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EIXO TEMÁTICO: Ambiental

O DESCARTE DOS RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL E A


SUSTENTABILIDADE: MUITO ALÉM DE UMA QUESTÃO LEGAL,
UMA POSTURA ÉTICA
LINCK, Ieda Márcia Donati1; MACHADO, Ronaldo de Jesus2; PEREIRA, Marcos R Maciel3;

PALAVRAS CHAVES: Resíduos. Sustentabilidade. Descarte. Manuseamento. Obras.

INTRODUÇÃO
Para pensar a sustentabilidade, considerando os resíduos materiais de obras, é preciso
relacionar a sua gestão e destinação de forma responsável. Para tanto, a relação dos resíduos
com o meio ambiente deve ser levada em conta já no planejamento da obra, durante a sua
construção, até o seu final, quando ocorre o descarte. Trata-se também de pensar formas de
minimizar os impactos ambientais causados por tais elementos, tanto no descarte, quanto
sobre as matérias-primas utilizadas de forma exagerada e abusiva.
De forma geral, como declarou Gleysson B. Machado, formado em Eng. Química pela
Universidade de Ciências Aplicadas de Frankfurt (Alemanha), os resíduos sólidos da
construção civil são vistos como resíduos de baixa periculosidade pelas empresas, cujo
impacto apenas ocorreria pelo grande volume. No entanto, o pesquisador contrapõe essa
afirmação, dizendo que a disposição irregular desses resíduos pode gerar problemas de ordem
estética, ambiental e de saúde pública, pois nesses resíduos também há presença de material
orgânico, produtos químicos, tóxicos e de embalagens diversas que podem acumular água e
favorecer a proliferação de insetos e de outros vetores de doenças (MACHADO, 2005, n/p).
Teoricamente, no país, há uma definição para que os resíduos da construção civil
sejam agrupados e manuseados de maneira correta, já que o Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA) do Brasil, no dia 05 de Julho do ano de 2002, publicou a “Resolução
de nº 307”, a qual estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão desses
resíduos. Essa demanda estabelece que são resíduos sólidos da construção civil qualquer
proveniente de construções, reformas, reparos e demolições, assim como qualquer resultante
de sua preparação e/ou escavação. No entanto, na prática, os resíduos ainda são um problema

1
Orientadora. Doutora pelo PPGL/UFSM e UA Portugal. Mestre em Linguística pela UPF. Mestre em Educação
pela Uninorte. Metodologia de Ensino superior. Docente do Curso de Med. Veterinária. Membro do GEL e
NEEPS/Unicruz. Coordenadora do Proenem/Unicruz. E-mail:  imdlinck@gmail.com
2
Acadêmico do primeiro semestre de Engenharia Civil. Bolsista Prouni. – E-mail:
r.jesus.machado16@gmail.com
3
Engenheiro Civil (CREA/RS: 212.573) formado pela Universidade de Ijuí (UNIJUI). - E-mail:
marcosroberto_rs@hotmail.com

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V MOSTRA CIENTÍFICA
para a questão ambiental. Afinal, para onde realmente são levados, após recolhidos pelas
empresas privadas?
Além de todos esses cuidados requeridos para o manuseamento, a Lei 12.304/2010
sancionada em 02 de Agosto de 2010, também conhecida como “Política Nacional de
Resíduos Sólidos”, define que “a localização, construção, instalação, ampliação, modificação
e operação de empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou potencialmente
poluidoras, bem como os empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar
degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento do órgão ambiental competente”.
Apesar de ações jurídicas serem frequentes para a tentativa de resolução dessa
problemática ambiental, ainda ocorre tamanho descaso no que se diz respeito ao cuidado com
a sustentabilidade, por ambas as partes responsáveis. Isso mostra, não apenas o descaso, mas
também a falta de ética no que se refere ao cuidado com o meio ambiente.

MÉTODOS E METODOLOGIAS
Trata-se de uma pesquisa de campo exploratória, e de uma revisão bibliográfica da
literatura, desenvolvida na Unicruz, em 2018. Foi realizada em bases de dados eletrônicas,
assim como, consultas em livros, teses e dissertações, utilizando-se as palavras-chave:
“Construção civil”, “Resíduos”, “Descarte”, “Sustentabilidade”, “Legislação”, “Reciclagem”,
“Gestão”, “Ética”. Seguiram-se os critérios de inclusão e de exclusão estabelecidos, que
fossem convenientes ao tema. Realizou-se a leitura dos títulos e dos resumos dos estudos para
selecionar os materiais que compõem os resultados das informações trazidas. A questão que
norteou este estudo foi: “Como pensar a sustentabilidade sem considerar o descarte de
resíduos da construção civil, sob os aspectos Legais, sociais e éticos”?

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Segundo Pereira (2019, n.p.), “A reciclagem de materiais de construção civil não faz
parte da prática usual da engenharia brasileira, sendo assim levados para aterros sanitários,
geralmente licenciados em âmbito municipal, mas inexoravelmente, tornam-se um passivo
ambiental”. Estamos muito aquém do previsto e esperado. Dados mostram que, além de
aterros licenciados, lixões a céu aberto e aterros controlados, são duas das principais formas
“equivocadas” em relação a destinação de resíduos sólidos, como mostra a tabela a seguir:

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V MOSTRA CIENTÍFICA
2016 2017
REGIÃO
RCD Coletado (t/dia) Índice (kg/hab/dia) RCD Coletado (t/dia) Índice (kg/hab/dia)

Brasil 123.619 0,600 123.421 0,594


Fonte: Pesquisa ABRELPE/IBGE

A partir dessa tabela, pode ser observada a quantidade absurda de Resíduos de


Construção e Demolição (RCD) coletados em todo Brasil, totalizando cerca de 120 mil de
toneladas de RCD nos anos apresentados, na qual vemos um índice (kg por hab. por dia,)
diminuindo no passar do ano de 2016 para 2017.
Apesar de não ser apresentado em números concretos, Maria Eugênia Gimenez
Boscov, formada em Engenharia Civil, afirma que “a disposição regular dos RCDs é feita em
aterros especiais (…). Contudo, uma grande quantidade é disposta irregularmente na malha
urbana, em bota-foras clandestinos, nas margens de cursos d’água ou em terrenos baldios.”
(BOSCOV, 2008, p. 22).
Todavia, o potencial de reciclagem dos RCDs ainda é grande, chegando na marca de
80%, que, mesmo não sendo um número satisfatório, quando se trata no bem-estar do meio
ambiente, é um número animador. Mesmo que a reciclagem seja o melhor caminho para todo
material que se permitir, “a grande variação das características dos RCDs é o principal
problema para reciclagem, pois resulta na subutilização, tanto em termos de quantidade como
de aplicações possíveis” (BOSCOV, 2008, p. 24).
No entanto, como em toda área que possui uma problemática solucionável, pesquisas
vêm sendo feitas para o desenvolvimento de tecnologias de caracterização dos resíduos,
permitindo a identificação rápida das oportunidades de reciclagem mais adequadas para cada
lote. Sendo assim, mesmo a falta de ética, muitas vezes, prevalecendo na decisão dos
descartes dos RCDs, a sustentabilidade vem sendo discutida, fazendo com que a preservação
do meio ambiente seja efetivamente executada e não apenas teorizada.
Para ampliar este trabalho, buscamos saber para onde são destinados resíduos da
construção civil de Cruz Alta/RS, recolhidos pela prefeitura e por empresas privadas que
cobram por este serviço, os chamados tele entulhos. O município, de acordo com secretários
da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural, não se responsabiliza por tais resíduos,
apenas se posiciona na fiscalização dos aterros disponibilizados pela iniciativa privada, na
qual as empresas responsáveis pela obra é obrigada a contratar. Ainda, de acordo com os

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V MOSTRA CIENTÍFICA
mesmos, uma lei municipal está esperando sancionamento em relação a este assunto, mas não
puderam revelar muitas informações.
Ainda em território cruz-altense, conforme pesquisa feita, uma grande empresa de
recolhimento revelou alguns detalhes de seu manuseamento de resíduos sólidos e seu
descarte. De acordo com seus representantes, a empresa recolhe todo tipo de resíduos sólidos
até sua sede, onde a separação começa. Em seu aterro licenciado, localizado no município, a
empresa apenas despeja os materiais de cascalho (tijolos, concreto, ferro, telhas…), mandando
para a reciclagem o material reutilizável (madeira, plástico…), que quando estão em bom
estado são doados para moradores necessitados e/ou obras menores. Elementos considerados
de risco, como gesso e espuma, vão direto para Santa Maria, onde são triturados e despejados
em um local seguro e controlado.
Uma vez que não há fiscalização efetiva nos aterros das empresas privadas de
reciclagem, temos um problema, pois a questão do descarte correto vai depender da ética e
responsabilidade da empresa que recolhe, separa e destina os resíduos da construção civil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando que praticamente todos os resíduos da construção civil são recicláveis,
deve haver trabalhos de conscientização, multas aos infratores e cursos de formação para o os
profissionais da área trabalharem visando a reutilização. A construção civil também poderá
vivenciar o princípio de que: “Na natureza nada cria, nada se perde, tudo se transforma”
(LAVOISIER, 1773). Nessa premissa, a sustentabilidade deixará de ser um discurso, e
passará a ser uma prática, com base no respeito e na ética.
Em prol dessa discussão, e levando como base os estudos realizados para essa
pesquisa cabe discorrer sobre a forma com que é visto o meio ambiente sob os olhos de
grandes corporações. Em um mundo de mudanças, a sustentabilidade não pode ficar para trás.
Vemos dados que, ao passar dos anos, a reciclagem e descartes corretos vêm cada vez mais se
tornando a opção pretendida por muitas empresas, dando, assim, um otimismo sobre a relação
humana e natureza. Ou seja, ainda há tempo de se fazer a diferença.

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REFERÊNCIAS
MACHADO, Gleysson Bezerra. Publicado em 16/03/2015 e disponível em:
https://portalresiduossolidos.com/definicao-de-residuos-da-construcao-civil-no-brasil/

CARELI, Elcio. Na natureza tudo é reciclável. Visitado em 14/05/2019 e disponível em:


https://www.aecweb.com.br/cont/m/rev/residuos-da-construcao-civil-devem-ter-destinacao-e-
gestao-adequada_6592_0_20

BOSCOV, Maria Eugênia Gimenez. Geotecnia Ambiental. São Paulo: Oficina dos Textos,
2008.

CARNEIRO, Ricardo de Souza. LEONCIO, Emanuelly Veronica Soares. COSTA, Rafaela de


Araújo. DA SILVA, Dempsey Thrweyce Alves. Legislação Aplicada ao Licenciamento
Ambiental de Aterros Sanitários. Minas Gerais, 2017.

Equipe ABRELPE. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil. São Paulo, 2017.

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