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INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO – CAMPUS

GUARAPARI
CURSO BACHARELADO EM ADMINISTRAÇÃO

RENAN CONDE

ATIVIDADES AVALIATIVAS

Guarapari-ES

2022
A ERA VARGAS

Ao iniciar a análise sobre a era Vargas, importa salientar que a atuação do


primeiro governo Vargas (1930-1945), em relação a formação de ordem econômica,
existe diversos pontos polêmicos. De um lado, existe a teoria defendida por Peláez
(1972) e Villela & Suzigan (1973), que compreendiam a politica do governo federal
como sendo basicamente fundamentada nos pressupostos econômicos voltados à
integridade das contas públicas e ao controle da emissão da moeda, bem como ao
gerenciamento de uma política cambial que favorecesse o setor exportar de produtos
agrícolas. Para o teórico, tal política poderia ser caracterizada pela continuidade com
a que foi pratica na República Velha Logo, o desenvolvimento industrial era
considerado uma consequência das politicas ortodoxas sustentadas no primeiro
governo Vargas (SAVIANI FILHO, 2013). Na mesma linha de pensamento, importa
citar Villela & Suzigan (1973), ambos destacaram o caráter da continuidade desta
época. Para os autores, desde 1889 a 1945, as políticas econômicas sempre foram
alicerçadas por um viés tradicional, onde o que importava era o equilíbrio
orçamentário, a estabilidade monetária e a valorização cambial.

Em contrapartida, Furtado (1977) afirma que parte da política cambial, em


razão da desvalorização do mil-réis, como mecanismo utilizado para confrontar a crise
do setor exportador e o estrangulamento externo, ao mesmo tempo encarecia as
importações, e acabava criando mesmo sem intenção, uma política protecionista, que
favorecia a indústria nacional. Vale ressaltar que a crise minimizava a arrecadação de
impostos, o que consequentemente forçava o governo a se valer de uma política
monetária expansionista como modo de promover a manutenção dos gastos públicos
de sustentação do preço do café (SAVIANI FILHO, 2013).

Tal conduta, acabou favorecendo o crescimento de um setor industrial nacional.


Sendo este, o verdadeiro subproduto da política econômica de defesa das
exportações, uma vez que o seu objetivo principal era equilibrar o orçamento e o
balanço de pagamentos. Furtado (1977) afirma ainda, a relevância do processo de
industrialização, porém se abstém da sua intencionalidade. Para o autor, a
recuperação da economia brasileira em 1933, não se deu por meio de nenhum fator
externo, mas sim pela política de fomento que foi seguida de modo inconsciente no
Brasil e que era subproduto da defesa dos interesses do mercado cafeeiro.
Entretanto, importa ressaltar que para analisar o primeiro governo Vargas, não
se pode abrir mão da abordagem que teve como referência o pensamento
Schumpeteriano (CARRARO; FONSECA, 2003). Diferente do que era defendido por
alguns teóricos, o processo de industrialização no Brasil, não deve ser considerado
apenas como um subproduto da defesa da economia cafeeira, mas sim como parte
de um plano consciente de descontinuidade com o que era realizado no passado
agroexportador e assim, preparar a estrutura produtiva brasileira para a inserção em
um novo contexto, derivado das transformações na economia internacional
(CARRARO; FONSECA, 2003).

É possível estreitar a ação do governo Vargas entre o período 1930 a 1945 com
o pensamento de Schumpeter (1982), uma vez que a teoria deste, enfatizava o
rompimento com o fluxo circular da renda, através da ação pessoal de líder ou de um
governo, para após isso, construir um sistema impessoal, racional e interno, cuja
responsabilidade era conduzir a economia durante o processo de desenvolvimento
(CARRARO; FONSECA, 2003). Por meio desta metodologia, onde as variáveis
institucionais foram inseridas para que o desenvolvimento industrial fosse
compreendido, é possível admitir a hipótese de desenvolvimento consciente e
intencional para elucidar as condutas e ações do governo brasileiro no período
abordado, uma vez que dificilmente seriam criadas instituições, sem que houvessem
propósitos já estabelecidos (SAVIANI FILHO, 2013).

Para que a indústria brasileira alcançasse um patamar qualitativo significativa


nos anos 30, foi necessário, além da participação ativa do estado, em razão da
inexpressividade da indústria de bens de capital, a mobilização de capitais nacionais
e de recursos externos, que naquele período eram limitados, em virtude da crise
internacional que também influenciava o baixo desempenho das exportações.
Segundo Corsi (2012), com o mundo caminhando cada vez mais para um conflito
bélico generalizado, os países latino-americanos passaram a ser disputados pelos
governos do EUA e Alemanha.

Devido ao contexto da época, o governo Vargas se aproveitou do acirramento


das disputas imperialistas, com o intuito de adotar uma política externa mais
independente, e assim se aproximar comercialmente e militarmente da Alemanha.
Além do mais, no de 1937, o governo decretou a moratório da dívida externa e
reintroduzindo assim, o monopólio de cambio, medidas entendidas como necessárias
para se enfrentar a crise cambial (CORSI, 2012).

Segundo Furtado (1977), o início do Estado Novo marca o advento do projeto


de desenvolvimento nacional alicerçado na indústria. A ideia era garantir a unidade
nacional e extinguir a dicotomia existente, de um lado o Brasil econômico, de outro
político, que não coincidiam.

REFERENCIAS

CORSI, Fabio. L. O projeto de desenvolvimento de Vargas, a missão Osvaldo Aranha


e os rumos da economia brasileira. História Econômica & História de Empresas, v.
2, n. 1, 6 jul. 2012.

CARRARO, André; FONSECA, Pedro Cezar Dutra. O Desenvolvimento Econômico


no Primeiro Governo de Vargas (1930-1945). Anais do V Congresso Brasileiro de
História Econômica e 6ª Conferência Internacional de História de Empresas,
Caxambu, MG - v. CDRom, 2003.

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 15 ed. São Paulo: Brasiliense,


1977.

PELÁEZ, Carlos Manuel. História Econômica do Brasil. São Paulo, Atlas, 1979.

SCHUMPETER, Joseph. A Teoria do Desenvolvimento Econômico. São Paulo: Ed.


Abril, 1982.

SAVIANI FILHO, Hermógenes. A Era Vargas: desenvolvimentismo, economia e


sociedade. Economia e Sociedade [online]. 2013, v. 22, n. 3, pp. 855-860. Disponível
em: <https://doi.org/10.1590/S0104-06182013000300010>. Acesso em: 4 jul.2022.

VILLELA, Annibal; SUZIGAN, Wilson. Política do Governo e Crescimento da


Economia Brasileira. Rio de Janeiro: IPEA/INPES, 1973.
A ECONOMIA NO GOVERNO KUBITSCHEK E O MILAGRE ECONÔMICO

Juscelino Kubitschek (1956-1960) assume a presidência em um momento de


turbulência política interna, na qual opositores tramavam impedir a posse presidencial
do mesmo, frente a intrigas entre defensores do capital nacional e os “entreguistas”.
De acordo com este cenário, Juscelino Kubitschek buscou o desenvolvimento
econômico com estabilidade política. E contrapartida, o presidente permitiu a abertura
da economia ao capital estrangeiro, obviamente livrando-o de muitos entraves
desestabilizadores da política nacional. (BENEVIDES, 1979).
A crescente preocupação em realizar o planejamento do desenvolvimento
econômico na década de 50, culminou no Plano de Metas, que proporcionou, em
pouco tempo, o estabelecimento de setor industrial estável. Para além disso, a seara
pública executou investimentos críticos em infraestrutura. Assim, a política econômica
deste período se caracterizou pelo comprometimento do setor público em realizar
planejamentos e executar as metas idealizadas (ABDALA, 2013).
Neste sentido, a política consciente de câmbio e de comercio exterior viabilizou
o norte dos investimentos internos e internacionais àqueles setores considerados
fundamentais para o desenvolvimento econômico. Foram obtidos elevados níveis de
investimento e crescimento econômico, apresentando profundas transformações
estruturais em termos de base produtiva. De forma geral, as metas foram bem
sucedidas e o planejamento econômico significativo. O presidente Juscelino
Kubitschek apesar de ter proporcionado um governo politicamente estável, na seara
econômica, a economia desenvolvimentista ocasionou diversos desequilíbrios
setoriais, regionais e principalmente financeiros (GIAMBIAGI, et al, 2011).
Juscelino Kubitschek defendia o ideal desenvolvimentista, que assentava-se na
política de substituição de importações sob a inspiração da CEPAL trazendo, além de
outras coisas, a criação da cidade de Brasília. A forte pressão inflacionária, entretanto,
começou a ser sentida no Brasil ao final do Governo, o que ficou agravado com a
renúncia de Jânio Quadros e com os impasses institucionais que marcaram o governo
de João Goulart, entre os anos de 1961 e 1964 (GIAMBIAGI, et al, 2011). Os déficits
do governo subiram em uma proporção absurda, o que fez com que houvesse uma
intensa inflação de demanda.
O seguro esforço de investimentos não contou com um mecanismo de
financiamento que não causasse graves distorções. Em um contexto de estrutura
fiscal lenta e ineficaz, o setor público utilizou-se de uma política de emissão de moeda
de modo a esconder seus rotineiros déficits orçamentários.
Após o Golpe Militar, em 64, foi criado o Programa de Ação Econômica do
Governo, cujo objetivo era formular as politicas conjunturais de combate à inflação
que fossem associadas às reformas estruturais para permitir a análise dos problemas
inflacionários. Sendo necessário, a expansão da indústria de base para evitar que o
aumento da produção de bens industriais de consumo final acabasse ocasionando um
aumento descontrolado de insumos básicos por parte dos brasileiros (FERRO, 2013).
Após o período de ajuste, ente março de 64 e o final de 67, foi realizada a
reorganização do sistema financeiro brasileiro, bem como a recuperação da
capacidade fiscal do Estado e uma estabilidade monetária, dando início, em 1968, ao
período de grande expansão econômica nacional.
O resultado que ficou conhecido como “Milagre Econômico”, foi o aumento
considerável na renda da classe média nacional, enquanto existia um aumento
considerável no abismo social, o que elevou significativamente a desigualdade social
e consequentemente a dívida externa. Heranças que deixaram rastros na história
econômica do país.
Importa ressaltar que uma característica notável do milagre é que o rápido
crescimento veio acompanhado de inflação declinante e relativamente baixa para os
padrões nacionais, bem como os superávits no balanço de pagamentos. Apesar
desse contexto ser bastante estudado, ainda não há um consenso em relação aos
últimos determinantes do milagre (GOMES; PESSÔA; VELOSO, 2003).
As interpretações disponibilizadas na literatura se apresentam por meio de três
corrente teórica. A primeira linha de interpretação enfatiza a importância da política
econômica do período, com destaque para as políticas monetária e creditícia
expansionistas e os incentivos às exportações. A segunda corrente, atribui grande
parte do “milagre” ao ambiente externo favorável, devido à grande expansão da
economia internacional, melhoria dos termos de troca e crédito externo farto e barato.
Já a corrente teórica credita grande parte do “milagre” às reformas institucionais do
Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG) do Governo Castello Branco
(1964-1967), em particular às reformas fiscais/tributárias e financeira, que teriam
proporcionado as condições para a aceleração subsequente do crescimento
(GOMES; PESSÔA; VELOSO, 2003).
Estudos atuais têm apresentado outra dimensão relevante do “milagre”, que
não havia sido abordada anteriormente. Gomes et al (2003) por meio de uma
metodologia de contabilidade do crescimento, apresentaram que o crescimento da
produtividade total dos fatores foi o fator determinante para o crescimento econômico
entre 1967 e 1976, bem como documentaram a queda da relação capital-produto no
mesmo período (ABDALA, 2013)
Conforme um estudo realizado por Bacha e Bonelli (2004), foi fornecido
evidencias de que o período entre 1968 a 1973, se distingue dos demais, no que se
refere ao comportamento produtivo. Os teóricos também apresentaram que entre
1946 e 2002, existiu uma forte tendencia de declínio da relação entre o produto e uma
medida de estoque de capital em uso, o que é consistente com a queda da relação
capital-produto identificado por Gomes et al (2003), no que se refere ao período de
1967 a 1976. Conforme a literatura nacional evidencia que o milagre brasileiro está
relacionado a produtividade.
O milagre econômico entrou em decadência em 1974, quando ocorreu uma
crise mundial, provocada pelo aumento do petróleo, que afetou diretamente a
economia nacional, uma vez que a inflação estava altíssima (BENEVIDES, 1979). O
Brasil teve um déficit elevado, em razão da importação de petróleo com os preços
altos, afetando os investimentos externos e internos, que acabaram tendo uma queda
significativa. Logo, empresas nacionais que eram voltadas para o mercado nacional,
foram as mais prejudicadas.

REFERÊNCIAS

ABDALA, André. Desenvolvimento econômico brasileiro: estratégias de


desenvolvimento econômico no segundo governo Vargas e no governo Kubitschek.
Monografia. Universidade Federal de Santa Catarina, 2013. Disponível em:
<https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/103848>. Acesso em: 3 jul.2022.

BACHA, E. L. & BONELLI, R. (2004). Accounting for Brazil´s growth experience –


1940-2002. Texto para Discussão 1018, IPEA, 2004

BENEVIDES, M. V. O governo Kubitschek – desenvolvimento econômico e


estabilidade política – 1956/1961. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

FERRO, Thiago Andrade Moellmann. O governo JK e o desenvolvimento econômico


brasileiro no período 1956-1961. Monografia. Universidade Federal do Rio de Janeiro,
2013. Disponível em:
<https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/2007/1/TAMFerro.pdf>. Acesso em 03
jul.2022.

GOMES, Victor., PESSÔA, Samuel de Abreu., VELOSO, Fernando A. Evolução da


produtividade total dos fatores na economia brasileira: Uma análise comparativa.
Pesquisa e Planejamento Econômico, 2003.

GIAMBIAGI, Fabio et al (Org.). Economia Brasileira Contemporânea: 1945-2010. 2


ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.

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