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AVALIAÇÃO ECONÔMICA
DE DANOS AMBIENTAIS
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que satisfaz as necessidades atuais sem sacrificar a habilidade do futuro em
satisfazer as suas”. A principal crítica a essa definição está no argumento de que
é muito genérica, proporcionando diferentes interpretações. Além disso, essa
definição não determina quais são as necessidades presentes e futuras, e não
considera as diferentes necessidades das diferentes populações no mundo.
No entanto, a definição de desenvolvimento sustentável aponta um limite
no consumo dos recursos naturais, quando ela implica que o consumo presente
não pode ser extrapolado ao ponto de prejudicar o consumo futuro. Como
consequência dessa visão, são dados três pilares como elementos
preponderantes: o econômico, o social e o ambiental; alguns incluem um quarto,
o institucional.
A principal consequência de uma definição genérica é que não tem como
ser aplicada a qualquer caso, o que implica a dificuldade de se mensurar e
comparar as diferentes situações. Isso é o contrário do que acontece com alguns
conceitos econômicos, tais como poupança, renda, trabalho, que são conceitos
bem definidos, determinados numericamente e, assim passíveis de comparação
entre os diferentes países, regiões etc.
De maneira similar ao desenvolvimento sustentável, os índices IDH e Gini
também não possuem uma base conceitual amplamente aceita. Ainda assim,
entretanto, são utilizados frequentemente nas discussões públicas. Por mais
críticas que esses índices recebam, essencialmente por agregarem muitas
informações e não detalharem realmente os problemas, bem como por serem
totalmente arbitrários (Böhringer; Jochem, 2007), ainda sim são importantes para
os tomadores de decisão. Esses atores sentem a necessidade desse tipo de
informação “resumida” para conseguirem definir as políticas públicas a serem
aplicadas.
Entre os principais índices de sustentabilidades usados, têm-se: Pegada
Ecológica (PE), Índice de Sustentabilidade Ambiental (ESI, Environmental
Sustainability Index) e Índice de Progresso Técnico (IPG). Cada um deles tende a
dar peso maior a um determinado aspecto, seja pelos aspectos ambientais
(consumo dos recursos naturais), seja pelos sociais (taxas de analfabetismo,
mortalidade infantil, entre outras), seja pelos econômicos (PIB, renda per capita,
entre outros).
A questão da sustentabilidade nas últimas décadas tem sido debatida
fortemente e, com isso, diferentes correntes de pensamento surgiram para tentar
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explicar o consumo dos recursos naturais com a ótica econômica. Atualmente, as
principais linhas de discussão da economia do meio são: Economia Ambiental,
Economia Ecológica, Economia da Poluição e Contabilidade Ambiental Nacional.
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Figura 1 – Curva de Kuznets ambiental
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Figura 2 – Equilíbrio da poluição ótima
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degradação. Logo, o ponto tido como poluição ótima é um ponto meramente
econômico e não ambiental, de tal modo que a desconsidera o limite de
assimilação de tal dano ambiental (Godard, 1992). Quando a capacidade de
assimilação de tal impacto é ultrapassada, ela carrega esse impacto no tempo,
prejudicando a capacidade de assimilação futura, podendo causar um dano
irreversível.
Com essa complexidade de pensamento que a Economia Ecológica traz o
conceito de que o sistema econômico se utiliza de energia e matéria em seu
sistema produtivo, de modo a, no fim do processo, transformá-los em lixo (matéria
e energia degradados) (Figura 3).
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O tema poluição foi primeiramente abordado, dentro da teoria econômica,
por Arthur Cecil Pigou, com a ideia da internalização dos danos ambientais, no
início do século XX. Para esse autor, a geração de poluição é compatível com
uma externalidade negativa gerada por um processo produtivo, ou seja, são
impactos negativos provocados por processos de produção. Nesse sentido, essa
externalidade pode gerar impactos sociais a outros agentes econômicos, que
acabam sendo penalizados por tal impacto. Por isso, Pigou propunha que o
impacto social fosse internalizado nos custos do processo produtivo, de tal forma
que o próprio agente econômico fosse o responsável por reparar o dano, de forma
econômica (Jacobs; Mooij, 2017). Para entender melhor, podemos pensar em
uma indústria têxtil que lança seus efluentes, carregados de corantes, em um rio
da cidade em que a indústria está situada. Essa externalidade negativa do
processo afeta a qualidade da água da região, que terá que passar por um
processo de tratamento mais sofisticado para ser consumida pela população.
Nesse exemplo, a externalidade da indústria tem um reflexo direto na vida de
outros agentes econômicos, logo, para a reparação do dano, o Estado teria que
intervir e aplicar tributos na indústria de modo a reparar o dano causado.
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Talvez o principal problema da incorporação dos recursos naturais na
contabilidade nacional seja a forma como esses recursos são classificados.
Diversas maneiras são adotadas e aplicadas, porém, elas precisam ter integração
com os dados econômicos, para ser possível a futura agregação e avaliação dos
dados de maneira holística. A principal metodologia aplicada é a separação dos
recursos em recursos de fluxo e recursos exauríveis (Margulis, 1990).
Essa abordagem traz a ideia de que os recursos de fluxo representam os
recursos naturais que podem ter o seu estado natural recuperado naturalmente
ou pela ação humana, por exemplo, o ar e água. O uso desses recursos não os
reduz no meio ambiente, ou seja, o seu estoque ambiental é pouco afetado em
curto prazo. Contudo, a utilização ocorre com a modificação deles, gerando
contaminação e degradação, prejudicando o uso futuro para os demais processos
produtivos. Essa abordagem é exemplificada na microeconomia como
externalidades, como foi discutido no tópico anterior. Entretanto, os recursos
exauríveis são aqueles que o uso pelas atividades econômicas leva à diminuição
da sua disponibilidade. Os exemplos podem ser os recursos minerais, que depois
de extraídos das jazidas, não tem como voltar ao seu estado natural. A questão
com relação a esse tipo de recurso é a diminuição do seu estoque em um
determinado período, de forma a ser contabilizado pelas contas nacionais. A
associação feita com esses conceitos é que os recursos de fluxo são os recursos
renováveis, e, os exauríveis, os não renováveis.
Nessa classificação proposta, existem várias questões que trazem dúvidas,
como o caso do petróleo, que é considerado um recurso exaurível, pois a sua
recomposição no ambiente natural leva milhares de anos. Em contrapartida, as
florestas, que mesmo sendo consideradas exauríveis, por não serem recuperadas
as condições ecológicas naturais depois de exploradas, podem ser renovadas em
um espaço de tempo curto. Independentemente dessas questões, a possibilidade
de enquadrar os recursos naturais em categorias é preponderante na forma
proposta de correção dos valores do PIB de um país.
De certa forma, a incorporação desses recursos naturais nos dados
econômicos é dependente da metodologia de valoração pela qual serão
avaliados. Nessa perspectiva, diversas abordagens foram propostas, cada uma
apontando para uma visão diferente dos recursos ambientais na economia; entre
elas, vamos abordar as duas principais. A primeira delas, conhecida como
despesas defensiva, propõe retirar os valores da demanda final, tudo o que foi
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gasto pela economia como forma de prevenir a poluição e degradação do meio
ambiente, resultantes do uso dos recursos de fluxo. O principal objetivo desse
conceito é evitar que tudo o que foi usado como precaução ao dano ambiental
seja contabilizado positivamente nas contas nacionais e, por consequência no PIB
(Leipert, 1989).
A segunda aplicação, conhecida por despesas ambientais, sugere que
sejam retirados do produto final da economia os custos que teriam que ser
empregados para manter o meio ambiente em seu estado natural. Em outras
palavras, seria levantado o custo potencial para não se degradar, poluir ou
restaurar os elementos utilizados na produção. Essa visão tem também como
objetivo diminuir o valor final do produto total da economia.
Com base nesses conceitos, diversas experiências práticas tentaram ser
abordadas mundo afora. Duas delas tiveram maior relevância e notoriedade no
cenário mundial: o Sistema Integrado de Contas Econômicas e Ambientais
(SICEA), desenvolvido pelo Escritório de Estatística das Nações Unidas (UNSO);
e a Matriz de Contas Nacionais, incluindo Contas Ambientais (NAMEA), elaborado
pelo Instituto de Estatística holandês e o Escritório Estatístico da União Europeia
(EUROSTAT). Ambos os sistemas buscam padronizar as medidas ambientais de
tal forma conseguir integrar os dados econômicos com os dados ambientais.
De forma resumida, o sistema do NAMEA incorpora novas contas
ambientais às contas nacionais, porém, as contas ambientais são utilizadas com
unidades físicas, não sendo passíveis de agregação com os dados econômicos
(Keuning; Dalen; De Haan, 1999). Já o SICEA procura aumentar a capacidade de
informações das contas nacionais, porém, sem mudar as características dos
agregados macroeconômicos, como o PIB. A grande questão desse sistema é a
metodologia utilizada na valoração dos recursos exauríveis e de fluxo, que pode
variar e, assim alterar, os resultados finais. Essa metodologia já foi aplicada, de
forma piloto, no México e na Papua-Nova Guiné, e tiveram resultados distintos,
que foram dependentes das maneiras como foram valorados os recursos naturais
(Bartelmus, 1994).
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REFERÊNCIAS
MARGULIS, S. Economia dos recursos naturais. In: _____. (Ed.). Meio ambiente:
aspectos técnicos e econômicos. Rio de Janeiro: PEA/Inpes, 1990.
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