Você está na página 1de 37

CIÊNCIA E TECNOLOGIA

DOS MATERIAIS

Aula 2 - Redução, reutilização e


reciclagem

JOÃO VICTOR MARQUES ZOCCAL


Objetivo

Entender os aspectos mais importantes sobre redução,


reutilização e reciclagem relacionados a resíduos.

Nesta aula

• As soluções “R”

• Tratamento de resíduos para disposição

• Tecnologias limpas
Introdução

Resíduos provenientes da atividade humana sempre


existirão. O problema é a geração desses resíduos em
quantidades excessivas, potencialmente perigosos à
natureza e a disposição deles sem a atenção necessária
ao ciclo total.

No que diz respeito à disposição (aterros), a


legislação e as informações para minimização dos
resíduos são suficientes para prevenir impactos negativos
no ambiente, desde que aplicadas. Já a quantidade gerada
tem sido relatada como problema, em muitas situações.

No caso do lixo urbano, estima-se que sejam


produzidas no mundo 400 milhões de toneladas por ano,
e que a média produzida por pessoa seja um pouco mais
de um quilo por dia. A cidade de São Paulo produz mais de
12 mil toneladas de lixo por dia (JACOBI; BESEN, 2011).
Considerando esses aspectos, o volume é excessivo.

O lixo produzido nas grandes cidades contém


aproximadamente 39% de papel e de papelão, 16% de
materiais ferrosos, 15% de vidro, 1% de alumínio, 2% de
embalagens longa vida, 7% de plástico filme e rejeitos
diversos (PICANÇO, 2013). Os programas para reciclagem
desses constituintes continuam crescendo, de maneira
que parte do lixo gerado deixa de ir para os aterros,
transformando-se em renda, mas os índices de reciclagem
ainda não são adequados.

Alguns índices de reciclagem estimados indicam, por


exemplo, que nas cidades com mais de 50 mil habitantes,
o índice geral de reciclagem excede 60%. É um índice
razoável, mas no país apenas 36% do papel e do papelão
é reciclado, enquanto para latas de alumínio a taxa é maior
que 70%; mas para o alumínio, a reciclagem em relação ao
consumo está na média de 37% (SILVEIRA, 2014).

É fácil perceber que os programas para aumento da


reciclagem do lixo, nas diversas maneiras (catadores,
coleta seletiva) é parte da solução para esse tipo de
resíduo. Entretanto, a atividade humana, referindo-se à
economia como um todo, produz uma grande variedade
de resíduos em quantidades também expressivas, e que,
devido à variedade, são classificados em categorias ou
classes, para distinguir a gestão em cada caso.
A NBR 10004/2004 classifica os resíduos sólidos em
classes:

Figura 1: Resíduos sólidos.


Fonte: https://cutt.ly/EfwoNkX

Classe I - Resíduos perigosos: são aqueles que


apresentam riscos à saúde pública e ao meio ambiente,
exigindo tratamento e disposição especiais em função de
suas características de inflamabilidade, corrosividade,
reatividade, toxicidade e patogenicidade.

Classe II – Não perigosos:


IIA – Não inertes: são os resíduos que não
apresentam periculosidade, porém não são inertes;
podem ter propriedades tais como: combustibilidade,
biodegradabilidade ou solubilidade em água, sem se
enquadrarem na classe I.

IIB - Resíduos inertes: são aqueles que, ao serem


submetidos aos testes de solubilização (NBR-10006 da
ABNT), não têm nenhum de seus constituintes
solubilizados em concentrações superiores aos padrões
de potabilidade da água. Isto significa que a água
permanecerá potável quando em contato com o resíduo.
Muitos destes resíduos são recicláveis. Estes resíduos não
se degradam ou não se decompõem quando dispostos no
solo (se degradam muito lentamente). Estão nesta
classificação, por exemplo, os entulhos de demolição,
pedras e areias retirados de escavações.

Fazendo parte da solução, a redução, a reutilização e


a reciclagem podem e devem ser aplicadas nos vários
ramos da atividade econômica, a fim de minimizar os
impactos ambientais gerados pela mesma.

Para a empresa, a aplicação desses conceitos leva à


diminuição dos custos para o tratamento e à disposição
dos resíduos, incluindo os valores relacionados ao
transporte e armazenamento dos mesmos durante o ciclo
todo. Outros aspectos, não menos importantes, são
aqueles relacionados à segurança no trabalho e à
proteção à saúde do trabalhador: quando os níveis de
resíduos gerados diminuem, em alguns casos, os custos
associados a esses dois itens podem diminuir (BROLLO;
SILVA, 2001).

Além da redução, se a empresa investir na


recuperação e na reciclagem, pode agregar valor ao
descarte, de maneira que novos créditos podem ser
obtidos nesse ponto. Normalmente a empresa deixa esse
aspecto a cargo de outra empresa que se interesse pelo
ramo, como no caso das empresas que utilizam os
resíduos de demolição para a produção de agregados
artificiais (mais adiante discutiremos esse aspecto)
(BROLLO; SILVA, 2001).

Atualmente, não tratamos o assunto de resíduos


industriais de maneira que a política de proteção
ambiental seja voltada quase que exclusivamente para a
deposição controlada de resíduos. Uma análise rápida da
resolução 307 do CONAMA já evidencia a necessidade de
reutilização e reciclagem de parte dos resíduos gerados na
indústria da construção civil.
É sempre útil lembrar que as deposições controladas
em aterros constituem desperdício por tempo indefinido
de um recurso limitado, o solo. Também, concentram
muitos resíduos potencialmente perigosos, sempre
sujeitos a acidentes geradores de graves consequências.
Para diminuir o risco de acidentes, a normalização
referente tem recebido constantes aperfeiçoamentos, que
no final elevam o preço desses serviços, e o custo sempre
foi e será um fator limitante para qualquer política de
gerenciamento de resíduos através de aterros (CARDOSO,
2010). É nesse aspecto que os programas “R” podem
contribuir significativamente.

As soluções “R”

A questão ambiental interfere diretamente no


desenvolvimento e na avaliação dos projetos para
qualquer atividade humana. Na construção civil, além da
incorporação dos conceitos expressos pelos “3R”, outros
foram adicionados, como a proteção do meio ambiente
(ecologia), a criação de um ambiente saudável e não tóxico
(qualidade de vida) e a busca da qualidade na criação do
ambiente construído (qualidade tecnológica).
Reutilizar é usar um produto mais do que uma vez,
independentemente se o produto é utilizado novamente na
mesma função ou não. Em contrapartida, reciclar consiste
na reintrodução do produto no sistema produtivo, dando
origem a um produto diferente do inicial, ou seja, serve
apenas de matéria-prima. A reutilização e a reciclagem por
si só não resolvem os problemas relacionados aos
resíduos, mas é uma contribuição enorme em gestão, por
aproveitar matéria-prima que de outra forma seria
acondicionada em aterro ou queimada, e por outro lado,
diminuiria a necessidade de nova exploração de recursos
naturais que seriam necessários para a produção de bens
e produtos (SILVEIRA, 2014).

Assim, em primeiro lugar, é importante verificar se


não é possível evitar a produção do resíduo; em segundo
lugar, se não é possível encontrar uma nova utilidade para
esse produto, em que grande parte das suas propriedades
ainda possa ser utilizada. Quando nada disso for possível,
a terceira alternativa é aproveitar a matéria-prima que
constitui o resíduo por meio da operação que se denomina
reciclagem, ou por meio de processos que resultem na
recuperação de algum elemento de valor. O que restar
após essas ações é o resíduo (DEMAJOROVIC, 1995).
Por reduzir a geração de resíduos em uma atividade
industrial, entendemos o enfrentamento do problema
como uma abordagem preventiva, em que, por meio do
estudo detalhado e das possibilidades em cada ciclo da
produção, pretendemos diminuir o volume de material
descartado. Podem ocorrer casos em que o volume final
gerado seja totalmente eliminado, combinando-se a
redução com a reutilização e a reciclagem (SANTOS,
2009).

O ciclo industrial pode ser complexo e, mesmo


trabalhando no sentido de reduzir os descartes,
aprimorando e regulando para melhor cada uma das fases
da produção, ainda podem ocorrer resíduos. Quando não
ocorre a possibilidade de reaproveitar ou reutilizar, a
reciclagem pode ser a solução para minimizar o impacto
ambiental (SANTOS, 2009).

O conceito de redução está relacionado às chamadas


“tecnologias limpas”. Um exemplo marcante dessa
tecnologia é a instalação de sistemas para retenção, via
filtragem, de material particulado (comumente conhecido
como “pó muito fino”), nas indústrias onde ocorre a
moagem fina para a obtenção do produto, como no caso
das indústrias de cimento (CARVALHO, 2008). Esse
material de tamanho extremamente pequeno deve ser
novamente utilizado no ciclo, ou como matéria-prima para
outras indústrias; caso isso não seja possível, então o
conceito de redução não é atingido.

De maneira resumida, na tecnologia limpa procura-se


eliminar a geração do resíduo na origem, ou nos passos
em que ela possa começar a ser gerado (é a aplicação da
“redução”), além de considerar que o produto final, um dia,
poderá também ser descartado e considerado um resíduo,
de modo que o projeto deve possibilitar a fragmentação ou
desmontagem futura, resultando em partes que possam
ser separadas em lotes com propriedades semelhantes,
senão idênticas, para maximizar a reciclagem e a
recuperação (SANTOS, 2009).

Figura 2: Os 3R.
Fonte: https://i.pinimg.com/originals/24/ac/9f/24ac9f9b8b7d75c5c45f76c84f7c013f.jpg
Reaproveitar (reutilizar, recuperar e reciclar)

De acordo com Tocchetto (2005), por reaproveitar


entendemos um procedimento corretivo, de maneira que
o material descartado possa ser novamente inserido em
algum ciclo produtivo.

O reaproveitamento é um termo que engloba a


reutilização, a recuperação e a reciclagem. Esses termos
muitas vezes geram confusão quanto ao significado, e
nem sempre o entendimento correto consta em artigos na
internet.

Reutilizar

Por reutilizar, entendemos o processo em que o


resíduo ou o descarte é novamente utilizado, sem que
sejam provocadas alterações na sua estrutura inicial
(TOCCHETTO, 2005). Por exemplo, garrafas, recipientes
retornáveis, e madeira utilizada na construção civil.

Recuperar

Por recuperar, entendemos processos que possam


extrair alguma substância do resíduo, como óxidos e
metais; um exemplo interessante á a recuperação de ouro
em lixo tecnológico, ou de prata em efluentes ligados à
revelação fotográfica.
A recuperação do chumbo de baterias também é um
exemplo marcante. Nesse caso específico, todo o sistema
tem sérias restrições quanto à tecnologia e à disposição
dos descartes, por se tratar de procedimento industrial
que gera resíduos perigosos, além de efluentes muito
prejudiciais durante a operação industrial. A contaminação
por chumbo pode ocorrer quando esse metal é fundido e
os vapores de chumbo contaminam o ambiente
(TOCCHETTO, 2005).

Reciclar

O termo “reciclagem” é empregado para designar o


reaproveitamento de materiais beneficiados como
matéria-prima para um novo produto. Alguns autores
entendem que esse conceito serve apenas para os
materiais que podem voltar ao estado original e ser
transformado novamente em um produto igual em todas
as suas características. Entretanto, o entendimento
adequado é de que a reciclagem é um processo pelo qual
um descarte é transformado em matéria-prima para outro
produto, que pode ser idêntico ou não ao que originou o
descarte (SILVEIRA, 2014).
Um exemplo de produto idêntico é facilmente
percebido na reciclagem do alumínio, mais
especificamente das “latinhas”, cuja fusão fornece
novamente alumínio idêntico ao utilizado na fabricação de
novas latinhas, que se produzidas, serão idênticas àquelas
utilizadas no ciclo inicial (LINO, 2011).

Ainda de acordo com Lino (2011), o papel reciclado,


por exemplo, jamais será idêntico ao produzido
normalmente, embora possa ser utilizado para o mesmo
uso, na maioria das aplicações. Por outro lado, agregados
reciclados obtidos da trituração de resíduos de construção
serão estruturalmente diferentes das areias e pedras
utilizadas na confecção de aragaamassas e concretos,
mas poderão exercer o mesmo papel daquelas quando
utilizados de forma adequada na preparação desses
compostos.
Tratamento de resíduos para disposição

O tratamento de resíduos consiste no conjunto de


métodos e operações necessárias para respeitar as
legislações aplicáveis aos resíduos, desde a sua produção
até o destino final, com o intuito de diminuir o impacto
negativo na saúde humana, assim como no ambiente.
Consiste em tratamento intermediário que diminui a
periculosidade de tais resíduos, possibilitando a sua
reutilização ou reciclagem, ou a deposição segura
(DEMAJOROVIC, 1995).
De acordo com Tocchetto (2005), as soluções visam
a três aspectos mais importantes:

- reduzir ou eliminar a periculosidade do resíduo mediante


alguma tecnologia que possa ser aplicada, de preferência,
com impacto ambiental mínimo e custos reduzidos;

- imobilizar os componentes nocivos, utilizando uma


metodologia que possa encapsular esses componentes
de maneira que não seja mais possível solubilizá-los;

- compactar ao máximo os resíduos depois de


submetidos ao tratamento, ainda que necessitem de
deposição controlada.

O tratamento não envolve apenas os resíduos


considerados potencialmente perigosos, mas qualquer
resíduo em que a aplicação do tratamento diminua o
volume e o impacto ambiental na deposição, se ocorrer
(DEMAJOROVIC, 1995).
Figura 3: Resíduos perigosos.
Fonte: https://www.sustentaresaneamento.com.br/wp
content/uploads/2013/12/resperigoso.jpg

Os resíduos que contêm substâncias potencialmente


perigosas são os denominados “resíduos perigosos”. Os
poluentes mais frequentes e seus efeitos mais temidos
são (TOCCHETTO, 2005):

- Dioxinas: provenientes de resíduos, podem causar


câncer, má-formação de fetos, doenças neurológicas, etc.

- Materiais particulados: emitidas por carros e


indústrias, infectam os pulmões, causando asma,
bronquite, alergias e até câncer.
- Chumbo: metal pesado proveniente de carros
(quando a gasolina ainda usa compostos a base de
chumbo), pinturas, água contaminada (o chumbo pode ser
encontrado na água potável por meio da corrosão de
encanamentos de chumbo; isto é comum quando a água
é ligeiramente ácida; este é um dos motivos para os
sistemas de tratamento de águas públicas ajustarem o pH
das águas para uso doméstico) e de indústrias que
trabalham ou reciclam o metal. Afeta o cérebro, causando
retardo mental e outros graves efeitos na coordenação
motora e na capacidade de atenção.

- Mercúrio: como fontes, encontramos geradores de


eletricidade a carvão, refinarias, fábricas de adubos,
lâmpadas de vapor de mercúrio, pilhas e extração do ouro.
Por outro lado, cerca de 2000 a 3000 toneladas são
libertadas anualmente para a atmosfera devido a
atividades humanas, pois os incineradores de resíduos
hospitalares e urbanos contribuem com cerca de 50% das
emissões de mercúrio total para o ar. Assim como o
chumbo, afeta o cérebro, causando efeitos igualmente
graves.

- Pesticidas, Benzeno: podem causar distúrbios


hormonais, deficiências imunológicas, má-formação de
órgãos genitais em fetos, infertilidade, câncer de testículo
e de ovário.

Tratamentos biológicos

O tratamento biológico utiliza processos biológicos


que envolvem microorganismos, com o intuito de acelerar
o desenvolvimento de degradação biológica de resíduos
cuja constituição seja majoritariamente orgânica. Alguns
exemplos são discutidos.

A digestão anaeróbia (ou biogasificação) é um


tratamento de resíduos orgânicos por decomposição ou
digestão anaeróbica que gera biogás, formado por cerca
de 50%-60% de metano e que pode ser utilizado como
combustível. O resíduo sólido da biogasificação pode ser
tratado aerobicamente para formar composto. A digestão
anaeróbica é o processo de decomposição orgânica cujas
bactérias anaeróbicas, que apenas sobrevivem na
ausência de oxigénio, conseguem rapidamente decompor
os resíduos orgânicos (RUSSO, 2003).
Figura 4: Etapas do processo de produção de biogás.
Fonte: http://www.e-sage.com.br/biogas-energia-sustentavel/

A compostagem é o conjunto de técnicas aplicadas


para controlar a decomposição de materiais orgânicos,
com a finalidade de obter, no menor tempo possível, um
material estável, rico em húmus e nutrientes minerais,
com atributos físicos, químicos e biológicos superiores
(sob o aspecto agronômico) àqueles encontrados na(s)
matéria(s)-prima(s). A compostagem consiste na
utilização de seres vivos para a decomposição de matéria
orgânica, resultando em substrato que pode ser usado
como adubo orgânico. A decomposição pode ser efetuada
por micro-organismos, como bactérias e fungos, ou por
organismos como lesmas e minhocas (RUSSO, 2003).

Figura 5: Ciclo da matéria orgânica.


Fonte:https://www.concretaconsultoria.com.br/singlepost/2018/09/16/Compos
tagem-voce-sabe-o-que

No caso de efluentes líquidos, um exemplo são


lagoas de estabilização e de aeração, e o emprego de lodo
ativado no tratamento desses efluentes. O lodo ativado é
resultante de um processo de tratamento de esgoto
destinado à destruição de poluentes orgânicos
biodegradáveis presentes em águas residuárias, efluentes
e esgotos. O processo se baseia na oxidação da matéria
orgânica, por bactérias aeróbias, controlada pelo excesso
de oxigênio em tanques de aeração e posteriormente
direcionado aos decantadores. O lodo decantado nos
decantadores
retorna ao tanque de
aeração como forma
de reativação da
população de
bactérias. Este
retorno se dá na
entrada do tanque
onde o lodo se
mistura ao efluente
rico em poluente,
aumentando, assim,
a eficiência do
processo (CASTRO,
2009).

Fonte:https://static.wixstatic.com/media/d5fed2_6a013
4e0d6b5441ab73eaac30f2fea18~mv2.jpg
Para o tratamento de resíduos gerados nas empresas
de extração de petróleo, nas refinarias e nos sistemas de
armazenamento, é empregado o tratamento biológico
denominado landfarming. O processo de “landfarming”
consiste na biodegradação aeróbia de resíduos que são
aplicados no solo e incorporados nas camadas
superficiais, e utiliza a atividade dos microrganismos do
solo para degradar e/ou imobilizar os vários componentes
dos resíduos (TOCCHETTO, 2005).

Figura 6: Landfarming.
Fonte:https://slideplayer.com.br/slide/1624615/5/images/7/Tratamento+no+sol
o+-+landfarming+%28NBR+ABNT%29.jpg
A biorremediação consiste na utilização de seres
vivos ou seus componentes na recuperação de áreas
contaminadas, águas ou solos. Geralmente são processos
que empregam microrganismos ou suas enzimas para
degradar compostos poluentes, cujos produtos são
totalmente naturais (formado por uma enzima e outros
produtos naturais), os quais provocam a extração dos
poluentes pela sua volatização. Vale ressaltar que se trata
de um processo de oxidação lenta, ou seja, sua
transformação ocorre vagarosamente (CASTRO, 2009).

Figura 7: Processo de biorremediação.


Fonte: https://image.slidesharecdn.com/biorremediao-140522151639-
phpapp02/95/biorremediao-5-638.jpg?cb=1400771909
Ainda de acordo com Castro (2009), para o processo
de biorremediação podem ser utilizados microrganismos,
fungos, plantas, algas verdes ou suas enzimas, as quais
agem sobre os poluentes a fim de que o ambiente
contaminado retorne a sua condição original. Diante disto,
a biorremediação pode ser empregada para atacar
contaminantes específicos que estão tanto no solo quanto
nos recursos hídricos. Como exemplo, podemos citar a
degradação do derramamento de petróleo - componente
constituído por hidrocarbonetos - pela utilização da adição
de fertilizantes constituidos de nitrato ou de sulfato, que
favorecem a decomposição do óleo pela ação das
bactérias presentes no meio. Outro exemplo é a degradação
de compostos orgânicos clorados também pela utilização
de bactérias (CASTRO, 2009).

Tratamentos químicos

Processos químicos são aqueles que alteram a


natureza da matéria e de seus contaminantes, tendo como
fundamento a ação de substâncias químicas. Com o
tratamento químico, dependendo da constituição do
resíduo, podemos eliminar os constituintes perigosos por
meio da substituição dos poluentes no resíduo por
materiais mais estáveis, ou mesmo pela retirada desses.
Também é possível produzir novos compostos ou tornar
os resíduos insolúveis (TOCCHETTO, 2005).

As técnicas mais comuns utilizadas nos tratamentos


químicos são a oxidação, a neutralização, a redução e a
precipitação.

Tratamentos físicos

Entendemos por tratamento físico os procedimentos


que não alteram a natureza química do resíduo, tendo
como objetivo apenas reduzir o volume e imobilizar os
componentes de um material sólido. A secagem para
redução de volume é o exemplo mais simples. Podem ser
classificados de diversas formas, entre elas (TOCCHETTO,
2005):

- com separação de fases: sedimentação, decantação, filtração,


centrifugação e floculação;

- com transição de fases: destilação, evaporação, cristalização;

- com transferência de fases: adsorção, extração por solventes;

- com separação molecular: ultrafiltração, osmose reversa, diálise.


Tratamentos térmicos

No tratamento térmico se utilizam métodos que


submetem o resíduo a temperaturas elevadas, ocorrendo
a transformação radical das características físicas e
químicas de tal resíduo. São duas metodologias: a
incineração e a pirólise, conforme citado por Tocchetto
(2005).

Na pirólise, os resíduos sólidos orgânicos são


transformados em combustíveis sólidos, líquidos ou
gasosos. Por meio dessa técnica, a biomassa é exposta a
altíssimas temperaturas sem a presença de oxigênio,
visando a acelerar a decomposição. O que sobra da
decomposição é uma mistura de gases (CH4, CO e CO2 –
respectivamente, metano, monóxido de carbono e dióxido
de carbono), líquidos (óleos vegetais) e sólidos
(basicamente carvão vegetal). Mediante esse processo,
são produzidos biocombustíveis (TOCCHETTO, 2005).
Figura 8: Etapas do reator pirolítico.
Fonte: https://www.infoescola.com/wp-
content/uploads/2010/01/pir%C3%B3lise.jpg

Na incineração ocorre a oxidação completa do


resíduo, resultando em cinzas com volume
significativamente menor que o original. Além disso, por
ocorrer em altas temperaturas, estinguem-se os
microrganismos que podem causar doenças, as quais
estão contidas, principalmente, no lixo hospitalar e no
industrial (RUSSO, 2003).
Figura 9: Processo de incineração.
Fonte:https://image.slidesharecdn.com/tratamentoderesduos9a111013121008-
phpapp01/95/tratamento-de-resduos-9a-14728.jpg?cb=1318507840

De acordo com Tocchetto (2005), após o processo da


queima, o que resta é um material que, por estar estéril,
pode ser encaminhado para aterros sanitários ou mesmo
reciclado. Neste caso, pode ser reutilizado para a
confecção de borracha, cerâmica e artesanato. Vale
ressaltar, que para se evitar a poluição do ar, é
recomendado instalar filtros nas chamines durante o
processo, o que ocasiona o encarecimento desta prática.
Do processo de incineração, tem-se a geração de
energia térmica, a qual pode ser transformada em energia
elétrica. Além deste produto final, tem-se a geração de
águas residuais, gases, cinzas e escórias (TOCCHETTO,
2005).

Os gases liberados do processo de incineração,


geralmente passam por um tratamento posterior, uma vez
que são constituídos por substâncias consideradas
tóxicas. Podemos citar alguns metais pesados, por
exemplo, chumbo, cádmio, mercúrio, crómio, arsénio,
cobalto, entre outros. Além desses, tem-se a presença de
ácido clorídrico, óxidos de azoto, dióxido de enxofre,
dioxinas, furanos, clorobenzenos e clorofenóis. Outro gás
gerado e emitido é o dióxido de carbono, o principal agente
causador do efeito estufa (RUSSO, 2003).

Diante do apresentado, é necessário que durante o


processo de incineração sejam utilizados equipamentos
de limpeza de gases, que têm a finalidade de reter os
contaminantes. Podemos citar como exemplos os
precipitadores ciclônicos de partículas, os precipitadores
eletrostáticos e os lavadores de gases. Vale ressaltar que,
se optar pela utilização da lavagem dos gases durante o
processo, o efluente gerado terá que passar por um
tratamento posterior, uma vez que o mesmo é
considerado um resíduo perigoso (LISBOA; SCHIRMER,
2007).
Apesar do aproveitamento da energia, uma vez que
não há a reciclagem dos materiais, a incineração de
resíduos torna-se assim uma perda no ciclo de renovação
dos recursos naturais. Por esses motivos, tal como o
aterro, surge em último lugar na hierarquia de gestão de
resíduos.

Tecnologias limpas

O conceito de tecnologia limpa, designado como


produção mais limpa, é a aplicação de uma estratégia que
previne a geração de resíduos e minimiza o uso de
matérias-primas, energia e água. Industrialmente,
significa que a empresa deve aplicar continuamente uma
estratégia com vista ambiental aos processos, com o
firme propósito de reduzir riscos ao meio ambiente e ao
ser humano, e aumentar a sua eficiência (TOCCHETTO,
2005).

Ainda de acordo com Tocchetto (2005), a grande


vantagem das tecnologias “limpas” está na possibilidade
de reverter um custo em benefício. Ou seja, o que seria
antes tratado como um problema (gastos adicionais para
evitar emissões ou para pagar compensações, caso a
redução de emissões não seja técnica ou
economicamente viável), passa a ser uma vantagem
(ganhos de rendimento ou produtividade).
Entretanto, uma limitação é clara: nem sempre a
melhoria da qualidade ambiental poderá ser redutora de
custos. O papel do formulador de política (tanto do
governo quanto das associações industriais) será
exatamente identificar tais situações em que a perda de
competitividade é potencial, a fim de apresentar medidas
compensatórias (TOCCHETTO, 2005).

As circunstâncias que levam à adoção das


tecnologias limpas estão normalmente associadas a
indústrias de processo contínuo, onde a redução de
efluentes pode representar uma economia considerável de
custos (LISBOA; SCHIRMER, 2007).

De acordo com Paoliello (2006), o exemplo mais


simples está no complexo sucroalcooleiro: o
reaproveitamento da vinhaça transformou um enorme
problema em uma solução. Ainda no mesmo setor, a
utilização do bagaço da cana como fonte de energia reduz
o problema de resíduos sólidos (embora as formas
convencionais de queima da biomassa possam gerar
outros problemas). Outro exemplo está no papel e na
celulose, casos também complexos.
Conclusão

Podemos visualizar o ciclo das soluções “R” e os


complementos de maneira resumida:

- repensar os projetos, de maneira a prevenir a


geração dos resíduos; isso pode incluir vários aspectos,
desde utilizar as chamadas produções limpas como parte
do processo industrial, assim como alterar as matérias-
primas e insumos que façam parte do sistema produtivo;

- reduzir a ocorrência dos descartes por meio do


controle severo de todas as fases do processo industrial,
procurando sempre melhorar os índices de
aproveitamento em cada fase com a regulagem dos
equipamentos e adequação dentro dos ciclos, entre outros
procedimentos. É importante ter os dados estatísticos do
comportamento do processo produtivo, em termos de
geração de resíduos, em cada fase;

- reaproveitar os resíduos gerados por intermédio da


reutilização, da recuperação e da reciclagem, utilizando
tecnologias que permitam as operações sem impactos
ambientais expressivos;

- tratar os resíduos que ainda restaram depois dos


passos anteriores, de maneira a minimizar os impactos
ambientais e dispor os resíduos de maneira adequada.
Referências

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR


10004: Resíduos sólidos – classificação. Rio de Janeiro - RJ, 2004.

BROLLO, M. J.; SILVA, M. M. Política e gestão ambiental em resíduos


sólidos: revisão e análise sobre a atual situação no Brasil. 21º
Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, 2001.
Disponível em:
<https://d1wqtxts1xzle7.cloudfront.net/45716681/00b7d5387196a7
64fe000000.pdf?1463505010=&response-content-
disposition=inline%3B+filename%3DPOLITICA_E_GESTAO_AMBIENT
AL_EM_RESIDUOS.pdf&Expires=1597176282&Signature=RQ9A22cqt
I~sizrRC5hVG38NMJ9KLoMDnxBgTyKzKT0b5ypnt2MkFQUswHU8i
DHrJ3oFZEyYN-
kPrW5TE0sJkoZXaLJ~G6SGNW8heKCESN32aRo9QSkFQMLvKc94i
8RPqtrp8k1nLoOjD6Gd3hYsb-
yzYrAtOXDNlVXhPeGgL5fRDPQzaL8q56jyT40vacMC4AXT5rxrkYVEo
D~rb8J69tG~lAhTxoVIbPpTUaECEBLCSQ0dDNB4tgMbPjpqoyJ19ZP
abU9iwtxqOFK1u-
dwxiJK~HTfP1aRJdHSWeYDqp37HHa1AhXIOFWFsywc2WnK5Uh5q
eUZUHeoauyd3e45uA__&Key-Pair-Id=APKAJLOHF5GGSLRBV4ZA>.
Acesso em: 08 ago. 2020.
CARDOSO, G. L. Resíduos sólidos da construção civil. Monografia
(Especialização). Universidade Federal de Minas Gerais, 2010.
Disponível em: < https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-
9A5HQN/1/0_res_duos_s_lidos_da_constru__o_civil.pdf>. Acesso em:
10 ago. 2020.

CARVALHO, M. B. M. Impactos e conflitos da produção de cimento no


Distrito Federal. Dissertação (Mestrado). Universidade de Brasília,
2008. Disponível em:
<https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/1878/1/Maria%20Beatri
z%20Maury%20de%20Carvalho.pdf>. Acesso em: 07 ago. 2020.

CASTRO, S. P. Avaliação da aplicabilidade de processos biológicos no


tratamento de efluentes oleosos com elevada carga orgânica.
Dissertação (Mestrado). Universidade Estadual do Paraíba, 2009.
Disponível em:
<http://tede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2159/1/Silvia%20P
eres%20de%20Castro.pdf>. Acesso em: 07 ago. 2020.

DEMAJOROVIC, J. Da política tradicional de tratamento do lixo à


política de gestão de resíduos sólidos: as novas prioridades. Revista
de Administração de Empresas. São Paulo, v. 35, n.3, p. 88-93, 1995.
Disponível em:
<https://www.scielo.br/pdf/rae/v35n3/a10v35n3.pdf>. Acesso em:
09 ago. 2020.
JACOBI, P. R.; BESEN, G. R. Gestão de resíduos sólidos em São Paulo:
desafios da sustentabilidade. Estudos Avançados, 25 (71), 2011.
Disponível em: < https://www.scielo.br/pdf/ea/v25n71/10>. Acesso
em: 10 ago. 2020.

LINO, H. F. C. A indústria de reciclagem e a questão ambiental. Tese


(doutorado). Universidade de São Paulo, 2005. Disponível em:
<https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8137/tde-
27102011-085538/publico/2011_HelioFranciscoCorreaLino.pdf>.
Acesso em: 08 ago. 2020.

LISBOA, H. M.; SCHIRMER, W. N. Controle da poluição atmosférica.


2007. Disponível em:
<http://www.fap.if.usp.br/~hbarbosa/uploads/Teaching/FisPoluicao
Ar2016/Lisboa_Cap7_controle_poluicao_atmosferica_2007.pdf>.
Acesso em: 07 ago. 2020.

PAOLIELLO, J. M. M. Aspectos ambientais e potencial energético no


aproveitamento de resíduos na indústria sucroalcooleira. Dissertação
(Mestrado). Universidade Estadual Paulista, 2006. Disponível em:
<https://www.udop.com.br/ebiblio/pagina/arquivos/tese_mestrado_j
ose_maria.pdf>. Acesso em: 08 ago. 2020.
PICANÇO, S. F. Caracterização física dos resíduos sólidos urbanos
produzidos na cidade de Parintins. Dissertação (Mestrado).
Universidade Federal do Amazonas, 2013. Disponível
em:<https://tede.ufam.edu.br/bitstream/tede/2991/1/Disserta%C3%
A7%C3%A3o%20%20Sueny%20Ferreira%20Pican%C3%A7o.pdf>.
Acesso em: 09 ago. 2020.

RUSSO, M. A. T. Tratamento de resíduos sólidos. Universidade de


Coimbra, 2003. Disponível em: <>. Acesso em: 07 ago. 2020.

SANTOS, J. V. A gestão dos resíduos sólidos urbanos: um desafio.


Tese (Doutorado). Universidade de São Paulo, 2009. Disponível em:
<https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2134/tde-
25082011-150523/publico/TESE_FINAL.pdf>. Acesso em: 08 ago.
2020.

SILVEIRA, R. P. Conhecimento em resíduos sólidos e coleta seletiva


na era da reutilização e da reciclagem: o ex-lixo como pilar de uma
sociedade mais inclusiva e menos insustentável. Monografia
(Bacharel). Universidade de Brasília, 2014. Disponível em: <
https://bdm.unb.br/bitstream/10483/9855/1/2014_RobertoPatrocini
oSilveira.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2020.

TOCCHETTO, M. R. L. Gerenciamento de resíduos sólidos industriais.


Curso de Química Industrial. Universidade Federal de Santa Maria,
2005. Disponível em: <http://www.blogdocancado.com/wp-
content/uploads/2012/04/gerenciamento-de-residuos-solidos-
industriais.pdf>. Acesso em: 07 ago. 2020.

Você também pode gostar