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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICNO DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

LICENCIATURA EM ECONOMIA

EXERCÍCIO DE APLICAÇÃO DE CONHECIMENTOS

Helmer Pimenta

20171742

TURNO: Tarde

LUANDA

2023
EXERCÍCIO DE APLICAÇÃO DE CONHECIMENTOS

Trabalho da cadeira de Economia de Angola,


apresentado no Departamento de Ciências Sociais
Aplicadas (DCSA) do Instituto Superior
Politécnico de Tecnologias e Ciências (ISPTEC),
equivalente ao Exame Final da disciplina, do 4°
ano do curso de licenciatura em Economia.

Professor: Carlos Lopes

LUANDA

2023

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Índice

1. A Primeira República e os seus diferentes períodos e respectivas características, a


evolução da articulação entre si, as dimensões internas, regionais e internacionais, e os
principais resultados nos planos económico, social e político.................................................4
2. Os 2 períodos do colonialismo português em Angola: 1920-1961 e 1961-1974, os
respectivos modelos de exploração colonial em curso, as suas características, semelhanças
e diferenças.................................................................................................................................7
3. O estado de situação da diversificação da economia em Angola vias possíveis para a
sua concretização, considerando os limites e constrangimentos associados à saúde
económica e financeira do país..................................................................................................9

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1. A Primeira República e os seus diferentes períodos e respectivas
características, a evolução da articulação entre si, as dimensões internas,
regionais e internacionais, e os principais resultados nos planos económico,
social e político.

A Primeira República começou com a independência em novembro de 1975 e durou até


as primeiras eleições em setembro de 1992. Segundo Menezes, as circunstâncias
socioeconômicas deste período foram influenciadas por dois fenómenos ocorridos antes
e depois da independência e também um pouco depois das eleições de 1992. Primeiro, o
êxodo ocorrido antes de 1975 causou o colapso total da economia por falta de recursos
humanos qualificados e instalações fabris danificadas ou inexistentes. Segundo, a guerra
civil que acabou orientando de fato a política econômica.

Ferreira também olha para ação política na altura, ao relevar o I Congresso


Extraordinário do MPLA/PT em Dezembro de 1980, o II Congresso de 1985, e o I
Congresso do MPLA em Dezembro de 1997, como pontos na história que determinriam
o rumo do país. Esses três pontos ocorreram em dois períodos distintos: o primeiro, de
1977 a 1983, misturou o modelo latino-americano de substituição de importações com o
modelo socialista clássico. Os dois últimos congressos constataram que a recuperação
econômica fracassou, pois a produção doméstica caiu para níveis muito baixos nesse
período, levando a maior parte dos recursos cambiais à compra de matérias-primas e
bens de consumo. A manufatura não é propícia à obtenção de equipamentos e outros
meios de produção necessários para o arranque da economia nacional. Além disso, a
guerra torna a defesa nacional um setor prioritário, segundo a lógica político-militar. O
segundo período foi marcado pela queda do preço do barril de petróleo nos mercados
internacionais no início dos anos 1980, que somada às 2 circunstâncias que se
prolongaram a partir do primeiro período, ajudou a identificar deficiências na política e
na gestão econômica. Este período olha mais para as exportações, formalizado pelo
Plano Global de Emergência de 1983, contrariando as conclusões do Congresso de
1980, por determinar que a política económica devia ser reajustada e estaria
subordinada aos superiores interesses da Defesa durante a segunda metade da década de
80. A economia baseada exportação petrolífera impera em Angola até aos dias actuais,
que começou nos anos 50. O petróleo começa a ter importância para a economia na
década de 50 e assume a posição de elemento mais importante nas exportações desde

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1973, sendo um sector que não passou pelo mesmo êxodo pelo qual passaram a
agricultura e a indústria transformadora.

Mesmo sob a ideologia de gestão estatal socialista, a indústria do petróleo depende mais
de recursos externos e as empresas estrangeiras têm meio século de direitos de
exploração. Apostar na exploração de petróleo com a URSS não fazia sentido
estratégico porque a URSS não tinha um bom preço no mercado internacional de
petróleo. Há pouca nacionalização de empresas estabelecidas, pois isso levaria a um
maior conflito ou danos liquidados com os países ocidentais. É também estratégico
manter estas empresas em terra devido aos seus equipamentos de exploração, que
permitem a Angola manter-se competitiva no mercado internacional. Mais importante
ainda, as receitas da exploração de petróleo atuaram como um elemento de
financiamento para as despesas dos Estados nascentes cujas economias foram
devastadas, bem como suprimentos militares para os governos em tempos de conflito
armado.

Hodges fala da informalidade na economia como resposta às distorções económicas que


dificultavam vida da população em geral, que teve início na década de 1980 com o
regresso dos refugiados bacongos. Os mercados surgem para mitigar a situação caótica
que se havia criado pelo desemprego e fome, resultados da deterioração da situação
económica e social do país, o difícil acesso às divisas que a maior parte das pessoas
enfrentava para permitir trocas com o exterior e a própria dificuldade que existia numa
troca com o exterior. Surgem também, por outro lado, como resposta à leitura do
cenário de necessidades que os recém regressados tiveram da realidade encontrada.
Segundo Menezes, que também abordou este assunto, os dirigentes públicos
inicialmente tentaram combater. No entanto, pararam porque facilitava a obtenção de
certos bens e foi uma forma encontrada por eles para desviar bens públicos e vendê-los
nesses locais. Foram implementadas reformas económicas em 1987 através do
Programa de Saúde Económica e Financeira (SEF) que visava a redução da extensão da
intervenção governamental e o peso do sector público na economia. Era oportuno
porque, segundo o ex-presidente de Angola José Eduardo dos Santos, a economia
angolana vivia na altura uma deterioração do poder de compra dos salários, baixa
produtividade laboral, insuficiência de activos das empresas estatais, défice de OGE, e
com a incapacidade da banca em reembolsar o capital emprestado e o capital externo. O
aumento da dívida pública, somados aos efeitos da guerra não afectavam apenas a
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agricultura, mas também a produção industrial e mineira e a economia, devido às
enormes restrições à livre circulação de pessoas e bens e à má gestão macroeconómica
nas primeiras fases da transição - passou da auto-suficiência na produção agrícola em
1973 para 1994 e em 1995 contou com ajuda humanitária para alimentar a população.
Essas carências foram acompanhadas por moral baixa, disciplina desordenada e
desorganização.

Em vista do cenário na altura, em 1992 o Banco Mundial propôs o seguinte conjunto de


medidas: ajustamento limitado da taxa de câmbio; redução do défice orçamental e
correspondente diminuição do financiamento inflacionário; um programa para a
reestruturação das empresas públicas através da privatização e liquidação; uma reforma
do sector financeiro através do incentivo ao estabelecimento de bancos comerciais e
garantia de maior acessibilidade ao crédito para o sector privado; e a limitação dos
controlos de preços a bens essenciais seleccionados.

A fase inicial do plano correspondia à recuperação económica, com o Programa de


Recuperação Económica (PRE) para 1989-1990. A segunda fase correspondeu a uma
maior liberalização (de um modo geral dos preços e taxa de câmbio), o que levou a
aprovação do Programa de Acção do Governo (PAG) em 1990, sem serem executados
como aponta o Banco Mundial por falta de consistência. Essas inconsistências têm
origem em aspectos muito mais relacionados à fraca capacidade de gestão económica,
face à dimensão das tarefas a desempenhar, sim para os modestos salários pagos à
época, que desmotivavam os funcionários, para a falta de estatísticas necessárias a uma
boa gestão macroeconómica, bem como bem como a existência de operações fora do
orçamento para abordar aspectos militares e de segurança. No nível mais alto, houve um
fraco compromisso com algumas reformas ou mesmo intervenções presidenciais que
visavam minar ou reverter as reformas.

O FMI revelou fragilidade e vulnerabilidade em instituições chave para a


implementação da política económica, o MinFin e BNA, para além da existência de
grupos de interesse e clientelismo com o Estado. Aspectos que levaram à indisciplina
financeira e orçamentária, má coordenação dos programas macro e microeconômicos,
má gestão das grandes empresas estatais, fraude e corrupção, intervenções de outros
órgãos da administração estadual nas finanças do estado, falta de consenso social, falha
nas medidas de melhoria o estado da administração do estado, o que diminuiu a

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credibilidade externa do governo. Durante a Primeira República, houve uma transição
ligada por frequentes mudanças de direção que levaram a períodos alternados de
reformas e contra-reformas e a um grande número de programas sem coordenação
política adequada e cheios de falhas por falta de coerência nas medidas, falta de uma
abordagem integrada ou conectada e falta de sincronização. Como exemplo, as
desvalorizações posteriores não foram acompanhadas de controle fiscal, justamente por
isso contribuíram para a aspiração inflacionária. Por outro lado, verificou-se que as
deficiências fiscais estavam intimamente relacionadas com o problema das operações
extra-orçamentais, que dificultavam a transparência das finanças públicas e dificultavam
muito a implementação ou o monitoramento de uma política fiscal coerente.

2. Os 2 períodos do colonialismo português em Angola: 1920-1961 e 1961-


1974, os respectivos modelos de exploração colonial em curso, as suas
características, semelhanças e diferenças.

Segundo Menezes, desde cerca de 1910 até pouco antes da independência das colônias
africanas, Portugal foi um dos países mais atrasados (estagnação econômica) entre os
países europeus que iniciaram o processo de colonização em todo o mundo. Isso a levou
a permanecer presa às suas colônias como um mecanismo que alimenta a metrópole,
mostrando sua dependência desses territórios e vivendo em um círculo vicioso e
contraproducente. Aspectos que levam o autor a rotular o colonialismo português de
parasitário, o que levou a metrópole a celebrar o pacto colonial com Angola,
considerando que entre 1920 e 1960, Angola foi apenas um fornecedor de matérias-
primas, uma economia operacional, um mercado para a indústria transformadora e o
vinho metropolitano e a relação comercial além das fronteiras do país se concretizava
apenas com a metrópole. Diferente das suas congêneres, a acumulação de metais
resultantes do mercantilismo foi investida em áreas não produtivas como para a
cobertura das importações e manutenção da corte.. 60% da sua população vivia da
agricultura e 80% das suas exportações eram de produtos primários. O sistema agrícola
com características de um feudalismo tardio, tendo assim a força produtiva menos
rentáveis da Europa Ocidental, o sistema político mais atrasado comparativamente às
potências do velho continente e dependendo da Inglaterra como o único parceiro
externo.

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Segundo Adeline Torres, de 1961 até a década de 1970, houve mudanças na política
colonial portuguesa com ênfase em Angola, a fim de atender às exigências da integração
econômica de Portugal na Comunidade Econômica Europeia, com a ideia de apresentar-
se à competição europeia e mundial como um império que poderia servir de plataforma
giratória. Em consequência, teve de se redigir um novo Pacto, que previa a
deslocalização das indústrias do espaço económico português para a colónia, permitindo
uma espécie de industrialização e concentração do capital altamente concentrado na
indústria mineira, e expansão bancária com as seguintes características: deslocamento
das indústrias metropolitanas para a colônia; abrir a colônia para receber investimentos
nacionais e estrangeiros; grandes investimentos em infraestrutura econômica;
diversificação da produção nacional; e expansão bancária.

A metrópole foi obrigada a aproximar-se aos capitais externos para que conseguisse
fazer a transição. A industrialização e o crescimento bancário de Angola deu-se às custa
daquilo a que Solival Menezes chama de paradoxo português: dominação internacional,
ou seja, a dependência crescente e transitiva do país aos capitais externos. A economia
deAngola começou a conhecer novos contornos, o território nacional foi aberto aos
investimentos nacionais e estrangeiros. De 1959-64 e 1968-73 foram criados os II e III
Planos de Fomento, o que permitiu a Angola consagrar grande parte dos invsetimentos
previstos às infra-estruturas económicas de transportes, comunicação, indústrias
extractivas e indústrias de transformação. Progressivamente as exportações de ferro e de
petróleo ocuparam lugares cimeiros ao lado dos tradicionais produtos como o café, o
sisal e o diamente. No sentido inverso as importações de equipamentos era uma
realidade.

A produção nacional diversificou-se, a banca expandiu-se e o capital deu fortes sinais de


concentração em vários setores. Entre 1962-68, a taxa de crescimento da indústria
mineira quase que triplicou (quase 30% ao ano), com maior destaque para o ferro, que
registou um crescimento de 702% e os diamantes que cresceram 153% (um dos os
quatro maiores produtores mundiais). Em 1968 e 1969, as vendas de ferro dobraram e
as vendas de petróleo quadruplicaram (esta última cresceu 10% de 1960 à 1972 e em
1974 já contribuía com 30% das receitas em divisas, superando o café). Um sector
inexistente ou muito débil em 1962 (metal e produtos metálicos) contribuiu para o
crescimento de Angola já em 1972. A produção de café, que já representava 30% das
receitas cambiais na década de 1950, registou o seu crescimento 1960 e 1974. No ano

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da libertação do território nacional, o sector secundário nacional na África subsaariana
era um dos mais desenvolvidos e produzia, entre outros, tabaco, cimento, cerveja,
transformação de produtos agrícolas, têxteis, vidro, papel, tintas , alfaias agrícolas, pasta
de papel, etc. Quanto ao sector bancário e financeiro, em 1960 só funcionava o Banco
de Angola, mas até 1968 já existiam 19 bancos no país. Consoante os acordos que
Portugal celebrava, instalavam-se sucursais de empresas multinacionais em diferentes
ramos: química, metalurgia, petróleo, eletrónica e confissões. Cerca de 53% dos capitais
que circulavam na metrópole e posteriormente em Angola eram estrangeiros. Em 1973,
o fluxo de capital estrangeiro estava assim distribuído: EUA com 14%, Alemanha com
48%, Grã-Bretanha com 32% e França com 6%.

3. O estado de situação da diversificação da economia em Angola vias


possíveis para a sua concretização, considerando os limites e
constrangimentos associados à saúde económica e financeira do país.
O sistema de economia em Angola ainda permanece muito dependente da exportação
petrolífera, que se mantêm como a maior fonte de receita do país, no mercado
internacional. No entanto, o potencial angolano nos sectores não petrolíferos é sabido há
muito tempo, como nos sectores mineiros, e principalmente no da agricultura.

As limitações actuais para a diversificação em Angola, seja por sector ou por região
económicos, são consequências de acontecimentos e fenômenos históricos já estudados
sobre o trajecto da economia no nosso país, como o êxodo rural muito impulsionado
pela guerra civil em todo o país, e o lado informal da actividade comercial no país, que
têm sido mitigadas ao longo das décadas, mas longe de ser eliminadas. A título de
exemplo, as infra-estruturas que promovem o crescimento ainda estão aquèm do nível
desejado (pode-se considerar o estado das infra-estruturas rodoviárias tão necessárias
para o escoamento de produtos agrícolas dos campos rurais à cidade como um exemplo
específico), o nível de educação e qualidade de capital humano continua
desproporcional quanto à necessidade tanto sectorial quanto regional por trabalhadores e
empreendedores qualificados, e tanto o sistema fiscal como o financeiro ainda têm
dificuldade de cumprirem os seus deveres com um mercado cuja actividade económica
continua acontecendo na informalidade. A cultura da dependência à importação de bens
e serviços que poderiam ser produzidos internamente também retardam o processo de

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diversificação por não incentivar a procura e a oferta destes mesmos bens e serviços na
perspectiva doméstica.

Para viabilizar a diversificação no país, é coerente pensar em reduzir as assimetrias


regionais e isso passa pela promoção do crescimento económico em vários pontos do
território angolano. A criação de polos de crescimento e desenvolvimento económico
em diferentes zonas do país servirá como factor de catalisador das potencialidades
económicas das mesmas. O sistema fiscal e o sistema bancário podem acelerar o
empreendedorismo e melhorar o ambiente de negócio por incentivos fiscais, e a
facilitação de concessão de créditos ao investimento, respectivamente, e ainda mais para
projectos realizados em sectores chaves não-petrolíferos, como o da agricultura. A
gestão transparente e a boa governação do património público, investindo em gastos
públicos em infra-estruturas e instituições tão necessárias para a actividade económica
diversificada à volta do país também contribuirá para este processo.

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