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PARA TÉCNICOS EM
PETRÓLEO
OPERAÇÕES UNITÁRIAS PARA TÉCNICOS EM
PETRÓLEO
ORGANIZAÇÃO:
Alberto Tadeu Martins Cardoso
AUTORIA:
Diego Rafael Santos
Guilherme Vaz da Silva
João Augusto Cruz
Kimberly Pasqualin
COLABORAÇÃO:
Giselle Munhoz Alves
Guilherme Vaz da Silva
Isabel Romero Grova Wutkiewicz
REVISÃO E ATUALIZAÇÃO:
Alexandre Soloviev
André Henrique da Rocha Moreira
Andréia Tavares Espenchitt
Annelorie Mattar Knesebeck
Bruna Ricetti Margarida
Daniel Biacchi Pereira
Frederico Augusto Schmidlin
Gabriel Souza Bonaroski
Isadora Caroline Sebben
Lais Caroline Hatsumi Tamada
Leticia Gonçalves
Luis Felipe Mendes Bússola
Luiza Pivatto
Luana Izidio Flores
Mariana Marques da Cunha
Mateus Oltramari Toledo
Thales Schmitt Kovara
Yuri Farion
CURITIBA
2020
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GLOSSÁRIO
𝜶𝑨𝑩 Volatilidade relativa
𝒙 Fração molar
densidade
𝒙 Fração molar líquidos
viscosidade 𝒚 Fração molar gases
𝝂𝒊 Coeficiente estequiométrico da espécie química 𝑖 𝒀(𝑷/𝑨) Rendimento do produto desejado 𝑃
𝚫 Variação com relação ao reagente 𝐴
D diâmetro 𝒁 altura (cota)
𝒇𝒊 Fração de conversão da espécie química 𝑖
g aceleração da gravidade
g fase gasosa (gás)
𝑯 Entalpia
𝑯 head da bomba
𝑳 Calor latente de vaporização
𝒍 fase líquida (líquido)
𝒍𝒘 perda de carga
𝑴 𝒐𝒖 𝒎 Massa
𝒎̇ Vazão mássica
𝒏𝒊 número de mols da espécie química 𝑖
𝒏̇ 𝒊 Vazão molar da espécie química 𝑖
𝑷 Pressão
PV ou 𝑷𝒔𝒂𝒕 Pressão de vapor
𝑸 Calor
𝑸̇ vazão volumétrica
Re Númeo de Reynolds
s fase sólida (sólido)
𝑺(𝑷/𝑽) Seletividade do produto desejado 𝑃 com relação ao indesejado 𝑉
𝑻 Temperatura
𝑻𝑹 ponto triplo
𝒕 Tempo
𝒗 velocidade
V volume
𝒘 Fração mássica
𝑾 Trabalho
3
SUMÁRIO
AULA 1: Introdução às operações unitárias................................................................................................5
AULA 5: Fluidos.....................................................................................................................................................26
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AULA 1
INTRODUÇÃO ÀS OPERAÇÕES UNITÁRIAS
5
AULA 1
INTRODUÇÃO ÀS OPERAÇÕES UNITÁRIAS
𝑚𝑜𝑙 𝑑𝑒 𝐴
CONVERSÃO DE FRAÇÃO MÁSSICA 𝑥 = 0,111
𝑚𝑜𝑙 𝑑𝑒 𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜
PARA MOLAR
5 𝑚𝑜𝑙 𝑚𝑜𝑙 𝑑𝑒 𝐵
Definições 𝑥 = = 0,556
1 𝑚𝑜𝑙 + 5 𝑚𝑜𝑙 + 3 𝑚𝑜𝑙 𝑚𝑜𝑙 𝑑𝑒 𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜
Fração mássica (𝑤 ):
Considerando uma espécie 𝑖 em uma solução 3 𝑚𝑜𝑙 𝑚𝑜𝑙 𝑑𝑒 𝐶
com mais de uma componente, a fração mássica de 𝑖 𝑥 = = 0,333
1 𝑚𝑜𝑙 + 5 𝑚𝑜𝑙 + 3 𝑚𝑜𝑙 𝑚𝑜𝑙 𝑑𝑒 𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜
nesta solução é definida como:
A solução é composta por 11,1% de A, 55,6% de
𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑑𝑒 𝒊 B e 33,3% de C, em base molar.
𝑤 =
𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑎 𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜
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AULA 1
INTRODUÇÃO ÀS OPERAÇÕES UNITÁRIAS
Conversão de fração mássica para molar Tabela 1.2 - Composição da solução do Exemplo 3.
Tendo a fração mássica de uma solução, é Número de Fração
Espécies Massa (g)
possível descobrir sua composição molar. Para isso, mols (mol) molar
serão necessárias duas informações: a massa molar de A 20 0,40 0,111
cada uma das espécies (ou seja, a massa equivalente a B 30 0,75 0,208
um mol da espécie) e definir uma base de cálculo (em C 45 2,25 0,625
massa, neste caso). D 5 0,20 0,056
A base de cálculo nada mais do que uma Total 100 3,60 1,000
amostra da solução em estudo, podendo ser de qualquer
tamanho.
O processo de conversão de fração mássica para Conversão de fração molar para mássica
fração molar é mostrado no Exemplo 3. A conversão de fração molar para fração mássica
segue um procedimento semelhante. Porém, para este
Exemplo 3. Uma solução tem a sua composição descrita caso, a base de cálculo será em número de mols.
na Tabela 1.1. Calcule sua composição molar. O processo de conversão de fração molar para
fração mássica é mostrado no Exemplo 4.
Tabela 1.1 – Dados do Exemplo 3.
Massa molar Exemplo 4. Uma solução tem a sua composição descrita
Espécies Fração mássica
(g/mol) na Tabela 1.3. Calcule sua composição mássica.
A 0,20 50
B 0,30 40 Tabela 1.3 - Dados do Exemplo 4.
C 0,45 20 Massa molar
Espécies Fração molar
D 0,05 25 (g/mol)
Total 1,00 A 0,05 60
B 0,50 35
Base de cálculo: 𝑚 = 100 𝑔 C 0,30 42
D 0,15 24
Massa de cada componente: Total 1,00
𝑚
𝑤 = → 𝑚 = 𝑤 .𝑚
𝑚 Base de cálculo: 𝑛 = 100 𝑚𝑜𝑙
Para A: Número de mols:
𝑚 = 0,20.100 𝑔 = 20 𝑔 𝑛
𝑥 = → 𝑛 = 𝑥 .𝑛
𝑛
Número de mols: Para A:
𝑚 𝑤𝑚 𝑛 = 0,05.100 𝑚𝑜𝑙 = 5 𝑚𝑜𝑙
𝑛 = =
𝑀𝑀 𝑀𝑀
Para A: Massa de cada componente:
20 𝑔
𝑛 = = 0,40 𝑚𝑜𝑙 𝑚
50 𝑔⁄𝑚𝑜𝑙 𝑤 = → 𝑚 = 𝑤 .𝑚
𝑚
Fração molar de cada componente: Para A:
𝑛 𝑚 = 5 𝑚𝑜𝑙. 60 𝑔⁄𝑚𝑜𝑙 = 300 𝑔
𝑥 =
𝑛
Para A:
0,40 𝑚𝑜𝑙 𝑚𝑜𝑙 𝑑𝑒 𝐴 Fração mássica de cada componente:
𝑥 = = 0,111
3,60 𝑚𝑜𝑙 𝑚𝑜𝑙 𝑑𝑒 𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜 𝑚
𝑤 =
𝑚
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AULA 1
INTRODUÇÃO ÀS OPERAÇÕES UNITÁRIAS
Para A:
300 𝑔 𝑔 𝑑𝑒 𝐴
𝑤 = = 0,082
3670 𝑔 𝑔 𝑑𝑒 𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜
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AULA 1
INTRODUÇÃO ÀS OPERAÇÕES UNITÁRIAS
tubulação para pé (feet-ft) e polegadas (inch-in). Dadas METROS (m) FEET (ft) POLEGADAS (“)
A 6,2 20,34 244,09
as medidas das suas tubulações, faça as devidas
B 7,5
conversões:
C 8,6
D 1,4
9
AULA 1
INTRODUÇÃO ÀS OPERAÇÕES UNITÁRIAS
10
AULA 1
INTRODUÇÃO ÀS OPERAÇÕES UNITÁRIAS
5. a) R: 5,08 cm
b) R: 5.106 m²
c) R: 0,069 m3
d) R: 0,276 t
e) R: 1,148.106 mmHg
f) R: 5.10-6 N
g) R: 44,74 kW
8. R: 0,06 ou 6%
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AULAS 2 e 3
BALANÇO DE MASSA
Nesta aula serão explorados conceitos Ao equacionar os fluxos do sistema aberto tem-
fundamentais do balanço de massa e a sua aplicação em se a equação da conservação da massa:
diferentes unidades.
𝐸𝑛𝑡𝑟𝑎 = 𝐴𝑐ú𝑚𝑢𝑙𝑜 + 𝑆𝑎𝑖
12
AULAS 2 e 3
BALANÇO DE MASSA
Figura 2.4 - Esquema referente ao Exemplo 2. PASQUALIN, K. Figura 2.5 - Esquema referente ao Exemplo 3. PASQUALIN, K.
Como não há acúmulo, nem reação química, a Primeiramente, é preciso calcular a vazão
soma das vazões molares de entrada é igual à vazão de mássica de cada composto na alimentação a partir da
saída do tanque de mistura. Portanto: definição de fração mássica:
𝑛̇ + 𝑛̇ + 𝑛̇ = 𝑛̇ çã
13
AULAS 2 e 3
BALANÇO DE MASSA
14
AULAS 2 e 3
BALANÇO DE MASSA
𝑛̇ − 0 = 12,5 − 0
Figura 2.6 – Esquema referente ao Exemplo 4. PEREIRA, D. 𝑛̇ = 12,5 𝐾𝑚𝑜𝑙/ℎ
Primeiramente, como há uma reação, devemos Com isso, é possível montar uma tabela para
transformar a massa de carvão formada para base molar. facilitar o raciocínio e, de acordo com a estequiometria
da reação, podemos preenchê-la:
𝑚̇
𝑛̇ =
𝑀𝑀 Tabela 2.1 - Composição da solução do Exemplo 4.
𝒏̇ 𝒆𝒏𝒕𝒓𝒂 𝒏̇ 𝒄𝒐𝒏𝒔𝒖𝒎𝒊𝒅𝒐 𝒏̇ 𝒈𝒆𝒓𝒂𝒅𝒐 𝒏̇ 𝒔𝒂𝒊
Sabendo que a massa molar do carbono é 12 (Kmol/h) (Kmol/h) (Kmol/h) (Kmol/h)
g/mol, e que do enunciado do exercício a vazão mássica C 12,5 12,5 0 0
do carbono é de 150 kg/h: O2 12,5 12,5 0 0
CO2 0 0 12,5 12,5
𝑘𝑔
150
ℎ = 12,5 𝑘𝑚𝑜𝑙
𝑛̇ =
𝑘𝑔 Conclui-se, então, que serão formados na
ℎ
12 caldeira 12,5 kmol/h de 𝐶𝑂 . Entretanto, o problema
𝑘𝑚𝑜𝑙
pede a quantidade mássica diária. Sabendo que a massa
Como não há acúmulo no sistema, podemos molar do 𝐶𝑂 é 44 g/mol, convertemos:
escrever:
𝑘𝑚𝑜𝑙 44𝑘𝑔 24ℎ 𝑘𝑔
𝑛̇ − 𝑛̇ = 𝑛̇ − 𝑛̇ 12,5 ∗ ∗ = 13200
ℎ 𝑘𝑚𝑜𝑙 1 𝑑𝑖𝑎 𝑑𝑖𝑎
Para o carbono: entra = 12,5 Kmol/h, não tem carbono Como visto o balanço molar não fechou, já que a
gerado nesta reação e todo carbono alimentado na caldeira foi alimentada com 25 kmol/h de reagentes
caldeira foi consumido (não sobre carbono sem reagir), (12,5 kmol/h de cada um deles) e na saída foi obtido 12,5
portanto: kmol/h de produto. Mas vamos conferir agora o que
ocorre com a massa total do sistema. Para a entrada,
𝑛̇ − 12,5 = 0 − 12,5 temos:
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AULAS 2 e 3
BALANÇO DE MASSA
16
AULAS 2 e 3
BALANÇO DE MASSA
GABARITO
1. R: O balanço de massa é baseado no princípio da
conservação da massa de Lavoisier. Basicamente
toda a massa que passa por uma operação se
conserva ao longo dela, portanto ao fazer o saldo
subtraindo as vazões de saídas das vazões de
entrada do sistema estudado, deve resultar em um
acúmulo de massa dentro do sistema.
17
AULA 4
SISTEMA DE REATORES
INTRODUÇÃO torna-se impossível conhecer a natureza de todas as
etapas. Mas, o conhecimento de algumas etapas pode
Na grande maioria das indústrias químicas, o simplificar consideravelmente o problema da
reator é o sistema responsável por desempenhar o compreensão das características da reação total.
processo de reação, que geralmente é a peça fundamental Para que seja possível identificar com que grau
da planta. Assim, evidencia-se a importância do uma reação química ocorre, isto é, se os produtos estão
conhecimento detalhado do sistema reacional com o qual presentes em quantidades significativas ou não, utiliza-se
se trabalha. Para realizar o projeto do reator é preciso uma variável denominada extensão, também conhecida
analisar as características da reação: mecanismo e a como grau de avanço (𝜉 ). Podemos definí-la, de forma
extensão da reação. Na indústria de petróleo alguns expositiva, como a variação molar de uma dada espécie
sistemas são extremamente importantes para a com relação ao seu coeficiente estequiométrico:
manufatura do petróleo bruto, podendo-se citar como
exemplo os processos de: coqueamento retardado, 𝑛 −𝑛 ,
𝜉=
craqueamento catalítico fluidizado, hidrocraqueamento, 𝜈
hidrotratamento, reforma catalítica, isomerização e
alquilação. Onde: 𝑛 é o número de mols a espécie química 𝑖 ao final
da reação, 𝑛 , é o número de mols no início da reação, e
CONCEITOS DE REAÇÃO QUÍMICA 𝜈 é o coeficiente estequiométrico do composto analisado
(o número que utilizamos antes de cada espécie na
Se reação química for considerada como uma equação química). Este último deve ter sinal positivo para
transformação que forma ou quebra ligações entre produtos e sinal negativo para reagentes, a fim de que o
átomos, então, quase todas as transformações que se grau de avanço seja sempre positivo.
observa envolvem reações químicas. Naturalmente, Muito embora a extensão de reação possa ser
algumas poucas espécies de reações podem envolver calculada em relação a qualquer composto que participa da
somente modificações dentro dos átomos e não a reação, ela sempre será a mesma para uma mesma reação,
formação ou ruptura das ligações entre átomos. Mas se independente de qual composto seja adotado para o
não for considerado esse tipo de processo envolvendo cálculo (qualquer um dos reagentes ou qualquer um dos
somente os próprios átomos, ficaremos com a maioria das produtos).
transformações, ou seja, as transformações químicas. Essa grandeza possui grande aplicação na
A simplificação da questão da ocorrência das realização dos balanços de massa com reação química, mas
reações é conseguida se for considerado dois aspectos de por uma questão de tempo não entraremos nesse mérito
transformação: o mecanismo pelo qual a transformação aqui em nosso curso. Vamos, na prática, utilizar outras
ocorre e a extensão da transformação. grandezas úteis, e de melhor compreensão, que permitem
quantificar com que extensão uma reação se processa. São
Mecanismo de Reação e Extensão elas: a fração de conversão, o rendimento e a seletividade.
O mecanismo da reação refere-se à etapa ou série
de etapas através das quais os reagentes iniciais interagem Cinética Química e Termodinâmica –
no processo de formação dos produtos. Ele descreve, Velocidade e Equilíbrio
quimicamente e em escala molecular, qual o caminho que Primeiramente, devemos discutir o que são
a reação toma em determinadas condições de processo reações reversíveis e irreversíveis.
específicas. As moléculas dos reagentes colidirão
Cada etapa no mecanismo exige o êxito completo continuamente de maneira aleatória. Quando uma colisão
de todas as etapas anteriores antes que possa ocorrer, tem uma orientação apropriada e envolve uma energia de
sendo que o efeito total ou o resultado líquido é a soma ativação suficiente, as ligações químicas podem se
dos efeitos de cada etapa. Cada etapa é, por si só, uma reajustar para formar uma molécula intermediária.
reação – que denominamos reação elementar. Assim, cada Posteriores reajustes de ligação deixam que a molécula
etapa num mecanismo é ordinariamente mais fácil de ser intermediária forme o produto desejado.
compreendida do que o total da reação. Algumas vezes
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AULA 4
SISTEMA DE REATORES
Mas as moléculas do produto serão também adicionadas aumentarão, e isto concorrerá para diminuir a
colidem casualmente com as moléculas reagentes e com concentração das espécies adicionadas, bem como, a
outras moléculas de produtos. Se essa colisão acontecer concentração de todas as outras espécies com as quais ela
em uma orientação favorável e com suficiente energia, reage. O aumento das velocidades destas reações
parece que não haverá nenhuma razão que impeça a concorrerá para aumentar as concentrações dos produtos
reformulação da molécula intermediária, a qual poderá se da reação. Mas, como as concentrações destes produtos se
decompor nos reagentes iniciais. Se isso acontecer a reação elevam, elas concorrerão para reagir mais rapidamente.
ocorre no sentido inverso da original, sendo chamada de Consequentemente, um novo estado de equilíbrio será
uma reação reversível. alcançado. O efeito quantitativo de adicionar ou remover
O conceito de reversibilidade das reações químicas ingredientes pode ser calculado a partir do conhecimento
conduz a algumas conclusões interessantes relativas ao da estequiometria, ou relação molar, das reações com o
estado que uma reação química poderá atingir em certo auxilio da expressão da constante de equilíbrio.
tempo. Quando as moléculas dos reagentes se chocam
com certa orientação e com suficiente energia de ativação, Velocidade, Equilíbrio e Temperatura
os produtos podem ser formados. Inicialmente poucas O estado de equilíbrio é determinado pelo fato que
moléculas dos produtos são formadas, mas a sua as velocidades de todas as reações que se opõem devem
concentração aumenta com o tempo. Quanto maior for a ser idênticas. A mudança na temperatura pode também
concentração de produtos presente na mistura, maior afetar as velocidades das reações e, assim, afetar o estado
possibilidade destas se chocarem com os reagentes e, de equilíbrio.
portanto, maior a probabilidade dessas retornarem aos O efeito da temperatura na velocidade da reação
compostos iniciais. Por outro lado, a possibilidade de que (cinética) está atrelado à energia de ativação da reação. Em
as moléculas dos reagentes encontrarem outras moléculas geral, tal efeito é contabilizado através da chamada
de reagente diminuirá. Assim, a velocidade de formação equação de Arrhenius – ela relaciona a temperatura, a
dos produtos diminuirá com o tempo enquanto a energia de ativação e a constante de velocidade, que pode
velocidade de retorno aos produtos aumentará. nos indicar quão rápida uma reação se processa.
A um dado valor das concentrações, a velocidade Por outro lado, a própria termodinâmica nos diz
das colisões eficazes entre os reagentes deverá ter caído quais as relações entre equilíbrio e temperatura. Lembre-
até igualar a velocidade crescente na qual o produto reage se que nos casos em que a variação de entalpia de uma
consigo mesmo. Quando as velocidades destas duas reação é negativa, dizemos que a reação é exotérmica;
reações – a reação direta e a inversa – tornam-se iguais, caso contrário, podemos classificá-la como endotérmica.
nenhuma mudança no total ocorrerá. Assim, todas as Reações endotérmicas necessitam de calor para ocorrer,
concentrações tornam-se constantes em função do tempo de modo que um aumento de temperatura favorece sua
(mas não necessariamente estas concentrações são iguais). ocorrência. Portanto, ao elevar a temperatura de um
Então, o sistema atingiu o equilíbrio. Mas, desde que todas sistema que se encontra no estado de equilíbrio, ocorrerá
as reações estão ainda ocorrendo, o sistema é considerado uma mudança no sentido endotérmico.
como estando em equilíbrio dinâmico. Desta maneira, chega-se a conclusão que o estado
de equilíbrio depende da variação total de energia na
Velocidade, Equilíbrio e Concentração reação – a conhecida variação de entalpia reacional, mas
O princípio de Le Chatelier nos diz que quando se que a velocidade só depende da energia de ativação.
exerce uma ação contra um sistema em equilíbrio de modo
a perturbar esse equlíbrio, o sistema deverá reagir contra Catalisadores e o Estado de Equilíbrio
essa ação de modo a reestabelecer o equilíbrio. Nesse Experimentalmente os catalisadores nunca afetam
contexto, sabemos que mudando a concentração de o estado de equilíbrio. Um catalisador diminuirá o tempo
qualquer uma das espécies que está reagindo haverá necessário para atingir o equilíbrio, mas não afetará as
perturbação no equilíbrio dinâmico. As reações concentrações presentes no equilíbrio.
envolvendo espécies cuja sua concentração é aumentada O catalisador fornece um novo mecanismo (uma
com o tempo se tornarão mais prováveis. Assim, as nova rota) para a reação, mas não muda o total da energia
velocidades das reações envolvendo as espécies necessária visto que o estado inicial e final são inalterados
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AULA 4
SISTEMA DE REATORES
pelo catalisador. O catalisador, usualmente, muda a TIPOS DE REATORES E REAÇÕES
velocidade diminuindo a energia de ativação requerida,
mas a mudança na energia de ativação não tem efeito Dentro do estudo de reações pode-se classificar
sobre o estado de equilíbrio e, portanto, o catalisador uma reação como homogênea ou heterogênea.
também não. Reações homogêneas são aquelas que a reação
Visto que o catalisador não tem efeito sobre o ocorre no interior de uma fase e reações heterogêneas são
estado de equilíbrio, mas que aumenta a velocidade da aquelas que ocorrem na interface entre fases.
reação direta, segue que o catalisador aumentará também Dentro das reações heterogêneas incluem-se as
a velocidade da reação inversa de um fator exatamente reações catalíticas gás-sólido (obtenção de gasolina através
igual àquele que aumenta a velocidade da reação direta. do craqueamento catalítico), reações não-catalíticas gás-
Isto implicará que apenas no fato de que o equilíbrio sólido (queima do carvão), reações líquido-sólido (corrosão
dinâmico será alcançado mais rapidamente, mas que esse de um metal por um ácido), reações líquido-líquido
estado final será ó mesmo. (produção de biodiesel) e reações sólido-sólido (produção
de cimento)
Mudança do Equilíbrio e Pressão Os reatores também são classificados como
A pressão, assim como a temperatura, também homogêneos e heterogêneos. Para um reator ser
afeta o estado de equilíbrio. Esta variável de processo irá considerado heterogêneo este conter duas ou três fases,
interferir de diferentes maneiras em diferentes sistemas. podendo ter as seguintes combinações de fases: gás-
líquido, gás-sólido, líquido-sólido, líquido-líquido e gás-
Vamos analisar, por exemplo, a síntese de amônia:
líquido-sólido. Muitas vezes o sólido é um catalisador. Já os
3𝐻 ( ) + 𝑁 ( ) ⇌ 2NH ( ) reatores homogêneos são constituídos por apenas uma
fase, que geralmente é líquida ou gasosa.
Esta reação ocorre em fase gasosa e a altas Como já comentado, o reator é considerado o
pressões e temperaturas. Analisando a estequiometria, coração de um processo industrial. É o equipamento que
tem-se que três mols de H2 reagem com 1 mol de N2 proporciona a transformação dos reagentes em produtos.
formando dois mols (NH3). Assim, como estamos Os três principais tipos de reatores ideais são:
trabalhando com um sistema gasoso, ao aumentar a Os dois reatores tanque-agitado (reator de mistura), do
pressão o sistema tenderá a diminuir o seu volume, visto inglês stirred tank reactor (batelada BSTR ou contínuo
que as moléculas estarão cada vez mais próximas. Para CSTR) e o reator tubular de fluxo pistonado (PFR, plug flow
isso, o sistema tenderá a formar amônia, já que a formação reactor).
da amônia diminui o volume do sistema. Isso porque no No reator do tipo batelada os reagentes são
lado dos produtos tem-se apenas 2 mols de gás, enquanto despejados em um tanque e misturados, permanecendo
que nos reagentes tem-se 4 mols no total. E obviamente dentro do reator por um determinado tempo, no qual
quanto menor a quantidade de matéria gasosa, menos ocorre a reação. Após o término da reação, o tanque para
volume será ocupado. O contrário também acontece. Caso a mistura resultante é então descarregado. Essa é uma
a pressão seja baixa, as moléculas estarão mais distantes operação em batelada (descontínua) cuja composição varia
umas das outras e o volume deve aumentar e, portanto, a como tempo.
formação dos reagentes será favorecida. Este reator é utilizado em produções de pequena
Caso a reação ocorra somente no estado sólido ou escala. Entre as suas vantagens podem-se citar a elevada
líquido, ou ainda que se tenham essas duas fases conversão por unidade de volume, flexibilidade de
conjuntamente, a pressão não exercerá efeito significativo operação e fácil limpeza; e as desvantagens o elevado
sobre o equilíbrio. Caso uma dessas duas fases esteja custo de operação, qualidade do produto pode ser variada.
presente juntamente com a fase gasosa, somente Dentre suas aplicações encontram-se a produção de
consideramos a fase gasosa nessa análise. corantes sintéticos, a extração de corantes naturais, a
fabricação de gorduras hidrogenadas (como a margarina) e
a produção de enzimas.
20
AULA 4
SISTEMA DE REATORES
21
AULA 4
SISTEMA DE REATORES
b. Rendimento de um produto (𝑌): Permite avaliar, em um
sistema em que ocorre mais de uma reação, quanto
reagente ( 𝐴 ) é efetivamente consumido para formar o
produto de interesse (𝑃).
𝑣 𝑛 −𝑛 ,
𝑌(𝑃/𝐴) =
𝜈 𝑛 −𝑛 ,
22
AULA 4
SISTEMA DE REATORES
de 40% de 𝐴, ou seja, para cada mol de 𝐵 alimentado, são
Inicialmente devemos balancear a equação necessários 2 ∗ (1 + 0.4) = 2.8 mols de 𝐴:
química e utilizar uma notação que simplifique as
equações: kmol
2.8 de 𝐴 𝑛̇ , 𝑛̇ ,
h = =
2𝐶 𝐻 + 𝑂 → 2𝐶 𝐻 𝑂 kmol 𝑛̇ , kmol
1 de 𝐵 625
2𝐴 + 𝐵 → 2𝑃 h h
Portanto,
Agora, vamos organizar os dados que nos foram
fornecidos, utilizando grandezas úteis: kmol
A produção de óxido de etileno permite com que 𝑛̇ , = 1750
h
encontremos a vazão molar de 𝑃 na saída:
Uma vez que a proporção entre 𝐴 consumido e 𝑃
kg formado é igual à razão 1:1:
44000 kmol
h
𝑛̇ = = 1000
kg h kmol kmol
44 2 de 𝐴 𝑛̇ − 𝑛̇ 𝑛̇ − 1750
kmol h , h
= =
kmol 𝑛̇ kmol
Pela estequiometria da reação, cada dois moles de 2 de 𝑃 1000
h h
𝑃 produzidos necessitam de um mol de 𝐵 combinado a
Logo,
dois moles de 𝐴. No entanto, a fração conversão de 𝐵 (𝑓 )
é de 80% - de modo que apenas esta porcentagem reage kmol
efetivamente: 𝑛̇ = 750
h
kmol kmol As frações de alimentação são calculadas
2 de 𝑃 𝑛̇ 1000
h = = h diretamente:
kmol 𝑓 𝑛̇ , 0.80 ∗ 𝑛̇ ,
1 de 𝐵
h 𝑛̇ ,
𝑥 , = ≈ 0,74
Logo, a quantidade alimentada de oxigênio (𝐵) é 𝑛̇ , + 𝑛̇ ,
obtida diretamente: 𝑥 , ≈ 0,26
23
AULA 4
SISTEMA DE REATORES
Responda às seguintes questões, com base nos 1. Todo 𝐴 é consumido, ou seja, 𝑛̇ = 0 e o reagente
dados expostos na Tabela 4.1: limitante seria o próprio 𝐴. Neste caso temos:
𝑛̇ , kmol
a. As reações estão balanceadas? 𝑛̇ = ≈ 364
1.1 h
b. Qual o produto de interesse e o produto kmol
𝑛̇ = 𝑛̇ , − 0.8 𝑛̇ ≈ 709
indesejável? h
c. Qual é a seletividade da reação que forma o 2. Todo 𝐵 é consumido, ou seja, 𝑛̇ = 0 e o reagente
produto de interesse? limitante seria o próprio 𝐵. Neste caso temos:
d. Quem é o reagente “limitante” e qual é a sua 𝑛̇ , kmol
𝑛̇ = = 1250
fração de conversão? 0.8 h
e. Qual é o rendimento do produto de interesse em kmol
𝑛̇ = 𝑛̇ , − 1.1 𝑛 ̇ = −975
relação ao reagente “limitante”? h
Este último resultado é coerente? O que ele diz?
Respostas Justamente que 𝐵 está em excesso, pois seria
necessária uma quantidade maior do que a inicial de 𝐴
a. Sim. para que todo 𝐵 fosse consumido.
b. O produto de interesse é o acetaldeído, o produto Portanto, o reagente limitante é o etanol (𝐴). Sua fração
indesejável é o dióxido de carbono. de conversão é obtida diretamente:
c. A seletividade é definida como a razão entre o 𝑛 , −𝑛 400 − 15
𝑓 = = = 0.9625
número de moles do produto desejado e do 𝑛 , 400
produto indesejado: e. O produto de interesse é 𝑃 e o reagente limitante é 𝐴.
350 Assim,
𝑆(𝐶 𝐻 𝑂/𝐶𝑂 ) = =5 −1 𝑛 − 𝑛 ,
70 𝑌(𝑃/𝐴) =
d. Em reações múltiplas, encontrar o reagente 1 𝑛 −𝑛 ,
limitante não é uma tarefa trivial. Por isso, vamos −1 350 − 0
fazer uso do seguinte raciocínio: = ≈ 0.91
1 15 − 400
qtde de 𝐴 que reagiu = 𝑛̇ , − 𝑛̇
A quantidade total que reage é uma soma das Exemplo 3. Em um processo de alquilação, uma mistura de
quantidades que reagiram na 1ª e na 2ª reação. isobutileno (A), isobutano (B) e traços de propileno (C) são
Pela estequiometria de cada uma, sabemos que a alimentados a um reator, onde o catalisador é ácido
quantidade de 𝐴 que reage na 1ª reação é igual a sulfúrico, a fim de formar 2,2,4-trimetilpentano (P). Uma
quantidade de 𝑃 formada, enquanto que a reação paralela acontece, formando 2,2-dimetilpentano
quantidade de 𝐴 que reage na 2ª reação é igual a (𝑅):
metade da quantidade de 𝑉 formada:
𝑛̇ , − 𝑛̇ = 𝑛̇ + 0.5 𝑛 ̇ 𝐴 + 𝐵 → 𝑃 (1)
Pelo mesmo raciocínio, aplicado ao reagente 𝐵:
𝑛̇ , − 𝑛̇ = 0.5 𝑛̇ + 1.5 𝑛̇ 𝐶 + 𝐵 → 𝑅 (2)
Utilizando a seletividade, podemos dizer que:
Sabe-se ocorre uma conversão de 62% (em mols)
𝑛̇ = 5 𝑛̇ ou 𝑛̇ = 0.2 𝑛̇
de 𝐵, e que o rendimento de P em relação a B é de 94%.
Logo,
Desenvolva o balanço de massa para uma alimentação de
𝑛̇ , − 𝑛̇ = 1.1 𝑛̇
200 kmol/h de 𝐴 250 kmol/h de 𝐵 e 70 kmol/h de 𝐶.
𝑛̇ , − 𝑛̇ = 0.8 𝑛̇
Pelos dados, a quantidade total de B que irá reagir
Assim, podemos afirmar que para cada mol de 𝐴
é de: 0,62 X 250 = 155 kmol/h.
que reage, são produzidos 1.1 moles de 𝑃; e para
A seletividade indica que dos 155 Kmol/h que
cada mol de 𝐵 que reage são produzidos 0.8 moles
reagem 94% são na reação 1, ou seja 145,7 Kmol/h de B
de 𝑃. Vamos analisar dois casos-limite:
reagem com 145,7 kmol/h de A formando 145,7 Kmol/h de
P.
24
AULA 4
SISTEMA DE REATORES
Dos 155 Kmol/h que reagem se 145,7 Kmol/h são Coque = carbono (C)
usados na reação 1 então 9,3 Kmol/h reagem na reação 2.
Pela estequiometria: 𝐶 + 𝑂 → 𝐶𝑂
Na reação 1 - 1B:1A, portanto: 145,7 Kmol/h de A reagem.
Na reação 2 - 1B:1C, portanto: 9,3 Kmol/h de C reagem. 4. Em um processo de oxidação do etanol para produção
Ainda pela estequiometro é possível obter os de acetaldeído, foram obtidos os seguintes resultados
valores de P e de R. na saída do reator:
Na Tabela 14.4 todos os resultados estão
Tabela 4.3 - Dados referentes ao exercício 4.
dispostos.
Componente Vazão (kmol/h)
Tabela 4.2 - Dados e resultados referentes ao exemplo 4. 𝐶𝐻 𝐶𝐻𝑂 9,0
kmol/h 𝐴 𝐵 𝐶 𝑃 𝑅 𝐻 𝑂 9,0
Entrada 200,0 250,0 70,0 0 0 𝑂 2,5
Reage na 𝐶𝐻 𝐶𝐻 𝑂𝐻 1,0
145,7 145,7 - - -
reação 1
Reage na Reação:
- 9,3 9,3 - - 𝐶𝐻 𝐶𝐻 𝑂𝐻 + 𝑂 → 𝐶𝐻 𝐶𝐻𝑂 + 𝐻 𝑂
reação 2
Forma - - - 145,7 9,3
Determine o reagente limitante, a conversão obtida e
Saída 54,3 95 60,7 145,7 9,3
o excesso de O2 utilizado no processo.
EXERCÍCIOS GABARITO
1. O que é equilíbrio e como ele pode ser 1. Equilíbrio é quando uma reação passa a ocorrer na
modificado/deslocado? Como o catalisador influência mesma velocidade no sentido de formação de produtos
o equilíbrio? e de reagentes, gerando concentrações constantes de
ambos. O equilíbrio pode ser deslocado através da
2. Um reator produz metanol a partir de monóxido de adição (aumento de concentração) de um dos
carbono e gás hidrogênio, segundo a reação: componentes, do aumento de pressão ao envolver
algum gás ou vapor e também ao fornecer ou retirar
𝐶𝑂 + 2𝐻 → 𝐶𝐻 𝑂𝐻 energia térmica do sistema. O catalisador não altera o
equilíbrio ao diminuir a energia de ativação de
Desenvolva o balanço material no reator para uma formação tanto dos produtos como dos reagentes.
produção de 500 kg/h de metanol, considerando
alimentação estequiométrica e conversão de 90% do 2.
CO alimentado.
kmol/h CO 2 H2 CH OH
3. No processo do craqueamento catalítico, o catalisador Entrada 17,360 34,722 -
deve ser recuperado de forma contínua, através da Reage 15,625 31,250 -
queima da coque. Sabe-se que na massa de catalisador Forma - - 15,625
estão impregnados 5 mol/min de coque. Saída 1,735 3,472 15,625
Realize o balanço material no forno regenerador de
coque, sabendo que 97,5% do coque é queimado, com
Corrente e saída = 20,832 kmol/h
40% de excesso de oxigênio, considerando que apenas
Frações saída: xCO = 0,083; xH2 = 0,167; xCH3OH = 0,75;
dióxido de carbono é produzido e que o coque que não
foi queimado volta para o reator do craqueamento
(não vai sair como gás de combustão).
25
AULA 4
SISTEMA DE REATORES
3.
mol/min C O2 CO
Entrada 5 7 -
Reage 4,875 4,875 -
Forma - - 4,875
Saída 0,125 2,125 4,875
4.
Reagente limitante: etanol
Conversão: 90% de etanol
Excesso de oxigênio: 40%
26
AULA 5
FLUIDOS
INTRODUÇÃO recipiente no qual está contido. Por exemplo, um gás
qualquer colocado dentro de uma garrafa de 2 litros
Nesta aula será abordado o estudo dos princípios adquire a forma do recipiente ocupando o volume de 2
básicos dos fluidos e suas principais propriedades. É litros.
possível enumerar diversas aplicações da mecânica dos
fluidos em projetos de engenharia, como em aeronaves, Fase líquida
dispositivos biomédicos, transporte de água, óleo e gás Nesta fase as partículas encontram-se mais unidas
natural. A indústria petrolífera é um dos ramos que mais em relação às partículas da fase gasosa, mas não
utiliza a mecânica dos fluidos; cabendo ao técnico de totalmente unidas como na fase sólida. A energia cinética
petróleo o domínio do conhecimento básico desta área é intermediária entre a fase sólida e gasosa, não havendo
para o desenvolvimento de suas atividades. arranjo geométrico definido. Como resultado, o líquido
toma a forma do recipiente no qual está contido, mas o
volume permanece relativamente constante devido às
FLUIDOS forças de coesão entre as moléculas. O volume do líquido
não ocupa, necessariamente, o volume do recipiente no
Intuitivamente, a maioria das pessoas sabe qual está contido.
distinguir as diferenças entre um sólido e um fluido.
Entretanto, a caracterização dessas substâncias necessita
de uma definição mais formal e precisa. Sólidos tendem a VISCOSIDADE (µ)
se deformar quando interagimos com ele, por exemplo,
quando você se deita em uma cama, a espuma do seu A viscosidade é uma propriedade física que
colchão se comprime; fluidos tendem a escoar, por caracteriza a resistência de escoamento de um fluido.
exemplo, quando você coloca leite em seu café da manhã. Considere a situação mostrada na Figura 5.1, em
A distinção formal entre um sólido e um fluido é que se tem certa quantidade de fluído entre duas placas
baseada na capacidade da substância resistir à tensão de paralelas.
cisalhamento aplicada, que tende a mudar sua forma. O
fluido deforma-se continuamente sob a aplicação de uma
tensão de cisalhamento, não importando o quão pequena
seja essa força. Já o sólido resiste à tensão de cisalhamento
aplicada, não se deformando continuamente. Aqui vale
lembrar que na estática a tensão é definida como força por
unidade de área e é determinada dividindo-se a força pela Figura 5.1 - Fluido em repouso.
área sobre a qual ela atua. A componente normal da força
que atua sobre a superfície por unidade de área é chamada Em um instante qualquer a placa móvel começa a
de tensão normal, a componente tangencial da força que se mover da esquerda para a direita a uma velocidade
atua sobre uma superfície por unidade de área é chamada constante. A partir desse instante, o fluido que está sob
de tensão de cisalhamento. essa placa também começa a se mover. Ao atingir o estado
Dentre as formas físicas nas quais a matéria existe estacionário a distribuição de velocidade ao longo do fluido
os fluidos compreendem os estados líquido e gasoso. Estes se torna constante com o tempo, como mostra a Figura 5.2.
diferentes aspectos da matéria são chamados de fases de
agregação e dependem da temperatura e pressão.
Fase gasosa
Nesta fase as partículas do fluido possuem maior
energia cinética. Elas ficam muito distantes umas das
outras, movem-se com alta velocidade e colidem entre si.
Figura 5.2 - Distribuição do perfil de velocidade no estado
Uma substância na fase gasosa possui forma e
estacionário.
volume variáveis, adquirindo as características espaciais do
27
AULA 5
FLUIDOS
Como a placa fixa não está em movimento à DENSIDADE (ρ)
camada de fluído sobre ela também se encontra em
repouso. Ou seja, a velocidade da camada fluída logo acima A densidade de um determinado tipo de matéria é
da placa fixa é zero. definida como a massa da matéria ocupada por uma
Quando duas camadas fluidas movem-se uma em unidade de volume. Por exemplo, a densidade da água á
relação à outra, uma força de atrito desenvolve-se entre temperatura ambiente é 1000 kg/m3, ou seja, um 1 m3 de
elas e a camada mais lenta tende a reduzir a velocidade da água possui a massa de 1000 kg. Já o mercúrio, que é muito
camada mais rápida. Esta resistência interna ao mais denso, tem uma densidade de 13600 kg/m3.
escoamento é quantificada pela propriedade do fluido O cálculo da densidade é determinado pela divisão
denominada de viscosidade, que é uma medida da da massa (𝑚) da substância pelo seu volume (𝑉):
aderência interna do fluido. Em um líquido a viscosidade é
causada por forças coesivas entre as moléculas e nos gases 𝑚
𝜌=
por colisões moleculares. 𝑉
A camada que está “grudada” na placa inferior da
Figura 5.2 desacelera a camada de fluido adjacente devido Vale ressaltar que no Sistema Internacional (SI) a
às forças viscosas entre as camadas, que, por sua vez, unidade de densidade é kg/m3.
desacelera a camada seguinte e assim por diante. Por isso A densidade é uma propriedade que depende da
é possível observar um perfil decrescente de velocidade da temperatura e pressão as quais a substância está
placa móvel até a placa fixa. submetida. A elevação da temperatura leva a uma redução
A viscosidade é uma propriedade que depende da da densidade, pois tal fator promove uma elevação da
temperatura, ou seja, apresenta valores diferentes para energia cinética das moléculas e, com isso, um aumento da
determinadas temperaturas. distância entre elas. Ou seja, uma determinada massa
Para substâncias na fase líquida a viscosidade passa a ocupar um maior volume, reduzindo, assim, a
diminui com o aumento da temperatura. Pois, com a densidade da substância. O efeito oposto é obtido com a
elevação da temperatura acorre uma redução das forças redução da temperatura. Entretanto, ressalta-se o efeito
coesivas entre as moléculas do líquido devido ao aumento da temperatura sobre a densidade é significativo apenas
da energia cinética entre elas. Com isso ocorre uma para os gases, para os líquidos é praticamente
diminuição da resistência interna ao escoamento, ou seja, imperceptível.
da viscosidade. Já a elevação da pressão leva a um aumento da
Para substâncias na fase gasosa a viscosidade densidade dos fluidos, pois as moléculas são comprimidas,
aumenta com o aumento da temperatura, pois com a aproximadas, umas das outras. Com isso, um determinado
elevação da temperatura ocorre uma ampliação das volume passa a conter um número maior de moléculas. Ou
colisões moleculares. O aumento das colisões faz com que seja, o mesmo volume apresenta maior massa, assim,
ocorra uma elevação da resistência interna ao escoamento, aumentando a densidade da substância. O efeito oposto é
ou seja, da viscosidade. A Tabela 5.1 mostra valores de obtido com a redução da pressão do sistema.
viscosidade da água e do ar em função da temperatura.
Tabela 5.1 - Valores de viscosidade da água e do ar. TRANSPORTE DE FLUIDOS
T (°C) µ (cP) Em uma indústria os fluidos são transportados,
20 1 basicamente, por tubulações.
Água
80 0,35 Tubos são condutos fechados, geralmente rígidos,
20 0,018 que transportam um fluído que ocupa toda a área da seção
Ar transversal. Além dos tubos, as tubulações também são
80 0,020
formadas por acessórios, como ligações, curvas, válvulas,
derivações, que devem ser instalados para garantir o
1 cP = 1 mPa.s = 1 . 10-3 Pa.s
transporte adequado do fluido.
28
AULA 5
FLUIDOS
Diversos fatores determinam a escolha do material
e dos acessórios da tubulação para cada aplicação
desejada. A natureza do fluido determina as condições de
operação, o sistema de ligação dos componentes, o
diâmetro, o custo dos tubos, bem como as normas de
segurança. Cabe ao técnico de petróleo conhecer essas
condições de operação para o desenvolvimento de seu
trabalho na indústria.
Vale destacar que as tubulações em uma indústria
de processo químico custam dois terços do valor dos
equipamentos e um quinto do investimento total.
Figura 5.3 - Determinação do diâmetro ótimo.
O escoamento de fluidos em tubulações pode ser
classificado de duas formas, laminar e turbulento.
No escoamento laminar as camadas fluidas se
NÚMERO DE REYNOLDS
deslocam de forma ordenada, não havendo mistura
interna ao decorrer do processo. Tal escoamento se O número de Reynolds (Re) é um número
processa quando as velocidades das camadas fluidas são adimensional usado para o cálculo do regime de
relativamente baixas. Já no escoamento turbulento as escoamento de determinado fluido dentro de um tubo ou
camadas fluidas se deslocam de forma desordenada, sobre uma superfície. É utilizado, por exemplo, em projetos
havendo mistura interna ao decorrer do processo. Este de tubulações industriais e asas de aviões.
escoamento é caracterizado por elevadas velocidades das Para velocidades de escoamento suficientemente
camadas fluidas, fator que provoca a turbulência. altas, deve ocorrer uma transição do regime laminar para
o regime turbulento, caracterizada por mudanças bruscas
Diâmetro econômico e aleatórias de propriedades como pressão e densidade. O
irlandês Osborne Reynolds estudou esta transição entre
A escolha do diâmetro da tubulação deve levar em
escoamento laminar e turbulento no final do século XIX e
consideração os parâmetros econômicos e a
chegou ao chamado número de Reynolds. A natureza de
disponibilidade de diâmetros dos tubos comerciais.
um escoamento, isto é, se laminar ou turbulento e sua
Na escolha do diâmetro dois fatores são
posição relativa numa escala de turbulência é indicada pelo
importantes. O primeiro é o custo da tubulação a ser
número de Reynolds (Re), que é a relação entre as forças
instalada, o qual aumenta à medida que se escolhe
de inércia (numerador) e as forças viscosas (denominador).
diâmetros maiores. O segundo é o custo operacional do
sistema, ou seja, a energia gasta com o bombeamento do 𝜌. 𝑣. 𝐷
fluido diminui com o aumento do diâmetro da tubulação. 𝑅𝑒 =
𝜇
A soma do custo fixo mais o operacional apresenta um
valor mínimo que determina o diâmetro econômico do Sendo:
tubo utilizado. Na Figura 5.3 o eixo y é o custo por metro 𝒗 = velocidade média do fluido (𝑚⁄𝑠 );
de tubulação e o eixo x o diâmetro do tubo. A curva D = o diâmetro interno do tubo para o fluxo (𝑚);
decrescente representa o custo operacional do sistema, a μ = viscosidade dinâmica do fluido (𝑁 . 𝑠 ⁄𝑚 ;
curva crescente representa o custo da tubulação e a curva ρ = massa específica do fluido (𝐾𝑔 ⁄𝑚 ).
superior o custo total do projeto. O vértice desta curva
determina o diâmetro ótimo da tubulação utilizada.
Para escoamento em dutos com seção circular,
verifica-se que, para Re < 2100, o escoamento, em geral, é
laminar. Se Re > 2500, o escoamento, geralmente, é
turbulento. Dessa forma, se estabelece uma faixa de
transição na qual os dois tipos de escoamento podem
existir, sendo que para 2100 < Re < 2500 ocorre essa
29
AULA 5
FLUIDOS
situação de transição, condição que depende de condições condições do projeto. Destinam-se a unir tubos, alterar
ambientes, principalmente de vibrações no sistema. direção de escoamento, reduzir vazão, etc.
30
AULA 5
FLUIDOS
BOMBAS E COMPRESSORES Os tanques são classificados de acordo com sua
geometria e o tipo de teto que apresenta.
Para que os fluidos escoem nas condições Em relação à geometria os tanques podem ser
desejadas é necessário fornecer energia mecânica a eles. cilíndricos e esféricos. Os esféricos são mais vantajosos por
Tal processo é realizado por máquinas de fluxo não apresentarem vértices, reduzindo, assim, a perda de
denominadas bombas, quando o fluido é um líquido, e substâncias que ficam nos cantos e, com isso, a
compressores, quando o fluido é um gás. contaminação por agentes biológicos. Além disso, são mais
As máquinas de fluxo podem ser classificadas em recomendado para o armazenamento de gases, visto que
duas categorias: sua forma geométrica aumenta a resistência mecânica do
equipamento permitindo, assim, o armazenamento a
Deslocamento positivo: elevadas pressões.
Nestas máquinas certa porção de fluido é Em relação ao teto, os tanques podem ser
aprisionada em uma câmara e por ação do movimento de classificados de teto fixo e móvel. Os de teto fixo são,
um pistão ou de peças rotativas, é impulsionada para a geralmente, utilizados para armazenar petróleo e seus
tubulação. As máquinas com pistão são denominadas derivados. Os principais tipos de tetos utilizados na
recíprocas ou alternativas, enquanto aquelas com peças indústria são os cônicos, curvo, em umbrela, esferoidal e
rotativas chamam-se bombas rotativas de deslocamento semi-esferoidal. O tipo de teto fixo mais utilizado em
positivo. refinarias é o cônico, indicado somente para os derivados
Ação centrífuga: de petróleo mais pesados (asfalto, parafina, óleo
Essas máquinas constam essencialmente de uma combustível, diesel) e para produtos químicos como soda
carcaça dentro da qual gira um rotor provido de pás. cáustica e amônia. Nos tanques de teto móvel o teto
Quando o rotor é posto em movimento, o fluido que desloca-se de acordo com a pressão exercida pelo vapor.
preenche a carcaça entra em rotação por ação das pás. A Devido a esses movimentos, é necessária a existência de
força centrífuga decorrente da rotação do fluido move-o dispositivos de segurança, com a finalidade de evitar
radialmente do centro para a borda do rotor. À proporção acidentes provocados por um possível excesso de pressão.
que o fluido se afasta do centro do rotor sua energia Para evitar as perdas com a evaporação, usa-se um
cinética aumenta. Ao escapar do rotor sua energia cinética vedante entre o teto e a parede do tanque. Há também o
é convertida em carga de pressão. tanque de teto flutuante, onde o teto flutua sobre o
produto armazenado, evitando formação de espaços de
vapor, estes tanques são utilizados para armazenamento
ARMAZENAMENTO DE FLUIDOS de produtos com frações leves (petróleo, naftas, gasolinas).
Um tanque de armazenamento, é um
recipiente destinado a armazenar fluidos a diferentes CONVERSÃO DE VAZÃO
pressões. Na indústria de processo, a maior parte dos
tanques de armazenamento é construída de acordo com os No cálculo de balanço de massa é possível
requisitos definidos pelo código americano API 650. A converter vazão volumétrica para mássica ou vice-versa
construção desses tanques pode ser feita com teto fixo ou utilizando a densidade da substância (ou da mistura) em
flutuante, interno ou externo, dependendo sempre das questão para a conversão.
características e o tipo de produto armazenado. É de
extrema importância realizar, periodicamente, a Exemplo 1. Um técnico foi designado para medir a vazão
verificação e limpeza das estruturas e equipamentos mássica de um tubo que transporta água em uma refinaria.
utilizados para armazenar os produtos. Desta forma, As únicas informações que o funcionário dispunha era que
garante-se que não se alterem as as características dos a cada 20 s passava pela tubulação 500 m3 de água, além
compostos, além de evitar acidentes e disso, que a densidade da água na temperatura e pressão
a contaminação do meio ambiente por degradação dos de operação era de 1000 kg/m3. Determine a vazão mássica
tanques. obtida pelo técnico da empresa.
31
AULA 5
FLUIDOS
Primeiramente, determina-se a vazão volumétrica pressão de operação era de 1000 kg/m3. Determine a
(Q) do sistema dividindo-se o volume de fluido que passa vazão mássica obtida pelo técnico da empresa.
através do tubo pelo determinado intervalo de tempo:
7. Água nas condições ambiente é transportada em uma
𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 500 𝑚 𝑚 tubulação de PVC a uma vazão de 20 m3/s. Determine a
𝑄̇ = = = 25
𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜 20 𝑠 𝑠 vazão mássica da corrente de água e quanto tempo
seria necessário para encher um reservatório de 5000 L.
Em seguida, para determinar a vazão mássica
utiliza-se a densidade como fator de conversão: 8. Uma corrente de ar a 100 °C e 1 atm é transportada por
um tubo industrial a uma vazão de 1 m3/s. Determine a
𝑚 𝑘𝑔 vazão mássica da corrente de ar sabendo que a massa
𝑚̇ = 𝑉. 𝜌 = 25 . 1000
𝑠 𝑚 molar média do ar é de 28,96 g/mol. Para resolver este
exercício utilize a equação dos gases ideais
𝑘𝑔
𝑚̇ = 25000
𝑠
GABARITO
EXERCÍCIOS
1. A diferença de um fluido e um sólido tendo em vista a
1. Com base no conceito de tensão de cisalhamento,
defina o que é um fluido comparando suas diferenças definição de cisalhamento é que um sólido resiste à tensão
com sólidos. de cisalhamento aplicada, não se deformando
continuamente. Já um fluido, se deforma continuamente
2. Com suas palavras defina o que é viscosidade. sob aplicação dessa tensão, mesmo que pequena.
Determine as diferenças dessa propriedade física para
líquidos e gases, esclarecendo como a temperatura 2. A viscosidade é uma propriedade que determina a
afeta o valor da viscosidade para esses estados da resistência que um fluido tem ao seu escoamento. Para
matéria. líquidos, a viscosidade diminui com o aumento da
temperatura, pois com o aumento da temperatura ocorre
3. Explique como a temperatura e pressão afetam o valor
uma redução das forças coesivas entre as moléculas pelo
da densidade de líquido e gases.
aumento da energia cinética entre elas, fazendo com que
4. Calcular o número de Reynolds e identificar se o reduza a resistência ao escoamento. Para gases, o aumento
escoamento é laminar ou turbulento sabendo-se que da temperatura aumenta a colisão entre as moléculas e
em uma tubulação, com diâmetro de 4 cm, escoa água isso aumenta a resistência ao escoamento, fazendo com
com uma velocidade de 0,05 m/s. Viscosidade dinâmica que a viscosidade aumente.
da água: µ = 1,0030 x 10¯³ N.s/m².
3. O aumento da temperatura para gases reduz a
5. Você deseja armazenar um fluído volátil em uma região densidade, pois há um aumento da energia cinética entre
onde as temperaturas ambientes costumam ser
as moléculas e com isso, a distância entre elas. Para
elevadas. Qual tipo de tanque você escolheria e por
quê? líquidos esse efeito não é significativo. A elevação da
pressão gera um aumento da densidade, pois as moléculas
6. Um técnico foi designado para medir a vazão mássica ficam mais próximas entre si.
em um tubo que transporta água em uma refinaria. As
únicas informações que o funcionário dispunha era que 4. Re = 1.994 – regime laminar
a cada 40 s passava pela tubulação 2000 m3 de água,
além disso, que a densidade da água na temperatura e
32
AULA 5
FLUIDOS
5. Tanque esférico e de teto flutuante. Os tanques esféricos
são recomendados para gases, pois aumentam a
resistência mecânica, permitindo o armazenamento a
elevadas pressões. Os tanques de teto flutuante são
utilizados para vapor, pois evitam a formação de vapor.
8. 0,94615 kg/s
33
AULA 6
BALANÇO DE ENERGIA EM TUBULAÇÕES E BOMBAS
INTRODUÇÃO
Nesta aula será abordado o estudo dos princípios
básicos de escoamento de fluidos em tubulações e
máquinas de fluxo. Primeiramente, será desenvolvida
uma análise das variações energéticas envolvidas no
processo de transporte de substâncias fluidas. Em
seguida, esse estudo será estendido a sistemas de
bombeamento a fim de aprender como calcular a carga
energética oferecia por estes equipamentos. Por fim será
dada atenção ao princípio funcionamento dos principais
medidores de vazão usados na indústria. O
conhecimento dos aspectos abordados nesta aula é de Figura 6.1 - Volume de controle com fronteiras reais e imaginárias.
fundamental importância para a atuação de técnicos da
indústria química.
BALANÇO DE ENERGIA
Como você aprendeu nas aulas de física, em um
VOLUME DE CONTROLE sistema sujeito apenas a forças conservativas a energia
No estudo da mecânica clássica geralmente mecânica total se conserva. Neste caso, podemos dizer
emprega-se o diagrama de corpo livre como enfoque do que a soma das energias cinética e potencial é constante
sistema analisado. Contudo, na mecânica dos fluidos em qualquer intervalo de tempo.
normalmente o interesse está direcionado ao O princípio geral da conservação da energia diz
escoamento de fluidos através de dispositivos como que a energia total de um sistema isolado é sempre
bombas, turbinas, tubulações, etc. Nestes casos, é difícil constante, pois este sistema não troca massa e nem
direcionar a atenção numa quantidade de massa fixa energia com suas vizinhanças.
identificável. É mais conveniente, para análise, Considerando um sistema isolado e partindo do
concentrar a atenção num volume do espaço através do principio geral da conservação da energia é possível fazer
qual o fluido escoa, ou seja, o volume de controle. uma análise do escoamento de fluídos através de
A fronteira geométrica do volume de controle é tubulações e dispositivos como bombas. Esta análise
denominada superfície de controle, a qual pode ser real pode ser feita através da equação de Bernoulli:
ou imaginária. A Figura 6.1 mostra o escoamento em um 𝛥𝑣 𝛥𝑃
bocal com uma superfície de controle delimitada pela + 𝛥𝑧 + + 𝑙 =0
2𝑔 𝜌𝑔
linha tracejada. Note que as regiões posterior e inferior
da superfície correspondem a limites físicos, enquanto as
regiões esquerda e direita correspondem a limites Sendo, a variação da energia cinética do
imaginários. Para o volume de controle definido é sistema, 𝛥𝑧 a variação da energia potencial, a
possível escrever equações para as leis básicas da
variação da energia de pressão e 𝑙 a perda de carga
dinâmica dos fluídos a fim de se obter, por exemplo, a
total.
velocidade de escoamento na saída do bocal. Vale
A equação de Bernoulli informa quais os tipos de
destacar que é sempre importante tomar cuidado na
energias envolvidas e suas interferências no processo de
seleção do volume de controle, pois a escolha afeta a
escoamento de fluidos.
formulação matemática do sistema analisado.
Para o desenvolvimento da análise é necessário
determinar o volume de controle do sistema em
questão. Como ponto inicial de estudo será considerado
34
AULA 6
BALANÇO DE ENERGIA EM TUBULAÇÕES E BOMBAS
o volume de controle em uma tubulação horizontal por representada pelo quarto termo na equação de Bernoulli
onde escoa água, Figura 6.2. (𝑙 ).
A perda de carga total de um sistema pode ser
classificada como sendo a soma de dois tipos de perda
de carga: a distribuída e a localizada.
A perda de carga distribuída ocorre ao longo da
Figura 6.2–Volume de controle em uma tubulação horizontal. tubulação em consequência do atrito entre o fluido e a
parede do tubo. Dessa forma, quanto maior o trecho da
Inicialmente, para o deslocamento da água ela tubulação, maior será esta perda de carga. O diâmetro
necessita de uma determinada quantidade de energia também influencia na perda de carga. Quanto menor o
propulsora, como a energia de pressão, por exemplo. diâmetro, maior o atrito com as paredes da tubulação,
Naturalmente, um fluido se movimenta da região de causando, assim, maior perda de energia.
maior pressão para a região de menor pressão. Esta A perda de carga localizada ocorre devido a
característica pode ser facilmente observada através da mudanças de direção durante o escoamento e devido à
análise dos fenômenos climáticos. Por exemplo, em um presença de acessórios como conexões, válvulas,
dia muito quente em que se aproxima uma frente fria medidores de vazão, etc. Vale destacar que ao mudar de
geralmente tem-se a ocorrência de vendavais, pois há o direção o fluido perde muita energia, pois ele entra em
deslocamento de uma grade massa de ar de uma região choque direto com a parede da curva. Por isso, o projeto
de alta pressão (massa de ar frio) para uma região de de um sistema de tubulações deve ser desenvolvido de
baixa pressão (massa de ar quente). forma a considerar, por exemplo, o menor número
Conforme o volume de controle apresentado possível de cotovelos.
pela Figura 6.2, o fluido em estudo escoa da região 1 O cálculo de perda de carga do sistema deve ser
(maior pressão) para a região 2 (menor pressão). A feito somando as perdas de carga localizada e
variação da energia de pressão sofrida pela água é distribuída. A perda de carga depende, entre outros
caracterizada pela variação de pressão da entrada à saída fatores, do material que compõem a tubulação e
do volume de controle. acessórios, bem como o tipo de fluido a ser transportado.
Durante o escoamento a água adquire Neste aspecto, vale destacar que a densidade do fluido
determinada velocidade que sofre uma pequena afeta consideravelmente a perda de carga do processo.
variação durante o processo. Consequentemente, a Quanto mais densa a substância, maior seu atrito com a
substância apresenta variação de energia cinética. tubulação e, consequentemente, a perda de carga do
A tubulação em estudo não possui variação de sistema é elevada. Este aspecto pode ser observado pela
altura, portanto, o deslocamento do fluido não é análise do termo de energia de pressão na equação de
caracterizado por uma variação de energia potencial. Bernoulli, o qual é função da densidade do fluido
Dessa forma, o segundo termo na equação de Bernoulli transportado. Além disso, outro ponto de destaque
(𝑔. 𝛥𝑧) possui valor zero. refere-se ao regime de escoamento do sistema. Quanto
mais turbulento o regime, maior a perda de carga, pois a
Perda de carga frequência de choques entre as moléculas do fluido e as
paredes da tubulação é mais intensa.
Como o escoamento de fluidos é caracterizado
pelo deslocamento de uma substância através de uma
superfície sólida há o surgimento de uma força contrária
BALANÇO DE ENERGIA EM BOMBAS
ao deslocamento. Esta força se deve ao atrito das
moléculas do fluido com a superfície da tubulação ou Como dito anteriormente, para o escoamento de
acessórios componentes do sistema. A força de atrito fluidos é necessária à atuação de uma força propulsora.
acarreta perda de energia no processo, pois é contrária Esta força pode ser a gravidade, como no sistema
ao movimento. Esta perda energética deve ser hidráulico de residências. Neste caso, as caixas de água
contabilizada no balaço de energia do sistema e está são colocadas em lugares altos para que o fluido possa
35
AULA 6
BALANÇO DE ENERGIA EM TUBULAÇÕES E BOMBAS
ser distribuído através dos cômodos da residência sem o um tanque de armazenamento para uma coluna de
uso de uma bomba. Entretanto, em indústrias não é destilação. O volume de controle determinado estende-
possível fazer todo o transporte dos fluidos apenas com se do ponto 1 ao 2, ou seja, compreende a saída do
a força da gravidade. Para isso é necessária à utilização tanque, a tubulação, a bomba e a entrada da coluna de
de máquinas de fluxo como bombas e compressores. destilação. Analisando o volume de controle percebe-se
Para o dimensionamento de uma bomba que todos os termos da equação de Bernoulli devem ser
centrífuga é preciso determinar quantitativamente a considerados no balanço de energia. Entre os pontos 1 e
energia necessária para transportar o fluido em questão. 2 há variação de energia cinética, energia potencial
Este parâmetro é obtido através do balanço de energia representada pela variação de altura (Δz), energia de
do sistema, o qual também é representado pela equação pressão e perda de carga provocada pela tubulação e
de Bernoulli. acessórios. Com a posse do valor numérico desses
Analisando a equação de Bernoulli como foi termos é possível determinar o head da bomba com a
apresentada anteriormente, percebe-se que para o aplicação da equação de Bernoulli.
dimensionamento de bombas é necessário à introdução
de mais um termo para manter o princípio de
conservação da energia. O termo refere-se à quantidade Exemplo 1. Na linha representada pela Figura 6.4
de energia que o equipamento fornece ao fluido, o qual deverão escoar 18 m3/h de um fluido com densidade de
é representado pela letra H e é denominado HEAD da 780 kg/m3. Considerando que os tubos possuem 50 mm
bomba. Com mais este termo a equação de Bernoulli de diâmetro, com área de escoamento de 0,002298 m2 e
para o balanço de energia em sistemas com máquinas de que a soma das perdas de carga distribuídas e localizadas
fluxo é representada da seguinte forma: são de 8 m, determine a carga que a bomba deve
fornecer para transportar o fluido em questão do ponto
𝛥𝑣 𝛥𝑃 1 ao 2. Considere sempre que 𝑔 = 9,8 𝑚⁄𝑠 .
+ 𝛥𝑧 + + 𝑙 + 𝐻=0
2𝑔 𝜌𝑔
36
AULA 6
BALANÇO DE ENERGIA EM TUBULAÇÕES E BOMBAS
𝑄 𝐻 = 36,5 𝑚
𝑣 =
𝐴
A pesar de o valor numérico de H possuir sinal
Sendo, A a área de escoamento. Assim: negativo, adota-se o valor positivo porque a bomba é um
equipamento que fornece energia ao fluido.
𝑚 Analisando os valores de energia nota-se que o
18 𝑚
𝑣 = ℎ = 2,2 termo cinético é muito pequeno em comparação com os
0,002298 𝑚 𝑠
demais. Isto ocorre porque, geralmente, a variação de
Com o valor das velocidades na entrada e saído velocidade em sistemas de bombeamento é muito
do volume de controle é possível determinar a variação pequena. Assim, como a variação de energia cinética é
de energia cinética: irrelevante em comparação com as demais ela pode ser
desprezada na maioria dos casos.
𝛥𝑣 2,2 − 0 (𝑚 ⁄𝑠 )
= = 0,25 𝑚
2. 𝑔 2. 9,8 𝑚⁄𝑠
CURVA DO SISTEMA
Determinação da energia potencial:
Continuando a análise do sistema da Figura 6.4.
Diferençade altura entre o ponto inical e final do Se nenhuma das condições físicas da linha, como o nível
movimento do fludo, ou seja entre o ponto 2 e 1.. de fluido, pressão em 1 e 2 e abertura da válvula, forem
alteradas e por ela passarem vazões variadas, na
𝛥𝑧 = 𝑧 − 𝑧 = 4,5 𝑚 − 2,5 𝑚 = 2 𝑚 equação de Bernoulli para bombas os termos que
representam a energia potencial e de pressão serão
Determinação da energia de pressão: constantes. Com isso, apenas ocorrerá variação da
O cálculo envolvendo pressão deve ser feito com energia cinética e perda de carga, ambas funções da
ambas as pressões na forma manométrica ou absoluta. velocidade. Esta característica pode ser analisada através
O importante é que ambas estejam na mesma categoria. de um gráfico que representa a carga da bomba em
função da vazão volumétrica. A curva obtida é
𝛥𝑃 (200. 10 𝑃𝑎 − 0 𝑃𝑎) denominada curva do sistema e representa a quantidade
= = 26,2 𝑚
𝜌. 𝑔 780 𝐾𝑔⁄𝑚 . 9,8 𝑚⁄𝑠 de energia que o sistema deverá receber para manter
uma determinada vazão (Figura 6.5).
Neste exemplo foi utilizada a pressão
manométrica, no tanque 1 foi indicada a pressão
absoluta, descontando-se a pressão atmosférica, tem-se
a pressão manométrica.
37
AULA 6
BALANÇO DE ENERGIA EM TUBULAÇÕES E BOMBAS
MEDIDORES DE VAZÃO
No estudo desenvolvido até aqui foi abordado
diversas vezes no conceito de vazão, tanto mássica
quanto volumétrica. A vazão é umas das características
mais importantes em processos industriais e saber como
quantificá-la é fundamental para manter uma planta em
condições de operação.
A maneira mais simples de medir a vazão em um
tubo é o método direto, que consiste em determinar a
quantidade de fluido que acumula em um recipiente
durante um determinado período de tempo. Entretanto,
Figura 6.5 - Curva do sistema. esse método pode acarretar grandes erros para curtos
períodos de tempo, além de incertezas ocasionadas pela
A linha contínua da Figura 6.5 mostra a variação
manipulação manual do aparato. Por estes motivos os
do head da bomba em função da vazão em um sistema
medidores de vazão mais utilizados nas indústrias são
recém-instalado. Já a linha pontilhada indica um sistema
baseados em métodos indiretos. Tais métodos consistem
operando a um longo período de tempo. A maior
na medição de alguma propriedade relacionada à vazão
inclinação desta curva mostra que o sistema com maior
volumétrica ou mássica, como a velocidade, por
tempo de operação necessita de mais energia para
exemplo, a fim de se obter a vazão do sistema.
manter o fluxo, pois a perda de carga é maior devido a
Os medidores de vazão são divididos em dois
incrustações formadas na tubulação com o período
grandes grupos: os medidores de vazão de restrição para
operação, por exemplo. Além disso, destaca-se que a
escoamentos internos e os medidores de vazão lineares.
interseção das curvas com o eixo das ordenadas refere-
Os primeiros baseiam-se no princípio da aceleração der
se à carga estática do sistema, ou seja, a soma das
uma corrente fluida através de alguma forma de bocal,
energias potencial e de pressão, as quais são constantes
conforme mostra o esquema da Figura 6.6.
como mencionado anteriormente.
ASSOCIAÇÃO DE BOMBAS
Há situações em que é impossível encontrar uma
bomba centrífuga que se adapte de modo conveniente
ao serviço. Por exemplo, a alimentação a baixa vazão de
um reator que opera a alta pressão. Para isso, seria Figura 6.6 - Escoamento interno através de um bocal genérico,
necessário encontrar uma bomba com alto H e baixo Q, mostrando o volume de controle usado para análise, ponto 1 ao 2.
com eficiência aceitável, o que é raro. Nesses casos
recomenda-se a associação de duas bombas em série. A A ideia é que a variação de velocidade leva a uma
mesma vazão (baixa) passa por duas bombas recebendo variação de pressão, a qual pode ser medida por um
o dobro de carga energética. Contudo, se o que deseja é medidor de pressão diferencial ou um manômetro. Com
aumentar a vazão com baixa carga é mais eficiente o valor obtido da variação de pressão é possível obter a
associar duas bombas em paralelo, mantendo a carga vazão do sistema através de uma correlação empírica
energética igual à de apenas uma bomba. para o medidor de vazão utilizado. A desvantagem de
medidores de vazão de restrição de área é que a variação
de pressão obtida não é linearmente proporcional à
vazão. Já os medidores de vazão lineares apresentam
variação de pressão linearmente proporcional à vazão.
Contudo, não entraremos no mérito destes dispositivos
38
AULA 6
BALANÇO DE ENERGIA EM TUBULAÇÕES E BOMBAS
devido ao seu reduzido uso na indústria. Além disso, os equação de Bernoulli são válidos e por quê? Neste
medidores por restrição de área são mais versáteis a esquema determinada vazão de água é direcionada
diversos tipos de fluidos. de um tanque de um armazenamento para uma
A seguir serão apresentados os principais coluna de absorção ambos a pressão atmosférica.
medidores de vazão por restrição de área usados na
indústria.
Placa de orifício
A placa de orifício (Figura 6.6) é uma placa que
pode ser interposta entre flanges e tubos. Devido a sua
geometria simples, é de baixo custo e de fácil instalação
e manutenção. Ao passar pelo orifício da placa o fluido
aumenta sua velocidade acarretando variação de
pressão. Com a variação de pressão obtêm-se a vazão
volumétrica através de uma correlação empírica
específica para este dispositivo.
Venturi
O medidor venturi (Figura 6.7) é um tubo com
estrangulamento cônico interno que promove a variação Figura 6.8 - Esquema para o exercício 2.
de velocidade do fluido. Geralmente este dispositivo é
pesado, volumoso e caro, mas apresenta menor perda de 3. Defina perda carga e explique porque uma tubulação
carga que a placa de orifício. Seu princípio de com menor diâmetro apresenta maior perda de
funcionamento segue a mesma ideia da placa de orifício, carga que uma tubulação com maior diâmetro.
com uma correlação empírica específica para este
dispositivo. 4. Na linha descrita pela Figura 6.9 deverão escoar 20
m3/h de água a 25 °C. Considere que a área de
escoamento dos tubos é de 0,003090 m2 e que a
perda de carga distribuída é de 6 m e a perda de
carga localizada é de 4 m. Determine o volume de
controle e a carga da bomba. Para isso, considere
que a pressão no tanque de origem é de 1 atm e que
a pressão no tanque de destino é de 200 kPa
manométrico.
EXERCÍCIOS 6m
39
AULA 6
BALANÇO DE ENERGIA EM TUBULAÇÕES E BOMBAS
8m
2m
3m
40
AULA 6
BALANÇO DE ENERGIA EM TUBULAÇÕES E BOMBAS
4. R.: 36,55 m
5. R.: 19,56 m
41
AULA 7
NOÇÕES DE TERMODINÂMICA
INTRODUÇÃO
Diagrama PT:
Nesta aula veremos alguns importantes A Figura 7.1 mostra um exemplo de diagrama
conceitos de termodinâmica e de transferência de calor. Pressão-Temperatura de uma substância pura.
Primeiramente, nos dedicaremos a estudar os estados da
matéria e importantes diagramas que nos informam
propriedades das substâncias puras em diferentes
condições. Após isso, estudaremos o calor e o trabalho
como formas de transferir energia, relacionando-os com
grandezas úteis. Por fim, diferenciaremos calor sensível
do calor latente.
42
AULA 7
NOÇÕES DE TERMODINÂMICA
propriedades idênticas à fase vapor. Isto quer dizer que,
nesta situação, não existe uma fronteira entre a fase
líquida e a fase gás. Disto decorre que é possível fazer temperatura constante ou a pressão constante. Tome
uma transição da fase líquida à fase vapor sem cruzar a como exemplo a chaleira em que você aquece água em
curva de vaporização. Um exemplo de trajetória deste sua casa. Imagine que você aquecerá água até a fervura.
tipo é a curva A-B. Nesta situação, a transição de líquido Neste caso tem-se um processo a pressão constante
para gás é gradual, não incluindo uma etapa de (pressão atmosférica). O sistema é aquecido até um
vaporização. ponto onde inicia-se o processo de vaporização. Deste
No gráfico da Figura 7.1, a linha vertical instante em diante temos um sistema composto por uma
pontilhada mostra a divisão da região do gás. Um gás à fase líquida em equilíbrio com o seu vapor. Tanto o
esquerda da linha é chamado de vapor. Chamamos vapor líquido quanto o vapor estão saturados. Durante todo o
o gás que pode ser condensado por compressão a processo de vaporização a temperatura permanece
temperatura constante ou por resfriamento a pressão constante (temperatura de saturação Tsat).
constante. O gás a temperatura superior a Tc é dito Agora imagine que você realizará a vaporização
supercrítico. de água líquida mantendo a temperatura constante e
variando a pressão. Isto poderia ser feito em um êmbolo
Diagrama PV: isolado. O sistema é submetido a uma diminuição de
A Figura 7.2 dá-nos uma nova informação: o pressão. É possível verificar que, a uma dada pressão, a
volume. Nesta figura, o equilíbrio entre fases, que no mudança de fase tem início. A pressão permanece
diagrama PT era dado por linhas, é agora representado constante até que se complete a mudança de fase. A essa
por regiões nas quais duas fases (sólido/vapor, pressão dá-se o nome de pressão de vapor (Pvap) ou
sólido/líquido, líquido/vapor) coexistem em equilíbrio a pressão de saturação (Psat).
uma dada temperatura e pressão. O volume específico A pressão de vapor é uma propriedade das
(ou molar) depende das quantidades relativas das fases substâncias puras e o seu valor é uma função das forças
presentes. As linhas representam fases únicas. O ponto intermoleculares e da energia cinética das moléculas,
triplo é agora dado por uma linha horizontal na qual que, por sua vez, é função da temperatura. O ponto de
coexistem as três fases em uma única temperatura e ebulição de um composto é definido como sendo a
pressão. temperatura na qual a pressão de vapor do líquido se
iguala a pressão do sistema.
Conhecendo a temperatura na qual se encontra
uma substância pura é possível se determinar a
temperatura de saturação desta ou vice-versa bastando
para tanto que se tenha à disposição um gráfico como o
da Figura 7.1 ou uma equação que correlacione a pressão
e temperatura de saturação. Uma das equações mais
utilizadas para este fim é a Equação de Antoine, a qual
possui a forma:
𝐵
𝑙𝑛𝑃 =𝐴− (02)
𝑇+𝐶
Figura 7.2 - Diagrama PV de uma substância pura.
Com 𝑃 dado em kPa e 𝑇 em °C. A Tabela 7.1
mostra valores das constantes A, B e C para algumas
DADOS DO EQUILÍBRIO LÍQUIDO- substâncias.
VAPOR
Um composto puro pode passar de líquido a
vapor ou de vapor para líquido através de um processo a
43
AULA 7
NOÇÕES DE TERMODINÂMICA
44
AULA 7
NOÇÕES DE TERMODINÂMICA
Trabalho 𝑃𝑉 : representa a movimentação da de entrada ou de saída de matéria. Podemos considerar
fronteira de um sistema, como quando um um pacote de carne que é retirado do freezer para
pistão é acionado e altera o volume ocupado por descongelar como um sistema fechado.
certo gás dentro de um cilindro; Nesta situação toda energia que entra ou que sai
do sistema é transportada por calor ou trabalho. Assim:
Trabalho de eixo: é responsável pela transmissão
de energia para um fluido através da rotação de ∆(Energia do Sistema) = Q + W (04)
um dispositivo, o rotor das bombas centrífugas é
um excelente exemplo. Por fim, no caso de sistemas abertos, há fluxo de
massa pelas fronteiras do sistema. Como esta massa
CONSERVAÇÃO DE ENERGIA possui temperatura acima de 0 K, as partículas que a
compõem possuem energia. Assim, sempre que há fluxo
O enunciado da Primeira Lei da Termodinâmica de massa há também fluxo de energia e esta parcela
diz: deve ser considerada no balanço. Ao esquentar a água
Embora a energia assuma várias formas, a em uma chaleira o conjunto composto pela chaleira +
quantidade total de energia é constante e, quando água é um sistema aberto. A frente veremos como ficará
energia em uma forma desaparece, ela reaparece um balanço de energia para um sistema com fluxo de
simultaneamente em outras formas. massa.
Isto é, a energia é conservativa! Voltemos ao sistema fechado. Frequentemente
Em geral, no estudo da termodinâmica estamos estes sistemas sofrem processos durante os quais
preocupados com um sistema específico. somente a sua energia interna muda. Assim, a inclusão
Um sistema termodinâmico é definido como de energia no sistema na forma de calor e trabalho causa
uma quantidade com massa e identidade fixas. Um uma variação na energia interna do sistema. Com isso
sistema é uma pequena parcela do Universo sobre a qual podemos escrever:
temos interesse em nossos estudos. Tudo que é externo
ao sistema é denominado vizinhança. ∆U = Q + W (05)
Vimos logo acima que a energia se conserva.
Sendo assim, uma variação de energia num sistema de Outra pergunta pode surgir: o que é energia
interesse causa igual variação na energia da vizinhança interna? Energia interna (U) é a energia das moléculas
do sistema. Assim que compõem um sistema. Faz sentido falarmos em
energia sendo transferida na forma de calor e trabalho,
∆(Energia do Sistema) = ∆(Energia da Vizinhança) porém não faz nenhum sentido falar em energia
armazenada como calor e trabalho. Lembre-se: calor e
Ou trabalho são formas de energia em trânsito! A energia
interna é, digamos assim, a forma na qual um sistema
∆(Energia do Sistema) − ∆(Energia da Vizinhança) = 0 (03)
armazena energia. Esta energia é a soma da energia
cinética translacional, rotacional e vibracional das
Basicamente, podemos classificar um sistema
partículas que compõem um sistema. Também entra na
em três categorias: isolado, fechado ou aberto; de
energia interna a energia potencial que se deve às forças
acordo com os fluxos de massa e energia que atravessam
intermoleculares, às forças que mantém os átomos
(ou não) suas fronteiras.
agrupados como moléculas e às forças que mantém os
Denominamos sistema isolado aquele em que
elétrons ligados ao núcleo dos átomos.
não ocorre fluxo de energia nem de massa ao longo de
Da equação para sistemas fechados e
suas fronteiras, um bom exemplo cotidiano seria a
considerando um processo reversível chega-se a uma
garrafa térmica.
função termodinâmica que é muito comumente
Já o sistema fechado é aquele no qual não há
encontrada nos cálculos, a entalpia. A entalpia é
fluxo de massa por meio das fronteiras do sistema.
DEFINIDA como sendo:
Assim, em sistemas fechados não há nenhuma corrente
45
AULA 7
NOÇÕES DE TERMODINÂMICA
H ≡ U + PV (06) Calor Latente:
Quando uma substância pura é liquefeita a partir
A palavra “definida” aparece destacada pois a do estado sólido ou vaporizada a partir do estado líquido,
entalpia não é uma grandeza física, mas sim uma a pressão constante, não ocorre variação da
propriedade definida por comodidade. É útil porque o temperatura, contudo o processo requer uma
grupo U+PV aparece frequentemente nos cálculos. quantidade finita de calor para a substância mudar de
Para processos em regime permanente, com fase. Esses efeitos térmicos são chamados de calor
escoamento e com uma única entrada e uma única saída, latente de fusão e calor latente de vaporização.
o balanço de energia pode ser escrito como: Já vimos as condições nas quais pode-se chegar
∆𝑣
(07) a Equação
∆𝐻 + + 𝑔∆𝑍 = 𝑄 + 𝑊
2 𝑄 = ∆𝐻
46
AULA 7
NOÇÕES DE TERMODINÂMICA
preferível pois permite bom controle de temperatura 𝑉̇ 𝑉̇
(lembre-se que a condensação ocorre a temperatura 𝑣 = =
𝐴 𝜋∗𝐷
constante) e porque a condensação do vapor de água 4
libera muita energia (540 kcal/kg a pressão de 1 atm) se
comparada ao resfriamento do vapor superaquecido (0,5 𝐿 1𝑚³
0,152 ∗ 𝑚
kcal/kg a cada 1°C de resfriamento) ou da água (1 kcal/kg 𝑣 = 𝑠 1000𝐿 = 0,29998
a cada 1 °C de resfriamento) 0,0254𝑚 𝑠
1" ∗
𝜋∗ 1"
Exemplo 2. O esquema da Figura 7.4 mostra um sistema 4
de bombeamento e aquecimento de água para a ducha
de um apartamento. A água a 10 ºC, é bombeada de um
reservatório com nível a 5 m do chão a uma vazão de No chuveiro a velocidade é:
0,152 L/s. O motor da bomba fornece 0,04 hp. A água
atravessa um aquecedor onde recebe calor a uma taxa 𝑉̇ 𝑉̇
𝑣 = =
de 25,4 kW, sendo então descarregada em um chuveiro 𝐴 𝜋∗𝐷
a 25 metros do chão. O sujeito tomando banho vai passar 4
𝑙 1𝑚³
frio? 0,152 ∗ 𝑚
𝑣 = 𝑠 1000𝑙 = 0,53329
0,0254𝑚 𝑠
3/4" ∗
𝜋∗ 1"
4
∆𝑣² 𝑣 −𝑣
=
2 2
∆𝑣² 𝑚
= 0,097207
2 𝑠
Antes de continuar a resolução do exemplo veja
Figura 7.4. Exemplo 2. a seguinte análise dimensional:
47
AULA 7
NOÇÕES DE TERMODINÂMICA
𝑇 = 10 + 40 ≈ 50°𝐶
𝐽
𝑔∆𝑍 = 196
𝑘𝑔 O rapaz não passrá frio pois esta temperatura é
considera elevada para o banho, para ter uma noção
O calor cedido ao sistema é: nesta temperatura, se o banho demorar mais de 5
minutos pode ocorrer queimaduras graves na pele.
𝐽
𝑄̇ = 25,4𝑘𝑊 = 25400
𝑠 Exemplo 3. Precisamos saber qual a quantidade de calor
Para colocar nas mesmas unidades vistas
que se deve ceder a 1 kg de água para que esta tenha sua
anteriormente dividimos a taxa de calor pela vazão
temperatura elevada de 170 °C até 200°C a 1 MPa. O
mássica:
calor específico da água é 4.410 J/kg.K e o calor
𝑄̇ 𝑄̇
𝑄= = específico do vapor de água é 2.590 J/kg.K. Use a tabela
𝑚̇ 𝑉̇ ∗ 𝜌 de vapor para obter as demais informações. Nestas
condições, em certa temperatura, a água líquida
25400𝐽/𝑠
𝑄= vaporizará para então ser aquecida até a temperatura
𝑙 1𝑚³ 𝑘𝑔 final.
0,152 ∗ ∗ 1000
𝑠 1000 𝑙 𝑚 Sabemos que o processo de aquecimento
50000 𝐽/𝑠 envolve uma transformação de fases. Escreveremos
𝑄= = 167105,26 𝐽/𝑘𝑔 então o calor total cedido em três parcelas:
0,152𝑘𝑔/𝑠
∆𝐻 167105,4 𝐽/𝑘𝑔 𝑄 = 𝑚𝐶 ∆𝑇
∆𝑇 = = ≈ 40°𝐶 (39,94 º𝐶) 𝐽
𝐶 J 𝑄 = 1𝑘𝑔 ∗ 4.410 ∗ (179,91 − 170)°𝐶
4184 𝑘𝑔°𝐶
kg°C
∆𝑇 = 𝑇 − 𝑇 e 𝑇 = 𝑇 + ∆𝑇. 𝑄 = 43.703,1𝐽
Logo:
48
AULA 7
NOÇÕES DE TERMODINÂMICA
a) Sistema termodinâmico
𝑄 = 𝑚𝐶 ∆𝑇 b) Equilíbrio (mecânico, térmico e químico)
𝐽
𝑄 = 1𝑘𝑔 ∗ 2590 ∗ (200 − 179,91)°𝐶
𝑘𝑔°𝐶 3. A Figura 7.5 mostra o Digrama PT da água.
Gostaríamos que você encontrasse no gráfico o
𝑄 = 52.033,1 𝐽 ponto triplo da água, bem como o ponto crítico. Qual
o significado destes dois pontos? Na mesma figura
Obs: Na equação acima como multiplicamos o valor de trace a seguinte transformação a 100kPa: gelo é
Cp por uma variação de T, podemos mudar o Cp dado em aquecido de -10 até 0°C, funde-se e a água líquida é
J/kg.K como sendo J/Kg. oC. aquecida de 0 até 100°C, esta é vaporizada e o vapor
é superaquecido a 130 °C. Usando os dados aqui
Para calcular a parcela 2 precisamos do calor de dados e a tabela de vapor diga qual a energia deve
vaporização na pressão estipulada, esta é dada pela ser cedida para estas transformações?
diferença entre a entalpia do vapor saturado e do líquido Cp (gelo)=2.040 J/kg.K;
saturado, a qual já está calculada na tabela na coluna Cp (líquido) = 4,22 kJ/kg.K;
Evap. Cp (vapor) = 2.029 J/kg.K;
Assim o ∆𝐻 = 2015,3 𝑘𝐽/𝑘𝑔 e a parcela 𝑄 entalpia de fusão (1 atm) = 333,7 kJ/kg;
será: entalpia de vaporização = 2.264,7 kJ/kg;
𝐽
𝑄 = 𝑚∆𝐻 = 1 𝑘𝑔 ∗ 2015300
𝑘𝑔 4. Qual a quantidade de energia deve ser cedida para
𝑄 = 2.015.300 𝐽 evaporar água líquida nas seguintes condições: a)
0°C; b) 110°C e c) 190°C? Qual a pressão de
Logo, o calor total que deve ser cedido é: saturação nas mesmas condições – utilize a tabela de
vapor em anexo e a Eq. de Antoine.
𝑄 = 𝑄 +𝑄 +𝑄
5. Qual a quantidade de calor liberado na condensação
𝑄 = 43.703,1𝐽 + 2.013.100𝐽 + 52.033,1𝐽
do vapor de água nas seguintes condições: a) 1 bar;
b) 5 bar e c) 15 bar? Qual a temperatura de saturação
𝑄 = 2.108.836 𝐽
nas mesmas condições – utilize a tabela de vapor em
Note quão maior é a parcela gasta para vaporizar anexo e a Eq. de Antoine.
a massa de água.
6. O professor Tadeu não gosta de tomar café quente.
Infelizmente seu estoque acabou e só é possível
EXERCÍCIOS preparar café a 74 ºC. Entretanto, é necessário que o
café fique gelado o mais rápido possível. Você dá a
1. Busque no texto desta aula as respostas das ele uma ideia: por que não preparar um café
seguintes perguntas: concentrado e colocar cubos de gelo para resfriá-lo?
a) Diferencie os estados da matéria quanto a Suponha que vocês prepararam 1 litro de café e possuem
mobilidade das moléculas. várias formas repletas de cubos de gelo (em geral, uma
b) Ao aumentarmos a temperatura de saturação, o forma contém 15 cubos com 10cm3 cada cubo. estime a
que ocorre com a pressão de saturação? E com a massa de cada cubo). Considere que a temperatura ideal
entalpia de vaporização? para o café é de 48 ºC. Quantas formas de gelo serão
utilizadas? Você acha que essa é uma boa ideia? Que
2. Faça uma pesquisa e escreva, com suas palavras, outra sugestão você daria?
qual o significado dos seguintes conceitos:
49
AULA 7
NOÇÕES DE TERMODINÂMICA
As propriedades do café podem ser aproximadas pelas
da água.
GABARITO
1.
2.
50
AULA 7
NOÇÕES DE TERMODINÂMICA
51
AULA 8
TROCA TÉRMICA
52
AULA 8
TROCA TÉRMICA
eficiente, assim os isolantes não impedem toda a perda dos carros onde o ar é usado para resfriar superfícies
de energia, mas podem diminuí-la drasticamente) que a quentes do automóvel. Nesta situação outra variável que
energia do fluido seja perdida para a atmosfera. Um tem grande influência sobre a convecção é trabalhada: a
exemplo de isolante térmico é a fibra de vidro. área. A transferência por convecção é função direta da
Com base nas ideias expostas acima, J. Fourier área, assim para aumentar a transferência de calor a área
desenvolveu em 1822 a equação que possibilita o cálculo pode ser aumentada. Nos radiadores dos carros, a área
da taxa de calor trocado por condução: é aumentada pela inserção de haletas, que são chapas
metálicas em contato com as partes quentes do
∆𝑇 automóvel. O calor é transferido das partes aquecidas
𝑄̇ = −𝑘𝐴 (09)
∆𝑥 até as chapas por condução e lá a energia é dissipada
para o ar por meio de convecção.
Que nos diz que a taxa de condução de calor A taxa de transferência de calor por convecção é
através de uma placa é proporcional à diferença de descrita pela lei de Newton do resfriamento:
temperatura através da placa e à área de transferência
de calor, mas inversamente proporcional à espessura da 𝑄̇ = ℎ𝐴 (𝑇 − 𝑇 ) (10)
placa. 𝑘 é a condutividade térmica do material. No
Exercício 8 você poderá aplicar a Equação 08. Onde h é o coeficiente de transferência de calor
por convecção, o qual depende da velocidade de
escoamento e do fluido que escoa. 𝐴 é a área da
Convecção: superfície através da qual a transferência de calor ocorre,
Diferentemente da condução, a convecção 𝑇 é a temperatura desta superfície e 𝑇 a temperatura
ocorre devido ao movimento ordenado de moléculas de do fluido longe da superfície. No Exercício 10 você
um fluído. Na verdade, a convecção é o resultado da poderá aplicar a lei de Newton de resfriamento.
soma de dois fenômenos: a condução e o movimento do
fluido. Vamos voltar ao exemplo do aquecimento da Radiação:
barra metálica e nos concentrar no aquecimento do ar Até o momento vimos modos de transferência
circundante pelo calor liberado diretamente da chama. de calor que necessitam meios materiais para ocorrer.
Após algum tempo uma camada de ar mais quente seria Diferente destes mecanismos, a transferência de calor
formado nas proximidades da chama, porém o fluido por radiação não exige um meio material. A radiação é a
aquecido possui menor densidade que o ar mais frio. A emissão de energia pela matéria sob a forma de ondas
tendência do ar quente é então subir enquanto o ar frio eletromagnéticas. Aqui estamos interessados
desce e é aquecido. Com isso se estabelece uma corrente especialmente na radiação térmica, a qual é a radiação
de ar com o ar frio descendo, sendo aquecido pela chama relacionada à temperatura dos corpos. Todos os corpos
e subindo. com temperatura superior ao zero absoluto emitem
Este processo é muito importante e aumenta energia por radiação térmica.
muito a transferência de calor. Quanto maior a É por meio da radiação que a energia
velocidade de escoamento de um fluido maior a proveniente do Sol atinge a Terra. A radiação térmica é
transferência de calor por convecção. Na indústria este também empregada na indústria. Um exemplo são as
conhecimento tem um grande impacto. Você está caldeiras aquatubulares. Caldeiras são grandes
lembrado do exemplo do trocador de calor formado por equipamentos onde se gera vapor de água. Nas caldeiras
dois tubos concêntricos? Naquela situação é possível aquatubulares, a água que será consumida para a
aumentar a velocidade dos fluidos quente e frio de modo geração de vapor está no interior de tubos e na parte
a se obter maior troca de calor. externa circulam gases quentes produzidos pela queima
Líquidos trocam calor por convecção com maior de combustíveis. O principal processo de transferência
facilidade que gases. Porém existem casos em que é de energia para a água que está nos tubos é a radiação.
critico que exista uma apreciável troca de calor entre Ao queimarem, combustíveis de alto peso molecular
superfícies e gases, como por exemplo nos radiadores geram partículas que emitem energia luminosa. Esta
53
AULA 8
TROCA TÉRMICA
energia é absorvida pelos tubos (que geralmente são de quente. A diferença de temperatura existente entre eles
aço carbono, material escuro que possibilita alta promove um fluxo de calor, onde o fluido quente cede
absorção de luz) e transferidas por condução e calor para o frio, aquecendo-o. Esse equipamento é
convecção à água. chamado de trocador de calor duplo-tubo.
A taxa de calor emitida por radiação é dada pela
lei de Stefan-Boltzmann:
𝑄̇ = 𝜀𝜎𝐴 𝑇
Figura 8.1 - Trocador de calor duplo tubo. PASQUALIN, K.
Onde 𝜎, é a constante de Stefan-Boltzmann, que
apresenta o valor de 5,670 ∗ 10 𝑊/𝑚²𝐾 , e 𝜀 é a
emissividade da superfície.
TROCADORES DE CALOR
Nos processos industriais é bastante comum a
necessidade de aquecer ou resfriar um fluido, para que o
mesmo possa ser processado de forma adequada. Há
processos onde um vapor deve ser condensado ou então Figura 8.2 – Ilustração do Trocador de Calor Duplo Tubo.
vaporizar um líquido. Na sua casa você resolve esse
problema simplesmente colocando o material, em um O fluxo de calor tem, como passagem, a área de
recipiente adequado, no fogão, no forno (no caso de contato entre os fluidos, representada pela área do tubo
aquecimento) ou no refrigerador (no caso de interno. Se o tubo fosse curto, a quantidade de calor
resfriamento). trocada, por unidade de tempo (fluxo) será também
Em sistemas industriais, como as quantidades reduzida.
processadas são muito maiores, necessita-se de
equipamentos adequados para realizar essas operações. TROCADOR DE CALOR FEIXE TUBULAR
Esses equipamentos são chamados de trocadores de
calor. No caso de grandes vazões de fluidos quentes e
O princípio físico no qual um trocador de calor frios, se faz necessárias áreas de troca muito maiores que
está fundamentado é que a diferença de temperatura é aquela proporcionada por trocadores de calor duplo
o potencial capaz de promover um fluxo de energia do tubo. A solução para esse problema foi obtida colocando
mais alto potencial (temperatura mais alta) para o em feixes um número grande de tubos dentro de uma
potencial mais baixo. Esse fluxo de energia é única carcaça. O conjunto interno de tubos é conhecido
denominado de fluxo térmico. como banco de tubos.
Pelo tubo externo, ou carcaça, circula um dos
TROCADOR DE CALOR DUPLO TUBO fluídos, enquanto no feixe tubular, ou no banco de tubos,
escoa o outro. Um conjunto de placas metálicas,
A figura 8.1 esquematiza um dos mais simples denominada de chicanas, forçam o fluido que circula pela
trocadores de calor, idealizado para trocar calor entre carcaça a viajar sempre cruzando o banco de tubos, de
dois fluidos. É constituído por dois tubos concêntricos. modo a aumentar a eficiência das trocas térmicas. Na
Em um deles circula o fluido frio e o outro o fluido figura 8.3 pode-se observar o fluxo dos fluidos que
54
AULA 8
TROCA TÉRMICA
passam pelo casco e que passam pelos tubose na figura empenamento do feixe, danificando-o de modo
8.4 pode-se analisar a disposição de um banco de tubos irreversível.
e de uma carcaça de um mesmo trocador de calor
separadamente
SERPENTINAS E CAMISAS
Em situações em que se deseja resfriar ou
aquecer um equipamento, como um tanque ou um
Figura 8.4 - Trocador de calor casco e tubos. Banco de tubos
separados da carcaça. Solostocks. reator químico, e nos casos em que o fluxo de calor não
é muito grande, é comum empregarmos dispositivos
Há situações práticas onde a vazão de um dos denominados de serpentinas e camisas de aquecimento
fluidos é muito diferente da do outro. Um projeto normal (ou resfriamento). A serpentina é um tubo enrolado, de
resultaria em um trocador de calor de pequeno diâmetro forma helicoidal, por onde circula o fluido térmico. A
e muito comprimento, desproporcional e de montagem camisa é uma parede dupla construída no vaso, por onde
difícil. Nesse caso, pode-ser optar por uma disposição circula o fluido térmico.
interna que força o fluido dos tubos a passar duas vezes,
indo e voltando, pelo feixe tubular. Esse trocador pode
ser denominado trocador de calor casco e tubo de dois
passes pelos tubos.
A figura 8.5 mostra um corte longitudinal desse
tipo de trocador, abordando ainda uma engenhosa
solução para o problema de dilatação térmica
diferenciada do banco de tubos, em relação à carcaça.
Suponha que o fluido quente circula no banco de tubos:
a temperatura dos tubos será muito maior que a da
carcaça, levando o feixe tubular a dilatar-se mais. Se o
feixe estiver firmemente fixo pelas extremidades à Figura 8.7 - Mecanismos de aquecimento, (a) camisa de
carcaça, a dilatação diferenciada levará ao aquecimento e (b) aquecimento por serpentinas.
55
AULA 8
TROCA TÉRMICA
Processo de transferência;
Superfície de contato;
Geometria de construção;
Características dos fluxos;
Número de fluidos;
Mecanismo de transferência de calor.
Figura 8.9 - Perfil de temperatura tanque + serpentina.
PASQUALIN, K.
Configuração dos fluxos
O fluido frio se aquece ao circular pela
Ao trabalhar com trocadores de calor que serpentina. A temperatura do fluido quente se manterá
realizam uma operação unitária de evaporação, fluídos constante visto que a massa que está no tanque é muito
condensam e evaporam. De um lado da parede está a grande.
solução que evapora em temperatura constante. De O fato de os fluidos entrarem em contra
outro lado, o fluido de aquecimento que pode ser vapor corrente também aumenta a eficiência da troca de calor.
saturado condensante. Traçando o gráfico, colocando na Se os fluidos entram em concorrente de início tem-se
ordenada a temperatura e na abscissa o comprimento da uma enorme diferença de temperatura entre eles;
superfície de troca, obtém o seguinte perfil: porém ao longo do percurso suas temperaturas se
igualarão e a troca de energia cessa. Mas se entrarem em
contra-corrente, durante todo o caminho dos fluidos
haverá uma diferença de temperatura e portanto
trocarão calor a todo momento, aproveitando melhor a
energia disponível. Os gráficos a seguir mostram isso:
onde o eixo das ordenadas representa à temperatura e o
da abscissa a distância percorrida pelos fluidos.
56
AULA 8
TROCA TÉRMICA
57
AULA 8
TROCA TÉRMICA
𝑇 , −𝑇 , − 𝑇 , −𝑇,
∆𝑇 =
𝑇 , −𝑇 ,
𝑙𝑛 Figura 8.13 - Esquema da caldeira fogo tubular. PASQUALIN, K.
𝑇 , −𝑇,
Um cuidado que se deve tomar com esse tipo de
(250 − 120) − (140 − 28) caldeira é o nível mínimo e máximo de água dentro da
∆𝑇 = = 120,78°𝐶
𝑙𝑛
(250 − 120) caldeira. Já na caldeira aquatubular, como já diz o nome,
(140 − 28) a água irá circular pelos tubos e os gases de combustão
pelo casco. Algumas de suas vantagens são: partida
Assim, a área pode ser calculada substituindo os rápida, pode operar a altas pressões, elevado
valores:: rendimento, pode ser utilizada com diferentes
combustíveis, entre outros. Na figura 8.14 está uma
𝑄 21998,2 𝐽⁄𝑠 ilustração de uma caldeira aquatubular.
𝐴= =
𝑈 𝐹 ∆𝑇 50 𝐽⁄𝑠 𝑚² 𝐾 ∗ 1 ∗ 120,78°𝐶
𝐴 = 3,64 𝑚²
FLUIDO DE AQUECIMENTO
Uma das formas de aquecimento, que já foi
mencionada, é a utilização de fluidos específicos para
aquecimento ou refrigeração. Estes são chamados de
fluidos refrigerantes e podem ser óleos ou compostos
poliméricos.
Outro fluido de aquecimento amplamente
utilizado na indústria é o vapor de água. Este pode ser
saturado ou superaquecido e o equipamento que Figura 8.14 - Esquema de uma caldeira vertical aquatubular.
proporciona o aquecimento e vaporização da água é Desaeradores são utilizados nos sistemas de
chamado de caldeira. geração de vapor. O vapor, quando empregado como
A caldeira pode ser do tipo aquatubular ou fluido térmico, troca calor com o meio frio e, por estar
fogotubular. Na caldeira flamo-tubular a disposição na saturado, condensa. O condensado produzido é drenado
fornalha é interna, ou seja, os gases de combustão estão dos trocadores de calor e é reciclado para o gerador de
localizados no interior dos tubos e a água está externa vapor. O vaso para onde o condensado é enviado, e a
aos tubos. Essas caldeiras são compactas, a chama pode partir de onde é bombeado de volta para a caldeira, é
ser direta, alto rendimento e o combustível pode ser óleo denominado desaerador. Leva esse nome porque ali a
ou gás. Um esquema da caldeira fogo tubular pode ser água nova alimentada ao sistema, à temperatura
analisado através da figura 8.13. ambiente, é misturada com o condensado e, com a
elevação da temperatura, libera o oxigênio e nitrogênio
58
AULA 8
TROCA TÉRMICA
59
AULA 8
TROCA TÉRMICA
superaquecido libera calor é na troca de fase, ou seja, processo. Na maioria dos casos o vapor é a melhor
quando ele está condensando a temperatura constante. opção, mas em alguns processos a utilização de um fluido
O vapor saturado é utilizado quando se quer refrigerante/aquecimento é indispensável.
aquecer outro fluido, pois a etapa que mais liberará calor
é quando este irá condensar. Além disso, o vapor EXERCÍCIOS
saturado possui uma maior estabilidade e a temperatura
com que este condensa é uniforme e constante. Já o
vapor superaquecido possui elevada energia mecânica e 1. Explique o funcionamento de um trocador de calor,
uma reduzida capacidade de aquecimento. Essa assim como o principio de troca térmica. Faça um
característica de alta energia mecânica é explorada para esquema de um trocador de calor casco e tubos para
produção de energia elétrica a partir de turbinas. melhor reforçar seus conhecimentos.
Sistemas onde ocorre a vaporização da água e o seu
superaquecimento para produção de energia elétrica é 2. Quais são as configurações de fluxo possíveis em
amplamente empregada nas indústrias nucleares. trocadores de calor? Explique-as com gráficos e
ilustrações.
Exemplo 2. Em um processo industrial, glicerina deve ser
aquecida de 28°C até a temperatura de 120°C. O fluído 3. Qual a importância de realizar o isolamento das
de aquecimento é vapor de água saturado a 10 bar. Qual linhas de vapor? Descreva como esse é realizado.
a quantidade de vapor que deverá ser utilizada se 2000
kg/h de glicerina são processadas? 4. Diferencie vapor saturado e vapor superaquecido.
Quando é adequada a utilização de vapor
Como percebe-se, esse exercício condiz com o supersaturado e quando é mais adequada a
exemplo 1 modificando o fluido de aquecimento. Assim, utilização de vapor saturado. Explique e cite
a quantidade de calor que deve ser trocada é: exemplos.
𝐽
𝑄 = 𝑄 = 21998,2 𝑜𝑢 𝑊 5. Antes de ser enviada a uma destiladora de refino,
𝑠
uma mistura de petróleo deve ser aquecida de 150°C
O fluido de aquecimento escolhido é vapor a 500°C. O fluido de aquecimento é um óleo próprio
saturado a 10 bar. Assim, o calculo da massa de vapor que entra no trocador de calor a 1000°C e sai a
seguirá a equação de troca de calor por condensação, ou 200oC. Qual a vazão volumétrica necessária do fluido
seja, a partir do calor latente de condensação do vapor: de aquecimento em questão para que a operação
seja realizada se 5 toneladas de petróleo são
𝑄 = 𝑚 ∆𝐻 processadas por hora? Sabe-se que o: mitura de
petróleo tem Cp = 2,10kJ/kg °C, fluido de
A partir das tabelas de vapor saturado encontra- aquecimento tem Cp = 2,00 kJ/ kg °C e densidade =
se que a 10 bar a temperatura de saturação é 179,0°C e 850 g/L.
a entalpia de vaporização é de 482,0 kcal/kg ou 2017,7
kJ/kg de vapor. Portanto, a massa de vapor será: 6. No projeto do trocador de calor, que necessita
𝑄 21998,2 𝐽⁄𝑠 aquecer a mesma mistura de petróleo a temperatura
𝑚 = =
∆𝐻 2017,7 10 𝐽⁄𝑘𝑔 de 170°C, foi investigada qual a melhor forma de
aquecimento: vapor saturado a 9 bar ou vapor
𝑘𝑔 𝑘𝑔 saturado a 17 bar. Calcular a vazão mássica de vapor
𝑚 = 0,0109 = 39,25
𝑠 ℎ necessária, para ambas as condições, e decida qual a
melhor pressão a ser alimentado o vapor no
Comparando com o resultado apurado no trocador.
exemplo 1 observa-se que a massa de vapor é menor em (Dica: utilize a tabela de vapor dada no final da
relação a massa de óleo a ser empregado no mesmo apostila - em anexo).
60
AULA 8
TROCA TÉRMICA
7. Um fluido de processo, com calor específico de no aquecimento de fluidos pois ao condensar libera
3500 J/(kg.K) e escoando a 2 kg/s, deve ser grande quantidade de calor (calor latente)
resfriado de 80 ºC a 50 ºC com água fria, a qual é Vapor superaquecido: é formado ao aquecer o vapor
fornecida a uma temperatura de 15 ºC e a uma saturado (recebeu calor sensível). Utilizado na geração
vazão de 2,5 kg/s. Considerando um coeficiente de eneriga elétrica pois sua eneria mecanica é maior que
global de transferência de calor igual a 2000 a do vapor saturado.
W/(m².K) e 𝐶 𝐻 𝑂 = 4,2 kJ/kg calcule as áreas de
troca térmica necessárias para as seguintes 5. vazão mássica = 2.296,9 kg/h
configurações de trocadores de calor: vazão volumétrica = 2.702,23 L/h
GABARITO
1. Os fluidos são transportados em tubos que estão em
contato entre si para que ocorra a troca e calor devido a
diferença de temperatura que existe entre o fluido, o
princíio e troca térmica envolvidos são e convecção pois
quanto maior a velocidade maior é a troca térmica e a
condução pois o material do tubo em contato com o
fluidos deterinam a eficiencia o processo.
61
AULA 9
OPERAÇÕES COM SÓLIDOS
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AULA 9
OPERAÇÕES COM SÓLIDOS
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OPERAÇÕES COM SÓLIDOS
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OPERAÇÕES COM SÓLIDOS
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AULA 9
OPERAÇÕES COM SÓLIDOS
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AULA 9
OPERAÇÕES COM SÓLIDOS
EXERCÍCIOS
1. Faça uma pesquisa sobre os seguintes
equipamentos:
a) Peneiras: rotatória, vibratória e agitada. Qual o
objetivo industrial do peneiramento?
b) Fragmentadores: moinho de bolas, britador de
mandíbula, britador de martelo, britador de
barras e britador de rolos. Qual o objetivo de
fragmentar sólidos em uma indústria? Cite um
processo que emprega a moagem largamente.
c) Transportador: de correia, de esteira, de
caçambas, vibratório, por gravidade, helicoidal e
elevador de canecas. Qual é uma alternativa
interessante para transporte de sólidos de baixa
densidade e não abrasivos?
67
AULA 9
OPERAÇÕES COM SÓLIDOS
GABARITO
4. 𝜌𝑎 = 1.666 kg/m3
1.
5. ht = 4,36 m
a) O peneiramento na indústria tem o objetivo de
separação de materiais particuladas pelo tamanho das
partículas, podendo ser para o bom funcionamento
dos equipamentos posteriores ou controle de qualidade
da produção.
b) Os fragmentadores têm o objetivo de diminuir o
tamanho de partículas para fins de facilidade de
transporte ou aumento de área superficial. Ex: Produção
de cimento, de pigmentos, ração animal, indústria de
alimentos e de cosméticos entre outros.
c) Transporte pneumático, onde o sólido é arrastado por
um fluído, se comportando como fluído. O sólido não
pode ser abrasivo para não desgastar a tubulação e
precisa ser pouco denso para ser arrastado pelo fluido.
2.
3.
a) Aumenta.
b) Diminui.
c) Aumenta.
d) Aumenta.
e) Diminui.
68
AULA 10
SEPARAÇÃO DE SÓLIDO-LÍQUIDO E SÓLIDO-GÁS
69
AULA 10
SEPARAÇÃO DE SÓLIDO-LÍQUIDO E SÓLIDO-GÁS
alimentação e a saída do clarificado e do espessado. O permitida por lei, é de 3%, o nosso clarificado respeita
clarificado, como já diz o nome, possui a concentração de essa norma?
sólidos mais baixa, ou seja, é o liquido tratado. Já o
espessado é uma lama que consiste nos sólidos
acumulados no fundo cônico do tanque.
70
AULA 10
SEPARAÇÃO DE SÓLIDO-LÍQUIDO E SÓLIDO-GÁS
fluido. Assim encontraremos uma fração volumétrica de Com isso podemos ver que o clarificado com
sólidos na corrente C (𝑦 ). 6,5% tem mais que o dobro de sólidos permitido para
lançamento no meio ambiente que é de apenas 3%,
𝜌 = 𝑑𝑒𝑛𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑜𝑠 𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑜𝑠 portanto o efluente deverá passar por outro tratamento
𝜌 = 𝑑𝑒𝑛𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑜 𝑓𝑙𝑢𝑖𝑑𝑜 ou as condições desta operação de decantação devem
ser alteradas.
𝜌 =𝜌 ∙𝑦 +𝜌 ∙𝑦
Filtração
𝜌 = 𝜌 ∙ 𝑦 + 𝜌 ∙ (1 − 𝑦 ) De maneira análoga à decantação, o objetivo
dessa operação unitária também é separar partículas
𝑘𝑔 𝑘𝑔 sólidas de um líquido. Dentro desse objetivo, tal
𝜌 −𝜌 1,15 𝐿 − 1 𝐿 operação pode ter diferentes finalidades: reter sólidos
𝑦 = = = 0,075
𝜌 −𝜌 𝑘𝑔 𝑘𝑔 grosseiramente, clarificar líquidos, obtenção dos sólidos
3 −1
𝐿 𝐿 ou apenas conduzir uma separação primária.
A filtração é conduzida de maneira mecânica
Entretanto a fração encontrada é a fração (fluido é bombeado) com auxílio de um meio poroso
volumétrica de sólidos, para encontrar a fração mássica permeável (meio filtrante). Um exemplo de filtração é o
precisamos converter essa fração a partir da equação a processo de coar café: a mistura água mais café é
seguir: colocada no coador (meio filtrante) e o peso da mistura
𝑚
𝑉 𝜌 faz com que as partículas sólidas do café fiquem retidas
𝑦 = =𝑚 no meio filtrante enquanto o líquido o atravesse. Na
𝑉
𝜌𝐴 indústria, os meios filtrantes geralmente são tecidos
Substituindo na equação acima: grossos e resistentes, muitas vezes feitos com fibra
𝑚 por A . 𝑤 (vazão de A . fração de sólidos em A) e sintética.
substituindo 𝑚 por A (vazão de A), isolando 𝑤 temos: A Figura 10.4 esquematiza a operação, sendo
que a camada de sólidos que progressivamente
𝑦 ∙𝜌 deposita-se sobre o meio filtrante é denominada de torta
𝑤 =
𝜌 ou bolo. Assim, essa operação é geralmente
descontínua: deverá parar para retirada da torta e
Com os valores de fração volumétrica de sólidos posterior limpeza, periodicamente.
em A, densidade de sólidos e densidade do fluido A,
temos:
𝑘𝑔
0,075 ∙ 3 𝐿
𝑤 =
𝑘𝑔
1,15
𝐿
𝑤 = 0,196
71
AULA 10
SEPARAÇÃO DE SÓLIDO-LÍQUIDO E SÓLIDO-GÁS
Em alguns processos, auxiliares de filtração são Primeiramente temos que a fração de sólidos na
utilizados para melhorar a filtração, como promover uma torta é dada em função da fração de água na torta (w ),
maior velocidade de filtração, melhor retenção de como a torta só é composta por água e sólido temos:
partículas sólidas e filtrado mais límpido, reduzindo
custos. Geralmente utilizados com suspensões de sólidos w = 1 − w = 1 − 0,05 = 0,95
finos.
A ideia do esquema da Figura 10.4 propõe um Deste modo podemos montar os balanços de
único estágio de separação. Quando a área de passagem massa global e para o sólido, se atentando ao fato de que
do fluido não é suficiente pode-se agregar vários estágios os filtros apresentam acúmulo:
idênticos em paralelo, distribuindo assim o fluido. Este
sistema é conhecido como filtro prensa, onde os estágios Balanço de Massa Global:
são comprimidos uns aos outros por um parafuso (placas
e quadros). ENTRADA – SAÍDA = ACÚMULO
72
AULA 10
SEPARAÇÃO DE SÓLIDO-LÍQUIDO E SÓLIDO-GÁS
Assim podemos calcular a massa de filtrado Toda indústria possui uma estação de
produzido em um filtro por ciclo: tratamento para os seus efluentes, ou seja, resíduos
produzidos ao decorrer do processo que devem ser
12.096,25 𝑘𝑔 tratados antes de ser encaminhados aos corpos
𝑀= ∙ 1851,85 𝑠 = 6.222,34 𝑘𝑔
3600 𝑠 receptores (rios ou lagos). Geralmente no tratamento
preliminar um sistema de decantadores é utilizado a fim
E lembrando que nosso sistema possui 10 filtros, de retirar as partículas sólidas da fase líquida. Ao se
temos uma massa total de filtrado por ciclo igual a: formar o espessado, este pode ser conduzido a um
sistema de filtros para reduzir o teor de água nos sólidos.
𝑀 = 6.222,34 𝑘𝑔 ∙ 10 = 62.223,40 𝑘𝑔 Inúmeras possibilidades para este tratamento existem,
mas a separação de sólidos de líquidos é indispensável.
Apesar de ser mais eficiente se comparado com
o processo do exemplo 1, este processo é descontínuo. SEPARAÇÃO SÓLIDO-GÁS
Câmara de poeira
Também chamada de câmara de sedimentação
gravitacional. É o tipo mais simples e mais antigo de
equipamento para coleta de poeira. O seu principio de
funcionamento é de reduzir a velocidade do gás para
permitir a sedimentação das partículas sólidas pela ação
da gravidade. Geralmente utilizada para remoção de
partículas relativamente grandes (Dp>50μm). O
tamanho da câmara necessário para remover partículas
menores é excessivo.
Figura 10.6 - Esquema de um filtro rotativo a vácuo Os coletores gravitacionais são câmaras
metálicas de grandes dimensões, em relação às do duto
que nela introduz o ar poluído, como fim de reduzir a
73
AULA 10
SEPARAÇÃO DE SÓLIDO-LÍQUIDO E SÓLIDO-GÁS
baixo custo
⎧ pouco desgaste
⎪
𝑉𝑎𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑛𝑠 consome pouca energia Figura 10.7 - Esquema de um separador inercial
⎨ baixa perda de carga
⎪ Filtros
⎩resiste a corrosão e temperatura
A utilização de filtros na separação sólido-gás é
baixa eficiência semelhante aos utilizados na separação sólido-líquido. O
𝐷𝑒𝑠𝑣𝑎𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑛𝑠 seu princípio de funcionamento condiz que o fluxo
grande espaço requerido
gasoso, que contem as partículas sólidas, seja forçado
Geralmente utilizados como pré-coletores nas através de um meio poroso (filtro) onde o material
indústrias, na coleta de cinzas em caldeiras a carvão e nas particulado é retido. A escolha do filtro depende do tipo
operações de refino de metais. de pó e do diâmetro médio das partículas. Os filtros
podem ser de diversas formas: sacos, mangas, painéis
Separadores inerciais lisos ou painéis ondulados.
A separação em equipamento de impacto
baseia-se na grande diferença entre a quantidade de alta eficiência (supera 93%)
movimento das partículas sólidas ou gotículas e a do gás. perda de carga não excessiva
𝑉𝑎𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑛𝑠
Devido a obstáculos nos equipamentos as partículas não resitente a corrosão
seguirão o caminho do gás caso esse mude bruscamente retenção de particulas pequenas
de direção. A trajetória das partículas será menos
curvada do que as linhas de corrente do gás, sendo fácil grande espaço requerido
⎧ alto custo
obrigá-las a atingir anteparos como chicanas ou material ⎪
poroso de enchimento. Dessa forma, por gravidade as manutenção periódica
𝐷𝑒𝑠𝑣𝑎𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑛𝑠
partículas chegarão aos pontos de descarga do ⎨baixa resistencia a altas T
equipamento. ⎪ empastamento
A eficiência desses separadores é maior ⎩ entupimento
comparada à de câmaras de poeira (50 a 70%). Para
aumentar o rendimento podem-se recobrir as chicanas mistura e pesagem de grãos
⎧moagem de pedra, argila e mineirais
com óleo não secativo ou água. ⎪
A grande vantagem destas unidades esta na 𝐴𝑝𝑙𝑖𝑐𝑎çõ𝑒𝑠 trituração de cimento
⎨ captação de poeira de moagem
maior adaptabilidade aos tubos e condutos que ⎪
quaisquer outros tipos de coletores. Podem ser usados ⎩ limpeza por abrasão
em temperaturas elevadas, mas não se a poeira ficar
pegajosa; nesse ultimo caso existe alguns tipos com Quando a concentração de sólidos é muito alta,
película circulante de água que operam mantendo usa-se, antes do filtro, um separador tipo inercial para
limpos os elementos coletores. As vantagens e reter as partículas maiores.
desvantagens das câmaras de poeira também podem ser
atribuídas aos separadores inerciais.
Lavadores de Gases
Os lavadores constituem uma classe de
equipamentos de remoção de poeiras e névoas de gases
em que um líquido, usualmente a água, é adicionado ou
circula para auxiliar o processo de coleta.
Nestes equipamentos, o gás contendo as
partículas sólidas é forçado através de uma aspersão de
gotas, que colidem com o material particulado,
74
AULA 10
SEPARAÇÃO DE SÓLIDO-LÍQUIDO E SÓLIDO-GÁS
75
AULA 10
SEPARAÇÃO DE SÓLIDO-LÍQUIDO E SÓLIDO-GÁS
usinas termoelétricas
⎧
⎪ fábricas de cimento
𝐴𝑝𝑙𝑖𝑐𝑎çõ𝑒𝑠 aciarias
⎨fundições de metais não ferrosos
⎪
⎩ fabrica de celulose
Ciclones
Nos ciclones o princípio de coleta é a utilização
da força centrípeta, que aplica sobre a partícula uma
aceleração varias vezes mais intensa que a força da
Figura 10.9 - Esquema de um separador tipo ciclone
gravidade, empurrando a partícula na direção das
paredes do ciclone, retirando-a do fluxo gasoso, como
pode ser visto na Figura 10.9.
O gás entrando tangencialmente no topo do
EXERCÍCIOS
ciclone cria um fluxo espiral descendente entre a parede
1. Diferencie a decantação da filtração.
e o duto de saída. Esta, chamada de espiral principal,
estende-se até a base do cone e retorna em movimento
2. Explique o conceito de velocidade terminal.
espiral ascendente interno. É a chamada espiral interna,
que se estende até o duto de saída, dando descarga ao
3. Relacione o aumento da velocidade de
gás limpo. As partículas sólidas em suspensão no ar,
sedimentação com a concentração de sólidos na
sobre efeito da força centrípeta, tendem a deslocar-se
suspensão a ser decantada, densidade do sólido,
para a película de ar junto às paredes do ciclone, saindo
diâmetro das partículas e a viscosidade do meio. O
pelo fundo do cone.
que você faria para aumentar tal velocidade?
76
AULA 10
SEPARAÇÃO DE SÓLIDO-LÍQUIDO E SÓLIDO-GÁS
GABARITO
6. Topo = 80,08 Kg/h , Fundo = 19,992 Kg/h
3.
77
AULA 11
SEPARAÇÃO GÁS/GÁS E LÍQUIDO/LÍQUIDO
SEPARAÇÃO GÁS/GÁS Características físicas e químicas da superfície –
determinante do tipo de interação da superfície
Os principais processos de separação de com o gás;
misturas de dois ou mais gases se resumem, Porosidade do sólido – influência na área superficial
basicamente, em liquefação, adsorção e absorção. do adsorvente. A porosidade (𝜀) do sólido é definida
como o volume dos poros ( 𝑉 ), isto é, espaços
Liquefação vazios, que dão passagem para o fluido em questão,
É um processo no qual os gases passam por uma em relação ao volume do sólido (𝑉 ).
diminuição de temperatura ou aumento de pressão, para 𝑉
que um ou mais deles seja liquefeito. Caso seja 𝜀=
𝑉
necessário, posteriormente, podem ser separados por Por isso ocorre o largo emprego de sólidos
destilação. porosos, que possuem uma grande área superficial por
Você pode analisar a influência da temperatura unidade de massa quando comparados aos sólidos
e da pressão na fase de uma substância através do comuns.
diagrama de fases, como o mostrado na Figura 11.1. Um dos primeiros adsorventes conhecidos e
mais usados atualmente é o carvão ativado. Ele é
produzido pela decomposição térmica controlada de
material orgânico (casca madeira, de coco, de arroz,
ossos de animais, etc.), seguida pela ativação, que tem a
finalidade de aumentar a área superficial e/ou conferir
determinadas propriedades, para facilitar a interação
com o fluído a ser adsorvido. O carvão ativado é
caracterizado como de baixo custo, alta porosidade (até
0,85) e alta área superficial (até 1200 m²/g).
Além do carvão ativado existem outros
adsorventes, dependendo da aplicação necessária. Por
exemplo: sílica gel, alumina ativada, peneiras
moleculares (zeólitas), etc.
Equipamentos
Esse processo normalmente é feito em
Figura 11.1 - Diagrama de fases do CO2.
equipamentos chamados de colunas de adsorção (ou
Adsorção adsorvedoras). Essas colunas são equipamentos que
O processo de adsorção consiste na interação possuem um leito de adsorvente pelo qual escoa o fluído
entre um dos gases com um sólido, normalmente que será separado.
poroso. Essa interação se dá no sentido do gás com maior Normalmente elas são colocadas em série, uma
afinidade pelo sólido (adsorvente) ficar aderido na após a outra, para aumentar a eficiência do processo e
superfície do mesmo, enquanto o outro gás continua na diminuir seu tamanho.
corrente. Esses equipamentos podem ser de leito fixo, que
nada mais é do que uma coluna, na qual, os sólidos
Adsorvente permanecem fixos e apresentam os espaços vazios
Como a adsorção é um processo de superfície, (porosidade), na qual o fluido, escoa através. A coluna de
isto é, ocorre apenas na superfície do sólido, é desejável adsorção pode ser também do tipo leito fluidizado, na
que o mesmo possua uma área superficial elevada. qual o sólido é movimentado com a passagem do gás,
Sendo assim, a adsorção depende essencialmente de dando a impressão de que os sólidos fazem parte da
dois fatores: corrente, mas permanecem dentro da coluna e não são
arrastados pelo fluido para fora da coluna. Para entender
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AULA 11
SEPARAÇÃO GÁS/GÁS E LÍQUIDO/LÍQUIDO
mais sobre escoamento em leito poroso volte na aula 09, tempo de vida útil de um filtro com capacidade para
lá foi explicado mais sobre leito fixo e leito fluidizado. adsorver no máximo 3000 g de CO? Considere a
densidade do CO igual a 1,15 kg/m³.
Balanço de Massa
O fluxograma deste processo pode ser visto na Sabemos que:
Figura 11.3. 𝑦 = 0,148
Portanto:
𝑦 = 1 − 0,148 = 0,852
𝐿
𝐹 = 300 . 0,852
𝑚𝑖𝑛
𝐿 𝑑𝑒 𝑎𝑟
𝐹 = 255,6
𝑚𝑖𝑛
Figura 11.3 - Fluxograma simplificado de uma coluna adsorvedora.
É possível ser feito o balanço de massa para o
Neste fluxograma F e S são as vazões de entrada CO, tomando o volume constante de ar como referência:
e saída, respectivamente, que podem ser dadas em
termos molares, mássicos ou volumetricos. 𝑥 .𝐹 = 𝑞 + 𝑥 .𝑆
Uma informação importante é a capacidade
máxima, qmax, quantidade máxima que um A quantidade de CO que entra pode ser
determinado adsorvente consegue reter de um determinada por:
componente da mistura. Normalmente, ela é dada em
função da massa adsorvida pela massa de adsorvente. 𝑔 𝑑𝑒 𝐶𝑂 𝐿 𝑑𝑒 𝑎𝑟 𝑚³
𝑥 𝐹 = 200 . 255,6 . =
𝑚 𝑑𝑒 𝑎𝑟 𝑚𝑖𝑛 1000 𝐿
𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑎𝑑𝑠𝑜𝑟𝑣𝑖𝑑𝑎
𝑞 =
𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑑𝑜 𝑎𝑑𝑠𝑜𝑟𝑣𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑥 𝐹 = 51,1 𝑔 𝑑𝑒 𝐶𝑂/𝑚𝑖𝑛
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AULA 11
SEPARAÇÃO GÁS/GÁS E LÍQUIDO/LÍQUIDO
Se isto ocorre, então: Balanço de Massa
Um fluxograma simplificado deste processo
48,5g → 1 minuto pode ser visto na Figura 11.4.
3000g → tempo ú l do adsorvedor
3000
= 61,77 𝑚𝑖𝑛
48,5
Absorção
A absorção se refere a um processo onde se
deseja remover um ou mais gases de uma corrente pelo Figura 11.4 - Fluxograma simplificado de uma coluna absorvedora.
contato destes com um líquido no qual são solúveis. O
componente transferido de uma fase para outra é O balanço de massa para o soluto pode ser
designado como soluto. escrito como:
𝑦 .𝐺 + 𝑥 .𝐿 = 𝑦 .𝐺 + 𝑥 .𝐿
Solvente
A escolha do melhor solvente é determinada Em que 𝐺 é a vazão de gás, 𝐿 a de líquido, 𝑦 é a
tanto pela maior solubilidade do composto que se deseja fração molar de soluto na fase gás e 𝑥 na fase líquida. Os
separar, como pela seletividade (solubilidade apenas do índices 1 e 2 se referem à entrada e a saída,
soluto que se deseja separar) e pela facilidade de separar respectivamente.
o solvente e o soluto. Observe que agora y e x referem-se a frações
Além disso, é desejável que o solvente não seja molar de soluto nas fases gás e líquido.
tóxico, nem inflamável, assim como não seja reativo. E, Esta equação nos diz simplesmente que a soma
claro, seja de baixo custo. das quantidades de soluto nas correntes de entrada é
igual a soma das quantidades de soluto nas correntes de
Equipamentos saída. Ou seja, a massa de soluto permanece constante,
Note-se que, similar à adsorção, esse processo não há acúmulo.
depende da área de contato entre o líquido e o gás.
Assim, é comum empregar-se colunas com recheio ou Exemplo 2. Devemos recuperar uma corrente de gás
coluna de pratos para aumentar o contato das fases. contendo 30% do composto A, em base molar, com uma
Essas colunas aumentam a área de contato, já vazão de 50 mol/s. Para isso, usa-se uma torre de
que o líquido molha a superfície do recheio e, assim, uma absorção que opera em contracorrente. A corrente
área superficial adicional é acrescentada. líquida entra a 190 mol/s e é composta apenas de um
Os recheios podem ser dos mais diversos tipos, outro composto B. Sabe-se que a corrente gasosa sai da
desde lascas de madeira e tijolos até recheios coluna com uma vazão de 100 mol/s de A e que a
estruturados. As principais características necessárias ao corrente líquida saí com 10% de A e vazão de 140 mol/s.
recheio são: a molhabilidade (o quanto o líquido é capaz Calcule a fração de A no gás de saída da coluna.
de molhar o recheio), a área superficial e a resistência
(química e física) do recheio. Além, é claro, de seu custo.
As colunas de pratos, por outro lado, se
beneficiam da área adicional das bolhas de gás formadas
em cada estágio (ou prato). Esse processo se assemelha
a várias colunas associadas em série.
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SEPARAÇÃO GÁS/GÁS E LÍQUIDO/LÍQUIDO
carvão) de 10 horas. Dado: área superficial do carvão
ativo = 1200 m²/g.
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SEPARAÇÃO GÁS/GÁS E LÍQUIDO/LÍQUIDO
1. Contribuição difusiva: transporte de matéria devido A destilação é o principal processo industrial de
às interações moleculares; separação de dois líquidos miscíveis, tendo importância
significativa nas mais diversas áreas, em especial, as
2. Contribuição convectiva: auxílio ao transporte de ligadas ao petróleo.
matéria como consequência do movimento do meio. Porém, nem sempre é possível empregá-la, já
que muitas misturas acabam por formar pontos onde
SEPARAÇÃO LÍQUIDO/LÍQUIDO ambos os líquidos evaporam à mesma temperatura, os
chamados pontos de azeotropia. Nestes casos, muitas
Os principais processos de separação de vezes é conveniente aplicar-se a extração por solventes.
misturas de dois ou mais líquidos são: a decantação, a Pela sua importância, o processo de destilação
centrifugação, a extração por solvente e a destilação será mais detalhado em aulas subsequentes.
(simples ou fracionada).
Extração por solvente
Decantação e Centrifugação É um processo complementar à destilação,
A decantação e a centrifugação são processos também empregado para líquidos miscíveis.
usados para líquidos imiscíveis, sendo baseados na Consiste, basicamente, em adicionar-se um
diferença de densidade destes. líquido estranho à mistura (solvente) que solubilize
Com a diferença de densidade dos dois líquidos preferencialmente um dos componentes (soluto) e que
há uma separação em duas fases, uma menos densa e seja pouco solúvel no outro (diluente) de modo a formar
outra mais densa. Assim, pela simples ação da gravidade, duas fases de líquidos. Nesta mistura bifásica, uma das
no caso da decantação, ou da força centrípeta, para fases, rica no solvente, é definida como Extrato, e a outra
centrifugação, podem ser separadas as fases. A Figura rica no diluente de Rafinado. A quantidade de Soluto no
6.1 mostra de forma simplificada este processo. extrato deve ser maior do que a do rafinado.
Posteriormente, da mesma forma que a decantação, as
fases são separadas por diferença de densidade.
Solvente
Um dos problemas chaves deste processo é a
escolha do solvente, já que ele pode apresentar
propriedades distintas, frente à mistura inicial. Pode ser:
1. Totalmente miscível com a solução, formando
uma solução homogênea;
2. Totalmente imiscível com a solução;
3. Parcialmente imiscível com a solução.
Essas tendências são determinadas pelo
equilíbrio termodinâmico entre os líquidos.
Para facilitar a visualização deste equilíbrio,
normalmente são usadas ferramentas gráficas,
Figure 11.6 - Processo simplificado de Decantação conhecidas como diagramas de equilíbrio
líquido/líquido. Estes diagramas facilitam visualizar se
existe imiscibilidade entre os pares de compostos.
Destilação Balanço de massa
O processo de destilação é empregado para
misturas de líquidos miscíveis, quando os dois primeiros O fluxograma simplificado pode ser visto na
processos não podem ser empregados. Baseia-se, em Figura 11.7.
essência, na diferença entre os pontos de ebulição dos
diferentes líquidos da mistura.
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AULA 11
SEPARAÇÃO GÁS/GÁS E LÍQUIDO/LÍQUIDO
a 3% no rafinado efluente. Considerando que a água e o
acetato são imiscíveis, qual será a vazão de solvente
necessária? Sabe-se que a solubilidade máxima do ácido
no acetato, nas condições dadas, é de 10%.
Obs: Considere a densidade da alimentação igual a da
água (1 kg/L) e que o Extrato sai livre de diluente.
𝐸𝑛𝑡𝑟𝑎 = 𝑆𝑎𝑖
Figura 11.8 - Coluna extratora do Exemplo 1.
𝐹+𝑆 =𝐸+𝑅
Com base nos dados fornecidos e na Figura 11.8,
Em que F é a vazão de solução alimentada
podemos fazer o balanço de massa para cada
(contendo o soluto), S é a vazão do solvente, M é a vazão
componente.
da solução resultante da mistura de F e S, E é a vazão do
extrato e R do rafinado.
Balanço de massa para a água (H2O):
ALIMENTAÇÃO (F) – Solução inicial contendo o soluto 𝑤 .𝐹 = 𝑤 .𝑅
, ,
SOLVENTE (S) – Solução usada para extrair o soluto
MISTURA (M) – Solução resultante da mistura de F e S 𝑘𝑔
EXTRATO (E) – Solução do solvente rico em soluto 0,6.200 = 0,97. 𝑅
ℎ
RAFINADO (R) – Solução de diluente pobre em soluto
𝑘𝑔
A conservação de massa também é válida para 𝑅 = 123,7
ℎ
cada um dos componentes individualmente, já que eles
não sofrem alterações químicas. Assim: Balanço de massa para o ácido acético (ác.):
𝑤 .𝐹 + 𝑤 .𝑆 = 𝑤 .𝑀 = 𝑤 .𝐸 + 𝑤 .𝑅 𝑤á , . 𝐹 = 𝑤á , . 𝑅 + 𝑤á , .𝐸
𝑘𝑔
Exemplo 1. Deseja-se extrair ácido acético de 𝑆 = 0,9.762,89
uma solução aquosa a 40%, que entra em uma extratora ℎ
numa taxa de 200 L/h, mediante adição de acetato de
𝑆 = 686,601 𝐿/ℎ
etila. A concentração de ácido acético deve ser reduzida
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AULA 11
SEPARAÇÃO GÁS/GÁS E LÍQUIDO/LÍQUIDO
EXERCÍCIOS
Ou seja, seriam necessários 686,601 L/h de
solvente para realizar a extração desejada. 1. Você precisa fazer uma extração com solvente de um
soluto S e possui a disponibilidade de adquirir um
Escolha do solvente dos três solventes abaixo.
Outras propriedades também devem ser levadas
em conta durante a escolha do solvente: 𝑲𝑫 𝜷
SOLVENTE A 1,0 4,0
SOLVENTE B 2,0 4,0
1. COEFICIENTE DE DISTRIBUIÇÃO (𝑲𝑫 ): SOLVENTE C 2,0 13,0
Mede a quantidade de soluto no extrato em
relação ao rafinado. Pode ser dado por: Qual destes solventes você selecionaria? Justifique.
𝑥 𝑛𝑜 𝑒𝑥𝑡𝑟𝑎𝑡𝑜
𝐾 = 2. Deseja-se extrair um ácido de uma solução aquosa a
𝑥 𝑛𝑜 𝑟𝑎𝑓𝑖𝑛𝑎𝑑𝑜
30% que entra em uma extratora numa taxa de 400
Quanto maior, menos solvente será necessário. Kg/h, mediante adição um solvente puro. A
concentração de ácido deve ser reduzida a 5% no
rafinado efluente. Considerando que a água e o
2. INSOLUBILIDADE (β): solvente são imiscíveis, qual será a vazão de solvente
Quanto mais insolúvel, melhor, já que é possível necessária? Sabe-se que a solubilidade máxima do
trabalhar em uma faixa maior de composições e não é ácido no solvente, nas condições dadas, é de 15%.
tão susceptível às variações no processo.
3. Um solvente puro qualquer possui um coeficiente de
3. FACILIDADE DE RECUPERAÇÃO: partição de 2. Esse solvente é usado para extrair um
Facilitar processos de recuperação do solvente soluto de uma corrente de 400 kg/h, com 80% em
para posterior reuso, com o intuito de diminuir gastos de massa do soluto. Deseja-se que o rafinado possua
solvente. Evitar a formação de azeótropos, que não uma concentração máxima de 5% do soluto. Se a
podem ser separados por destilação. extração for feita em uma única etapa, qual será a
quantidade de solvente necessária?
4. DENSIDADE:
A diferença de densidades é essencial para a GABARITO
separação das fases. Logo, quanto maior for, mais fácil
ocorre a separação.
1. Solvente C: maior Kd (menos solvente será utilizado) e
5. OUTRAS PROPRIEDADES: maior β (mais insolúvel, é possível trabalhar em uma
Não reativo, baixa viscosidade, alta temperatura faixa maior de composições.
de ebulição, baixo ponto de congelamento, etc.
2. E = 700,9Kg/h, R = 294,7 Kg/h, S =596,4 Kg/h
6. SEGURANÇA E CUSTO:
3. R = 84,21 kg/h , E = 3157,90 kg/h, S = 2842 kg
Não inflamável e não toxico.
E, preferencialmente, com baixo custo!
84
AULA 12
DESTILAÇÃO SIMPLES
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AULA 12
DESTILAÇÃO SIMPLES
vapor, assim, a vaporização e a condensação ocorrem à as (mesmas) duas fases de que partimos, a pressão fica
mesma velocidade. obrigada a variar de um valor determinado pelo
Note-se que o equilíbrio entre as fases, apesar de comportamento (T, P) da curva em questão; se a variação
receber este nome, não se refere a um estado estático. de pressão for diferente dessa deixará de se observar o
Mesmo no equilíbrio existe um fluxo de moléculas entre equilíbrio bifásico inicial, alcançando-se, no final, um
as fases. Porém, na mesma proporção e velocidade, ou ponto numa das regiões monofásicas adjacentes.
seja, no equilíbrio para cada molécula evaporada uma O ponto triplo TR corresponde ao equilíbrio
condensa. simultâneo de três fases (S+L+G). O ponto crítico C é o
A pressão no tal vaso fechado designa-se por ponto extremo da curva de vaporização. Uma
pressão de vapor (PV) e o seu valor é função da propriedade interessante observada no ponto crítico é
temperatura (T). Num vaso aberto para a atmosfera o que, fisicamente, à temperatura crítica, o menisco de
líquido entra em ebulição quando a pressão de vapor é separação das duas fases desaparece e as duas fases
igual à pressão ambiente (de 1 atm) que está exercida tornam-se indistinguíveis. Acima da temperatura crítica
sobre a superfície do líquido. O ponto de ebulição é e/ou da pressão crítica não pode observar-se equilíbrio
assim, o ponto especial da curva de vaporização de uma estável entre o líquido e o seu vapor. A região do
substância pura onde: T=TB e P=PV. diagrama correspondente a P>Pc e T>Tc é designada por
Na verdade a curva de vaporização é, em si região supercrítica e as substâncias nessas condições
mesma, uma sequência de pontos (T, PV) como se mostra chamam-se fluídos supercríticos.
na Figura 12.2.
DIAGRAMA DE FASES DE MISTURAS
BINÁRIAS SIMPLES
No caso de misturas, a linha de vaporização e de
condensação não são necessariamente coincidentes.
Isso porque a volatilidade dos compostos na mistura
normalmente é diferente.
Figura 12.2 - Diagrama (T, P) de uma substância pura. A volatilidade relativa de uma substância A e
outra substância B é definida como:
As superfícies S, L e G representam,
respectivamente, as regiões de estabilidade das fases 𝑦
𝑥
sólida, líquida e gasosa. SC é a região do fluído 𝛼 =𝑦
supercrítico. O ponto triplo é TR; C é o ponto crítico; as 𝑥
coordenadas (T, P) de cada um deles estão também Onde:
indicadas. As curvas representam as linhas de equilíbrio
das fases que as limitam. A curva de TR até C é a curva de yA e yB – Frações molares de A e B, respectivamente,
vaporização da substância e define o equilíbrio na fase vapor em equilíbrio com a fase líquida.
líquido/vapor desta. xA e xB – Frações molares de A e B, respectivamente,
Ao longo da curva de vaporização, ao fazer variar na fase líquida em equilíbrio com a fase vapor.
a temperatura de uma quantidade para que
continuemos a observar equilíbrio termodinâmico entre Ou seja, a volatilidade indica a relação entre as
frações na fase vapor (y) e na fase líquida (x).
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AULA 12
DESTILAÇÃO SIMPLES
Pelo fato desta relação normalmente ser aplicando-se a regra da alavanca no diagrama de fase.
diferente de 1, a representação geométrica do equilíbrio A regra da alavanca pode ser explicada considerando
líquido/vapor para misturas costuma ser feita em uma balança simples. A composição da liga é
diagramas pressão por composição (P, x, y) e/ou representada pelo apoio, e a composição das fases pelas
temperatura por composição (T, x, y). Na Figura 10.3 extremidades da barra. As proporções de fases presentes
apresenta-se um diagrama (T, x, y) esquemático de uma são determinadas pelos pesos necessários para
mistura binária. equilibrar a balança. O esquema ilustrado na Figura 13.4
pode facilitar a compreensão da regra da alavanca.
Assim,
𝐶 −𝐶
𝑓𝑟𝑎çã𝑜 𝑑𝑎 𝑓𝑎𝑠𝑒 1 =
𝐶 −𝐶
𝐶−𝐶
𝑓𝑟𝑎çã𝑜 𝑑𝑎 𝑓𝑎𝑠𝑒 2 =
𝐶 −𝐶
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AULA 12
DESTILAÇÃO SIMPLES
industrial, para purificar as correntes de processo diagrama (T, x, y) apresenta um ponto (ou região) de
(matérias primas ou produtos). coincidência entre as curvas de bolha e orvalho, similar
A separação por destilação só é possível se os às mostradas na Figura 12.6.
diferentes componentes da mistura a serem separados
tiverem volatilidades diferentes, ou seja, pontos de
ebulição diferentes em uma determinada pressão, o que
conduz a pressões de vapor diferentes para os vários
componentes da mistura.
A operação de destilação tem muitas e variadas
aplicações a nível industrial, mas a aplicação mais
conhecida é no Refino de Petróleo, na separação do
petróleo cru em frações de hidrocarbonetos com
diferentes gamas de peso molecular. Contudo, existem Figura 12.6 - Diagramas de misturas azeotrópicas.
muitos outros processos industriais que utilizam a Neste caso existe uma zona (mais ou menos
destilação, como, por exemplo, na produção de extensa) da curva em que a composição do líquido e
polímeros, nas indústrias de alimentos e fármacos, na vapor em equilíbrio são idênticas. Este tipo de mistura
reciclagem de óleos, na indústria de biocombustíveis, e recebe o nome de mistura azeotrópica.
até na dessalinização da água. Um azeótropo é uma mistura líquida que, para
O processo de destilação é uma operação pela uma determinada pressão, apresenta um ponto de
qual uma mistura (líquido ou vapor) é separada em duas ebulição constante que não varia com o grau de
correntes por fornecimento ou remoção de calor, ambas vaporização (tal como acontece com as substâncias
com composição diferente: uma rica nos componentes puras). Como tal, as composições do líquido e vapor em
mais leves, de menor ponto de ebulição, o destilado ou equilíbrio permanecem também constantes. Um
topo; e outra rica nos componentes mais pesados, de exemplo comum é o da mistura etanol/água. Esta
maior ponto de ebulição, o fundo. mistura apresenta um azeótropo para a composição de
A destilação baseia-se no fato de que quando se 89.4% de etanol e 10.6% de água (percentagens molares)
processa a vaporização parcial de uma mistura à pressão atmosférica. Por isso é que o álcool etílico
(aquecendo-a até a ebulição), produz-se um vapor mais comercial que usamos em casa tem uma composição
rico nos componente de menor ponto de ebulição do que muito próxima desse valor (não se consegue produzir
a mistura inicial (alimentação), enquanto que o líquido, álcool mais puro usando apenas uma coluna de
que em cada instante ainda se mantém no recipiente, vai destilação).
ficando cada vez mais rico nos componentes menos A separação por destilação, numa só coluna, no
voláteis, de maior ponto de ebulição (mais rico nesses ponto azeotrópico, é impossível, dado que não se
componentes do que a alimentação inicial e do que o consegue aumentar mais o enriquecimento do vapor no
vapor que é produzido na mesma altura). O vapor componente mais volátil, tal como se pretende na
produzido é normalmente condensado e, assim, no destilação fracionada. Contudo, existem estratégias para
processo de destilação obtêm-se duas correntes líquidas: separar por destilação misturas azeotrópicas,
o fundo, rico nos componentes menos voláteis, e o topo recorrendo a sistemas de da variação de pressão a que
condensado (destilado), rico nos componentes mais cada coluna opera para driblar este inconveniente, ou
voláteis da mistura inicial. ainda é mais comum na indústria recorrer à separação
através de extração com solvente.
MISTURAS AZEOTRÓPICAS
De um modo geral as misturas que queremos
separar por destilação são mais complexas do que as
misturas binárias (A+B) descritas na Figura 10.3. Assim,
podemos, por exemplo, ter misturas em que o
88
AULA 12
DESTILAÇÃO SIMPLES
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AULA 12
DESTILAÇÃO SIMPLES
GABARITO
1. Etanol 0,5 topo; 0,15 fundo
3. PB 355°C; PO 365°C
6. a) líquida
b) líquida
c) Em Equilíbrio líquido vapor -fase liquida e gasosa
ao mesmo tempo; L = 0,26 V = 0,74
90
AULA 13
DESTILAÇÃO FRACIONADA
INTRODUÇÃO
Nesta aula será abordado o estudo dos princípios
fundamentais do processo de destilação fracionada.
Inicialmente estudaremos em quais situações este
método deve ser aplicado e como opera uma coluna de
fracionamento. Em seguida, analisaremos dos principais
tipos físicos de colunas de destilação e suas aplicações.
Vale ressaltar que a destilação fracionada pode ser
considerada um dos principais motores da indústria
petrolífera, uma vez que esta operação é responsável,
pela separação dos componentes do petróleo, sendo a
primeira unidade no processo de Refino. Na Unidade de
Destilação as colunas fracionadoras são mais complexa
Figura 13.1 - Diagrama de temperatura em função da composição a
pois possui produtos laterais, não somente o destilado e pressão constante.
o resíduo, mas isso não será discutido nesta aula.
O tempo e o trabalho requeridos para o
DESTILAÇÃO FRACIONADA fracionamento por batelada torna o processo
contraproducente. Por isso, este método é substituído
Este procedimento é realizado quando não é por um método contínuo, no qual se usa uma coluna de
possível fazer uma separação via destilação simples, pois fracionamento (Figura 13.2). Este equipamento é
os componentes da mistura apresentam pontos de constituído por seções ou pratos onde ocorrem as
ebulição muito próximos. microdestilações, ou seja, é como se fosse a junção de
O procedimento é realizado através de uma várias destiladoras simples sucessivas.
coluna de fracionamento que cria várias regiões de
equilíbrio líquido-vapor, acarretando uma série de Mecânica da coluna de fracionamento
microdestilações sucessivas, tornando, assim, possível o A coluna é aquecida em sua parte inferior e ao
enriquecimento da parte vaporizada com as substâncias longo de todo o equipamento forma-se um gradiente de
mais voláteis. temperatura decrescente da base ao topo. Suponha que
Suponha que, durante um processo de a temperatura no topo da coluna seja T7 e o vapor
destilação, a temperatura de uma mistura binária M seja recolhido nesta região esteja em equilíbrio com o líquido
elevada até que parte do material esteja presente como existente no prato número 7 (Figura 13.2). As
vapor e a outra como líquido (Figura 13.1). A composição composições do líquido e do vapor nesta região podem
do vapor é v e a do líquido é L. O vapor é removido e ser identificadas na Figura 13.1 por L’’’ e v’’’. No prato
condensado, formando um destilado D que, por sua vez, seguinte, número 6, a temperatura é T6, ligeiramente
é aquecido até que determinada quantidade evapore. A superior à T7. Nesta região a composição do líquido e
composição do vapor é v’ e a do líquido é L’. O vapor é vapor pode ser representada por L’’ e v’’. Isto se repete
removido e condensado; obtemos um destilado D’ que por todos os pratos da coluna. O vapor sobe pelo
também é aquecido até que metade evapore. As equipamento e vai resfriando; devido a esse
composições do vapor (v’’) e do líquido (L’’) estão resfriamento o componente menos volátil condensa
indicadas no diagrama da Figura 13.1. Esse preferencialmente e, com isso, o vapor se torna cada vez
procedimento é repetido até a obtenção de um destilado mais rico no componente mais volátil enquanto sobe
quase puro do líquido mais volátil e um resíduo pela coluna.
constituído do líquido menos volátil quase puro.
91
AULA 13
DESTILAÇÃO FRACIONADA
OPERAÇÃO DA COLUNA DE
FRACIONAMENTO
Como dito anteriormente, uma coluna de
destilação fracionada é constituída por um recipiente
cilíndrico dentro do qual se encontram pratos internos
nos quais circulam vapor e líquido em contracorrente. As
Figura 13.2 - Coluna de fracionamento. DRS.
duas fases presentes em cada andar sofrem
A ascensão do vapor e a queda do líquido pelo transferência de massa e calor e assume-se que se
equipamento levam a uma redistribuição dos dois encontram em equilíbrio ao deixarem cada estágio.
componentes entre as duas fases, líquido e vapor, para A mistura a ser destilada é introduzida na coluna
estabelecer o equilíbrio em cada posição (temperatura) através ponto de alimentação (Figura 13.3). No seu
da coluna. Essa redistribuição deve ser rápida para que interior, a mistura descenderá até atingir a base da
exista, de fato, o equilíbrio em qualquer posição. A fim coluna onde será aquecida através de um refervedor.
de garantir o contato eficiente entre o líquido e o vapor, Este dispositivo é um trocador de calor que aquece a
a coluna de destilação pode apresentar diversas mistura até atingir sua temperatura de ebulição. Neste
variantes físicas, como recheios e pratos perfurados. ponto, a mistura emitirá vapores que se moverão em
É interessante notar que se certa parte da coluna sentido ascendente através da coluna, em
é mantida a uma temperatura particular, no equilíbrio, a contracorrente com a mistura da alimentação. Ao longo
composição do líquido e do vapor possuem valores do percurso na torre parte do vapor é condensado até
correspondentes àquela temperatura. Como o sistema atingir o topo. Nesta região ele é direcionado a um
encontra-se a pressão constante, consequentemente, condensador onde sofre liquefação.
fixando-se a temperatura em cada posição da coluna, Na base do equipamento, a mistura, isenta de
fixa-se também a composição do vapor e do líquido no componentes mais voláteis, deixa a coluna como
equilíbrio em cada ponto da destiladora. produto residual.
Na prática, o equilíbrio não se estabelece em Para otimizar a separação das frações desejadas,
cada estágio da coluna, pois em qualquer posição o realiza-se o retorno de parte do destilado na forma de
vapor tem composição em equilíbrio com o líquido de refluxo. Isto enriquece o topo da coluna com produtos
posição ligeiramente inferior. Se a distância entre estas mais voláteis, melhorando a pureza do produto
duas posições é H, diz-se que a altura H corresponde a destilado.
um prato teórico. O número de pratos teóricos da coluna
depende da sua geometria, do tipo de arranjo do
material de enchimento, da maneira pela qual é operada
a coluna, da pureza desejada do produto de interesse,
etc. Vale ressaltar que o número de pratos de operação
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AULA 13
DESTILAÇÃO FRACIONADA
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AULA 13
DESTILAÇÃO FRACIONADA
conforme a mistura que se deseja separar. Os pratos são Coluna com pratos perfurados
constituídos por borbulhadores, tubos de ascensão e Neste tipo de coluna os pratos com
tubos de retorno (Figura 13.5). borbulhadores são substituídos por pratos dotados de
perfurações, cujo diâmetro varia entre 0,8 e 3 mm. O
funcionamento é idêntico as colunas que funcionam com
pratos com borbulhadores (Figura 13.7).
Figure 13.6 - Escoamento de líquido através dos prastos. Figure 13.8 - Recheios de colunas de destilação.
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AULA 13
DESTILAÇÃO FRACIONADA
Os recheios, além de serem molháveis e restabelece, vence a perda de carga no prato de forma
resistente à tensão e a altas temperaturas, devem brusca gerando pulsações no interior do sistema.
apresentar elevada resistência à corrosão, razão pela
qual são, geralmente, de cerâmica ou de aço inoxidável. Vazamento de líquido
Dependendo da temperatura do processo também É o fenômeno de passagem de líquido da
podem ser utilizados plásticos de alta resistência bandeja superior para a inferior através dos orifícios de
mecânica. Para que os recheios não sofram compactação transporte ascendente de passagem de vapor. Isto
devido ao peso que a estrutura possa apresentar eles são ocorre quando a vazão de vapor é baixa e a vazão de
fixados na coluna sobre suportes de sustentação. líquido é excessivamente alta.
As torres com recheios apresentam algumas
vantagens em relação às torres com pratos, tais como: Inundação (via downcomer)
A inundação ocorre quando o nível de líquido do
O projeto da coluna torna-se economicamente mais tubo de retorno de um prato atinge o prato superior. Isto
competitivo devido ao baixo custo de construção. ocorre quando a vazão de líquido é muito alta e o tubo
A maioria dos recheios apresenta reduzida perda de de retorno não consegue conter o fluido.
carga.
Os recheios não estão sujeitos à formação de Inundação
espuma, as quais prejudicam a troca de massa e Esse tipo de inundação ocorre quando a vazão de
calor. vapor é muito elevada e a de líquido é muito baixa,
ocasionando o arraste de líquido para pratos superiores.
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AULA 13
DESTILAÇÃO FRACIONADA
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ANEXO
Propriedades da água saturada (líquido e vapor), entrada de temperaturas.
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Propriedades da água saturada (líquido e vapor), entrada de temperaturas. (continuação)
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Propriedades da água saturada (líquido e vapor), entrada de pressões.
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Propriedades da água saturada (líquido e vapor), entrada de pressões. (continuação)
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