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SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 12(1) 1998

MUDANÇAS NA NEGOCIAÇÃO SINDICAL


NOS ANOS RECENTES

ANTONIO PRADO
Economista, Professor Universitário e Coordenador de Produção Técnica do Dieese

O mundo do trabalho vem passando por um intenso


processo de mudanças, sob os efeitos da transição
de padrões de acumulação desde o início dos anos
70. Com o esgotamento do padrão de acumulação fordista,
ciou-se em 1977-78, com as campanhas salariais pela re-
composição das perdas no poder aquisitivo (Jornal da
Tarde, 06/09/77), provocadas tanto pelas políticas sala-
riais criadas a partir de 1964, que indexavam de forma
entra em declínio uma ordem social em que os sindicatos imperfeita a remuneração dos trabalhadores, como pelas
formavam junto com o Estado keynesiano uma rede de pro- manipulações dos índices oficiais de inflação (Jornal do
teção ao emprego e à renda (Jessop, 1995). Ao mesmo tem- Brasil, 22/08/77).
po em que se redefine, sob intenso conflito, o modo de regu- Como o período era ainda de forte crescimento da eco-
lação das economias ocidentais, emergindo com força as teses nomia brasileira, apesar das políticas econômicas contra-
neoliberais, hegemônicas por mais de duas décadas (An- cionistas adotadas em 1977, a questão salarial era ponto
derson, 1995), também é redefinido o modelo de organização prioritário na agenda sindical, como viria a ser nos anos
do trabalho (Coriat, 1994). Esse processo ocorre principalmente 80, por outros motivos que serão tratados mais adiante.
nos países protagonistas do capitalismo contemporâneo. No en- A agenda sindical, no que se refere às questões de natu-
tanto, através do processo de inserção subordinada dos reza econômica, permaneceu centrada na questão salarial,
países subdesenvolvidos na globalização e do papel das mas, a partir de 1979, sofreu derivações, em função da cria-
empresas transnacionais como difusoras de novas tecno- ção da Lei no 6.708/79, que pela primeira vez, desde o início
logias e inovações organizacionais, tanto o modo de re- do período autoritário, abria a possibilidade, na política sa-
gulação pós-fordista quanto o modelo de organização do larial, de serem realizadas negociações entre capital e traba-
trabalho vão se difundindo além das fronteiras da Europa lho. O tema da negociação era a produtividade.
e dos Estados Unidos. O conturbado início dos anos 80 esvaziou esse ponto
O modelo de organização de trabalho pós-fordista, ca- da agenda sindical, pois a crise da dívida externa já se
racterizado em sua dimensão tecnológica pela informática e manifestava de forma clara. Em dezembro de 1979, foi
automação microeletrônica e, em sua dimensão organizacio- realizada uma maxidesvalorização do cruzeiro, que do-
nal, pela produção enxuta (lean production), aos poucos vai brou o patamar da inflação e, já no segundo semestre de
sendo adotado no Brasil, bem como o modo de regulação 1980, foram adotadas medidas econômicas contracionis-
socioeconômico. Esta nova forma de produzir e (des)regular tas, que provocaram, nos primeiros dias de 1981, a pri-
a economia cria um ambiente adverso de relações de traba- meira grande crise no emprego desde o chamado “mila-
lho, abrindo espaço para uma agenda sindical mais comple- gre econômico”.
xa em sua variedade temática e volátil em seus resultados. Inaugurava-se uma longa era de estagnação econômi-
ca, interrompida por períodos breves de crescimento do
SURGIMENTO DA AGENDA DE LONGO PRAZO PIB, sempre ancorados na ocupação da capacidade ocio-
sa. As políticas econômicas de stop and go nunca foram
A reorganização do movimento sindical, após os pe- capazes de sinalizar um retorno da estabilidade necessá-
ríodos mais duros da repressão do regime autoritário, ini- ria para a realização de investimentos de expansão da

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capacidade produtiva. O tema da produtividade, portan- ceiro e do sistema industrial. Isto deveu-se, basicamente,
to, não se coadunava com a conjuntura de estagflação. aos mecanismos de indexação que, se por um lado impe-
No entanto, esse tema chamava a atenção do movimen- diam uma depressão econômica, por outro mantinham a
to sindical para a questão da organização do trabalho. A inflação em rota de crescimento. As políticas salariais fo-
revolução provocada pelo paradigma tecnológico da mi- ram mais de 26 (Dieese, 1991), invariavelmente formula-
croeletrônica, já em clara difusão nos países industriali- das dentro de um arcabouço de política econômica que
zados da OCDE, notadamente o Japão, não poderia pas- tinha os salários como variável de ajuste e, portanto, res-
sar desapercebida, bem como o fato de que, mais cedo ou tringindo seu crescimento real. As lutas sindicais reivin-
mais tarde, esse paradigma viria a se difundir também no dicavam melhorias salariais, que sempre se revelavam com
Brasil. Não se sabia ainda a profundidade da crise em que efeitos positivos, mas transitórios, basicamente nos mo-
o país estava entrando e tampouco a sua duração. Em um mentos de go das políticas de stop and go.
país acostumado com taxas médias de crescimento de 7% A ação sindical ultrapassou o âmbito das relações ca-
ao ano, no período de 1946 a 1980, parecia pouco prová- pital e trabalho, adquirindo um contorno institucional mais
vel para os atores sociais que as políticas de ajustamento amplo, pois, principalmente após a Constituição de 1988,
externo resultassem em uma catástrofe da dimensão da intensificaram-se os embates em relação às políticas sa-
que veio a ocorrer. A expectativa era a de que os investi- lariais no Congresso Nacional. A partir desse momento,
mentos retornariam, e já incorporando o novo paradigma começava a ficar claro que os problemas do mundo do
tecnológico e que, portanto, o tema da reestruturação in- trabalho não poderiam mais ser resolvidos no espaço cor-
dustrial seria parte necessária da nova agenda sindical. porativo, que a inflação tinha causas complexas e que
De fato, isto veio a tornar-se realidade na década de reformas estruturais seriam necessárias para debelar o
80 devido aos efeitos das políticas de ajustamento exter- processo inflacionário. Isto evidenciou-se particularmente
no e não em função da mudança tecnológica, que adqui- após 1990, quando o novo governo eleito propunha uma
riu um padrão de adoção pontual, em pontos de estrangu- ampla agenda de reformas, porém muito além de sua ca-
lamento do processo produtivo, a partir de investimentos pacidade de articulação no Congresso Nacional.
de reposição-modernizadora e não de expansão (Prado, Temas como abertura da economia, privatização, com-
1989). Se 1981 foi um ano de ruptura com o padrão de petitividade internacional, Mercosul, reestruturação indus-
crescimento anterior, 1983 veio consolidar o cenário, prin- trial, câmaras setoriais, reforma administrativa do Esta-
cipalmente após a quebra do México, quando se interrom- do, flexibilização dos direitos trabalhistas passaram a ser
peu o fluxo voluntário dos capitais que financiavam os debatidos. Isso implicava o surgimento de um novo espa-
déficits de transações correntes dos países do Terceiro ço lingüístico, ao qual tanto assessores quanto lideranças
Mundo. O Brasil também entrou em moratória e ficou sindicais estavam pouco familiarizados.
evidente que o financiamento dos investimentos privados Não se tratava apenas de se preparar para negociações
e públicos brasileiros não se daria mais a partir de pou- nesses novos temas. Mais do que isso, era preciso se pre-
panças externas. Ao contrário, o fluxo se inverteria e, a parar para negociações realizadas em uma economia em
partir daí, o pagamento dos encargos da dívida externa, profunda transformação, em novos espaços de negocia-
em média de 3% a 4% do PIB ao ano, transformou-se em ção. A reestruturação industrial e as reformas econômi-
uma fonte adicional de instabilidade da economia brasi- cas geravam esses novos espaços de negociação, com di-
leira. Os investimentos, principalmente os públicos, caí- nâmicas diferenciadas. As negociações no âmbito das
ram dramaticamente, gerando problemas sociais de vá- categorias econômicas e profissionais somavam-se às
rias naturezas, que são hoje dados estruturais para agenda negociações em câmaras setoriais, envolvendo interesses
dos anos 90, principalmente a má distribuição da renda, de diversos setores e também interesses públicos mais
profundamente agravada pela estagnação e a hiperinfla- abrangentes, como o nível de emprego em complexos
ção dos anos 80/90. industriais, tributação e investimentos. Também foram
Nesse ambiente completamente adverso, o movimento realizadas várias tentativas de negociações nacionais, tra-
sindical passou a agir principalmente na luta por melho- tando de temas como previdência social, política de em-
res salários, pois a inflação entrou em uma espiral ascen- prego, reforma tributária e fiscal, políticas sociais. O cha-
dente acelerada, provocada pelo esgotamento do padrão mado “Entendimento Nacional”, em 1991, e a “Agenda
de financiamento da economia brasileira. A alta inflação Brasil”, em 1993, eram espaços de negociação de políti-
exigiu cinco reformas monetárias, nos anos de 1986, 1988, cas governamentais, envolvendo governo, trabalhadores
1990, 1993 e 1994. Foram bilhões de porcento, que só não e empresários.
se caracterizaram como uma hiperinflação (Dieese, 1989) Neste momento, mais de três anos após a implementa-
clássica porque não houve um colapso do sistema finan- ção do Plano Real, já há sinais de que a economia brasi-

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leira está consolidando a estabilização econômica e man- sere de forma direta no debate sindical, quando visto sob
tendo os ganhos sistêmicos de produtividade. a ótica da reestruturação em curso, o que confere impor-
O recuo das taxas de inflação e a desindexação da econo- tância ainda maior à participação sindical na busca de
mia transformam o cenário das negociações coletivas, abrindo soluções.
espaços de discussão sobre os patamares salariais do país, Assim, agora está definida essa grande agenda, que vem
reconhecidamente baixos, sobre a incorporação da produti- se formando desde 1980 e que exige ações concretas e
vidade e sobre as outras formas de remuneração do traba- proporcionais aos problemas colocados.
lho, como participação nos lucros e resultados.
No entanto, persistem e se agravam alguns problemas, PERDA DO PODER REGULATÓRIO
como o desemprego, gerado tanto por fatores conjuntu- DOS SINDICATOS
rais quanto por aspectos estruturais, como as mudanças
organizacionais e tecnológicas. No aspecto conjuntural, A década de 80, a partir da retomada do movimento
após a implementação do plano de estabilização, foi feita sindical iniciada em pleno regime autoritário em 1976,
uma correção de rumos com base na retração das taxas de com as campanhas de reposição salarial, inaugura um fértil
crescimento, verificadas nos primeiros meses do plano, período de crescimento da contratação das relações de
via uma forte contenção do crédito. A retração econômi- trabalho. Apesar dos claros constrangimentos ainda im-
ca também tem sido utilizada pelas empresas para o ajus- postos pela legislação sindical pré-Constituição de 1988,
te de seus quadros funcionais, preparando processos de como as seguidas intervenções do Ministério do Traba-
reestruturação. Ao mesmo tempo, começa a se verificar lho nas entidades sindicais, com a conseqüente deposi-
no país a ocorrência do chamado desemprego de exclu- ção de seus dirigentes, o movimento sindical resiste ao
são, em que os trabalhadores afastados do mercado de regime militar e, ao mesmo tempo, avança no campo con-
trabalho, em função do desemprego prolongado ou da falta tratual nas relações de trabalho.
de acesso a direitos básicos como renda, educação e saú- As convenções ou acordos coletivos de trabalho du-
de, vêem-se impossibilitados de recuperar ou obter pos- rante os anos 80 continham de cinco a seis vezes mais
tos de trabalho, em face das crescentes exigências de qua- cláusulas daquelas do final dos anos 70 (Tabela 1). Este
lificação do mercado. fato revela não apenas o vigor sindical dos anos 80, mas
A Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED, reali- também a construção de um novo papel das entidades sin-
zada pela Fundação Seade e Dieese, demonstra como o dicais, segundo a lógica das formações sociais fordistas.
problema tem evoluído desde 1985, data de início da pri- Cresce o número de cláusulas e, portanto, a abrangência
meira pesquisa, na Região Metropolitana de São Paulo. da regulação da relação salarial via convenções e contra-
A partir de 1990, as taxas de desemprego na região, que tos coletivos. Esse é um processo que se dá em meio a um
se situavam nos anos anteriores em torno de 9%, cresce- significativo aumento de greves durante os anos 80, re-
ram continuamente, chegando a 15,2% na média do ano fletindo um padrão negocial conflitivo. Se, por um lado,
de 1992 e mantendo-se em patamares em torno de 14% os resultados salariais não são positivos, pois diluem-se
nos anos seguintes, o que representa um contingente de dentro de um forte conflito distributivo em ambiente in-
mais de um milhão de trabalhadores desempregados. flacionário, por outro, impediu-se nesse âmbito (o sala-
Apesar das flutuações que vêm apresentando nos últimos rial) que a situação se agravasse. Também ampliou-se a
anos, estas taxas permanecem acima deste patamar. regulação sobre as outras dimensões da relação capital e
Estes dados evidenciam profundas transformações na trabalho, no que se refere aos salários indiretos, às condi-
estrutura do mercado de trabalho, bem como o fato de que a ções de trabalho e às relações sindicais.
manutenção e a geração de postos de trabalho devem tor- Se os anos 80 foram pródigos em relação à trajetória
nar-se um dos grandes temas de debate na sociedade brasi- das entidades sindicais brasileiras como instituições rele-
leira nos próximos anos. Os altos índices de desemprego vantes no modo de regulação da economia, mesmo com
agravam um dos mais sérios problemas do país: a exclusão todas as restrições impostas pelas circunstâncias históri-
social. A má distribuição da riqueza nacional reflete-se nos cas, como uma legislação limitante da liberdade e auto-
péssimos indicadores sociais do país e na enorme desigual- nomia sindical, o mesmo já não ocorre com os anos 90.
dade na repartição da renda (Dieese, 1995b). Na atual década, a abrangência das convenções coletivas
No momento em que começa a se configurar um pe- vem sendo reduzida, apesar da ampliação da liberdade e
ríodo de retomada do crescimento econômico, mesmo que autonomia sindicais pós-1988, havendo uma estagnação
a taxas ainda pífias, este tema tem importância crescente ou diminuição do número de cláusulas negociadas. O caso
na discussão sobre as atuais possibilidades de desenvol- paradigmático é o dos petroleiros, por ter sido uma cate-
vimento que se apresentam para o Brasil. Também se in- goria duramente atingida nos embates pela redefinição do

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modo de regulação social, que caminha, conforme as do tanto às estratégias sindicais de enfrentamento de um
orientações políticas neoliberais, para esvaziar o papel das ambiente adverso do ponto de vista do poder de barga-
entidades sindicais. Essa categoria voltou a ter, em 1994, nha, quanto à adoção gradual de novas formas de remu-
um acordo coletivo de trabalho com menos cláusulas do neração, relacionadas em alguns aspectos ao modelo de
que tinha em 1979. organização de trabalho pós-fordista, e a decorrente rela-
Porém, esse fenômeno não se restringe apenas às cate- ção salarial.
gorias do setor produtivo estatal, que são alvo do redese- Na década de 90, o movimento sindical, tendo que
nho do papel do Estado brasileiro, mas atinge também as enfrentar várias crises econômicas e um aumento, por
do setor privado. Nesses casos, o número de cláusulas não razões estruturais, no patamar de desemprego, tem segui-
se reduz, mas passam a crescer bastante lentamente e seu do um padrão de negociação em que as convenções cole-
conteúdo é praticamente o mesmo nos últimos anos. tivas estabelecem direitos mínimos e os acordos coleti-
vos por empresa ampliam esses direitos. Cada vez mais
TABELA 1 dificultadas pelo desemprego elevado, principalmente na
Número Médio de Cláusulas Acordadas,
indústria, as mobilizações de categorias profissionais in-
segundo Categorias Selecionadas teiras vão se tornando fenômeno raro. Os dados sobre
1975-1996 greves desvendam esse processo (Tabela 2), pois enquanto
o número de grevistas é fortemente cadente, o número de
Categorias Anos Anos 70 Anos 80 Anos 90 greves é crescente, principalmente a partir de 1992, ano
Considerados (1) de profunda crise de desemprego. Isto ocorre porque pro-
Aeronautas – Nacional (78-89-94) 14 86 82 liferam greves por empresa, que sinalizam para as outras
Bancários – SP/Nacional (2) (78-89-95) 9 46 48 o patamar para a negociação.
Construção e Mobiliário
TABELA 2
Bento Gonçalves – RS (79-88-95) 10 31 53
Costureiras – SP (79-89-95) 14 38 87 Número Médio de Greves e Grevistas por Mês
Eletricitários – MG (76-88-95) 6 13 14 Brasil – 1990-96
Eletricitários – SP (76-87-95) 4 13 9
Jornalistas – MG (77-89-95) 1 22 42 Anos Greves Grevistas
Metalúrgicos – BA (79-88-95) 19 84 75 1990 163 757.056
Metalúrgicos – RS (76-89-95) 8 43 55 1991 94 627.311
Metalúrgicos – SP (78-89-94) 17 90 93 1992 52 234.951
Petroleiros Nacional (79-89-94) 32 41 33 1993 61 432.835
1994 94 272.173
Petroquímicos – BA (78-89-95) 11 62 57
1995 94 221.219
Professores – SP (79-88-95) 3 27 66 1996 111 224.515
Químicos – RJ (79-88-95) 6 23 66
Químicos – SP (75-89-95) 9 59 73 Fonte: Dieese. Anuário dos Trabalhadores, 1994 e 1996-97 e Boletim do Dieese, n. 191/fev. 97.
Telefônicos – MG (76-89-96) 10 58 50
Telefônicos – SP (79-88-92) 7 12 13
Vidreiros – SP (78-89-95) 9 52 63 A própria estratégia de enfrentamento sindical na crise
de desemprego conduz para uma gradual descentraliza-
Média de Cláusulas na Década 11 44 54 ção da negociação, um resultado não esperado e indesejado,
pois o movimento sindical trabalha em sentido oposto ao
Fonte: Dieese. SACC – Sistema de Acompanhamento de Contratações Coletivas.
(1) Esta coluna informa, para cada categoria, o ano dos acordos ou convenções coletivas uti- defender o contrato coletivo de trabalho e uma estrutura
lizados em cada década. sindical mais enxuta, através das fusões de entidades.
(2) A partir da década de 80, a convenção coletiva dos bancários é fechada em âmbito nacional.
Por outro lado, as iniciativas governamentais no senti-
do da introdução da remuneração variável 1 conduzem
também para uma descentralização da negociação, como
DESCENTRALIZAÇÃO DA é o caso da medida provisória que criou a participação
NEGOCIAÇÃO COLETIVA nos lucros e resultados (Dieese, 1995a), que fragmenta a
negociação no âmbito das plantas de uma empresa, atra-
Ao mesmo tempo em que o poder de regulação dos vés da constituição de comissões de trabalhadores. A ló-
sindicatos sobre as relações de trabalho vai sendo restrin- gica da chamada PLR, a partir da visão governamental,
gido, em sua abrangência e conteúdo, a prática de nego- fragmenta a negociação, podendo conduzir ao estabele-
ciação está caminhando para uma descentralização, devi- cimento, de fato, de um sindicalismo por empresa.

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NOTAS DIEESE. Hiperinflação. São Paulo, 1989 (Pesquisa Dieese, s/n).


E-mail do autor: prado@ax.apc.org __________ . A necessidade de uma política salarial no Brasil. São Paulo, 1991
(Pesquisa Dieese, 3 a Edição Especial).
1. A remuneração variável é parte constitutiva do sistema de relações de traba-
lho no Japão. Mas é importante ressaltar que, para as empresas-núcleo do siste- __________ . Anuário dos Trabalhadores 1994. São Paulo, 1994.
ma industrial daquele país, ainda deve-se acrescer a senioridade e o emprego __________ Boletim do Dieese. São Paulo, n.167, fev. 1995a.
vitalício. Elementos deste sistema de relações de trabalho acabam por acompa-
nhar a globalização do modelo de organização de trabalho pós-fordista, como é __________ . Desigualdade e concentração de renda no Brasil. São Paulo, 1995b
o caso da remuneração variável. (Pesquisa Dieese, 11 ago. 1995).
__________ . Anuário dos Trabalhadores 1996-97. São Paulo, 1996.
__________ . Boletim do Dieese. São Paulo, n.191, fev. 1997.
JESSOP, B. “Post-fordism and the State”. In: AMIN, A. Post-fordism – a reader.
Oxford, Blackwell Publishers, 1995.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
JORNAL DA TARDE. “Salários: Dieese contesta os argumentos do ministro”.
São Paulo, 06/09/77.
ANDERSON, P. “Balanço do neoliberalismo”. In: SADER, E. e GENTILI, P. JORNAL DO BRASIL. “Dieese explica queda de 1,78% no custo de vida em
(orgs.). Pós-neoliberalismo. São Paulo, Paz e Terra, 1995. 73”. Rio de Janeiro, 22/08/77.
CORIAT, B. Pensar pelo avesso o modelo japonês de trabalho e organização. PRADO, A. A difusão da automação flexível na indústria brasileira de autope-
Rio de Janeiro, Revan, UFRJ, 1994. ças. Tese de Mestrado. Campinas, IE/Unicamp, 1989, mimeo.

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