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CAMPUS PALMAS
DISCIPLINA: ECONOMETRIA II
PALMAS, 2023.
Governo Castelo Branco: Ditadura, Ortodoxia e Reformas Abreu (2014) pg. 197-211
O movimento militar de março de 1964 destituiu o governo Goulart e elevou à Presidência
da República o Marechal Castelo Branco. Em novembro, aparecia o Programa de Ação
Econômica do Governo (PAEG), elaborado pelo recém-criado Ministério do Planejamento e
Coordenação Econômica. O ministério econômico foi composto pela dupla Campos e
Bulhões, respectivamente no Planejamento e na Fazenda. (p.197)
Tal diagnóstico fica mais explícito na descrição das bases do programa desinflacionário. A
inflação brasileira era diagnosticada como “resultado da inconsistência da política
distributiva, concentrada em dois pontos principais: (i) no dispêndio governamental superior
à retirada de poder de compra do setor privado, (...); (ii) na incompatibilidade entre a
propensão a consumir, (...), e a propensão a investir,(...).” (p.199)
“Dentro desse quadro”, prossegue o PAEG, encontram-se “as três causas tradicionais da
inflação brasileira: os déficits públicos, a expansão do crédito às empresas e as majorações
institucionais de salários em proporção superior à do aumento de produtividade. Estas
causas conduzem inevitavelmente à expansão dos meios de pagamento, gerando, destarte,
o veículo monetário de propagação da inflação.” (ver MPCE, 1964, p. 28). (p199)
Pode-se dizer, portanto, que o PAEG era um programa com diagnóstico e estratégia de
combate à inflação bastante heterodoxos. O plano era otimista com relação aos resultados
da estratégia gradualista de combate à inflação. As metas de expansão monetária para
1964, 1965 e 1966 eram de 70%, 30% e 15%, respectivamente.(p.199)
O PAEG tinha uma política salarial bem definida, que deveria basear-se em três pontos
básicos: “(i) manter a participação dos assalariados no produto nacional; (ii) impedir que
reajustamentos salariais desordenados realimentem irreversivelmente o processo
inflacionário; e (iii) corrigir as distorções salariais, particularmente no serviço público federal,
nas autarquias e nas sociedades de economia mista”(p.199)
O PAEG tinha uma política salarial bem definida, que deveria basear-se em três pontos
básicos: “(i) manter a participação dos assalariados no produto nacional; (ii) impedir que
reajustamentos salariais (...); e (iii) corrigir as distorções salariais,(...). (p.200)
Até 1930, não havia no Brasil uma política salarial oficial, vigorando a doutrina da “liberdade
de trabalho”. Em 1931, foi criado o Departamento Nacional do Trabalho e feita a
regulamentação da sindicalização de trabalhadores e empregadores. (...), em 1940, institui-
se o salário mínimo, cuja regulamentação só foi feita em 1943. (...), de 1946 a 1950, o
salário mínimo foi congelado, sofrendo uma deterioração de 31,7% do seu valor real. Entre
1951 e 1954,(...), o salário mínimo foi reajustado duas vezes, e em 1954 era 65% superior
ao salário de 1946 em termos reais. De 1955 a 1960, (...) houve uma pequena perda de
5,7% no salário mínimo real, enquanto que no período de 1961 a 1964,(...), apesar dos
reajustes mais frequentes, o salário mínimo real caiu aproximadamente 16,9%. (p.200)
Eram as seguintes: (i) deveria ser restabelecido o salário médio real dos últimos 24 meses
anteriores ao mês do reajustamento; (ii) sobre o salário real médio, deveria incidir a taxa de
produtividade; (iii) cumpria acrescentar a metade da inflação programada pelo governo para
o ano seguinte (resíduo inflacionário); e (iv) ficava estabelecido o princípio da anuidade dos
reajustes. (p.200)
Os efeitos da política salarial sobre o salário mínimo real médio anual foram significativos. O
índice de salário mínimo real médio sofreu uma queda de 4,5% pontos percentuais em
1965, quando foi introduzida a fórmula salarial, e em 1966 foi novamente reduzido em
outros sete pontos percentuais. (p.201)
Das três “normas básicas” do programa desinflacionário do PAEG, a saber, contenção dos
déficits governamentais, política salarial e política de crédito às empresas, a primeira foi a
mais bem-sucedida.(p.201)
Também a forma de financiamento do déficit foi substancialmente alterada. Desde 1960, o
déficit era quase que integralmente financiado pelas emissões de papel-moeda. Em 1965,
55% do déficit foram financiados através da venda de títulos da dívida pública e, em 1966, o
déficit foi totalmente financiado pelos empréstimos junto ao público.(p.201)
As políticas monetária e de crédito ao setor privado foram bem mais erráticas. A partir do
segundo trimestre de 1964, tanto a moeda quanto o crédito expandiram-se
aproximadamente em linha com os preços, havendo um primeiro aperto na liquidez no
último trimestre do ano. Em 1965, entretanto, as políticas monetária e creditícia foram
extremamente folgadas. (p.201)
Outro aspecto do impacto da política monetária restritiva durante o ano de 1966 pode ser
avaliado com base no exame do índice de passivo médio real de firmas insolventes que
quase triplicou entre 1965 e 1966 para firmas individuais, categoria que inclui quase na
totalidade as firmas pequenas. (205)
Os dados revistos relativos a contas nacionais do Brasil mostram que, em 1964 e 1965, a
economia cresceu 3,4% e 2,4% respectivamente, resultando um pequeno declínio do
produto per capita no biênio. (p.216)
Em 1966, a taxa de crescimento do PIB de 6,7% foi satisfatória. Porém, a crise de
estabilização, provocada a partir da metade do ano pelo aperto de liquidez e a contenção
do crédito, reduziu a taxa de crescimento global para 4,2% em 1967. (p.216)
Essa média foi favoravelmente influenciada pelo bom desempenho do setor primário cuja
produção aumentou 5,7%, visto que a indústria de transformação cresceu apenas 2,2%.
(p.216)
A partir de 1968, (...), tanto o produto global como os produtos setoriais apresentaram forte
crescimento. Entre 1968 e 1973, o PIB real cresceu à taxa média de 11,2% (...), diante de
uma média histórica no período do pós-guerra até o início dos anos 1960, da ordem de 7%.
(p.216)
O desempenho do setor primário da economia também foi muito satisfatório entre 1969 e
1972, mas 1968 e 1973 foram anos de estagnação. (p.216)
Na média entre 1968 e 1973, o setor cresceu à taxa de 4,5%, superando amplamente a
taxa de crescimento da população no período, que era da ordem de 3% ao ano. (p.216)
A produção de bens de consumo relativos a “transporte” cresceu em média 24% entre 1968
e 1973, a produção de bens “eletrodomésticos” 22,6% e a de bens de consumo não
duráveis 9,4%, resultando uma média de 11,9% para o setor de bens de consumo como um
todo. (p.217)
É a partir de 1972 que ocorre a aceleração que muitos autores associaram com o
recrudescimento da inflação em 1973. De fato, o crescimento real dos meios de pagamento
acumulado no ano (...) após alcançar cerca de 14% em 1967 e 12% em 1968, foi da ordem
de 5% a 10% entre 1969 e 1971, passando para cerca de 18% em 1972 e cerca de 28% em
1973.(p.218)
Enquanto em 1964 os haveres monetários respondiam por 92% do total dos haveres
monetários e não monetários, em fins de 1966 essa participação se reduzira para 75,7%.
Entre 1967 e 1973 acentuou-se essa tendência e, a partir de 1971, os haveres não
monetários excederam os haveres monetários que, em 1973 passaram a responder por
apenas 43% do total.(p.219)
No final dos anos 1960 e no início dos anos 1970, ocorreu forte crescimento real dos
haveres financeiros como um todo, que excedeu amplamente o crescimento do PIB. (p.219)
Dado o limitado desenvolvimento alcançado pelo mercado de capitais nos anos 1960, a
taxa de juros tendia a ter menor impacto sobre o nível dos investimentos do que nos países
mais desenvolvidos. (p.220)
Por essa razão, segundo Ernane Galvêas, presidente do Banco Central no período 1968-
1973, a política de redescontos foi “exercida basicamente em termos quantitativos... O
Banco Central [agia]... aumentando ou diminuindo a quantidade de recursos que [transferia]
aos bancos pelo redesconto e não através da variação na taxa” (Galvêas, 1985, p. 86).
Essas operações se constituíram na chamada “assistênciade liquidez”, reservando-se “o
título de ‘redesconto’ para as operações de caráter seletivo realizadas pelo Banco Central”.
(p.220)
Até 1964, bem mais do que o redesconto, os depósitos compulsórios tinham sido um
instrumento da política monetária amplamente utilizado no Brasil, (...). (p.221)
A política de juros da nova administração para o setor privado se baseou nos seguintes
instrumentos: (i) o controle direto das taxas de juros, (...); (ii) incentivos aos bancos
comerciais, (...). (p.222)
No caso dos empréstimos concedidos por instituições oficiais, as taxas de juros foram
utilizadas como instrumento de incentivo a setores específicos e julgados prioritários,
podendo inclusive ser negativas em termos reais. (222)
Os dados do Banco Central confirmam a forte queda do número de sedes de bancos entre
1967 e 1973. Entre o final de 1966 e o final de 1973, 190 bancos foram absorvidos por
outros bancos ou fechados. Restavam, em fins de 1973, 4 bancos federais e 24 bancos
estaduais compondo a rede oficial, e 87 bancos privados, sendo 8 estrangeiros, ou um total
de 115 bancos comerciais. (p.222)
Outro setor que mereceu a atenção especial do governo, preocupado com uma oferta
adequada de alimentos, foi o agropecuário. Os empréstimos rurais eram concedidos pelo
sistema bancário. (p.223)
Parte dessas mudanças está associada com medidas de política econômica, tais como a
política cambial e a política de incentivos às exportações, mas fatores exógenos como o
crescimento da economia mundial, a evolução favorável dos termos de troca e uma
crescente liquidez no mercado internacional de capitais também tiveram importante impacto
positivo sobre as principais contas externas do país. (p.228)
O primeiro choque do petróleo, no final de 1973, viria reverter várias dessas tendências
favoráveis, (...). (p.228)
No mesmo período, ocorreu grande aumento das exportações, acompanhado por maior
diversificação da pauta e por crescente participação dos produtos manufaturados, bem
como por mudança da importância relativa de certos parceiros comerciais do país.(p.228)
No tocante a salários e relações trabalhistas, a nova equipe econômica herdou uma política
salarial com regras de reajuste definidas, e um arcabouço legal quanto a negociações
salariais muito restritivo. (p.234)
De fato, após 1964, quando ocorreram numerosas intervenções nos sindicatos existentes e
o movimento sindical perdeu suas características reivindicatórias, as negociações coletivas
com relação a salários passaram a depender, de forma crescente, da aprovação
governamental. (p.234)
Feita essa modificação, não mais seria alterada a base da política salarial até novembro de
1974. (p.234)
É nesse contexto legal e político que se deve examinar a evolução dos salários reais no
período 1967-1973.(p.234)
Enquanto permanece inequívoco que um trabalhador que ganhou salário mínimo durante o
período 1967-1973 não teve qualquer ganho de poder aquisitivo, os dados estatísticos
disponíveis indicam que houve queda relativa do número de trabalhadores que ganhavam
apenas um salário mínimo, e aumento do coeficiente entre o salário médio e o salário
mínimo legal, notadamente no setor industrial que apresentou crescimento particularmente
elevado. (p.235)
O “objetivo básico” definido pelo governo Costa e Silva, nas Diretrizes do Governo de 1967
e no Plano Estratégico de desenvolvimento, era o do desenvolvimento econômico e social,
e os “objetivos fundamentais” da política econômica, a aceleração do desenvolvimento e a
contenção da inflação. (p.237)
Os salários, nos casos em que não sofreram declínio real, cresceram, na maioria das
categorias, a taxas muito inferiores à da produtividade ou do produto per capita e o
rendimento do trabalho não apresentou ganhos como porcentagem da renda total. (p.239)
https://ava.uft.edu.br/palmas/pluginfile.php/393626/mod_resource/content/1/A
%20Ordem%20do%20Progresso.pdf