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MEIO AMBIENTE

Anderson Pires
Revisão técnica:

Vanessa de Souza Machado


Mestre e Doutora em Ciências
Graduada em Ciências Biológicas

M499 Meio ambiente [recurso eletrônico] / Ronei Tiago Stein


... [et al.]; [revisão técnica : Vanessa de Souza Machado]. –
Porto Alegre : SAGAH, 2018.

ISBN 978-85-9502-573-8

Engenharia de produção. 2. Meio ambiente. I. Stein,


Ronei Tiago.

CDU 502

Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB – 10/2147


Gestão ambiental:
reciclagem e a questão
dos lixos nas cidades
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Descrever como ocorre a gestão dos resíduos nas grandes cidades.


„„ Reconhecer os impactos ambientais e sociais dos lixões.
„„ Identificar boas práticas na gestão de resíduos nas cidades.

Introdução
O engenheiro ambiental, por formação, deve ter conhecimentos pro-
fundos sobre o que chamamos de “lixo”: tipos, origens, tratamentos e
destinação. Da mesma forma, esse profissional deve estar apto a desen-
volver pesquisas e experimentar novas metodologias, exercitando sua
capacidade em gestão de projetos.
Na primeira sessão deste capítulo, definiremos “lixo”, caracterizando
os tipos existentes e suas origens. Trataremos, igualmente, de como deve
ser sua gestão nas grandes cidades; para tanto, analisaremos a Política
Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Na segunda parte, partindo de
uma reflexão sobre a má gestão do lixo, vamos caracterizar os impactos
ambientais e sociais dos lixões, discutindo as maneiras pelas quais podem
ser mitigados. Finalmente, vamos identificar boas práticas na gestão de
resíduos nas cidades, examinando diferentes tecnologias e iniciativas.

Gestão do lixo nas grandes cidades


Progressivamente, na medida em que a humanidade se tornou urbana, mais
bens de consumo passaram a ser produzidos. Em consequência, aumentou
também a produção de lixo. Mas, afinal, como poderíamos definir lixo? O
2 Gestão ambiental: reciclagem e a questão dos lixos nas cidades

artigo 225 da Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, afirma


que todo brasileiro tem direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado
(BRASIL, 1988); a existência de lixo fora do local correto fere esse direito.
Há uma confusão “semântica” entre resíduo e rejeito: muitas vezes o
termo resíduo é utilizado como uma forma polida de chamar o lixo. Resíduo,
de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS — Lei nº
12.305/ 2010) é toda substância resultante fora do contexto ecológico, ou que
não seja consumido, ou que crie uma desarmonia entre o fluxo dos elementos
nos sistemas ecológicos (BRASIL, 2010a). Em outas palavras, é o “resto”, a
“sobra”. Entretanto, ainda pode ser reaproveitado ou reciclado. Se resíduo
possui sentido técnico, lixo tem um sentido comercial, e rejeito é o que não
pode ser reciclado ou reaproveitado, seja por carência tecnológica ou custo. De
qualquer maneira, o rejeito necessita de uma “disposição final ambientalmente
adequada” (BRASIL, 2010a, documento on-line).
Outra confusão ocorre entre gestão e gerenciamento de resíduos entre os
setores público e privado: gestão é integrada, um conjunto de ações e planeja-
mentos políticos, socioeconômicos, culturais e ambientais, de responsabilidade
do município (conforme a PNRS); gerenciamento, por sua vez, é o conjunto de
ações feitas pelo setor privado e pelas instituições com os resíduos gerados.
O artigo 3 da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA, Lei nº 6.938/81)
traz o conceito de poluente, que é uma forma de matéria ou energia que conta-
mine o meio ambiente com algo que não lhe seja próprio (BRASIL, 1981); da
forma em que se apresenta, é prejudicial. Esse conceito refere-se a substâncias
sólidas, líquidas, gasosas, e o lixo está no meio disso. Popularmente, nos re-
ferimos ao lixo como resíduo sólido, ou quase, pois definimos resíduo sólido
como lixo, refugo, lodo, lamas e borras resultantes de atividades humanas de
origem doméstica, profissional, agrícola, industrial, nuclear ou de serviço,
ou seja, naturalmente já separamos lixo em uma categoria de resíduo sólido.
Esse conceito, sendo analisado em conjunto com a NBR n. 10.004/2004 (AS-
SOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004) nos informa
que resíduos sólidos e semissólidos são originados das atividades industrial,
doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição.
Conforme o artigo 13 da PNRS, os resíduos sólidos podem ser classificados
quanto ao tipo, à origem e à periculosidade (BRASIL, 2010a). Os resíduos
sólidos urbanos (RSU) podem ser orgânicos, como restos de alimentos, de
podas de jardim, papel e madeira, ou inorgânicos, como plástico, vidro, me-
tal, borracha e outros. Os RSU, quanto à origem, englobam os domiciliares,
originários de atividades domésticas em residências urbanas e os de limpeza
urbana, da varrição, limpeza das vias públicas e outros serviços. Os resíduos
Gestão ambiental: reciclagem e a questão dos lixos nas cidades 3

de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços englobam também


os de limpeza urbana, dos serviços públicos de saneamento básico, de serviços
de saúde, da construção civil e de serviços de transportes. Há ainda os resíduos
industriais, resíduos agrossilvopastoris e os resíduos de mineração, gerados na
atividade de pesquisa, extração ou beneficiamento de minérios. O foco deste
capítulo são os RSU, os resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores
de serviços e os resíduos industriais, que são os mais impactantes nas cidades.
Quanto à periculosidade, temos, ainda, os resíduos perigosos, que de alguma
forma apresentam risco significativo à saúde pública ou à qualidade ambiental,
e os não perigosos. Após a publicação da PNRS, o Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) publicou a
Lista Brasileira de Resíduos Sólidos (Instrução Normativa IBAMA 13/2012),
elencando os resíduos sólidos no Brasil (INSTITUTO BRASILEIRO DO
MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS, 2012).
A Lei do Saneamento Básico (11.445/2007) definiu melhor RSU (BRASIL,
2007a), adicionando aos atuais resíduos domiciliares e resíduos de limpeza
urbana, o lixo originário de atividades comerciais, industriais e de serviços
que o gerador não é capaz de manejar — um conceito mais amplo.
Analisando os RSU sob o ponto de vista da periculosidade, importantes
aspectos da vida na cidade chamam nossa atenção: colocamos no lixo me-
dicamentos vencidos, pilhas, produtos de limpeza, lâmpadas fluorescentes,
restos de tintas, solventes, aerossóis, e outros materiais que contêm substâncias
químicas nocivas ao meio ambiente. Esses resíduos têm normas específicas
de descarte, desconhecidas da grande maioria da população. Outro ponto é
interessante diz respeito ao lixo eletrônico. Apesar de o lixo urbano ainda
ser, em maior proporção, composto por materiais orgânicos, a quantidade
de papel e material de embalagem (metais, plásticos e papelão), pilhas, óleo
lubrificante usado (OLU), restos de tinta e outros aumentou bastante, e tende a
aumentar cada vez mais. A isso soma-se o que foi denominado o lixo eletrônico,
composto por computadores, telefones celulares, televisores e monitores de
computador que tomam um destino errado, ocupando espaço e contaminando
o meio ambiente com metais pesados presentes nas peças e componentes
desses produtos. Mercúrio, chumbo, cádmio e níquel são cumulativos nos
tecidos vivos, e seus efeitos a longo prazo são desconhecidos, pois ainda não
há “um longo prazo”. Os fatos já conhecidos nos mostram que devemos tomar
medidas urgentes a respeito dessa realidade.
4 Gestão ambiental: reciclagem e a questão dos lixos nas cidades

Embora os pneus usados sejam classificados como inertes, são resíduos indesejáveis,
ambientalmente falando, devido a sua grande quantidade: cerca de 21 milhões de
pneus de todos os tipos são descartados anualmente no Brasil, segundo a Associação
Nacional da Indústria de Pneumáticos. Mecanicamente, nos lixões e pátios, os pneus
acumulam água e funcionam como uma incubadora de mosquitos vetores da malária,
da dengue, das febres amarela e chikungunya e da zyka. Acumulam-se também no
fundo de rios e lagos, contribuindo para enchentes. Quando queimados, produzem
fumaça muito tóxica por causa da presença de dioxinas e furanos.

Pelo que vimos, o problema maior diz respeito à gestão inadequada dos RSU,
já que esta é a mais visível e volumosa. Se considerarmos o lixo com respeito
ao estado físico, as emissões líquidas (inclusive as “pastosas”) e gasosas são
de mais difícil detecção. Entretanto, há, para estas, medidas específicas a se
tomar. Em se tratando de RSU, a PNRS (BRASIL, 2010a) propôs instrumentos
de gestão significativos para o combate de problemas ambientais importantes,
bem como seus reflexos sociais e econômicos.
A PNRS inseriu hábitos de consumo sustentável e ressignificou o termo
“lixo”, com implementação da reciclagem e reuso dos RSU, subtraindo desse
conceito negativo materiais que são matéria prima em potencial, além de
pressionar para a destinação ambientalmente adequada dos rejeitos, come-
çando pela separação do lixo. Instituiu o que se chamou de “responsabilidade
compartilhada” (BRASIL, 2010a, documento on-line) do gerador de RSU com
a comunidade e o prestador de serviço de Logística Reversa dos resíduos e
embalagens. Também criou metas para a eliminação dos lixões, problema que
estudaremos na sessão seguinte, fornecendo instrumentos de planejamento
e gestão para diversas esferas de governo. Por fim, tornou obrigatória para
a iniciativa privada a elaboração de Planos de Gerenciamento de Resíduos
Sólidos (PGRS). A Lei modernizou os saberes da gestão de resíduos sólidos
e trouxe novas ferramentas de gestão para a legislação ambiental.
A gestão integrada dos resíduos sólidos de serviços de saúde, da construção
civil, de mineração, de portos, aeroportos e fronteiras, industriais e agros-
silvopastoris, reúne as ações voltadas a encontrar soluções para os resíduos
sólidos, com planos nacional, estaduais, microrregionais, intermunicipais,
municipais e de gerenciamento. Os planos de gestão dos governos federal,
estaduais e municipais passaram a tratar de assuntos relativos à coleta seletiva,
Gestão ambiental: reciclagem e a questão dos lixos nas cidades 5

reciclagem, inclusão social e participação da sociedade civil. A PNRS (BRA-


SIL, 2010a) instituiu a responsabilidade compartilhada de toda a sociedade
na gestão de RSU, com o objetivo de reduzir a geração de resíduos sólidos,
o desperdício de materiais, a poluição e os danos ambientais, e incentivar o
desenvolvimento de mercados e a produção e consumo de produtos derivados
de materiais reciclados e recicláveis. Ademais, a logística reversa mobiliza a
sociedade na responsabilização da destinação ambientalmente adequada dos
RSU, estimulando o recolhimento de produtos e embalagens após seu consumo
e o reaproveitamento, no mesmo ciclo produtivo ou em outros.
Com base nesses preceitos, o Ministério do Meio Ambiente criou a Agenda
Ambiental na Administração Pública (A3P), um programa para estimular
os órgãos públicos à sustentabilidade. A A3P visa à eficiência na atividade
pública e à preservação do meio ambiente (MINISTÉRIO DO MEIO AM-
BIENTE, 2009). Estrutura-se segundo seis eixos: uso dos recursos naturais;
qualidade de vida no ambiente de trabalho; sensibilização dos servidores para
a sustentabilidade; compras sustentáveis; construções sustentáveis; e gestão de
resíduos sólidos. Para auxiliar os órgãos a atingirem esses objetivos, conta com
capacitações mais aprofundadas, mobilizações para apresentar os conceitos
da A3P e exposições instrutivas.
A PNRS proibiu o descarte de rejeito em “lixões” e limitou a ação de
catadores. Este movimento visou a preservação do meio ambiente e a inserção
dos catadores na cadeia da reciclagem, para promover a cidadania e inclusão
social com geração de emprego e renda.

Engenheiro ambiental usa entulho como base em obras civis


A iniciativa de um engenheiro ambiental em Ribeirão Preto (SP) criou uma maneira
vantajosa de usar o material reciclado proveniente da construção civil. Ele utilizou
material proveniente da reciclagem de resíduos da construção civil, livre de impurezas,
no lugar da brita, com dimensão máxima recomendada para esse tipo de aplicação,
dentro das normas da ABNT vigentes.
O investimento foi feito em parceria com o proprietário de um aterro e um empresário.
Já existem outros projetos com a utilização de material reciclado destinado a calçadas
e estradas rurais (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS ENGENHEIROS AMBIENTAIS, 2015). Leia
mais sobre a experiência acessando o link a seguir.

https://goo.gl/Fq8F8Z
6 Gestão ambiental: reciclagem e a questão dos lixos nas cidades

O impacto dos lixões


“Lixão” é um local legalizado, usado pelo poder público, geralmente Muni-
cipal, para depositar o RSU gerado pela comunidade. Entretanto, o descarte
de materiais nesse local é feito de maneira não normatizada, sem condições
sanitárias adequadas. Essa é uma definição pragmática, pois define o “depósito
de lixo” para onde vai todo o RSU coletados pelo serviço de coleta pública
sob responsabilidade do poder público. Salienta-se, contudo, que tanto o
serviço de depósito e suas implicações, quanto os serviços de coleta podem
ser concedidos à iniciativa privada.
O poder público parece ignorar a relevância do impacto causado pelos
lixões, pois muitos municípios ainda mantêm esses espaços para disposição
dos resíduos produzidos nas cidades. Esse fato motiva forte discussão nas
esferas ambientais, sociais e econômicas. Muitos “lixões” são irregulares, pois
não possuem licença ambiental nem acompanhamento ou gestão do que está
sendo depositado em seu interior. Misturam resíduos domiciliares orgânicos e
inorgânicos, resíduos de varrição de praças e logradouros, resíduos perigosos,
resíduos hospitalares e resíduos da construção civil, entre outros.
Oficialmente, não existem desde 2014, quando a Política Nacional de
Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010) determinou seu fechamento (BRASIL,
2010a). Porém, muitos municípios brasileiros ainda contam com lixões ativos.
Para entender o impacto dos lixões, é necessário estudar as mudanças ecológi-
cas, sociais, culturais e estéticas que ocorrem no local e em seu entorno, que
são a área diretamente afetada (ADA), onde está implantado o empreendimento,
a área de influência direta (AID), que é o entorno imediato, a vizinhança e a
área de influência indireta (AII), que é a área que é afetada em menor grau.
O impacto ambiental deve ser caracterizado, identificando o dano causado e
seu autor, bem como a extensão e a efetividade. O maior prejuízo se dá em
relação às características ambiental, social, sanitária e econômica. Ambiental-
mente, os lixões impactam descaracterizando totalmente a paisagem natural,
contaminando as águas e o solo. Quanto a este, diminuem a qualidade, seja
da impermeabilização ou da ação de microrganismos. Outro fator a ser con-
siderado é a supressão da vegetação e a atração de espécies exóticas.
Lixões são locais insalubres cuja farta oferta de matéria orgânica atrai
todo o tipo de vetor, como ratos, baratas, mosquitos, bactérias e vírus, que são
responsáveis pela transmissão de várias doenças como leptospirose, dengue,
cólera, diarreia, febre tifoide e verminoses. Esse panorama agrava-se pela
falta de renda e posses dos catadores, que vivem à margem da sociedade e
Gestão ambiental: reciclagem e a questão dos lixos nas cidades 7

dos serviços de saúde. O problema social se amplia pela própria exclusão,


pois catadores são rotulados como pessoas sem posses e que se alimentam
do próprio lixo, o que, em muitas situações, é verdade.
Pela imensa quantidade de material descartado sem qualquer critério ou
triagem, os lixões também caracterizam um sumidouro de materiais poten-
cialmente reutilizáveis, que gerariam uma economia de recursos ambientais,
por assim dizer, e uma grande economia social, ou seja, uma possibilidade de
renda para os desfavorecidos do local. Relativamente ao porte dos lixões, as
áreas de influência podem se tornar imensas, atingindo municípios vizinhos
com maus odores, fumaças resultantes da queima de resíduos, e lixiviados
(chorumes). O impacto econômico de um lixão é complexo, composto por
ocorrências diretas e indiretas impossíveis de rastrear, como o gasto com
consultas e internações de cidadãos (custo direto) e a improdutividade nestes
dias (custo indireto).
O Brasil tem cerca de 3 mil lixões ou aterros irregulares. Mesmo após a lei
que visou a acabar com a prática de lixões, eles operam fortemente. Alguns
funcionam, inclusive, com aval do serviço público, impactando a qualidade
de vida de 77 milhões de brasileiros. As perguntas que devemos nos fazer são:
Quando os lixões forem eliminados, como prevê o PNRS, todas as cidades
vão apresentar planos de gestão integrada de resíduos? A taxa de reciclagem
vai aumentar? Os catadores estarão incluídos no processo?
A PNRS (BRASIL, 2010a) pune quem deposita produto ou substância
tóxica, perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente ou os usa,
manipula, acondiciona, armazena, coleta, transporta, reutiliza, recicla ou dá
destinação final de forma diversa da normatizada. A consequência da incerteza
quanto ao que pode ser encontrado em um lixão é clara: o Brasil gasta cerca
de R$ 800 milhões por ano em doenças relacionadas ao lixo. Obviamente, as
principais vítimas são os catadores de materiais recicláveis e as populações
vizinhas desses locais — principalmente as crianças.
A sustentabilidade é uma questão de sobrevivência. As prefeituras recla-
mam que não possuem recursos para se adequar à lei, acabar com os lixões
e implantar a coleta seletiva e as usinas de reciclagem e compostagem do
material orgânico. O valor necessário é o mesmo que os municípios arrecadam.
Entretanto, muitos não se organizam para usar os recursos destinados a isso
pelo BNDES ou convênios internacionais. Pesquisas recentes indicam que
pouco mais da metade dos municípios trata o lixo de alguma forma, mesmo
que inadequada.
8 Gestão ambiental: reciclagem e a questão dos lixos nas cidades

Como vimos, os resíduos são encaminhados para o lixão, que é um local a


céu aberto, com materiais descartados de qualquer maneira e sem tratamento.
Isso causa problemas ambientais como a poluição das águas subterrâneas e
cursos d’água vizinhos, proliferação de animais parasitas e odores de fer-
mentação, que são a origem do chorume, concentrado em metais, bactérias e
matéria orgânica. O chorume contamina o solo e a água subterrânea e super-
ficial. Necessita de grande volume de oxigênio para a decomposição, o que
sequestra da fauna aquática, causando sua morte. Quando presente no lençol
freático, o chorume causa forte impacto na saúde pública. Em suma, é muito
mais danoso que o esgoto urbano, além de ser de mais difícil tratamento. Se
fossem seguidas as normas específicas de disposição ambientalmente correta
do lixo, teríamos aterros sanitários, onde se depositam RSU com controle da
poluição e proteção ao meio ambiente. Aterros são equipados com tratores
compactadores. Após a compactação, o lixo é coberto com areia, para diminuir
odores, evitar incêndios e reduzir a população de insetos e roedores. Mesmo
com a coleta e o tratamento do chorume, é importante que uma distância
mínima de 400m de qualquer curso d’água seja mantida.
Uma questão relevante quanto ao lixo diz respeito ao desperdício que a
má gestão acarreta. Se analisarmos cuidadosamente, nosso lixo doméstico
é 2/3 biodegradável, sendo o restante papel, plástico, vidro e metal. Deste
modo, o que não pode ser compostado, pode reentrar no ciclo produtivo. No
cenário atual, principalmente no Brasil, é muito difícil garantir destinação
adequada para os resíduos. Isso tem duas razões principais: a geração do
lixo, que é incorreta, sem separação; a falta de locais adequados à sua des-
tinação, dada a situação dos lixões. Outra questão relevante é que esse 1/3
de material não-biodegradável ocupa um grande espaço, sendo causador
do problema “visível” do lixão: o tamanho, que se expande em grande
velocidade. Segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB)
de 2008 (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA,
2008), foram coletadas quase 260 mil toneladas de RSU por dia. Esses
rejeitos, ademais, atraem populações em situação socialmente vulnerável,
que acabam estabelecendo comunidades de catadores no entorno dos lixões,
com as mazelas que discutimos anteriormente.
O problema “invisível” é causado, em parte, pelos 2/3 de material com-
postável: por ser contaminado, esse material causa doenças debilitantes e até
fatais, com impacto na saúde pública. Por se tratar de alimento, atrai animais
conurbados — aqueles que vivem conosco, beneficiando-se do que lhes for-
necemos. Esses animais transmitem doenças e, novamente, geram impacto na
Gestão ambiental: reciclagem e a questão dos lixos nas cidades 9

saúde pública. Ademais, eles acabam entrando em decomposição descontrolada


ali mesmo, gerando o chorume que contamina águas subterrâneas e causa
impacto na saúde pública.
Misturados a esses componentes, temos no lixão materiais que não deve-
riam estar ali — pilhas, termômetros, eletrônicos, medicamentos, etc. Eles
contaminam o solo pelo contato ou pela lixiviação, usando o chorume como
veículo. Essa geração deste tipo de lixo é proporcional ao desenvolvimento e
ao crescimento do poder aquisitivo. Também é resultado da falta de educação,
que ocasiona o descarte irregular e não separado de eletrônicos! A falta de
educação causa cada vez mais distanciamento social e impactos socioeconô-
micos, pois se reflete na destinação social do solo, causadora da especulação
imobiliária. Portanto, quanto menor for a educação, haverá menos separação
e mais lixo, catadores, segregação social, gastos com saúde pública, crimina-
lidade e degradação ambiental.

Sabemos que há uma tendência de crescimento populacional e de aumento da


industrialização e produção. Haverá, portanto, aumento da geração de resíduos, com
seu impacto ambiental concomitante. Sem uma atitude, poderemos colaborar com
a inesgotabilidade do resíduo. Além disso, a degradação ambiental será irreversível
se não houver uma conscientização. O engenheiro ambiental, por vocação, deve se
colocar como um agente dessa transformação.

A disposição inadequada dos RSU (Figura 1), pelo ponto de vista sanitário,
é responsável pela proliferação de vetores e pela incubação das doenças nas
comunidades vivas. Pelo ponto de vista ambiental, essa disposição é altamente
impactante e causadora de degradação. Além do que já foi exposto, devemos
destacar as emissões atmosféricas de gases do efeito estufa, causados pela
incineração espontânea e pelo metano gerado da decomposição não monitorada,
vilão da degradação da camada de ozônio.
Pelo ponto de vista social, os lixões são igualmente graves, pela segre-
gação causada, pelo impacto na saúde pública e pelas condições desumanas
de vida.
10 Gestão ambiental: reciclagem e a questão dos lixos nas cidades

Figura 1. Caminhões descartando RSU em um “lixão”. Solução de grave impacto


ambiental e socioeconômico.
Fonte: Gorlov-KV/Shutterstock.com.

Você ouviu falar sobre o acidente nuclear de Goiânia (GO)?


Em setembro de 1987, um equipamento de radioterapia abandonado foi levado a um
ferro-velho. Ao ser aberto, as pessoas foram expostas a um material brilhante e bonito!
Só que esse material era Césio radioativo, o isótopo Ce137. Além das quatro pessoas que
morreram por síndrome de radiação aguda, entre elas a menina Leide, sobrinha do
dono do ferro-velho, mais de 40 famílias foram atingidas. Hoje, vizinhos e trabalhadores
que atuaram no acidente também se tornaram vítimas, sendo que 1.100 pessoas foram
atendidas no Centro de Assistência aos radioacidentados (CARA). Foram concedidas
pelo governo 751 pensões, até agora. Foram 93 g de cloreto de césio que geraram
3.500 m³ de resíduos, levados para uma unidade do CNEN em Abadia de Goiás (GO).
Essa tragédia poderia ter sido evitada por uma gestão de resíduos bem feita. Na
situação atual do País, um acidente semelhante pode ocorrer a qualquer momento. Leia
mais sobre essa notícia acessando o link a seguir (GUIMARÃES; BONALUME NETO, 2017).

https://goo.gl/48k7d2

No link a seguir, veja o acompanhamento dado pelo Governo do Estado de Goiás


(GOVERNO DE GOIÁS, [201?]):

https://goo.gl/HjpGh5
Gestão ambiental: reciclagem e a questão dos lixos nas cidades 11

Há gestão de resíduos acontecendo


de maneira correta nas cidades?
Atualmente, estamos em desvantagem. Quando se fala no quadro institucional,
observamos que muitas prefeituras municipais não agiram, alegando falta de
recursos financeiros e técnicos. Existem várias causas para essa imobilidade,
que não discutiremos. Entretanto, se considerarmos as Leis do Saneamento
Básico (11.445/2007) (BRASIL, 2007a) e de Consórcios Públicos (11.107/2005)
(BRASIL, 2005) e seus decretos de regulamentação (7217/2010 e 6.017/2007)
(BRASIL, 2010b; 2007b), constatamos que há jurisprudência para achar solu-
ções, e que projetos existem. Portanto, estabelecer parcerias com segmentos
interessados é possível e viável. Ainda assim, há a possibilidade de intercâmbio
com outros estados e municípios, possibilidade pouco explorada. E muito se
faz, por vontade política, sem planejamento; sem a ação de um profissional
apto, como um engenheiro ambiental.
A PNRS (BRASIL, 2010a) define gerenciamento de resíduos sólidos como
o conjunto de ações exercidas em todas as etapas desde a coleta até a disposi-
ção final ambientalmente adequada que sigam um plano municipal de gestão
integrada de resíduos sólidos ou, pelo menos, um plano de gerenciamento
de resíduos sólidos. Da mesma forma, define gestão integrada de resíduos
sólidos como o conjunto de ações voltadas para resolver a situação dos RSU,
considerando “as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social”
(BRASIL, 2010a, documento on-line) e buscando o desenvolvimento susten-
tável. Além disso, o gerenciamento de resíduos sólidos tem forte componente
na inovação tecnológica e na operacionalidade das etapas envolvidas. Deve se
voltar a criação de condições de trabalho para os catadores dos “lixões”, em
conjunto com municípios. Devemos buscar um modelo de gestão dos resíduos
urbanos socialmente integrada, fundamentado também em alternativas de
tratamento e valorização dos resíduos voltados a redução dos impactos sobre
a saúde humana e o meio ambiente. Essas estratégias aplicadas ao desenvolvi-
mento de modelos de gestão de RSU devem estar fundamentadas na redução do
consumo, no reuso e/ou na reciclagem, na compostagem e na disposição final
ambientalmente adequada. Alternativamente, se pode discutir a incineração
como alternativa à disposição de boa parte dos resíduos, antes de dispô-los
em aterros sanitários, com o benefício da geração de energia.
Um exemplo aplicável é dado pelos órgãos públicos que adotaram a A3P
(MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2009) e o Decreto nº 5.940/2006
(BRASIL, 2006), que permite formar “Comissões para a Coleta Seletiva”
nos órgãos. Essas comissões possuem o objetivo de coordenar a separação e a
12 Gestão ambiental: reciclagem e a questão dos lixos nas cidades

destinação dos resíduos para catadores organizados em associações e coopera-


tivas. Esses órgãos públicos contribuem diretamente para a redução do envio
de resíduos sólidos para o “lixo” e para a inclusão social dessas comunidades
socialmente vulneráveis. Apresentam ao Comitê Interministerial da Inclusão
Social de Catadores de Lixo (Decreto nº 7.405/2010) (BRASIL, 2010c) rela-
tórios semestrais de processo. Esse decreto, em particular, embasa a inclusão
produtiva das pessoas por meio do projeto Coleta Seletiva Solidária (BRASIL,
2010c), criando uma cultura institucional de gestão dos resíduos, parte da A3P.
Outro ganho importante dessa iniciativa são as ações de capacitação, formação
técnica e assessoria, incubação de cooperativas e de empreendimentos sociais,
e incentivo a pesquisas voltados ao desenvolvimento de tecnologias de reci-
clagem (Figura 2). O motivo é claro: os catadores de materiais recicláveis só
são um problema social e ambiental se desvalorizados e desprezados, pois, na
realidade, são agentes de transformação ambiental cuja atuação tem impacto
direto no volume de lixo coletado e destinado incorretamente, trazendo fôlego
aterros sanitários. Da mesma forma, são parte importante da cadeia produtiva,
pois geram bens e serviços. A atividade de reciclagem, quando organizada,
é uma alternativa de inclusão social para os catadores, pois configura uma
oportunidade de ingressar em um mercado formal de trabalho, até mesmo
dentro dos moldes do empreendedorismo. Garantem, assim, a subsistência
de profissionais, com a revenda e processamento do material reciclável. Em
suma, o gerenciamento integrado do “lixo” significa uma abordagem social,
técnica e operacional do sistema de limpeza urbana.

A população atua fortemente como agente transformador quando se fala na sanidade


ambiental. No gerenciamento de resíduos sólidos, deve-se considerar não gerar lixo, ou
pelo menos reduzir o lixo gerado. Isso implica na otimização dos processos produtivos,
visando a levar às pessoas bens de consumo com o mínimo de oportunidades de gerar
resíduos, ou seja, “buscar a meta de resíduo zero na produção”, como o faz a Alemanha,
por exemplo. Isso significa, para o consumidor, a educação para o consumo consciente,
com o objetivo de não gerar excedentes; para o governo, significa estimular a produção
de bens com desmonte facilitado e dar incentivos fiscais a empresas recicladoras. O
governo deve, ainda, agir nas escolas, nos níveis fundamental e médio, por meio de
educação ambiental, buscando criar uma cultura do consumo consciente, da resis-
tência às técnicas de marketing que induzem ao consumo e do conhecimento sobre
formação de preço e valor agregado; além, é claro, da propagação do conhecimento
sobre redução de “lixo”, disposição correta e reciclagem/reuso.
Gestão ambiental: reciclagem e a questão dos lixos nas cidades 13

Figura 2. Paiol de reciclagem organizado em Piracicaba (SP): organização da produtividade


e resgate da dignidade do catador.
Fonte: Alf Ribeiro/Shutterstock.com.

Um conceito pronto para esse fim, que traz a vantagem da aceitação cole-
tiva e normalização das culturas, é a política dos cinco “R”, que educa para a
redução do consumo, o reuso e a reciclagem: reduzir, repensar, reaproveitar,
reciclar e recusar-se a consumir produtos que gerem impactos socioambientais
significativos. Cada termo se autoexplica de forma inteligente. O objetivo
explícito é induzir no cidadão a reflexão que leve à redução do consumo
exagerado e do desperdício. Destaca-se que a reciclagem já é praticada por
indústrias de papel, vidro, plástico ou metal de reuso, entre outros, em suas
linhas de produção. Tais empresas ganham no marketing associado ao quinto
“R”, pois podem usar símbolos padronizados para a rotulagem ambiental, que
facilitem a identificação e a separação dos materiais, induzindo a preferência
do consumidor. Com a política dos cinco “R”, ganha-se com a redução na
extração de recursos naturais, dos resíduos nos aterros (aumentando da sua
vida útil) e do custo de tratamento. Reduz-se, também, o uso de energia, e
ainda se ganha com a intensificação da economia local de reciclagem.
14 Gestão ambiental: reciclagem e a questão dos lixos nas cidades

Podemos identificar uma evolução no gerenciamento integrado de resíduos


sólidos, em três etapas, que começaram nos países desenvolvidos e hoje se
expandem para o resto do planeta. Até o final da década de 1960 e início da
década seguinte, os RSU eram compostos majoritariamente por lixo orgânico,
que era coletado e transportado até lixões, obedecendo a critérios pragmáticos
como a localização — estar longe da cidade ou local de fácil aterramento.
Não havia preocupação ambiental de qualquer tipo, como o esgotamento de
recursos, do espaço nos lixões, do impacto ambiental — infelizmente, muitos
municípios ainda seguem este modelo.
A segunda etapa da evolução dos modelos de gerenciamento integrado
de resíduos sólidos urbanos começa com a Conferência das Nações Unidas
de Estocolmo Sobre Meio Ambiente Humano, em 1972. Algumas nações se
deram conta das ameaças do progresso descuidado, como a desertificação,
a destruição da camada de ozônio, o efeito estufa e a redução da agua po-
tável. Além da água, veio a consciência de que outros recursos naturais são
limitados. Concomitantemente, houve o despertar para um mundo empático,
onde se valoriza a paz, os direitos humanos e o desenvolvimento equitativo
(oportunidades iguais para todos). Na metade da década de 1970, uma reunião
da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)
falou pela primeira vez em gerenciamento de resíduos sólidos com redução
da geração de resíduos, reciclagem, incineração para geração de energia e,
por último, disposição dos resíduos em aterros sanitários.
No final da década de 1980, entramos na terceira e atual etapa do processo
evolutivo, quando a preocupação com a redução do volume de resíduos se
torna constante, permeando todo o processo produtivo.
Atualmente, podemos ver dois modelos de gestão/gerenciamento de resíduos
sólidos: o convencional e o participativo, mais moderno. O modelo de gestão
convencional é o adotado pela maioria dos municípios onde os serviços de
limpeza urbana têm seu próprio modelo de gestão, com ou sem terceirização.
O modelo de gestão participativa é caracterizado pela participação da comu-
nidade, organizada em conselhos, para a elaboração do orçamento anual ou
plurianual, junto ao poder público. Esse modelo leva as sugestões em consi-
deração e as aplicam nos serviços de limpeza urbana, buscando solucionar
os problemas apontados.
Comumente, encontra-se nestes dois modelos um compartilhamento entre
os municípios de etapa final da Gestão de Resíduos Sólidos, que se denomina
Gestão ambiental: reciclagem e a questão dos lixos nas cidades 15

Compartilhada, onde, independente do modelo de gestão adotado, o envio


ocorre para um local comum. Temos esse modelo no Rio Grande do Sul, onde
o RSU é enviado pelos municípios para os aterros sanitários da Companhia
Riograndense de Valorização de Resíduos (CRVR), nas cidades de Giruá, Minas
do Leão (o maior), Santa Maria, São Leopoldo e Victor Graeff. A CRVR foca
na destinação final e geração de valor do RSU, oferecendo soluções integradas
de tratamento por meio de práticas inovadoras, sustentáveis e ambientalmente
seguras. Esses aterros sanitários possuem unidades de triagem que separam
os resíduos recicláveis, para reaproveitamento e retorno ao ciclo produtivo.
O efeito é a diminuição do volume destinado e aumento da vida útil. Cada
aterro sanitário tem uma estação de tratamento de efluentes pelo método
biológico, com filtros biológicos, lagoa aerada, lagoas facultativas e banhados
construídos ou pelo método físico-químico com nanofiltração, osmose reserva
e tratamento externo. O exemplo de que a inovação pode ser feita está na
implantação de sistema de captura e oxidação térmica do biogás gerado na
unidade de Minas do Leão/RS, tecnologia aprovada pela ONU, incluída no
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) do Protocolo de Kyoto. Lá,
98% do metano do biogás é destruído, o que corresponde a 400 mil toneladas
equivalentes de gás carbônico (CO2) por ano. O metano é 25 vezes danoso à
camada de ozônio que o CO2. A queima do biogás ocorre em uma unidade
de geração de energia com potência de 8,5 MW, atendendo uma população
de aproximadamente 100 mil habitantes. Atualmente, mais sistemas estão em
desenvolvimento para a implantação de mais duas Unidades de Valorização
Energética, nas Centrais de São Leopoldo e Santa Maria.

Cidade lixo zero!


Em 2017, em relatório publicado pelo Serviço de Estatística da União Europeia (Eu-
rostat), constava a seguinte notícia: a Itália obteve a maior porcentagem de reciclagem
da União Europeia. A marca alcançada foi 76,9%, o que demonstra que, com vontade
pública, é possível atingir metas de reciclagem. 50% dos RSU do país são reciclados.
A Itália adota um sistema porta a porta de coleta, usando saquinhos recicláveis que
atraem a população para a prática. As multas também colaboram com essa adesão.
Em Milão, que é uma metrópole, até o lixo de cozinha é reciclado. Isso é tão exemplar
que outras cidades estão buscando esse modelo para aplicação, como Paris, Barcelona
e Nova Iorque.
16 Gestão ambiental: reciclagem e a questão dos lixos nas cidades

1. A Política Nacional de Resíduos serem inertes, não interagem


Sólidos, a Política Nacional do Meio com os seres vivos.
Ambiente e a Lei do Saneamento 2. Analise as afirmações e assinale
Básico (junto com instruções a que condiz com a matéria da
normativas e decretos) definem Política Nacional de Resíduos
lixo, resíduo, rejeito e resíduo sólido Sólidos (PNRS) e suas definições.​
urbano (RSU). Analise as afirmações a) A PNRS define o termo “lixo”
e assinale a alternativa correta. e dá força de lei à reciclagem
a) Os resíduos sólidos, quando e ao reuso dos RSU, como
classificados como orgânicos, fonte de matérias-primas,
incluem material de origem mas não versa sobre a
biológica (p. ex., restos de destinação ambientalmente
alimentos, papel e madeira) adequada dos rejeitos, uma
ou de origem orgânica (p. vez que já era cumprida
ex., plástico e borracha). pela Lei do Saneamento
b) Resíduo é o que não pode ser Básico (nº 11.445/2007).
reciclado ou reaproveitado, seja b) Os planos de gestão dos
por carência tecnológica ou governos federal, estaduais
custo, mas, de qualquer forma, e municipais passaram a
necessita de uma “disposição tratar de assuntos relativos à
final ambientalmente adequada”. coleta seletiva, reciclagem,
c) O lixo eletrônico se tornou um inclusão social e participação
problema por conta do grande da sociedade civil.
volume representado pelos c) O gerador é responsável
equipamentos descartados ao pelo RSU originado por seus
serem substituídos por novas produtos até que estes repassem
tecnologias. Porém, a grande para o consumidor, sendo o
velocidade com que são serviço de logística reversa de
feitos (sendo, basicamente, de resíduos e embalagens uma
plástico e metal) não apresenta fonte estimulada de lucro.
riscos à saúde humana. d) Planos de Gerenciamento de
d) A Lei do Saneamento Básico Resíduos Sólidos (PGRS) são
definiu RSU como o conjunto de ferramentas de gestão muito
resíduos domiciliares, resíduos eficientes, principalmente
de limpeza urbana, lixo originário como captadores de recursos
de atividades comerciais, financeiros, sendo facultativos
industriais e de serviços que o para a iniciativa privada.
gerador não possa manejar. e) A logística reversa mobiliza a
e) Os pneus devem ter disposição sociedade na responsabilização
adequada, pois podem causar do consumo inteligente
graves incêndios; porém, por através da devolução do
Gestão ambiental: reciclagem e a questão dos lixos nas cidades 17

produto excedente adquirido, controle e causam graves


sendo o fabricante obrigado consequências. Sobre esses
a aceitar esse excedente. impactos, marque a opção correta.
3. Oficialmente, os lixões não deveriam a) Na água superficial, é necessário
existir, pois a PNRS determinou grande volume de oxigênio
o fechamento até 2014. No entanto, para a decomposição, que
muitos municípios brasileiros ainda é sequestrado da fauna
têm lixões ativos. Sobre esse tema, aquática, causando a morte.
suas definições e particularidades, b) O chorume é gerado pela
escolha a alternativa correta. lavagem do lixo pela chuva e
a) Para entender o impacto dos é um agente poluidor
lixões, é necessário estudar as silencioso, inodoro, que turva
mudanças ecológicas, sociais, o abastecimento de água.
culturais e estéticas que estejam c) No lençol freático, causa forte
ocorrendo na área diretamente impacto na saúde pública, mas
afetada (ADA) onde está não se compara ao impacto
implantado o empreendimento, que o esgoto urbano causa.
pois não há dispersão de efeitos. d) O principal prejuízo
b) A área de influência direta econômico do lixão está
(AID), que é a borda da pilha, é no desperdício de material
a área de maior impacto, pois potencialmente reutilizável.
recebe todo o chorume. e) Devido ao forte sistema
c) A presença do lixo imunológico, os catadores e
orgânico agrava o impacto familiares sofrem menos com as
socioeconômico do lixão doenças relacionadas à atividade
pela falta de renda e posses do que o cidadão comum.
dos catadores, os quais vivem 5. O problema do lixo urbano
à margem da sociedade e passa pela gestão correta e
dos serviços de saúde. pelo gerenciamento eficiente,
d) Área de influência indireta (AII) com metodologias que
é a área afetada pelo impacto envolvem tecnologias clássicas
ambiental causado pelas e novos processos, bem como
comunidades em condições a inclusão socioeconômica
socioeconômicas precárias. das pessoas envolvidas. De
e) Os lixões são um benefício acordo com as definições
para as comunidades do envolvidas nesse processo,
entorno, pois lhes dão assinale a alternativa correta.
condições de subsistência. a) Gerenciamento de resíduos
4. Pesquisas recentes indicam que sólidos é o conjunto de ações
pouco mais da metade dos voltadas para resolver a situação
municípios trata o lixo de alguma dos RSU pelo poder público.
forma, mesmo que inadequada, b) A gestão integrada de resíduos
propiciando a formação clandestina sólidos é a gestão feita
de lixões, que aumentam sem pelo poder público com a
18 Gestão ambiental: reciclagem e a questão dos lixos nas cidades

participação da comunidade criadas para a divulgação da


em assembleias organizadas prática, estimulada pela PNMA.​​
pelos líderes comunitários. e) A atividade dos catadores
c) A incineração de resíduos é uma é muito vantajosa e deve
prática nefasta, pois, quando ser organizada, pois traz
descontrolada, causa incêndios fôlego aos aterros sanitários
e, sob controle, causa grave e permite a recirculação
impacto com suas emissões. do material reciclável.
d) “Comissões para a Coleta
Seletiva” são organizações civis

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10004: resíduos sólidos -


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<http://www.mma.gov.br/estruturas/a3p/_arquivos/cartilha_a3p_36.pdf>. Acesso
em: 12 jul. 2018.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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