Você está na página 1de 18

A ENGENHARIA DE SEGURANÇA NO TRABALHO DOS CATADORES DE

MATERIAL RECICLÁVEL: OS PRINCIPAIS RISCOS DESSA PROFISSÃO

SAFETY ENGINEERING IN THE WORK OF RECYCLABLE MATERIAL


CATERERS: THE MAIN RISKS OF THIS PROFESSION

Raimundo Nonato Lima Neto1


Eng. Ambiental. Jefferson Renan da Silva Nunes2
Resumo

Neste artigo será debatido os principais riscos que um catador de materiais recicláveis
sofre diariamente e como a engenharia de segurança está presente e atua neste meio.
Para tanto, reuniremos os principais riscos pertinentes que os trabalhadores vivenciam
em sua rotina de atividades. Com isso, o artigo será uma reunião e/ou revisão
bibliográfica desses riscos, podendo ser aplicado na maioria dos trabalhadores e
catadores de materiais recicláveis que agem neste setor. A análise do tema justifica-se,
dentre outros, pelo elevado número de catadores de materiais recicláveis em todo país e
pelos problemas de saúde pública relacionados ao trabalho com os resíduos (lixo).
Iremos também correlacionar o ambiente de catação com os fatores de risco e danos à
saúde relacionados a esse tipo de ocupação. Com a pesquisa deste tema, percebemos
que os catadores utilizam estratégias defensivas para minimizar e acobertar os riscos
presentes no ambiente da catação de materiais recicláveis, para poderem dar
continuidade à sua rotina de trabalho.

Palavras-chave: Engenharia de segurança. Riscos. Catadores de material reciclável.

Abstract

In this article, we will discuss the main risks a recyclable waste collector suffers daily
and how safety engineering is present and acts in this environment. To do this, we will
gather the main pertinent risks that workers experience in their routine activities. With
this, the article will be a meeting and / or bibliographical review of these risks and it can
be applied in the majority of workers and collectors of recyclable materials that work in
this sector. The analysis of the theme is justified, among others, by the high number of
collectors of recyclable materials in every country and by the public health problems
related to the work with garbage. We will also correlate the environment with the risk
factors and health damages related to this type of occupation. With this research, we
realized that waste pickers use defensive strategies to minimize and cover the risks
present in the garbage collection environment, in order to continue their work routine.

Keywords: Safety engineering. Riscks. Collectors of recyclable material.

Submissão: 20 de julho de 2019

1
Aluno concluinte do curso de engenharia de segurança do trabalho – E-mail:
engambientalneto@gmail.com
2
Orientador- Pós-graduação em engenharia de segurança do trabalho e Superintendente de licenciamento
ambiental SEMA- E-mail: j.renan_nunes@hotmail.com
1. INTRODUÇÃO

A grande quantidade de material reciclável existente nos resíduos da população


tem possibilitado que um grande número de pessoas sobreviva da coleta, separação,
classificação e venda desses materiais. Este trabalho muitas vezes envolve toda a
família, incluindo as crianças. Os catadores de materiais recicláveis são trabalhadores
informais que, apesar da importante função social e ambiental, enfrentam intensa
discriminação social. Frequentemente são explorados por “atravessadores” recebendo
um valor bem abaixo do de mercado pelo produto. Muitas vezes só conseguem vender
os produtos com maior valor agregado e nem sempre dão um destino adequado ao que
não é vendido. As condições de trabalho são extremamente precárias envolvendo a
exposição a longas jornadas, intempéries, líquidos e gases tóxicos decorrentes da
decomposição dos resíduos, animais mortos e outros vetores, bem como, o manuseio de
materiais cortantes. Acidentes de trabalho são frequentes, bem como doenças
musculoesqueléticas, dermatológicas, respiratórias, intoxicação alimentar e outras
doenças infecciosas. Apesar de mais de 60% da mão de obra no Brasil estar inserida no
setor informal, são escassos os estudos sobre trabalho informal e saúde e, no que se
refere ao trabalho como catador, a realidade não é diferente.
A reciclagem de materiais recicláveis no ambiente urbano figura como atividade
emergente após movimentos ambientalistas e de preservação ambiental. Embora gere
vantagens ambientais indiscutíveis, sobressaem os aspectos econômicos. A catação de
materiais recicláveis constitui, para muitos trabalhadores, única forma de garantir
sobrevivência e possibilidade de inclusão num mercado de trabalho excludente.
Na busca de soluções, várias técnicas para coleta, processamento e disposição
final dos resíduos foram geradas ou alteradas, incluindo a criação de aterros
controlados, usinas de incineração e compostagem, depósitos de lixo urbano ou lixões e
a reciclagem, acompanhada ou não da coleta seletiva do lixo, prática apontada pelos
ambientalistas como o meio mais viável no aproveitamento dos resíduos (Lima e
Ribeiro, 2000; Calderoni, 1997).
A solução do problema dos resíduos (lixos) e de como dispor dele varia
dependendo das condições socioeconômicas da região, do país e da cidade. Nos países
desenvolvidos, as populações têm sido educadas no sentido de diminuir a produção de
restos dos diversos itens que consomem, mas, principalmente, no sentido de realizarem
coleta seletiva de forma a facilitar o reaproveitamento do que é possível reciclar (Al-
Khatib, 2007). Nos países em desenvolvimento, as soluções para o descarte de materiais
recicláveis têm sido mais precárias. Em geral, não há separação dos resíduos e a coleta
do lixo residencial é ineficiente ou feita com uma frequência abaixo do necessário
(menos de três vezes por semana) (Al-Khatib, 2007; Doan, 1998; Colon; Fawcett, 2006;
Zia & Devadas, 2008), o que leva ao seu acúmulo nas ruas e avenidas.
No Brasil, a situação não é diferente, principalmente nas regiões mais pobres do
país. Entretanto, mesmo que haja o recolhimento sistemático dos resíduos do consumo
residencial, em grande parte das vezes esses ficam acondicionados nas calçadas dos
edifícios e das casas enquanto aguardam a passagem dos caminhões coletores de lixo. É
esse material descartado no cotidiano dos moradores das cidades que se torna o alvo do
trabalho e a fonte de renda dos catadores de rua de materiais recicláveis. Trata-se de um
trabalho que se caracteriza como precário. E é através desse cenário, que vamos debater
o cotidiano de um catador de material reciclável, expondo seus riscos diários, mostrando
a quantidade de material reciclável produzida pelo mundo e as normas e leis vigentes
para este trabalho.

2. A URBANIZAÇÃO E PRODUÇÃO DE RESÍDUOS

O acúmulo de resíduos é um fenômeno exclusivo das sociedades humanas. Em


um sistema natural não há lixo: o que não serve mais para um ser vivo é absorvido por
outros, de maneira contínua. No entanto, nosso modo de vida produz, diariamente, uma
quantidade e variedade de material reciclável muito grande, ocasionando a poluição do
solo, das águas e do ar com resíduos tóxicos, além de propiciar a proliferação de vetores
de doenças. (HESS, 2002).
Desde a antiguidade, relatam-se efeitos na saúde provocados pelas condições
ambientais. O rápido processo de industrialização e de urbanização nos meados do
século XVIII e XIX desencadeou consequências na saúde da população advindas da
problemática ambiental instalada no período.
As práticas sanitárias aí iniciadas visavam à redução e eliminação das doenças
provocadas pelo ambiente, surgindo o termo higiene, utilizado como estratégia de saúde
em que a vigilância e o controle dos espaços urbanos e dos grupos populacionais
passaram a ser monitorados de maneira sistemática.
É a partir da segunda metade do século XX que a inter-relação da saúde com o
ambiente se insere nas preocupações da saúde pública, cuja definição dada pela OMS é:
"saúde ambiental é o campo de atuação da saúde pública que se ocupa das formas de
vida, das substâncias e das condições em torno do ser humano, que podem exercer
alguma influência sobre a sua saúde e o seu bem-estar".
Segundo Augusto (2003), é com essa definição que o conceito de saúde se
mostra claramente como resultante das condições de vida e do ambiente. Ao mesmo
tempo em que degradam o homem, sua qualidade de vida e seu estado de saúde, os
padrões de desenvolvimento adotados vêm favorecendo a degradação ambiental por
meio da exploração predatória de recursos naturais e poluição, às quais, por sua vez,
têm gerado grandes impactos nas condições de saúde e qualidade de vida da população.
O descarte adequado do material reciclável é um dos principais desafios
enfrentados pelas cidades atualmente. Com a aceleração dos processos de
industrialização, urbanização e crescimento demográfico, ocorreu um aumento tanto em
quantidade como em diversidade da produção dos resíduos sólidos que passaram a
abrigar, em sua composição, elementos sintéticos e perigosos à saúde em virtude das
novas tecnologias incorporadas à vida cotidiana. Consequentemente, a gestão e a
destinação final dos resíduos passaram a exigir mais tratamento e meios adequados para
a sua eliminação ou transformação física (Figueiredo, 1995; Rigotto, 2002).
Na prática, observa-se nas cidades de nosso país uma política de evacuação final
do material reciclável em ambientes degradados situados nos vazios da malha urbana.
São geralmente terrenos baldios, quintais e córregos que, em face do acúmulo
progressivo de resíduos, constituem o embrião dos futuros lixões (Fadini e Fadini,
2001).
O processo de globalização econômica tem causado muitas mudanças no mundo
do trabalho, ocasionando consequentemente mudanças no perfil da classe trabalhadora;
entre as mudanças, está o fato de as empresas estarem exigindo educação mínima de
primeiro ou segundo grau completos, para determinadas funções; o que dificulta para
aqueles sem o grau de instrução mínimo exigido, o acesso a um emprego com carteira
assinada. Camargo e Reis (2006) citam que a taxa de desemprego é crescente à medida
que diminui os anos de estudo. Este fato pode afetar o aumento no número de pessoas
que buscam a atividade de catador de materiais recicláveis nas ruas, como citam
Medeiros e Macêdo (2006).
Demajorovic (apud BROLLO & SILVA, 2001, p.6-7), identifica três fases no
desenvolvimento da gestão dos resíduos sólidos nos países desenvolvidos. Na primeira
fase, que prevaleceu até o início da década de 70, priorizou-se apenas a disposição dos
resíduos. Os maiores avanços deste período foram a eliminação da maioria dos
depósitos a céu aberto na Europa Ocidental e o encaminhamento do resíduo a aterros
sanitários e incineradores. A segunda fase, durante as décadas de 70 e 80, caracterizou-
se pela priorização da recuperação e reciclagem dos materiais, através do
estabelecimento de novas relações entre consumidores finais, distribuidores e
produtores, para garantir, ao menos, o reaproveitamento de parte dos resíduos. A partir
da década de 80, numa terceira fase, a atenção passa a concentrar-se na redução do
volume de resíduos, em todas as etapas da cadeia produtiva. Assim, antes de pensar no
destino dos resíduos, pensa-se em como não o gerar; antes de pensar na reciclagem,
pensa-se na reutilização dos materiais, o que demanda menos energia; e, só então, antes
de encaminhar os resíduos (rejeitos) ao aterro sanitário, procura-se recuperar a energia
presente nos mesmos, por meio de incineradores, tornando-os inertes e diminuindo seu
volume.
No Brasil, estas recomendações têm sido encampadas ao longo do tempo pela
legislação, embora com a falta de instrumentos adequados ou de recursos que
viabilizem a sua implantação, na prática.
Em 1998, foi criado o Fórum Nacional Lixo & Cidadania, reunindo mais de 40
entidades que se comprometeram com a implantação do Programa Nacional Lixo &
Cidadania, que tem como objetivos: a erradicação do trabalho infanto-juvenil nos
lixões, propiciando a inclusão social, com cidadania, das crianças que trabalham no
lixo; a geração de renda para as famílias de catadores, prioritariamente na coleta
seletiva; e a mudança radical da destinação final de lixo, acabando definitivamente com
os lixões no Brasil.
O papel do Fórum Nacional é o de favorecer a discussão e a apresentação de
soluções para os problemas. Prevê a articulação de uma rede de programas e projetos, já
em desenvolvimento, e o direcionamento de novas ações que concorram para o alcance
dos objetivos do Programa, interferindo nas políticas nacionais.
A Lei nº 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)
é bastante atual e contém instrumentos importantes para permitir o avanço necessário ao
país no enfrentamento dos principais problemas ambientais, sociais e econômicos
decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos.
Prevê a prevenção e a redução na geração de resíduos, tendo como proposta a
prática de hábitos de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para propiciar
o aumento da reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos (aquilo que tem valor
econômico e pode ser reciclado ou reaproveitado) e a destinação ambientalmente
adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado).
Institui a responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos: dos
fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, o cidadão e titulares de serviços
de manejo dos resíduos sólidos urbanos na logística reversa dos resíduos e embalagens
pós-consumo.
Cria metas importantes que irão contribuir para a eliminação dos lixões e institui
instrumentos de planejamento nos níveis nacional, estadual, microrregional,
intermunicipal e metropolitano e municipal; além de impor que os particulares elaborem
seus Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos.
Também coloca o Brasil em patamar de igualdade aos principais países
desenvolvidos no que concerne ao marco legal e inova com a inclusão de catadoras e
catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis, tanto na logística reversa quando na
coleta seletiva.
Além disso, os instrumentos da PNRS ajudaram o Brasil a atingir uma das metas
do Plano Nacional sobre Mudança do Clima, que é de alcançar o índice de reciclagem
de resíduos de 20% em 2015.
Com esse embasamento, é importante efetivar a relação entre esse consumo
apontado e a produção de resíduos. A produção de resíduo (lixo) no mundo deve ter um
aumento de 1,3 bilhão de toneladas para 2,2 bilhões de toneladas até o ano de 2025,
segundo as estimativas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(Pnuma).

3. OS RESÍDUOS SÓLIDOS E SUA CLASSIFICAÇÃO

A correta segregação dos resíduos sólidos viabiliza sob o ponto de vista técnico
e econômico os processos de reciclagem. Diante disso a segregação baseada em
critérios corretos de classificação de resíduos é de suma importância. Os resíduos
sólidos podem ser classificados segundo a norma da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT) NBR 10004/04, na qual os resíduos sólidos são classificados quanto
aos seus riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública, para que assim possam
ser gerenciados adequadamente.
A norma em questão determina que a segregação dos resíduos na fonte geradora
e a identificação da sua origem são partes integrantes dos laudos de classificação, onde
a descrição de matérias-primas, de insumos e do processo no qual o resíduo foi gerado
devem ser explicitados. Para complementar o processo de classificação dos resíduos
por meio da NBR 10004/04, devem ser consideradas a NBR 10005/04, que se refere à
obtenção de lixiviado em ensaios com resíduos, a NBR 10006/04, referente à
procedimentos para testes de solubilização e NBR 10007/04 para procedimentos de
amostragem nos ensaios.
Após a aplicação desse conjunto de normas, os resíduos são classificados em
Resíduos Classe I e Classe IIA ou IIB. Os resíduos Classe I são ditos perigosos, pois
possuem características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e/ou
patogenicidade. Os resíduos de Classe IIA sãos ditos não inertes e podem ter
propriedades de combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade em água. Os
resíduos Classe IIB são classificados como inertes, pois quando amostrados de uma
forma representativa, segundo a NBR 10007/04, e submetidos a um contato dinâmico e
estático com água destilada ou deionizada, à temperatura ambiente, conforme a NBR
10006/04, não apresentam nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações
superiores aos padrões de potabilidade de água, excetuando-se aspecto, cor, turbidez,
dureza e sabor (NBR 10004/04, p. 5). Para garantir que os resíduos sólidos sejam
encaminhados aos seus respectivos processos de reciclagem de forma viável sob o ponto
de vista técnico econômico, é necessário um sistema de gestão eficiente entre a geração
e a destinação final do resíduo.
Para Junior (2010) acondicionar resíduos sólidos é o processo de prepará-los
para a coleta de forma adequada, separando-os de acordo com a sua classificação e
quantidade, de forma a proteger a saúde pública e o meio ambiente. Nesse processo, os
resíduos devem ser acondicionados em recipientes que garantam que as suas
características físico-químicas não sejam alteradas.
A destinação final dos resíduos sólidos pode se dar de várias formas:
encaminhados para reciclagem, quando possível, dispostos em aterros sanitários,
incinerados, coprocessados, entre outros.
Diante da grande quantidade gerada de resíduos sólidos nos municípios
brasileiros e a deficiência no processo de gestão desses, esse tema causa grandes
preocupações ao poder público e à sociedade em face aos eminentes riscos de
contaminação ambiental e de problemas de saúde pública que a disposição inadequada
de resíduos ocasiona.
Reciclagem é um processo de aproveitamento dos detritos, uma forma de
reutilizá-los no ciclo de produção. Segundo Grippi (2001, p. 27), reciclagem é o
resultado de uma série de atividades através das quais materiais que se tornariam lixo
são coletados, separados e processados para serem utilizados como matéria-prima na
manufatura de outros bens.
Dessa forma, os processos de reciclagem assumem um papel fundamental no
gerenciamento de resíduos, pois impede o descarte inadequado e os reinsere na cadeia
produtiva como matérias-primas, poupando dessa forma os recursos naturais do planeta.
Para tanto, as atividades exercidas pelas associações de catadores de materiais
recicláveis são muito importantes no contexto da reciclagem e dos processos de gestão
de resíduos sólidos, uma vez que realizam a triagem dos resíduos gerados nas cidades
para que sejam encaminhados aos processos de reciclagem com maior valor agregado.
Apesar do importante serviço que esses trabalhadores prestam à sociedade, ainda
há uma grande falta de incentivo por parte da população, quando destinam resíduos não
recicláveis à coleta seletiva, e do poder público que não demonstra atitudes em
formalizar essa atividade e proporcionar melhores condições de trabalho.

4. PROFISSÃO: CATADORES DE MATERIAL RECICLÁVEL

O Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) surgiu


em 1999 com o 1º Encontro Nacional de Catadores de Papel, sendo fundado em junho
de 2001, no 1º Congresso Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis em Brasília,
evento que reuniu mais de 1.700 catadores (MNCR, 2012).
Em março de 2006 o MNCR realizou uma marcha até Brasília levando suas
necessidades para o governo, requerendo a criação de postos de trabalho em
cooperativas e associações bases orgânicas do movimento. Esse evento se tornou um
marco histórico da luta dos catadores no Brasil. Com oito anos de luta que os catadores
do Brasil têm tido espaços para discutir sua problemática com voz ativa no Movimento
Nacional dos Catadores.
Com o surgimento do MNCR ampliou-se a luta dos catadores por uma vida
digna. Essa categoria é historicamente excluída da sociedade e muitos catadores ainda
sobrevivem de forma precária em lixões e nas ruas. O trabalho de coleta de materiais
recicláveis significa garantir alimentação, moradia e condições mínimas de
sobrevivência para uma parcela significativa de nosso povo brasileiro (MNCR, 2012).
As atividades dos catadores de materiais recicláveis em cooperativas e
associações são recentes no Brasil. Segundo Magera (2003), uma das associações
pioneiras no país foi a Cooperativa dos Catadores Autônomos de Papel, Aparas e
Materiais Reaproveitáveis (COOPAMARE) fundada no ano de 1985, na cidade de Belo
Horizonte.
Os catadores de materiais recicláveis surgem no Brasil como uma possibilidade
no mercado de trabalho e sua atividade como uma alternativa que desvia dos aterros
sanitários os resíduos sólidos recicláveis. A atividade de coleta de materiais recicláveis
consiste no trabalho de recolher dos resíduos sólidos o material que será disponível para
reciclagem e/ou reutilização. O manejo com resíduos sólidos pode expor o trabalhador
da coleta de materiais recicláveis a riscos de ordem química, física, biológica, social,
ergonômica e a acidentes.
No Brasil, estima-se que o número de catadores de materiais recicláveis seja de
aproximadamente 500.000 (quinhentos mil), estando 2/3 deles no Estado de São Paulo.
Com o intuito de organizar a classe, Cooperativas foram formadas, e houve uma
mobilização nacional para o reconhecimento formal da profissão, que ocorreu em 2002.
Segundo a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), se encontra a profissão
“catador de material reciclável” sob o código 5192-05. Dentro das descrições das
atividades pela CBO: “catam, selecionam e vendem materiais recicláveis como papel,
papelão e vidro, bem como materiais ferrosos e não ferrosos e outros materiais não
reaproveitados”. Enquanto parte da população descarta o material que não utiliza mais,
os catadores visam transformar esse material em uma forma de sustento, de
sobrevivência. Uma das características desse trabalho, é que está diretamente
relacionado ao ambiente em que o mesmo é realizado (pelas ruas), estando sujeito às
situações climáticas, à violência, trânsito, entre outros.
A atividade do catador exige um trabalho exaustivo, percorrendo quilômetros
por dia para aqueles que empurram carrinhos, e é realizada em condições precárias e
muitas vezes desumanas. Para Medeiros e Macêdo (2006) a precariedade no trabalho do
catador se refere ao trabalho mal remunerado, pouco reconhecido, e que provoca um
sentimento de inutilidade do trabalhador. Porém, o que se observa é uma condição
oposta, na qual o trabalho da catação é quase sempre desfavorável ao trabalhador.
Conforme estudos deste artigo, o trabalhador catador é exposto a riscos à saúde, a
preconceitos sociais e à desregulamentação dos direitos trabalhistas, condições que são
extremamente precárias, tanto na informalidade de trabalho, quanto na remuneração.
Além disso, os catadores não têm acesso à educação e ao aprimoramento técnico.
A rotina diária do catador é exaustiva e realizada em condições precárias,
conforme afirma Magera (2003):

Muitas vezes, ultrapassa doze horas ininterruptas; um trabalho exaustivo,


visto as condições a que estes indivíduos se submetem, com seus carrinhos
puxados pela tração humana, carregando por dia mais de 200 quilos de lixo
(cerca de 4 toneladas por mês), e percorrendo mais de vinte quilômetros por
dia, sendo, no final, muitas vezes explorados pelos donos dos depósitos de
lixo (sucateiros) que, num gesto de paternalismo, trocam os resíduos
coletados do dia por bebida alcoólica ou pagam-lhe um valor simbólico
insuficiente para sua própria reprodução como catador de lixo (p.34).

Para Carmo (2005), os catadores desconhecem completamente os aspectos que


envolvem a logística do processo de reciclagem, desconhecimento muitas vezes
atribuído ao baixo nível de escolaridade. Carmo (2005) e Magera (2003) concordam que
esse pouco conhecimento do circuito da reciclagem é um forte impedimento para que
catadores obtenham ganhos melhores nessa atividade.
Em relação ao trabalho dos catadores, a coleta ainda expõe os catadores de
material reciclável a alguns riscos à saúde. Para Ferreira e Anjos (2001), os catadores ao
remexerem em resíduos vazados à procura de materiais recicláveis, estão expostos à
contaminação presentes nos resíduos, além dos riscos à integridade física pelo
manuseio. Ainda para os autores, objetos perfurantes e cortantes são os principais
agentes de risco.
Em relação à saúde, Porto et al. (2004) em seu estudo com catadores de
materiais recicláveis, encontrou: 31,1% com hipertensão arterial; 20,2% com varizes;
13,8% com problemas osteoarticulares; 9,6% com problemas cardíacos; 4,2% com asma
e 3,2% com diabete. Outros estudos relacionados aos catadores apontam condições
subumanas de trabalho (Leal et al., 2002), e associações quanto a uma configuração de
rebaixamento na posição social, caracterizando uma configuração de exclusão social
(Medeiros; Macêdo, 2006).
Segundo Lopes (2006), a concepção “exclusão social” se caracteriza por
fenômenos: desemprego estrutural, precarização das condições de trabalho,
desqualificação profissional, falta de acesso aos serviços de saúde, desagregação
indenitária, entre outros. Sob a exclusão social, Velloso (2005) cita que os catadores são
vistos como marginais à sociedade, e mesmo ao se organizarem em associações ou
cooperativas, ainda sofrem discriminação.
No ano de 2003, o Governo Federal criou o comitê de inclusão social de
catadores de material reciclável. Dentre outras atribuições esse comitê deveria implantar
projetos que visassem garantir condições dignas de vida e trabalho à população catadora
de material reciclável, bem como apoiar a gestão e destinação adequada de resíduos
sólidos nos municípios brasileiros. Contudo, observa-se que os catadores desempenham
suas atividades em condições precárias, sofrem preconceitos e possuem baixo
reconhecimento do papel que representam na economia e no meio ambiente, embora
tenham a profissão reconhecida e sejam resguardados por um comitê específico.

5. OS RISCOS ENFRENTADOS DIARIAMENTE

Os catadores de materiais recicláveis enfrentam cargas de trabalho biológicas,


mecânicas, fisiológicas e psíquicas. Eles também ficam expostos a materiais
contaminados, como seringas, agulhas, cacos de vidro e resíduos hospitalares, que são
as cargas biológicas. Além disso, quanto às mecânicas, ainda correm o risco de serem
atropelados no trânsito ao carregarem seus carrinhos de mão pesados e não adaptados,
ocasionando os riscos ergonômicos neste caso.
Quanto às cargas fisiológicas, ressaltamos o grande esforço físico feito para
carregar o peso transportado. E, por fim, apresentam problemas psíquicos, pois os
catadores são vistos como pessoas de má índole e não como trabalhadores dignos que
sustentam suas famílias.
O peso das cargas traz como consequências problemas osteomusculares, como
dores na coluna e membros inferiores, e os expõem a acidentes de trabalho — cortes
pelo corpo, quedas e contusões. E, ainda, amargam suas vidas a ansiedade e estresse, em
que ambos são distúrbios causados pela instabilidade de renda, pressão enfrentada no
trânsito, preconceito e desvalorização sofridos.
A falta de recursos de proteção laboral e falta de direitos de saúde no trabalho
em termos legais levam os catadores a cuidarem sozinhos da própria saúde
(automedicação) e procurarem os serviços de saúde apenas em situações que
consideram graves. O que os catadores mais demandam não é serem reconhecidos como
pessoas que precisam de ‘ajuda social’, mas sim de serem vistos como trabalhadores,
recebendo todos os direitos que lhe são imputados a partir desta condição.
Para prevenção dos riscos ambientais, a NR-9 – Programa de Prevenção de
Riscos Ambientais tem como objetivo estabelecer uma metodologia de ação que garanta
a saúde e segurança dos trabalhadores, por meio da antecipação e o reconhecimento dos
riscos. Esta norma estabelece parâmetros mínimos para avaliação do ambiente de
trabalho e classificam os riscos ambientais como agentes físicos, químicos, biológicos,
além dos riscos da organização do trabalho (ATLAS, 2004).
Os agentes físicos são classificados como as diversas formas de energia a que
possam estar expostos os trabalhadores, tais como: ruído, vibração, temperaturas
extremas (calor e frio), luminosidade, ventilação, umidade, pressões atmosféricas
anormais, radiação ionizante e não ionizante. De acordo com FERREIRA e ANJOS
(2001) o odor emanado dos resíduos sólidos urbanos pode causar mal-estar, dores de
cabeça e náuseas em trabalhadores que atuam na coleta ou na segregação desses
materiais. Os agentes químicos são substâncias químicas tóxicas presentes nos
ambientes de trabalho, sob a forma líquida, gasosa, fumo, névoa, neblina ou poeiras
minerais e vegetais. De acordo com KUPCHELLA e HYLAND (1993), algumas
substâncias químicas podem ser encontradas nos resíduos sólidos municipais, os mais
comuns são: pilhas, baterias, óleos, graxas, pesticidas, solventes, tintas, produtos de
limpeza; cosméticos, remédios, aerossóis.
O risco social relaciona-se principalmente a falta de treinamento adequado dos
trabalhadores, tornando-os impotentes para reivindicar medidas preventivas do ponto de
vista ocupacional, assim como exigir melhores condições de trabalho. Contudo, chama-
se a atenção que este risco, segundo a literatura de segurança e medicina do trabalho,
corresponde ao risco de acidente. Dentre os riscos observados destacam-se:
atropelamentos, queda grave, cortes, ferimentos, esforços excessivos, ruído, gases
tóxicos, contato com agentes biológicos patogênicos e falta de treinamento para o
serviço. Este mesmo estudo constatou que os trabalhadores não são submetidos a
exames de saúde periódicos e a medidas preventivas como vacinação.
Os agentes biológicos são todos os microrganismos que, em contato com o
homem, causem um dano à sua saúde. Inúmeros são os microrganismos, os mais
comuns, porém, são as bactérias, os fungos, as parasitas e os vírus. Microrganismos
patogênicos ocorrem nos resíduos sólidos municipais mediante a presença de lenços de
papel, curativos, fraldas descartáveis, papel higiênico, absorventes, agulhas, seringas
descartáveis e camisinhas, originados da população; dos resíduos de pequenas clínicas,
farmácias e laboratórios e, na maioria dos casos, dos resíduos hospitalares, misturados
aos resíduos domiciliares COLLINS E KENEDY (1992).
Os riscos de organização do trabalho são subdivididos em ergonômicos e de
acidentes. Os riscos ergonômicos estão relacionados à: ritmo acelerado, repetitividade
de movimento, jornadas de trabalho extensas, trabalho noturno ou em outros turnos,
organização do espaço físico, esforço físico intenso, levantamento manual de peso,
posturas e posições inadequadas. A NR-17 – Ergonomia tem como objetivo estabelecer
parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho, de modo a
proporcionar um máximo conforto, segurança e desempenho eficiente.
Os riscos de acidente são ligados à proteção das máquinas, arranjo físico, à
ordem e limpeza do ambiente de trabalho, à sinalização e à rotulagem de produtos
(BRASIL, 2002).
Os catadores podem sofrer ferimentos, seja por fragmentos contaminados e
seringas usadas em tratamentos de saúde, ou contrair enfermidades decorrentes do
contato com animais, insetos e microrganismos. Além disso, o material descartado pode
funcionar como abrigo e local propício à proliferação de moscas, mosquitos, ratos e
baratas, quando depositado de forma inadequada.
Com relação a doenças ocupacionais em que o catador fica exposto a contrair
são as micoses mais comuns, sendo mais frequente nas mãos e pés, onde o material que
é confeccionado as luvas e calçados propiciam condições favoráveis para o
desenvolvimento de microrganismos. Alguns agentes que podem ser ressaltados são: os
agentes responsáveis por doenças do trato intestinal; o vírus causador da hepatite
(principalmente do tipo B), pela sua capacidade de resistir em meio adverso; e o vírus
causador da AIDS. Além desses, devem também ser referidos os microrganismos
responsáveis por dermatites. A transmissão indireta se dá pelos vetores que encontram
servir de justificativa para que as instituições de saúde não estabeleçam procedimentos
gerenciais que reduzam os riscos associados a tais resíduos (principalmente dos perfuro-
cortantes) com a sua desinfecção ou esterilização.

6. NORMAS E LEGISLAÇÃO APLICÁVEIS

Com base no anexo 14, da NR 15 – Atividades e Operações Insalubres, o


trabalho dos catadores é classificado como insalubridade de grau máximo, sendo
importante a utilização dos EPI’s na proteção do trabalhador, visando minimizar o
índice de lesões e acidentes de trabalho. A escolha do EPI depende da atividade
exercida pelo trabalhador, do local de trabalho, das condições ambientais e do tempo de
exposição do trabalhador ao risco.
Além disso, iremos listar as Normas Regulamentadoras, Leis e decretos
utilizados para realização do trabalho.
 Decreto nº 7.404 de 2010 - Regulamentação da Política Nacional de
Resíduos Sólidos: Regulamenta a Lei no 12.305, de 2 de agosto de 2010,
que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, cria o Comitê
Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê
Orientador para a Implantação dos Sistemas de Logística Reversa, e dá
outras providências.
 Decreto n° 5.940 de 2006 - Institui a separação dos resíduos recicláveis
descartados pelos órgãos e entidades da administração pública federal
direta e indireta, na fonte geradora, e a sua destinação às associações e
cooperativas dos catadores de materiais recicláveis, e dá outras
providências.
 Lei nº 12.305 de 2010 - Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos;
altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras
providências.
 Decreto nº 7.405 de 2010 - Institui o Programa Pró-Catador, denomina
Comitê Interministerial para Inclusão Social e Econômica dos Catadores
de Materiais Reutilizáveis e Recicláveis o Comitê Interministerial da
Inclusão Social de Catadores de Lixo criado pelo Decreto de 11 de
setembro de 2003, dispõe sobre sua organização e funcionamento, e dá
outras providências.
 Decreto nº 7.619 de 2011 - Regulamenta a concessão de crédito
presumido do IPI, até 31 de dezembro de 2014, para aquelas indústrias
que uti lizarem, como matéria-prima ou produtos intermediários na
fabricação de seus produtos, os resíduos recicláveis adquiridos
diretamente das cooperativas de catadores de materiais recicláveis.
 Lei nº 12493 de 1999 – Estabelece princípios, procedimentos, normas e
critérios referentes a geração, acondicionamento, armazenamento, coleta,
transporte, tratamento e destinação final dos resíduos sólidos no Estado
do Paraná, visando controle da poluição, da contaminação e a
minimização de seus impactos ambientais e adota outras providências.
 Lei n° 11.445 de 2007 - Estabelece diretrizes nacionais para o
saneamento básico; altera as Leis nos 6.766, de 19 de dezembro de 1979,
8.036, de 11 de maio de 1990, 8.666, de 21 de junho de 1993, 8.987, de
13 de fevereiro de 1995; revoga a Lei no 6.528, de 11 de maio de 1978; e
dá outras providências.
 Norma Regulamentadora nº 05 - Comissão Interna de Prevenção de
Acidentes - tem como objetivo a prevenção de acidentes e doenças
decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatível permanentemente
o trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde do
trabalhador.
 Norma Regulamentadora nº 06 - Equipamentos de Proteção Individual
(EPI) - considera-se EPI, todo dispositivo ou produto, de uso individua l
utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de
ameaçar a segurança e a saúde no trabalho.
 Norma Regulamentadora nº 07 - Programas de Controle Médico de
Saúde Ocupacional (PCMSO) - estabelece a obrigatoriedade de
elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores e
instituições que admitam trabalhadores como empregados, do Programa
de Controle Médico de Saúde Ocupacional - PCMSO, com o objetivo de
promoção e preservação da saúde do conjunto dos seus trabalhadores.
 Norma Regulamentadora nº 09 - Programas de Prevenção de Riscos
Ambientais (PPRA) - estabelece a obrigatoriedade da elaboração e
implementação, por parte de todos os empregadores e instituições que
admitam trabalhadores como empregados, do PPRA, visando à
preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, através da
antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente controle da
ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no
ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do meio
ambiente e dos recursos naturais.
 Norma Regulamentadora nº 12 - Segurança no Trabalho em Máquinas e
Equipamentos - Esta Norma Regulamentadora e seus anexos definem
referências técnicas, princípios fundamentais e medidas de proteção para
garantir a saúde e a integridade física dos trabalhadores e estabelece
requisitos mínimos para a prevenção de acidentes e doenças do trabalho
nas fases de projeto e de utilização de máquinas e equipamentos de todos
os tipos, e ainda à sua fabricação, importação, comercialização,
exposição e cessão a qualquer título, em todas as atividades econômicas,
sem prejuízo da observância do disposto nas demais Normas
Regulamentadoras - NR aprovadas pela Portaria n.º 3.214, de 8 de junho
de 1978, nas normas técnicas oficiais e, na ausência ou omissão destas,
nas normas internacionais aplicáveis.
 Norma Regulamentadora nº 15 - Atividades e Operações Insalubres –
Estabelece limites de tolerância para as atividades desenvolvidas (nível
de ruídos, tempo de exposição, níveis de radiação permitida, frio, calor,
etc.).
 Norma Regulamentadora nº 17 - Ergonomia - visa estabelecer
parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às
características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a
proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente.
 Norma Regulamentadora nº 24 - Condições Sanitárias e de Conforto nos
Locais de Trabalho – estabelece parâmetros para as instalações sanitárias.

Percebe-se que não é por falta de normas, leis e decretos que os trabalhadores
catadores de material reciclável estão respaldados; mas infelizmente por falta de
conhecimento, estudo e vivência nesse meio cultural, eles acabam não sabendo a quem
recorrer ou mesmo não fazem ideia dos perigos e riscos que correm todos os dias ao
trabalharem com esse tipo de material. Uma questão que precisa, e muito, ser mudada
em nossa cultura brasileira.

7. CONCLUSÃO

Com os estudos realizados para a confecção deste artigo, concluímos que os


catadores de materiais recicláveis sofrem com problemas osteomusculares, ansiedade,
estresse e complicações derivadas de acidentes de trabalho. Através da observação,
concluímos também, alguns riscos identificados em seis tipos: físico, químico,
ergonômico, mecânico, biológico e social. Além dos problemas de saúde, estão entre os
principais desafios da classe o improviso de instrumentos de trabalho e a obtenção de
melhores recursos financeiros. Concluímos também que, embora esse trabalho traga
ganhos ambientais à sociedade e econômicos à cadeia de reciclagem, os catadores estão
inseridos em um contexto de informalidade e invisibilidade social, onde ao mesmo
tempo em que eles renovam aquilo que não tinha valor algum (resíduos ou ‘lixo’),
gerando lucro para o mercado da reciclagem, eles também desgastam a sua saúde nesse
processo.
Com este artigo, percebemos também, que a atividade é executada em condições
precárias e informais de trabalho e remuneração, evidenciando o caráter perverso da
inclusão social que essa atividade possibilita, pois, os trabalhadores encontram na
catação a possibilidade de garantir sua sobrevivência, mesmo executando um trabalho
desprovido de qualquer garantia trabalhista, e, a partir daí, sentem-se novamente
excluídos. Por isso este artigo é importante para dar voz e mostrar a importância e
evidenciar o devido respeito aos catadores de material reciclável que são diariamente
expostos e marginalizados pela sociedade; após esta reflexão, nós como engenheiros de
segurança do trabalho devemos nos conscientizar e sobretudo, valorizar o trabalho do
catador, pois este é tão importante e essencial como qualquer outro presente em nossa
sociedade.
REFERÊNCIAS

Al-Khatib, I. A., Arafat, H. A., Basheer, T., Shawahneh, H., Salahat, A. & Eid, J.
(2007). Trends and problems of solid waste management in developing countries: A
case study in seven Palestinian districts. Waste Management, 27(12), 1910-1919.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT. NBR n° 10.004, de


31 de maio de 2004. Resíduos Sólidos: Classificação. Rio de Janeiro: Rio de Janeiro. 71
p. Disponível em: <http://www.aslaa.com.br/legislacoes/NBR%20n%2010004-
2004.pdf>. Acesso em 03 de julho de 2019.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT. NBR n° 10.007, de


31 de maio de 2004. Amostragem de resíduos sólidos. Rio de Janeiro: Rio de Janeiro.
21 p. Disponível em: < http://pt.scribd.com/doc/51403385/Abnt-Nbr-100072004-
Amostragem-de-ResA%C2%ADduos-SA%C2%B3lidos>. Acesso em 03 de julho de
2019.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT. NBR n° 10.005, de


31 de maio de 2004. Procedimento para obtenção de extrato lixiviado de resíduos
sólidos. Rio de Janeiro: Rio de Janeiro. 16 p. Disponível em:
<http://pt.scribd.com/doc/52931267/ABNT-NBR-10005-Lixiviacao-de-Residuos>.
Acesso em 03 de julho de 2019.

Augusto LGS, Câmara VM, Carneiro FF, Câncio J, Gouveia N. Saúde e ambiente: uma
reflexão da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
(ABRASCO). Rev. bras. epidemiol. 2003; 6(2):87-94.

BRASIL. 2002. Ministério da Saúde. Saúde do Trabalhador. Cadernos de Atenção


Básica, n. 5. Brasília: Ministério da Saúde. BRASIL. Lei n° 12.305, de 02 de agosto de
2010. Diário Oficial da União. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20072010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em
03 de julho de 2019.
BROLLO, M. J.; SILVA, M. M. Política e gestão ambiental em resíduos sólidos.
Revisão e análise sobre a atual situação no Brasil. Anais do 21 Congresso Brasileiro de
Engenharia Sanitária e Ambiental, 2001.

Calderoni, S. (1997). Os bilhões perdidos no lixo. São Paulo: Humanitas


Fadini, P. S., & Fadini A. A. B. (2001). Lixo: Desafios e compromissos. Cadernos
Temáticos de Química Nova na Escola (1), 9-18.

Carmo, M.S. (2005). A semântica “negativa” do lixo como fator “positivo” à


sobrevivência da Catação – Estudo de caso sobre a associação dos recicladores do Rio
de Janeiro . Em Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-graduação em
Pesquisa em Administração. ENANPAD, Brasília – DF.

Colon, M. & Fawcett, B. (2006). Community-based household waste management:


Lessons learnt from EXNORA’s ‘zero waste management’ scheme in two South Indian
cities. Habitat International, 30(4), 916-931.

COLLINS, C. H.; KENEDY, D. The microbiological hazards of municipal and clinical


wastes. Journal of Applied Bacteriology, Massachusetts, v. 73, p. 1-6, 1992.

Doan, P. L. (1998). Institutionalizing household waste collection: the urban


environmental management project in Côte d’Ivoire. Habitat International, 22(1), 27-39.

FERREIRA, João Alberto; ANJOS, Luiz Antônio dos, 2001. Aspectos de saúde coletiva
e ocupacional associados à gestão dos resíduos sólidos municipais. Disponível em
<http://www.scielo.br/pdf/csp/v17n3/4651.pdf>. Acesso em 01 de julho de 2019. GIL,
A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 3. Ed. São Paulo: Atlas, 1991. 159 p. e p.
689-696.

Figueiredo, P. J. M. (1995). A sociedade do lixo: Os resíduos, a questão energética e a


crise ambiental. Piracicaba, SP: UNIMEP.

GRIPPI, S. 2001. Lixo, reciclagem e sua história. Ed. Interciência. P.27.

HESS, S. Educação Ambiental: nós no mundo, 2ª ed. Campo Grande: Ed. UFMS, 2002,
192 p.

https://periodicos.unifor.br/rmes/article/view/1581. Acesso em 02 de julho de 2019.

https://sat.ufba.br/sites/sat.ufba.br/files/resumo-word_denise_oliveira.pdf.
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/arbp/v63nspe/08.pdf. Acesso em 30 de junho de 2019.

http://www.periodicos.usp.br/rto/article/view/14054/15872. Acesso em 30 de junho de


2019.

http://www.scielo.br/pdf/psoc/v18n2/08. Acesso em 02 de julho de 2019.

https://www.ecodebate.com.br/2015/05/05/maioria-dos-catadores-de-materiais-estao-
expostos-a-riscos-biologicos-fisiologicos-mecanicos-e-psiquicos/. Acesso em 30 de
junho de 2019.
https://www.ecycle.com.br/component/content/article/9-no-mundo/1157-estimativa-
revela-que-quantidade-de-lixo-produzida-no-mundo-sera-quase-70-maior-em-
2030.html. Acesso em 29 de junho de 2019.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/Decreto/D7404.htm. Acesso
em 03 de julho de 2019.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/decreto/d5940.htm. Acesso
em 03 de julho de 2019.

http://www.mma.gov.br/pol%C3%ADtica-de-res%C3%ADduos-s%C3%B3lidos.
Acesso em 03 de julho de 2019.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/decreto/d7405.htm. Acesso
em 03 de julho de 2019.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/d7619.htm. Acesso
em 03 de julho de 2019.

http://www.mncr.org.br/biblioteca/legislacao/legislacao-no-estados/legislacao-parana/
lei-estadual-no-12493-de-22-de-janeiro-de-1999/view. Acesso em 03 de julho de 2019.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11445.htm. Acesso em
03 de julho de 2019.

http://trabalho.gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR5.pdf. Acesso em 03 de julho de


2019.

http://www.guiatrabalhista.com.br/legislacao/nr/nr6.htm. Acesso em 03 de julho de


2019.

https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-07.pdf. Acesso
em 03 de julho de 2019.

http://www.trtsp.jus.br/geral/tribunal2/LEGIS/CLT/NRs/NR_9.html. Acesso em 30 de
junho de 2019.

http://trabalho.gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR12/NR-12.pdf. Acesso em 30 de
junho de 2019.

http://trabalho.gov.br/seguranca-e-saude-no-trabalho/normatizacao/normas-
regulamentadoras/norma-regulamentadora-n-15-atividades-e-operacoes-insalubres.
Acesso em 30 de junho de 2019.

http://www.trabalho.gov.br/seguranca-e-saude-no-trabalho/normatizacao/normas-
regulamentadoras/norma-regulamentadora-n-17-ergonomia. Acesso em 30 de junho de
2019.
http://www.guiatrabalhista.com.br/legislacao/nr/nr24.htm. Acesso em 30 de junho de
2019.

KUPCHELLA, C. D. & HYLAND, M.C., 1993. Environmental Science - Living


Within the System of Nature. London: Prentice-Hall International.

LEAL, A. C.; JÚNIOR, A. T.; ALVES, N.; GONÇALVES, M. A.; DIBIEZO, E. P. A


reinserção do lixo na sociedade do capital: uma contribuição ao atendimento do
trabalho na captação e na reciclagem. Rev. Terra Livre, v. 18, n. 9, p. 177-190, 2006.

Lima, S. C., & Ribeiro, T. F. (2000). A coleta seletiva de lixo domiciliar: Estudos de
casos. Caminhos de Geografia, 2, 50-69.

LOPES, J. R. “Exclusão social” e controle social: estratégias contemporâneas de


redução da sujeiticidade. Psicol. Sociedade, v. 18, n. 2, p. 13-24, 2006.

MAGERA, M. 2003. Os Empresários do Lixo: um paradoxo da modernidade. Campinas,


SP: Átomo
MEDEIROS, L. O. F. R.; MACÊDO, K. B. Catador de material reciclável: uma
profissão para além da sobrevivência? Psicol. Sociedade, v. 18, n. 2 p. 62-71, 2006.

MNCR, 2012. Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis.


<http://www.mncr.org.br/box_2/instrumentos-juridicos>. Acesso em 03 de julho de 2019.

PORTO, M. F. S.; JUNCÁ, D. C. M.; GONÇALVES, R.S.; FILHOTE, M. I. F. Lixo,


trabalho e saúde: um estudo de caso com catadores em um aterro metropolitano no Rio de
Janeiro, Brasil. Cad. Saúde Pública, v. 20, n. 6, p. 1503-1514, 2004.

Rigotto, R. (2002). Produção, consumo, saúde e ambiente. In M. C. S. Minayo & A. C.


M. Miranda (Orgs.), Saúde e ambiente sustentável: Estreitando nós (pp. 233-260). Rio
de Janeiro: Fiocruz.

VELLOSO, M. Os catadores de lixo e o processo de emancipação social. Cien. Saúde


Coletiva, v. 10, p. 49-61, 2005.

Zia, H. & Devadas, V. (2008). Urban solid waste management. In Kanpur:


Opportunities and perspectives. Habitat International, 32(1), 58-73.
AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer à Deus, por ter me ajudado a chegar onde estou e ser quem sou.
Obrigado também à minha família por todo amor que me deram e por todo o esforço
que fizeram para que eu trilasse meu caminho. Aos amigos, por todo carinho,
companheirismo e felicidade que sempre me proporcionaram ao longo de minha vida.
Aos professores e colaboradores, por todo conhecimento e apoio adquirido ao longo do
curso.

Você também pode gostar