

Resolveremos este exemplo usando o balanço ∆𝑣² 𝑚2 𝐽


= 0,097207 2 = 0,097207
de energia para um sistema com escoamento. Primeiro 2 𝑠 𝑘𝑔
calcularemos a parcela de energia referente a variação
de velocidade. A variação de velocidade ocorre pois a Agora analisaremos a contribuição da variação
vazão volumétrica é constante em todo o sistema de altura:
(estamos trabalhando com um fluido incompressível), 𝑚 𝑚2
𝑔∆𝑍 = 9,8 2 ∗ (25 − 5)𝑚 = 196 2
mas o diâmetro da tabulação muda. 𝑠 𝑠

Na saída do tanque a velocidade é: 𝐽


𝑔∆𝑍 = 196
𝑘𝑔
𝑉̇ = 𝑣 ∗ 𝐴
O calor cedido ao sistema é:
𝑉̇ 𝑉̇
𝑣1 = = 𝐽
𝐴1 𝜋 ∗ 𝐷1 2 𝑄̇ = 25,4𝑘𝑊 = 25400
4 𝑠
Para colocar nas mesmas unidades vistas
𝐿 1𝑚³ anteriormente dividimos a taxa de calor pela vazão
0,152 ∗
𝑣1 = 𝑠 1000𝐿 = 0,29998 𝑚 mássica:
0,0254𝑚 2 𝑠 𝑄̇ 𝑄̇
(1" ∗ ) 𝑄= =
𝜋∗ 1" 𝑚̇ 𝑉̇ ∗ 𝜌
4

66
AULA 11
NOÇÕES DE TERMODINÂMICA
𝑄 = 𝑄1 + 𝑄2 + 𝑄3
25400𝐽/𝑠
𝑄=
𝑙 1𝑚³ 𝑘𝑔 A parcela 1 se refere ao aquecimento da água
0,152 𝑠 ∗ ∗ 1000 3 líquida até a temperatura de vaporização. A segunda
1000 𝑙 𝑚
parcela se deve à energia necessária para vaporizar a
50000 𝐽/𝑠
𝑄= = 167105,26 𝐽/𝑘𝑔 água. A terceira parcela leva em conta a energia
0,152𝑘𝑔/𝑠 necessária para aquecer o vapor de água da temperatura
de saturação até a temperatura final de 200°C.
O mesmo faremos com o trabalho de eixo da
Primeiramente precisamos conhecer a
bomba:
temperatura de saturação da água a pressão de 1
1𝑊 MPa=1000 kPa. Acharemos este dado na Tabela de
𝑊𝑒 = 0,04𝐻𝑃 ∗ Vapor. Não encontraremos na tabela a pressão de
1,341 ∗ 10−3 𝐻𝑃
1000kPa, porém encontraremos 1002,7kPa que é uma
𝑊𝑒 = 29,828 𝑊 = 29,828 𝐽/𝑠 boa aproximação. Os dados na Tabela estarão dispostos
da seguinte maneira:
𝑊𝑒 29,828 𝐽/𝑠
= = 196,2368 𝐽/𝑘𝑔 Entalpia H (kJ/kg)
𝑚̇ 0,152 𝑘𝑔/𝑠
T (°C) T (K) P (kPa) Líq. Sat. Evap. Vap. Sat.
Com isso teremos que ∆𝐻 será igual a: 180 453,15 1002,7 763,1 2013,1 2776,3

𝐽 𝐽 Temos, com isso a temperatura de saturação a


∆𝐻 + 0,097 + 196,00
𝑘𝑔 𝑘𝑔 1002,7 kPa, a qual é 180 °C. Podemos então calcular as
𝐽 𝐽 parcelas 𝑄1 e 𝑄3 :
= 167105,263 + 196,237
𝑘𝑔 𝑘𝑔 𝑄1 = 𝑚𝐶𝑃 ∆𝑇
𝐽
∆𝐻 = 167105,4 𝐽/𝑘𝑔 𝑄1 = 1𝑘𝑔 ∗ 4410 ∗ (180 − 170)°𝐶
𝑘𝑔°𝐶
𝑄1 = 44100𝐽
Fazendo ∆𝐻 = 𝐶𝑃 ∆𝑇 e tomando 𝐶𝑃 da água 𝑄3 = 𝑚𝐶𝑃 ∆𝑇
líquida igual a 1 kcal/kg.°C=4184 J/kg.°C teremos: 𝐽
𝑄3 = 1𝑘𝑔 ∗ 2590 ∗ (200 − 180)°𝐶
∆𝐻 167105,4 𝐽/𝑘𝑔 𝑘𝑔°𝐶
∆𝑇 = = ≈ 40°𝐶 (39,94 º𝐶) 𝑄3 = 51800 𝐽
𝐶𝑃 J
4184
kg°C
Para calcular a parcela 2 precisamos do calor de
∆𝑇 = 𝑇2 − 𝑇1 e 𝑇2 = 𝑇1 + ∆𝑇. vaporização na pressão estipulada, esta é dada pela
Logo: diferença entre a entalpia do vapor saturado e do líquido
𝑇2 = 10 + 40 ≈ 50°𝐶 saturado, a qual já está calculada na tabela na coluna
Evap. Assim o ∆𝐻𝑣𝑎𝑝 = 2013,1 𝑘𝐽/𝑘𝑔 e a parcela 𝑄2
Exemplo 3. Precisamos saber qual a quantidade de calor será:
que se deve ceder a 1 kg de água para que esta tenha sua 𝐽
𝑄2 = 𝑚∆𝐻𝑣𝑎𝑝 = 1 𝑘𝑔 ∗ 2013100
temperatura elevada de 170 °C até 200°C a 1 MPa. O 𝑘𝑔
calor específico da água é 4410 J/kg.K e o calor específico 𝑄2 = 2013100 𝐽
do vapor de água é 2590 J/kg.K. Use a tabela de vapor
para obter as demais informações. Nestas condições, em Logo, o calor total que deve ser cedido é:
certa temperatura, a água líquida vaporizará para então 𝑄 = 𝑄1 + 𝑄2 + 𝑄3
ser aquecida até a temperatura final. 𝑄 = 44100𝐽 + 2013100𝐽 + 51800𝐽
Sabemos que o processo de aquecimento 𝑄 = 2109000 𝐽
envolve uma transformação de fases. Escreveremos
então o calor total cedido em três parcelas:

67
AULA 11
NOÇÕES DE TERMODINÂMICA
Note quão maior é a parcela gasta para vaporizar Discussão: É possível utilizar apenas a expressão 07?
a massa de água. Compare o valor de cada termo no balanço de
energia.

EXERCÍCIOS 5. Qual a quantidade de energia deve ser cedida para


evaporar água líquida nas seguintes condições: a)
1. Busque no texto desta aula as respostas das 0°C; b) 110°C e c) 190°C? Qual a pressão de saturação
seguintes perguntas: nas mesmas condições – utilize a tabela de vapor e a
Eq. de Antoine.
a) Diferencie os estados da matéria quanto a
mobilidade das moléculas. 6. Qual a quantidade de calor liberado na condensação
b) Ao aumentarmos a temperatura de saturação, o do vapor de água nas seguintes condições: a) 1 bar;
que ocorre com a pressão de saturação? E com a b) 5 bar e c) 15 bar? Qual a temperatura de saturação
entalpia de vaporização? nas mesmas condições – utilize a tabela de vapor e a
Eq. de Antoine.
2. Faça uma pesquisa e escreva, com suas palavras,
qual o significado, no âmbito da termodinâmica, das 7. Nas indústrias químicas é crucial considerar o calor
seguintes definições: liberado ou exigido para o processamento de
reações. Você sabe que existem reações exotérmicas
a) Sistema (aquelas que liberam calor ao se processar) e
b) Equilíbrio (mecânico, térmico e químico) endotérmicas (aquelas que necessitam fornecimento
c) Processo quasi-estático de calor). Na indústria usualmente são colocadas
camisas ou serpentinas nos reatores as quais são
3. A Figura 8.5 mostra o Digrama PT da água. usadas para controle de temperatura. Apenas para
Gostaríamos que você encontrasse no gráfico o fins de recordação, pedimos que você calcule o calor
ponto triplo da água, bem como o ponto crítico. Qual liberado na reação de combustão do metano (a 25°C
o significado destes dois pontos? Na mesma figura e 1 bar).
trace a seguinte transformação a 100kPa: gelo é Responda, antes de calcular, você espera que esta
aquecido de -10 até 0°C, funde-se e a água líquida é reação seja exotérmica ou endotérmica? Após a
aquecida de 0 até 100°C, esta é vaporizada e o vapor realização dos cálculos avalie suas previsões. Os
é superaquecido a 130 °C. Usando os dados aqui dados necessários se encontram na tabela de
dados e a tabela de vapor diga qual a energia deve entalpias padrão de formação.
ser cedida para estas transformações? Cp
(gelo)=2040 J/kg.K; entalpia de fusão (1 atm) = 333,7 8. A seguinte reação, conhecida por WGSR (water-gas
kJ/kg; Cp (líquido)=4,22 kJ/kg.K; Cp (vapor) = 2029 shift reaction), tem importância em diversos
J/kg.K; entalpia de vaporização = 2264,7 kJ/kg; processos industriais (por quê?).

4. Numa linha de processo água é bombeada e 𝐶𝑂(𝑔) + 𝐻2 𝑂(𝑔) ⇌ 𝐶𝑂2 (𝑔) + 𝐻2 (𝑔)
aquecida.
A água é aquecida de 15 a 85 °C (Cp=4,184 kJ/kg.°C). Utilizando os dados da tabela de entalpias padrão
O motor da bomba tem potência de 0,03 HP. A linha de formação calcule a entalpia desta reação a 1 bar
tem 20 m com perda de carga 0,01 bar/m. O trocador e 200 ºC.
de calor que aquece a água apresenta perda de carga As capacidades caloríficas no estado de gás ideal
de 1 bar. Qual calor deve ser cedido a água no são: 𝐶𝑃 (𝐶𝑂) = 29,14 J/(mol K); 𝐶𝑃 (𝐻2 𝑂) = 33,58
trocador de calor? A vazão de água é 10 L/s e sua J/(mol K); 𝐶𝑃 (𝐶𝑂2 ) = 37,13 J/(mol K) e 𝐶𝑃 (𝐻2 ) =
densidade 1000 kg/m³. (1 HP é equivalente a 745,7 28,84 J/(mol K).
J/s)

68
AULA 11
NOÇÕES DE TERMODINÂMICA
Dica: Calcule, como no exercício anterior, a entalpia
padrão da reação (a 25 ºC). Que transformações
você deve fazer nos reagentes e produtos para
reação ocorrer nas condições desejadas?

Tabela 1 Entalpias Padrão de Formação (298.15 K)

Espécie Estado Δ𝐻𝑓0 (kJ/mol)


CH4 (g) -74,520
CO2 (g) -393,509
CO (g) -110,525
H2O (g) -241,818

9. O professor Tadeu não gosta de tomar café quente.


Infelizmente seu estoque acabou e só é possível
preparar café a 74 ºC. Entretanto, é necessário que o
café fique gelado o mais rápido possível.
Você dá a ele uma ideia: por que não preparar um
café concentrado e colocar cubos de gelo para
resfriá-lo?
Suponha que vocês prepararam 1 litro de café e
possuem várias formas repletas de cubos de gelo (em
geral, uma forma contém 15 cubos; estime a massa
de cada cubo). Considere que a temperatura ideal
para o café é de 48 ºC. Quantas formas de gelo serão
utilizadas? Você acha que essa é uma boa ideia? Que
outra sugestão você daria?
As propriedades do café podem ser aproximadas
pelas da água.
Dados: 𝐶𝑃 (𝐻2 𝑂(𝑙) ) = 4,2 kJ/kg; Δ𝐻𝑚 = 334 kJ/kg.

69
AULA 11
NOÇÕES DE TERMODINÂMICA

Figura 8.5 - Exercício 2. Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Phase_diagram_of_water.svg.

70
AULA 12
TROCA TÉRMICA

INTRODUÇÃO átomos da ponta da barra que estão em contato com a


chama recebem mais e mais energia e vibram com maior
São inúmeras operações na indústria química intensidade. O calor então se transfere desta ponta
onde a troca de calor é indispensável. Sem a realização àquela que você está segurando, isso ocorre porque a
de trocas térmicas no processo de destilação do ponta da barra exposta a chama está com maior
petróleo, por exemplo, destiladoras empregadas no temperatura que a ponta que você está segurando. Por
refino não conseguiriam desempenhar o seu papel. Um fim, os átomos da barra metálica transferem energia,
grande número de diferentes equipamentos está também por condução, para a sua mão. Enquanto
presente hoje no mercado industrial. Alguns houver uma diferença de temperatura entre a ponta do
equipamentos que permitem a troca de calor não são seu dedo e a chama haverá transferência de calor. Com
chamados de trocadores de calor, pois possuem funções este exemplo podemos ir um pouco mais longe e pensar
específicas. Este é o caso dos evaporadores e no que ocorrerá com as moléculas de ar que estão ao
cristalizadores. Um fluido que armazena e transfere redor da chama, da barra e da sua mão. Se este ar estiver
calor, empregado em grandes quantidades em plantas mais frio (isto é, com menor temperatura) ele será
industriais, é o vapor de água, que pode ser utilizados no aquecido e suas moléculas vibrarão com mais
estado superaquecido ou saturado. Nas linhas de vapor intensidade provocando o aumento da temperatura de
alguns acessórios estão presentes, para melhorar e moléculas vizinhas por meio de choques.
proporcionar o escoamento do vapor pela unidade. Agora pense: se ao invés de uma barra metálica
Assim, nesse capítulo iremos trabalhar com troca de você estivesse segurando uma barra de madeira, a
calor, equipamentos e acessórios utilizados. Para energia seria transferida com a mesma intensidade à sua
começar, trataremos das formas de transferências de mão? A resposta é não. A condução de calor depende do
calor. material sobre o qual a diferença de temperatura está
submetida. A grandeza que mede a capacidade de um
TRANSFERÊNCIA DE CALOR material conduzir calor é a condutividade térmica.
Metais (um exemplo é o ferro que tem condutividade
Certamente você já estudou os três modos de 80,2 W/m), por exemplo, possuem condutividade
transferência de calor os quais são condução, convecção térmica maior que a madeira (cuja condutividade é de
e radiação. Vamos aqui abordá-los rapidamente 0,17 W/m). A água líquida tem condutividade 0,607 W/m
tentando enxergar algumas das suas aplicações na e o ar, 0,026 W/m.
Engenharia. O fato de existirem materiais com diferentes
condutividades térmicas é muito importante para a
• Condução: Engenharia. É possível encontrar exemplos onde a
A transferência de energia por condução é o condução de calor é extremamente desejada e outros
resultado da interação entre partículas mais energéticas onde se busca evitá-la. Um exemplo são os trocadores de
e suas vizinhas menos energéticas. Nos sólidos a calor de contato indireto. Um trocador de calor pode ser,
condução se deve às vibrações das moléculas em uma por exemplo, constituído por dois tubos concêntricos. No
rede cristalina. Nos líquidos e gases, a condução ocorre tubo interno fluido quente é circulado e no tubo externo
devido as colisões entre moléculas que ocorrem durante há um fluído frio. Desejamos que o fluído quente aqueça
seus movimentos aleatórios. o fluido frio, porém há uma parede entre eles. Nesta
Um modo prático de pensar na condução é situação usaremos tubos metálicos, uma vez que estes
imaginar uma barra metálica. Imagine que você segura materiais conduzem bem e não prejudicarão a troca
esta barra em uma de suas pontas enquanto coloca a térmica.
outra ponta na chama de uma boca de fogão. Em alguns A maior ladra de energia é a atmosfera. Por isso,
instantes você verificará que a ponta que você está quando circulamos um fluido quente por um duto
segurando se aquecerá. Observe, o calor liberado pela colocamos envolta dele um isolante térmico. Isolantes
combustão do gás de cozinha (que é uma mistura de térmicos são materiais com baixa condutividade que
propano e butano) é, em partes, transferido à barra. Os impedem (na verdade nenhum isolamento é 100%

71
AULA 12
TROCA TÉRMICA

eficiente, assim os isolantes não impedem toda a perda dos carros onde o ar é usado para resfriar superfícies
de energia, mas podem diminuí-la drasticamente) que a quentes do automóvel. Nesta situação outra variável que
energia do fluido seja perdida para a atmosfera. Um tem grande influência sobre a convecção é trabalhada: a
exemplo de isolante térmico é a fibra de vidro. área. A transferência por convecção é função direta da
Com base nas ideias expostas acima, J. Fourier área, assim para aumentar a transferência de calor a área
desenvolveu em 1822 a equação que possibilita o cálculo pode ser aumentada. Nos radiadores dos carros, a área
da taxa de calor trocado por condução: é aumentada pela inserção de haletas, que são chapas
metálicas em contato com as partes quentes do
∆𝑇 automóvel. O calor é transferido das partes aquecidas
𝑄̇𝑐𝑜𝑛𝑑 = −𝑘𝐴 (09)
∆𝑥 até as chapas por condução e lá a energia é dissipada
para o ar por meio de convecção.
Que nos diz que a taxa de condução de calor A taxa de transferência de calor por convecção é
através de uma placa é proporcional à diferença de descrita pela lei de Newton do resfriamento:
temperatura através da placa e à área de transferência
de calor, mas inversamente proporcional à espessura da 𝑄̇𝑐𝑜𝑛𝑣 = ℎ𝐴𝑆 (𝑇𝑆 − 𝑇∞ ) (10)
placa. 𝑘 é a condutividade térmica do material. No
Exercício 8 você poderá aplicar a Equação 08. Onde h é o coeficiente de transferência de calor
por convecção, o qual depende da velocidade de
escoamento e do fluido que escoa. 𝐴𝑆 é a área da
• Convecção: superfície através da qual a transferência de calor ocorre,
Diferentemente da condução, a convecção 𝑇𝑆 é a temperatura desta superfície e 𝑇∞ a temperatura
ocorre devido ao movimento ordenado de moléculas de do fluido longe da superfície. No Exercício 10 você
um fluído. Na verdade, a convecção é o resultado da poderá aplicar a lei de Newton de resfriamento.
soma de dois fenômenos: a condução e o movimento do
fluido. Vamos voltar ao exemplo do aquecimento da • Radiação:
barra metálica e nos concentrar no aquecimento do ar Até o momento vimos modos de transferência
circundante pelo calor liberado diretamente da chama. de calor que necessitam meios materiais para ocorrer.
Após algum tempo uma camada de ar mais quente seria Diferente destes mecanismos, a transferência de calor
formado nas proximidades da chama, porém o fluido por radiação não exige um meio material. A radiação é a
aquecido possui menor densidade que o ar mais frio. A emissão de energia pela matéria sob a forma de ondas
tendência do ar quente é então subir enquanto o ar frio eletromagnéticas. Aqui estamos interessados
desce e é aquecido. Com isso se estabelece uma corrente especialmente na radiação térmica, a qual é a radiação
de ar com o ar frio descendo, sendo aquecido pela chama relacionada à temperatura dos corpos. Todos os corpos
e subindo. com temperatura superior ao zero absoluto emitem
Este processo é muito importante e aumenta energia por radiação térmica.
muito a transferência de calor. Quanto maior a É por meio da radiação que a energia
velocidade de escoamento de um fluido maior a proveniente do Sol atinge a Terra. A radiação térmica é
transferência de calor por convecção. Na indústria este também empregada na indústria. Um exemplo são as
conhecimento tem um grande impacto. Você está caldeiras aquatubulares. Caldeiras são grandes
lembrado do exemplo do trocador de calor formado por equipamentos onde se gera vapor de água. Nas caldeiras
dois tubos concêntricos? Naquela situação é possível aquatubulares, a água que será consumida para a
aumentar a velocidade dos fluidos quente e frio de modo geração de vapor está no interior de tubos e na parte
a se obter maior troca de calor. externa circulam gases quentes produzidos pela queima
Líquidos trocam calor por convecção com maior de combustíveis. O principal processo de transferência
facilidade que gases. Porém existem casos em que é de energia para a água que está nos tubos é a radiação.
critico que exista uma apreciável troca de calor entre Ao queimarem, combustíveis de alto peso molecular
superfícies e gases, como por exemplo nos radiadores geram partículas que emitem energia luminosa. Esta

72
AULA 12
TROCA TÉRMICA

energia é absorvida pelos tubos (que geralmente são de quente. A diferença de temperatura existente entre eles
aço carbono, material escuro que possibilita alta promove um fluxo de calor, onde o fluido quente cede
absorção de luz) e transferidas por condução e calor para o frio, aquecendo-o. Esse equipamento é
convecção à água. chamado de trocador de calor duplo-tubo.
A taxa de calor emitida por radiação é dada pela
lei de Stefan-Boltzmann:

𝑄̇𝑟𝑎𝑑 = 𝜀𝜎𝐴𝑆 𝑇𝑆 4
Figura 9.1 - Trocador de calor duplo tubo. PASQUALIN, K.
Onde 𝜎, é a constante de Stefan-Boltzmann, que
apresenta o valor de 5,670 ∗ 10−8 𝑊/𝑚²𝐾 4 , e 𝜀 é a
emissividade da superfície.

• 𝜀 = 1 para o corpo negro, uma superfície


idealizada que tem máxima emissividade.
• 0 < 𝜀 < 1 para todas as superfícies reais.

TROCADORES DE CALOR
Nos processos industriais é bastante comum a
necessidade de aquecer ou resfriar um fluido, para que o
mesmo possa ser processado de forma adequada. Há
processos onde um vapor deve ser condensado ou então Figura 9.2 – Ilustração do Trocador de Calor Duplo Tubo.
vaporizar um líquido. Na sua casa você resolve esse
O fluxo de calor tem, como passagem, a área de
problema simplesmente colocando o material, em um
contato entre os fluidos, representada pela área do tubo
recipiente adequado, no fogão, forno (no caso de
interno. Se o tubo fosse curto, a quantidade de calor
aquecimento) ou no refrigerador (no caso de
trocada, por unidade de tempo (fluxo) será também
resfriamento).
reduzida.
Em sistemas industriais, como as quantidades
processadas são muito maiores, necessita-se de
equipamentos adequados para realizar essas operações. TROCADOR DE CALOR FEIXE TUBULAR
Esses equipamentos são chamados de trocadores de
calor. No caso de grandes vazões de fluidos quentes e frios, se
O princípio físico no qual um trocador de calor faz necessárias áreas de troca muito maiores que aquela
está fundamentado é que a diferença de temperatura é proporcionada por trocadores de calor duplo tubo. A
o potencial capaz de promover um fluxo de energia do solução para esse problema foi obtida enfeixando um
mais alto potencial (temperatura mais alta) para o numero grande de tubos dentro de uma única carcaça. O
potencial mais baixo. Esse fluxo de energia é conjunto interno de tubos é conhecido como banco de
denominado de fluxo térmico. tubos.
Pelo tubo externo, ou carcaça, circula um dos
TROCADOR DE CALOR DUPLO TUBO fluídos, enquanto no feixe tubular, ou no banco de tubos,
escoa o outro. Um conjunto de placas metálicas,
denominada de chicanas, forçam o fluido que circula pela
A figura 9.1 esquematiza um dos mais simples
carcaça a viajar sempre cruzando o banco de tubos, de
trocadores de calor, idealizado para trocar calor entre
modo a aumentar a eficiência das trocas térmicas. Na
dois fluidos. É constituído por dois tubos concêntricos.
figura 9.4 pode-se analisar a disposição de um banco de
Em um deles circula o fluido frio e o outro o fluido

73
AULA 12
TROCA TÉRMICA

tubos e de uma carcaça de um mesmo trocador de calor diferenciada levará ao empenamento do feixe,
separadamente. danificando-o de modo irreversível.
Há situações práticas onde a vazão de um dos
fluidos é muito diferente da do outro. Um projeto normal
resultaria em um trocador de calor de pequeno diâmetro
e muito comprimento, desproporcional e de montagem
difícil. Nesse caso, pode-ser optar por uma disposição
interna que força o fluido dos tubos a passar duas vezes, Figura 9.5 - Trocador de calor casco e tubo, de cabeçote flutuante,
indo e voltando, pelo feixe tubular. Esse trocador pode dois passes pelos tubos. Fyterm.
ser denominado trocador de calor casco e tubo de dois
passes pelos tubos. A Figura 9.6 mostra uma extremidade (cabeçote)
para feixe tubular, sendo que a interna pode mover-se
livremente no interior da carcaça. Sem que os fluidos se
misturem. Esse tipo de trocador é chamado de cabeçote
flutuante.

Figura 9.3 – Trocador de Calor Casco e Tubos.


Figura 9.6 - Um dos tipos de cabeçote para trocadores de calor,
cabeçote flutuante. Norma TEMA.

SERPENTINAS E CAMISAS
Em situações em que se deseja resfriar ou
aquecer um equipamento, como um tanque ou um
reator químico, e nos casos em que o fluxo de calor não
é muito grande, é comum empregarmos dispositivos
denominados de serpentinas e camisas de aquecimento
(ou resfriamento). A serpentina é um tubo enrolado, de
forma helicoidal, por onde circula o fluido térmico. A
camisa é uma parede dupla construída no vaso, por onde
circula o fluido térmico.

Figura 9.4 - Trocador de calor casco e tubos. Banco de tubos


separados da carcaça. Solostocks.

A figura 9.5 mostra um corte longitudinal desse


tipo, abordando ainda uma engenhosa solução para o
problema de dilatação térmica diferenciada do banco de
tubos, em relação à carcaça. Suponha que o fluido
quente circula no banco de tubos: a temperatura dos
tubos será muito maior que a da carcaça, levando o feixe
tubular a dilatar-se mais. Se o feixe estiver firmemente
fixo pelas extremidades à carcaça, a dilatação

74
AULA 12
TROCA TÉRMICA

Considerando um tanque agitado com


serpentina, operando em regime contínuo. Dentro do
tanque há uma solução quente. Pela serpentina passa o
fluido de resfriamento. O perfil de temperatura será:

Figura 9.7 - Mecanismos de aquecimento, (a) camisa de


Figura 9.9 - Perfil de temperatura tanque + serpentina.
aquecimento e (b) aquecimento por serpentinas.
PASQUALIN, K.

Trocadores de calor podem ser usados nos mais O fluido frio se aquece ao circular pela
variados processos. Assim, os trocadores podem ser serpentina. A temperatura do fluido quente se manterá
classificados de acordo com: constante visto que a massa que está no tanque é muito
grande.
• Processo de transferência;
O fato de os fluidos entrarem em contra corrente
• Superfície de contato;
também aumenta a eficiência da troca de calor. Se os
• Geometria de construção;
fluidos entram em concorrente de início tem-se uma
• Características dos fluxos;
enorme diferença de temperatura entre eles; porém ao
• Número de fluidos; longo do percurso suas temperaturas se igualarão e a
• Mecanismo de transferência de calor. troca de energia cessa. Mas se entrarem em contra-
corrente, durante todo o caminho dos fluidos haverá
Configuração dos fluxos uma diferença de temperatura e portanto trocarão calor
Ao trabalhar com trocadores de calor que
a todo momento, aproveitando melhor a energia
realizam uma operação unitária de evaporação, fluídos
disponível. Os gráficos a seguir mostram isso: onde o eixo
condensam e evaporam. De um lado da parede está a
das ordenadas representa à temperatura e o da abscissa
solução que evapora em temperatura constante. De
a distância percorrida pelos fluidos.
outro lado, o fluido de aquecimento que pode ser vapor
saturado condensante. Caso traçado o gráfico,
colocando na ordenada a temperatura e na abscissa o
comprimento da superfície de troca, obtém o seguinte
perfil:

Figura 9.8 - Perfil de temperatura para troca de fase em ambos os Figura 9.10 - Escoamento cocorrente. PASQUALIN, K.
lados do trocador de calor. PASQUALIN, K.

75
AULA 12
TROCA TÉRMICA

Exemplo 1. Em um processo industrial, glicerina deve ser


aquecida de 28°C até a temperatura de 120°C. O fluído
de aquecimento é um óleo próprio para esse fim, que
estará a 250°C. Qual a quantidade de óleo que deverá ser
utilizada se 2000 kg/h de glicerina são processadas?
Estime a área necessária de troca térmica, supondo
coeficiente global de troca térmica igual a 50 W/m².K e
fator de perda de carga igual a 1.

Inicialmente, desenhamos o esquema da


operação estudada:

Figura 9.11 –Escoamento contra corrente. PASQUALIN, K.

Figura9.12 - Esquema referente ao exercício 1. PASQUALIN, K.


Para uma trocador de calor, a carga trocada
pode ser estimada pela equação abaixo: 𝐶𝑝𝐺 = 430,4 𝑘𝑔 𝐾
𝐽
e 𝐶𝑝𝑜 = 243,2 𝑘𝑔 𝐾
𝐽

𝑄 = 𝐴 𝑈 𝐹 ∆𝑇𝑟
Como não será considerada a dissipação de
Na qual A é a área de troca térmica, F é um fator energia, todo calor trocado será do óleo para a glicerina.
de correção, que assume-se um valor igual a 1 para Assim:
apenas um passe, U é um coeficiente global de troca
térmica que depende da construção e material do 𝑄𝐺 = 𝑄𝑜 = 𝑚𝐺 𝐶𝑝𝐺 ∆𝑇𝐺
trocador de calor, e por fim, ∆𝑇𝑟 é média logaritimica das
temperaturas de entrada e de saída. 𝑘𝑔 1 ℎ 𝐽
𝑄𝐺 = 𝑄𝑜 = 2000 430,4 (120 − 28)°𝐶
ℎ 3600 𝑠 𝑘𝑔 𝐾
O ∆𝑇𝑟 é calculado para uma configuração
contra-corrente com a equação abaixo: 𝐽
𝑄𝐺 = 𝑄𝑜 = 21998,2 𝑜𝑢 𝑊
𝑠
(𝑇𝑞,𝑒𝑛𝑡 − 𝑇𝑓,𝑠𝑎𝑖 ) − (𝑇𝑞,𝑠𝑎𝑖 − 𝑇𝑓,𝑒𝑛𝑡 )
∆𝑇𝑟 = 𝑄𝐺 = 𝑄𝑜 = 𝑚𝑜 𝐶𝑝𝑜 ∆𝑇𝑜
(𝑇𝑞,𝑒𝑛𝑡 − 𝑇𝑓,𝑠𝑎𝑖 )
𝑙𝑛
(𝑇𝑞,𝑠𝑎𝑖 − 𝑇𝑓,𝑒𝑛𝑡 ) Não se sabe a temperatura com o qual o óleo
sairá do trocador de calor. Nenhum processo de troca é
economicamente viável se alcançar o equilíbrio, ou seja,
Para uma configuração cocorrente com a as correntes que saem do trocador não possuem a
equação abaixo: mesma temperatura. Uma boa aproximação para a
temperatura de saída do fluido quente é de 20°C a mais
(𝑇𝑞,𝑒𝑛𝑡 − 𝑇𝑓,𝑒𝑛𝑡 ) − (𝑇𝑞,𝑠𝑎𝑖 − 𝑇𝑓,𝑠𝑎𝑖 ) que a temperatura de saída do fluido frio. Nesse caso, o
∆𝑇𝑟 = óleo sairá a 140°C. Portanto, a massa de óleo será:
(𝑇𝑞,𝑒𝑛𝑡 − 𝑇𝑓,𝑒𝑛𝑡 )
𝑙𝑛
(𝑇𝑞,𝑠𝑎𝑖 − 𝑇𝑓,𝑠𝑎𝑖 ) 𝑄𝐺 21998,2 𝐽⁄𝑠
𝑚𝑜 = =
𝐶𝑝𝑜 ∆𝑇𝑜 243,2 𝐽⁄𝑘𝑔 𝐾 (250 − 140)°𝐶

76
AULA 12
TROCA TÉRMICA

𝑘𝑔 𝑘𝑔
𝑚𝑜 = 0,8223 𝑜𝑢 2960,3
𝑠 ℎ

Pode-se também encontrar qual a área


necessária para o trocador de calor. Estipulando um
coeficiente de troca térmica global de 50 W/m² K e F
igual a 1.
𝑄
𝐴=
𝑈 𝐹 ∆𝑇𝑟

A média logaritimica de temperatura é calculada Figura 9.13 - Esquema da caldeira fogo tubular. PASQUALIN, K.
da seguinte maneira:
Um cuidado que se deve tomar com esse tipo de
(250 − 120) − (140 − 28) caldeira é o nível mínimo e máximo de água dentro da
∆𝑇𝑟 = = 120,78°𝐶 caldeira. Já na caldeira aquatubular, como já diz o nome,
(250 − 120)
𝑙𝑛 a água irá circular pelos tubos e os gases de combustão
(140 − 28)
pelo casco. Algumas de suas vantagens são: partida
Assim, a área pode ser calculada da seguinte rápida, pode operar a altas pressões, elevado
maneira: rendimento, pode ser utilizada com diferentes
combustíveis, entre outros. Na figura 9.14 está uma
𝑄 21998,2 𝐽⁄𝑠 ilustração de uma caldeira aquatubular.
𝐴= =
𝑈 𝐹 ∆𝑇𝑟 50 𝐽⁄𝑠 𝑚² 𝐾 ∗ 1 ∗ 120,78°𝐶

𝐴 = 3,64 𝑚²

FLUIDO DE AQUECIMENTO
Uma das formas de aquecimento, que já foi
mencionada, é a utilização de fluidos específicos para
aquecimento ou refrigeração. Estes são chamados de
fluidos refrigerantes e podem ser óleos ou compostos
poliméricos.
Outro fluido de aquecimento amplamente
utilizado na indústria é o vapor de água. Este pode ser Figura 9.14 - Esquema de uma caldeira vertical aquatubular.
saturado ou superaquecido e o equipamento que
proporciona o aquecimento e vaporização da água é Desaeradores são utilizados nos sistemas de
chamado de caldeira. geração de vapor. O vapor, quando empregado como
A caldeira pode ser do tipo aquatubular ou fluido térmico, troca calor com o meio frio e, por estar
fogotubular. Na caldeira flamo-tubular a disposição na saturado, condensa. O condensado produzido é drenado
fornalha é interna, ou seja, os gases de combustão estão dos trocadores de calor e é reciclado para o gerador de
localizados no interior dos tubos e a água está externa vapor. O vaso para onde o condensado é enviado, e a
aos tubos. Essas caldeiras são compactas, a chama pode partir de onde é bombeado de volta para a caldeira, é
ser direta, alto rendimento e o combustível pode ser óleo denominado desaerador. Leva esse nome porque ali a
ou gás. Um esquema da caldeira fogo tubular pode ser água nova alimentada ao sistema, à temperatura
analisado através da figura 9.13. ambiente, é misturada com o condensado e, com a
elevação da temperatura, libera o oxigênio e nitrogênio

77
AULA 12
TROCA TÉRMICA

absorvidos no contato com o ar. Estes gases deixam o


vaso por uma válvula de alívio.
A retirada do ar absorvido na água antes de sua
alimentação à caldeira é importante: impede que o
mesmo seja liberado no interior da caldeira e viaje
misturado ao vapor pelos tubos, sendo inclusive
alimentado aos trocadores de calor. O oxigênio promove
a oxidação dos tubos e equipamentos, exigindo maiores
dispêndios com a manutenção, e, juntamente com o
nitrogênio, reduzem a eficiência de troca térmica dos
trocadores por apresentarem uma condutividade
térmica muito baixa, como qualquer outro gás.
Como o vapor é um fluido que é utilizado para
transporte de energia térmica, tubulações devem levar o Figura 9.65 – Esquema simples do isolamento de uma tubulação.
vapor da caldeira até os pontos onde o seu uso é
necessário. Por exemplo, em um reator a reação química Nesse deslocamento do vapor, o isolamento não
somente ocorre de forma satisfatória e econômica a uma impede que parte condense. Para não comprometer o
dada temperatura. O vapor deve ser levado da caldeira escoamento (não estar em escoamento bifásico) deve-se
até a camisa para aquecer a mistura reacional. Nesse retirar condensado das tubulações. Existem dispositivos
percurso, se a tubulação não estiver isolada o vapor irá mecânicos ou termodinâmicos que impedem a
trocar calor com o ambiente (ar em torno à tubulação passagem de vapor, mas possibilitam a passagem de
que está na faixa de 25°C a 35°C). Assim irá condensar, condensado. Estes são os purgadores. Para não haver o
comprometendo o transporte do fluido, e quando esse acúmulo de condensado, a cada 50m de tubulação um
chegar até o reator, não conseguirá exercer a sua função. purgador é posto na linha a fim de retirar vapor
Os isolamentos das linhas de vapor são condensado.
compostos, geralmente, por dois componentes: o Como já comentado, existem dois tipos de vapor
isolante e a proteção do isolante. Os isolantes podem ser que são utilizados industrialmente: o vapor saturado e o
encontrados na forma de flocos, pó ou fibras soltas, vapor superaquecido. Mas onde e quando se devem
introduzidas entre duas paredes rígidas. Podem-se citar utilizar esses vapores? Antes de responder essa pergunta
alguns tipos de isolamento, como a lã de rocha, a é necessário fazer outra: o que é vapor saturado e o que
diatomita e a vermiculita. A proteção para o isolante é vapor superaquecido?
básico ou acabamento pode ter a finalidade de oferecer Na formação de vapor a água na caldeira será
uma barreira à umidade do ambiente. Podem ser vaporizada. Quando esse vapor se encontra, na
compostos por folhas de alumínio, níquel, aço e temperatura e pressão estipuladas, em equilíbrio com o
eventualmente outros metais. Algumas características líquido que está vaporizando, este vapor é saturado. Isso
desejáveis ou necessárias dos isolantes seriam: diz que se esse vapor for ligeiramente resfriado, ele irá
resistência às temperaturas as quais será submetido trocar apenas calor latente e não haverá troca de calor
(fusão e combustão); não toxidez; facilidade de sensível, ou seja, ele voltará ao estado líquido.
aplicação; bom preço; resistência a agentes agressivos e A formação de vapor superaquecido nas
as intempéries e resistência mecânica. A figura 9.15 caldeiras é um pouco diferente. Ao vaporizar a água, esse
mostra um corte da seção transversal de uma tubulação vapor é enviado a outro compartimento, na própria
isolada. caldeira, a fim de aquecer o fluido já vaporizado. Assim,
ao resfriar esse vapor superaquecido ele irá trocar calor
na forma de calor sensível (com mudança de
temperatura) e depois na forma de calor latente (com
mudança de fase). A parcela que mais o fluido

78
AULA 12
TROCA TÉRMICA

superaquecido libera calor é na troca de fase, ou seja, processo. Na maioria dos casos o vapor é a melhor
quando ele está condensando a temperatura constante. opção, mas em alguns processos a utilização de um fluido
O vapor saturado é utilizado quando se quer refrigerante/aquecimento é indispensável.
aquecer outro fluido, pois a etapa que mais liberará calor
é quando este irá condensar. Além disso, o vapor EXERCÍCIOS
saturado possui uma maior estabilidade e a temperatura
com que este condensa é uniforme e constante. Já o 1. Busque no texto desta aula as respostas das seguintes
vapor superaquecido possui elevada energia mecânica e perguntas:
uma reduzida capacidade de aquecimento. Essa
característica de alta energia mecânica é explorada para a) Olhando a equação da condução diga-nos: quais
produção de energia elétrica a partir de turbinas. os fatores que afetam a transferência de calor
Sistemas onde ocorre a vaporização da água e o seu por condução?
superaquecimento para produção de energia elétrica é b) Quais fatores afetam a transferência de calor por
amplamente empregada nas indústrias nucleares. convecção?
c) Quais fatores afetam a transferência de calor por
Exemplo 2. Em um processo industrial, glicerina deve ser radiação?
aquecida de 28°C até a temperatura de 120°C. O fluído d) Qual a diferença básica existente entre a
de aquecimento é vapor de água saturado a 10 bar. Qual condução e a convecção.
a quantidade de vapor que deverá ser utilizada se 2000
kg/h de glicerina são processadas? 2. Qual a importância de realizar trocas térmicas nas
indústrias de petróleo? Explique o funcionamento de
Como percebe-se, esse exercício condiz com o um trocador de calor, assim como o principio de troca
exemplo 1 modificando o fluido de aquecimento. Assim, térmica. Faça um esquema de um trocador de calor
a quantidade de calor que deve ser trocada é: casco e tubos para melhor reforçar seus
𝐽 conhecimentos.
𝑄𝐺 = 𝑄𝑉 = 21998,2 𝑜𝑢 𝑊 3. Quais são as configurações de fluxo possíveis em
𝑠
trocadores de calor? Explique-as com gráficos e
O fluido de aquecimento escolhido é vapor ilustrações.
saturado a 10 bar. Assim, o calculo da massa de vapor 4. Como o vapor é gerado? Explique o funcionamento
seguirá a equação de troca de calor por condensação, ou das caldeiras, assim como o funcionamento e a
seja, a partir do calor latente de condensação do vapor: importância do desaerador.
5. Qual a importância de realizar o isolamento das
𝑄𝑉 = 𝑚𝑉 ∆𝐻𝑐𝑜𝑛𝑑 linhas de vapor? Descreva como esse é realizado.
6. Qual a função de um purgador? Explique onde ele é
A partir das tabelas de vapor saturado encontra- utilizado e como é o seu funcionamento.
se que a 10 bar a temperatura de saturação é 179,0°C e 7. Diferencie vapor saturado e vapor superaquecido.
a entalpia de vaporização é de 482,0 kcal/kg ou 2017,7 Quando é adequada a utilização de vapor
kJ/kg de vapor. Portanto, a massa de vapor será: supersaturado e quando é mais adequada a
𝑄𝑉 21998,2 𝐽⁄𝑠 utilização de vapor saturado. Explique e cite
𝑚𝑉 = =
∆𝐻𝑐𝑜𝑛𝑑 2017,7 103 𝐽⁄𝑘𝑔 exemplos.
8. Antes de ser enviada a uma destiladora de refino,
𝑘𝑔 𝑘𝑔 uma mistura de petróleo deve ser aquecida de 150°C
𝑚𝑉 = 0,0109 = 39,25
𝑠 ℎ a 500°C. O fluido de aquecimento é um óleo próprio
que entra no trocador de calor a 1000°C. Qual a
Comparando com o resultado apurado no vazão volumétrica necessária do fluido de
exemplo 1 observa-se que a massa de vapor é menor em aquecimento em questão para que a operação seja
relação a massa de óleo a ser empregado no mesmo realizada se 5 toneladas de petróleo são processadas

79
AULA 12
TROCA TÉRMICA

por hora? Sabe-se que o Cp da mistura de petróleo é


2,10 kJ/kg °C e o Cp do fluido de aquecimento é 2,00
kJ/ kg °C.
9. No projeto do trocador de calor, que necessita
aquecer a mesma mistura de petróleo, foi
Tabela 10.2 - Tabela de vapor saturado a diferentes pressões.
investigada qual a melhor forma de aquecimento:
vapor saturado a 9 bar ou vapor saturado a 17 bar. Entalpia de
Entalpia líquido
Calcular quanto vapor é necessário, para ambas as P (bar) T (°C) vaporização
saturado (kcal/kg)
condições, e decida qual a melhor pressão a ser (kcal/kg)
alimentado o vapor no trocador. 8,0 169,6 171,3 489,6
10. Condensado saturado é obtido de um trocador de 9,0 174,5 176,4 485,7
calor de uma coluna de destilação de petróleo. Esse 10 179,0 181,2 482,0
refervedor é um trocador de calor do tipo Kettle. A 11 183,2 185,5 478,6
temperatura do fluido de aquecimento é de 241,4 °C. 12 187,1 189,7 475,2
Esse condensado deverá ser drenado com o auxilio 13 190,7 190,5 472,1
de um purgador e será enviado a uma recuperador 14 194,1 197,2 469,1
de vapor, ou seja, a um flash que irá operar a 11 bar. 15 197,4 200,6 466,2
Calcule a porcentagem de condensado que irá 16 200,4 203,9 463,4
vaporizar no tanque flash. 17 203,4 207,1 460,7
11. Um fluido de processo, com calor específico de 18 206,1 210,1 458,1
3500 J/(kg.K) e escoando a 2 kg/s, deve ser 19 208,8 213,0 455,5
20 211,4 215,8 453,0
resfriado de 80 ºC a 50 ºC com água fria, a qual é
30 232,8 239,5 430,6
fornecida a uma temperatura de 15 ºC e a uma
31 234,6 241,3 428,6
vazão de 2,5 kg/s. Considerando um coeficiente
32 236,4 243,5 426,6
global de transferência de calor igual a 2000 33 238,1 245,5 424,6
W/(m².K), calcule as áreas de troca térmica 34 239,8 247,4 422,6
necessárias para as seguintes configurações de 35 241,4 249,3 420,6
trocadores de calor:
a. Escoamento paralelo. (R.: 3,09 m²).
b. Escoamento contracorrente. (R.: 2,64 m²).
Compare os resultados de sua análise.

80
AULA 13
DESTILAÇÃO SIMPLES

INTRODUÇÃO A pressão de vapor (PV) de um líquido a uma


dada temperatura é a pressão exercida pelas moléculas
Dando continuidade ao estudo de processos de que passam através da superfície livre na situação de
separação, nesta aula, serão abordadas as bases de um equilíbrio (quando o número de moléculas que deixam o
dos principais processos de separação líquido/líquido: a líquido é igual ao das que retornam). Diz-se que um
destilação. Serão revisados conceitos de equilíbrio líquido entra em ebulição quando a sua pressão de vapor
líquido/vapor, incluindo ponto de bolha e ponto de iguala a pressão ambiente.
orvalho. Além disso, serão apresentados diagramas de Os líquidos com pressões de vapor elevadas
fases de misturas binárias simples e a idéia de misturas entram em ebulição a temperaturas mais baixas (para
azeotrópicas. uma dada pressão total). Diz-se, por isso, que são mais
voláteis. Nesses líquidos as forças intermoleculares são
EQUILÍBRIO LÍQUIDO-VAPOR comparativamente mais fracas. Como regra geral, a
velocidade de evaporação depende da intensidade das
Vaporização, evaporação ou ebulição são forças intermoleculares e da velocidade de fornecimento
denominações comuns para um mesmo processo. Em de calor à fase líquida.
essência, é o processo segundo o qual um líquido é
convertido em vapor. Na fase líquida as forças Calor de vaporização
intermoleculares mantêm a substância como um todo A vaporização é um processo endotérmico, ou
coeso. À medida que a temperatura aumenta as seja, deve ser fornecido calor ao líquido para que as
moléculas movem-se cada vez mais vigorosamente, moléculas possuam energia suficiente para vencer as
havendo um número cada vez maior de moléculas com forças intermoleculares. Assim, esse calor de
energia suficiente para se libertar da interação das suas vaporização, também designado por calor latente de
vizinhas e passar para a fase vapor. A vaporização será, vaporização (L), é a quantidade de calor necessária para
portanto lenta a baixa temperatura e mais rápida às a evaporação de um mol de líquido a uma dada
temperaturas elevadas. temperatura.
Por outro lado, o processo de condensação é a De maneira geral, o calor (Q) necessário para
passagem da fase vapor para a fase líquida pela evaporar uma substância pode ser obtido por:
diminuição de temperatura.
Um esquema simplificado do desbalanceamento 𝑄 = 𝑚. 𝐿
de cargas na interface líquido/vapor pode ser visto na
Figura 10.1. Onde Q é o calor, m é a massa de substância que
se deseja evaporar e L é o calor latente de vaporização.
O calor liberado na condensação da mesma
massa será equivalente, correspondendo à mesma
quantidade usada para evaporar.

Diagrama PxT para substâncias puras


Num vaso aberto as moléculas escapam da
superfície do líquido para a atmosfera. Num vaso
fechado, a situação é diferente: a vaporização do líquido
vai tendo lugar até que a certa altura, quando a pressão
no interior do vaso atinge um valor máximo, as
Figura 10.1 - Interações moleculares na interface líquido/vapor. moléculas começam a regressar à fase líquida de tal
modo que a velocidade de retorno ao líquido é igual à
Uma das propriedades que pode nos dizer em velocidade de vaporização. Quer dizer, nesta situação
que temperatura a substância entrará em ebulição numa está estabelecido um equilíbrio entre o líquido e o seu
dada pressão é a pressão de vapor (PV).

81
AULA 13
DESTILAÇÃO SIMPLES

vapor, assim, a vaporização e a condensação ocorrem à as (mesmas) duas fases de que partimos, a pressão fica
mesma velocidade. obrigada a variar de um valor determinado pelo
Note-se que o equilíbrio entre as fases, apesar de comportamento (T, P) da curva em questão; se a variação
receber este nome, não se refere a um estado estático. de pressão for diferente dessa deixará de se observar o
Mesmo no equilíbrio existe um fluxo de moléculas entre equilíbrio bifásico inicial, alcançando-se, no final, um
as fases. Porém, na mesma proporção e velocidade, ou ponto numa das regiões monofásicas adjacentes.
seja, no equilíbrio para cada molécula evaporada uma O ponto triplo TR corresponde ao equilíbrio
condensa. simultâneo de três fases (S+L+G). O ponto crítico C é o
A pressão no tal vaso fechado designa-se por ponto extremo da curva de vaporização. Uma
pressão de vapor (PV) e o seu valor é função da propriedade interessante observada no ponto crítico é
temperatura (T). Num vaso aberto para a atmosfera o que, fisicamente, à temperatura crítica, o menisco de
líquido entra em ebulição quando a pressão de vapor é separação das duas fases desaparece e as duas fases
igual à pressão ambiente (de 1 atm) que está exercida tornam-se indistinguíveis. Acima da temperatura crítica
sobre a superfície do líquido. O ponto de ebulição é e/ou da pressão crítica não pode observar-se equilíbrio
assim, o ponto especial da curva de vaporização de uma estável entre o líquido e o seu vapor. A região do
substância pura onde: T=TB e P=PV. diagrama correspondente a P>Pc e T>Tc é designada por
Na verdade a curva de vaporização é, em si região supercrítica e as substâncias nessas condições
mesma, uma sequência de pontos (T, PV) como se mostra chamam-se fluídos supercríticos.
na Figura 10.2.
DIAGRAMA DE FASES DE MISTURAS
BINÁRIAS SIMPLES
No caso de misturas, a linha de vaporização e de
condensação não são necessariamente coincidentes.
Isso porque a volatilidade dos compostos na mistura
normalmente é diferente.

VOLATILIDADE (αAB) – Se refere à facilidade da


substância de passar do estado líquido ao estado
vapor. Esta facilidade depende do referencial, por isso
sempre é relativa, levando em conta duas substâncias.

Figura 10.2 - Diagrama (T, P) de uma substância pura. A volatilidade relativa de uma substância A e
outra substância B é definida como:
As superfícies S, L e G representam,
respectivamente, as regiões de estabilidade das fases 𝑦𝐴
⁄𝑥
sólida, líquida e gasosa. SC é a região do fluído 𝛼𝐴𝐵 =𝑦 𝐴
𝐵⁄
supercrítico. O ponto triplo é TR; C é o ponto crítico; as 𝑥𝐵
coordenadas (T, P) de cada um deles estão também Onde:
indicadas. As curvas representam as linhas de equilíbrio
das fases que as limitam. A curva de TR até C é a curva de yA e yB – Frações molares de A e B, respectivamente,
vaporização da substância e define o equilíbrio na fase vapor em equilíbrio com a fase líquida.
líquido/vapor desta. xA e xB – Frações molares de A e B, respectivamente,
Ao longo da curva de vaporização, ao fazer variar na fase líquida em equilíbrio com a fase vapor.
a temperatura de uma quantidade para que
continuemos a observar equilíbrio termodinâmico entre Ou seja, a volatilidade indica a relação entre as
frações na fase vapor (y) e na fase líquida (x).

82
AULA 13
DESTILAÇÃO SIMPLES

Pelo fato desta relação normalmente ser aplicando-se a regra da alavanca no diagrama de fase.
diferente de 1, a representação geométrica do equilíbrio A regra da alavanca pode ser explicada considerando
líquido/vapor para misturas costuma ser feita em uma balança simples. A composição da liga é
diagramas pressão por composição (P, x, y) e/ou representada pelo apoio, e a composição das fases pelas
temperatura por composição (T, x, y). Na Figura 10.3 extremidades da barra. As proporções de fases presentes
apresenta-se um diagrama (T, x, y) esquemático de uma são determinadas pelos pesos necessários para
mistura binária. equilibrar a balança. O esquema ilustrado na Figura 10.4
pode facilitar a compreensão da regra da alavanca.

Figura 10.4 - Representação de uma alavanca.

Assim,
𝐶2 − 𝐶
𝑓𝑟𝑎çã𝑜 𝑑𝑎 𝑓𝑎𝑠𝑒 1 =
𝐶2 − 𝐶1
𝐶 − 𝐶1
𝑓𝑟𝑎çã𝑜 𝑑𝑎 𝑓𝑎𝑠𝑒 2 =
𝐶2 − 𝐶1

Para o sistema binário, podemos usar o mesmo


conceito. Usando o ponto (a’) do diagrama proposto
Figura 10.3 - Diagrama (T, x, y) de uma mistura binária dos anteriormente, mostrado ampliado na Figura 10.5.
componentes 1 e 2 a pressão constante.

É interessante analisar a sucessão de fenômenos


que se observam quando se faz variar a temperatura
numa mistura binária a pressão constante. De fato este
fenômeno é o que permite as separações líquido/líquido
através de destilação.
Seja o diagrama (T, x, y) de uma mistura binária
de componentes 1 e 2, ilustrado na Figura 10.3. Na figura
os pontos T1 e T2 são respectivamente as temperaturas Figura 10.5. Representação da alavanca no diagrama de misturas
binárias.
de vaporização das substâncias puras 1 (mais volátil – TB
menor) e 2 (menos volátil – TB maior) à pressão P. Logo,
Estão indicados os domínios (T, composição) das 𝑋𝑉′ − 𝑋𝑎′
regiões monofásicas (Líquido ou Gás) e bifásica %𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 = . 100
𝑋𝑉′ − 𝑋𝐿′
(Gás+Líq.). A curva [T1, V, V’, V”, T2] é a curva dos pontos 𝑋𝑎′ − 𝑋𝐿′
de orvalho (condensação da mistura). A curva [T1, L, L’, %𝑉𝑎𝑝𝑜𝑟 = . 100
𝑋𝑉′ − 𝑋𝐿′
L”, T2] é a curva dos pontos de bolha (ebulição da
mistura).
DESTILAÇÃO
Regra da Alavanca A Destilação é uma das muitas operações de
Se uma liga consiste de mais de uma fase, a separação, utilizada tanto em nível laboratorial quanto
quantidade de cada fase presente pode ser encontrada

83
AULA 13
DESTILAÇÃO SIMPLES

industrial, para purificar as correntes de processo coincidência entre as curvas de bolha e orvalho, similar
(matérias primas ou produtos). às mostradas na Figura 10.6.
A separação por destilação só é possível se os
diferentes componentes da mistura a serem separados
tiverem volatilidades diferentes, ou seja, pontos de
ebulição diferentes, o que conduz a pressões de vapor
diferentes para os vários componentes da mistura.
A operação de destilação tem muitas e variadas
aplicações a nível industrial, mas a aplicação mais
conhecida é na Indústria Petroquímica, na separação do
petróleo (crude) em frações de hidrocarbonetos com
diferentes gamas de peso molecular. Contudo, existem Figura 10.6 - Diagramas de misturas azeotrópicas.
muitos outros processos industriais que utilizam a Neste caso existe uma zona (mais ou menos
destilação, como, por exemplo, na produção de extensa) da curva em que a composição do líquido e
polímeros, nas indústrias alimentares e farmacêutica, na vapor em equilíbrio são idênticas. Este tipo de mistura
reciclagem de óleos, na indústria dos biocombustíveis, e recebe o nome de mistura azeotrópica.
até na dessalinização da água. Um azeótropo é uma mistura líquida que, para
O processo de destilação é uma operação pela uma determinada pressão, apresenta um ponto de
qual uma mistura (líquido ou vapor) é separada em duas ebulição constante que não varia com o grau de
correntes por fornecimento ou remoção de calor, ambas vaporização (tal como acontece com as substâncias
com composição diferente: uma rica nos componentes puras). Como tal, as composições do líquido e vapor em
mais leves, de menor ponto de ebulição, o destilado; e equilíbrio permanecem também constantes. Um
outra rica nos componentes mais pesados, de maior exemplo comum é o da mistura etanol/água. Esta
ponto de ebulição, o resíduo. mistura apresenta um azeótropo para a composição de
A destilação baseia-se no fato de que quando se 89.4% de etanol e 10.6% de água (percentagens molares)
processa a vaporização parcial de uma mistura à pressão atmosférica. Por isso é que o álcool etílico
(aquecendo-a até a ebulição), produz-se um vapor mais comercial que usamos em casa tem uma composição
rico nos componente de menor ponto de ebulição do que muito próxima desse valor (não se consegue produzir
a mistura inicial (alimentação), enquanto que o líquido, álcool mais puro usando apenas uma coluna de
que em cada instante ainda se mantém no recipiente, vai destilação).
ficando cada vez mais rico nos componentes menos A separação por destilação, numa só coluna, no
voláteis, de maior ponto de ebulição (mais rico nesses ponto azeotrópico, é impossível, dado que não se
componentes do que a alimentação inicial e do que o consegue aumentar mais o enriquecimento do vapor no
vapor que é produzido na mesma altura). O vapor componente mais volátil, tal como se pretende na
produzido é normalmente condensado e, assim, no destilação fracionada. Contudo, existem estratégias para
processo de destilação obtêm-se duas correntes líquidas: separar por destilação misturas azeotrópicas,
o rafinado, rico nos componentes menos voláteis, e o recorrendo a sistemas de várias colunas integradas,
condensado (destilado), rico nos componentes mais utilizando, por exemplo, a variação de pressão a que
voláteis da mistura inicial. cada coluna opera para driblar este inconveniente. Ou,
como é muito comum na indústria, também é possível
MISTURAS AZEOTRÓPICAS recorrer à separação através de extração com solvente.
De um modo geral as misturas que queremos
separar por destilação são mais complexas do que as
misturas binárias (A+B) descritas na Figura 10.3. Assim,
podemos, por exemplo, ter misturas em que o
diagrama (T, x, y) apresenta um ponto (ou região) de

84
AULA 13
DESTILAÇÃO SIMPLES

MISTURAS MULTICOMPONENTES
Normalmente, as misturas que queremos tratar
a nível industrial são misturas com muito mais de dois
componentes. Estas misturas são muito mais complexas
e o equilíbrio líquido/vapor nestes sistemas não pode ser
representado nos diagramas (T, x, y). O projeto destas
colunas requer técnicas mais elaboradas que envolvem a
utilização de programas computacionais com alguma
complexidade. É o caso, por exemplo, das operações de
destilação que ocorrem durante a refinação do petróleo
(crude).
O petróleo é uma mistura complexa de mais de
100 hidrocarbonetos e, para produzir os diferentes tipos
de combustível, com características diferentes (desde a
gasolina ao combustível de avião), é necessário sujeitar
o crude a várias operações de destilação, entre outras
operações. A operação destas colunas é mais complexa 2. Com o gráfico da mistura etanol/água, encontre o
do que o que se descreveu até aqui. ponto de alimentação e as composições de saída
É importante notar que a destilação é ainda o para:
processo de separação mais comum na indústria. • Entrada: 50% molar de etanol, 35°C;
Contudo, pela sua natureza, requer quantidades • Saída: 85°C.
enormes de energia, seja no aquecimento da coluna seja
no sistema de arrefecimento do destilado 3. Com o mesmo gráfico encontre a fração de vapor e a
(condensador). Em muitos casos chega a contribuir para fração de líquido para:
mais de 50% dos custos de operação da unidade • Entrada: 60% molar de etanol, 25°C;
industrial. Assim, a melhor forma de reduzir esses custos • Saída: 87°C.
de operação é melhorando a eficiência da coluna através
de otimização do processo e do controlo adequado das 4. Se usarmos uma alimentação composta por 30% de
unidades. etanol, diga qual serão as temperaturas de bolha e
de orvalho. O que significam estas temperaturas?

EXERCÍCIOS 5. Caso fosse desejado uma saída com 80% de etanol,


entrando com uma mistura com 10% de etanol, esta
1. Pesquise alternativas possíveis de serem usadas no saída seria viável? Por quê? Em caso afirmativo,
caso de misturas azeotrópicas para purificar os como esta saída seria obtida?
componentes além do ponto de azeotropia
6. Em que interfere a taxa com que é adicionado calor
Utilize o gráfico da mistura etanol/água para a ao sistema numa destilação?
resolução dos exercícios 2 a 5:
Utilize o gráfico da mistura benzeno/tolueno para a
resolução dos exercícios 7 e 8:

85
AULA 13
DESTILAÇÃO SIMPLES

7. Para uma entrada de 30% de benzeno, qual o ponto de


bolha da mistura? Qual o ponto de orvalho da mistura?
Caso a mistura seja aquecida até 100 °C, qual é a fração
de líquido e qual é fração de vapor?

9. Para uma entrada de 40% de benzeno, responda:

• qual é a fase em que a mistura se encontra a


90°C?
• quais as fases que a mistura se encontra a 95°C?
• quais as fases que a mistura se encontra a
100°C? Qual é a fração de líquido e qual é a
fração de vapor nessa temperatura?
• qual é a fase em que a mistura se encontra a
105°C?

86
INTRODUÇÃO
Nesta aula será abordado o estudo dos princípios
fundamentais do processo de destilação fracionada.
Inicialmente estudaremos em quais situações este
método deve ser aplicado e como opera uma coluna de
fracionamento. Em seguida, analisaremos dos principais
tipos físicos de colunas de destilação e suas aplicações.
Vale ressaltar que a destilação fracionada pode ser
considerada um dos principais motores da indústria
petrolífera, uma vez que esta operação é responsável,
por exemplo, pela separação dos componentes do
petróleo.

DESTILAÇÃO FRACIONADA Figura 11.1 - Diagrama de temperatura em função da composição a


pressão constante.

A destilação fracionada é um dos processos de O tempo e o trabalho requeridos para o


separação mais utilizados no ambiente industrial. Este fracionamento por batelada torna o processo
procedimento é realizado quando não é possível fazer contraproducente. Por isso, este método é substituído
uma separação de componentes via destilação simples, por um método contínuo, no qual se usa uma coluna de
pois eles apresentam pontos de ebulição muito fracionamento (Figura 11.2). Este equipamento é
próximos. O procedimento é realizado através de uma constituído por seções ou pratos onde ocorrem as
coluna de fracionamento que cria várias regiões de microdestilações, ou seja, é como se fosse a junção de
equilíbrio líquido-vapor, acarretando uma série de várias destiladoras simples sucessivas.
microdestilações sucessivas, tornando, assim, possível o
enriquecimento da parte vaporizada com as substâncias Mecânica da coluna de fracionamento
mais voláteis. A coluna é aquecida em sua parte inferior e ao
Suponha que, durante um processo de longo de todo o equipamento forma-se um gradiente de
destilação, a temperatura de uma mistura binária M seja temperatura decrescente da base ao topo. Suponha que
elevada até que parte do material esteja presente como a temperatura no topo da coluna seja T7 e o vapor
vapor e a outra como líquido (Figura 11.1). A composição recolhido nesta região esteja em equilíbrio com o líquido
do vapor é v e a do líquido é L. O vapor é removido e existente no prato número 7 (Figura 11.2). As
condensado, formando um destilado D que, por sua vez, composições do líquido e do vapor nesta região podem
é aquecido até que determinada quantidade evapore. A ser identificadas na Figura 11.1 por L’’’ e v’’’. No prato
composição do vapor é v’ e a do líquido é L’. O vapor é seguinte, número 6, a temperatura é T6, ligeiramente
removido e condensado; obtemos um destilado D’ que superior à T7. Nesta região a composição do líquido e
também é aquecido até que metade evapore. As vapor pode ser representada por L’’ e v’’. Isto se repete
composições do vapor (v’’) e do líquido (L’’) estão por todos os pratos da coluna. O vapor sobe pelo
indicadas no diagrama da Figura 11.1. Esse equipamento e vai resfriando; devido a esse
procedimento é repetido até a obtenção de um destilado resfriamento o componente menos volátil condensa
quase puro do líquido mais volátil e um resíduo preferencialmente e, com isso, o vapor se torna cada vez
constituído do líquido menos volátil quase puro. mais rico no componente mais volátil enquanto sobe
pela coluna.

87
Quando os componentes individuais têm pontos
de ebulição muito afastados, basta uma coluna com
7 poucos pratos teóricos para separar os componentes da
mistura. Por outro lado, se os pontos de ebulição são
6
muito próximos, é necessária uma coluna com grande
5
número de pratos teóricos.

3
OPERAÇÃO DA COLUNA DE
FRACIONAMENTO
2

Como dito anteriormente, uma coluna de


1
destilação fracionada é constituída por um recipiente
cilíndrico dentro do qual se encontram pratos internos
nos quais circulam vapor e líquido em contracorrente. As
duas fases presentes em cada andar sofrem
transferência de massa e calor e assume-se que se
Figura 11.2 - Coluna de fracionamento. DRS.
encontram em equilíbrio ao deixarem cada estágio.
A ascensão do vapor e a queda do líquido pelo A mistura a ser destilada é introduzida na coluna
equipamento levam a uma redistribuição dos dois através ponto de alimentação (Figura 11.3). No seu
componentes entre as duas fases, líquido e vapor, para interior, a mistura descenderá até atingir a base da
estabelecer o equilíbrio em cada posição (temperatura) coluna onde será aquecida através de um refervedor.
da coluna. Essa redistribuição deve ser rápida para que Este dispositivo é um trocador de calor que aquece a
exista, de fato, o equilíbrio em qualquer posição. A fim mistura até atingir sua temperatura de ebulição. Neste
de garantir o contato eficiente entre o líquido e o vapor, ponto, a mistura emitirá vapores que se moverão em
a coluna de destilação pode apresentar diversas sentido ascendente através da coluna, em
variantes físicas, como recheios e pratos perfurados. contracorrente com a mistura da alimentação. Ao longo
É interessante notar que se certa parte da coluna do percurso na torre parte do vapor é condensado até
é mantida a uma temperatura particular, no equilíbrio, a atingir o topo. Nesta região ele é direcionado a um
composição do líquido e do vapor possuem valores condensador onde sofre liquefação. Na base do
correspondentes àquela temperatura. Como o sistema equipamento, a mistura, isenta de componentes mais
encontra-se a pressão constante, consequentemente, voláteis, deixa a coluna como produto residual. Para
fixando-se a temperatura em cada posição da coluna, otimizar a separação das frações desejadas, realiza-se o
fixa-se também a composição do vapor e do líquido no retorno de parte do destilado na forma de refluxo. Isto
equilíbrio em cada ponto da destiladora. enriquece o topo da coluna com produtos mais voláteis,
Na prática, o equilíbrio não se estabelece em melhorando a pureza do produto destilado.
cada estágio da coluna, pois em qualquer posição o
vapor tem composição em equilíbrio com o líquido de
posição ligeiramente inferior. Se a distância entre estas
duas posições é H, diz-se que a altura H corresponde a
um prato teórico. O número de pratos teóricos da coluna
depende da sua geometria, do tipo de arranjo do
material de enchimento, da maneira pela qual é operada
a coluna, da pureza desejada do produto de interesse,
etc. Vale ressaltar que o número de pratos de operação
deve ser determinado experimentalmente com base no
número teórico.

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V1
Condensador

Refluxo Destilado

Alimentação

V2

L
Resíduo Figura 11.4 - Razão de refluxo x nº de estágios teóricos.
Revaporizador

Em um primeiro momento poder-se-ia pensar


Figura 11.3 - Esquema de uma coluna de destilação fracionada. em usar uma razão de refluxo muito alta para projetar a
coluna, já que isso diminuiria o número de pratos
teóricos tornando mais barata a construção do
equipamento. Porém, quanto mais alta a razão de
Razão de refluxo refluxo, mais do nosso destilado está voltando para a
A razão de refluxo (RR) de uma destiladora é coluna, ou seja, a nossa produção da corrente destilada
razão entre a corrente de refluxo e a corrente de rica nos componentes mais voláteis seria pequena. Logo,
destilado que sai como produto da coluna (equação 01). essa alternativa é inviável.
Este fator influencia diretamente o projeto do O que se faz na prática é adotar uma razão de
equipamento. Como dito anteriormente, a corrente de refluxo ótima, que é função dos custos de construção da
refluxo tem como objetivo enriquecer o topo da coluna coluna e dos custos da manutenção e operação dela.
com os elementos mais voláteis a fim de garantir a
eficiência do processo. Dessa forma, quanto maior a
razão de refluxo, menor o número de estágios que a TIPOS DE TORRES DE DESTILAÇÃO
coluna deve apresentar. O gráfico da Figura 11.4 mostra
a relação entre a razão de refluxo e número de estágios No interior da coluna há a necessidade de
da coluna. garantir o contato perfeito entre o líquido e o vapor.
Além disso, a altura da torre deve ser adequada ao tipo
𝑅𝑒𝑓𝑙𝑢𝑥𝑜
𝑅𝑅 = (01) de separação desejada. Em algumas situações, a torre
𝐷𝑒𝑠𝑡𝑖𝑙𝑎𝑑𝑜 não pode apresentar grandes alturas devido as
condições climáticas da região em que se encontra e ao
alto custo de construção e manutenção. O grau de
separação desejado vai indicar a altura que a coluna deve
apresentar.
Existem três tipos convencionais de torres de
destilação: colunas com pratos e borbulhadores, colunas
com pratos perfurados e colunas com recheios. Todas
funcionam com o mesmo princípio, ou seja, promover o
contato de forma mais perfeita possível entre as fases
líquida e vapor.

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Colunas com pratos e borbulhadores
Colunas com pratos e borbulhadores, também
denominados bandejas, são as mais usuais na indústria.
Torres deste tipo apresentam pratos ou bandejas
superpostas que variam em número e detalhes
conforme a mistura que se deseja separar. Os pratos são
constituídos por borbulhadores, tubos de ascensão e
tubos de retorno (Figura 11.5).
Figure 11.6 - Escoamento de líquido através dos prastos.

Coluna com pratos perfurados


Neste tipo de coluna os pratos com
borbulhadores são substituídos por pratos dotados de
perfurações, cujo diâmetro varia entre 0,8 e 3 mm. O
funcionamento é idêntico as colunas que funcionam com
pratos com borbulhadores (Figura 11.7).

Figure 11.5 - Coluna de bandejas.

Os borbulhadores são fixados sobre os tubos de


ascensão de vapor. O tubo de retorno tem como
finalidade promover a volta, prato a prato, do excedente
de condensado. Dessa forma, há sobre cada bandeja um
nível constante de líquido regulado pela altura do tubo
de retorno, que deve corresponder ao nível do topo dos
borbulhadores. Estes, por sua vez, são dispostos de tal Figure 11.7 - Coluna com pratos perfurados.
forma que fiquem na mesma altura do início do tubo de
retorno de líquido, a fim de que se tenha uma ligeira Colunas de recheio
imersão na camada líquida. Os vapores devem circular Nas colunas de recheio os pratos ou badejas são
em contracorrente com o líquido passando pelos tubos substituídos por corpos sólidos com formato definido.
de ascensão, borbulhando através das ranhuras dos Estes corpos, denominados recheios, podem apresentar
borbulhadores a fim de aumentar o contato entre as diversas formas como tipo Raching, Pall, Lessing, ou
fases. A Figura 11.6 ilustra o líquido escorrendo através ainda selas do tipo Berl, Intalox e outros (Figura 11.8). A
do equipamento. forma do recheio depende do tipo de mistura alimentada
na coluna, do grau de separação desejado, entre outros
fatores.

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coluna. Devido a isto, as torres de destilação a vácuo são
construídas com um diâmetro muito maior que as torres
de destilação atmosférica, pois como suas pressões são
muito baixas, provocam vazões muitos elevadas.

Pulsação
Este fenômeno ocorre quando a vazão de vapor,
que ascende de um prato para o outro, não tem pressão
suficiente para vencer continuamente a perda de carga
apresentada pelas bandejas. Com isso, o vapor cessa
temporariamente sua passagem e, quando sua pressão
Figure 11.8 - Recheios de colunas de destilação. restabelece, vence a perda de carga no prato de forma
brusca gerando pulsações no interior do sistema.
Os recheios, além de serem molháveis e
resistente à tensão e a altas temperaturas, devem Vazamento de líquido
apresentar elevada resistência à corrosão, razão pela É o fenômeno de passagem de líquido da
qual são, geralmente, de cerâmica ou de aço inoxidável. bandeja superior para a inferior através dos orifícios de
Dependendo da temperatura do processo também transporte ascendente de passagem de vapor. Isto
podem ser utilizados plásticos de alta resistência ocorre quando a vazão de vapor é baixa e a vazão de
mecânica. Para que os recheios não sofram compactação líquido é excessivamente alta.
devido ao peso que a estrutura possa apresentar eles são
fixados na coluna sobre suportes de sustentação. Inundação (via downcomer)
As torres com recheios apresentam algumas A inundação ocorre quando o nível de líquido do
vantagens em relação às torres com pratos, tais como: tubo de retorno de um prato atinge o prato superior. Isto
ocorre quando a vazão de líquido é muito alta e o tubo
• O projeto da coluna torna-se economicamente mais de retorno não consegue conter o fluido.
competitivo devido ao baixo custo de construção.
• A maioria dos recheios apresenta reduzida perda de Inundação
carga. Esse tipo de inundação ocorre quando a vazão de
• Os recheios não estão sujeitos à formação de vapor é muito elevada e a de líquido é muito baixa,
espuma, as quais prejudicam a troca de massa e ocasionando o arraste de líquido para pratos superiores.
calor.

EXERCÍCIOS
PROBELMAS QUE PODEM OCORRER EM
COLUNAS DE DESTILAÇÃO 1. Explique em que ocasião é utilizada a destilação
fracionada exemplificando com um exemplo
Arraste industrial. A seguir indique a relação entre o número
O arraste é o transporte, efetuado pelo vapor, de de estágios de uma coluna de fracionamento com o
gotículas de líquido do prato inferior para os pratos diagrama de temperatura em função da composição
superiores. A quantidade de líquido arrastado depende a pressão constante.
da velocidade do vapor ao longo da torre. Nessa ocasião, 2. Explique porque o gradiente de temperatura em
o líquido do prato inferior contamina o líquido do prato uma coluna de destilação fracionada é decrescente
superior com compostos pesados (menos voláteis), da base ao topo?
prejudicando o fracionamento ao longo do 3. Por que durante a operação de uma coluna de
equipamento. O arraste pode ser provocado pelo fracionamento deve-se fazer o refluxo de parte do
aumento da vazão volumétrica do vapor que ocorre destilado?
devido a elevação da pressão em alguma região da

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4. Mostre através de um gráfico a relação entre a razão
de refluxo e número de estágios de uma coluna de
destilação e explique o motivo sobre o qual esta
relação está baseada.
5. Qual a função dos borbulhadores em uma coluna
com pratos e borbulhadores? Qual a diferença entre
a coluna com borbulhadores e a coluna com pratos
perfurados?
6. Quais características gerais que um recheio deve
apresentar para ser viável sua utilização? Além disso,
indique as principais vantagens no emprego destas
estruturas no processo de destilação.
7. O que provoca o arraste em colunas de destilação?
Que medidas podem ser tomadas para evitar este
problema?
8. O aumento da razão de refluxo adotada na
destilação pode provocar a inundação do
equipamento? Além disso, explique porque o
vazamento de líquido através das bandejas prejudica
a eficiência de uma destiladora?
9. Esboce o esquema de uma coluna de destilação
fracionada indicando os pratos, o refervedor e o
condensador. Explique o que acontece em cada
prato com base na teoria de equilíbrio líquido-vapor
e, além disso, fale sobre a função dos trocadores de
calor citados.

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