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AULA 1

ANÁLISE DE IMPACTO
AMBIENTAL

Profª Ana Claudia Nuernberg Vaz


INTRODUÇÃO

Nesta aula você irá se informar a respeito da interferência do homem no


meio em que vive e verá conceitos técnicos sobre o assunto.

TEMA 1 – A RELAÇÃO ENTRE O HOMEM E O MEIO AMBIENTE

Desde o início da humanidade o homem vem alterando o meio em que vive


com a finalidade de suprir suas necessidades de subsistência, e muitas vezes de
maneira predatória (Barbosa, 1994; Leal; Farias; Araujo, 2008; Braga et al., 2001).
O problema se agravou no século XVIII, com o início processo de industrialização;
contudo, as consequências da ação humana sobre o meio ambiente não foram
percebidas na época (Leal; Farias; Araujo, 2008).
Até metade do século XX, o meio ambiente era visto apenas como fonte
inesgotável de recursos para a sobrevivência humana e desenvolvimento
socioeconômico (Sánchez, 2013; Braga et al., 2001). O termo “meio ambiente” foi
usado pela primeira vez na década de 60 em uma das reuniões de um grupo
formado por cientistas, industriais e políticos, denominado Clube de Roma (MMA,
2009).
De acordo com Sánchez (2013), o conceito de “ambiente”, em um contexto
de gestão ambiental, é multifacetado, pois, “pode incluir tanto a natureza como a
sociedade”. A respeito da natureza, é possível dividir em meio físico, como solo,
relevo, ar e água, e meio biótico, como fauna, flora e ecossistema (Sánchez,
2013). Tratando-se da sociedade, o autor a enquadra dentro do meio antrópico,
junto com a economia e a cultura. Como exemplo do meio físico e biótico temos o
capital natural; já para o meio antrópico, o capital humano, o capital social e o
capital econômico.
Acabamos de falar em capital natural. Você sabe o que é? Capital natural
são os “recursos e serviços da Terra que dão sustentação a todas as formas de
vida e economia” (Miller, 2006). Por exemplo, as plantas e animais precisam dos
recursos carbono e nitrogênio para sobreviver, que são obtidos pelo resultado do
serviço de reciclagem desses nutrientes, por meio do ar, da água, do solo e de
organismos. Portanto, os elementos químicos são exemplos de recursos, e o
processo natural de reciclagem de nutrientes, exemplo de serviços naturais.
Como acabamos de ver, o conceito de ambiente é abrangente. Outra
característica é que, muitas vezes, os diferentes meios estão interligados entre si.

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Por exemplo, os espaços naturais pertencem ao meio físico e biótico, e os
espaços urbanos-industriais, ao meio antrópico; contudo, os espaços rurais estão
entre o meio ambiente natural e o meio antrópico (Sánchez, 2013).

TEMA 2 – ALTERAÇÕES ANTRÓPICAS AO MEIO AMBIENTE

No processo de desenvolvimento industrial, o homem extraía recursos


naturais e, inconscientemente, degradava os meios físicos e bióticos em prol do
desenvolvimento socioeconômico (Leal; Farias; Araujo, 2008). Como
consequência, a sociedade começou a sentir as consequências da degradação
ambiental (Leal; Farias; Araujo, 2008; Braga et al., 2001). Um exemplo foi o
aumento no número de mortes em algumas cidades da Europa e Estados Unidos
no início do século XX, decorrentes da degradação da qualidade do ar em centros
urbanos industrializados (Braga et al., 2001). Vamos conversar um pouco sobre
degradação ambiental.

2.1 Degradação ambiental

Segundo Miller (2006), a degradação ambiental é a “redução ou destruição


de um recurso”, como por exemplo, o solo e a fauna; portanto, essa é uma
conotação negativa (Miller, 2006, p. 7).
Essa perda da qualidade do ar observada no início do século XX foi
decorrente a poluição, que é, simplificadamente, “uma condição do entorno dos
seres vivos (ar, água, solo) que lhes possa ser danosa”, e que tem como causa
as atividades humanas (Sánchez, 2013). Normalmente, essas mudanças
indesejadas nas características físicas, químicas ou biológicas do meio são
associadas apenas a emissões de matéria, como gases nocivos, material
particulado e compostos químicos acima do permitido em regulamentações.
Entretanto, existe outra forma de poluição: a presença ou emissão de
energia, que pode ser na forma de ruídos, vibrações, luz e radiações ionizantes
(Miller, 2006; Sánchez, 2013).
Um ponto importante é que toda emissão de poluentes traz como
consequência uma degradação ambiental, porém nem toda degradação ambiental
tem como origem a emissão de poluentes (Sánchez, 2013). Segundo o autor,
existem também a degradação ambiental que não está associada à emissão de

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poluentes, como por exemplo a alteração da paisagem causada pela extração de
minérios e a suspensão de vegetação para a extração de madeira.
Portanto, a degradação ambiental é uma conotação negativa a respeito de
uma perda da qualidade ambiental ocasionada por atividades humanas. De
acordo com Sánchez, “o agente causador da degradação ambiental é sempre o
ser humano: processos naturais não degradam o meio ambiente, apenas causam
mudanças” (Sánchez, 2013, p. 27).
Mas como saber em que nível atividades humanas estão degradando o
meio ambiente? A partir de qual grau de poluição pode haver problemas na saúde
pública? Quanto as atividades humanas estão interferindo na qualidade
ambiental? Segundo Tayrai e Ribeiro (2006), existe uma dificuldade de se
estabelecer tais parâmetros. Segundo Sánchez (2013), a qualidade ambiental é
um “conceito controverso e difícil de definir” (Sánchez, 2013, p. 27).
Ambos os autores expõem que essa é uma questão difícil e complexa, e
também que o uso de indicadores é uma ferramenta que auxilia a responder tais
questionamento (Sánchez, 2013; Tayrai; Ribeiro, 2006). Vamos ver a seguir a
definição de indicador pelo Ministério do Meio Ambiente:

INDICADOR: Nas ciências ambientais, significa um organismo,


comunidade biológica ou parâmetro, que serve como medida das
condições ambientais de uma certa área ou de um ecossistema. Podem
ser quantitativos, quando representados por uma escala numérica, ou
qualitativos quando classificados simplesmente em categorias ou níveis
(MMA, 2002).

Existem diferentes tipos de indicadores, que, na esfera ambiental, auxiliam


no processo de avaliação da degradação ambiental, sendo uma ferramenta
utilizada, por exemplo, em relatórios de qualidade do meio ambiente emitidos por
órgãos ambientais públicos (Ibama, 2013; Tayrai; Ribeiro, 2006).
Vamos ver agora os elementos dos meios físico e biótico em que a
atividade humana pode causar degradação ambiental, bem como alguns
indicadores da qualidade ambiental.

2.2 Degradação da qualidade do ar

O ar é um dos elementos indispensáveis para a vida, e, provavelmente pelo


fato de ser abundante, invisível e inodoro, não recebeu muita atenção ao longo da
história (Braga et al., 2001). Desde que o homem começou a utilizar o fogo e o
carvão como combustível, começou a degradar a qualidade do ar; porém, com o

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desenvolvimento industrial e urbano, o aumento de emissões atmosféricas é
crescente (Braga et al., 2001, Leal; Farias; Araujo, 2008).
Com o intuito de reduzir os níveis de poluição, é realizada uma gestão da
qualidade do ar, que de acordo com Leal, Farias e Araujo (2008), engloba a
“definição de limites de concentração dos poluentes na atmosfera, a limitação de
emissão dos mesmos, bem como a intervenção no processo de licenciamento, na
criação de estruturas de controle da poluição em áreas especiais e apoios na
implementação e tecnologias menos poluentes”. No Brasil, o Conselho Nacional
do Meio Ambiente (CONAMA), define padrão de qualidade do ar como:

Padrão de qualidade do ar: um dos instrumentos de gestão da qualidade


do ar, determinado como valor de concentração de um poluente
específico na atmosfera, associado a um intervalo de tempo de
exposição, para que o meio ambiente e a saúde da população sejam
preservados em relação aos riscos de danos causados pela poluição
atmosférica (CONAMA, 2018).

O Brasil possui um Programa Nacional de Controle da Qualidade do Ar


(PRONAR) em que os padrões de qualidade do ar são estratégicos (CONAMA,
2018). Para facilitar a comunicação e informação à população, foi criado o Índice
de Qualidade do Ar (IQAR), que utiliza os seguintes parâmetros para o cálculo:
material particulado com diâmetro de 10 a 2,5 micrômetros; dióxido de enxofre;
dióxido de nitrogênio; ozônio; fumaça; monóxido de carbono; partículas totais em
suspensão e chumbo (Paraná, 2010; Conama, 2018).

2.3 Degradação da qualidade da água

A água é um recurso natural limitado necessário para o funcionamento de


ecossistemas, comunidades e para o desenvolvimento econômico (ANA, 2013;
Okawa; Poleto, 2014). Apesar disso, o aumento da população humana e, em
consequência, da ampliação do uso desse recurso para abastecimento humano,
dessedentação animal, uso industrial e irrigação, põem em risco a qualidade dos
recursos hídricos (ANA, 2013; Leal; Farias; Araujo, 2008).
A qualidade da água sofre alteração em decorrência de diversas mudanças
de parâmetros, como por exemplo o teor de nutrientes e agrotóxicos, e para
possibilitar o acompanhamento da qualidade da água, o Brasil, por meio da
Agencia Nacional das Água (ANA) adotou o uso do Índice da Qualidade da Água,
ou IQA (ANA, 2013; Ibama, 2013).

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O IQA é calculado por meio de nove parâmetros de qualidade para a água
bruta, visando o abastecimento público (Ibama, 2013). O resultado é um número
entre 0 e 100, correlacionado com uma escala que vai de péssima, ruim, regular,
boa e ótima (Ibama, 2013). Com esse indicador, é possível mostrar o nível de
qualidade dos rios e das principais bacias brasileiras, pois a água de baixa
qualidade traz prejuízo à saúde humana, ecossistemas e limita a produtividade
econômica (ANA, 2013; Ibama, 2013).

2.4 Degradação do solo

O solo é um material formado por minerais e matéria orgânica que possui


diversos papeis, tanto nos serviços prestados pelos ecossistemas quanto para
serviços ambientais voltado ao bem-estar humano. (IBGE, 2007; Maia; Parron,
2015; Rachwa et al., 2015). Desde a Antiguidade, a espécie humana depende da
terra para a sua sobrevivência e desenvolvimento econômico, porém, a
intervenção antrópica pode alterar a qualidade do solo de maneira benéfica ou
danosa (Parron et al., 2015).
Para avaliar se houve ou não degradação da qualidade do solo,
normalmente são levados em consideração os aspectos físicos, químicos e
biológicos, para os quais são utilizados indicadores (Andrade; Stone, 2009; Maia;
Parron, 2015). O solo possui características como porosidade, acidez (pH),
abundância de organismos (como, por exemplo, minhocas), e essas
características (ou funções), quando relacionadas com os processos envolvidos
na transformação do solo, dão origem a bons indicadores de qualidade do solo
(Maia; Parron, 2015).

2.5 Degradação dos ecossistemas e da biodiversidade (fauna e flora)

Desde a sua origem, os humanos dependem do capital natural e dos


serviços promovidos pela dinâmica dos ecossistemas (Parron et al., 2015).
Todavia, a crescente atividade humana tem gerado rápidas mudanças nos
ecossistemas da Terra (Andrade; Romero, 2011). De acordo com Andrade e
Romeiro (2011), apesar de as atuais modificações terem contribuído de maneira
significativa no desenvolvimento econômico, os custos foram na forma de
degradação ambiental. Nesse contexto, os usos de indicadores são “eficientes
para caracterizar a composição, estrutura e função de sistemas complexos e são

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usados para avaliar a condição do ambiente, para monitorizar as tendências,
mostrar alterações ou para diagnosticar a causa de um problema ambiental”
(Parron et al., 2015).

TEMA 3 – IMPACTOS AMBIENTAIS

Como já vimos, desde o surgimento da espécie humana nós alteramos o


meio de maneira tanto negativa quanto positiva; portanto, causamos impactos
ambientais (Parron et al., 2015; Sánchez, 2013). Segundo o Conselho Nacional
do Meio Ambiente (1986), impacto ambiental é definido como:

qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do


meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia
resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:
I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II - as atividades sociais e econômicas;
III - a biota;
IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V - a qualidade dos recursos ambientais (CONAMA, 1986).

Dessa maneira, impacto ambiental é a “alteração da qualidade ambiental


que resulta da modificação de processos naturais ou sociais provocada por ação
humana” (Sánchez, 2013). Segundo o autor, processos naturais ou processos
ambientais são aqueles que acontecem em qualquer ecossistema, seja ele
natural, alterado ou degradado. Um exemplo é a erosão, que é um processo
natural, cuja intensidade varia de acordo com fatores do meio, como declividade
e cobertura vegetal (Sánchez, 2013). Por exemplo, a retirada de uma floresta para
a implantação de loteamento urbano ou ação humana deixa o solo exposto à ação
da água e dos ventos, o que gera os seguintes impactos ambientais: aumento do
processo erosivo, diminuição do processo de infiltração da água no solo e o
aumento do volume de água nos rios, decorrente do aumento do escoamento
superficial da água da chuva (Sánchez, 2013).

3.1 Impacto benéfico e impacto adverso

Se você ler com atenção, irá perceber que a definição de impacto ambiental
é: “qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio
ambiente”; assim sendo, um impacto ambiental pode ter natureza adversa,
negativa, ou benéfica, positiva (CONAMA, 1981; Sánchez, 2013).
Lembra que há pouco conversamos sobre degradação ambiental? Então,
a degradação ambiental da qualidade do ar, da água, do solo, a redução ou

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destruição da fauna e da flora são exemplos de impactos ambientais negativos. O
mesmo vale para a situação inversa: a recuperação de um ambiente degradado e
a preservação da fauna e da flora também são alterações das propriedades do
meio ambiente, mas alterações positivas; portanto, são impactos ambientais
positivos.
Segundo Sánchez (2013), um impacto ambiental pode ser gerado por meio
de ações de supressão ou inserção de elementos do ambiente e de introdução de
fatores que causem sobrecarga no ambiente; como exemplo, supressão da
vegetação, introdução de espécie exótica e sobrecarga de um poluente. Além da
natureza do impacto, positiva ou negativa, o impacto é classificado de acordo com
a origem ou fonte dos danos causados: impacto direto ou indireto (Barbosa, 2014;
Sánchez, 2013).

3.2 Impacto direto e impacto indireto

O impacto direto é aquele é aquele que resulta de atividades ou ações de


um empreendedor, possuindo uma relação de causa e efeito simples (Barbosa,
2014; Sánchez, 2013). Por exemplo, o derramamento de petróleo no mar, origem
do impacto, traz o efeito de contaminar os animais e poluir a costa litorânea, que
são impactos ambientais diretos e adversos (Barbosa, 2014).
O impacto indireto é aquele que ocorre em decorrência do acontecimento
do impacto direto, uma reação em cadeia (Barbosa, 2014). Continuando com o
mesmo exemplo do derramamento de óleo, o prejuízo da atividade pesqueira e
do turismo regional são impactos ambientais indiretos e adversos (Barbosa,
2014). Os impactos também são classificados de acordo com a extensão territorial
do impacto, podendo ser um impacto local ou um impacto regional (Barbosa,
2014). Vamos ver a diferença entre eles no próximo tópico.

3.3 Impacto local e impacto regional

De acordo com Barbosa (2014), a classificação em impacto local ou


regional é feita de acordo com a extensão física dos efeitos do impacto. O autor
afirma que o impacto é local quando o efeito da ação é no próprio local ou nas
imediações; um exemplo é o caso de deterioração da qualidade do ar proveniente
da liberação acidental de emissões gasosas em um laboratório (Barbosa, 2014).
No caso de impacto regional, o efeito surge em uma localidade, tendo chances de

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impactos a uma coletividade (Barbosa, 2014). Continuando com o exemplo de
emissões gasosas, a degradação da qualidade do ar em uma área além das
instalações de uma indústria siderúrgica e ocasionada em decorrência de suas
atividades é um exemplo de impacto regional, pois traz ameaça à saúde pública
e aos ecossistemas locais (Barbosa, 2014).

3.4 Impacto imediato e impacto a médio ou longo prazo

Um impacto é dito imediato se ocorre no mesmo instante da ação que o


gera (Barbosa, 2014; Sánchez, 2013). Um exemplo é no caso de contaminação
de um ecossistema decorrente a explosão de um caminhão com produtos
químicos (Barbosa, 2014). No caso de um impacto ocorrer após certo tempo da
ação que o gera, o impacto é a médio ou longo prazo, podendo ser diferenciado
entre um e outro com o uso de uma escala, como meses e anos, respectivamente
(Sánchez, 2013). Voltando ao exemplo da indústria siderúrgica, um impacto a
longo prazo é o adoecimento da população ao redor devido a doenças
respiratórias (Barbosa, 2014).

3.5 Impacto temporário e impacto permanente

Um impacto temporário é aquele que se manifesta apenas durante o tempo


da ação que o causa, como, por exemplo, a poluição sonora gerada durante a
fase de construção de um empreendimento (Barbosa, 2014; Sánchez, 2013). No
caso de impacto permanente, este permanece após o término da atividade que o
causou (Sánchez, 2013). Por exemplo: durante a construção de um
estacionamento de concreto, o solo é impermeabilizado, o que resulta em uma
degradação da qualidade do solo que permanece após o término da construção
da obra (Sánchez, 2013).

3.6 Impacto reversível e impacto irreversível

Segundo Sánchez (2013), a reversibilidade é uma característica


representada pela “capacidade do sistema (ambiente afetado) de retornar ao seu
estado anterior caso (i) cesse a solicitação externa, ou (ii) seja implantada uma
ação corretiva”. Um exemplo de impacto irreversível é a extinção de uma espécie
(Barbosa, 2014).

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3.7 Cumulatividade e sinergismos dos impactos

Cumulatividade é quando existe a possibilidade dos impactos se somarem


a outras ações humanas passadas, presentes e futuras. (Sánchez, 2013, World
Bank, 2012). Um exemplo de impactos cumulativos é a soma dos ruídos de uma
rodovia adjacente a uma área industrial (World Bank, 2012).
O sinergismo relaciona-se à interação entre diferentes impactos, os quais
resultam em outro impacto (World Bank, 2012). Segundo Oliveira (2008),
sinergismo é: o “fenômeno no qual o impacto obtido pela combinação de dois ou
mais impactos de uma ou mais ações diferentes é maior do que a soma dos
impactos individuais das mesmas ações”.

3.8 Relação entre a ação humana, aspecto ambiental e impacto ambiental

O homem, ao realizar uma atividade – como por exemplo o armazenamento


de combustível – gera um aspecto ambiental que pode ocasionar um impacto
ambiental (Sánchez, 2013). Já vimos o que é impacto ambiental, mas o que é um
aspecto ambiental?
De acordo com a International Organization for Standardization (ISO),
aspecto ambiental é um “elemento das atividades ou produtos ou serviços de uma
organização que pode interagir com o meio ambiente” (ISO 14001, 2004).
Voltando ao nosso exemplo, o armazenamento de combustível é uma ação
humana que gera um aspecto ambiental – o risco de vazamento do produto – que,
se ocorrer, irá gerar o impacto ambiental de contaminação do solo e da água
subterrânea (Sánchez, 2013). Portanto, consumo de água, emissão de gases e
aumento de tráfego não são impactos ambientais (Sánchez, 2013). São aspectos
das atividades, por exemplo, de lavagem, pintura e transporte de carga por
caminhões, que geram os impactos ambientais de, respectivamente, redução da
disponibilidade hídrica, deterioração da qualidade do ar e maior frequência de
congestionamentos (Sánchez, 2013).

TEMA 4 – AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL – AIA

Como acabamos de estudar, até metade do século XX, o meio ambiente


era visto apenas como fonte inesgotável de recursos para desenvolvimento
socioeconômico, e, consequentemente, o homem foi causando impactos
adversos ao meio ambiente. Há partir do momento em que foi criado o conceito
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de meio ambiente, em que, além de fornecedor de capital natural, o ambiente
promove serviços e desempenha funções de suporte à vida, a polêmica sobre os
problemas ambientais foi estabelecida (MMA, 2009; Sánchez, 2013).
Com esse novo olhar foi criado o processo de Avaliação de Impacto
Ambiental (AIA), que é um conjunto estruturado e documentado de procedimentos
regidos por leis e regulamentações, no qual diversos participantes estão
envolvidos (empresário, órgão responsável, público afetado) com a finalidade de
analisar a viabilidade ambiental de uma proposta, tanto no âmbito público quanto
na iniciativa privada (Sánchez, 2013; Barbosa, 2014). De acordo com o Ministério
do Meio Ambiente (2009), a AIA é um “estudo realizado para identificar, prever e
interpretar, assim como prevenir as consequências ou efeitos ambientais que
determinadas ações, planos, programas ou projetos podem causar à saúde, ao
bem-estar humano e ao entorno”.
Segundo a análise de Barbosa (2014) a respeito das características de uma
AIA, segundo a Associação Internacional para a Avaliação de Impactos a
avaliação precisa ser: útil; rigorosa; prática; relevante; eficiente; focalizada;
adaptativa; participativa; interdisciplinar; credível; integrada; transparente;
sistemática e precisa atingir os objetivos do AIA dentro dos limites de informação,
tempo e recursos disponíveis. Quanto à utilidade, relevância e eficiência, o estudo
realizado para o AIA precisa fundamentar o processo de decisão quanto a
aprovação ou não da realização de um empreendimento (Sánchez, 2013). Como
resultado do processo de decisão, é possível realizar: retirada de projetos
inviáveis; reformulação de planos e projetos; redefinição das responsabilidades
da empresa e legitimação de projetos ambientalmente viáveis (Sánchez, 2013).
Para que a avaliação possa ser útil no processo de decisão, é essencial
realizar um planejamento das atividades a serem realizadas pela equipe
multidisciplinar de profissionais responsáveis pelos estudos ambientais, de modo
a definir as metodologias científicas que serão utilizadas e tornar a AIA credível,
rigorosa e focalizada (Sánchez, 2013; Barbosa, 2014). Cada informação gerada
precisa ser documentada por pareceres técnicos e laudos de análises físicas,
químicas ou biológicas (Sánchez, 2013).
Os resultados dos estudos realizados devem ser analisados de maneira
integrada, correlacionando os aspectos sociais e econômicos aos aspetos físicos
e biológicos, apresentando de maneira sistemática todas as informações
relevantes sobre o ambiente afetado, os impactos considerados significativos e

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alternativas para eliminar ou reduzi-los (Sánchez, 2013). Desta maneira, a AIA irá
produzir um conteúdo capaz de auxiliar a prática de resolução de eventuais
problemas e de adaptações do projeto (Barbosa, 2014).
Todas as etapas do processo de avaliação dos impactos precisam ser
apresentadas de maneira clara e transparente, com linguagem apropriada e de
fácil compreensão ao público afetado, além de oportunizar o seu envolvimento no
processo avaliativo (Barbosa, 2014).
A AIA possibilita que sejam realizadas ações para evitar impactos
inaceitáveis e diminuir impactos ambientais adversos fora dos padrões
estabelecidos pela legislação vigente (Seiffert, 2007). Além de analisar a
viabilidade ambiental dos projetos, o processo de AIA estimula os
empreendedores a realizarem projetos que gerem menos danos ambientais
(Sánchez, 2013). Dessa maneira, as responsabilidades ambientais do empresário
ficam claras, e, sempre que necessário, é exigido uma recuperação ambiental,
assunto do próximo tema.

TEMA 5 – RECUPERAÇÃO AMBIENTAL

A recuperação ambiental é uma ação realizada por meio de práticas e


técnicas com o objetivo de reverter os processos de degradação ambiental (MMA,
2009). Segundo Sánchez (2013), ao se realizar uma ação corretiva o resultado
pode ser: recuperação superior à condição inicial antes da degradação;
restauração, em que o ambiente retorna às características iniciais; ou uma
reabilitação, que é o caso de quando a área degradada recebe “uma outra forma
de utilização”.
A aplicação de técnicas pode ser para a melhoria da qualidade ambiental
do meio físico, bem como para recursos hídricos, de solo ou de ar, ou biológico
(Sánchez, 2013). Vamos estudar técnicas de recuperação do meio físicos e
biológico.
Como já estudamos, para reduzir a degradação da qualidade do ar, o
homem definiu limites de concentração dos poluentes na atmosfera como forma
de gestão da qualidade do ar, além da implementação de tecnologias menos
poluentes (Leal; Farias; Araujo, 2008). Sendo assim, as ações comumente
aplicadas são com o intuito de prevenção e controle da poluição atmosférica
(Cavalcanti, 2010). Um caso de ação com a finalidade de recuperação da
qualidade do ar ocorreu na China, na cidade de Xian, onde foi instalada uma

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chaminé purificadora de ar de 60 metros de altura, com capacidade de limpar
diariamente entre 5 e 16 milhões de metros cúbicos de ar (IstoÉ, 2018).
Se tratando da recuperação da qualidade da água, Esteves (1998),
apresenta técnicas para recuperação de lagos com elevada carga de matéria
orgânica, especialmente de fósforo e nitrogênio. Quando os nutrientes são de
origem antrópica, como por exemplo de despejo de efluentes industriais, o
processo é denominado de “eutrofização artificial” e é considerado um tipo de
poluição (Esteves, 1998, p. 204). Segundo o autor, a recuperação de
ecossistemas lacustres pode ser realizada por meio da aplicação de diversas
técnicas, como por exemplo pela retirada da camada superficial do corpo hídrico,
de modo a reduzir a concentração de fósforo e nitrogênio; aeração e retirada do
sedimento por sucção, de modo a retirar o principal reservatório de nutrientes do
ecossistema (Esteves, 1998). Para situações de degradação da qualidade da
água ocasionada pela presença de líquidos insolúveis em água, como por
exemplo óleos, podem ser aplicadas as técnicas de remoção manual, remoção
mecânica e utilização de materiais absorventes, como por exemplo polímeros,
espuma de poliuretano e cortiça (Niime, 2013).
Para situações de áreas terrestres, utiliza-se o termo “recuperação de
áreas degradadas” (Sánchez, 2013). Para a situação de supressão ou
degradação de florestas, Martins (2010) aponta as atividades de mineração,
extração de areia e expansão de áreas urbanas e rurais como algumas das
principais causas de desmatamento. Para a recuperação dessas áreas é
importante conhecer a intensidade de degradação, se há vegetação presente e
em qual grau de sucessão, podendo ser primária, com vegetais de pequeno porte,
ou secundária, com vegetação mais desenvolvida (Martins, 2010). No caso de
presença de fragmentos florestais remanescentes, uma possibilidade de
recuperação é a regeneração natural, em que é monitorada a recuperação da área
por meio da recuperação natural do ecossistema (Martins, 2010; Sánchez, 2013).
Quando a degradação ambiental foi mais intensa, é necessária a intervenção
humana por meio da seleção de espécies, produção de mudas e plantio de
espécies nativas (Martins, 2010).
Outra maneira de degradação de uma área é por meio da presença de
poluentes ou contaminantes, a qual recebe a denominação de “área contaminada”
(Fernandes et al., 2014). De acordo com Fernandes et al. (2014), a definição de
área contaminada é:

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área, terreno, local, instalação ou edificação onde há comprovadamente
quantidades ou concentrações de matérias provenientes da deposição,
acumulação, armazenamento de produtos, materiais, resíduos ou
infiltração dessas substâncias que tenham ocorrido de forma planejada,
acidental ou até mesmo natural, podendo causar danos à saúde
humana, ao meio ambiente ou a outro bem a proteger.

Uma área contaminada precisa ser recuperada, e esse processo se chama


remediação, que pode ser realizada in situ, no próprio local poluído, ou ex situ, em
outro local (Galdino, 2015). Segundo Fernandes et al. (2014) e Garcia e Guerreiro
(2011), as principais causas que podem gerar áreas contaminadas são:

 Atividades envolvendo matérias-primas, insumos ou resíduos contendo


substâncias potencialmente contaminantes, como armazenamento,
carregamento ou descarregamento, quando ausentes estruturas de
segurança, como impermeabilização ou bacia de contenção;
 Vazamento em tubulações ou dutos de matérias-primas ou efluentes,
normalmente sem manutenção ou ainda obsoletos;
 Ocorrência de derramamentos;
 Transporte, armazenamento ou descarte inadequados de efluentes,
insumos vencidos ou resíduos;
 Instalações desativadas.

Segundo Galdino (2015) e Garcia e Guerreiro (2011), existem diversas


técnicas de remediação de áreas contaminadas, e a escolha da mais adequada
depende de diversos fatores, como características físicas e químicas dos
contaminantes, interação do contaminante com o solo e viabilidade econômica.
Algumas das técnicas que podem ser utilizadas são: bombeamento da água
subterrânea; extração de vapores do solo; ingestão de gás sob pressão, air
spargin e estimulação do crescimento de microrganismos, conhecida como
biorremediação (Galdino, 2015).
Com a finalidade de diminuir a degradação ambiental e, sempre que
necessário, exigir a recuperação ambiental, o processo de Avaliação de Impacto
Ambiental é regulamentado por lei e está vinculado ao processo de licenciamento
do empreendimento.

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REFERÊNCIAS

ANA – Agência Nacional de Águas. Cuidando das águas: soluções para melhorar
a qualidade dos recursos hídricos. Brasília, 2013. Disponível em:
<https://www.ana.gov.br/acesso-a-informacao/institucional/publicacoes>. Acesso
em: 17 nov. 2019.

ANDRADE, R. da S.; STONE, L. F. Índice S como indicador da qualidade física de


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