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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS

CAMPUS PALMAS

CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

DISCIPLINA: ECONOMETRIA II

PROFESSOR: MARCOS FERNANDES

JOÃO PEDRO SOUSA FIGUEIREDO

FICHAMENTOS DE RECOMPOSIÇÃO DE AULAS:

GOVERNO CASTELO BRANCO: DITADURA, ORTODOXIA E REFORMAS


ABREU (2014) PG. 197-211;

GOVERNO COSTA E SILVA: ASPECTOS MACROECONÔMICOS ABREU (2014)


PG. 212-239;

GOVERNO MÉDICE: UM DEBATE SOBRE AS CAUSAS DO “MILAGRE” ABREU


(2014) PG. 212-239

PALMAS, 2023.

Governo Castelo Branco: Ditadura, Ortodoxia e Reformas Abreu (2014) pg. 197-211
O movimento militar de março de 1964 destituiu o governo Goulart e elevou à Presidência
da República o Marechal Castelo Branco. Em novembro, aparecia o Programa de Ação
Econômica do Governo (PAEG), elaborado pelo recém-criado Ministério do Planejamento e
Coordenação Econômica. O ministério econômico foi composto pela dupla Campos e
Bulhões, respectivamente no Planejamento e na Fazenda. (p.197)

O PAEG listava entre os seus objetivos: “(i) acelerar o ritmo de desenvolvimento


econômico(...); (ii) conter, progressivamente, o processo inflacionário,(...); (iii) atenuar os
desníveis econômicos setoriais e regionais,(...); (iv) assegurar, pela política de
investimentos, oportunidades de emprego produtivo à mão de obra que continuamente aflui
ao mercado de trabalho; (v) corrigir a tendência a déficits descontrolados do balanço de
pagamentos,(...). (p.197/198)

Para a consecução de tais objetivos, seriam utilizados os seguintes instrumentos de ação:

“Política financeira, compreendendo: (i) política de redução do déficit de caixa


governamental,(...); (ii) política tributária, (...); (iii) política monetária condizente com os
objetivos de progressiva estabilização dos preços,(...); (iv) política bancária,(...); (v) política
de investimentos públicos,(...). (p.198)

Política econômica internacional, compreendendo: (i) política cambial e de comércio


exterior, (...); (ii) política de consolidação da dívida externa e de restauração do crédito do
país no exterior,(...); (iii) política de estímulos ao ingresso de capitais estrangeiros e de ativa
cooperação técnica e financeira com agências internacionais. (p.198)

Política de produtividade social, compreendendo, notadamente: (i) política salarial, (...). E


ainda a política agrária, a política habitacional e a política educacional.” (Ministério do
Planejamento e Coordenação Econômica [MPCE], 1964, p. 15-6). (p.198)

Tratava-se, portanto, de um programa que acentuava a importância da manutenção, ou da


recuperação, das taxas de crescimento da economia. O combate à inflação estava sempre
qualificado no sentido de não ameaçar o ritmo da atividade produtiva. (p.199).

A restrição do balanço de pagamentos era diagnosticada como séria limitação ao


crescimento. Para superá-la, o PAEG propunha uma política de incentivos à exportação,
(...), abrindo-a ao capital estrangeiro, promovendo a integração com os centros financeiros
internacionais e o explícito alinhamento com o sistema norte-americano da Aliança para o
Progresso. (p.199)
A manutenção, ou a promoção, da capacidade de poupança da economia é associada em
todos os níveis ao sucesso na luta contra a inflação, deixando transparecer um diagnóstico
heterodoxo que associa a inflação à poupança forçada.

Tal diagnóstico fica mais explícito na descrição das bases do programa desinflacionário. A
inflação brasileira era diagnosticada como “resultado da inconsistência da política
distributiva, concentrada em dois pontos principais: (i) no dispêndio governamental superior
à retirada de poder de compra do setor privado, (...); (ii) na incompatibilidade entre a
propensão a consumir, (...), e a propensão a investir,(...).” (p.199)

“Dentro desse quadro”, prossegue o PAEG, encontram-se “as três causas tradicionais da
inflação brasileira: os déficits públicos, a expansão do crédito às empresas e as majorações
institucionais de salários em proporção superior à do aumento de produtividade. Estas
causas conduzem inevitavelmente à expansão dos meios de pagamento, gerando, destarte,
o veículo monetário de propagação da inflação.” (ver MPCE, 1964, p. 28). (p199)

Um diagnóstico, portanto, que atribui à inconsistência na esfera distributiva da economia a


causa da inflação e que vê na expansão monetária não um fator autônomo de pressão
inflacionária, mas o veículo de ratificação, ou de propagação, dessas pressões.(p.199)

Em função de tal diagnóstico, três “normas básicas” norteavam o programa desinflacionário:


(i) contenção dos déficits governamentais através do corte das despesas não prioritárias e
racionalização do sistema tributário; (ii) crescimento dos salários reais proporcional ao
“aumento de produtividade e à aceleração do desenvolvimento”; e (iii) política de crédito às
empresas “suficientemente controlada, para impedir os excessos da inflação de procura,
mas suficientemente realista para adaptar-se à inflação de custos”.(p.199)

Pode-se dizer, portanto, que o PAEG era um programa com diagnóstico e estratégia de
combate à inflação bastante heterodoxos. O plano era otimista com relação aos resultados
da estratégia gradualista de combate à inflação. As metas de expansão monetária para
1964, 1965 e 1966 eram de 70%, 30% e 15%, respectivamente.(p.199)

O PAEG tinha uma política salarial bem definida, que deveria basear-se em três pontos
básicos: “(i) manter a participação dos assalariados no produto nacional; (ii) impedir que
reajustamentos salariais desordenados realimentem irreversivelmente o processo
inflacionário; e (iii) corrigir as distorções salariais, particularmente no serviço público federal,
nas autarquias e nas sociedades de economia mista”(p.199)
O PAEG tinha uma política salarial bem definida, que deveria basear-se em três pontos
básicos: “(i) manter a participação dos assalariados no produto nacional; (ii) impedir que
reajustamentos salariais (...); e (iii) corrigir as distorções salariais,(...). (p.200)

Até 1930, não havia no Brasil uma política salarial oficial, vigorando a doutrina da “liberdade
de trabalho”. Em 1931, foi criado o Departamento Nacional do Trabalho e feita a
regulamentação da sindicalização de trabalhadores e empregadores. (...), em 1940, institui-
se o salário mínimo, cuja regulamentação só foi feita em 1943. (...), de 1946 a 1950, o
salário mínimo foi congelado, sofrendo uma deterioração de 31,7% do seu valor real. Entre
1951 e 1954,(...), o salário mínimo foi reajustado duas vezes, e em 1954 era 65% superior
ao salário de 1946 em termos reais. De 1955 a 1960, (...) houve uma pequena perda de
5,7% no salário mínimo real, enquanto que no período de 1961 a 1964,(...), apesar dos
reajustes mais frequentes, o salário mínimo real caiu aproximadamente 16,9%. (p.200)

Em 1965, a Circular 10 do ministro extraordinário para Assuntos do Gabinete Civil


determinou a forma do reajuste salarial da Administração Pública Federal,(...) em 1966
foram estendidas aos casos de dissídio no setor privado e só em junho de 1968 vieram a
ser modificadas. (p.200)

Eram as seguintes: (i) deveria ser restabelecido o salário médio real dos últimos 24 meses
anteriores ao mês do reajustamento; (ii) sobre o salário real médio, deveria incidir a taxa de
produtividade; (iii) cumpria acrescentar a metade da inflação programada pelo governo para
o ano seguinte (resíduo inflacionário); e (iv) ficava estabelecido o princípio da anuidade dos
reajustes. (p.200)

Os efeitos da política salarial sobre o salário mínimo real médio anual foram significativos. O
índice de salário mínimo real médio sofreu uma queda de 4,5% pontos percentuais em
1965, quando foi introduzida a fórmula salarial, e em 1966 foi novamente reduzido em
outros sete pontos percentuais. (p.201)

O índice de salário anual real médio do pessoal ligado à produção na indústria de


transformação também foi reduzido em aproximadamente sete pontos percentuais em 1965,
acompanhando, portanto, a queda do salário mínimo real médio. (p.201)

Das três “normas básicas” do programa desinflacionário do PAEG, a saber, contenção dos
déficits governamentais, política salarial e política de crédito às empresas, a primeira foi a
mais bem-sucedida.(p.201)
Também a forma de financiamento do déficit foi substancialmente alterada. Desde 1960, o
déficit era quase que integralmente financiado pelas emissões de papel-moeda. Em 1965,
55% do déficit foram financiados através da venda de títulos da dívida pública e, em 1966, o
déficit foi totalmente financiado pelos empréstimos junto ao público.(p.201)

As políticas monetária e de crédito ao setor privado foram bem mais erráticas. A partir do
segundo trimestre de 1964, tanto a moeda quanto o crédito expandiram-se
aproximadamente em linha com os preços, havendo um primeiro aperto na liquidez no
último trimestre do ano. Em 1965, entretanto, as políticas monetária e creditícia foram
extremamente folgadas. (p.201)

As taxas de expansão da moeda em 1965 estiveram sempre acima da taxa de crescimento


dos preços. Apesar da queda acentuada da inflação em 1965, a expansão monetária foi
praticamente igual à expansão observada em 1964, atingindo 83,5%. (p.202)

Os empréstimos e financiamentos obtidos em 1965 aumentaram 65% em relação ao nível


de 1964, enquanto os investimentos diretos quase triplicaram.(p.202)

Simultaneamente, a redução da taxa de crescimento, tanto em 1964 quanto em 1965,


reduziu as importações. Em 1965, o valor em dólares das importações brasileiras foi igual
ao observado em 1950, (...). (p.202)

O ano de 1965 assinala o início da queda da curva inflacionária. Os dados anuais


evidenciam que a queda no ritmo de crescimento industrial deu-se em 1963, a queda na
tendência inflacionária em 1965 e a queda nas taxas de expansão monetária em 1966.
(p.203)

A ordem cronológica dos fenômenos sugere o sentido da causalidade. O aperto de moeda e


crédito em 1963 paralisa a atividade industrial, enquanto os preços se aceleram. (p.203)

Em 1964, o alívio na liquidez real até o terceiro trimestre permitiu um esboço de


recuperação industrial, enquanto os preços continuavam elevando-se em relação às taxas
de 1963. (p.203)

Em 1965, a política fiscal restritiva, que aumentara os impostos em todos os níveis e


reduzira a despesa do governo desde o segundo semestre de 1961, associada a novo
aperto de crédito no último trimestre de 1964, fez com que a atividade industrial entrasse
definitivamente em colapso. (p.203)
O crédito fácil durante o ano de 1965 e a capacidade ociosa acumulada em três anos de
estagnação explicam o crescimento industrial em 1966, que atingiu a taxa de 11,7%. (p.203)

Outro aspecto do impacto da política monetária restritiva durante o ano de 1966 pode ser
avaliado com base no exame do índice de passivo médio real de firmas insolventes que
quase triplicou entre 1965 e 1966 para firmas individuais, categoria que inclui quase na
totalidade as firmas pequenas. (205)

Em 1966, iniciava-se o influxo de capitais externos que passou a gerar superávits


crescentes na conta capital. Este influxo de capitais constituía-se na sua maioria de
empréstimos e financiamentos contratados no exterior. (p.206)

Se o PAEG diagnostica como causa primordial da inflação o conflito distributivo e se tem o


poder político de solucioná-lo pela via autoritária da intervenção direta na determinação dos
salários, pergunta-se então por que se insistiu na prática de políticas fiscal e monetária
restritivas de caráter ortodoxo. (p.211)

Os custos da política de compressão salarial foram sem dúvida consideráveis sendo


importante elemento de explicação da deterioração da distribuição de renda entre 1960 e
1970. (p.211)

Os custos sociais do desemprego que acompanham a recessão são, contudo,


incomparavelmente maiores. Sob a aparência de neutralidade, as políticas monetária e
fiscal restritivas são na realidade regressivas.(211)

No caso brasileiro, a possibilidade de recorrer a empréstimos externos em moeda


estrangeira teve efeitos particularmente regressivos, pois deu às empresas estrangeiras e
às grandes empresas estatais acesso a uma linha de crédito vedada às pequenas e médias
empresas nacionais. (p.211)

Governo Costa e Silva: Aspectos Macroeconômicos Abreu (2014) Pg. 212-239 e


Governo Médice: Um Debate Sobre as Causas do “Milagre” Abreu (2014) Pg. 212-239

Os dados revistos relativos a contas nacionais do Brasil mostram que, em 1964 e 1965, a
economia cresceu 3,4% e 2,4% respectivamente, resultando um pequeno declínio do
produto per capita no biênio. (p.216)
Em 1966, a taxa de crescimento do PIB de 6,7% foi satisfatória. Porém, a crise de
estabilização, provocada a partir da metade do ano pelo aperto de liquidez e a contenção
do crédito, reduziu a taxa de crescimento global para 4,2% em 1967. (p.216)

Essa média foi favoravelmente influenciada pelo bom desempenho do setor primário cuja
produção aumentou 5,7%, visto que a indústria de transformação cresceu apenas 2,2%.
(p.216)

A partir de 1968, (...), tanto o produto global como os produtos setoriais apresentaram forte
crescimento. Entre 1968 e 1973, o PIB real cresceu à taxa média de 11,2% (...), diante de
uma média histórica no período do pós-guerra até o início dos anos 1960, da ordem de 7%.
(p.216)

O crescimento industrial foi particularmente significativo: no mesmo período 1968-73, a


indústria de transformação cresceu à taxa média de 13,3% ao ano (...) e a indústria de
construção (…) à taxa média, ainda mais elevada, de 15% ao ano. (p.216)

O desempenho do setor primário da economia também foi muito satisfatório entre 1969 e
1972, mas 1968 e 1973 foram anos de estagnação. (p.216)

Na média entre 1968 e 1973, o setor cresceu à taxa de 4,5%, superando amplamente a
taxa de crescimento da população no período, que era da ordem de 3% ao ano. (p.216)

No entanto, o dinamismo do setor industrial no período 1967-73 deveu-se principalmente à


demanda interna, estimulada pelas políticas setoriais do governo, já mencionadas,
notadamente em relação à agricultura e aos bens de consumo durável, bem como à
indústria de construção, impulsionada pela Política Nacional de Habitação. (p.217)

A produção de bens de consumo relativos a “transporte” cresceu em média 24% entre 1968
e 1973, a produção de bens “eletrodomésticos” 22,6% e a de bens de consumo não
duráveis 9,4%, resultando uma média de 11,9% para o setor de bens de consumo como um
todo. (p.217)

O processo de formação de capital no período 1967-1973 foi significativamente influenciado


pela política industrial iniciada em 1964 e coordenada pelo CDI. Tal política, entre 1968 e
1973, consistia na concessão bastante indiscriminada de incentivos, pois o CDI aprovava a
maioria dos projetos submetidos. (p.217)
A partir de 1967, a nova equipe econômica inicialmente reverteu a política monetária e
creditícia anterior, ocorrendo significativa expansão da oferta de moeda e do crédito
naquele ano. (p.218)

É a partir de 1972 que ocorre a aceleração que muitos autores associaram com o
recrudescimento da inflação em 1973. De fato, o crescimento real dos meios de pagamento
acumulado no ano (...) após alcançar cerca de 14% em 1967 e 12% em 1968, foi da ordem
de 5% a 10% entre 1969 e 1971, passando para cerca de 18% em 1972 e cerca de 28% em
1973.(p.218)

Enquanto em 1964 os haveres monetários respondiam por 92% do total dos haveres
monetários e não monetários, em fins de 1966 essa participação se reduzira para 75,7%.
Entre 1967 e 1973 acentuou-se essa tendência e, a partir de 1971, os haveres não
monetários excederam os haveres monetários que, em 1973 passaram a responder por
apenas 43% do total.(p.219)

A existência da correção monetária e de instrumentos financeiros com rendimentos


prefixados embutindo uma expectativa de inflação levou a uma mudança de comportamento
dos poupadores no sentido de um redirecionamento de suas aplicações para haveres não
monetários. (p.219)

No final dos anos 1960 e no início dos anos 1970, ocorreu forte crescimento real dos
haveres financeiros como um todo, que excedeu amplamente o crescimento do PIB. (p.219)

Quanto aos instrumentos de política monetária, o governo recorreu tanto ao redesconto e a


alterações dos recolhimentos compulsórios no Banco Central, (...), o redesconto passou a
ser regulamentado pelo Conselho Monetário Nacional e o Banco Central recebeu a
competência de realizar operações de redesconto e empréstimos a instituições financeiras
bancárias. O Banco Central passou, portanto, a partir de 1965, a contar com um
instrumento que permitia injetar recursos no sistema bancário e influenciar a taxa de juros.
(p.220)

Dado o limitado desenvolvimento alcançado pelo mercado de capitais nos anos 1960, a
taxa de juros tendia a ter menor impacto sobre o nível dos investimentos do que nos países
mais desenvolvidos. (p.220)

Por essa razão, segundo Ernane Galvêas, presidente do Banco Central no período 1968-
1973, a política de redescontos foi “exercida basicamente em termos quantitativos... O
Banco Central [agia]... aumentando ou diminuindo a quantidade de recursos que [transferia]
aos bancos pelo redesconto e não através da variação na taxa” (Galvêas, 1985, p. 86).
Essas operações se constituíram na chamada “assistênciade liquidez”, reservando-se “o
título de ‘redesconto’ para as operações de caráter seletivo realizadas pelo Banco Central”.
(p.220)

Até 1964, bem mais do que o redesconto, os depósitos compulsórios tinham sido um
instrumento da política monetária amplamente utilizado no Brasil, (...). (p.221)

No período 1967-1973, os recolhimentos compulsórios no Banco Central relativos aos


depósitos à vista nos bancos comerciais passaram a ter diferentes papéis. Inicialmente
tiveram uma função de controle quantitativo do crédito,(...). Na medida em que o governo
passou a utilizar o compulsório como instrumento de barganha (...), reduziu-se
gradualmente o recolhimento em espécie, permitindo-se o recolhimento sob a forma de
títulos federais. Posteriormente foram criadas “deduções especiais” (...). (p.221)

A política de juros da nova administração para o setor privado se baseou nos seguintes
instrumentos: (i) o controle direto das taxas de juros, (...); (ii) incentivos aos bancos
comerciais, (...). (p.222)

No caso dos empréstimos concedidos por instituições oficiais, as taxas de juros foram
utilizadas como instrumento de incentivo a setores específicos e julgados prioritários,
podendo inclusive ser negativas em termos reais. (222)

Os dados do Banco Central confirmam a forte queda do número de sedes de bancos entre
1967 e 1973. Entre o final de 1966 e o final de 1973, 190 bancos foram absorvidos por
outros bancos ou fechados. Restavam, em fins de 1973, 4 bancos federais e 24 bancos
estaduais compondo a rede oficial, e 87 bancos privados, sendo 8 estrangeiros, ou um total
de 115 bancos comerciais. (p.222)

Outro setor que mereceu a atenção especial do governo, preocupado com uma oferta
adequada de alimentos, foi o agropecuário. Os empréstimos rurais eram concedidos pelo
sistema bancário. (p.223)

No período 1967-1973, ocorreram importantes mudanças nas áreas do comércio exterior,


da dívida externa e do investimento estrangeiro no Brasil. (p.228)

Parte dessas mudanças está associada com medidas de política econômica, tais como a
política cambial e a política de incentivos às exportações, mas fatores exógenos como o
crescimento da economia mundial, a evolução favorável dos termos de troca e uma
crescente liquidez no mercado internacional de capitais também tiveram importante impacto
positivo sobre as principais contas externas do país. (p.228)

O primeiro choque do petróleo, no final de 1973, viria reverter várias dessas tendências
favoráveis, (...). (p.228)

No mesmo período, ocorreu grande aumento das exportações, acompanhado por maior
diversificação da pauta e por crescente participação dos produtos manufaturados, bem
como por mudança da importância relativa de certos parceiros comerciais do país.(p.228)

No tocante a salários e relações trabalhistas, a nova equipe econômica herdou uma política
salarial com regras de reajuste definidas, e um arcabouço legal quanto a negociações
salariais muito restritivo. (p.234)

De fato, após 1964, quando ocorreram numerosas intervenções nos sindicatos existentes e
o movimento sindical perdeu suas características reivindicatórias, as negociações coletivas
com relação a salários passaram a depender, de forma crescente, da aprovação
governamental. (p.234)

Somente em 1968, (...), a Lei nº 5.541 de 12 de junho de 1968 introduziu mudança na


fórmula de cálculo dos salários, visando corrigir a distorção resultante da subestimação, a
cada ano, da inflação prevista, ou seja, do resíduo inflacionário. (p.234)

Feita essa modificação, não mais seria alterada a base da política salarial até novembro de
1974. (p.234)

É nesse contexto legal e político que se deve examinar a evolução dos salários reais no
período 1967-1973.(p.234)

Enquanto permanece inequívoco que um trabalhador que ganhou salário mínimo durante o
período 1967-1973 não teve qualquer ganho de poder aquisitivo, os dados estatísticos
disponíveis indicam que houve queda relativa do número de trabalhadores que ganhavam
apenas um salário mínimo, e aumento do coeficiente entre o salário médio e o salário
mínimo legal, notadamente no setor industrial que apresentou crescimento particularmente
elevado. (p.235)

As informações sobre distribuição funcional de renda não permitem uma avaliação


satisfatória de sua evolução entre 1967 e 1973. (p.236)
Quanto à distribuição pessoal da renda, apesar de alguns problemas metodológicos para a
comparação dos dados disponíveis, existe consenso de que ocorreu deterioração
significativa entre 1960 e 1970, e novamente entre 1970 e 1972, que se deveu a diversos
fatores. (p.236)

O “objetivo básico” definido pelo governo Costa e Silva, nas Diretrizes do Governo de 1967
e no Plano Estratégico de desenvolvimento, era o do desenvolvimento econômico e social,
e os “objetivos fundamentais” da política econômica, a aceleração do desenvolvimento e a
contenção da inflação. (p.237)

Durante os mandatos dos presidentes Costa e Silva e Médici destacou-se, como


característica da política econômica, o seu caráter autoritário. (p.239)

Diante do indubitável sucesso da política econômica em termos de promoção do


crescimento econômico, e de um inegável salto quantitativo e qualitativo da economia
brasileira no período 1967-1973, resta avaliar brevemente o impacto social da política
econômica no período. (p.239)

Os salários, nos casos em que não sofreram declínio real, cresceram, na maioria das
categorias, a taxas muito inferiores à da produtividade ou do produto per capita e o
rendimento do trabalho não apresentou ganhos como porcentagem da renda total. (p.239)

A infraestrutura social do país melhorou significativamente no período, contrabalançando


em parte a evolução dos rendimentos monetários. Mas, ainda que a questão mereça estudo
mais detalhado, fica a impressão de que um crescimento muito satisfatório teria também
sido possível com uma política salarial menos restritiva, maior liberdade individual e maior
participação da massa da população nas decisões e nos frutos do crescimento. (p.239)
Referencias

A ordem do Progesso (Abreu). P. 197 - 239.

https://ava.uft.edu.br/palmas/pluginfile.php/393626/mod_resource/content/1/A
%20Ordem%20do%20Progresso.pdf

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