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XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.


Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008

COLETA SELETIVA EM
ESTABELECIMENTO DE SAÚDE COMO
FERRAMENTA DE TECNOLOGIA
LIMPA
Kelly cristina Dantas dos Santos (UFRN)
dantaskelly@rn.gov.br
Manoel Alexandre D. limeira Neto (UFRN)
limeiradiniz@rn.gov.br
Carlos Henrique Catunda Pinto (UFRN)
chcp@rn.gov.br
Regina Coeli D. de Oliveira Silva (UFRN)
coeli@oi.com.br
Ana Karina Guedes (UFRN)
karinapep@yahoo.com.br

RESUMO

Atualmente, os temas Meio Ambiente e qualidade de vida, estão cada


vez mais em comunhão,pois se preservarmos o meio ambiente, através
da redução, reutilização e reciclagem de resíduos, reflorestamento,
implantação de sisttemas de tratamento de esgotos e água, educação
ambiental, redução de gases tóxicos e dentre outras formas de
melhorar e conservar o ambiente em que vivemos, teremos uma melhor
qualidade de vida, principalmente para as futuras gerações.
É com esse pensamento e sabendo da problemática que é a forma
como estão sendo dispostos os resíduos de serviços de saúde tanto no
nosso estado como em todo o país, que em sua maioria são dispostos
em lixões juntamente com os resíduos domésticos, contribuindo para a
contaminação do solo e da água, que apresentamos este trabalho como
proposta de coleta seletiva de resíduos de serviços de saúde,
apresentando a experiência do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel,
situado em Natal-RN, que ao invés de serem enviados para o lixão,
aterro sanitário ou tratamento térmico,são enviados para reciclagem
ou reutilizados, tendo como ponto inicial a coleta seletiva na fonte,
como forma de contribuir para uma produção mais limpa.
XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.
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Palavras-chaves: Resíduos de Serviços de Saúde, lixo, coleta seletiva

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1. INTRODUÇÂO
O lixo pode ser definido como todo e qualquer resíduo que resulte das atividades diárias do
homem e sociedade (LIMA, 2004). Vários destinos podem ser dados à sua disposição final,
todavia, o pior deles é o “lixão”, definido como o local no qual se deposita o lixo, sem projeto
ou cuidado com a saúde pública e o meio ambiente, sem tratamento e sem qualquer critério de
engenharia (BRAGA et al., 2002). Essa prática é a mais prejudicial ao homem e ao meio
ambiente.
Uma das preocupações deste século é com o manejo e a destinação final dos Resíduos Sólidos
Urbanos (RSU), onde dependendo da forma como forem dispostos, podem ocasionar diversos
problemas, sejam de ordem ambiental ou social, podendo gerar a perda da qualidade de vida e
doenças à população, de forma direta ou indireta.
A geração e adoção de tecnologias que sejam baseadas na compatibilidade com o meio
ambiente e que atendam à demanda nos diversos setores, permite que os processos sejam eles
industriais ou não, se tornem cada vez mais eficientes, econômicos e ambientalmente corretos.
Contudo, nem sempre as tecnologias mais limpas conseguem atingir 100% de seu objetivo,
que é o impacto ambiental zero, mas elas sempre serão menos agressiva do que a tecnologia
existente, fazendo com que os sistemas de produção sejam mais compatíveis com o meio
ambiente e possibilitando que o desenvolvimento sustentável ocorra dentro de um modelo
sustentável.
Segundo Young (1998), a grande vantagem das tecnologias “limpas” está na possibilidade de
reverter um custo em benefício, ou seja, o que seria antes tratado como um problema (gastos
adicionais para evitar emissões ou para pagar compensações, caso a redução de emissões não
seja técnica ou economicamente viável, passa a ser uma vantagem (ganhos de rendimento ou
produtividade). As circunstâncias que levam à adoção das tecnologias limpas e otimização de
processos estão normalmente associadas a indústrias de processo contínuo, onde a redução de
efluentes pode representar uma economia considerável de custos (menor desperdício = maior
lucro).
Não tão diferente dos resíduos sólidos urbanos, os RSS (Resíduos Sólidos de Serviços de
Saúde), também são dispostos no solo em lixões ou dentro da área externa dos limites do
estabelecimento de saúde.
Atualmente, existem várias formas de destinação final dos RSS, são elas: lixões; aterro
sanitário; aterro controlado, tratamentos térmicos (incineração, autoclave) e reciclagem.
Entretanto, em nosso país, a mais utilizada é a destinação em lixões (figura 1).

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Figura 1-Resíduo hospitalar disposto em lixão


Apesar de ser pequeno o percentual de resíduos sólidos de serviço de saúde que é produzido
em um município, esse pequeno valor contribui para a diminuição da vida útil do aterro,
quando por sua vez, parte desse resíduo poderia ser reciclado, sendo coletado separadamente,
diretamente no próprio estabelecimento de saúde.
Diante da problemática da forma de destino final dos Resíduos Sólidos de Serviços de Saúde,
objetivamos através deste trabalho apresentar a experiência do Hospital Público Monsenhor
Walfredo Gurgel, em Natal/RN, que utilizou a coleta seletiva na fonte como instrumento de
Gestão Ambiental a tecnologia mais limpa, reduzindo a quantidade de resíduos sólidos de
serviços de saúde que são enviados a incineração e ao Aterro Sanitário.

2. Panorâmica da Situação Atual


A questão do destino final dos resíduos sólidos, no Brasil, atualmente, pode ser enquadrada na
Lei de Crimes Ambientais e crime contra a saúde pública, existindo ainda um aparato de leis,
resoluções e normas que ajudam na gestão dos resíduos numa cidade.
Os resíduos sólidos dispostos a céu aberto também favorece a proliferação de mosquitos,
moscas, baratas e ratos, os quais são vetores de inúmeras doenças ao homem, tais como a
febre tifóide, salmonelose, desinterias e outras infecções. Além destes insetos e roedores,
constata-se a presença de animais domésticos nessas áreas, como cachorros e gatos que, junto
com as aves, podem transmitir a toxoplasmose.
Segundo senso 2000 - IBGE, no Brasil são gerados aproximadamente, 150.000 ton. de
lixo/dia, sendo 59,03% destinados em lixões, 16,78 % em Aterros Controlados, 12,58% em
Aterros Sanitários e 11,61% são destinados para compostagem, reciclagem e incineração.
Está definido por lei que o gerador é responsável pelo resíduo da origem até o destino final,
porém, em se tratando de um município, o poder público é responsável pela limpeza pública
do município, desde a coleta até o destino final, mesmo que esses serviços sejam
terceirizados.
Embora a média brasileira de produção de lixo doméstico seja da ordem de 1,0 kg/hab/dia, em
Goiânia, segundo Novaes (1999), esse número sobe para 1,3 kg/hab./dia e, no mundo são
produzidos cerca de 2 milhões de toneladas de lixo doméstico por dia.

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Os resíduos hospitalares, apesar de representarem apenas 1% desse total, tem sido bastante
discutido por diversos autores, e ainda há controvérsias sobre as reais dimensões de sua
periculosidade e das formas de tratamento que deve receber.
Estudos realizados pela OPAS/OMS, relatam que a média de resíduos produzidos por
unidades de saúde na América Latina varia de 1,0 kg à 4,5 kg/leito/dia, dependendo da
complexidade e freqüência dos serviços, da tecnologia utilizada e da eficiência dos
responsáveis pelos serviços.
Mattos Silva e Carrilho (1998), concluem em seus estudos que apenas 10% do lixo hospitalar
é infectante, enquanto outros autores (FNS; Santos ; Castilho e Soares ; Ferreira), consideram
até 30%. O restante é considerado como lixo "comum", semelhante aos resíduos domésticos,
dos quais, segundo Mattos, Silva e Carrilho (1998), cerca de 20% poderiam ser recicláveis.
Há algum tempo atrás, bem como atualmente, os resíduos de serviços de saúde eram
denominados de “Resíduos Hospitalares”, por fazer referência explicitamente aos resíduos
gerados por aquele tipo de estabelecimento. Verificou-se, contudo, que outros tipos de
estabelecimentos também geravam resíduos com características similares aos gerados em
hospitais, estes últimos eram em sua maioria os estabelecimentos prestadores de serviços de
saúde, seja humana ou animal – criou-se então a denominação aceita no meio técnico e
cientifico de Resíduos de Serviços de Saúde (RSS).
Assim, além dos hospitais, outros estabelecimentos tais como: farmácias e drogarias;
laboratórios de análises clínicas, de patologia clínica, de hematologia clínica, de anatomia
patológica, de citologia e congêneres; consultórios médicos e odontológicos; clínicas e
hospitais veterinários; bancos de sangue e congêneres, também geram RSS. Vale salientar que
nos domicílios também pode haver produção de resíduos considerados de risco, como as
agulhas e seringas utilizadas por diabéticos que se auto aplicam diariamente doses de insulina,
porém, considerando a quantidade gerada, não há lógica em nos preocuparmos com esses
pormenores, que pode até inviabilizar quais quer proposta racional para o gerenciamento de
resíduos cuja característica o torna um pouco diferente do resíduo comum.

2.1. Os Resíduos de Serviços de Saúde e seu potencial de risco


Fala-se muito sobre o potencial de risco dos RSS tanto para o meio ambiente quanto para a
saúde pública. Obviamente, quando se pensa em risco para ambiente, acaba-se por direcionar
o raciocínio para o risco à saúde pública devido à visão antropocêntrica que o ser humano tem
quando se pensa na questão ambiental. Atualmente, parece ser consenso da comunidade
científica, de que os RSS representam um potencial de risco em três níveis:
− À saúde ocupacional: de quem manipula estes tipos de resíduos, seja no
estabelecimento gerador, seja o pessoal ligado à assistência médica ou médico-
vetrinária, seja o pessoal ligado ao setor de limpeza, seja o funcionário responsável pela
coleta de lixo ou até mesmo o usuário do serviço;
− Aumento da taxa de infecção hospitalar: conforme a Associação Paulista de Controle
de Infecção Hospitalar, segundo estudos realizados, as causas determinantes de
infecção em usuários dos serviços de assistência médica seriam:
a) 50% devido ao desequilíbrio da flora bacteriana do corpo do paciente, já debilitado
pela doença e pelo “stress” decorrente do meio em que está inserido;
b) 30% devido ao despreparo dos profissionais que prestam assistência médica;

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c) 10% devido às instalações inadequadas que propiciam o curto-circuito no fluxo


operacional, entre outros fatores que possibilitam a contaminação ambiental;
d) 10% devido ao mau gerenciamento de resíduos e outros.
− Meio ambiente: na medida em que os RSS não tratados adequadamente são dispostos
de qualquer maneira em lixões à céu aberto e em até cursos de água possibilitando a
contaminação de mananciais superficiais e subterrâneos utilizados para consumo
humano, a disseminação de doenças através de vetores que se multiplicam nos lixões
ou que fazem dele fonte de alimentação mais grave ainda é a questão dos catadores,
muitos dos quais são crianças que buscam nos vazadouros públicos, alimentos ou
materiais que possam ser depois comercializados e neste aspecto reside não só o risco
direto à saúde dos catadores como o risco da venda de determinados RSS como
matéria-prima (principalmente plástico e vidros) para fins desconhecidos.
Vale salientar, que para entender melhor o potencial de risco à saúde, estamos falando
basicamente no risco de adquirir doenças infecciosas direta ou indiretamente, através do
gerenciamento inadequado de RSS, seja pelo manuseio, acondicionamento, coleta, transporte,
armazenamento, tratamento e destino final.

2.2. Classificação e simbologia dos RSS


Ao momento em que a comunidade científica internacional ligada ao setor de saúde e meio
ambiente voltaram seu olhar para a problemática dos RSS, foram propostas diversos tipos de
classificação destes tipos de resíduos. Classificando os resíduos em categorias, começamos a
conhecer melhor as especificidades do resíduo e então temos condições de definir estratégias
mais adequadas para gerenciá-lo de forma a não causar riscos ou danos à saúde ou ambiente.
As classificações propostas por entidades internacionais como a OMS (Organização Mundial
da Saúde), EPA( Environmental Protection Agency ) e CDC (Control for Disease Center) não
diferem muito quanto às categorias propostas, como pode ser observado a seguir:
− OMS: Patológico; radioativo; químico; infeccioso; perfurantes; famacêuticos;
pressurizados e comuns;
− EPA:Meios de cultura e estoques de agentes infecciosos; resíduos patológicos; sangue e
hemoderivados; perfurantes e cortantes contaminados; resíduos de isolamento; resíduos de
animais contaminados;
− CDC:Resíduos de laboratório de microbiologia; resíduos patológicos; sangue e
hemoderivados; Perfurantes e cortantes contaminados.
Os RSS correspondem a uma pequena parcela quando comparados aos demais resíduos
sólidos, porém, consideram-se as suas principais características que correspondem a sua
patogenicidade, colocando-os assim, dentro da Classe I, ou seja, resíduos perigosos conforme
determina a NBR 10.004 da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Mas
sabemos que tais resíduos sejam eles de origem domiciliar ou hospitalar, não deixam de
oferecer riscos ao meio ambiente.
Várias são as classificações, propostas por diversas entidades, para os RSS. Contudo, no
Brasil, as mais adotadas, atualmente, são aquelas apresentadas pela ABNT (1993b), em sua

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NBR 12808, e pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA (1993), na Resolução
Nº 5, de 5 de agosto de 1993 .
Há diferentes legislações que classifica de forma diferenciada os resíduos sólidos de saúde.
Temos Resolução CONAMA nº 5/93 do Ministério do Meio Ambiente, as normas da ABNT.
A RDC nº 33 entrou em vigor em 15.07.2004, sendo esta a legislação que os geradores de
“RSS” estarão buscando se adequar.
Os Resíduos Sólidos de Saúde, quanto aos riscos potenciais poluidores do meio ambientes e
prejudiciais a saúde pública são agrupados em classes com termos técnicos e essa definição
está conforme a RDC nº 33, a saber:
− Grupo A – Potencialmente Infectantes (A 1 , A 2 , A 3, A 4, A 5, A 6 e A 7) ;
− Grupo B – Químicos (B 1, B 2, B 3, B 4, B 5, B 6, B 7 e B 8);
− Grupo C – Rejeitos radioativos;
− Grupo D – Resíduos comuns;
− Grupo E – Perfuro cortantes.

Em 2005, o CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente, publicou a Resolução


358/2005, que dispõe sobre o tratamento e disposição final dos resíduos dos serviços de
saúde, onde no seu anexo I, classifica estes resíduos em cinco grupos, assemelhando com a
classificação da RDC nº 33:
a) Grupo A – resíduos com a possível presença de agentes biológicos que, por suas
características de maior virulência ou concentração, podem apresentar risco de infecção,
subdividindo-os em cinco sub-grupos : A 1 , A 2 , A 3, A 4, e A 5;
b) Grupo B - resíduos contendo substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde ou
ao meio ambiente;
c) Grupo C - qualquer material resultante de atividades humanas que contenham
radionuclídeos em quantidades superiores aos limites de eliminação especificados nas
normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN;
d) Grupo D – resíduos comuns;
e) Grupo E – materiais perfurocortantes ou escarificantes.

3.Tratamento e disposição final


Conforme a resolução do CONAMA nº 5 de 5/8/93, em seu artigo 4º, fica determinado que é
de responsabilidade dos estabelecimentos prestadores de serviços de saúde “... o
gerenciamento de seus resíduos sólidos, desde a geração até a disposição final, de forma a
atender aos requisitos ambientais e de saúde pública.” Na resolução do CONAMA nº 358, de
29/04/2005, art. 3º, acrescenta: “... e saúde ocupacional, sem prejuízo de responsabilização
solidária de todos aqueles, pessoas físicas e jurídicas que, direta ou indiretamente, causem ou
possam causar degradação ambiental, em especial os transportadores e operadores das
instalações de tratamento e disposição final, nos termos da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de
1981”.

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Entretanto, em todos os grupos de resíduos gerados, cada um tem o órgão responsável pelo
seu gerenciamento adequado. Na tabela a seguir, observamos os responsáveis pelo
gerenciamento das diferentes classes de resíduos:
Fonte: Leite et al. (2002).
Tabela 1 - . Responsabilidade pelo gerenciamento de cada tipo de resíduo
Diante da panorâmica do destino final dos RSS, começaram então a ser discutidos e
analisados em todo o Brasil os melhores métodos para o tratamento deste tipo de resíduo,
dentre os quais: a) térmicos (microondas, autoclave, incineração, plasma térmico); b)
químicos (tratamento com cloro, derivados de cloro); c) radioativos (tratamento com
ultravioleta, cobalto 60 e infravermelho); e d) mecânicos (disposição em valas sépticas).
Todas essas técnicas têm vantagens e desvantagens, se confrontados seus custos com a
eficiência do tratamento. Na cidade do Natal-RN, em 2002, foi promulgada a Lei n° 187/02
(Lei Hermano Morais) que segundo Barbosa (2003), quanto à classificação e tratamento do
lixo hospitalar no Município de Natal-RN, reproduziu a Resolução CONAMA e assim como
em outros Municípios, como Recife-PE, optou-se pela incineração, método de eliminação
estabelecido na Lei Orgânica de Limpeza Pública e Código do Meio Ambiente do Município.
A Resolução CONAMA nº 358/2005, que dispõe sobre o tratamento e disposição final dos
resíduos de serviços de saúde, determina que os resíduos do grupo A ( A1, A2 e A3) devem
ser submetidos a processo de tratamento em equipamento que promova a redução de carga
microbiana compatível com o nível III de inativação e em seguida encaminhados para aterros
sanitários licenciados, cemitérios, incineração ou cremação ou local devidamente licenciado
para disposição final de resíduos dos serviços de saúde (art. 15, 16 e 17). Os resíduos do
grupo A4 podem ser encaminhados sem tratamento prévio para local devidamente licenciado
Tipos de Lixo Responsável
Domiciliar Prefeitura
Comercial Prefeitura
De serviços Prefeitura
Industrial Gerador (Indústrias)
Serviços de saúde Gerador (Hospitais, etc.)
Portos, aeroportos e terminais ferroviários e Gerador (Portos, etc.)
rodoviários
Agrícola Gerador (Agricultor)
Entulho Gerador
Radioativo CNEN (Comissão Nacional de Energia
Nuclear)
para a deposição final de resíduos de serviços de saúde (art. 18). Já os resíduos do grupo A5
devem ser submetidos a tratamento específico orientado pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária- ANVISA. O Art. 20 da referida resolução, rege que os resíduos do grupo A não
podem ser reciclados, reutilizados ou reaproveitados, inclusive para alimentação animal. Os
resíduos pertencentes ao grupo B, com características de periculosidade, quando não forem
submetidos a processo de reutilização, recuperação ou reciclagem, devem ser submetidos a
tratamento e disposição final específicos, quando no estado sólido, devem ser dispostos em
aterro de resíduos perigosos - Classe I; quando no estado líquido não devem ser
encaminhados para disposição final em aterros (Art. 21). Os resíduos ainda do Grupo B, sem
características de periculosidade, não necessitam de tratamento prévio, quando no estado

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sólido, podem ter disposição final em aterro licenciado e no estado líquido, podem ser
lançados em corpo receptor ou na rede pública de esgoto, desde que atendam respectivamente
as diretrizes estabelecias pelos órgãos ambientais, gestores de recursos hídricos e de
saneamento competentes.

Os materiais resultantes de atividades exercidas pelos serviços de saúde estabelecidos na


Resolução CONAMA nº 358/2005, que contenham radionuclídeos em quantidades superiores
aos limites de isenção especificadas na norma CNEN-NE-6.02-Licenciamento de Instalações
radioativas e para as quais a reutilização é imprópria ou não prevista, são considerados
rejeitos radiativos (Grupo C) e devem obedecer às exigências definidas pelo CNEN. Os
resíduos do grupo D quando não forem passíveis de processo de reutilização, recuperação ou
reciclagem, devem ser encaminhados para aterro sanitário de resíduos sólidos urbanos,
devidamente licenciado pelo órgão ambiental competente e quando passíveis de reutilização,
recuperação ou reciclagem devem atender as normas legais de higienização e
descontaminação e a Resolução CONAMA nº 275, de 25/04/2001(Art. 24). Os resíduos
pertencentes ao grupo E devem ter tratamento específico de acordo com a contaminação
química, biológica ou radiológica e devem ser apresentados para coleta acondicionados em
coletores estanques, rígidos e hígidos, resistentes à ruptura, à punctura, ao corte ou à
escarificação (Art. 25).

4.Metodologia

Assim sendo, como objetivo desse trabalho é apresentar a experiência do Hospital Público
Monsenhor Walfredo Gurgel na questão da Gestão Ambiental de RSS com a segregação
criteriosa desses resíduos na fonte, considerando a coleta seletiva para reciclagem como uma
das alternativas para a redução do volume a ser destinado à incineração e lançado ao solo.
Para a realização do trabalho, foi realizada visita ao referido estabelecimento de saúde, com
obtenção de dados, levantamento fotográfico e entrevista com funcionários. Para a
implantação da coleta seletiva dentro do próprio estabelecimento de saúde, foi necessário
inicialmente a elaboração e implantação do PGRSS – Plano de Gestão dos Resíduos de
Serviços de Saúde; realização de trabalho de educação ambiental com a comunidade
diretamente inserida no plano (profissionais da saúde, pessoal do setor administrativo, pessoal
da higienização, pacientes e visitantes); separação (segregação) dos resíduos por classe,
conforme norma ABNT NBR - 10.004; acondicionamento adequado; melhoria das instalações
(acondicionamento dos coletores internos e externos); transporte interno (figura 2) e externo,
e por fim monitoramento e avaliação do PGRSS.

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Figura 2 – Transporte interno

5. Resultados
Antes da implantação do PGRSS, implantado em abril de 2004, o Hospital Walfredo Gurgel
produzia em média 41 ton/mês de resíduo infectante, atualmente, com a coleta seletiva no
próprio hospital (figuras 3 e 4), produz 22 ton/mês de resíduo infectante que são
encaminhados à empresa de incineração, tendo uma redução de quase 50% .
Com o lucro da coleta seletiva, o hospital adquiriu equipamentos que são utilizados para a
melhoria da gestão dos resíduos e na capacitação dos funcionários na área ambiental, servindo
ainda de referência para outros estabelecimentos de saúde.

Figura 3 – Coleta seletiva no Pronto Socorro

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Figura 4 – Galpão de condicionamento dos resíduos recicláveis

4.Conclusão
Conforme consta na resolução CONAMA nº 358/2005, Art. 14. “É obrigatória a segregação
dos resíduos na fonte e no momento da geração, de acordo com suas características, para fins
de redução do volume dos resíduos a serem tratados e dispostos, garantindo a proteção da
saúde e do meio ambiente.”
É sabido que não é todo o resíduo gerado num determinado estabelecimento de saúde que
pode ser reciclado ou reutilizado, devido as suas características, no entanto, pode ser feita a
coleta seletiva dos resíduos que não foram gerados nos setores infectocontagiosos, como por
exemplo: papel (setor administrativo), vidros de medicamentos, caixas de papelão, plástico
(garrafas de água, frascos de soro, bombonas, frascos de água sanitária), metais (latas de
refrigerantes e suplementos alimentícios e equipamentos inutilizados), fixador e revelador de
raios- x , películas de raios- x e madeira .
Lembramos ainda que essa prática trás benefícios de ordem ambiental e social, pois diminui
os riscos de acidentes de trabalho, reduz o número de infecção hospitalar; e reduz os custos
referentes ao manejo, bem como o lucro pode ser revertido em favor da melhoria do PGRSS.
No entanto, não podemos deixar de lembrar que a educação ambiental é imprescindível para o
desenvolvimento de projetos de saneamento ambiental, bem como os hospitais precisam ter
seus planos de gerenciamento de resíduos aprovados pelos órgãos fiscalizadores competentes,
contemplando, não apenas os fatores estéticos e de controle de infecção hospitalar, mas
considerando as questões ambientais tão importantes para a geração atual e futura.

5. REFERÊNCIAS

BARBOSA, J.B. M. Lixo Hospitalar, Natal/RN, 2003.

CASTILHOS JR, A. B. e SOARES, S. R. Levantamento qualitativo e quantitativo de


resíduos de serviços de saúde. Ação Ambiental, Viçosa, 1998. n. 1. p. 21- 23.

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CENTRO PAN - AMERICANO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E CIÊNCIAS DO


AMBIENTE. Guia para manejo interno de resíduos sólidos em estabelecimentos de
saúde. Tradução de Carol Castilho Arguello. Brasília: Organização Pan-americana da
Saúde, 1997. 64p.
FERREIRA, J. A. Lixo domiciliar e hospitalar: semelhanças e diferenças. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 20,
1999, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ABES, 1999. p. 1903-10.
MATTOS, E. D.; SILVA, S. A.; CARRILHO, C. M. D. M. Lixo reciclável: uma
experiência aplicada no ambiente hospitalar. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
CONTROLE DE INFECÇÃO E EPIDEMIOLOGIA HOSPITALAR, 6, 1998, Campos do
Jordão. Resumos... São Paulo: ABIH, 1998. p. 19-20.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Fundação Nacional da Saúde. Departamento de Saneamento.
Manual de Saneamento. 3ª ed. Brasília, 1999. 374p.
Mota, S. - Introdução a engenharia ambiental . ABES, Rio de Janeiro, 1997.
NOVAES, W. Panorama do lixo mundial. O Popular, Goiânia, 14 out. 1999. Caderno 2,
p. 8.
SANTOS, J. F. et al. Produção e destino dos resíduos sólidos de serviços de saúde em
Campo Grande. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E
AMBIENTAL, 20, 1999, Rio de Janeiro. Anais...Rio de Janeiro: ABES, 1999. p. 1995-
2000.
MEYER, M.F.; PEREIRA, V. A SITUAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DE SAÚDE –
RSS EM NATAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS NOS ASPECTOS DE MEIO AMBIENTE E
SEGURANÇA DO TRABALHO . I Congresso de Pesquisa e Inovação da Rede Norte
Nordeste de Educação Tecnológica Natal-RN - 2006.
Young, C.E.F. Competitividade e tecnologias limpas. Curso de Economia Ambiental
oferecido pelo Núcleo Interdisciplinar de Estudos Ambientais e Desenvolvimento
(NIEAD) do CCMN da UFRJ (www.niead.ufrj.br),1998.

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