Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Anderson Pires
Revisão técnica:
ISBN 978-85-9502-573-8
CDU 502
Introdução
O engenheiro ambiental, por formação, deve ter conhecimentos pro-
fundos sobre o que chamamos de “lixo”: tipos, origens, tratamentos e
destinação. Da mesma forma, esse profissional deve estar apto a desen-
volver pesquisas e experimentar novas metodologias, exercitando sua
capacidade em gestão de projetos.
Na primeira sessão deste capítulo, definiremos “lixo”, caracterizando
os tipos existentes e suas origens. Trataremos, igualmente, de como deve
ser sua gestão nas grandes cidades; para tanto, analisaremos a Política
Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Na segunda parte, partindo de
uma reflexão sobre a má gestão do lixo, vamos caracterizar os impactos
ambientais e sociais dos lixões, discutindo as maneiras pelas quais podem
ser mitigados. Finalmente, vamos identificar boas práticas na gestão de
resíduos nas cidades, examinando diferentes tecnologias e iniciativas.
Embora os pneus usados sejam classificados como inertes, são resíduos indesejáveis,
ambientalmente falando, devido a sua grande quantidade: cerca de 21 milhões de
pneus de todos os tipos são descartados anualmente no Brasil, segundo a Associação
Nacional da Indústria de Pneumáticos. Mecanicamente, nos lixões e pátios, os pneus
acumulam água e funcionam como uma incubadora de mosquitos vetores da malária,
da dengue, das febres amarela e chikungunya e da zyka. Acumulam-se também no
fundo de rios e lagos, contribuindo para enchentes. Quando queimados, produzem
fumaça muito tóxica por causa da presença de dioxinas e furanos.
Pelo que vimos, o problema maior diz respeito à gestão inadequada dos RSU,
já que esta é a mais visível e volumosa. Se considerarmos o lixo com respeito
ao estado físico, as emissões líquidas (inclusive as “pastosas”) e gasosas são
de mais difícil detecção. Entretanto, há, para estas, medidas específicas a se
tomar. Em se tratando de RSU, a PNRS (BRASIL, 2010a) propôs instrumentos
de gestão significativos para o combate de problemas ambientais importantes,
bem como seus reflexos sociais e econômicos.
A PNRS inseriu hábitos de consumo sustentável e ressignificou o termo
“lixo”, com implementação da reciclagem e reuso dos RSU, subtraindo desse
conceito negativo materiais que são matéria prima em potencial, além de
pressionar para a destinação ambientalmente adequada dos rejeitos, come-
çando pela separação do lixo. Instituiu o que se chamou de “responsabilidade
compartilhada” (BRASIL, 2010a, documento on-line) do gerador de RSU com
a comunidade e o prestador de serviço de Logística Reversa dos resíduos e
embalagens. Também criou metas para a eliminação dos lixões, problema que
estudaremos na sessão seguinte, fornecendo instrumentos de planejamento
e gestão para diversas esferas de governo. Por fim, tornou obrigatória para
a iniciativa privada a elaboração de Planos de Gerenciamento de Resíduos
Sólidos (PGRS). A Lei modernizou os saberes da gestão de resíduos sólidos
e trouxe novas ferramentas de gestão para a legislação ambiental.
A gestão integrada dos resíduos sólidos de serviços de saúde, da construção
civil, de mineração, de portos, aeroportos e fronteiras, industriais e agros-
silvopastoris, reúne as ações voltadas a encontrar soluções para os resíduos
sólidos, com planos nacional, estaduais, microrregionais, intermunicipais,
municipais e de gerenciamento. Os planos de gestão dos governos federal,
estaduais e municipais passaram a tratar de assuntos relativos à coleta seletiva,
Gestão ambiental: reciclagem e a questão dos lixos nas cidades 5
https://goo.gl/Fq8F8Z
6 Gestão ambiental: reciclagem e a questão dos lixos nas cidades
A disposição inadequada dos RSU (Figura 1), pelo ponto de vista sanitário,
é responsável pela proliferação de vetores e pela incubação das doenças nas
comunidades vivas. Pelo ponto de vista ambiental, essa disposição é altamente
impactante e causadora de degradação. Além do que já foi exposto, devemos
destacar as emissões atmosféricas de gases do efeito estufa, causados pela
incineração espontânea e pelo metano gerado da decomposição não monitorada,
vilão da degradação da camada de ozônio.
Pelo ponto de vista social, os lixões são igualmente graves, pela segre-
gação causada, pelo impacto na saúde pública e pelas condições desumanas
de vida.
10 Gestão ambiental: reciclagem e a questão dos lixos nas cidades
https://goo.gl/48k7d2
https://goo.gl/HjpGh5
Gestão ambiental: reciclagem e a questão dos lixos nas cidades 11
Um conceito pronto para esse fim, que traz a vantagem da aceitação cole-
tiva e normalização das culturas, é a política dos cinco “R”, que educa para a
redução do consumo, o reuso e a reciclagem: reduzir, repensar, reaproveitar,
reciclar e recusar-se a consumir produtos que gerem impactos socioambientais
significativos. Cada termo se autoexplica de forma inteligente. O objetivo
explícito é induzir no cidadão a reflexão que leve à redução do consumo
exagerado e do desperdício. Destaca-se que a reciclagem já é praticada por
indústrias de papel, vidro, plástico ou metal de reuso, entre outros, em suas
linhas de produção. Tais empresas ganham no marketing associado ao quinto
“R”, pois podem usar símbolos padronizados para a rotulagem ambiental, que
facilitem a identificação e a separação dos materiais, induzindo a preferência
do consumidor. Com a política dos cinco “R”, ganha-se com a redução na
extração de recursos naturais, dos resíduos nos aterros (aumentando da sua
vida útil) e do custo de tratamento. Reduz-se, também, o uso de energia, e
ainda se ganha com a intensificação da economia local de reciclagem.
14 Gestão ambiental: reciclagem e a questão dos lixos nas cidades